Você está na página 1de 10

embaladas e enviadas

Althusser e o comunismo
por Etienne Balibar
tradução Rodrigo Gonsalves
revisão Adriano Lourenço da Silva

Abstract: This paper aims at examining the relation of Althusser to communism, its levels
and instances, as well as the transformations of his thought with regard to the communism.
It explores the possibilities of communism as understood and theorized by Althusser him-
self.

Keywords: Althusser, Marxism, Communism, theory, politics

Palavras chave: escravidão, liberdade, dialética, negatividade, não humano, zumbi


Althusser e o comunismo

Devo começar com algumas observações preli- mais sua realidade era afirmada e, de certo modo,
minares, estipulações, ou até avisos. O primeiro é buscada, porque a contradição poderia ser conside-
que eu estou diretamente implicado na história que rada como uma característica intrínseca, poderia até
vou discutir para vê-la a partir de um ponto de vis- mesmo servir para especificar as modalidades do
ta externo e objetivo. Isso implica em vantagens e futuro que o presente iria suportar. Para nós, pelo
desvantagens. Entre as vantagens, eu incluiria, para contrário (e aqui, obviamente, tomo partido sob as
falar como Nicole-Edith Thévenin recentemente aparências inocentes de um “nós”, que não obriga
disse, do engajamento do sujeito em seu objeto, o leitor), o comunismo não é um movimento real,
que significa que há um interesse em sua verdade é no máximo (o que de fato não é qualquer coisa),
e não apenas uma preocupação com a possibilida- uma esperança contra todas as probabilidades, ou
de de objetividade. Entre as desvantagens, incluiria seja, uma idéia ou uma convicção subjetiva. Em al-
a inevitável inadequação de minhas idéias sobre gum momento em torno de 1989, um pouco antes
a questão, no sentido spinoziano de um conheci- ou pouco depois, nos pareceu que o “significado”
mento “do primeiro tipo”, “mutilado e confuso”, da história de que eramos testemunhas ou herdeiros
porque se baseia, em grande parte, em memórias e não era e não poderia ser a “transição” em direção
principalmente, sujeito a ilusão de que sou capaz ao comunismo, ao menos não na forma imaginada
de manter, em virtude de ter sido contemporâneo pelo marxismo, mesmo que o movimento político
de certos fatos e eventos, que, na realidade, me ilu- ou os movimentos que reivindicassem esse nome
diram e, sem dúvida, continuam me iludindo. Isto é tivessem desempenhado um papel importante na
particularmente verdadeiro nos fatos, gestos, inten- história, tendo consequências completamente para-
ções e até obsessões de Althusser. Eu era seu aluno doxicas em relação aos seus objetivos, como a pre-
e amigo íntimo desde 1961 até sua morte, mas es- paração de uma nova fase e as novas hegemonias
tou muito longe de ter sabido tudo, inclusive o que no desenvolvimento do capitalismo e das relações
diz respeito a suas segundas intenções políticas e de poder no mundo.
filosóficas. Os textos publicados, incluindo a enor- Assim, há uma grande tentação retrospectivamen-
me massa de publicações póstumas, apenas aliviam te para interpretar o período em que o comunismo
parcialmente minhas incertezas. Além disso, ao de Althusser é inscrito como o período de acele-
contrário de outros, não fiz nenhuma pesquisa nos ração do declínio e da decomposição, cujas “con-
arquivos. As memórias, portanto, podem continuar tradições”, tanto locais quanto globais, foram os
o seu trabalho de ocultação. sinais de alerta e, ao contrário, para registrar sua
A segunda observação é mais fundamental. Qual- repetidas asserções da natureza irreversível da fu-
quer reflexão sobre as relações entre Althusser e o são do Movimento dos Trabalhadores com a Teoria
“comunismo”, por definição, referem-se à nossa Marxista (em letras maiúsculas), ou da entrada na
percepção atual do que é ou do que era o comu- fase das dores mortais do imperialismo, da compro-
nismo, enquanto fenômeno político e ideológico vada incapacidade da ideologia burguesa em apre-
inscrito na história, ao mesmo tempo em que pode ender as massas e para controlar suas ações, como
contribuir para iluminá-lo. Da mesma forma, ba- tantas outras ilusões patéticas. Mesmo em 1978
seia-se na percepção que o próprio Althusser teve, no texto de Veneza, “A crise do marxismo”, onde
ou melhor, que tentou esclarecer. Entre essas duas Althusser observa que o marxismo era incapaz de
percepções, as nossas e as dele, ambas em evolução, compreender sua própria história e integração na
há necessariamente uma discrepância [décalage], e história - o que para ele não era uma limitação
uma discrepância temporal começa, resultando em extrínseca, uma simples “insuficiência”, mas que
uma discrepância intelectual. Para Althusser, o co- afeta o interior, no seu núcleo, em sua pretensão
munismo, como um “movimento” (eu retornarei científica - ele ainda afirma que a revelação desta
às conotações do termo), foi pensado no presente, crise (e, do mesmo modo, a possibilidade, mesmo
um presente que era ao mesmo tempo, como Lei- que “aleatória” de sua resolução) se dá devido ao
bniz diria, “grávido do futuro”. Quanto mais este “poder de um sem precedentes da massa operária e
presente estava conturbado, incerto, contraditório, movimentos populares”, dos quais éramos contem-

