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Sistemas de Informação

em Saúde
Prof. Dr. Paulo Mazzoncini de Azevedo Marques
Dra. Juliana Pereira de Souza
OBJETIVOS

Os objetivos desta disciplina são:


ƒƒ Conceituar Sistemas de Informação em Saúde (SIS);
ƒƒ Explicitar características e usos básicos dos SIS;
ƒƒ Identificar e avaliar as vantagens e dificuldades na implantação de SIS;
ƒƒ Introduzir o modelo de certificação de Sistemas de Registro Eletrônico de Saúde da Socieda-
de Brasileira de Informática em Saúde e Conselho Federal de Medicina.

TÓPICOS
»» Introdução
»» Sistemas de Informação em Saúde: conceitos e funcionalidades
»» Sistemas de Informação em Saúde: ter ou não ter?
»» O Modelo de certificação SBIS-CFM para S-RES
»» Considerações Finais
»» Reflita a respeito
»» Referências Bibliográficas
INTRODUÇÃO 1

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


Vamos iniciar este módulo compreendendo o que é informação. Se-
gundo Carvalho (1998), pode-se definir informação como o significado
que o homem atribui a um determinado dado por meio de convenções e
representações. Um clássico exemplo é o do semáforo para regular o trân-
sito, que utiliza as cores verde, amarelo e vermelho, as quais são associadas
a determinadas ações específicas. Dentro de um determinado contexto, o
uso da informação gera uma decisão e desencadeia uma ação, que, por
sua vez, irá gerar um novo contexto, uma nova informação, uma nova
ação e assim por diante. Se esse processo for feito de forma adequada, é
possível se estabelecer um ciclo virtuoso, no qual a informação gerada na
execução da tarefa suportará sua otimização.

O gerenciamento de informações é uma necessidade latente da so-


ciedade e na área da saúde não é diferente. Carvalho (1998, p. 2)corro-
bora ao dizer
Na gerência de serviços de saúde, é básica a necessidade de cadastros
de pacientes, cadastro da população, cadastros de estabelecimentos,
produção das atividades de saúde, conhecimento do perfil de doenças
atendidas, da mortalidade, número de profissionais de saúde, núme-
ro de consultórios, leitos, medicamentos utilizados, gastos efetuados
e tantas outras informações. Além disso, essas informações necessi-
tam ser cruzadas para se conhecer o modus operandi dos serviços, o
alcance de suas metas, objetivos e impactos. Com certeza, poderiam
ser processadas manualmente, mas dificilmente de forma integrada e
em tempo oportuno para a tomada de decisão, mesmo em municípios
muito pequenos.

Como você pode observar, de acordo o autor, há a necessidade de ter


um Sistema de Informação em Saúde (SIS), pois ele tem como finalidade
básica fornecer informações para otimizar a gestão e os resultados dos pro-
gramas e serviços de saúde. De forma mais específica, um SIS é essencial
para monitorar a situação da atenção à saúde, o desempenho na execução
de ações e serviços de promoção, prevenção e curativos, bem como a
disponibilidade e utilização dos recursos existentes para tais fins. Em linhas
gerais, um SIS é composto de mecanismos e procedimentos para:

ƒƒ aquisição e análise de dados e para a prestação de informa-


ções necessárias para suportar o planejamento e programação
orçamentários nos diferentes níveis de governo;
2
ƒƒ acompanhamento, avaliação e coordenação de programas e
serviços de saúde;
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ƒƒ cuidados à saúde do indivíduo;


ƒƒ pesquisa e ensino na área da saúde, apoio à definição de polí-
ticas nacionais baseadas em evidência, e como fonte de infor-
mação para o público em geral.

No que concerne à assistência ao paciente, o sistema de informação


deve dar suporte ao seu tratamento e acompanhamento, bem como apoiar
o monitoramento de grupos com necessidades especiais (WHO, 2000).

Segundo Marin (2010), diversos termos têm sido usados para des-
crever sistemas de informação em saúde computadorizados ou informa-
tizados. Por via de regra, os termos Sistemas de Informação em Saúde e
Registro Eletrônico de Saúde são termos usados para descrever sistemas
mais gerais com conceitos mais globais, enquanto que o termo Registro
Médico de Saúde representa um sistema mais específico, um registro mais
localizado.

Considerando-se o modelo de atenção preconizado pelo Sistema


Único de Saúde (SUS), ao mesmo tempo hierarquizado e descentralizado,
estruturado sobre equipes multiprofissionais atuando preferencialmente de
forma interdisciplinar, fica evidente a importância de se poder contar com
sistemas de informação que possibilitem o acesso à informação necessária
no momento e local exigidos. Por outro lado, as características específicas
de troca de informação envolvendo dados sensíveis identificados implicam
em aspectos bastante específicos para a arquitetura e funcionamento dos
SIS.

A estruturação de mecanismos e sistemas que possibilitem a aqui-


sição, o arquivamento e a análise de dados, bem como a integração e
disponibilização de informação, desde o nível de cuidado do indivíduo até
o de gestão de políticas públicas de saúde, é uma necessidade premente
e um desafio ainda maior. Nesse cenário, a proposta desse módulo é de
estimular e instrumentalizar a reflexão sobre as vantagens, necessidades, li-
mitações e dificuldades inerentes ao uso de sistemas de informação na área
da saúde; bem como oferecer um contato inicial com o modelo de avalia-
ção em conformidade com os requisitos de confidencialidade, integridade
e segurança de dados, estabelecido pelo processo de certificação de S-RES
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elaborado pela Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) em
parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM).

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


Leitura Complementar Obrigatória:

ƒƒ MARIN, H.F. Sistemas de informação em saúde: considera-


ções gerais. J. Health Inform, jan.-mar. 2010; 2(1): 20-4

ƒƒ PATRÍCIO, C.M. et al. O prontuário eletrônico do paciente no


sistema de saúde brasileiro. Scientia Medica, Porto Alegre; SAIBA MAIS!
volume 21, número 3, p. 121-131, 2011. Visando auxiliá-lo,
seguem algumas
indicações de leitura
ƒƒ SBIS. Manual de Certificação para Sistemas de Registro Ele- para aprofundar
trônico em Saúde (S-RES). Versão 4.1, 2013. seu entendimento
sobre o assunto. As
ƒƒ LOYOLA DOS SANTOS, L.G. A política nacional de In- indicações foram
separadas entre
formação e Informática em Saúde no MS. Apresentação. complementar
Disponível em http://eventos.opasbrasil.org/public/documents/ obrigatória e
sugerida, em função
PNIIS-%20Loyola-182639.pdf Acessado em 01/02/2014. de sua importância
para compreensão
do conteúdo.
Leitura Complementar Sugerida:

ƒƒ Cartilha sobre prontuário eletrônico - a certificação de sis-


temas de registro eletrônico de saúde, 2012; Disponível em
http://www.sbis.org.br/certificacao/Cartilha_SBIS_CFM_Pron-
tuario_Eletronico_fev_2012.pdf.

