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DA PESQUISA
autora
KAREN FERNANDA BORTOLOTI
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial solange moura; roberto paes; gladis linhares; karen fernanda
bortoloti; marcia mitie maemura
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
isbn: 978-85-5548-036-2
Prefácio 7
Objetivos 52
2.1 A escolha do tema e importância de sua delimitação 53
2.2 A problematização do tema 57
2.3 A construção de hipóteses e as questões norteadoras. 62
2.4 Construção da fundamentação teórica 64
2.5 Tipos de pesquisa 66
2.5.1 Tipos de pesquisa segundo os objetivos 69
2.5.2 Tipos de pesquisa segundo os procedimentos
de coleta e as fontes de informação 71
2.5.3 Tipos de pesquisa segundo a natureza dos dados ou
abordagem do problema 76
Atividades 78
Reflexão 78
Referências bibliográficas 78
3. A Redação Científica 81
Objetivos 82
3.1 A linguagem da pesquisa 83
3.2 A Redação Científica 85
3.2.1 Impessoalidade 85
3.2.2 Objetividade 86
3.2.3 Clareza 86
3.2.4 Precisão 87
3.2.5 Modéstia e cortesia 87
3.3 A leitura: condição indispensável para
os trabalhos acadêmicos 88
3.4 Fichamento 91
3.4.1 Fichário Bibliográfico 93
3.4.2 Plano de leitura 94
3.5 Resumo 95
3.6 Resenha 96
3.7 Artigo 97
3.8 Monografia 98
3.9 Apresentação de trabalhos acadêmicos 100
Atividades 100
Reflexão 100
Referências bibliográficas 101
Objetivos 104
4.1 Constituição do projeto de pesquisa 105
4.2 A importância do projeto de pesquisa 107
4.3 Construção e estrutura do projeto de pesquisa 109
4.3.1 Dados de identificação 111
4.3.2 Justificativa 111
4.3.3 Problema de pesquisa e objetivos 112
4.3.4 Hipótese 113
4.3.5 Metodologia da pesquisa 114
4.3.6 Cronograma de execução 115
4.3.7 Referências 116
4.4 O método científico 117
4.4.1 Método Científico e Método Racional 119
4.4.2 Os muitos discursos sobre o método 120
4.5 As técnicas 125
4.5.1 Observação 128
4.5.2 Descrição 131
4.5.3 Comparação 131
4.5.4 Análise e síntese 132
4.5.5 Experimentação 133
4.5.6 Técnicas de abordagem 134
4.5.7 Dedução 135
4.5.8 Indução 137
4.5.9 Intuição 138
4.5.10 Inferência 139
4.5.11 Técnicas de Coleta de dados 139
4.5.12 Entrevista 140
4.5.13 Questionário 143
Atividades 145
Reflexão 145
Referências bibliográficas 148
Objetivos 152
5.1 Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) 153
5.2 Ética e pesquisa científica 155
5.2.1 Plágio 160
5.3 Formatação do trabalho 163
5.4 A Estrutura Textual da Pesquisa 166
5.4.1 Elementos pré-textuais 168
5.4.2 Elementos textuais 170
5.4.3 Elementos pós-textuais 171
5.5 Normas para Citação 172
5.5.1 Sistema numérico 175
5.5.2 Sistema autor-data 176
5.6 Normas para Referência 177
Atividades 180
Reflexão 181
Referências bibliográficas 182
Gabarito 183
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
7
1
A Pesquisa e o
Conhecimento
Científico
Para iniciarmos a nossa reflexão acerca da pesquisa cientifica, neste primei-
ro capítulo vamos entender o que é conhecimento, que é fundamental para
compreendermos o que é e qual a importância da metodologia da pesquisa, e
quais os seus tipos para que possamos entender a estruturação da ciência, o
seu desenvolvimento ao longo da história e porque alcançou o status do qual
desfruta atualmente em nossas vidas.
OBJETIVOS
• Analisar e compreender os diferentes tipos de conhecimento e suas principais características;
• Observar como as diversas formas de conhecimento estão presentes em nossas atividades
cotidianas;
• Examinar como os tipos de conhecimentos estão relacionados e são, igualmente, impor-
tantes para o desenvolvimento científico;
• Compreender a história das ciências;
• Analisar a divisão e classificação das ciências.
10 • capítulo 1
1.1 O Conhecimento e seus níveis
capítulo 1 • 11
Os meios pelos quais um objeto é representado pelo sujeito que o conhece
dependem do instrumento empregado para produzi-los. O homem dispõe de
duas espécies de instrumentos cognitivos para alcançar o conhecimento: os
seus órgãos sensoriais e sua inteligência.
No ato de conhecer, o sujeito tende para o objeto, esta tendência é chamada
de intencionalidade do conhecimento, que consiste em sair (o sujeito) de si,
para o campo de referência do objeto, a fim de captá-lo mediante um pensa-
mento, por este ato cognoscitivo o sujeito traz, psiquicamente – ou seja, por
meio de sensações, percepções, imagens, ideias, juízos –, para dentro de si, o
objeto. O objeto, uma vez parte da consciência do sujeito, produz neste uma
modificação, pois resulta, no sujeito, um novo pensamento.
©© ERIC BRODER VAN DYKE | DREAMSTIME.COM
12 • capítulo 1
Conhecer é, pois, representar uma coisa ou objeto. É a operação imanente1
pela qual um sujeito pensante representa um objeto. É o ato de tornar um obje-
to presente à imaginação ou à inteligência. É o ato de sentir, perceber, imaginar
ou pensar um objeto. Em suma, o conhecimento é a apreensão intelectual do
objeto.
Um problema crucial, que foi inicialmente posto pelo pensamento filosó-
fico, é como explicar o que é conhecimento humano. Precisamos iniciar pelo
exame da capacidade humana de conhecer, pelo entendimento ou sujeito do
conhecimento. A teoria do conhecimento volta-se para a relação entre o pen-
samento e as coisas, a consciência (interior) e a realidade (exterior), o entendi-
mento e a realidade; em suma, o sujeito e o objeto do conhecimento. É a relação
entre o sujeito e o objeto percebido que irá constituir o elemento a ser pesquisa-
do e se transformar num conhecimento científico.
Todo conhecimento está baseado num pré-conhecimento, em herança cultu-
ral, tradições, em pontos de partida ligados a visões subjetivas. Pode parecer es-
peculativo afirmar a necessidade de um pré-conhecimento, mas não é a partir do
momento que constatamos que o homem na sua existência vive rodeado de fenô-
menos que ainda não foram percebido e muito menos explicados por ele. Porém,
a partir da sua percepção ele passa a questioná-lo e assim inicia-se o questiona-
mento, a observacao e a pesquisa e da pesquisa a construção do conhecimento.
Os primeiros filósofos gregos dedicavam-se a um conjunto de indagações
principais: Por quê e como as coisas existem? O que é o mundo? Qual a origem
da natureza e quais são as causas de sua transformação?
A essas indagações tinham como resposta que conhecer e alcançar o idên-
tico, imutável. Nossos sentidos nos oferecem imagens de um mundo em in-
cessante mudança, num fluxo perpétuo, onde nada permanece idêntico a si
mesmo, onde tudo se torna o contrário em si mesmo: o dia vira noite, o peque-
no vira grande, o grande diminui, o frio se aquece, o líquido vira vapor ou vira
sólido (MONDIN, 1985).
O conhecimento pode ser definido como sendo a manifestação da consci-
ência-de-conhecer, é a consciência de conhecimento, simplificando, diz-se que
o conhecimento existe quando a pessoa ultrapassa o “dado” vivido, explican-
do-o. (É o sujeito que percebeu o objeto, buscou informações, pesquisou sobre
o mesmo e agora é capaz de explicar a sua origem, estrutura, funções, entre
outros).
1 Imanente: que existe sempre em um dado objeto e inseparável dele.
capítulo 1 • 13
Após nossos estudos sobre o Conhecimento Humano vamos tratar dos ní-
veis de conhecimento. Porém, é fundamental compreendermos que a divisão
dos níveis de conhecimento não é rígida, os limites entre eles nao são claros
e até mesmo questionáveis uma vez que não há espaço para, por exemplo, as
artes e as denominadas pseudociências, como a astrologia. Assim, essa divisão
não deve ser tomada a ferro e fogo (MATTAR, 2008).
É sempre bom destacar que a ciência também é uma construção que revela nossas
suposições acerca do que se está construindo. Podemos destacar três tipos de supo-
sições:
Ontológicas: dizem respeito à própria essência dos fenômenos investigados.
Epistemológicas: estão referidas ao conhecimento em si e na forma como pode ser
transmitido.
Relativas à natureza humana: dizem respeito à visão que se tem do homem.
Como podemos chegar a conclusões tidas como “verdadeiras”? Até que ponto
este conhecimento é verdadeiro? Partindo destes questionamentos passare-
mos a verificar os Níveis de Conhecimento dividindo-os em quatro:
14 • capítulo 1
jetos) que descobrimos todos os dias quando passamos pelo mesmo lugar. Um
dia é um risco na calçada, um detalhe em uma casa, uma flor, uma árvore que
antes não havíamos percebido. É basicamente desenvolvido por meio dos sen-
tidos e sem a intenção de de ser profundo e sistemático.
Para o conhecimento sensível, a sensação, pressupõe um fato físico, que é a
ação do objeto sensível sobre o órgão que sente através do meio. Mas o fato fí-
sico transforma-se em psíquico, na sensação propriamente dita, em virtude da
faculdade e atividade sensitivas. O sentido recebe as qualidades materiais sem
a matéria delas, da mesma maneira que a argila recebe a impressão do artesão
em sua matéria.
Finalmente, o conhecimento popular não tem a característica da confiabi-
lidade que marca como veremos, o conhecimento científico porque não segue
um método científico, não tem seus resultados divulgados e nem é submetido
a julgamentos.
Conhecimento Filosófico
capítulo 1 • 15
O conhecimento filosófico busca compreender a realidade em seu contexto mais uni-
versal, não havendo soluções definitivas para uma série significativa de questões. To-
davia, a filosofia habilita o homem a usar suas faculdades para compreender melhor o
sentido da vida.
16 • capítulo 1
Conhecimento Religioso ou Teológico
A palavra Teologia é de origem grega, Theos, significa Deus e Logos, quer dizer
tratado, discurso, ou seja, conhecimento comparado de Deus, ou ainda , ciência
que nos ensina sobre Deus. A Teologia, segundo Platão e Aristóteles, é a doutria da
Deidade, das coisas divinas. Portanto, o que funda o conhecimento religioso é a fé.
Esses conhecimentos na verdade não são concebidos pelo Homem, mas a ele
revelados por Deus. Este tipo de conhecimento tem suas explicações centradas em
Deus que analisa e interpreta as “coisas” do mundo. As “verdades”religiosas estão
registradas nos livros sagrados ou são reveladas pelos deuses (ou outros seres espiri-
tuais) por meio de alguns iluminados, santos e profetas. Essas verdades são em geral
tidas como definitivas, e nãopermitem revisão mediante a reflexão ou a experiência.
Na realidade, podemos compreender o conhecimento teológico com a in-
terpretação dos fenômenos da natureza através da fé, das verdades reveladas,
da relação entre espírito e matéria, corpo e alma. Por ser um conhecimento re-
velado pela fé divina ou crença religiosa, não pode, por sua origem,ser confir-
mado ou negado, dependendo da formação moral e das crenças de cada indiví-
duo para ser confirmado ou não.
São exemplos de conhecimento teológico:
Conhecimento Científico
CONEXÃO
Indicação de filme: A ilha do doutor Moreau (1977, EUA; Don Taylor) Ficção sobre a ideia do
cientista como criador, à semelhança de Deus.
capítulo 1 • 17
Asssim como o conhecimento filosófico, o conhecimento científico é racio-
nal, porém tem a pretensão de ser sistemático e de revelar aspectos da realida-
de. O conhecimento científico é aquele construído através da pesquisa siste-
matizada, organizada, que, utilizando métodos próprios, chega a um resultado
comprovado, que é o chamado de conhecimento científico.
Podemos afirmar que o conhecimento científico é aquele construído atra-
vés da investigação/pesquisa sistematizada, organizada, que, utilizando méto-
dos claros e próprios, chega a um resultado comprovado, que é o conhecimen-
to científico. O conhecimento científico, ao contrário do que muitas pessoas
pensam, vai além do empírico, pois, preocupa-se não só com os efeitos, mas
principalmente com causas e leis. Ocorre de forma lenta, pois é um processo
contínuo de construção, com um complexo de pesquisa, análise, elaborações
e síntese.
Na definição comum, “ciência” indica conhecimento, por derivar da pala-
vra latina scientia, oriunda de scire, ou seja, conhecer (saber). Porém, filosofi-
camente apenas é ciência apenas os conhecimentos exatos, certos, ordenados
e conexos. A ciência é, assim, composta por enunciados, constatações, que tem
como principal objetivo a difusão de informações verdadeiras sobre o que exis-
te, existiu ou existirá. Logo, o conhecimento científico é aquele que busca dar
às suas constatações um caráter estritamente descritivo, genérico, comprovado
e sistematizado.
Para sintetizar, podemos elencar as seguintes características do conheci-
mento científico:
18 • capítulo 1
A investigação científica se dedica, com base em métodos altamente especializados, à
solução de problemas rigorosamente formulados. Para lidar com contextos problemáti-
cos claramente delimitados, a pesquisa elabora, com inventividade, hipóteses e teorias
(OLIVA, 2003, p. 48).
capítulo 1 • 19
Pensamento científico:
20 • capítulo 1
Outro modelo procura separar as ciências em três grandes gupos: exatas,
biológicas e humanas. As ciências exatas seriam todas as que tivessem a mate-
mática como seu pilar básico. As ciências biológicas teriam como seu objeto de
estudo a natureza e o ser humano, em seus aspectos biológicos. As chamadas
ciências humanas teriam o ser humano como seu objeto de estudo, mas da óti-
ca sociológica.
Todavia, como vivemos numa época de interdisciplinaridade, em que justa-
mente essas divisões entre as disciplinas científicas são cotidianamente ques-
tionadas, de pontos de vista práticos e teóricos, é mais importante traçar pon-
tos de aproximação e comunicação entre as diferentes ciências do que procurar
estabelecer com rigidez as barreiras que as separariam.
CONEXÃO
http://www.espacoacademico.com.br/031/31cmatos.htm
capítulo 1 • 21
1.2 Desenvolvimento científico
A ciência como a conhecemos hoje é uma criação dos últimos quatrocentos
ou trezentos anos. Foi elaborada no mundo e pelo mundo, que estabilizou sua
forma aproximadamente em 1660, quando o continente europeu assistiu ao fi-
nal de longas guerras religiosas e se estabeleceu num cotidiano de exploração
comercial e industrial.
Há muitas opções a serem consideradas quando buscamos a análise do de-
senvolvimento científico, ou seja, a compreensão da história das ciências: apre-
sentar os principais nomes no progresso da ciência, destacar os trabalhos e os
livros mais importantes, estudar o avanço das teorias científicas e sua refuta-
ção, elencar as principais invenções técnicas e analisar o desenvolvimento dos
instrumentos utilizados nas ciências, listar as descobertas científicas, abordar
a história dos métodos científicos, focar o estudo nas mudanças dos paradig-
mas científicos, atentar para a centralidade da continuidade ou descontinui-
dade no desenvolvimento das ciências, ressaltar o contexto das descobertas e
traçar a história do discurso sobre a ciência e sobre o método científico. Porém,
nosso objetivo é situar historicamente alguns desses elementos.