crise e crítica
102 volume I número 1
Althusser e o comunismo

porâneos . Assim, Althusser não foi apenas comple- e, mais geralmente, para a ordem social dominan-
tamente surpreendido pelo curso real da história em te, portadora das alternativas históricas das quais
que ele tentou intervir, como todo marxista desde já não temos idéia hoje em dia. Se alguém acei-
Marx sem exceção, mesmo que apenas pelo pen- tar, muito rapidamente, que o regime soviético do
samento e pela teoria, mas é muito difícil resistir à tipo stalinista era intrinsecamente parte da ordem
impressão de que todo este pensamento, como um estabelecida, sob a aparência de um desafio radical
pássaro que se choca contra a parede de vidro de para esta; isso significa que a “de-stalinização”, em
sua gaiola, constitui uma reação defensiva contra a última instância, apenas levaria a perspectivas para
história real, na qual os tesouros da inventividade a restauração do capitalismo? E se alguém aceita
(“dialética” ou não) que são frequentemente usa- que os movimentos antiimperialistas de qualquer
das, apenas oferecem uma dimensão mais trágica. tipo, desde o mundo árabe até a África e do Su-
É verdade que também se pode tentar ler as coisas deste Asiático para a América Latina, contiveram
de cabeça para baixo (e não descarto que uma in- dentro de si a possibilidade de inventar outro cami-
tenção desse tipo esteja por trás do simpósio que nho de desenvolvimento do que o que se baseia na
estamos dando ou na mente daqueles que estão polarização extrema das desigualdades sociais, isso
assistindo): se fosse comprovado que, não lutando significa que seu esmagamento sob as ditaduras mi-
apenas contra a “crise do marxismo”, mas também, litares e a corrupção politico-financeira constituíam
contra o que é mais grave, a crise do comunismo o único resultado possível? A violência dos meios
histórico, e procurando gradualmente entender as que foram implementados para conseguir essa des-
causas, Althusser identificou alguma “causa ausen- truição pode, com razão, confirmar que o conflito
te”, que é, no entanto, real, algum mecanismo de existia e que o resultado não era fatal. Questões se-
desordenamento de “encontros” ou “combinações” melhantes surgiram sobre movimentos sociais, tra-
que - bastante “aleatoriamente” - às vezes forne- balhadores e não trabalhistas, na Europa Ocidental
ce indivíduos, capturados na história dos modos de antes e depois de 68. Para dizer claramente, o que
dominação, a capacidade coletiva de alterar o curso devemos pensar hoje sobre o sentimento compar-
- seja chamado de comunismo ou qualquer outra tilhado durante esse período por vários comunis-
coisa. Assim, talvez a fraqueza que no passado lhe tas da minha geração, e até mesmo por aqueles um
pertencesse, possa metamorfosear em um recurso pouco mais velhos, era que estávamos entrando em
para hoje ou para amanhã. Que continua a ser visto. uma nova temporada revolucionária, que também
Mas tendo dito tudo isso, estou ciente da necessida- seria uma alteração nas modalidades de revolução,
de absoluta - mesmo que para interpretar o trabalho o que Régis Debray (em próxima colaboração com
do próprio Althusser - de fornecer uma correção os líderes cubanos antes de caírem na ortodoxia)
factual à representação da história do século XX, chamou famosamente de a “revolução dentro da re-
enquanto a história de um declínio e decomposi- volução” (o que, verdadeiramente, nem todos viu a
ção, mais ou menos diferida por um longo tempo, orientação do mesmo modo)? Proponho que man-
ao contrário do que era a imaginação comunista. tenhamos essa questão em mente, sem respostas
A projeção de um “fim”, que é ambígua por defi- preconcebidas e ao mesmo tempo que examinamos
nição, no processo que a precedeu é mistificador, a trajetória de Althusser.
da mesma forma que como são as inversões termo- Isso me leva ao meu tema, começando mais uma
-a-termo de uma mitologia histórica para outra. A vez com uma precaução. A palavra “comunismo” é
grande questão que me parece ser predominante extremamente polivalente e até mesmo, equívoca.
na interpretação das elaborações e intervenções de Ele designa várias coisas. Ao contrário dos outros,
Althusser no campo do “comunismo” de seu tem- não acredito que possamos, mesmo em um nível
po, é a questão de saber se o período intermediá- muito alto de abstração, reduzi-lo à simplicidade de
rio, digamos, desde 1960 até o meio dos anos 70 , uma idéia. Ou se tal idéia existir, que ela “explo-
quando - por um curto período de tempo - a pers- de” de suas aplicações e níveis de realização. Para
pectiva “eurocomunista” estava sendo delineada, julgar a relação de Althusser com o comunismo, é
contém uma renovação dos desafios ao capitalismo necessário situar seu engajamento em diferentes ní