ƒƒ CARVALHO, A. de O.Sistemas de Informação em Saú-


de para municípios, volume 6 / André deOliveira Carvalho,
Maria Bernadete de Paula Eduardo. – – São Paulo : Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1998. – –
(Série Saúde & Cidadania)

ƒƒ ASHISH, K. et al. Use of electronic health records in U.S. hos-


����
pitals. N Engl J Med, 2009. n engl j med 10.1056/nejm-
sa0900592

ƒƒ AZEVEDO-MARQUES, P.M.; SALOMÃO, S.M. PACS: Siste-


ma de Arquivamento e Distribuição de Imagens. Re-
vista Brasileira de Física Médica, 2009; 3(1): 131-9.

ƒƒ SBIS. Manual Operacional de Ensaios e Análises para Certifi-


cação de S-RES. Versão 1.2, 2009.
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ƒƒ WHO. Health information systems development and
strengthening: guidance on needs assessment for na-
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tional health information systems development. World


Health Organization, Department of Organization of Health
Services Delivery Evidence and Information for Policy Cluster,
2000.

ƒƒ PIINS. Política Nacional de Informação e Informática em Saú-


de – proposta, março/2013.

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE: CONCEITOS


E FUNCIONALIDADES

DEFINIÇÕES DA ISO
»» Registro Eletrônico em Saúde (RES): um repositório de infor-
mação a respeito da saúde de indivíduos, numa forma proces-
sável eletronicamente.

»» Sistema de Registro Eletrônico em Saúde (S-RES): sistema


para registro, recuperação e manipulação das informações de
um Registro Eletrônico em Saúde.

Fonte: Cartilha sobre Prontuário Eletrônico - a Certificação de Sistemas de Registro


Eletrônico de Saúde, 2012. Disponível em: http://www.sbis.org.br/certificacao/Carti-
lha_SBIS_CFM_Prontuario_Eletronico_fev_2012.pdf.
SAIBA MAIS!
International
Sistemas de Informação (SI) são fundamentais para potencializar a
Organization for
Standardization criação, disseminação e aplicação de conhecimento. Os SI podem apre-
(ISO) é a maior
sentar funcionalidades em diferentes níveis de complexidade e sofisticação,
organização
voluntária de desde algo muito básico e específico até muito geral e sofisticado. Porém,
desenvolvimento de
todos os SI possuem objetivos comuns, sendo que, em se tratando de Sis-
padrões. Para mais
informações acesse: temas de Informação em Saúde (SIS), o objetivo comum é sempre o de
http://www.iso.org/
melhorar a saúde dos indivíduos e das populações através da aplicação
iso/home.html.
adequada de conhecimentos gerados a partir de informações organizadas.
De forma a se buscar garantir que os SIS efetivamente agreguem
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valor ao processo de saúde, assegurando eficácia e eficiência na sua utiliza-
ção, alguns cuidados devem ser tomados no seu processo de implantação.

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


Um aspecto muito importante a se considerar é buscar definir, de forma
clara e objetiva, a abrangência dos SIS, ou seja, identificar os resultados
esperados com a sua implantação. Por exemplo, o sistema tem por objetivo
facilitar o cuidado do paciente? Em que nível? O sistema a ser implantado
tem por finalidade gerenciar recursos? Quais recursos, em que nível, em
quantos locais? O sistema deverá apoiar a aplicação de cuidados preven-
tivos para uma população específica? Além disso, avaliações e definições
referentes aos aspectos técnicos de implantação, recursos humanos e fontes
de financiamento devem ser também consideradas.

Conforme citado na Introdução desse módulo, a informação é um


elemento essencial na tomada de decisão, na prestação de cuidados e na
orientação de políticas públicas e institucionais para a saúde. Dessa forma,
para que um SIS seja útil, ele deve ser capaz de capturar e tratar uma gran-
de diversidade de processos e dados relacionados à atenção à saúde.

A base tecnológica do sistema de informação é a aplicação computa-


cional que possibilita alcançar os objetivos para ele estabelecidos. Uma vez
implementada, a aplicação computacional (software) passa também, por
sua vez, a definir as possibilidades de uso do sistema em situações especí-
ficas da rotina de atenção à saúde.

Segundo Patrício (2011), as primeiras experiências com uso de sis-


temas de informação em saúde datam da década de 1960 e tinham ini-
cialmente foco administrativo, buscando favorecer a comunicação entre os
vários setores de um hospital, passando, posteriormente, a armazenar tam-
bém informações sobre os pacientes. Segundo Marin (2010), até a década
de 1980 os SIS trabalhavam de forma isolada. A partir da década de 1990
os sistemas passaram a ser mais integrados, possibilitando a comunicação
e integração entre sistemas situados em diferentes locais geográficos e em
diferentes hospitais ou serviços de atendimento em saúde.

Os avanços tecnológicos a partir dos anos 2000, particularmente a


evolução da computação distribuída e o estabelecimento de padrões de
comunicação específicos, têm possibilitado a estruturação de SIS com ar-
quitetura e funcionalidades voltadas para promover a integração da infor-
mação disponível em um ambiente de atenção à saúde em rede. Mesmo
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assim, ainda segundo Marin (2010), dependendo da forma como foram
GLOSSÁRIO
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construídos e, dependendo do modelo utilizado de implantação e distri-


Interoperabilidade:
Habilidade de buição, os sistemas hoje utilizados nos mais diversos países apresentam
transferir e utilizar desafios enormes para atingirem níveis básicos de integração e interopera-
informações de
maneira uniforme bilidade.
e eficiente entre
várias organizações
e sistemas de
informação. Notas: SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE EM ÂMBITO NACIONAL
São verificados dois
níveis principais de De acordo com Carvalho (1998), a tendência histórica em vários paí-
interoperabilidade
de informações: ses tem demonstrado não ser possível a concretização de um sistema único,
gerador de todas as informações de saúde, até porque as realidades e ne-
i) Interoperabilidade
funcional: cessidades são distintas. Busca-se, idealmente, a integração e articulação
interação de dois entre os vários sistemas para se evitar a duplicidade da coleta de dados, a
ou mais sistemas
(equipamentos, coleta de dados desnecessários, bem como a sobrecarga dos profissionais
sistemas de de saúde. Ainda segundo o autor, idealmente, a coleta de dados deve ser
informação, bases
de dados) para feita respeitando-se a hierarquização, a descentralização e a municipali-
trocar informações zação dos serviços de saúde, de acordo com a complexidade das ações e
de acordo com um
conjunto de regras com as necessidades dos diferentes níveis de gestão do sistema de saúde.
definidas; e

ii) Interoperabilidade
Idealmente, também, cada nível estrutural deverá ter um conteúdo
semântica: mínimo suficiente para cumprir as diretrizes e princípios do SUS. O muni-
capacidade
de sistemas
cípio deve deter informações suficientes para a gerência local dos serviços,
compartilharem remetendo-os, seletivamente, aos níveis estadual e federal, que detêm os
informações
compreendidas
papéis de coordenadores e supervisores das ações de saúde. Dessa for-
através da definição ma, a constituição de um sistema básico de informação, de abrangência
de conceitos de
domínio.
nacional, deve ter suas fontes de coleta de dados nas instituições sediadas
nos municípios, de forma que os dados de interesse estadual ou nacional
possam ser coletados, processados e enviados a esses níveis, sem prejuízo
das outras necessidades específicas de informação reconhecidas pelo mu-
nicípio.