Antiguidade
22 • capítulo 1
primeiras terem feito as ciências mais antigas que conhecemos e as ciências
da Índia e da China, apesar de menos antigas que as do Oriente Próximo, pare-
cerem ser totalmente independentes quanto à origem e ao desenvolvimento.
Durante milhares de anos homens e mulheres viveram em comunidades
nas quais não havia desigualdade entre as pessoas e não existia propriedade
privada, ou seja, as terras e as riquezas pertenciam a todos, não havia nenhum
tipo de privilégio. A propriedade era coletiva, tudo era dividido igualmente en-
tre os membros da comunidade, não existia nem “o meu” nem “o seu”, mas
sim “o nosso”. O termo “comunidade” lembra que havia uma cooperação mui-
to grande entre todos os indivíduos. A palavra “primitiva”, ao contrário do que
muitos imaginam, não quer dizer atrasada ou inferior, mas apenas que eram
sociedades mais simples, organizadas pelos primeiros seres humanos, repre-
sentando uma outra maneira de viver, tão interessante e rica como a nossa.
O que é importante ressaltar a respeito das comunidades primitivas é que
nem todas se transformaram da mesma maneira e nem todas se dissolveram,
ou, como preferem alguns, alcançaram a “civilização”. A história humana apre-
senta múltiplas possibilidades, pois não há caminho único na História. Alguns
historiadores, por exemplo, qualificam as comunidades indígenas do Brasil
como comunidades primitivas, todavia, não podemos esquecer que cada co-
munidade indígena tinha suas próprias características culturais.
O afamado Egito deixou para os historiadores algumas informações rele-
vantes para a compreensão de sua ciência e educação. Nessa civilização, os
conhecimentos eram transmitidos sem que questionamentos fossem levan-
tados e não havia uma preocupação com questões teóricas de demonstração
nem de princípios ou leis científicas. Em virtude do controle de um Estado cen-
tralizador e teocrático, a transmissão do saber era restrita a poucos, os sacer-
dotes. Esses sacerdotes representavam o grupo intelectual de uma sociedade
hierárquica.
E a ciência egípcia? O povo egípcio atingiu um nível cientifico elevado, se
comparado a civilizações do mesmo período. O transporte e o vestuário foram
facilitados em virtude da criação da roda raiada, do barco a vela e do surgimento
do tear. A aritmética era desenvolvida e utilizavam uma numeração decimal. A
agrimensura ensejou o desenvolvimento da geometria (ALFONSO-GOLDFARB,
1995).
capítulo 1 • 23
Com relação à medicina, há papiros que detalham explicações sobre o parto,
a purificação da parturiente e esterilidade das mulheres (CHASSOT, 1994, p. 21).
Os astrônomos egípcios identificaram inúmeras constelações, mas a astronomia
era tida como algo prático e não–especulativo, por exemplo, não estavam preo-
cupados com a posição da Lua em relação ao sol, mas a observavam para marcar
a passagem do tempo. E, por último, o que lembramos assim que falamos dos
egípcios, as pirâmides que, sem dúvida, foram elaboradas com sofisticadas téc-
nicas de construção e gerenciamento do batalhão de operários.
CONEXÃO
http://www.fascinioegito.sh06.com/piramides.htm
24 • capítulo 1
A escrita, uma das criações mais importantes da cultura humana e significa-
tiva para o desenvolvimento da ciência abstrata, foi também uma contribuição
legada por esse povo. A escrita cuneiforme era silábica, cada símbolo represen-
tava uma silaba, e não alfabética, como a que utilizamos hoje.
Os povos da mesopotâmia desenvolveram medidas sistêmicas de tempo, co-
nhecimento das estações, desenvolvimento da agricultura, relógio solar e calen-
dários em que o ano tinha 360 dias, foram parte das contribuições. Esses povos
também foram responsáveis pela observação aparente do sol e dos planetas, com-
preendendo o universo como uma caixa fechada, cujo fundo era a terra. Servindo-
se da astronomia na medicina juntamente, com os conhecimentos científicos de
plantas para o preparo de remédios, identificavam e tratavam doenças.
Os fenícios foram grandes comerciantes e navegadores, o que facilitou con-
tato com diversos povos e o desenvolvimento da construção naval. No sistema
numeral e no calendário, receberam influências de seus vizinhos mesopotâ-
mios e, a partir desse contato, foram responsáveis pela elaboração da primeira
escrita alfabética, o que foi uma grande contribuição, tendo em vista as cente-
nas de símbolos das escritas silábicas cuneiforme e hieroglífica.
Os hebreus, também denominados israelitas ou judeus, eram descenden-
tes de um antigo povo semita3 da região da Arábia. Eram nômades e estavam
em constante busca de um local adequado para vier. O processo de sedentari-
zação ocorreu na região da Palestina, após expulsarem os povos que habitavam
o local, hoje onde está o estado de Israel.
A característica mais marcante da civilização hebraica foi sempre a religião.
Para começar, eram monoteístas, ou seja, acreditavam em um único Deus que
tinha criado o mundo e todas as coisas. Na Bíblia estão os principais manda-
mentos da religião judaica e a história do povo hebreu. Acerca da ciência he-
braica, quase todas as referências estão na bíblia, pois os pergaminhos hebreus
não se preservaram. Em Israel desenvolveram dois sistemas de numeração, um
decimal, originário da prática de contar com os dedos e um sexagesimal, origi-
nário da Babilônia.
Até hoje, o calendário judaico baseia-se no ciclo lunar, com 354 dias, ou me-
lhor, doze lunações e que para se adaptar ao ano solar tem numero variável de
dias. Apesar de o povo hebreu não ter deixado nenhum tratado médico, pode-
mos encontrar na bíblia muitas normas de higiene que objetivavam melhorar
a qualidade de vida.
3 Semita: indivíduo dos semitas, família etnográfica que abrange hebreus, assírios, arameus e árabes
capítulo 1 • 25
Já na Índia floresceu uma civilização por volta de 2000 a.C. às margens dos
rios Indo e Ganges, uma civilização com imponentes cidades, que superavam
a Babilônia com grande desenvolvimento urbano e elevado estagio de higiene
pública. Se nas civilizações que vimos até aqui as divisões de classe foram mar-
cantes, na Índia essa separação foi ainda mais forte, pois a sociedade indiana
sempre esteve dividida em castas fechadas com mínimas probabilidades de
mobilidade.
Há indícios de que a aritmética hindu, que se usava no século III a.C., tinha
um sistema de numeração do qual derivou o que utilizamos hoje com a denomi-
nação de “numeração arábica”, que provavelmente foi assimilada pelos árabes
através dos gregos, que o teriam recebido dos hindus (CHASSOT, 1994, p.26).
No vale do rio Hoangô, ou Rio Amarelo, desde o terceiro milênio a.C. fixou e
se desenvolveu uma civilização agrícola neolítica, em função das características
geográficas. Uma das mais tradicionais culturas da história, a civilização chi-
nesa mantém sem grandes mudanças até os dias de hoje muito de sua cultura
antiga. A religião, como nas demais civilizações orientais, favoreceu a separa-
ção entre a população e os governados. É inevitável que a educação também
reproduzisse esse caráter conservador, voltado para a transmissão da sabedoria
contida nos livros clássicos, opondo cultura e trabalho.A escrita e a metalurgia
desenvolveram-se por volta do século XIV a.C., sendo os fatos e os feitos regis-
trados pelos escribas reais, que ganharam prestígio e freqüentavam escolas
(CHASSOT, 1994, p.27).
A matemática chinesa era muito desenvolvida e havia instrumentos para re-
alizar cálculos preciso, como o ábaco, utilizado até hoje e que fora incorporado
pela cultura ocidental. Outro aspecto da ciência chinesa que até o momento
surpreende é a farmacopéia. Os chineses sempre cultivaram um grande nume-
ro de plantas e descreviam os produtos úteis, inúteis e prejudiciais dos três rei-
nos. Existem vagas informações a respeito de transformações de metais e sobre
a influência do vento sobre os mesmos.
Contudo, foi na Grécia, ou a partir dela, cuja cultura serviu de base para a
estruturação do que denominamos ciência moderna, que encontramos as pri-
meiras tentativas de racionalização do universo, pois a cultura grega mostrou-
se suficientemente livre para integrar a realidade.
O pensamento racional surge simultaneamente com a escrita, e diminui a
importância que a memória e a tradição oral tinham para as sociedades mí-
ticas. A demonstração, por meio da razão e da experiência, vai aos poucos
26 • capítulo 1
adquirindo mais valor que o poder de revelação mitológico. A observação da
realidade passa a ser mais importante que a história dos deuses. Portanto, cos-
tumamos dizer que a ciência surgiu na Grécia Antiga, apesar de as civilizações
anteriores à grega, como enfatizamos anteriormente, já apresentarem conside-
ráveis realizações científicas.
Os primeiros pensadores gregos, os chamados pré-socráticos, tinham como
objetivo a construção de uma cosmologia4 que substituísse a antiga cosmolo-
gia, baseada nos mitos. Assim, tentaram descobrir, com base na razão e não na
mitologia, a substância primordial existente em todos os seres. Pretendiam, na
verdade, encontrar a “matéria – prima” de que seriam feitas todas as coisas, in-
clusive o homem. os pré-socráticos ao observarem a realidade e questionarem
acerca da matéria, concluíram que o universo era constituído por uma substân-
cia básica, ou substância fundamental. Contudo, cada um desses pensadores
escolheu uma substância como fundamental: água, fogo e ar tiveram um gran-
de número de defensores.
A cidade de Mileto, capital da Jônia, na costa da Ásia Menor, foi, provavel-
mente, no século VI a.C., o berço da ciência grega, bem como de suas primeiras
escolas de arquitetura e literatura.
Apesar dos progressos, especialmente na Astronomia, Medicina e
Matemática, na existia na antiguidade uma disciplina intelectual com os mes-
mos métodos e as mesmas delimitações da ciência moderna, não havia uma
correspondência com o que hoje conhecemos como ciência. Os temas dessas
disciplinas pertenciam todos à filosofia natural e, portanto, a um projeto filo-
sófico mais amplo.
Idade Média
capítulo 1 • 27
Todavia, o que ocorreu no Ocidente durante o período que os renascentistas
denominaram medieval foi a organização de uma nova sociedade, baseada na
posse de terras, onde os servos trabalhavam duro e ganhavam apenas uma par-
te da produção.mas a Idade Média é muito mais do que o feudalismo europeu.
A Idade Média representou a época de formação das modernas nações e lín-
guas, de institucionalização da Igreja católica, bem como do surgimento das ra-
ízes que posteriormente sustentariam a organização do capitalismo. No Oriente
houve um grande progresso técnico e cultural que se espalhou pelo Ocidente. O
mundo islâmico, indiano, chinês e de outros povos foi pontilhado por descober-
tas significantes que iam dos algarismos ao astrolábio, à pólvora, ao papel, aos
medicamentos, ao aço, à bússola e muito mais. Gradativamente, todas essas ino-
vações proporcionaram novas possibilidades materiais ao homem.
No século XIII, as cidades voltaram a ser importantes na Europa. O desen-
volvimento urbano estimulou a vida intelectual e o triunfo de uma nova ins-
tituição: a Universidade. Surgiram universidades como as de Bolonha (Itália),
Oxford (Inglaterra) e Paris (França), instituições que eram protegidas tanto pela
Igreja como pelos grandes Senhores Feudais.
Mas o que é que se estudava nas universidades? Medicina, Direito, Teologia,
Filosofia. As ciências da natureza não eram muito desenvolvidas, e pratica-
mente só repetiam o que os gregos e os árabes já tinham dito. Distinguiam-se
dois níveis de estudo, num primeiro nível, correspondendo ao ensino médio
atual, aprendia-se retórica, gramática, lógica, aritmética, música, geometria
e astronomia. Era preciso também analisar certo número de livros de autores
variados. Depois, podia-se optar por um curso literalmente superior: Artes,
Teologia, Direito ou Medicina. Os cursos eram ministrados em Latim, a língua
internacional da Europa na época.
O método de ensino era chamado de Escolástico: os alunos estudavam o tex-
to de um grande autor, faziam comentários sobre ele e debatiam. Entretanto,
nesses debates ninguém questionava o que esses autores diziam, a autoridade
deles era absoluta. É por isso que, séculos mais tarde, a escolástica foi conside-
rada uma forma de estudo dogmática (bitolada).
O período medieval também teve o mérito de organizar o conteúdo da
Filosofia grega e islâmica, assim como o cristianismo, além de ter realizado
uma importante avaliação crítica da Filosofia aristotélica. A instituição das
escolas e universidades como lar para essa síntese é uma das suas principais
28 • capítulo 1
conquistas. A partir disso, as universidades apresentavam uma novidade: aos
poucos a vida intelectual ia deixando de ser totalmente ligada à Igreja. O pensa-
mento estava ganhando autonomia em relação à religião.
Renascimento
6 Antropocentrismo: Antropocentrismo: do grego antropos, homem. Visão de mundo em que o ser humano ocupa a
posição central no universo, oposição ao Teocentrismo medieval, que colocava Deus em lugar de destaque.
capítulo 1 • 29
Essas mudanças despertaram, como não poderia deixar de ser, novas ideias
a respeito da natureza e do ser humano. Pensadores, denominados humanis-
tas7, acreditavam que o homem, com a educação adequada, seria capaz de do-
minar o seu destino, controlar e transformar a natureza. Essa nova concepção
de mundo, chamada de Antropocentrismo, se opunha aos valores medievais,
atribuindo ao homem, e não mais à vontade de Deus, a responsabilidade por
suas conquistas e fracassos.
Os pensadores desse período não se limitaram em fazer renascer os tex-
tos greco-romanos, buscaram também melhorar a sociedade em que viviam,
o inglês Thomas Morus, por exemplo, imaginou, em sua obra Utopia (1516),
uma sociedade ideal baseada na igualdade e na tolerância. O holandês Erasmo
de Rotterdam criticou os costumes e os abusos da Igreja Católica em seu livro
Elogio da Loucura (1511). O italiano Nicolau Maquiavel, na sua obra O Príncipe
(1513), estudou como se toma, se conserva e se perde o poder. O francês
Rabelais, em seus livros Pantagruel (1532) e Gargântua (1534), defendeu a idéia
de que os homens deviam se guiar apenas pelas leis da natureza.
O que devemos ressaltar é que os humanistas, mesmo discordando e criti-
cando a Igreja Católica, não eram ateus, mas cristãos que desejavam reinterpre-
tar as mensagens bíblicas, todavia, muitos deles foram perseguidos ou conde-
nados por suas idéias.
Os detalhes da natureza retratados pelo perfeccionismo dos artistas renas-
centistas como Dürere Botticelli, são importante legado para a biologia, espe-
cialmente para a botânica. A medicina, que durante a Idade Média não teve
progresso, foi favorecida pelo poder das universidades e pela experimentação
na anatomia que não mais sofria com as imposições religiosas. A química na
Renascença teve ainda, mesmo que pareça contraditório, forte influência da
alquimia, especialmente com Paracelso, que também era médico.
7 Humanista: erudito dos séculos XV e XVI, conhecedor das línguas e literaturas antigas, consideradas, então,
fundamentais para o conhecimento do ser humano.
30 • capítulo 1
A física não teve um desenvolvimento significativo nesse período, limitan-
do-se a estudos de magnetismo, mecânica e alguns trabalhos de óptica. A ma-
temática foi, dentre todas as ciências, a que teve maior desenvolvimento, espe-
cialmente em virtude da redescoberta dos textos de Euclides que ofereceram
soluções para os problemas com os quais se defrontavam os construtores de
catedrais e os geógrafos a serviço das expedições de navegadores.