crise e crítica

volume I número 1 103


Althusser e o comunismo

veis heterogêneos, mas que não são radicalmente se associem em atividades não mercantis . Obvia-
separados um do outro e tentar entender as varia- mente, há uma tensão muito alta aqui, no primeiro
ções que ocorrem. Não há dúvida de que Althusser, grau pelo menos, com uma tese frequentemente de-
desde o momento de sua “conversão” no final da clarada em outro lugar: nenhuma sociedade é trans-
guerra, educado pela experiência do cativeiro e os parente para si mesma, nenhuma sociedade é sem
encontros que ele ali teve, foi completamente cap- ideologia . A menos que se pense, o que talvez não
turado e formado no mundo do comunismo, que era seria anti-althusseriano, que fraternidade é a pró-
para ele mais do que para muitos outros uma expe- pria ideologia do comunismo, ou até mesmo que
riência total, mas, repito, em diferentes níveis . o comunismo como ideologia, como meio de pen-
No primeiro nível, que eu chamaria de subjetivo samento e vida, finalmente libertado de sua função
no sentido ordinário do termo, penso que é neces- enquanto classe...
sário situar ao mesmo tempo, em um curto-circui- Em todo caso, é quase um salto ir disto para o
to de alta tensão, experiências vivas e esperanças que eu chamaria do segundo nível, o da teoria, onde
escatológicas, cuja unidade muitas vezes é unido o importante a ser dito é que em primeiro lugar e
por ele na linguagem da fraternidade. Fraternidade novamente, é negativo: para Althusser (e isso se
vivida no presente, e mesmo em nosso cotidiano, tornará mais e mais claro), a teoria (incluindo e
como todos nós experimentamos em ambientes sobretudo a teoria marxista) não tem nada a dizer
muito diversos, entre os quais para ele significava sobre o comunismo enquanto tal, apenas lida com
principalmente o quadro de atividades militantes a possibilidade do comunismo, na medida em que
com os companheiros de cela do partido, especial- está inscrito nas contradições do capitalismo, isto é,
mente porque eram, como uma exceção às estrutu- na luta de classes . Não basta, penso eu, referir-me
ras do partido da época, no meio acadêmico, não aqui ao “movimento real que aboliu o estado das
exclusivamente intelectuais. Neste nível, embora coisas existentes”, mesmo que tivera ocorrido que
seja claramente perigoso, estou igualmente tentado Althusser abraçou esta famosa fórmula da Ideolo-
a notar seu relacionamento com sua esposa Hélène, gia Alemã, porque é claro que para ele, corre o ris-
terminando trágicamente em 1980, ao mesmo tem- co de implementar uma representação determinista
po fusional e conflituoso. Hélène fora expulsa do do processo da luta de classes, mesmo “em última
partido após a Libertação da França por razões que instância”. O termo que ele preferia cada vez mais
não foram inteiramente explicadas, representou era “tendência”, na condição de que seja imedia-
para Althusser um link imaginário (e ainda mais tamente combinado com “contra-tendência”, de
forte) com as fraternidades militantes dos períodos certo modo a inscrever na mesma problemática a
heróicos (a Frente Popular e a Resistência) . Mas a possibilidade e a impossibilidade de alcançar o co-
fraternidade também é o sinal segundo o qual as es- munismo representado pelas vicissitudes da luta de
peranças escatológicas de Althusser estão inscritas, classes. Isto é o que devemos teorizar e imediata-
de uma sociedade de relações sociais libertas da mente percebemos que essa teoria só pode assumir
forma-mercadoria, certamente uma definição “ne- propriedades muito paradoxais do ponto de vista
gativa”, mas a mais precisa que podemos encon- epistemológico. Surgem muitos problemas, e indi-
trar nos seus textos sobre “comunismo” como um carei três, infelizmente, sem poder entrar em todos
modo, ou melhor, como uma forma de organização os detalhes aqui. Primeiro, devemos pensar que a
social. No final de sua vida, em textos que podem possibilidade é estratégica e a impossibilidade de
parecer delirantes, como as Teses de Junho [Thèses alguma forma “tática”? Mas a política, especial-
de juin] de 1987 preservados nos arquivos do IMEC mente na perspectiva maquiavélica, que Althusser
(mas não é o delírio uma das formas sob as quais privilegiou, continuando buscando sua adaptação
a verdade de um assunto é expressa?) o cotidiano à forma contemporânea de luta de classes, para a
e o escatológico se juntam na tese: “o comunismo qual não foi concebida, não é senão uma tática. E,
já está aqui”, entre nós, invisível ou imperceptível, conseqüentemente, surge a questão de saber em que
isto é, não denominado como tal, nos “interstícios medida a realização do “objetivo final”, o comunis-
da sociedade capitalista”, onde quer que os homens mo, serão afetados não apenas na sua possibilidade