Isso quer dizer que o município pode ter um sistema que englobe
uma série de outras informações, além daquelas exigidas pelos níveis es-
tadual ou nacional, processar seus próprios dados, ter seus relatórios para
monitoramento e avaliação, e participar, de maneira eficiente, do envio
da informação aos demais níveis de gerência do SUS. Em geral, esse é o
modelo existente em municípios que dispõem de SIS, desenvolvidos local-
mente ou adquiridos de terceiros, e os dados solicitados são enviados em
mídias, em arquivos DBF, TXT ou outros padrões, a partir de uma defini-
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ção prévia da estrutura do banco de dados.
Constituem Sistemas de Informação em Saúde necessários aqueles que

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irão permitir conhecer as características sociais, econômicas, físicas,
demográficas e outras que possam afetar a saúde. Aqueles que per-
mitem conhecer os problemas de saúde do município, não apenas os
percebidos pelas autoridades de saúde, mas também os sentidos pela
população. Aqueles que possibilitam acompanhar a programação de
saúde dirigida ao atendimento individual e coletivo, não apenas para a
detecção de doenças e tratamento, mas também para a prevenção da
doença e promoção à saúde, gerando indicadores de eficácia e efeitos
dos serviços de saúde, além dos que informam mais estritamente os
aspectos administrativos.(CARVALHO, 1998, p.30).

Há vários aplicativos desenvolvidos para o setor público de saúde


pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS) que têm a função
de integrar sistemas para a gerência em saúde, no controle orçamentário/ SAIBA MAIS!
financeiro, de estoque, produção de atividades, morbidade e mortalidade, Para mais detalhes
unidades ambulatoriais, hospitalares, laboratórios, etc. Porém, não há ain- sobre os SIS de
âmbito nacional,
da disponível um aplicativo completo que responda a todos os aspectos da consultar: http://
gerência tanto àqueles relativos ao atendimento individual à saúde quanto www2.datasus.gov.
br/
àqueles relacionados às ações coletivas.

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE EM ÂMBITO HOSPITALAR


E DE ATENDIMENTO INDIVIDUAL.

No nível de cuidado do paciente (ou do usuário do sistema de saú-


de, em geral) o sistema de informação deve assumir também a função
de prontuário. Evidentemente que, da mesma forma que os sistemas de
âmbito nacional, o sistema de informação em saúde com foco na atenção
ao paciente deverá também suportar atividades de gestão organizacional.
Dessa forma, no âmbito do atendimento clínico, o SIS deve funcionar, por
um lado, como um Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) e, do outro,
como um sistema de gestão em saúde, englobando recursos financeiros,
recursos humanos, materiais, equipamentos e espaço físico.

No âmbito da atenção hospitalar o que se encontra, em geral, é um


conjunto de sistemas e aplicações formado por um sistema principal, que
funciona como um organizador do fluxo de atendimento e porta de en-
trada do paciente no serviço, conhecido normalmente como Sistema de
Informação Hospitalar (ou HIS, do inglês, Hospital Information System).
O HIS engloba as informações demográficas do paciente e o conjunto de
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procedimentos ao qual ele é submetido em seu atendimento.
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O HIS também coordena o fluxo de dados e de atividades de outros


sistemas voltados para atividades específicas. Por exemplo, no serviço de
radiologia e diagnóstico por imagem existe o Sistema de Informação em
Radiologia (ou RIS, do inglês, Radiology Information System). O RIS é
responsável pela gestão organizacional das atividades do serviço por meio
de um processo de agendamento eletrônico e também pelo arquivamen-
to e disponibilização dos laudos dos exames realizados. O RIS também é
responsável pela transferência de dados demográficos sobre os pacientes
e exames para o PACS (do inglês, Picture Archiving and Communication
System), que é o sistema voltado para o arquivamento e distribuição de
imagens, o qual, por sua vez, é responsável pela inserção dessas infor-
mações nas interfaces dos equipamentos de realização de exames, como
tomografia computadorizada, ressonância magnética, etc.

Quando se trabalha com os padrões de comunicação especificados


para a área da saúde, como o HL7 (em inglês, Health Level Seven) e o
DICOM (em inglês, Digital Imaging and Communications in Medicine), a
transferência de informação entre os vários sistemas é feita segundo um
modelo Top-to-Down, ou seja, do sistema mais genérico para os mais es-
pecíficos. Dessa forma, o sistema mais específico contém todas as informa-
ções propagadas pelos sistemas anteriores, além das suas próprias, garan-
tindo assim a consistência dos dados em todos os níveis. A Figura 1 mostra
esquematicamente o conjunto de sistemas de informação da área de radio-
logia, os dados e padrões de comunicação necessários para sua integração.

SISTEMAS E PADRÕES
Sistema de Informação Hospitalar
* Informação pessoais e hospitalares do paciente
ID. PACIENTE

Sistema de Informação em Radiologia


* Exames e laudos
ID. EXAME + ID. PACIENTE

Sistema de Gerenciamento de Imagens


* Imagens médicas
ACCESSION NUMBER + ID. EXAME + ID. PACIENTE

Figura 1 – Sistemas e padrões de comunicação em radiologia


De forma similar, a integração de sistemas também é feita para outros SAIBA MAIS!
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serviços e setores do hospital, por exemplo, entre o HIS e o LIS (do inglês, Para mais detalhes
sobre DICOM,
Laboratory Information System), que é o sistema responsável pelos exames