Na astronomia, que podemos classificar como pré-copernicana, o alemão
Nicolau de Cusa fez considerações importantes, que mesmo não sendo adota-
das no ensino da astronomia que continuou seguindo os ensinamentos aritoté-
lico-ptolomaicos, podem ser compreendidas como revolucionárias. Nicolau de
Cusa afirmava a Terra e se movia não em uma órbita, mas com um movimento
aparente e que existia vida em outras partes do universo que não a Terra.
capítulo 1 • 31
mas estava mais interessado nos estudos de Aristarco de Samos, do século III
a.C., que afirmava que a Terra girava em torno do seu eixo diariamente.
Em 1539, com o auxilio do matemático Rheticus, Copérnico publicou a
Narratio Prima (Primeiro Relato), obra que apresenta suas revolucionárias te-
orias sobre o universo, cuja diferença é colocar o Sol, e não mais a Terra, no
centro do universo, mas o universo, assim como em Aristóteles, é apresentado
como finito, enquadrado pelas estrelas fixas.
CONEXÃO
Indicação de filme Giordano Bruno (Giuliano Mondalto, 1973)
32 • capítulo 1
esferas celestes. Permaneceu na cidade Praga até a sua morte e recebeu um en-
terro digno de um príncipe, algo raro para pensadores ousados em um período
de imposições e perseguições religiosas.
Johannes Kepler, discípulo de Brahe, abandonou a igreja luterana ao conhe-
cer e aderir as idéias de Copérnico, praticando, além da astronomia a astrologia.
Kepler reformulou as concepções de Copérnico, Brahe e outros, sobre o uni-
verso apresentando uma proposta que seria assumida pela ciência a partir de
então. A máquina passa a ser o modelo explicativo da natureza e do corpo hu-
mano e Deus admirado como o construtor e o operador desse engenho.
capítulo 1 • 33
Francis Bacon foi um dos preconizadores do Método Indutivo de investiga-
ção científica (realização de experimentos dos quais se tiram conclusões que
serão testadas por novos experimentos). Via no conhecimento científico um
importante instrumento para o controle da realidade. Criou, assim, o lema:
“saber é poder”, que revela uma firme disposição de fazer dos conhecimentos
científicos um instrumento prático de controle da realidade.
Para Bacon, o mais importante seria valorizar a pesquisa experimental, bus-
cando resultados práticos e objetivos para a humanidade. Para isso, porém,
era necessário primeiramente desbloquear a mente dos cientistas levando-
-os a libertar-se de noções distorcidas, de preconceitos e de maus hábitos de
pensamento.
Todavia, não aceitou o copernicanismo, apresentando argumentos contrá-
rios a concepção heliocêntrica do universo. Embora não tenha sido cientista,
sua contribuição é significativa em virtude da valorização da experiência e da
experimentação.
34 • capítulo 1
1. Ídolos da tribo – as falsas noções provenientes das próprias limitações da natu-
reza da espécie humana;
2. Ídolos da caverna – as falsas noções do ser humano como indivíduo (alusão ao
mito da caverna de Platão);
3. Ídolos do mercado ou do foro – as falsas noções provenientes da linguagem
e da comunicação;
4. Ídolos do teatro – as falsas noções provenientes das concepções filosóficas,
científicas e culturais vigentes.
(COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia:
história e grandes temas. 16ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2006, p.135).
capítulo 1 • 35
o conhecimento limita-se à experiência sensível. Considerava o conhecimento
matemático válido em termos lógicos, apesar de não ter como base a experiên-
cia sensível. Nesse sentido, Locke não era um empirista radica.
36 • capítulo 1
escala no estudo dos movimentos dos corpos tornando possível extraordiná-
rios avanços no campo da física e da astronomia.
Descartes criou importante método cujo objetivo foi orientar para a melhor
forma de se chegar à verdade científica: um método analítico que decompondo
pensamento em suas partes constituintes, buscava recompô-lo novamente em
ordem lógica.
Para esse pensador, a mente era anterior e superior à matéria, separando-as
e caracterizando-as como duas coisas essencialmente diferentes. “Nada há no
conceito de corpo que pertença à mente, e nada na idéia de mente que pertença
ao corpo”. (DESCARTES apud CAPRA, 1977, p. 55).
O MÉTODO CARTESIANO
Da sua obra Discurso do Método, podemos destacar quatro regras básicas, considera-
das por Descartes capazes de conduzir o espírito na busca da verdade:
1. Regra da evidência – só aceitar algo como verdadeiro desde que seja absoluta-
mente evidente por sua clareza e distinção. Estas idéias claras e distintas, Descartes as
encontra na sua própria atividade mental, independente das percepções sensoriais ex-
ternas. Isso faz Descartes propor a existência de idéias inatas (idéias cujas estrutu-
ras já nascemos com elas), que são plenamente racionais. Exemplo dessas idéias: as
idéias matemáticas, as noções gerais de extensão e movimento, a idéia de infinito, etc.
o exemplo mãos célebre de idéia inata está expresso na fórmula: Penso, logo existo.
2. Regra de análise – dividir cada uma das dificuldades surgidas em tantas partes
quantas forem necessárias para resolvê-las melhor.
3. Regra da síntese – ordenar o raciocínio indo dos problemas mais simples para
os mais complexos.
4. Regra da enumeração – realizar verificações completas e gerais para ter abso-
luta segurança de que nenhum aspecto do problema foi omitido.
(COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia:
História e grandes temas. 16ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2006, p. 140).
capítulo 1 • 37
RACIONALISMO EMPIRISMO
DESCARTES LOCKE
Para combater essas superstições em sua origem, Espinosa escreveu a Ética, texto no
qual busca provar, como numa demonstração geométrica, a natureza racional de Deus,
que se manifesta em todas as coisas (Deus imanente). Desse modo, Deus não está
fora do universo, nem dentro do universo: ele é o próprio universo.
No interior desse entendimento racionalista, não há lugar para a trgédia nem mistérios:
tudo se torna compreensível à luz da razão. (COTRIM, 2006, p. 141)
38 • capítulo 1
1. O método matemático das fluxões ou cálculo diferencial;
2. A lei da composição da luz, base para o sistema cientifico da óptica;
3. A lei da gravitação universa, que está, na maioria das vezes, associada
ao folclórico episódio da queda da maçã, quando Newton estava descansando.
O inglês Robert Boyle foi físico, químico e filosofo, apresentou a lei de com-
pressibilidade dos gases, que fora também descoberta, independentemente,
por Mariote. Boyle estudou, ainda, o efeito da pressão atmosférica sobre o pon-
to de ebulição da água, distinguiu mistura de composto e foi o primeiro a apre-
sentar a noção de elementos (CHASOT, 1994, p. 119).
capítulo 1 • 39
A principal obra de Boyle é O químico cético, publicada em 1661, sem dúvi-
da, as contribuições do “pai da química” foram decisivas para os trabalhos de
Lavoisier, cuja história confunde-se com a do final do século XVIII, o século da
Revolução Industrial e da Revolução Francesa.
Século XIX
O século XIX foi significativo para a ciência, foi o momento da retomada do mo-
delo atômico de Demócrito, por Dalton, de consolidação da física e da química
e de crescimento e emancipação de outras ciências como a biologia, a psicolo-
gia e as ciências sociais.
Depois da derrota de Napoleão Bonaparte as potências européias reuniram-
se no Congresso de Viena (1815) para restaurar a velha ordem do Antigo Regime.
Todavia, quanto mais a indústria se desenvolvia e cresciam as cidades, mais for-
tes ficavam a burguesia, os intelectuais e os operários, que eram forças sociais
que rejeitavam as tentativas de retornar ao Antigo Regime. Em 1820,1830 e 1848
estouraram diversas revoluções em nome dos ideais políticos do liberalismo e do
nacionalismo, fazendo desse período um dos mais violentos da história.
A urbanização, o crescimento das indústrias e do capitalismo exigia uma
nova postura da educação e maior qualificação da mão-de-obra, as escolas po-
litécnicas foram criadas na tentativa de suprir essa demanda profissional. O
Estado começou a intervir mais diretamente no sistema educacional para esta-
belecer a escola elementar universal, laica, gratuita e obrigatória. As discussões
sobre os métodos ganharam campo mais fértil.
40 • capítulo 1
O século XIX representou o período de consolidação da burguesia enquanto
camada social liderante e de luta dos trabalhadores contra a dominação dessa
camada. Assistimos nesse período ao surgimento das ideologias que sustenta-
ram as criticas ao liberalismo burguês como o socialismo utópico (Proudhon),
o anarquismo (Bakunin) e o socialismo científico (Marx e Engels).
Dentre os nomes que simbolizam o século XIX, nenhum foi tão polêmico e
ridicularizado como o do inglês Charles Darwin (1809 – 1882), responsável pela
mudança na compreensão do passado dos seres vivos.Após ser convidado para
integrar a expedição do navio Beagle, o jovem Darwin abandonou os estudos
em Cambridge e, por cinco anos, viveu o que classificou de acontecimento mais
importante de sua vida. Nesse período realizou coletas de animais e plantas,
fósseis e vivos, terrestres e marinhos.
capítulo 1 • 41
Todavia, as observações mais expressivas para a elaboração de sua teoria fo-
ram realizadas nas Ilhas Galápagos, localizadas no sudeste do oceano Pacífico,
onde pode analisar os animais e, ao compará-los aos animais existentes no
continente sul- americano , constatou que os animais da ilha apresentavam ca-
racterísticas diferentes, o que, segundo Darwin, indicava processos evolutivos
divergentes influenciados pelas especificidades do ambiente.
Em 1844, após muitos leituras, análises de esqueletos de aves domesticas e
comparações, publicou A origem das espécies, onde explicava o aparecimento
e o desaparecimento das espécies, porque surgiam e se transformavam com
o passar do tempo. Observou que muitas vezes ocorriam transformações tão
radicais que provocavam adaptações, o que Darwin classificou como “seleção
natural” ou “sobrevivência dos mais aptos”. Com Darwin o universo dos seres
vivos foi colocado dentro dos domínios da ciência, da lei natural.
Porém, as inegáveis contribuições de Darwin para a biologia, a psicologia
e as ciências sociais, foram mal utilizadas com o objetivo de justificar a ideia
de uma “raça” superior, suprema sobre as demais. O chamado Darwinismo
Social, conduziu a barbáries que marcaram a história da humanidade, como,
por exemplo, o holocausto.
Para designar sua linha de pensamento filosófico marcada pelo culto à ciên-
cia e pela soberania do método científico, Comte adotou o termo Positivismo.
Um dos temas centrais da filosofia de Comte é a imperiosa necessidade de reor-
ganização da sociedade em todos os seus aspectos. Não se tratava, entretan-
to, de uma proposta de revolução nas instituições, mas de uma regeneração
das opiniões e dos costumes, uma verdadeira reestruturação intelectual.
Na obra de Auguste Comte, destacam-se três partes fundamentais: A Lei
dos Três Estados, a sua classificação das ciências e a sua proposta de refor-
ma intelectual da sociedade.
42 • capítulo 1
a aquisição de conhecimentos sobre o mundo é media-
ESTADO TEOLÓGICO da por agentes sobrenaturais, pelos dogmas da fé e
(OU FICTÍCIO) por Deus. Deus é apresentado como referência princi-
pal para a compreensão das coisas e dos fenômenos.
O objetivo de seu método positivo era a busca de leis gerais que regessem
os fenômenos naturais. Seria esse, segundo ele o grande ideal de todas as ci-
ências. De posse do conhecimento.
capítulo 1 • 43
Reforma da Sociedade
Século XX
44 • capítulo 1
Pouco tempo depois das teorias de Einstein, Rutherford (1871 – 1937) ela-
borou um modelo mais consistente para o átomo segundo o qual um átomo
possuía um núcleo com elétrons girando ao seu redor. Rutherford, que a prin-
cipio estudou a radioatividade, foi o responsável pela nomenclatura dos três
primeiros tipos de emissões: raios alfa, beta e radiações gama. Além dessa no-
menclatura, o neozelandês concebeu a ideia de que deveria ocorrer uma trans-
mutação de elementos quando da emissão radioativa.
Em 1912 entrou em cena o dinamarquês Niels Bohr (1885 – 1962), apresen-
tou um modelo atômico que conservava a estrutura planetária de Rutherford
e incorporava o conceito de energia de Planck , eram os primeiros passos da
Teoria Quântica .
capítulo 1 • 45
• Thomas Kuhn: as revoluções científicas
• Popper e a falsificação
46 • capítulo 1
Cria, portanto, a noção de falsificação, afirmando que uma teoria deveria
ser considerada “boa” e válida, se seus métodos e teorias possam ser falseados.
Quanto mais aberta estiver a fatos novos que possam tornar falsos os princípios
e conceitos em que se baseava melhor será uma ciência.
Popper sustentava que falseabilidade deveria ser o critério utilizado para a
avaliação das teorias cientificas o que garantiria a ideia de progresso cientifico,
uma vez que a mesma ciência que vai sendo aprimorada por fatos novos que a
falsificam.
A maioria dos filósofos da ciência, entre os quais Kuhn, demonstrou o absurdo da po-
sição de Popper. De fato, dizem eles, jamais houve um único caso em que uma teoria
pudesse ser falsificada por fatos científicos. Jamais houve um único caso em que um
fato novo garantisse a coerência de uma teoria, bastando impor a ela mudanças totais.
Cada vez que novos fatos provocaram verdadeiras e grandes mudanças teóricas, essas
mudanças não foram feitas com o objetivo de abandoná-las por uma outra. O papel do
fato cientifico não é o de falsear ou falsificar uma teoria, mas o de provocar o surgimen-
to de uma nova teoria verdadeira. É verdadeiro e não o falso que guia o cientista, seja
a verdade entendida como correspondência entre ideia e coisa, seja entendida como
coerência interna das idéias. (CHAUÍ, 2006, p. 226).
Karl Popper é considerado por muitos o filósofo mais influente do século XX a tema-
tizar a ciência. Foi também um filósofo social e político de estatura considerável, um
grande defensor da democracia liberal e um oponente implacável do totalitarismo.
ATIVIDADES
01. Explique o que era o Teocentrismo medieval e suas implicações para o desenvolvimento
da ciência.
capítulo 1 • 47
REFLEXÃO
Para encerarmos essa nossa primeira unidade, ainda se faz necessária lembrarmos que outra
discussão ao redor do problema do conhecimento está ligada à possibilidade ou não de o
homem atingir a certeza. Assim, distinguimos duas tendências principais: o dogmatismo e o
ceticismo.
Dogmatismo, do grego dogmatikós, significa o que se funda em princípios ou o que é
relativo a uma doutrina. Dogmatismo é a doutrina segundo a qual é possível atingir a certeza.
Apesar de associarmos o termo à religião, ele pode estar presente em outras áreas como a
política. Na realidade, quando o dogmatismo atinge o campo não-religioso, passa a designar
as verdades inquestionáveis: o indivíduo, de posse de uma verdade, fixa-se nela e abdica de
continuar a busca por outras verdades.
A palavra ceticismo vem do grego sképsis, que significa investigação, procura. O cético
tanto procura e pondera que acaba concluindo, nos casos mais radicais, pela impossibilidade
do conhecimento. Nas tendências mais moderadas, mesmo que seja impossível alcançar
uma certeza, a busca não deve ser abandonada.