crise e crítica
104 volume I número 1
Althusser e o comunismo

histórica, mas em seu conteúdo, pelas vicissitudes que o motor da história é a luta de classes, “compli-
“táticas” da luta de classes que a engendra. cada” e “suplementada” se necessário, com todos
Aqui, é apresentado o segundo problema, que é o da os outros tipos de níveis e práticas, distribuídos de
articulação entre as duas categorias “socialismo” e acordo com os registros de uma luta de classes eco-
“comunismo” herdadas da tradição “marxista” com nômica, política e ideológica (apesar de essencial-
base em uma leitura muito tendenciosa da Crítica mente qualquer luta de classe ser política: políti-
do Programa Gotha e canonizado por Stalin em sua co-econômica, político-ideológica, política-estado
interpretação evolucionista da transição revolucio- ou anti-estatal) mas, apenas para ocupar o lugar da
nária, que a de-Stalinização não apenas falhou em “determinação em última instância” . É por isso que
colocar em questão, mas, pelo contrário, a esten- Althusser estava completamente surdo e cego para
deu completamente . O próprio Althusser, só muito a forma como o feminismo reavaliou a univocidade
tarde, pensa sob estes termos. Por conseguinte, é dos movimentos de emancipação, permanentemen-
necessário determinar precisamente o momento em te “pluralizando” a idéia de formar um processo de
que ele apresenta a tese (que hoje é compartilhada transformação das relações sociais ou do questio-
por marxistas ou pós-marxistas, como por exem- nando a dominação. E ele reagiu com uma extrema
plo, Antonio Negri) segundo a qual o socialismo violência, por antecipação, à idéia de que a “revolta
não existe como modo de produção ou de formação ideológica de massa” de 68 (de acordo com a sua
social autônoma, mas representa, no máximo, um expressão não totalmente irrelevante, no entanto, se
nome para caracterizar a multiplicidade de circuns- “revolta” for tomada em sentido positivo: Rancière
tâncias em que uma tendência dentro do capitalis- teria apenas uma pequena transformação a fim de
mo (ou seja, uma tendência para a sua reprodução, retornar, nas palavras de Rimbaud, às “revoltas
até a sua adaptação ou a sua modernização) e uma lógicas”) poderia constituir a forma de uma luta
tendência no comunismo (identificada na insistên- anti-autoritária que tenha bases sociais, mas cujo
cia das formas de relações sociais, ao invés de um significado não foi definido pelos interesses e expe-
modo de produção) se confrontam . Estou tentado a riências da classe trabalhadora .
sustentar que esta tese é um subproduto da discus- Em última análise, vemos o dilema de que cada re-
são sobre a “ditadura do proletariado” a partir de leitura das proposições de Althusser, em diferentes
1976, na qual ocorre um tipo muito contraditório estágios de seu desenvolvimento, inevitavelmente
e, portanto, muito violento, de atuação da relação se colocará diante de nós: se essas proposições são
de Althusser com a herança de “Leninismo”, isto é, inseparáveis da afirmação do “primado da luta de
claramente, de Stalin. Assim, o surge a seguinte a classes” e se a primazia da luta de classes é aquilo
fórmula: “O comunismo é a nossa única estratégia que articula o marxismo ao comunismo, retemos
(...) não apenas comanda o hoje, mas começa hoje. todo esse sistema para pensar as “tendências” que
Melhor: já começou” . É necessário reconhecer que queremos inscrever em um momento historicamen-
esta fórmula está bastante longe do modo como o te presente, mesmo ao custo de novas definições,
Para Ler o Capital teorizou a “transição” entre os ou consideramos ser necessário suprimir ou rela-
modos de produção, que certamente multiplicaram tivizar certos elementos, e quais seriam? E não é
os elementos de “sobredeterminação” para afastar certo que isso seja possível de um jeito ou de outro.
o evolucionismo e positivismo histórico, mas que Mas é aqui que chegamos ao terceiro nível do
permaneceu mais do que nunca subordinado a uma “comunismo” de Althusser, ou ao comunismo com
problemática da periodização da história das for- o qual Althusser mantém o que pode ser chama-
mações sociais. do de relação de interioridade crítica: esse nível é
No entanto, enquanto seguimos na substituição da organização comunista, não apenas como um
de uma problemática do presente (assim como suas projeto ou metodologia de ação política como pen-
tendências diferenciais e contra-tendências, ou a sados a princípio, no nível do conceito, mas como
sua não-contemporaneidade consigo mesma) por um dado, mesmo que seja contraditório (e se suas
uma problemática de sucessão e periodização, há contradições cada vez mais parecem ser intrínse-
algo que claramente não muda, a saber, a idéia de cas, constitutivas). Nós também devemos nos valer