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


consultar: http://
laboratoriais. Nesse caso, se forem utilizados os padrões HL7 e LOINC (do medical.nema.org/
Para mais detalhes
inglês, Logical Observation Identifiers Names and Codes), tanto os dados sobre HL7, consultar:
demográficos dos pacientes e exames podem ser inseridos de forma auto- http://www.hl7.org/
e http://www.hl7.
mática nas interfaces dos equipamentos laboratoriais como os resultados com.br/
dos exames podem ser automaticamente enviados para o PEP. Para mais detalhes
sobre LOINC,
consultar: http://
Existem várias soluções de SIS comerciais e, também, algumas de loinc.org/
código aberto e licença livre voltadas para o atendimento em clínicas e
serviços de pequeno e médio porte. Da mesma forma, existem algumas
soluções voltadas para os serviços públicos de atenção à saúde em nível
primário e secundário. Em geral, essas soluções seguem basicamente o SAIBA MAIS!
mesmo modelo de integração e fluxo de dados que os sistemas hospita- Para uma lista de
lares, porém trabalhando em menor escala e complexidade. Da mesma aplicações de código
aberto para a saúde,
forma que no ambiente hospitalar, a garantia da consistência, bem como consultar: http://
a otimização do fluxo de dados entre os diferentes módulos do sistema, do en.wikipedia.org/
wiki/List_of_open-
mesmo modo que entre sistemas diferentes, depende necessariamente da source_healthcare_
adoção dos padrões de comunicação estabelecidos para a área da saúde. software

Recentemente, o Departamento de Atenção Básica (DAB) iniciou um


trabalho voltado para reestruturar as informações da Atenção Básica em
nível nacional. Essa ação está alinhada com a proposta mais geral de rees-
truturação dos Sistemas de Informação em Saúde do Ministério da Saúde,
SAIBA MAIS!
entendendo que a qualificação da gestão da informação é fundamental Para mais detalhes
para ampliar a qualidade no atendimento à população. sobre o e-SUS,
consultar: http://
dab.saude.gov.br/
Como parte dessa estratégia de ação denominada e-SUS, faz refe- portaldab/esus.php
rência ao processo de informatização qualificada em busca de um SUS
eletrônico, está em desenvolvimento um aplicativo chamado e-SUS AB/
PEC, que é um Sistema com Prontuário Eletrônico do Cidadão destinado a
municípios cujas Unidades Básicas de Saúde são informatizadas, possuem
algum grau de conectividade e contam com profissionais capacitados para
apoiar sua implantação. Segundo a página do DAB,
A versão inicial do software desta modalidade com prontuário eletrôni-
co, o e-SUS/AB PEC, possui ferramentas para cadastro dos indivíduos no
território, gestão da agenda dos profissionais, acolhimento à demanda
espontânea, atendimento individual e registro de atividades coletivas.
A versão seguinte do sistema já prevê inclusão de outras funcionalida-
des, como abordagem familiar, controle de imunização, prontuário de
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saúde bucal, gestão da lista de espera de encaminhamentos, gestão do
cuidado a doenças crônicas, além de integração com Telessaúde e gera-
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ção de relatórios dinâmicos. Também será possível monitorar pacientes


faltosos e realizar controle de medicamentos e exames pelo computador.

Ainda segundo a página do DAB,


O primeiro passo na implantação do e-SUS AB é identificar as carac-
terísticas tecnológicas disponíveis em cada UBS, como conectividade
à internet, quantidade de computadores, quantidade de impressoras,
suporte à informatização das unidades, entre outros. A partir das ca-
racterísticas de cada UBS o gestor terá claro qual o tipo de sistema
que deverá ser implantado: Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC) ou
Coleta de Dados Simplificada (CDS).

É preciso também planejar a capacitação das equipes de saúde e dos


profissionais de suporte para tecnologia da informação.
A previsão de disponibilidade do sistema para início de implantação
pelos municípios é para março de 2013. Em breve, serão disponibiliza-
das mais informações para que os municípios comecem a se preparar
para implantar o novo sistema.”

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE: TER OU NÃO TER?


Os Sistemas de Informação em Saúde são reconhecidos como instru-
mentos que aumentam a efetividade dos profissionais e reduzem os
custos em saúde, assim como auxiliam na promoção da padronização
do cuidado. No entanto, embora os sistemas de prescrição médica
computadorizada existam há cerca de trinta anos, menos de 10% dos
hospitais americanos possuem um sistema deste tipo totalmente inte-
grado. (MARIN, 2010, p. 23)

O Brasil possui o terceiro maior sistema de saúde no mundo, compre-


endendo sete mil hospitais, 25 mil laboratórios, cerca de 17 mil clínicas
e 125 mil consultórios médicos. O uso de tecnologia da informação é
mais evidente para tarefas de rotina, como agendamento, registros
gerais, com cerca de 8% dos hospitais usando sistemas computadori-
zados para apoio nas atividades clínicas. (MARIN, 2010, p. 23)

Por quase vinte anos, a indústria e a mídia têm elogiado os prontuários


eletrônicos por melhorarem consideravelmente a eficiência do traba-
lho médico (produtividade e custos) e a eficácia (qualidade do aten-
dimento). Há pouca dúvida de que o interesse em PEPs ambulatoriais
tem aumentado na última década, mas apenas uma pequena fração
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dos provedores adotou tais sistemas. (PATRÍCIO et al, 2011, p. 127)

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


Segundo McDonald (1997), todas as instituições desejam um Siste-
ma de Registro Eletrônico de Saúde (S-RES), pois todos querem resolver
uma vasta gama de problemas logísticos desde o arquivamento até a recu-
peração e disponibilização de informações, redução de custos, melhoria da
qualidade e coerência do processo de atenção à saúde. Particularmente,
organizações multicêntricas estão desesperadas para ter um S-RES, já que
é impossível movimentar um formulário de papel segundo a necessidade
dos múltiplos centros. Porém, se todos querem um S-RES e as fontes de
dados eletrônicos são tão abundantes na saúde, por que a adoção desses
sistemas é tão limitada?

Essa é uma questão bastante interessante, cuja resposta depende do


entendimento das possibilidades e dificuldades envolvidas na implantação
de um S-RES no ambiente real de atenção à saúde.

O MODELO DE CERTIFICAÇÃO SBIS-CFM PARA S-RES

Conforme visto anteriormente, um sistema de informação capaz de


registrar, recuperar e manipular informações de um Registro Eletrônico em
Saúde (RES) é chamado de Sistema de Registro Eletrônico em Saúde (S-
-RES). Devido à natureza dos dados com os quais trabalha é fundamental
que um S-RES supra as necessidades referentes à confidencialidade, inte-
gridade e segurança no uso dessas informações. Porém, a questão que se
coloca é: como garantir que um determinado sistema é adequado para o
uso na atenção à saúde?

Imagine a situação em que dados confidenciais de um paciente se-


jam acessados sem a devida autorização, utilizados de forma indevida e
que isso implique em danos de qualquer natureza para essa pessoa. Pelo
código de ética médica, a responsabilidade de guarda da informação é do
médico e da equipe de saúde, e se estende também ao responsável legal
pela instituição em casos de hospitais e clínicas, por exemplo.
Foi em resposta a essa questão que Conselho Federal de Medicina
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(CFM), em parceria com a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
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(SBIS), desenvolveu o processo de certificação de S-RES. Esse processo


consiste em uma auditoria do sistema a ser certificado, de forma a verificar
se ele atende a uma série de requisitos funcionais. Tais requisitos estão
descritos no Manual de Certificação para Sistemas de Registro Eletrônico
em Saúde (S-RES) e foram estabelecidos com base em conceitos e padrões
nacionais e internacionais de informática em saúde.