Alguns filósofos ao questionarem expressões dogmáticas do saber e ao criticarem a
aceitação apressada de algumas certezas, acabam adotando posturas céticas, mas não po-
dem ser classificados como céticos, pois fazem apenas questionamentos e críticas, valorizan-
do a busca e o abandono da aceitação “cega”.
LEITURA
KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva,2007.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALFONSO-GOLDFARB, Ana Maria. O que é História da Ciência. São Paulo: Brasiliense, 1995.
BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, José Claudio. Breve história da ciência moderna. Volume
1: Convergências de Saberes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. São Paulo: Edgard Blücher, 1977.
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Trad. B. Magne. Porto
Alegre: Artmed, 2000.
CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994
48 • capítulo 1
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª Ed. São Paulo: Ática, 2006.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. 16ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2006.
CYRINO, H. & PENHA, C. Filosofia hoje. 2. ed. Campinas: Papirus, 1992.
DINIZ, Maria Helena Compêndio de introdução à ciência do Direito. 5 ed. São Paulo: Saraiva 1993.
KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2007.
MARCONDES, Danilo. Introdução à história da filosofia. 10. ed. São Paulo, Zahar, 2007.
MARCONI, Marina de Andrade.; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico. São
Paulo:Atlas, 2010.
MATTAR, João. Metodologia científica na era da informática. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
MONDIN, Battista. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores e obras. 16ª Ed. São Paulo:
Paulus, 2006.
OLIVA, Alberto. Filosofia da Ciência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
RUIZ, João Alváro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 2010.
TELLES Jr., Goffredo. Tratado da conseqüência. São Paulo: Saraiva 1981.
capítulo 1 • 49
50 • capítulo 1
2
O Problema
Científico e os Tipos
de Pesquisa
Alguém já disse que perguntar “para um estudante que tipo de pesquisa ele
pretende fazer” é uma maneira de examinar a confusão que há na cabeça de
muitos alunos em relação a esse assunto, tal o desconhecimento que existe
“sobre como se pode classificar um tipo de pesquisa” (GONSALVES, 2001,
p. 64). Verdadeiramente, aí mora parte do enigma para se levar adiante um
projeto de pesquisa ou para adequar a forma final do trabalho à natureza da
pesquisa que foi proposta. Por isso mesmo, você vai estudar como as pesqui-
sas podem ser classificadas a partir de diferentes critérios, conhecendo as-
pectos importantes para a estruturação da pesquisa e o seu desenvolvimento.
OBJETIVOS
• Analisar a importância da escolha do tema para a estrutura da pesquisa;
• Compreender a problematizarão do tema;
• Analisar o significado da construção de hipóteses para o desenvolvimento da pesquisa;
• Conhecer os critérios utilizados para classificação das pesquisas;
• Compreender os aspectos e características de cada tipo de pesquisa;
• Avaliar as implicações da classificação e tipificação das pesquisas no desenvolvimento de
trabalhos acadêmicos e científicos.
52 • capítulo 2
2.1 A escolha do tema e importância de sua
delimitação
É importante esclarecer a diferença entre tema e temática. O tema pode ser definido como o
problema circunscrito, aquilo que compõe o foco e o objetivo da pesquisa. O tema deve, antes
de tudo, ser “viável” – não adianta escolher um tema aparentemente atraente cuja viabilidade
seja questionável. Principalmente para o pesquisador iniciante, o bom tema é aquele consi-
derado interessante e/ou relevante, mas que seja principalmente plausível. A temática, por
sua vez, envolve uma área mais extensa e abarca o tema. Assim, é imprescindível encontrar
uma casa que possa ser bem analisada, na qual tenhamos acesso, possamos localizar dados
a seu respeito e, principalmente, tenhamos interesse legítimo de a compreendermos melhor.
A escolha ou seleção do tema tem a ver com o que você vai pesquisar.
É muito comum o estudante ficar embaraçado com tantas possibilidades
de temas ou, ao contrário, ficar angustiado com a ausência de um tema que
lhe motive. Saber por onde começar uma pesquisa, definindo o seu tema, é um
verdadeiro dilema para muitos.
Algumas dicas podem ajudar nessa hora. Veja se alguma delas lhe parece
oportuna:
capítulo 2 • 53
lacuna na for-mação profissional ou um problema importante na experiência
profissional que não pôde ser compreendido e estudado mais rigorosamente
podem motivar a escolha do tema (GONSALVES, 2001, p. 28).
Dizemos que um tema é importante quando está, de alguma forma, ligado a uma questão
crucial que polariza ou afeta um segmento substancial da sociedade. Um tema pode tam-
bém ser importante se estiver ligado a uma questão teórica que vem merecendo atenção
continuada na literatura especializada. A situação mais delicada e difícil teria a ver com os
temas novos que a ninguém preocupam, seja teórica ou praticamente, mas que contêm o
potencial de virem a interessar ou afetar muita gente (CASTRO, 2006, p.61).
54 • capítulo 2
Quando a escolha do tema se dá num projeto de pesquisa no contexto de um
curso de Pós-Graduação, é importante levar em conta a área de especialização
do curso e do estudante. Assim, a seleção do tema deve ter alguma aderência ou
aproximação em relação à área do curso e à formação teórica ou profissional do
estudante.
Essas considerações também podem ser pertinentes no contexto dos cursos
de Graduação, na elaboração do projeto de pesquisa do TCC. É preciso levar em
conta as linhas de pesquisa que são estabelecidas em cada curso. A escolha do
tema a partir das linhas de pesquisa que são oferecidas pode ajudar bastante na
definição do tema (CASTRO, 2006).
De qualquer forma, lembre-se sempre que a escolha de um tema implica a
eliminação de outros temas que tenham surgido e, por alguma razão, devem
ser evitados. Selecionar um tema e nele se fixar, dando-lhe prioridade, deve ser
o resultado de critérios de seleção, como os que já foram apontados aqui.
Considere, ainda, que o tema escolhido deve corresponder a um assunto
que necessita de “melhores definições, melhor precisão e clareza do que já exis-
te sobre” ele. Por isso, verifique se o tema é adequado à sua capacidade e à sua
formação, correspondendo a possibilidades e recursos de que você dispõe. Por
exemplo, na escolha do tema deve-se “levar em conta o material bibliográfico,
que deve ser suficiente e estar disponível” (CERVO & BERVIAN, 2002, p. 82).
Critérios para a
escolha de um
tema de pesquisa
Figura 2.1 – Esquema referente aos critérios para a seleção de um tema de pesquisa.
capítulo 2 • 55
A delimitação do tema é um momento fundamental para o projeto de pes-
quisa, por se tratar da caracterização daquilo que vai ser pesquisado ou estuda-
do. Assim, o tema da pesquisa deve ser problematizado antes de se partir para a
pesquisa propriamente dita, ou seja, é preciso ter uma ideia clara do problema
a ser resolvido.
Comumente a escolha do tema recai sobre um assunto muito extenso e
complexo, o que pode impedir o estudo mais aprofundado ou a proposição
de objetivos mais realistas e adequados. Isso deve ser evitado. Porém, mesmo
diante de uma escolha de um tema adequado, se faz necessária a delimitação
desse tema.
O que você deve entender é que não basta escolher um bom tema. Também
é preciso delimitá-lo.
E o que é delimitar um tema?
Uma resposta inicial é a seguinte: “delimitar o tema é selecionar um tópico
ou parte a ser focalizada” (CERVO & BERVIAN, 2002, p. 82). Outra é: definir o
tempo, o local, o espaço e o tamanho do objeto do que se pretende pesquisar.
Um bom tema de pesquisa deve despertar interesse tanto pela importância do
assunto quanto pela possibilidade de realização e aprofundamento do mesmo.
Para Marconi & Lakatos (1996 apud DIEHL & TATIN, 2004, p. 90), delimitar o
tema equivale a “estabelecer limites para a investigação”. Esses limites podem
se referir a três aspectos:
56 • capítulo 2
Esses dois procedimentos, no entanto, podem não ser suficientes. Cervo e
Bervian (2002, p. 83) sugerem, por exemplo, que alguns temas podem ser deli-
mitados a partir da fixação de certar circunstâncias, como tempo e espaço. Isso
quer dizer que o tema poderia ser delimitado por meio da indicação do “quadro
histórico e geográfico, em cujos limites o tema se localiza”. Além disso, uma
possibilidade de delimitar o tema é focalizá-lo a partir do ponto de vista ou área
em que o tema se insere. Desse modo, um tema pode receber um tratamento
histórico, filosófico, estatístico etc.
Não se pode esquecer que o trabalho de delimitação do tema precisa estar
apoiado na experiência e no conhecimento do estudante a respeito do assunto com
o qual irá trabalhar. Por isso mesmo, é preciso fazer um levantamento bibliográfico
inicial sobre o tema, mapeando “as diferentes contribuições expressas em livros,
periódicos” e outras fontes de consulta. Isso não quer dizer que você vá reunir toda
a literatura sobre o assunto escolhido, mas implica reunir as contribuições mais
relevantes sobre o tema selecionado (GONSALVES, 2001, p. 27).
Portanto, é de suma importância que o tema esteja vinculado a uma área
de conhecimento com a qual o aluno/pesquisador já tenha alguma intimidade
intelectual, sobre a qual já tenha alguma leitura específica e que, de alguma
forma, esteja vinculada à carreira profissional que esteja planejando para um
futuro próximo.
Após a escolha e delimitação do tema, chega o momento de você compreen-
der o próximo passo na construção do projeto de pesquisa: estabelecer o pro-
blema de pesquisa ou objeto de estudo.
Um problema científico é uma questão que justifica uma pesquisa ou a investigação por
meio de métodos comuns à ciência.
capítulo 2 • 57
uma solução. O problema de pesquisa pode ser entendido como “uma questão
que envolve intrinsecamente uma dificuldade teórica ou prática, para a qual se
deve encontrar uma solução” (CERVO & BERVIAN, 2002, p. 84).
Um problema é, assim, uma dificuldade detectada ou mesmo uma curiosi-
dade que pode ter surgido tanto por razões objetivas quanto subjetivas. Alguns
“problemas”, no entanto, não permitem investigação científica. Afirmações
como “Estudar em uma escola grande é melhor que em uma escola pequena”
ou “Para as crianças tornarem-se adultos mais felizes a metodologia de ensino
X é melhor que a Y” têm pouco ou nenhum significado para um pesquisador,
uma vez que envolvem julgamentos de valor e torna-se praticamente impossí-
vel testá-las empiricamente.
Ao propor o problema de pesquisa, você estará fazendo, na verdade, um es-
forço de reflexão e até mesmo uso da curiosidade para “descobrir os problemas
que o tema envolve, identificar as dificuldades que ele sugere, formular pergun-
tas ou levantar hipóteses”, abrindo portas para poder “penetrar no terreno do
conhecimento científico” (CERVO & BERVIAN, 2002, p. 84).
Partindo de uma revisão bibliográfica, na qual você identifica as principais
contribuições teóricas sobre o tema escolhido, e da sua própria reflexão, o pro-
blema de pesquisa pode ser redigido de forma “interrogativa, clara, precisa e
objetiva”. A pergunta ou o problema de pesquisa devem ser formulados de tal
forma que haja possibilidade de um encaminhamento ou resposta a partir da
própria pesquisa que será desenvolvida (CERVO & BERVIAN, 2002, p. 84).
É comum o aluno ou pesquisador encontrar diversos problemas aparente-
mente viáveis e interessantes, mas ele deve ser criterioso na escolha, pois de
um problema bem escolhido resultará uma ou mais perguntas de pesquisa
pertinentes para o desenvolvimento da pesquisa. Da mesma forma, problemas
mal definidos podem gerar objetivos imprecisos, que resultarão em resultados
inconsistentes. Portanto, a delimitação do problema deve ser vista como parte
crucial do projeto.
É importante entender que formular um problema de pesquisa não corres-
ponde simplesmente à proposição de uma pergunta prática que resulta numa
resposta relacionada com a ação.
Enquanto tema permanecer apenas no nível do discurso, não teremos ini-
ciado a investigação científica propriamente dita. Assim, escolhido o tema este
deve ser questionado pelo pesquisador, que deve transformá-lo em problema
de pesquisa a partir de seu esforço reflexivo, de sua curiosidade. Descobrir
58 • capítulo 2
os problemas que o tema envolve, compreender as dificuldades que ele suge-
re, formular perguntas ou levantar hipóteses relevantes é, na verdade, abrir a
porta através da qual o pesquisador pode adentrar no terreno do conhecimento
científico.
Deve-se redigir, de forma interrogativa, precisa, clara e objetiva, o questiona-
mento cuja solução viável possa ser alcançada pela pesquisa proposta. As per-
guntas de pesquisa podem variar, podem partir da observação de objetos, fato ou
fenômeno, ou, ainda, de uma série deles, é possível perguntar se seguem sem-
pre o mesmo padrão ou se, por vezes, os resultados alcançados são diferentes, se
existe a possibilidade de explicar os processos. Perguntas devem ser formadas de
tal forma que haja possibilidade de respostas utilizando a pesquisa.
Desse modo, perguntas do tipo “Como fazer para melhorar o transporte
urbano?”, “O que pode ser feito para melhorar a distribuição de renda?” ou
“Como aumentar a produtividade no trabalho?” correspondem a problemas
que poderiam ser resolvidos por meio de ações no âmbito de algumas áreas do
conhecimento (KERLINGER, 1980, p. 33). A ciência ofereceria elementos para
resolvê-los, mas essas questões em si não se constituiriam em problemas cien-
tíficos, já que são problemas que “não indagam como são as coisas, suas causas
e consequências, mas indagam acerca de como fazer e isto é apenas instrumen-
tal, operacional” (NASCIMENTO, 2005, p. 65-66).
Para exemplificar o que foi dito anteriormente, considere novamente as per-
guntas que foram propostas no parágrafo anterior, insuficientes para se constituí-
rem num problema de pesquisa, e as questões a seguir: “Existe relação entre o uso
do transporte coletivo e o nível de estresse de um determinado grupo de moradores
da periferia? A produtividade no trabalho está correlacionada com o nível de sa-
tisfação com a empresa? Qual a influência da concentração de renda e os índices
de violência?”. Essas perguntas tiveram variáveis acrescidas que estabelecem rela-
ções, tornando-as problemas de pesquisa (NASCIMENTO, 2005, p. 66).
Veja agora a exemplificação, sobre o que é um problema de pesquisa, ofere-
cida por Laville & Dionne (1999, p. 87). Os autores sugerem um problema para
ser analisado sobre três diferentes ângulos, a fim de se identificar aquela ques-
tão que é verdadeiramente um problema de pesquisa:
capítulo 2 • 59
I. O casamento sendo a principal causa do divórcio, dever-se-ia
interditá-lo.
II. O casamento é uma instituição divina cujos laços não deveriam jamais
ser rompidos.
III. O aumento da indiferença amorosa entre cônjuges é o que causa o
divórcio.
60 • capítulo 2
O problema de investigação é áquela dúvida, é aquela pergunta que não consegue ser
respondida com o conhecimento disponível. O homem usa as teorias produzidas pela
ciência para compreender, explicar, descrever os fatos existentes e mesmo prever os
futuros. Domina o conhecimento e o utiliza como rede para compreender e explicar o
mundo. Há, contudo, fatos que essas teorias não conseguem explicar. Nesses casos
levantam-se perguntas, dúvidas, que estão sem resposta no quadro do conhecimento
disponível. Ou então, à luz de novos referenciais teóricos, questiona-se a confiabilidade
daquelas teorias enquanto explicações válidas para determinados casos, percebendo
nelas inconsistências ou lacunas que devem ser corrigidas ou eliminadas. Diz Popper
(1978, p.14): “(...) cada problema surge da descoberta de que algo não está em ordem
com o nosso suposto conhecimento; ou, examinado logicamente, da descoberta de
uma contradição interna entre nosso suposto conhecimento e os fatos”. O problema
teórico de investigação, portanto, surge da crise do conhecimento disponível, enquanto
modelo teórico insuficiente para explicar os fatos.