crise e crítica

volume I número 1 105


Althusser e o comunismo

aqui, parece-me, de vários termos. Um deles, ob- a questão da organização comunista se apresen-
viamente, é o “partido”, tanto no sentido de tomar ta a nós. Há outros que se espalham pelo nível do
partido, quer de tomar posição na sociedade, na luta “partido”, estou tentado a dizer de forma extensiva
de classes, no pensamento e filosofia (aconteceu e intensiva. Ambos dizem respeito à idéia do mo-
que Althusser, no início dos anos 60, no auge de seu vimento dos trabalhadores. Primeiro, há a questão
“teoricismo”, falou do “partido do conceito”, um do movimento comunista internacional considera-
termo que ele disse ter encontrado em Marx) e, no do precisamente como uma forma (e mesmo uma
sentido de uma organização historicamente consti- forma superior, em escala mundial) do movimento
tuída: o “Partido Comunista Francês”, oficialmente dos trabalhadores, como seria estabelecido para a
chamado de seção da Internacional Comunista - ou revolução e a passagem ao comunismo, primeiro
seja, o Komintern dissolvido em 1943 para o qual do seu “encontro” e então sua “fusão”, com a teoria
é claro que, como outros militantes de sua geração, marxista. É muito impressionante ver que Althusser
ele era nostálgico. se manteve contra o vento e maré, a idéia de uma
Ele se identificou completamente com este parti- unidade virtual entre elementos de um movimento
do (“o Partido” com P maiúsculo), mas para trans- cada vez mais fragmentado e envolvido em con-
formá-lo, protegê-lo de seus “desvios”, até mesmo frontações geopolíticas de Estado, por causa de sua
para prescrever seus caminhos para sua reabilita- suposta oposição irredutível a um único adversário,
ção interna, pelo menos obliquamente. Assim, pode o imperialismo mundial. O que também o levou a
parecer que a ideia do partido divide em dois, que colocar o problema da crise do marxismo enquanto
existe uma espécie de partido comunista empírico, um efeito da incapacidade dos comunistas em ana-
ele sente-se em desacordo com, se não até mesmo lisar as oposições separatistas entre os países socia-
estrangeiro a este, e um partido comunista ideal, listas, a China e a URSS, mais tarde seguidas pela
que é o verdadeiro objeto da fidelidade de Althus- URSS de Brezhnev e os partidos ocidentais “Eu-
ser . Mas a característica constante de sua atitude, rocomunistas”, foi ver essas enquanto contradições
que se aplica às batalhas “ofensivas” dos anos 60 internas ao movimento.
e ao grande conflito sobre o “socialismo humanis- Esta convicção, creio eu que para além das lealda-
ta”, bem como as batalhas “defensivas”, se não de- des e amizades pessoais, foi o motivo subjacente do
sesperadas, no final dos anos 70, contra o que lhe “duplo trato” que Althusser foi tentado a praticar
parecia uma mudança em direção à “democracia por alguns anos - essencialmente entre 65 e 67 -
burguesa” da então chamada estratégia do “progra- entre o oficialmente pró-soviético e certamente an-
ma comum” (para não dizer contra a idéia geral do ti-chinês (PCF), e a organização maoísta criada por
Eurocomunismo) , essa constante característica é alguns de seus alunos mais velhos que, ignorando-
a convicção de que a as lutas pela transformação -o, tinham excedido a estratégia que ele elaborara
do partido podem e devem ser realizadas de den- para eles e, sob a influência direta de Pequim (mes-
tro pelas “forças” presentes no partido, e só podem mo que fosse por muito pouco tempo) começaram
ser perdidas e viradas contra seu objetivo se forem a constituir um pólo de atração diante do CP e da
realizadas de fora. De certa forma, o partido ideal Confederação Geral do Trabalho. Esse duplo trato
é um fragmento do partido real, o que revela para lhe custaria caro, tanto na frente política quanto na
si mesmo e que deve prevalecer . Daí a relutância frente emocional, uma vez que levaria a ser atacado
extraordinária de Althusser em seguir o caminho por ambos os lados. Mas sua convicção subjacen-
da “dissidência”, da qual posso pessoalmente ates- te (o que, mais uma vez, poderia ser chamada de
tar, em particular por ter contribuído na revisão do ilusão), era que a membra disjecta do “movimen-
panfleto ‘O que deve mudar no partido’ em 1978, to comunista internacional” deveria, mais cedo ou
o que deixa claro que custaria a Althusser uma in- mais tarde, unir-se, e que era necessário, neste mo-
crível quantidade de esforço, provavelmente não mento o surgimento de mediadores desaparecidos,
sem subsequentemente agravar seu estado mental “desaparecendo em sua intervenção” (Lenin e a Fi-
. No entanto, o “partido” é apenas um dos nomes losofia, 1968), isto é, “filósofos”, não para negociar
ou formas sob os quais, no discurso de Althusser, acordos do topo da montanha, mas para “pensar”

