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Universidade Federal da Paraíba

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes


Programa de Pós-Graduação em Música

Disciplina: Tópicos em Educação Musical

Professora: Dra. Luceni Caetano da Silva

Aluno: Michel Charles Nunes Félix

Matrícula: 111100451

Villa-Lobos a Gazzi de sá: um retrato da educação musical na


primeira metade do século XXI

Michel Charles Nunes Félix

Não há como tratar da educação musical no início do século XXI sem referir-se
a Heitor Villa-Lobos (1987 – 1959). Villa-Lobos foi mentor de um dos movimentos
musicais de repercussão nacional que alcançou todos os estados, principalmente na
Paraíba, que teve como representante direto de Villa o professor Gazzi de Sá (1901 –
1981).
O Canto Orfeônico “criado” por Villa marca o Brasil em termos de educação
musical, pois foi um das primeiras proposta educacional na escola básica, que visava à
atividade e o ensino musical diretamente.
Esse pequeno ensaio apresenta um breve panorama do ensino de música no
início do século XXI, discutindo sobre o papel dos dois principais precursores da
educação musical – canto orfeônico no Brasil, refletindo um pouco sobre suas inserções
políticas, contextualizando o período histórico vivido por eles.

Villa-Lobos e Canto Orfeônico


Não existe dúvida que Villa-Lobos foi um dos compositores mais importantes
do Brasil. Villa conseguiu uma projeção internacional levando o Brasil para o mundo. E
como apontava Mario de Andrade, Villa era um compositor “universal” (ANDRADE,
1987).
Além de um excelente compositor, Villa-Lobos tinha uma visão que estava
muito à frente do seu século. Era homem bastante utopista, e com o espírito investidor.
Com um contexto político bastante agitado, Villa se apoia na perspectiva do governo de
Getúlio Vargas e lança sua proposta do canto coletivo para o desenvolvimento da
identidade nacional, que sem muita ressalta é aprovada.
Em 1931, Villa desenvolve a proposta pedagógica do canto orfeônico, em São
Paulo e a partir de 1932 frente à superintendência de Educação Musical no Rio de
Janeiro. O canto orfeônico seria “um programa de educação musical que abrangeria
todos os níveis escolares e que deveria ser implantado em todo território nacional”
(SOUZA, 2007).
Villa foi influenciado por suas viagens À Europa, em quer conheceu os
métodos ativos, e segundo Fonterrada “se encantara coma proposta de Kodály, achando-
a perfeitamente adequada às escolas brasileiras” (2005, p. 196).
Cabe destacar que Villa-lobos tinha uma inserção política muito forte, devido a
sua projeção internacional, e nesse período já era aclamado nacionalmente como o
compositor mais importante do Brasil. Porém, sua relação com o governo e Getúlio
Vargas, como relata Souza (2007) eram apenas de cordialidade, mas há muita
especulação a cerca de Villa com os ideais da ditadura, contudo o interesse de Villa-
lobos era sua própria projeção, e das suas músicas que eram bastante “modernas” para
época.
Seu objetivo principal era formar plateia por todo o Brasil, mas de fato ele
conseguiu bem mais do que isso. Fora demostrado a força aglutinadora da música,
criando-se gigantescas apresentações, com milhares de participantes.
Vale destacar que o intuito de buscar a identidade nacional através do Canto
Coletivo não aconteceu como se esperava, pois o Canto Orfeônico acabava mascarando
a pluralidade social e cultural da sociedade brasileira, pareciam todos iguais quando na
verdade não eram (SOUZA, 2007).
Gazzi de Sá e a Paraíba