SAIBA MAIS! Basicamente, o CFM definiu o que o sistema deveria garantir em rela-
Tanto o manual de ção ao arquivamento e manipulação dos dados para que seu uso estivesse
certificação quanto o
de ensaios e análises em conformidade com o código de ética médica, e a SBIS transformou es-
estão disponíveis sas características de uso em requisitos técnicos funcionais. A SBIS também
para acesso público
na página da SBIS criou um conjunto de procedimentos e testes práticos que permite verificar
(www.sbis.org.br) a conformidade do sistema com os requisitos técnicos estabelecidos, e que
na área referente
à certificação. Lá estão descritos no Manual Operacional de Ensaios e Análises para Certifi-
você encontrará cação de S-RES.
também a lista de
sistemas atualmente
certificados pela É importante destacar que a certificação de sistemas junto à SBIS é
Sociedade.
voluntária. Não existe normatização nacional que exija a certificação. O
próprio CFM exige conformidade com os requisitos, mas não a certificação
propriamente dita, que por ser um processo de auditoria independente,
feita por profissionais especializados, possui um custo associado. As in-
formações sobre como se solicitar a certificação, bem como os custos do
procedimento, se encontram também na página da SBIS.

Embora não exista normatização nacional quanto ao uso de SIS, os


sistemas de arquivamento, distribuição e visualização de imagens (PACS),
segundo a INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 2, DE 31 DE MAIO DE 2011,
são considerados como equipamentos médicos que precisam de registro
junto à ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
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O Alerta de Tecnovigilância no 1305, da ANVISA, de 16/10/2013,

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


traz a seguinte redação:

»» Produto: SISTEMAS DE GERENCIAMENTO DE IMAGENS


PACS SEM REGISTRO NA ANVISA: OsiriX, KPACS, DI-
COM4Chee e eFilm release 1.5.

»» Problema: A comercialização de Softwares de gerenciamento


e de visualização de imagens médicas não registradas na ANVI-
SA constitui infração sanitária, e sua utilização pelos serviços de
saúde representa risco à saúde da população.

»» Ação: A Unidade de Tecnovigilância da Anvisa alerta para a


utilização de softwares de gerenciamento de imagens PACS sem
registro na Anvisa, o que está em desacordo com a legislação
vigente no Brasil.

»» Esclarecimento: Softwares de gerenciamento de imagens são


produtos para saúde passíveis de registro junto à Anvisa e se
enquadram na mesma classe de risco de equipamentos, confor-
me disposições da Resolução RDC n° 185/2001 e Nota Técnica
n° 04/2012/GQUIP/GGTPS/ANVISA. Os produtos descritos
nesse alerta são softwares gratuitos, disponíveis em domínio
público, utilizados para a visualização e gerenciamento de resul-
tados de exames e diagnósticos (arquivos DICOM) obtidos em
procedimentos de radiografia, tomografia, ressonância magné-
tica, entre outros. Tendo em vista que não foram avaliados por
essa Agência na fase de pré-comercialização, não há quaisquer
garantias sobre a segurança e eficácia desses produtos. Além
disso, não há informações disponíveis sobre representantes/
distribuidores/assistência técnica relacionados aos produtos no
Brasil, o que é um fator adicional de risco para a sua utilização.

Fonte: http://www.anvisa.gov.br/sistec/Alerta/RelatorioAlerta.asp?Parametro=1305
SAIBA MAIS!
A certificação SBIS-CFM pode proporcionar muitos ganhos ao setor Para consultar a
Nota Técnica n°
de saúde brasileiro, em especial às instituições de saúde e seus profissio- 04/2012/GQUIP/GG-
nais, uma vez que ajuda a diminuir o risco enfrentado por essas instituições TPS/ANVISA acesse:
http://portal.anvisa.
ao adquirir um S-RES. As indústrias de SIS também se beneficiam ao certi- gov.br/wps/wcm/co
ficarem seus sistemas, pois a certificação é uma forma de diferenciação de nnect/96009004a70
f3abb6f1f64600696
seus sistemas no mercado. f00/+T%C3%A9cnic
a+04_2012_+Softw
are+M%C3%A9dico.
pdf?MOD=AJPERES
Adicionalmente, os pacientes atendidos em instituições com S-RES
14
certificados têm maior garantia da privacidade e confidencialidade no uso
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de seus dados. Em nível nacional, a certificação conscientiza o setor de


saúde quanto à importância de funcionalidades básicas em S-RES e au-
menta o uso e o conceito da Informática em Saúde no Brasil, ajudando a
melhorar a eficiência e a eficácia do sistema de saúde brasileiro.

Um aspecto importante que se deve ressaltar é que, como o acesso


ao processo de certificação é público através dos manuais existentes na pá-
gina da SBIS, qualquer pessoa pode estudar e aprender a fazer a auditoria
de S-RES. Para ser um auditor credenciado junto à SBIS é necessário fazer
um treinamento teórico e prático oficial junto à Sociedade.

Existem cursos oferecidos no mercado, por outras instituições que


não a SBIS, que também dão formação no processo de certificação. Mas,
a formação de auditores para a certificação SBIS-CFM é feita pela Socie-
dade ou através de parcerias por ela oficialmente reconhecidas. Porém,
existe um mercado de trabalho crescente para profissionais que conheçam
o processo de certificação e saibam fazer a auditoria de sistemas. Muitas
empresas procuram profissionais com esse perfil para fazer uma consulto-
ria conhecida como pré-certificação, ou seja, antes de submeterem seus
produtos ao processo de certificação SBIS-CFM, fazem uma pré-avaliação
para identificar e corrigir as não conformidades de seus sistemas.

Evidentemente, os profissionais que fazem a consultoria pré-certifica-


ção não fazem parte do corpo de auditores da SBIS e os auditores da SBIS
estão ética e legalmente impedidos de prestar esse tipo de consultoria.

O conhecimento da certificação também é fundamental aos desen-


volvedores para assegurar que as soluções desenvolvidas já nasçam em
conformidade com os requisitos estabelecidos. Outra aplicação muito im-
portante do processo de certificação é em hospitais universitários e em
outros centros de ensino que desenvolvem suas próprias soluções locais.