crise e crítica
106 volume I número 1
Althusser e o comunismo

as condições e perspectivas históricas para essa re- selhos” de baixo . Aqui está o coração dos legados
fundação. contraditórios de Lenin, tanto no Stalinismo como
Isso poderia ser uma ilustração do que eu acredito em Gramsci.
ter sido estratégico - e também estou tentado a di- É interessante que Althusser tenha vindo, nos tex-
zer, um fator estilístico da concepção que Althusser tos do período de “crise” (em particular a interven-
teve da teoria e mais precisamente da filosofia em ção do colóquio de Veneza, “A crise do marxismo”
relação à política organizada. Ele procurou “encon- para representar um limite intrínseco do marxismo,
trar” teoricamente, ao mesmo tempo, não exata- da qual a origem era no próprio Marx, que ele cha-
mente como uma concepção clerical ou “eclesiás- mou de “conceito calculável de mais-valia”, como
tica” , na qual a filosofia serve uma linha política a diferença quantitativa entre o valor de trabalho e
previamente definida; e também não - apesar de o valor retido ou criado por sua utilização produtiva
sua admiração proclamada pelos grandes “líderes (a responsabilidade pela qual atribui no Capital, à
teóricos ”: Lenin, Gramsci, Mao, extinto com Sta- famosa ordem hegeliana de exposição, mais uma
linismo e a de-Stalinização - como uma concepção vez, enquanto a raiz do erro aos seus olhos) . Por-
orientadora e quase “soberana”, correspondente à que, segundo ele, essa concepção que expulsa às
idéia de uma dedução da prática política do conhe- margens a articulação da acumulação de capital e
cimento “científico” da totalidade social; mas, ao sua lógica com as formas concretas de exploração e
contrário, tanto como concepção pedagógica e crí- extorsão do trabalho excedente experimentado pe-
tica que visa se inscrever na proximidade da deci- los trabalhadores, seria precisamente a origem da
são política (bem como na diferença, na “distância divisão dos níveis de organização, ou pelo menos
interior” ou no “vazio de uma distância tomada” da incapacidade da teoria marxista em combater
em relação ao político) A concepção suficiente- a sua perpetuação, que, além disso, os interesses
mente próxima, ao que parece, ao que a tradição corporativistas sustentam por aparelhos que orga-
eclesiástica, da qual Althusser permaneceu extre- nizam a luta de classes e seus quadros (obviamente,
mamente próximo em seu treinamento e certo de se poderia pensar que a teoria marxista é aqui juíza
seus amigos, chamado potestas indirecta: o “poder e júri) .
espiritual” ou “poder intelectual” que não substi- Tais pensamentos podem dar a impressão de que
tuiu o poder político, mas o sobredeterminou, e as- estamos numa batalha de retaguarda com formas
sim, de certa forma, caracteriza a essência política organizacionais e a concepção do partido com o
da política “conjuntural”. qual, como retomei, o próprio Althusser estava
Mas o que é ainda mais interessante, para nós completamente impregnado. Mas gostaria, a título
hoje, é a forma como a questão da “forma partido” provisório, de qualificar essa impressão invocando
surgiu para Althusser - sem em momento algum ter uma fórmula banal, mas bastante persistente, que
sido formulada exatamente nestes termos . A ques- Althusser recorre periodicamente: a fórmula que
tão da “forma partido” não só se refere ao chamado sugere que o marxismo (e conseqüentemente, pelo
“centralismo democrático”, correlativo à “ditadura menos idealmente, o “partido comunista” que é
do proletariado” na construção de Stalin, mas aci- exigido por esta) deve dar origem a “outra prática
ma de tudo a idéia da distinção hierárquica entre a de política”, no sentido duplo (mas as duas coisas
“luta de classes econômicas” e a “luta de classes estão obviamente vinculadas) de uma nova prática
políticas”, como encarnada pela distinção organi- em relação à que já existiu na história e uma hete-
zacional entre o partido e o sindicato, onde o último rogênea prática em relação àquilo que inventou a
pertence ao sistema de “esteiras de transmissão” do burguesia (do qual Marx disse no Manifesto, em
partido e da própria ditadura do proletariado - de uma fórmula extremamente ambígua para Althus-
acordo com a fórmula eloquente de Stalin, perpe- ser, mas que suscita um problema crucial, “educou
tuada em todo partido comunista, mas severamente o proletariado à política” ao existente que precisa-
prejudicada pelas greves de 1968 e, pelo menos na va se mobilizar para obter forças suficientes, isto é,
Itália, pelas lutas nas fábricas e pelo surgimento ou movimentos de massa, necessários para sua vitória
ressurgimento da forma de organização dos “con- sobre o feudalismo e a monarquia do Antigo Regi