O Canto Orfeônico foi desenvolvido de forma descentralizada. Foram criados


Cursos de Pedagogia de Música e Canto Orfeônico no Rio de Janeiro. Vinham pessoas
de todos os estados, e eram delegados a várias pessoas a responsabilidade de fomentar o
programa no seu estado. Na Paraíba tivemos Gazzi de Sá.
Gazzi foi um dos braços direito de Villa, e diferente dos outros estados em que
o projeto de canto orfeônico aconteceu aos trancos e barrancos, Gazzi conseguir fazer
um movimento significativo na Paraíba.
Além disso, Gazzi não se contentou apenas com o canto orfeônico nas escolas,
mas foi idealizador de diversos cursos, patrocinou diversos concertos custeando tudo,
proporcionando uma atividade musical intensa na Paraíba.
Gazzi de Sá foi professor de diversos professores e professoras, e como
professor exímio, criou seu próprio método de ensino de música, que foi elogia por
Villa-Lobos. Gazzi fez da Paraíba um dos estados mais representativos em termos de
formação musical no nordeste (SILVA, 2006).
Por intermédio do então governador José Américo de Almeida, cria-se o
conservatório de Canto Orfeônico da Paraíba. Silva aponta que

O Conservatório da Paraíba era ligado ao Conservatório Nacional de


Canto Orfeônico do Rio de Janeiro. É importante salientar que a
Paraíba foi o único estado em todo Norte e Nordeste do país a ter um
conservatório de canto orfeônico na época, conforme comprova o
depoimento de Geraldo Parente, que fez parte da equipe dos
professores do Conservatório da Paraíba: ‘no Brasil só existia em São
Paulo, Rio de Janeiro e Paraíba’. A Paraíba era o centro musical que
orientava e oferecia curso para todo Norte e Nordeste de Canto
Orfeônico (2006, p. 86).

Até hoje é comum encontrarmos pessoas que vieram de outros estados para
estudar música na Paraíba, principalmente na Universidade Federal da Paraíba. Pois
devido ao professor Gazzi, a Paraíba tornou-se o estado no Norte e Nordeste como
centro de formação musical.
Considerações sobre Villa e Gazzi

É importante destacar essas duas figuras no cenário brasileiro como educadores


preocupado com a formação musical do povo brasileiro. Ao estudarmos as matrizes
ideológicas que alicerçam a educação musical no país nos deparamos sem dúvida com
Villa e Gazzi, pois foram pioneiros em elaborar novas maneiras de ensinar a arte
musical.
Vale salientar que o contexto social e político não favoreciam o
desenvolvimento das atividades, pois o Brasil ainda girava muito no eixo Rio de Janeiro
e São Paulo, que eram o centro. Esse movimento isolado na Paraíba deu-se devido à
figura de Gazzi de Sá. Nas palavras de Silva

Indiscutivelmente, Gazzi de Sá foi um grande educador musical.


Infelizmente a Paraíba não soube compreender a grandiosidade do seu
trabalho, deixando que fosse embora um filho da terra que tanto lutou
em favor da música no Estado. A Paraíba tem de reconhecer que, se
hoje somos um dos estados que se destaca no cenário musical do país,
devemos aos primeiros esforços de Gazzi de Sá, em querer educar
musicalmente o povo paraibano, quando tomou para si a tarefa de
transmitir, sentir e viver a música de forma prazerosa (2006, p. 106).

Portanto, o ensino de música no Brasil no inicio do século XXI esteve nas


mãos dos professores de canto orfeônico. Por diversos motivos fora substituído no ano
de 1961 pela LDB 4024/1961, que segundo alguns autores essa LDB tira a música do
cenário das escola brasileiras.
O canto Orfeônico no Brasil mostrou que a diversidade cultural deve ser
respeitada em termos de ensino, e que cada professor em cada estado dever procurar
seus próprios meios de ensino, foi isso que diferenciou a Paraíba, e Gazzi de Sá.

Referência
ANDRADE, Mário de. Pequena História da Música. Belo Horizonte: Editora Itatiaia
Ltda, 1987.

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: em ensaio sobre música


educação. São Paulo: UNESP, 2005.
SILVA, Luceni Caetano da. Gazzi de Sá compondo o prelúdio da educação musical na
Paraíba: uma história musical da Paraíba nas décadas de 30 a 50. Tese de Doutorado.
Programa de Pós-Graduação em Letras. Universidade Federal da Paraíba, 2006.

SOUZA, Jusamara. A Educação Musical no Brasil nos Anos 1930 – 45. In: OLIVEIRA,
Alda, CAJAZEIRAS, Regina (Org). Educação musical no Brasil. Salvador. P&A, 2007.
p. 13 - 17

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