A ciência não é a mera observação de fenômenos. Identifica-se, à luz de um conheci-
mento disponível, problemas decorrentes dos fenômenos. A percepção de problemas é
uma percepção impregnada de fundo teórico. Um fato em si mesmo não tem relevância
alguma, não diz nada. Ele passa a ter relevância, pertinência, quando relacionado a um
problema, a uma dúvida, a uma questão que precisa de resposta. Apenas isso justifica
uma investigação.
Só quem conhece é capaz de se propor problemas. À medida que cresce a ciência, que
evolui o seu conhecimento, com teorias mais amplas, cresce também a capacidade de
o homem perceber problemas. As teorias científicas iluminam o caminho do pesquisa-
dor. A percepção de problemas está diretamente relacionada ao uso de teorias. Sem
elas ele se torna cego e incapaz de perceber as dificuldades que estão no seu caminho.
Identificado o problema, o investigador começa a conjeturar sobre as possíveis so-
luções que poderiam explicá-lo. Esse momento depende quase que exclusivamente
da competência do investigador, do domínio das teorias relacionadas à dúvida, da ca-
pacidade criativa de propor ideias que sirvam de hipóteses, de soluções provisórias
que deverão ser confrontadas com os dados empíricos por meio de uma testagem.
Nessa fase os mais diversos fatores poderão influenciá-lo na produção das explica-
ções. Há dezenas de formas heurísticas. Não há um único caminho. O domínio do co-
nhecimento teórico disponível é fundamental e habilita melhor o investigador. Não se
pode, porém, afirmar que as hipóteses são deduções logicamente inferidas das teorias.
capítulo 2 • 61
A lógica auxilia o pesquisador a colocar em ordem as ideias, mas não pode ser enca-
rada como instrumento de descoberta. A imaginação e a criatividade exercem papel
fundamental no processo de elaboração das hipóteses, pois é através delas que se
rompe a forma usual de perceber as relações que há entre os diferentes fenômenos e
se propõe novas relações, percebendo novos problemas e novas soluções.
O contexto de descoberta opera num nível experimental. O sistema explicativo, forma-
lizado através das teorias, é resultado da tentativa de o pesquisador propor um modelo
teórico de uma possível ordem que pode haver por trás dos fenômenos. Operar no nível
experimental é trabalhar com conjecturas, com palpites, com suspeitas, com hipóteses,
com pistas, que são criadas, construídas, elaboradas no nível da imaginação, que utiliza
as crenças e os conhecimentos teóricos já existentes como uma, e não única, das
bases de sustentação dessas possíveis hipóteses. O experimento ocorre, em primeiro
lugar, no cérebro do investigador. Os passos de uma pesquisa são o resultado de um
planejamento elaborado pelo pesquisador para testar hipóteses construídas como so-
lução de um problema.
A ciência atual reconhece que não há regras para o contexto de descoberta, assim
como não há para a arte. A atividade do cientista se assemelha à do artista. Caminhos
os mais variados podem ser seguidos pelos diversos pesquisadores para produzir uma
explicação.
KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de
metodologia científica: teoria da ciência
e prática da pesquisa. 19. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1997, p. 71-72.
A grosso modo, podemos dizer que a hipótese consiste em supor alguma ver-
dade ou explicação que se busca. Falando em linguagem científica, a hipótese
equivale a suposição, posteriormente com provável ou delegável, a cerca da
verdade ou falsidade dos fatos que se pretende explicar. A hipótese pode ser
a suposição de uma causa ou de uma lei que visa explicar provisoriamente um
62 • capítulo 2
fenômeno até que os fatos a venham contradizer ou ratificar. Metaforicamente
podemos comparar as hipóteses andaimes que desaparecem quando o edifício
está pronto, finalizado.
As hipóteses têm uma função prática quando orientam o estudante/pes-
quisador na direção da causa provável ou da lei que se busca, ou uma função
teórica quando coordenam ou completam os resultados obtidos previamente,
organizando os em um conjunto completo de fatos e fenômenos com a finali-
dade de facilitar a sua compreensão e também o estudo realizado.
A hipótese tem o poder de indicar e iluminar o caminho a ser seguido.
Demo (2000, p. 162) apresenta três tipos de hipótese: (i) um ‘chute’ preliminar,
seguindo um faro, uma intuição, que poderá ser posteriormente comprovado
ou rejeitado; (ii) pode orientar o trabalho em uma direção que consideramos
promissora, permitindo selecionar bibliografia, definição da metodologia a ser
empregada, busca de dados; (iii) aponta para algum problema que gostaríamos
de solucionar ou compreender melhor, ou seja, uma pergunta que merece uma
resposta ou um objetivo ainda não explorado.
Mas como podemos chegar a hipóteses que sejam interessantes e plausí-
veis? Um requisito primordial é algum conhecimento prévio sobre o assunto,
obtido através de leituras, discussões ou participação em eventos acadêmicos,
que permita o acesso a conceitos e polêmicas que nos auxiliarão na formulação
de perguntas e suas possíveis respostas (hipóteses).
Quanto às regras ou caminhos que podemos seguir para obter hipóteses es-
tes são variáveis porque podemos obter hipóteses por dedução de resultados já
conhecidos ou pela experiência. Nesse caso, as hipóteses são indutivas se a se a
suposta causa do fenômeno for um de seus antecedentes, que parece apresen-
tar todas as características de antecedente casual e são analógicas quando ins-
piradas por certa semelhanças entre o fato ou fenômeno que se quer explicar
e outros já previamente conhecido. Praticamente, podemos afirmar, que não
há regras claras para descobrir as hipóteses, mas há condições que ajudam na
descoberta, como próprio curso da pesquisa, analogia, abdução e as reflexões.
Cabe destacar que apesar da certa facilidade ao elaborar as hipóteses de-
vemos considerar o que é hipótese não deve contradizer nenhuma verdade já
feita ou explicada, deve ser simples e deve ser sugerida e verificável pelos fatos,
jamais inventadas.
capítulo 2 • 63
É impraticável e sobretudo arriscado sair chutando hipóteses de trabalho sem alguma
noção do espaço teórico, porque podemos estar deixando-nos levar por aquilo que con-
seguimos ver no momento, não por aquilo que a discussão já coloca, superou, acentua.
Ajuda também o olhar crítico e indagativo sobre a realidade, pois quem anda de olhos
abertos certamente vê mais e melhor. Uma coisa é passar pela vida sem a perceber,
outra é ficar sempre perguntando por ela, seja quando estamos estudando, seja quando
estamos andando pela rua. Por fim, ajuda também a imaginação que, à falta de relevos
os inventa, por vezes demais, por vezes, o suficiente para vermos melhor a imagina-
ção funciona tanto melhor quanto maior for o interesse e mesmo a paixão pelo tema
(DEMO 2000, p. 162).
As hipóteses:
64 • capítulo 2
mosaico de vidro. É indispensável construir uma base teórica significativa que
justifique e dê embasamento ao trabalho. Mazzotti (1992) aponta os principais
tipos de revisão bibliográfica que devem ser evitados em trabalhos científicos,
sejam eles para fins acadêmicos ou profissionais.
capítulo 2 • 65
• Justificação da presença dos textos citados.
• Explicitar em que momentos somos nós ou outros autores a construir o
texto.
• Fazer as referências bibliográficas corretamente.
• Não fazer juízos de valor dos autores e das suas ideias.
• Ser imparcial nas citações dos autores.
CONEXÃO
Leia na íntegra o texto A"revisão da bibliografia" em teses e dissertações: meus tipos ines-
quecíveis, de Alda Judith Alves-Mazzotti. http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/
arquivos/916.pdf
66 • capítulo 2
Dizer que uma pesquisa é bibliográfica, descritiva ou experimental não é
uma questão meramente de classificação ou uma formalidade no trabalho
científico em função de exigências que são encontradas, por exemplo, nos ma-
nuais de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). A necessidade de denominar
o tipo de pesquisa que se quer realizar ou de explicitar o tipo de investigação
que deu base a um trabalho acadêmico não é apenas protocolar. Na verdade,
definir essa questão é um modo de tornar clara a natureza da pesquisa que foi
realizada e de revelar como os objetivos e as metodologias orientaram o traba-
lho desenvolvido.
Você precisa perceber que a definição do tipo de pesquisa não é algo gratui-
to nem uma espécie de rótulo ou etiqueta que se deve colocar no trabalho.
É importante você lembrar que a “pesquisa é uma atividade voltada para a so-
lução de problemas teóricos ou práticos com o emprego de processos científicos”.
Por isso, a pesquisa parte de “uma dúvida ou problema, e com o uso do método
científico, busca uma resposta ou solução” (CERVO & BERVIAN, 2002, p. 63).
O interesse ou a curiosidade pelo saber leva, então, o estudante ou o pes-
quisador “a investigar a realidade sob os mais diversificados aspectos e dimen-
sões”. Assim, poderá haver investigações, abordagens e busca pelo saber com
diferentes níveis de aprofundamento e com enfoques específicos de acordo
com o que será estudado, os objetivos propostos e, até mesmo, a experiência e
qualificação do pesquisador. Tudo isso conduz a diferentes tipos de pesquisa
(CERVO & BERVIAN, 2002, p. 64-65).
Cervo & Bervian (p. 65, 2002) afirmam que “cada tipo de pesquisa possui,
além do núcleo comum de procedimentos, suas peculiaridades próprias”. Em
meio à diversidade de tipos de pesquisa, os autores chamam a atenção para a
distinção entre a “pesquisa pura” e a “pesquisa aplicada”.
A pesquisa pura ou básica tem como meta o saber, por meio de uma busca
para satisfazer a “necessidade intelectual pelo conhecimento”. A pesquisa apli-
cada é movida pela necessidade de uma contribuição para fins práticos, com
busca de “soluções para problemas concretos”. Essas modalidades de pesquisa
não seriam excludentes ou opostas, já que a pesquisa pura “busca a atualiza-
ção de conhecimentos para tomada de posição”, enquanto a pesquisa aplicada
“pretende, além disso, transformar em ação concreta os resultados de seu tra-
balho” (CERVO & BERVIAN, 2002, p. 64-65).
capítulo 2 • 67
Essa distinção entre pesquisa pura (ou básica) e pesquisa aplicada tem o
objetivo de mostrar a você uma classificação inicial que pode ser feita indepen-
dentemente dos vários tipos de pesquisa que serão apresentados a seguir.
Antes, porém, de listarmos os tipos de pesquisa, convém alertá-lo sobre o
fato de que a classificação que será utilizada aqui é o resultado da síntese dos
tipos de pesquisa apresentados em diversos autores que estudam o assunto.
Ainda que você possa encontrar nos livros e autores de metodologia cien-
tífica uma classificação relativamente estável sobre os tipos de pesquisa, não
há exatamente um consenso que estabeleça um número definitivo e uma tipo-
logia fixa da classificação das pesquisas. No entanto, é bastante comum se es-
tabelecer, no mínimo, três tipos básicos de pesquisa, relacionados com o pro-
cedimento geral da pesquisa, a saber: bibliográfica, descritiva e experimental
(CERVO & BERVIAN, 2002, p. 65).
Quando se amplia a perspectiva dos procedimentos e aspectos relacionados
com a pesquisa, além da aplicação de diferentes critérios em sua classificação,
tem-se um número bem maior de tipos de pesquisa.
De acordo com alguns autores, como Gonsalves (2001, p. 64), é possível pro-
por um quadro de classificação dos tipos de pesquisa a partir de critérios como
os objetivos, os procedimentos de coleta, as fontes de informação e a natureza
dos dados.
Confira uma síntese dessa classificação, na tabela a seguir:
Experimento
Exploratória Levantamento Campo
Descritiva Estudo de caso Laboratório Quantitativa
Experimental Bibliográfica Bibliográfica Qualitativa
Explicativa Documental Documental
Participativa
68 • capítulo 2
Acompanhe, agora, uma breve exposição das características de cada tipo de
pesquisa de acordo com os critérios apresentados no quadro anterior.
Usar os objetivos como critério para identificar o tipo de pesquisa implica in-
dagar sobre as metas, as finalidades e o tipo de resultado esperado. Alguns
objetivos podem ser considerados mais conceituais, outros podem ser mais
descritivos (GONSALVES, 2001, p. 65). A classificação a partir dos objetivos da
pesquisa pode ser muito proveitosa para “estabelecer o marco teórico, ou seja,
para possibilitar uma aproximação conceitual” (DIEHL & TATIN, 2004, p. 53).
Tomando os objetivos gerais como critério de classificação, há autores, como
Gil (1996), que identificam pelo menos dois tipos de pesquisa: a exploratória e a
descritiva. É possível, no entanto, ampliar essa classificação e incluir a pesquisa
experimental e a pesquisa explicativa, como fazem outros autores (GONSALVES,
2001, p. 66). Esses quatro tipos de pesquisa não precisam ser entendidos como,
necessariamente, excluden-tes, ainda que apresentem suas distinções.
Pesquisa exploratória
capítulo 2 • 69
De acordo com Diehl & Tatin (2004, p. 54), dois exemplos de pesquisa explo-
ratória seriam: “1. Estudo comparativo da forma tributária do imposto de renda
das pessoas jurídicas”; e “2. Análise da capacidade de transferência das estraté-
gias e comunicações do mercado doméstico para os mercados externos”.
A pesquisa exploratória realiza descrições precisas da situação e quer des-
cobrir as relações existentes entre os elementos componentes da mesma. Essa
pesquisa requer um planejamento bastante flexível para possibilitar a con-
sideração dos mais diversos aspectos de um problema ou de uma situação.
Recomenda-se o estudo exploratório quando há pouco conhecimento sobre o
problema a ser estudado. (CERVO & BERVIAN, 2002, p. 65).
Pesquisa Descritiva
70 • capítulo 2
Pesquisa Experimental
Pesquisa Explicativa
capítulo 2 • 71
suportes digitais, e para os laboratórios ou experimentos, teremos então os se-
guintes tipos de pesquisa de acordo com as fontes de informação: pesquisa de
campo, de laboratório, bibliográfica e documental.
72 • capítulo 2
têm denominações coincidentes, pois se utiliza a mesma designação para a na-
tureza da fonte e o tipo de procedimento na coleta de dados.
Os procedimentos de coleta
a) Pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica, em relação aos procedimentos de coleta, caracte-
riza-se pela metodologia que elege a fonte bibliográfica como recurso para ex-
plicar um problema, conhecer e analisar as contribuições sobre determinando
assunto ou dominar o estado da arte sobre um tema.