crise e crítica

volume I número 1 107


Althusser e o comunismo

me). este jogo: perderiam a classe trabalhadora ao mes-


Qual é esta “outra prática da política” a que Al- mo tempo que se perderiam. O partido comunista
thusser sempre retornaria, que seria de alguma “não é um partido como os outros”, de certa forma
forma uma prática especificamente comunista? é até mesmo a antítese de todas os outros partidos.
Não estou inteiramente certo, mas posso formular Eu tinha objetado no momento que essa tese não
algumas hipóteses, que surgem parcialmente da era compatível com a maneira pela qual os “apare-
maneira como os termos de uma disputa que tive- lhos ideológicos de estado” permitiam pensar em
mos em 1978 tornaram-se, em retrospecto, claro “partidos” e eu continuo pensando assim.
para mim, precisamente como parte da discussão Mas talvez o que isto signifique, é que a teoria dos
suscitado por Il Manifesto como resultado do co- AIEs é insuficiente para analisar as modalidades
lóquio de Veneza e que começou com as respostas ideológicas da própria luta de classes. Este é, pelo
de Althusser a Rossanda, sob o título: Le marxisme menos, o que parece especificar tais textos - notá-
comme théorie ‘finie’ . Althusser argumentou duas veis em muitas maneiras, mesmo que permaneçam
coisas, uma apontava diretamente contra os planos mais do que nunca contraditórios - como a “Con-
de participação em governos de coalizão propostos ferência de Granada” sobre “A Transformação da
na França pela União da Esquerda e na Itália pelo Filosofia” e o manuscrito incompleto “Marx em
“compromisso histórico”, e o outro sendo de alcan- seus limites” (1987), particularmente pela estranha
ce teórico mais amplo. tese que o último sustenta: de que o Aparelho de
O primeiro consiste em contrastar as práticas de Estado está fora da luta de classes, precisamente
aparelhos comprometidos exigida por tais alianças para poder dominá-lo do ponto de vista da burgue-
(que ele chamaria, em What Must Change in the sia (Poulantzas no mesmo período, na fundação do
Party, de “contratual”) e o que chamamos recen- Eurocomunismo, disse exatamente o contrário) . A
temente aqui (Kenta Ohji), de “linha de massa”, contrapartida desta tese, portanto, seria que o par-
que é , a mobilização de massa e, em particular, as tido comunista, para separar-se do Estado, e para
massas da classe trabalhadora, no centro, de forma escapar o máximo possível dele, deve esforçar-se
autônoma, como força de arbitragem e não como perpetuamente para entrar na luta de classes, em
força de apoio da política oficial (ele cita várias ve- particular pela porta das “lutas econômicas”, isto é,
zes Maurice Thorez em 36: “não temos ministros, lutas que estão em andamento nos próprios locais
mas temos o ministério das massas”) .25 O segun- de exploração. Daí a oposição à “autonomia da po-
do, que possui alcance teórico mais amplo, consiste lítica” proposta por um grupo de marxistas italianos
em dizer que o “partido comunista” é, por defini- (notadamente Mario Tronti) . Daí também, talvez,
ção, um partido “fora do estado”, que vai além da a aporia de uma “política comunista” que deve, de
idéia de não-participação ou não subordinação no uma vez, liderar (ou ser liderada) como seria um
governo. Príncipe, para encontrar o “ponto de arquimedes”,
Em linha com o que tinha constituído enquanto onde é necessário entrar para transformar o mundo
a base para a sua oposição ao Kruschevism, que o (em qualquer caso, a sociedade) e devolver o po-
mesmo sustentou, mas sem dizer de forma tão ex- der político às massas (Althusser costumava dizer,
plicita, seu projeto de uma “crítica de esquerda ao em uma terminologia que lembra o PCF dos anos
Stalinismo” (que muitos, obviamente, entendiam trinta, às “massas populares”), essa capacidade que
como uma relíquia do próprio Stalinismo), Althus- eles possuem em si mesmas, mas que aparelhos de
ser Explica sem qualificação que a “fusão do par- todos os tipos nunca deixam de despojar .
tido e do Estado” constitui o elemento comum ao Sobre “fusão” ver as correspondências Goshgarian.
desvio stalinista do marxismo (e, de fato, do comu- Althusser, 1978.
nismo) e à política “socialista” que poderia surgir Veja a belíssima análise de Stanislas Breton: Bre-
da construção de uma aliança parlamentar entre co- ton, 1997.
munistas e socialistas, ou mais geralmente partidos Note a rede amigos comuns de Althusser e Hélène,
“burgueses”, no terreno institucional. É por isso parcialmente composta por antigos militantes da
que é necessário que os comunistas não joguem resistência.