Uma auditoria interna feita recentemente no S-RES de um hospital


público de grande porte na cidade de Ribeirão Preto, que atende a uma
população de cerca de quatro milhões de habitantes, com base no manual
de certificação versão 3.3 de 2009, evidenciou que de um total de 30 re-
quisitos aplicáveis e testados, apenas 11 estavam em conformidade com
as exigências do manual de certificação, refletindo a não adequação do
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sistema aos requisitos de funcionalidade estabelecidos pelo CFM. Resulta-
dos como este mostram a importância da disseminação e conhecimento do

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


processo de certificação SBIS-CFM.

O processo de certificação SBIS-CFM começou a tomar corpo em


2002, quando o CFM publicou a Resolução n.º 1639/2002 que aprovou as
“Normas Técnicas para o Uso de Sistemas Informatizados para a Guarda
e Manuseio do Prontuário Médico”. Tal resolução contém informações a
respeito do tempo mínimo exigido para guarda dos prontuários, estabelece
critérios para certificação dos S-RES e oficializa a SBIS como a parceira
responsável pelo processo de certificação.

Em 2004 a SBIS publicou o Manual de Requisitos de Segurança,


Conteúdo e Funcionalidades para S-RES Versão 2.1, dando início à cha-
mada Fase 1 do Processo de Certificação SBIS-CFM. Essa fase caracteri-
zou-se pela autodeclaração de conformidade com os requisitos por parte
da instituição desenvolvedora do software e teve como principal objetivo
preparar o mercado para o processo de certificação.

Em 2007, a resolução CFM n.º 1639/2002 foi revogada e substituída


pela resolução CFM n.º 1821/2007, que aprovou as “Normas Técnicas
Concernentes à Digitalização e Uso dos Sistemas Informatizados para a
Guarda e Manuseio dos Documentos dos Prontuários dos Pacientes, Au-
torizando a Eliminação do Papel e a Troca de Informação Identificada em
Saúde”. Com essa resolução, o CFM tornou obrigatória a aderência aos
requisitos da categoria Nível de Garantia de Segurança 2 (NGS2) do pro-
cesso de certificação SBIS-CFM para S-RES que utilizam o certificado digi-
tal para os processos de assinatura e autenticação visando eliminar o papel
nos processos de registros de saúde.

Após a publicação da resolução CFM n.º 1821/2007 e a elaboração


e publicação do Manual de Certificação para S-RES Versão 3.2 em agosto
de 2008, deu-se início à Fase 2 do Processo de Certificação SBIS-CFM, en-
cerrando a possibilidade de autodeclaração e dando início ao processo de
auditoria de S-RES para verificação, em conformidade com os requisitos
estabelecidos no manual. Em outubro de 2013 foi publicada a versão 4.1
do Manual de Certificação para S-RES, que apresenta algumas melhorias
em relação à versão anterior, que foram estabelecidas a partir da experiên-
cia obtida durante os procedimentos de auditoria. Atualmente encontra-se
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em elaboração uma nova versão para o Manual Operacional de Ensaios e
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Análises para Certificação de S-RES.

O Manual de Certificação versão 4.1 apresenta duas categorias certi-


ficáveis para os sistemas:

Básica

ƒƒ Assistência à saúde de forma básica e genérica (não específica);


ƒƒ Obrigatória.

Ambulatorial

ƒƒ Assistência ambulatorial: automação de consultórios clínicos,


UBS, parte ambulatorial de outros sistemas.

Apresenta também dois Níveis de Garantia de Segurança (NGS):

NGS1

ƒƒ Requisitos de segurança mais amplos e básicos;


ƒƒ Sistemas de acesso local ou remoto;
ƒƒ Obrigatório.

NGS2

ƒƒ Requisitos para uso de certificados digitais padrão ICP-Brasil.

A categoria de certificação básica contempla os requisitos que todo e


qualquer sistema de informação em saúde deve apresentar, sendo a con-
formidade com seus requisitos obrigatória para todos os sistemas. Um ca-
dastro com dados demográficos de pacientes ou usuários de um serviço
de saúde deve estar em conformidade com os requisitos dessa categoria.
A categoria ambulatorial traz requisitos extras aplicáveis a sistemas com ca-
racterísticas mais amplas e específicas, por exemplo, um sistema de laudos
eletrônicos para a radiologia estaria incluído nessa categoria e deveria estar
em conformidade com seus requisitos. Todo sistema da categoria ambula-
torial tem que estar obrigatoriamente também em conformidade com os
requisitos da categoria base.
Os requisitos de segurança de um S-RES são fundamentais para ga-
17
rantir a privacidade, confidencialidade e integridade da informação iden-
tificada em saúde. Uma das principais motivações do CFM ao participar

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


desse processo de certificação foi garantir o sigilo profissional, ou seja, que o
acesso à informação identificada só possa ser feito por pessoas autorizadas.

Aos interessados em eliminar o registro das informações em papel, é


obrigatória a conformidade ao Nível de Garantia de Segurança 2 (NGS2),
que contempla obrigatoriamente o uso de certificados digitais ICP-Brasil
para os processos de assinatura e autenticação. Para atingir o NGS2 é ne-
cessário que o S-RES atenda aos requisitos já descritos para o NGS1 e
apresente ainda total conformidade com os requisitos especificados para o
Nível de Garantia 2.

Na versão 4.1, os Requisitos de Conformidade estão divididos con-


forme descrito a seguir:

Requisitos de Estrutura, Conteúdo e Funcionalidades (ECF):

ƒƒ Estrutura e Conteúdo (ESTR):


• Categoria Básica (BAS);

• Categoria Ambulatorial (AMB).

ƒƒ Funcionalidades (FUNC):
• Categoria Básica (BAS);

• Categoria Ambulatorial (AMB).

Requisitos de Segurança:

ƒƒ NGS1:
• Acesso local;

• Acesso Remoto.

ƒƒ NGS2.
A Figura 2 apresenta a descrição de um requisito de segurança e o
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respectivo script para testá-lo.
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ID REQUISITO REFERÊNCIA CONFORMIDADE LOCAL REMOTO


NGS1.02.01 Identifica- HL7 ERH-S FM Todo usuário deve M M
ção e auten- IN1.1; ser identificado e
ticação do ABNT NBR autenticado antes
usuário ISO/IEC de qualquer acesso
2700:2006 a dados do S-RES.
A.11.5.2

ID REQUISITO REFERÊNCIA
NGS1.S001 NGS1.02.01 - Identificação e PR: Verificar que o acesso ao sistema S-RES
autenticação do usuário é possível unicamente por meio de interface
de identifação e autenticação de usuário.
No caso que o sistema de autentica-
ção seja por meio de senha, verifi-
car que o sistema possua uma interfa-
ce para inserção de usuário e senha.

RE: O S-RES deve ser acessível somente atra-


vés da interface de identificação de usuário.
No caso de autenticação por Usuário/senha
o S-RES deve permitir o acesso somente após
a inserção do usuário e da senha.
Figura 2 - Requisito NGS1 (parte superior) e o respectivo script (parte inferior) que
testa sua conformidade.