Embora quase todas as pesquisas impliquem estudos e trabalhos que envolvam
o uso de uma bibliografia, “há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de
fontes bibliográficas” (DIEHL & TATIN, 2004, p. 58). Assim, é apropriado denomi-
nar uma pesquisa como bibliográfica quando os estudos, análises e procedimen-
tos metodológicos estão predominantemente circunscritos à fonte bibliográfica.
b) Pesquisa documental
A pesquisa documental, em relação aos procedimentos de coleta, é assim
denominada quando os estudos, as investigações, as análises e os procedimen-
tos metodológicos estão predominantemente circunscritos à fonte documen-
tal, ou seja, a documentos.
c) Pesquisa de levantamento
A pesquisa de levantamento é assim classificada em relação aos procedi-
mentos de coleta, tendo alguma correspondência com a pesquisa de campo,
tipo de pesquisa relacionado com a natureza da fonte. A pesquisa de levanta-
mento pode ser caracterizada pelo “questionamento direto das pessoas cujo
comportamento se deseja conhecer”. O procedimento se dá pela “solicitação
de informações a um grupo significativo de indivíduos acerca do problema es-
tudado para, em seguida, mediante análise quantitativa, obter-se as conclusões
correspondentes aos dados coletados” (DIEHL & TATIN, 2004, p. 59).
capítulo 2 • 73
Se o levantamento é feito recolhendo-se “informações de todos os integran-
tes do universo pesquisado, tem-se um censo”. O censo pode ser muito útil, pois
oferece informações gerais sobre as populações, trazendo grande contribuição,
por exemplo, para as investigações sociais (DIEHL & TATIN, 2004, p. 59).
Como vantagens da pesquisa de levantamento, Diehl & Tatin (2004, p. 59) enu-
meram: “conhecimento direto da realidade, economia e rapidez e possibilidade de
quantificação”. Como limitações, apontam: “ênfase nos aspectos perceptivos, redu-
zida profundidade no estudo da estrutura e dos processos sociais e limitada apreen-
são do processo de mudança”. Assim, os levantamentos seriam “mais adequados
para estudos descritivos”, sendo indicados para o estudo de opiniões e atitudes, mas
pouco úteis no estudo de problemas que se referem “a relações e estruturas sociais
complexas”. Como temas e exemplos desse tipo de pesquisa, enumeram: “1.
Perfil dos escritórios de contabilidade da região X. 2. Pesquisa mercadológi-
ca para telefonia móvel celular”.
74 • capítulo 2
e) Pesquisa participativa
Pode ser entendida como a pesquisa que propõe “a efetiva participação da
população pesquisada no processo de geração de conhecimento, que é consi-
derado um processo formativo” (GONSALVES, 2001, p. 67).
A pesquisa participante e a pesquisa-ação seriam integrantes dessa moda-
lidade de pesquisa. Alguns autores fazem uma distinção entre esses dois tipos
de pesquisa.
A pesquisa-ação seria uma pesquisa “com base empírica que é concebida
e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um
problema coletivo e na qual os pesquisadores e participantes representativos
da situação ou do problema estão envolvidos” de forma cooperativa ou partici-
pativa (DIEHL & TATIN, 2004, p. 62).
A pesquisa participante também se caracteriza pela “interação entre os pes-
quisadores e os membros das situações investigadas”. Além disso, ela se mos-
tra “bastante comprometida com a minimização da relação entre dirigentes e
dirigidos, e por essa razão tem-se voltado, notadamente, para a investigação
junto a grupos desfavorecidos, tais como os constituídos por operários, campo-
neses, índios etc.” (DIEHL & TATIN, 2004, p. 62).
f) Pesquisa experimento
A pesquisa experimento é assim classificada em relação aos procedimentos
de coleta, e corresponde à pesquisa de laboratório, tipo de pesquisa relaciona-
do com a natureza da fonte. Isso quer dizer que pesquisas de natureza experi-
mental costumam acontecer no contexto de laboratório.
A pesquisa experimento pode ser entendida como o tipo de pesquisa que se
vale do uso de aparelhos e de instrumentos, graças aos diversos recursos tecno-
lógicos, ou de “procedimentos apropriados e capazes de tornar perceptíveis as
relações existentes entre as variáveis envolvidas no objeto de estudo” (CERVO &
BERVIAN, 2002, p. 68).
Na área das ciências sociais aplicadas, a pesquisa experimento encontraria
correspondência na chamada pesquisa ex-post-facto, designação usada por al-
guns autores para se referir a um “experimento” que “se realiza depois dos fa-
tos”. Para Diehl & Tatin (2004, p. 59), nesse caso, não se trata “rigorosamente de
um experimento, posto que o pesquisador não tem controle sobre as variáveis”.
No entanto, “os procedimentos lógicos de delineamento ex-post-facto são
capítulo 2 • 75
semelhantes aos dos experimentos pro-priamente ditos”. Assim, esse tipo de
pesquisa tomaria como experimentais situações “que se desenvolveram natu-
ralmente e trabalha-se sobre elas como se estivessem submetidas a controles”.
Pesquisa quantitativa
76 • capítulo 2
pesquisador parte dos efeitos observados para descobrir seus antecedentes”.
Como exemplos de pesquisa quantitativa, Diehl & Tatin (2004, p. 51) citam dois
exemplos: “1. Custo agrícola nas culturas de soja e milho. 2. Estudo da viabi-
lidade econômico-financeira da implantação de um indústria de compotas”.
Pesquisa qualitativa
capítulo 2 • 77
ATIVIDADES
01. Dê algumas razões pelas quais se justifica estabelecer o tipo de pesquisa num projeto
ou trabalho de investigação científica.
02. Como você distingue a pesquisa quantitativa da pesquisa qualitativa? Por que seria pos-
sível a complementaridade entre essas duas modalidades de pesquisa?
REFLEXÃO
Você viu, neste capítulo, que a pesquisa pode assumir diversas formas e tipos a partir dos
objetivos, dos procedimentos, das fontes e das abordagens da investigação que será rea-
lizada. Estabelecer o tipo de pesquisa que se vai desenvolver, no entanto, pode ser mera
formalidade se a preocupação for apenas denominar ou rotular o trabalho, tornando-se algo
despropositado. Definir o tipo de pesquisa deve ser, na verdade, um modo de se certificar a
respeito das abordagens, dos enfoques, dos níveis de aprofundamento, dos objetivos e das
metodologias da nossa pesquisa, tornando explícitos os procedimentos e a modalidade do
nosso trabalho.
LEITURA
MAZOTTI, Alda Judith Alves. A “revisão da bibliografia” em teses e dissertações: meus tipos
inesquecíveis. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n.81, maio de 1992, pp. 53-60.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS;Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos da
metodologia científica. 3 ed. São Paulo: Pearson, 2007.
CASTRO, Claudio de Moura. A prática da pesquisa. 2 ed. São Paulo: Pearson, 2006.
CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Editora Atlas, 2000.
DIEHL, Astor A.; TATIN, Denise C. Pesquisa em ciências sociais aplicadas: métodos e técnicas.
São Paulo: Prentice Hall, 2004.
78 • capítulo 2
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed., São Paulo: Atlas, 2004.
GONSALVES, Elisa P. Iniciação à pesquisa científica. São Paulo: Alínea Editora, 2001.
KERLINGER, F. N. Metodologia da pesquisa em ciências sociais: um tratamento conceitual. São
Paulo: EPU/EDUSP, 1980.
KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da
pesquisa. 19. ed. Petrópolis,RJ: Vozes, 1997.
LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia em ciências
humanas. Porto Alegre: Artmed/Editora da UFMG, 1999.
MAZOTTI, Alda Judith Alves. A “revisão da bibliografia” em teses e dissertações: meus tipos
inesquecíveis. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n.81, maio de 1992, pp. 53-60.
NASCIMENTO, Dinalva M. Metodologia do trabalho científico. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.
capítulo 2 • 79
80 • capítulo 2
3
A Redação
Científica
É comum os estudantes, de graduação e pós-graduação, confessarem certo
desconforto diante dos aspectos formais de uma pesquisa. Discutem sobre a
obrigação de seguir a risca tantas normas ao elaborarem seus trabalhos. Os
aspectos formais da liguagem tornam-se uma séria dificuldade que, em al-
guns casos, se transforma num obstáculo quase intransponível. Mas é preciso
entender que a normalização e as estruturas, até certo ponto rígidas, do tra-
balho acadêmico e científico se justificam pela necessidade de tornar clara,
objetiva e rigorosa a pesquisa e, também, a sua apresentação. Por isso, neste
capítulo você vai estudar aspectos da linguagem do texto científico, os ele-
mentos que compõem a estrutura da pesquisa e sua apresentação.
OBJETIVOS
• Conhecer aspectos formais e estruturais da elaboração e apresentação da pesquisa;
• Compreender a linguagem da pesquisa e da comunidade acadêmico-científica;
• Analisar as principais características da redação científica.
82 • capítulo 3
3.1 A linguagem da pesquisa
Ao realizarmos uma pesquisa, nos valemos de fontes de informação que, mui-
tas vezes, se encontram em livros, teses e artigos. A leitura desses textos revela
uma linguagem própria do meio acadêmico-científico, marcada por maior ob-
jetividade, precisão, rigor e complexidade.
Para alguns estudantes, esse tipo de linguagem causa certo estranhamento
e se constitui até mesmo em desafio para a compreensão mais rápida e fácil
das ideias do autor. Mas, deixando de lado certos exageros de formalismo e o
academicismo de alguns autores, é preciso compreender que a linguagem e o
formato dos textos acadêmicos e científicos seguem um propósito, não sendo
simplesmente um capricho ou pedantismo de intelectuais.
As ideias originais de um autor, as propostas que nascem de profundas re-
flexões ou as conclusões de uma pesquisa desenvolvida por um estudante não
se destinam, a princípio, à comunicação informal de um bate-papo, ao texto
descomprometido de um blog pessoal ou a ficarem guardadas em nossa estan-
te particular ou em alguma pasta de arquivos perdida de nosso computador.
O que produzimos a partir de uma pesquisa é comunicado em livros, teses,
monografias ou artigos. Esses textos, portanto, possuem uma linguagem e for-
mato próprios. Isso se deve, pelo menos, a três aspectos ou razões presentes no
texto acadêmico:
capítulo 3 • 83
Tudo isso aponta para a necessidade de uma linguagem apropriada na pro-
dução e comunicação do conhecimento. Tomanik (2004, p. 116) lembra que a
linguagem da pesquisa deve ser “mais estável, mais fria e “disciplinada”, para
garantir a qualidade de sua comunicação, normalmente baseada em informa-
ções mais claras e precisas do que as da comunicação cotidiana”.
Por isso, um passo importante na elaboração e apresentação dos resultados
ou do texto da pesquisa diz respeito à adequação da linguagem empregada.
Você precisa considerar duas perguntas básicas, ao comunicar os resulta-
dos de sua pesquisa e ao elaborar o texto de seu artigo ou sua monografia:
Após essas ponderações, é bom considerar outra pergunta que deve nortear
a produção acadêmica e científica: em qual veículo será divulgada ou publicada
minha pesquisa?
84 • capítulo 3
Essa pergunta remete às normas técnicas e editoriais das revistas ou dos
periódicos, aos regulamentos dos programas de Pós-Graduação ou aos manu-
ais de TCC dos cursos de Graduação. Isso quer dizer que a comunicação dos
resultados da pesquisa deve se sujeitar às orientações e normas do veículo ou
da instituição aos quais se destina o trabalho de pesquisa.
Essa constatação aponta para a necessidade de elaborar a pesquisa dentro
dos parâmetros da redação científica.
3.2.1 Impessoalidade
capítulo 3 • 85
3.2.2 Objetividade
3.2.3 Clareza
86 • capítulo 3
3.2.4 Precisão
Para sintetizar as observações sobre a linguagem científica, vale a pena conferir o qua-
dro que Cervo & Bervian (2007, p. 133) propõem:
A linguagem científica
Exigências Deformações
Impessoal Pessoal
Objetiva Subjetiva, ambígua
Modesta e cortês Arrogante, dogmática
Informativa Persuasiva, expressiva
Clara e distinta Confusa, equívoca
capítulo 3 • 87
A linguagem científica
Exigências Deformações
Própria ou concreta Figurada
Técnica Comum
Frases simples e curtas Frases longas e complexas
88 • capítulo 3
A leitura de reconhecimento ou leitura seletiva é, então, uma estratégia para
lidar com a diversidade de informações e as variadas possibilidades de leitura
que surgem diante do tema que você escolheu para estudar ou pesquisar.
Trata-se, desse modo, de uma situação na qual você precisa “decidir sobre
a leitura apurada de um livro”; ponderar se ele “vai ajudar ou não no tema a
ser pesquisado”; escolher quais livros você vai tomar emprestado da biblioteca,
quais títulos você vai comprar numa livraria ou na Internet, diante da escassez
de recursos, ou quais arquivos você vai baixar e imprimir para ler com calma e
atenção (NASCIMENTO, 2005, p. 29).
Na leitura de reconhecimento, não há tempo para se alongar no exame dos
textos. Trata-se de uma leitura para orientar escolhas de obras e fontes que
serão examinadas com mais tempo posteriormente. Assim, podem ser muito
úteis as recomendações a seguir:
capítulo 3 • 89
A leitura analítica é o passo seguinte.
A leitura analítica se caracteriza pelo detalhamento e pela busca dos elemen-
tos mais significativos do texto. O objetivo da leitura analítica deve ser “a seleção
dos aspectos mais importantes da obra, que auxiliarão no processo de apropria-
ção do saber historicamente acumulado” (NASCIMENTO, 2005, p. 30).
Mais adiante, você poderá verificar que o resumo e o fichamento contri-
buem para a realização da leitura analítica e o registro de seus resultados.
A leitura crítica é outra face do trabalho de compreensão de uma obra ou
um texto.
A leitura crítica parte do pressuposto de que “para a elaboração de um tra-
balho se faz essencial não apenas a tomada de posse das ideias contidas nas
obras lidas, mas que também implica acrescentar ao conhecimento existente
a contribuição daquele que produz uma obra nova”. Isso quer dizer que é ne-
cessária a reflexão crítica e pessoal a partir do que foi lido e trabalhado na fase
preparatória da investigação (NASCIMENTO, 2005, p. 30). Essa leitura crítica
pode contribuir bastante para a fundamentação do trabalho que será realizado.
A resenha é uma modalidade de trabalho acadêmico que se vale, principalmen-
te, da leitura crítica.
Cervo & Bervian (2002, p. 98-99) se referem a essa última etapa usando a de-
signação leitura interpretativa.
A leitura interpretativa implicaria três tipos de julgamento a partir da obra
ou texto lido:
O primeiro julgamento levaria em conta as intenções do autor e o tema do
texto para saber o que realmente o autor afirma e quais as informações e contri-
buições que ele oferece. Essa postura consistiria, então, numa crítica objetiva
das hipóteses, teses e conclusões do autor a fim de se ter uma base para o traba-
lho que será desenvolvido.
O segundo julgamento seria a partir da relação entre o que o autor afirma e
os problemas da pesquisa ou do trabalho. O julgamento das ideias do livro ou
do texto é feito em função dos propósitos do pesquisador, para que seja aplica-
do no encaminhamento dos problemas propostos na pesquisa.
O terceiro julgamento é feito em função do critério de verdade, ou seja, o
leitor ou pesquisador deve ter uma dúvida metódica que o leve a lidar com toda
afirmação que carece de provas como algo provisório e um ponto de referência,
nunca como uma conclusão definitiva.
90 • capítulo 3
A análise e o julgamento a partir da leitura devem conduzir, então, ao traba-
lho de síntese e de aplicação das ideias que se mostrarem válidas e úteis para o
desenvolvimento da pesquisa ou do trabalho acadêmico.
Após essas observações sobre a leitura, é oportuno tratar dos tipos de traba-
lhos acadêmicos.