crise e crítica
108 volume I número 1
Althusser e o comunismo

NOTAS
1 Matheron, 2009.
2 Essa tese é apresentada em Para Marx e repetida em “Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado”.
3 Althusser, 2006.
4 Resgatando minhas conversas com filósofos chineses?
5 Ver a correspondência Goshgarian.
6 Althusser 1977, Althusser 1976a
7 Esse era particularmente o caso da minha contribuição: Balibar, 1969.
8 Ver o texto: “Sobre a Revolução Cultural” de Althusser publicado anónimamente pela Cahiers Marxis-
tes-Léninistes: Althusser, 2010.
9 A expressão “revolta ideológica de massa” dos estudantes universitários e de ensino médio é particular-
mente utilizada em “A propos de l’article de Michel Verret…” (Althusser, 1969b) e numa carta datada de 15
de março de 1959 para Maria-Antonietta Macchiocchi: Macchiocchi, 1969.
10 Cf. Althusser, 1974, 274.
11 O que Andrea Cavazzini num livro excelente (Cavazzini, 2009) chama de “A última luta de Althusser”
fazendo alusão ao livro de Moshe Lewin: A última luta de Lenin.
12 Ainda sob o esquema escatológico dos ‘restos de Israel...’
13 O texto apareceu pela primeira vez em forma de quatro artigos no jornal Le Monde, 24-27 de abril de
1978 (republicados num volume de livro, por François Maspero, Paris 1978).
14 Como Bernard Pudal corretamente diz em seu comentário na Letter à Henri Krasucki de 1965, um
documento extraordinariamente revelador, testemunhando sobre outro momento de “duplo trato”: veja os
documentos publicados na Fundação Gabriel Péri: Pudal, (data?)
15 Matheron, 2009.
16 Ao contrário do que estava acontecendo ao mesmo tempo em certas correntes do “Trabalharismo”
[Workerism] italiano, que ele ignorou completamente de início, mas que é não absolutamente impossível
que ele tenha se familiarizado posteriormente. E acima de tudo, penso eu, na tendência da “esquerda” do
PCI, como Pietro Ingrao e de sindicalistas como Bruno Trentin, ou do exterior como Rossana Rossanda e
o jornal II Manifesto. Cf., minha intervenção no colóquio Padua de Rossana Rossanda.
17 Ver a indicação implícita nas memórias de Georges Séguy: Séguy, 2008 sobre seu conflito com a direção
do partido, representada dentro da CGT por Henri Krasucki. Ver também Trentin, 1980.
18 Althusser, 1977, p.247-266.
19 Althusser, 1978b, p.281-296.
20 Althusser, 1978b, p.281-296. A versão original apareceu em italiano no volume Discutere lo Stato: Posi-
zioni a confronto su una tesi de Louis Althusser, De Donato editore 1978.
21 Althusser, 1978, p.118.
22 Althusser, 1976b.
23 Althusser, 2006, 7-162. I later said that, in the “dispute” on the Dictatorship of the Proletariat, I had re-
alized after the fact that Poulantzas’ position was more correct than Althusser’s (cf. Balibar, 2010, 145-164)
24 Note on lthe Tronti-Negri oppostion: but neither does Althusser side with Negri, because one dissolved
the “working class” in to the working-mass, the other in the multitude ?
25 Cf. the items added in my conversation with Yves Duroux in Cahiers du GRM.

crise e crítica

volume I número 1 109


Althusser e o comunismo

BIBLIOGRAFIA

Althusser, Louis, 1969a, For Marx, London: Verso, 1996


——-1969b, ‘A propos de l’article de Michel Verret sur « Mai étudiant »’, Penser Louis
Althusser, Le Temps des Cerises, 2006.
——1971, “Ideology and Ideological State Apparatuses,” trans. Ben Brewster, On the Re-
production of Capitalism, 232-272 London: Verso, 2014.
——-1976a ‘Un texte inédit de Louis Althusser: Conférence sur la Dictature du Proléta-
riat à Barcelone, Revue Période, http://revueperiode.net/ un-texte-inedit-de-louis-althusser-
-conference-sur-la-dictature-duproletariat-a-barcelone/
——-1976b, ‘La transformation de la philosophie’, Sur la philosophie, Gallimard, collec-
tion ‘L’infini’, 1994. ——-1977a, ‘Avant-propos du livre du G. Duménil, Le concept de loi
économique dans « le Capital », Solitude de Machiavel Paris: PUF, 1998, 247-266.
——-1977b, 22ème Congrès, Paris: Librairie François Maspero, Collection ‘Théorie’.
——-1978a, ‘The Crisis of Marxism’, trans. Grahame Lock, Marxism Today, 215-220, 227.
——-1978b, ‘Le marxisme comme théorie « finie »’, Solitude de Machiavel, Paris: PUF,
281-296.
——1995, The Future Lasts Forever, trans. Richard Veasy, New Press
——2006, ‘Marx in His Limits’, trans. G. M. Goshgarian, Philosophy of the Encounter,
London: Verso, 7-162.
——2010, ‘On the Cultural Revolution’, trans. Jason E. Smith, Décalages, http://scholar.
oxy.edu/decalages/vol1/iss1/9/. Balibar, Étienne, 1969, ‘The Basic Concepts of Historical
Materialism’, trans Ben Brewster, Reading Capital, London: Verso, 223-345.
——-2010, ‘Communism and Citizenship: On Nicos Poulantzas’, Equaliberty, Durham:
Duke UP, 145-164.
Breton, Stanislas, 1997, ’Althusser et la religio’, Althusser philosophe, ed. Pierre Raymond,
Paris: PUF, 1997. (English translation in Althusser and Theology, forthcoming 2016.
Cavazzini, Andrea, 2009, Crise du Marxisme et critique de l’Etat, Editions le clou dans le
fer, Materialimes. Duménil, Gérard, 1978 Le concept de loi économique dans « le Capital
», Paris: Maspero. Macciochi, Marie-Antonietta, 1969, Lettere dall’interno del PCI a Louis
Althusser, Feltrinelli. Matheron, Francois, 2009, ‘La récurrence du vide chez Louis Al-
thusser’, Machiavel et nous, Tallandier. Pudal, Bernard, 1965 ‘La note à Henri Krasucki’,
Gabriel Péri Foundation, http:// www.gabrielperi.fr/la-note-à-henri-krasucki-(1965)-par-
-bernardpudal.html. Séguy, Georges, 2008, Résister : de Mauthausen à Mai 68, L’Archipel.
Trentin, Bruno, 1980, Il sindacato dei consigli. Intervista di Bruno Ugolini, Editori Riuniti,
Roma.

crise e crítica
110 volume I número 1

Você também pode gostar