A Figura 3 apresenta a descrição de um requisito de funcionalidade e


o respectivo script para testá-lo.

ID REQUISITO REFERÊNCIA CONFORMIDADE PRESENÇA


FUNC.25.02 Direito de ABNT ISO/TS Suportar o direito de acesso M
acesso 18308 a todas as informações do
COC1.2 RES sujeitas a questões
legais.

ID REQUISITO REFERÊNCIA
ECFA.S028 FUNC.25.02 - Direito de acesso PR: Por solicitação do próprio pacien-
te, o “Dr. Carlos Chegas” imprime todo
o RES do “José Silva”, nasc. 16/07/1957.

RE: Todo o conteúdo do RES é impresso, com


todos os detalhes e informações previamen-
te registradas.
Figura 3 - Requisito ECFA (parte superior) e o respectivo script (parte inferior) que
testa sua conformidade.
A Figura 4 mostra o relatório referente ao teste de um requisito de
19
segurança em conformidade com o manual de certificação SBIS-CFM.

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


NGS1.S001 - Identificação e autenticação do usuário

TESTA: NGS1.02.01

PR: Verificar que o acesso ao sistema S-RES é possível unicamente por meio de interface de
identificação e autenticação de usuário. Verificar que o sistema possua uma interface para
inserção de usuário e senha.

RE: O S-RES deve ser acessível somente através da interface de identificação de usuário. No
caso de autenticação por Usuário/senha o S-RES deve permitir o acesso somente após a
inserção do usuário e da senha.

RESULTADO: Em conformidade

RECOMENDAÇÃO:

OBSERVAÇÕES: O sistema pode ser acessado somente após autenticação através de (login/
senha). Neste item foi utilizado um dos personagens do cenário (login/senha). Também foi
testado com um usuário real do sistema. O acesso é negado quando tenta-se acesso direta-
mente aos módulos. Outros módulos não estão disponíveis sem autenticação.

Figura 4 - Documentação do resultado do script NGS1.S001- em conformidade.

A Figura 5 mostra o relatório referente ao teste de um requisito de fun-


cionalidade em não conformidade com o manual de certificação SBIS-CFM.

ECFA.S028 - Direito de acesso

TESTA: FUNC.25.02

PR: Por solicitação do próprio paciente, o “Dr. Carlos Chegas” imprime todo o RES do “José
Silva”, nasc. 16/07/1957.

RE: Todo o conteúdo do RES é impresso, com todos os detalhes e informações previamente
registradas.
ECFA.S029 n/a PR: Realizar logoff e login como médico “Dr. Carlos Chegas”.

RE: Login realizado e somente funcionalidades do perfil médico disponíveis para uso.

RESULTADO: Em não conformidade

RECOMENDAÇÃO: Implementar a funcionalidade de impressão da observação.

OBSERVAÇÕES:

Figura 5 - Documentação do resultado do script ECFA.S028 – em não conformidade.

“A Certificação SBIS-CFM foi elaborada com base no estado da arte


em certificação de sistemas de informação e as mais recentes normas
e recomendações sobre características e funcionalidades necessárias
para constituir um S-RES. Foram consideradas inúmeras referências
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nacionais e internacionais, assim como a realidade brasileira, geran-
do como produto um conjunto de requisitos compatível com o estágio
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atual do mercado brasileiro, assegurando níveis apropriados de segu-


rança, confiabilidade e sofisticação.
Todo o processo foi amplamente debatido com a sociedade, através
de inúmeras apresentações em congressos e seminários, além de con-
sultas e audiências públicas realizadas especificamente para validar e
aprimorar todas as etapas da certificação. Merece destaque o empe-
nho do Grupo de Interesse em Certificação de Software e Padrões da
SBIS, composto por voluntários que dedicaram inúmeras horas para
contribuir com a melhoria e aperfeiçoamento da certificação como um
todo.
A auditoria realizada em um S-RES será feita com base em cenários
reais de utilização de sistemas de registro eletrônico em saúde, con-
cebidos de modo a testá-los de forma rigorosa, garantindo o nível de
funcionalidade e segurança demandados pela sociedade em geral.
A Certificação SBIS-CFM contribui para o aumento na adoção das Tec-
nologias da Informação na área da saúde, facilitando a escolha de sis-
temas por instituições, médicos e outros profissionais da saúde que
não são especialistas em TI. Ao mesmo tempo, indica as características
e funcionalidades necessárias para a construção de sistemas úteis e
confiáveis, ajudando os desenvolvedores de S-RES a evoluírem na di-
reção de sistemas cada vez mais efetivos, seguros e completos.” (SBIS,
Manual de Certificação para Sistemas de Registro Eletrônico em Saú-
de, 2013, p. 41)

SAIBA MAIS!
Informações complementares podem ser encontradas na apresenta-
Para exemplos
de aplicação da
ção - Modelo SBIS-CFM de certificação de S-RES.
Certificação SBIS-
CFM em ambiente
hospitalar ver:
ƒƒ RIBEIRO, E.A. ; SOUZA, J. P.; AZEVEDO-MARQUES, P. M.
Evaluation of electronic health records systems based on cer-
tification process of Brazilian Society of Health Informatics. In:
8th Annual Health Technology Assessment International
(HTAi) Meeting, 2011, Rio de Janeiro. HTA for Health Sys-
tems Sustainability, 2011.

ƒƒ AZEVEDO-MARQUES, P. M.; RIBEIRO, E.A.; SOUZA, J. P.


Assessment of the applicability of the certification process of
the Brazilian Society for Health Informatics to the electronic
health record systems at a university hospital. In: 9th Annual
Health Technology Assessment International (HTAi) Meeting,
2012, Bilbao. HTA in Integrated care for a patient centered
system, 2012.
ƒƒ SOUZA, J. P.; PRIMO, L.; VIRGINIO-JUNIOR, L.; et al. Assess-
�������
21
ment of a comprehensive electronic health record system at a
university medical center based on the certification process of

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


the Brazilian Society for Health Informatics. In: 10th Health
Technology Assessment international Seoul 2013, 2013,
Seoul. Evidence, Values, and Decision Making: Science or
Art?. Seoul, 2013.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não é difícil concluir que o uso de Sistemas de Informação pode


trazer melhorias importantes para o processo de atenção à saúde. Alguns
benefícios ficam bastante evidentes quando se considera a adoção de um
SIS:

ƒƒ Benefícios Relacionados ao Paciente


• agilização do atendimento (otimização do fluxo de trabalho);

• maior segurança nos procedimentos;

• humanização do atendimento.

ƒƒ Benefícios Relacionados ao Diagnóstico (ao trabalho da equi-


pe de saúde)

•   facilidade de acesso a informações diversas;

•   maior suporte à tomada de decisão;

•   telemedicina/telessaúde.