O título de um livro é a primeira informação que temos sobre o seu conteúdo, todavia
não deve ser o único critério de escolha para sua leitura. Devemos examinar detalha-
damente o livro com título interessa à primeira vista, devemos verificar nome do autor,
analisar o seu currículo, ler a orelha do livro, o índice, analisar a documentação e as
citações ao pé das páginas utilizada para a elaboração do livro, assim como verificar
a editora, a data, a edição ele rapidamente o prefácio. A convergência de alimentos
ajuda a selecionar o que ler.
Todo estudante deveria interessar se pela construção de uma pequena biblioteca pes-
soal de obras selecionadas, os livros são sua ferramenta de trabalho a partir do momen-
to que desejam elaborar uma pesquisa. O primeiro passo é de crise os livros citados
pelos professores como indispensáveis ou fundamentais para determinadas disciplinas
de seu curso, em seguida as obras mais amplas e mais especializadas dentro da área
profissional ou do interesse particular de cada um (RUIZ, 2008).
3.4 Fichamento
Os fichamentos podem ser um excelente recurso para não se perder os dados
bibliográficos, as anotações de aula ou os apontamentos decorrentes de uma
leitura.
Os dados bibliográficos, as anotações e os apontamentos contidos num fi-
chamento são “como uma memória exterior”, pois quando bem organizados
eles até “podem se constituir em uma minibiblioteca para uso pessoal” (CERVO
& BERVIAN, 2002, p. 92).
Com os editores de texto e os recursos presentes num computador ou ta-
blet, o fichamento pode ganhar versatilidade e se tornar muito mais disponível
para consulta.
capítulo 3 • 91
Ao realizar um fichamento, elaborando e registrando as anotações, apon-
tamentos e dados, sempre considere a necessidade de precisão e clareza, pois
ao voltar aos registros tempos depois é preciso reconhecer o sentido e a valida-
de do que foi escrito, mesmo diante do esquecimento natural decorrente do
tempo.
Leve em conta que os apontamentos e as anotações de uma leitura devem
conter dados que permitam encontrar ou acessar rapidamente a fonte original.
Também é imprescindível realizar as anotações e os apontamentos a partir da
distinção entre o que é essencial e o que é acessório. Os fichamentos devem
apresentar ideias gerais mais do que ideias ou detalhes particulares que podem
ser conferidos no acesso à fonte ou ao texto original (SALVADOR, 1970 apud
CERVO & BERVIAN, 2002, p. 93).
Confira mais algumas dicas, baseadas em outras recomendações feitas por
Cervo & Bervian (2002, p. 93-94):
92 • capítulo 3
De qualquer modo, considere que elaborar uma ficha não é algo tão comum
entre muitos estudantes. É preciso paciência, disciplina e disposição para se
dedicar à leitura de uma obra e às anotações dela decorrentes. A preguiça cos-
tuma ser forte inimiga de um bom fichamento. Mas aqueles estudantes que re-
alizam essa tarefa, que pode ser um tanto enfadonha, acabam comprovando a
utilidade do fichamento no momento da organização e da redação do trabalho
acadêmico e da pesquisa científica.
CONEXÃO
http://monografias.brasilescola.com/regras-abnt/tipos-trabalhos-academicos-fichamento.htm
capítulo 3 • 93
3.4.2 Plano de leitura
Para que o fichamento atenda o seu objetivo, é importante que o fichário bi-
bliográfico seja o mais amplo e completo possível para auxiliar na leitura do
que deve ser examinado com mais atenção para a construção do projeto de pes-
quisa e para a estruturação da pesquisa em si. Cabe destacar que a leitura das
referencias que foram elencadas no fichário deve obedecer, para o sucesso do
trabalho, uma ordem que, segundo Ruiz (2008) é:
94 • capítulo 3
3.5 Resumo
A elaboração de resumos é técnica igualmente relevante para a confecção de
trabalhos científicos. Assim como ocorre com a noção de “fichamento”, tam-
bém há nuances nas definições de “resumo”. Ramos (2009, p. 155) define o
resumo como: “um pequeno texto que destaca as ideias do texto-base, logo,
mantendo fidelidade às mesmas”. Medeiros o define uma síntese das ideias
relevantes selecionadas de forma articulada.
Na maioria das definições, está contida a ideia básica de apresentação concisa
dos pontos relevantes de um documento/texto. Para Eva Maria Lakatos e Marina
de Andrade Marconi (apud CHATT, 2014), o resumo é a apresentação de uma
síntese bem clara e concisa das ideias principais da obra ou texto, tendo como
características: não ser um sumário ou índice das partes que compõem a obra,
mas sim a exposição abreviada das ideias; não é transcrição, ou seja, o resumo
deve ser realizado com as próprias palavras do leitor; não deve ser extenso, como
dito deve apresentar as ideias principais; e não precisa obedecer estritamente à
estrutura da obra, afinal, a redação do resumo deve conter o essencial do texto.
Comumente, são identificados três tipos de resumo: resumo indicativo, re-
sumo informativo e resumo crítico.
O resumo indicativo corresponde apenas a referências e indicações do tex-
to-base, sem que sejam registrados dados qualitativos e quantitativos. Trata-se
de um esquema ou mapa que poderá oferecer informações básicas e de identi-
ficação do texto original.
O resumo informativo corresponde ao registro conciso das informações
mais importantes contidas num texto-base.
O resumo crítico é, geralmente, identificado com a resenha, sendo uma ou-
tra designação para a própria resenha.
CONEXÃO
Para visualizar modelos de resumos e dicas para sua elaboração, confira o link a seguir:
http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/bitstream/handle/mec/16231/index.html?
sequence=10
capítulo 3 • 95
3.6 Resenha
CONEXÃO
Confira alguns exemplos e modelos de resenhas nos links a seguir: http://www.lendo.org/
modelos-de-resenha-exemplos/ http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php
• Ao ler o texto-base, aquele que você vai resenhar, faça anotações em núcle-
os do tipo “passagens profundas”, “pontos obscuros”, “novidade”, “repetição”;
• Destaque com cuidado a tese central que o autor está desenvolvendo.
Acompanhe a sua argumentação. Essa apreciação tornará o seu julgamento
mais denso e criterioso. (SALOMON, 1991, p. 137apud GONSALVES, 2001).
96 • capítulo 3
A ABNT NBR 6028/2003 associa a resenha ao resumo crítico e as revistas científicas
que publicam resenhas apresentam normas específicas para a apresentação desse
tipo de trabalho.
3.7 Artigo
Artigo pode ser definido como texto com autoria declarada que apresenta e discute
ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento,
destinado à divulgação, por meio de periódicos.
capítulo 3 • 97
permitindo a indicação de metodologias ou perspectivas de continuidade dos
estudos em determinada linha de pesquisa. Esse tipo de artigo contribui para a
avaliação, análise e síntese de trabalhos e resultados de pesquisa já publicados.
Marconi e Lakatos (2010), destacam que também é possível caracterizar os
artigos científicos em:
CONEXÃO
Para mais orientações sobre a elaboração do artigo, veja as dicas no link a seguir:
http://www.artigocientifico.com.br/Arti-goCientifico.pdf
3.8 Monografia
A monografia é um trabalho acadêmico-científico exigido, comumente, na con-
clusão de cursos ou mesmo de disciplinas, tanto da graduação quanto da pós-
graduação. A principal característica de uma monografia está no tratamento e
aprofundamento de um determinado tema, destacando-se por ser “um traba-
lho rigoroso, que sistematiza observações, críticas e reflexões feitas pelo aluno”
(GONSALVES, 2001, p. 20).
CONEXÃO
Algumas dicas interessantes podem ser encontradas no link a seguir: http://rae.fgv.br/sites/
rae.fgv.br/files/file/para_fazer_monografia.pdf
98 • capítulo 3
A monografia não pode ser confundida com a mera reunião de trechos reco-
lhidos de livros, artigos, teses e textos da Internet, numa espécie de “colcha de
retalhos”, repleta de citações ou até mesmo cópias sem qualquer contribuição
do próprio autor ou aluno.
É importante você perceber que a monografia possui algumas característi-
cas que permitem identificá-la como um trabalho relevante e adequado ao con-
texto acadêmico, tais como: a) a monografia se constitui num trabalho escrito
e organizado de forma sistemática e completa; b) trata de um tema específico;
c) é um estudo minucioso ou detalhado de um objeto; d) aborda esse objeto em
profundidade e não em alcance; e) tem uma metodologia científica; f) mostra
ser uma contribuição pessoal para o estudo de determinado assunto ou o de-
senvolvimento da ciência (LAKATOS e MARCONI, 2010, p. 152).
Uma das preocupações comuns em relação à monografia tem a ver com a sua
extensão. Convém você considerar que a extensão do texto ou conteúdo da mo-
nografia não é a coisa mais importante. Na verdade, você deve ter em mente que
a monografia serve ao propósito de aprofundar ou desenvolver um “aspecto dos
muitos que integram um determinado assunto” (GONSALVES, 2001, p. 20).
Antonio Joaquim Severino (2010, p. 104) afirma que a monografia se ca-
racteriza “mais pela unicidade e delimitação do tema e pela profundidade do
tratamento do que por sua eventual extensão, generalidade ou valor didático”.
Assim, o tamanho da monografia pode variar e o foco deve ser sempre a quali-
dade e não a quantidade.
A monografia pode apresentar pequenas variações na sua organização ou
estrutura, mas basicamente ela é constituída de uma introdução, um desenvol-
vimento e uma conclusão.
A introdução, nas monografias, deve ordenar com clareza “o tema da pes-
quisa, considerando dois aspectos: o assunto que será tratado (a ideia geral,
situando e delimitando o problema, justificando o tema, definindo os termos
e indicando o percurso metodológico)” e o modo como ele será desenvolvido,
ou seja, “as ideias mais importante, a distribuição e os objetivos dos capítulos”
(GONSALVES, 2001, p. 22).
O desenvolvimento deve elucidar, discutir e evidenciar as ideias do traba-
lho, sendo organizado em partes ou capítulos que devem dar clareza e equilí-
brio no tratamento do assunto. Na conclusão, você deve retomar de forma breve
as ideias expostas ao longo do trabalho, estabelecendo algumas relações entre
elas e apresentando as considerações finais (GONSALVES, 2001, pp. 22-23).
capítulo 3 • 99
3.9 Apresentação de trabalhos acadêmicos
É muito importante se preparar para a apresentação oral de sua monografia ou
artigo, quando for esse o caso. Nos cursos de Pós-Graduação, especialmente os
na modalidade a distância, diante da necessidade de apresentação ou defesa
oral do trabalho, são usadas tecnologias de comunicação, como a videoconfe-
rência, que permitem a interação online entre o aluno e os professores exami-
nadores ou avaliadores.
Cuidados com a postura, o uso da voz, a utilização de recursos audiovisuais
e a relação com os examinadores devem ser levados em conta. Assim, além das
orientações específicas que você encontra no guia o manual de TCC de seu cur-
so, confira algumas dicas e sugestões para apresentação oral de trabalhos nos
links abaixo.
CONEXÃO
http://www.praticadapesquisa.com.br/2010/09/apresentacao-de-trabalho-academico.html
http://www.polito.com.br/portugues/artigo.php?id_nivel=12&id_nivel2=150&id
Topico=200
ATIVIDADES
01. De que modo o fichamento, o resumo ou a resenha podem ajudar na pesquisa ou nos
estudos?
02. Procure elaborar um fichamento e uma resenha de um livro que você tenha lido ou es-
teja lendo atualmente.
REFLEXÃO
Você aprendeu neste capítulo que a pesquisa e a comunicação de seus resultados devem
considerar as convenções e os padrões estabelecidos no contexto acadêmico-científico, su-
jeitando-se à normalização técnica recomendada pela instituição de ensino. Viu que as nor-
mas e orientações referentes à formatação e à apresentação da pesquisa podem contribuir
100 • capítulo 3
para garantir a clareza, a precisão, o rigor e a objetividade da produção científica.
Desse modo, a redação científica, que caracteriza o texto de um artigo ou monografia, por
exemplo, deve possuir características que pre cisam ser levadas em conta para que “a trans-
missão da informação e a sua compreensão por parte do leitor sejam eficazes”. E nesse caso,
é sempre bom considerar que o leitor, na maioria das vezes, pertence ao público interno, à
própria comunidade acadêmica ou científica.
Porém, nem sempre você escreverá para seus pares (pesquisadores, professores e estu-
dantes), pois é possível que o público leitor seja externo, sendo inclusive formado por leigos
que tenham interesse no assunto. Assim, se faz necessário seguir as recomendações que
você viu aqui e escrever seu trabalho numa linguagem clara e bem cuidada.
LEITURA
RAMOS, A. Metodologia da pesquisa científica: como uma monografia pode abrir o horizonte do
conhecimento. São Paulo: Atlas, 2009.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: informação e documentação
artigo em publicação periódica científica impressao – apresentação. Rio de janeiro, 2003.
NBR 6028: informação e documentação – resumo – apresentação. Rio de janeiro, 2003.
CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A. Metodologia científica. 5. Ed. São Paulo: Pearson, 2002.
CERVO, Amado Luiz. BERVIAN, Pedro Alcino. SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6 ed. São
Paulo: Pearson, 2007.
CHATT, Cidinei Bogo. A Importância das Técnicas da Leitura, Fichamento, Resumo e Resenha na
Produção de Textos Técnico-Científicos. Universo Jurídico. Disponível em: <http://uj.novaprolink.
com.br/doutrina/7154/a_importancia_das_tecnicas_da_leitura_fichamento_resumo_e_resenha_na_
producao_de_textos_tecnicocientificos Acesso e: 27 mai. 2014.).
GONSALVES, Elisa P. Iniciação à pesquisa científica. São Paulo: Alínea Editora, 2001.
MARCONI, Marina de Andrade.; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico. São
Paulo:Atlas, 2010.
NASCIMENTO, Dinalva M. Metodologia do trabalho científico. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
capítulo 3 • 101
RAMOS, Albenides. Metodologia da pesquisa científica: como uma monografia pode abrir o
horizonte do conhecimento. São Paulo: Atlas, 2009.
RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica. Guia para eficiência nos estudos. 6 ed. São Paulo: Atlas,
2008.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2010.
TOMANIK. Eduardo A. O olhar no espelho: conversas sobre a pesquisa em Ciências Sociais.
Maringá: EDUEM, 2004.
102 • capítulo 3
4
O Projeto de
Pesquisa
Podemos comparar o desenvolvimento de uma pesquisa científica com a
cons-trução de um edifício, uma casa por exemplo, e o projeto de pesquisa
com a planta dessa construção. Para muitos pesquisadores, a elaboração do
projeto de pesquisa é um momento decisivo para a pesquisa, pois este será o
guia que orientará os principais passos a serem dados rumo a conclusão do
trabalho.
Assim, diante das decisões que devem ser tomadas para o desenvolvimento
da pesquisa ou da elaboração de um trabalho de conclusão de curso, não se
pode esquecer a importância da organização do projeto de pesquisa. Por isso,
você estudará neste capítulo como se constrói um projeto de pesquisa, conhe-
cendo as principais características do planejamento que deve ser feito e refle-
tindo sobre as recomendações para a realização de um trabalho de investigação
no contexto acadêmico e científico.
CONEXÃO
Um projeto de pesquisa é, na realidade, um “plano”, intenções, que o aluno/pesquisador am-
biciona desenvolver em seu trabalho científico. No Projeto de Pesquisa é feita a escolha do
tema, a indicação de suas delimitações, no que tange ao espaço em que será desenvolvida
a pesquisa.