ƒƒ Benefícios Relacionados ao Serviço (financeiros)


•   maior controle de procedimentos;

•   redução de perdas e repetições;

•   diferenciação do serviço prestado;

•   facilidade para auditoria de processos;

•   suporte à tomada de decisão na gestão.


22
ƒƒ Benefícios ao Ensino e à Pesquisa (hospital escola, instituição
de ensino)
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• facilidade de obtenção de material para ensino e pesquisa;

• redução de retrabalho na organização de dados e infor-


mações;

• facilitação para padronização de conteúdo no ensino e


pesquisa.

Porém, apesar dos ganhos evidentes, a adoção de SIS em ambientes


práticos de atenção à saúde é ainda bastante limitada. Alguns aspectos
contribuem para isso, entre eles:

ƒƒ limitações funcionais dos sistemas existentes;


ƒƒ não conformidade dos sistemas com os padrões de comunica-
ção para a saúde;

ƒƒ falta de normatização para o desenvolvimento e uso de SIS;


ƒƒ limitação da infraestrutura de comunicação do país;
ƒƒ falta de familiaridade e conhecimento por parte dos usuários
dos SIS;

ƒƒ falta de conhecimento por parte dos gestores de saúde das


vantagens inerentes à adoção de SIS.

O cenário pode parecer desestimulante, mas algumas iniciativas apon-


tam para soluções viáveis e possíveis mudanças em médio e longo prazo.

A Certificação de S-RES da SBIS-CFM, embora não seja uma inicia-


tiva governamental, aponta um caminho de sucesso (ainda que em peque-
na escala), que pode ser oficializado e ampliado, conforme se tem visto em
países como os Estados Unidos e o Canadá.

Em 31 de agosto de 2011 o Ministério da Saúde publicou no Diário


Oficial da União a Portaria No 2.073, que regulamenta o uso de padrões
de interoperabilidade e informação em saúde para sistemas de informação
em saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde, nos níveis Municipal,
Distrital, Estadual e Federal, e para os sistemas privados e do setor de
saúde suplementar. Embora sem data definida para implantação em cará-
ter obrigatório, essa portaria já estabelece a forma adequada de se imple-
23
mentar SIS no que se refere ao padrão para troca de informação sensível
identificada em saúde, bem como estabelece o arcabouço tecnológico para

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


implantação da estratégia do e-SUS.

O e-SUS é uma estratégia que busca responder à demanda gerada


pela Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS), que
preconiza o uso de SIS como uma ferramenta para o fortalecimento do
SUS e democratização da oferta e gestão dos serviços de saúde.

Como parte da estratégia do e-SUS está sendo desenvolvido, aparen-


temente já em conformidade com os padrões estabelecidos pela portaria
nº. 2.073 de 2011, um SIS chamado Prontuário Eletrônico do Cidadão
(e-SUS AB-PEC), que deverá integrar as ferramentas tecnológicas voltadas
para a atenção primária e secundária. Existe também uma proposta de SIS
para hospitais federais ligados ao Ministério da Educação, que tem como
base o sistema do Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Paralelamente, o
Ministério da Saúde vem anunciando investimentos vultosos na melhoria
da conectividade das redes de atenção à saúde. Essa combinação de SIS,
em conformidade com a portaria nº. 2.073, com a conectividade neces-
sária nos serviços de atenção à saúde deverá possibilitar a implementação
de um Barramento de Informações em Saúde que acompanhe as necessi-
dades de informação inerentes ao modelo de atenção à saúde do SUS: os
vários serviços se conectando em um ambiente municipal de integração-
-consolidação de dados e geração de informação; os ambientes integrados
municipais se conectando em integradores-consolidadores regionais e es-
taduais e esses em um grande integrador de dados nacional, que por sua
vez realimentará os serviços municipais e estaduais.

Finalmente, mas não menos importante, existe ainda a grande limi-


tação de profissionais qualificados para atuar na área de informática em
saúde. Esse aspecto também vem sendo tratado por meio de iniciativas
voltadas para a criação e a oferta de cursos tanto de graduação quanto de
pós-graduação, em modelo estrito stricto sensu, como mestrados e douto-
rados acadêmicos e mestrados profissionais, e em modelo lato sensu, como
esse de especialização que vocês estão fazendo.

Parabéns pela escolha dessa área de atuação profissional tão neces-


sária quanto repleta de oportunidades!
24 REFLITA A RESPEITO
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Você, como profissional de TI, ficaria tranquilo em saber que a so-


lução de SIS desenvolvida pela equipe em que trabalha e utilizada em
serviços de atenção à saúde não está em conformidade com os requisitos
da certificação SBIS-CFM?

Você, como profissional de uma equipe de saúde, recomendaria para


a instituição em que trabalha o uso de um sistema de informação em saúde
não certificado? Usaria um SIS não certificado nas suas atividades profis-
sionais diárias?

Você, como usuário do sistema de saúde, ficaria tranquilo em saber


que os dados identificados sobre os seus atendimentos estão arquivados
em um S-RES não certificado?

Então, se você é um desenvolvedor, desenvolva o seu sistema em


conformidade com os requisitos da certificação SBIS-CFM. Se você é um
profissional de saúde, exija que o sistema com o qual você trabalha esteja
em conformidade com os requisitos da cerificação SBIS-CFM. Se você é
um empresário da área de sistemas para a saúde, certifique o seu S-RES
junto à SBIS (você só tem a ganhar com isso).

Mas, acima de tudo, se você é um cidadão brasileiro, usuário de ser-


viços de saúde, preste muita atenção à forma como estão tratando os seus
dados, que são confidenciais!!!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 25

MÓDULO AVANÇADO | Sistemas de Informação em Saúde


1. CARVALHO, A. Sistemas de Informação em Saúde para Municípios, volu-
me 6 / André deOliveira Carvalho, Maria Bernadete de Paula Eduardo.
– – São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo,
1998. (Série Saúde & Cidadania).

2. MARIN, H.F. Sistemas de informação em saúde: considerações gerais. J.


Health Inform, jan.-mar. 2010; 2(1): 20-4.

3. CLEMENT J. MCDONALD. The barriers to electronic medical record


systems and how to overcome them. Journal of the American Medical
Informatics Association. Volume 4 Number 3 May / Jun 1997. 213-221.

4. Camila Mendes Patrício, Marianna Menezes Maia, Josiane Lemos


Machiavelli, Magdala de Araújo Navaes. O prontuário eletrônico do
paciente no sistema de saúde brasileiro: uma realidade para os médicos?
Scientia Medica, Porto Alegre; volume 21, número 3, p. 121-131, 2011.

5. WHO. Health information systems development and strengthening:


guidance on needs assessment for national health information systems
development. World Health Organization, Department of Organization
of Health Services Delivery Evidence and Information for Policy Cluster,
2000.

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