OBJETIVOS
• Refletir sobre a importância e a utilidade do planejamento na pesquisa;
• Distinguir os elementos constituintes de um projeto de pesquisa;
• Compreender os elementos envolvidos no desenvolvimento da pesquisa;
• Compreender a importância do método científico para a estruturação das ciências;
• Compreender o que são técnicas de pesquisa;
• Analisar as técnicas de coleta de dados;
• Avaliar as técnicas de abordagem em pesquisa.
104 • capítulo 4
4.1 Constituição do projeto de pesquisa
Ninguém pode esperar retirar do nada um projeto de pesquisa, ele sempre deve
ter seu processo normal de nascimento. Naturalmente, opção por determina-
da assunto o antecede. Seria esta opção as primeiras leituras da bibliografia ge-
nérica, os primeiros questionamentos, as progressivas delimitações do assunto
e a definição da compreensão e da extensão dos termos da proposição enuncia-
tiva do tema. A rigor, não foi traçado ainda o primeiro projeto de pesquisa, mas
ele já está em processo de gestação.
O passo seguinte é a conversão do tema em problema, pois a pesquisa só
tem sentido quando se desenvolve na procura da solução para um determina-
do problema. A clara e nunciação do problema induzirá, consequentemente,
a reflexão e prefixação de hipóteses. Feito isto, enunciação da hipótese é que
determinará os critérios para a leitura da bibliografia e para a tomada de apon-
tamentos de passagens relevantes para confirmação ou não das hipóteses.
Em suma, os elementos que deverão ser destacados no primeiro projeto de
pesquisa ação:
4. anunciação do tema;
5. definição dos conceitos;
6. indicação clara da extensão dos conceitos;
7. indicação de circunstâncias para completar a delimitação da pesquisa,
ou seja o tempo o espaço instrumentos;
8. explicitação da ideia principal tirada do tema, bem como dos porme-
nores que pareçam importantes;
9. ponderação sobre objetivos e sobre o alcance da pesquisa, previsão do
tempo disponível para o seu desenvolvimento e estabelecimento de condições
de viabilidade;
10. definição das fases posteriores e cronograma para o seu cumprimento
dentro das reais possibilidades do pesquisador ou do grupo de pesquisa (RUIZ,
2008).
capítulo 4 • 105
A definição dos termos
106 • capítulo 4
c) nunca pretender tudo definir, porque a definição é essencialmente uma análise, de-
vendo necessariamente deter-se nos elementos simples, suficientemente claros por si’.
[...] Não existem regras padronizadas para alguém saber, com certeza, quais os termos
que devem ser selecionados para definição. Isto depende do discernimento do pesqui-
sador. Mas alguns pontos podem ser indicados como sugestão, por exemplo, tentar ler o
que escrevemos com “os olhos dos outros”, isto é, como os outros poderiam ler e com-
preender. É bom lembrarmo-nos dos esforços que fizemos para chegar a entender certos
termos, que hoje nos parecem simples e claros, mas que, antigamente, nos pareciam
obscuros e confusos. Precisamos, ainda, levar em consideração a divergência relativa a
certas palavras e expressões, cujos significados são discutíveis de acordo com as teorias,
áreas de conhecimento etc. Será de grande valor, além da nossa reflexão pessoal e au-
tocrítica, consultarmos determinadas pessoas especializadas ou entendidas no assunto
e outras que, por algum motivo mais sério, julgamos poderem ser úteis e nos ajudarem.
RUDIO, Franz Victor.
Introdução ao projeto de
pesquisa científica. 23. ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, p. 29-33.
capítulo 4 • 107
É importante você considerar que o momento de elaboração do projeto de
pesquisa pode ser muito significativo e rico, pois é a ocasião em que você se dá
conta da necessidade de ser criativo e ousado, ao mesmo tempo em que precisa
ser organizado e sensato nas propostas e decisões sobre o que vai pesquisar.
Quando se planeja uma viagem, o planejamento acaba revelando os desejos
e sonhos para com aquela experiência. Do mesmo modo, ao planejar a pesqui-
sa por meio de um projeto, você tem que lidar com suas expectativas e vontades
em relação ao trabalho que precisa desenvolver. Por isso, estabelecer um rotei-
ro para a pesquisa é algo que pode ser considerado criativo e uma expressão de
sua vontade, disposição e capacidade para desenvolver um trabalho.
Apesar de o projeto de pesquisa ser fundamental e funcionar como “um ro-
teiro pré-estabelecido e rigorosamente elaborado”, deve-se reconhecer que “o
projeto não é imutável, ao contrário, o caminho percorrido ao longo da pesquisa
acaba por imprimir-lhe novas características, novos aspectos, colocando novas
exigências para o investigador” (GONSALVES, 2001, p. 10). Isso mostra que o de-
senvolvimento da pesquisa pode confirmar ou não as decisões, os desejos, os so-
nhos e os propósitos contidos no projeto de pesquisa. Como afirma Gonsalves
(2001, p. 11), “o processo de investigação, pela sua riqueza, transforma o sonho,
por vezes reduzindo-o, por vezes ampliando mais ainda os seus horizontes”.
Se até aqui você tem lido sobre o projeto de pesquisa como preponderan-
temente um momento criativo e de manifestação de desejos sobre o que se vai
pesquisar, é bom adiantar logo que a elaboração do projeto de pesquisa não
para nos aspectos subjetivos ou pessoais do estudante ou pesquisador.
Na verdade, ainda que o projeto seja “uma apresentação organizada do con-
junto de decisões que você tomou em relação à investigação científica que pre-
tende empreender”, ele é também resultado de conhecimentos metodológicos
que possibilitam tanto a elaboração do projeto quanto o desenvolvimento da
pesquisa. Assim, o projeto precisa ser eficiente, coerente e bem fundamentado,
possuindo uma redação adequada, pois se trata de um documento escrito, a
própria materialização de um planejamento (GONSALVES, 2001, p. 10). Todas
essas observações podem ajudar a identificar o projeto de pesquisa como um
“instrumento de ação” que contribui para orientar e conduzir os estudos e as
investigações. Diferentemente do que muita gente pensa, ele não precisa ser
um estorvo ou um grande problema que dificulta a tarefa de desenvolver um
trabalho acadêmico e científico.
108 • capítulo 4
O projeto pode ser uma experiência de aprendizagem coletiva a partir da
comunicação com seus professores ou seu orientador e em função da troca de
experiência com colegas. Esse diálogo com professores e colegas, aliado à expo-
sição de seu projeto, pode levá-lo a descobrir novas possibilidades e a lidar com
possíveis dificuldades. Além disso, “o exercício de elaboração do projeto tem
uma finalidade pedagógica”, pois ele dá a oportunidade de trabalhar com algu-
mas regras do jogo científico, levando-o a aprender a lidar com elas de algum
modo (GONSALVES, 2001, p. 13).
Muitos alunos, mesmo reconhecendo a importância do projeto de pesqui-
sa, questionam em quais situações se deve elaborar esse documento. Em três
situações o estudante/pesquisador será compelido a elaborar e apresentar um
projeto de pesquisa como pré-requisito para o desenvolvimento de sua carreira
acadêmica e profissional.
capítulo 4 • 109
a) O que pesquisar?
Essa pergunta corresponde à definição do problema, às hipóteses que serão
consideradas e a base teórica e conceitual da pesquisa.
d) Como pesquisar?
Essa pergunta está vinculada à metodologia, aos procedimentos que serão
tomados ao longo da pesquisa.
e) Quando pesquisar?
Trata-se de estabelecer o cronograma da pesquisa.
g) Quem pesquisa?
A última pergunta está relacionada com a equipe de trabalho, com os pes-
quisadores e o orientador.
Esse núcleo básico de um projeto de pesquisa, como já foi dito, poderá ter
apresentações diversas. De todo modo, será oferecida uma sequência que você
poderá seguir para estruturar, elaborar e apresentar seu projeto de pesquisa.
110 • capítulo 4
4. Hipótese
5. Metodologia da pesquisa
6. Cronograma de execução
7. Referências (já consultadas)
Além do título provisório do artigo, que deve ser claro, conciso e conter indica-
ções do problema ou tópico a ser tratado, nos dados de identificação você deve-
rá identificar-se apresentando seu nome, a qual curso está vinculado, o nome
do orientador da pesquisa e também a linha de pesquisa a qual o projeto está
vinculado.
4.3.2 Justificativa
A justificativa dentro do projeto de pesquisa deve discorrer sobre as razões pelas quais
pretende desenvolver o projeto, informar se há conhecimento sobre o assunto e escla-
recer como o artigo pode contribuir para o avanço do tema escolhido.
capítulo 4 • 111
4.3.3 Problema de pesquisa e objetivos
112 • capítulo 4
Algumas recomendações práticas podem ser úteis na definição e redação
dos objetivos. Gonsalves (2001, p. 56) lembra que os “objetivos devem ser reais
e atingíveis, isto é, representam de fato a execução das atividades, manifestan-
do-se de forma concreta e possível dentro do tempo disponível”. Acrescenta
que os objetivos podem ser iniciados por um verbo no infinitivo, como definir,
identificar, verificar, examinar descrever, avaliar etc.
Para exemplificar a definição dos objetivos, é interessante você considerar
os exemplos que Gonsalves (2001, p. 56) oferece, a partir de Santos (1999, p.
64-65), na citação a seguir, que apesar de longa merece ser lida com atenção:
Vamos supor que o seu objetivo geral seja o de “analisar se o limão é eficaz no
combate aos resfriados”. Como você já fez uma revisão bibliográfica inicial,
tem algumas pistas de elementos que podem ajudar a resolver o problema. Por
exemplo, você já sabe que alguns aspectos são importantes nessa pesquisa,
como “o vírus do resfriado”, “os componentes químicos do limão”, “as reações
do vírus do resfriado aos componentes químicos do limão”. Essa é a fase de-
nominada “levantamento dos aspectos componentes importantes do proble-
ma” (SANTOS, 1999, p. 64). Feito isso, você passará para a segunda fase, que é a
transformação de cada um dos aspectos escolhidos em um objetivo, colocando
um verbo no início do enunciado que indique a atividade que você pretende re-
alizar. Exemplo: “examinar o vírus do resfriado”, “identificar os componentes
químicos do limão”. A partir daí, duas tarefas são propostas. A primeira a de
“verificar a suficiência dos objetivos específicos propostos”, isto é, você deve
se perguntar se o conjunto dos objetivos que você definiu é suficiente para que
você atinja o objetivo geral. A segunda tarefa é a de “decidir sobre a melhor se-
quência lógica”, ou seja, você deve ter o cuidado de estabelecer quais os assun-
tos que precedem a outros (SANTOS, 1999, p. 65). (GONSALVES, 2001, p. 58).
4.3.4 Hipótese
capítulo 4 • 113
4.3.5 Metodologia da pesquisa
a) Delinear a pesquisa: você deve definir o tipo de pesquisa que será rea-
lizada para atingir seu objetivo geral. Desse modo, a pesquisa pode ser classifi-
cada quanto ao objetivo, à fonte de informação, os procedimentos de coleta e
natureza dos dados.
b) População e amostra: a população1 precisa ser descrita de forma bem
completa, incluindo as características que interessam ao tema da pesquisa. A
amostra* inclui sua descrição e a do processo para selecioná-la, assim como as
informações sobre seu tamanho e as formas utilizadas para determiná-lo.
c) Coleta de dados: refere-se à definição dos instrumentos (entrevistas,
questionários, observação), dos dados primários e secundários, da preparação
e do procedimento de aplicação.
d) Análise dos dados: quando a pesquisa for quantitativa, deve-se especifi-
car o tratamento; se a pesquisa for qualitativa, deve-se definir o procedimento.
e) Definição dos termos e variáveis: corresponde a definições gerais e ope-
racionais das variáveis relacionadas com a problemática do estudo. (DIEHL &
TATIN, 2004, p. 98).
1 População ou universo é um conjunto de elementos que podem ser mesurados em relação às variáveis que se
pretende levantar, podendo a população ser formada por pessoas, famílias, empresas ou outros elementos, de acordo
com os objetivos da pesquisa. Amostra corresponde a uma porção ou parcela dessa população que foi selecionada
(DIEHL & TATIN, 2004, p. 98).
114 • capítulo 4
Um aspecto que deve ser salientado aqui diz respeito à coleta e análise de
dados.
Na coleta de dados, conforme o tipo de pesquisa que for desenvolvida, você
deve escolher técnicas que permitam a observação, a inquirição ou a análise de
documentos. Diante da natureza da sua investigação, por exemplo, você poderá
interrogar pessoas ou analisar documentos. Entre as técnicas ou formas de co-
leta de dados, as mais comuns são: observação, entrevista, questionário, teste e
análise documental (NASCIMENTO, 2005, p. 122).
A análise de dados possui um caráter explicativo e procura estabelecer
as relações que podem existir entre o dado pesquisado e outros fenômenos
(NASCIMENTO, 2005, p. 134).
A análise de dados pode ser empreendida em três níveis:
capítulo 4 • 115
4.3.7 Referências
Escolha do tema
Delimitação do tema
Justificativa do tema
Revisão da literatura
Formulação do problema
Enunciado da hipótese
Amostragem
116 • capítulo 4
Instrumentos
Procedimentos
capítulo 4 • 117
Para conhecer, os homens interpretam a realidade e colocam um pouco de
si nesta interpretação, assim, percebemos que Desde os primórdios da huma-
nidade a preocupação do homem em compreender e dominar a natureza é sig-
nificativa. Ao analisarmos o termo francês conhecer, tem-se connaissance, que
significa nascer (naissance) com (con), logo nota-se que o entendimento inicial
do ato de conhecer foi de algo capaz de ser transmitido através das gerações,
tornando-se parte da cultura e da história de uma sociedade.
O processo de construção do conhecimento é algo muito dinâmico, tendo-
se para cada novo fato uma nova análise, sempre repleta das experiências ante-
riores. Assim, a procura pela compreensão de si e do mundo circundante levou
o homem a trilhar caminhos diversos que ao longo do tempo construíram as
diretrizes do que hoje denominamos ciência.
A construção dessa compressão da natureza ocorreu por meio de experiên-
cias do cotidiano que levavam ao desenvolvimento de habilidades para lidar
com as situações cotidianas. Quando não conseguia dominar determinados fe-
nômenos, o homem atribuía-lhes causas sobrenaturais elaborando um conhe-
cimento abstrato a respeito daquilo que não podia ser explicado materialmen-
te. Assim, o conhecimento foi se dividindo, como verificamos anteriormente.
Notamos, portanto, que a ciência é uma necessidade do ser humano e que é
através dela que o homem busca o constante aperfeiçoamento e a compreensão
do mundo que o rodeia. Todavia, essa compressão não ocorre aleatoriamente
como nos primórdios, necessita de ações sistemáticas, analíticas e críticas, ne-
cessita do que denominamos método.
Método são etapas, organizadas que precisam ser cumpridas durante a investigação
científica ou para alcançar determinado fim. O Método indica O QUE fazer.
Técnica é a modo de realizar de forma mais hábil. A técnica indica COMO fazer.
118 • capítulo 4
Definição de Método
O termo método designa a ordem a ser seguida nos diferentes processos que são ne-
cessários para se chegar a determinado fim ou resultado. Em outras palavras, método
pode ser entendido como um procedimento regular, explícito e que pode ser repetido a
fim de se conseguir algo material ou conceitual.
É importante ressaltar que o método é apenas um meio de acesso: são a inteligência e
a reflexão que descobrem o que os fatos realmente são. Assim, o método científico tem
a intenção de descobrir a realidade dos fatos e estes, ao ser descobertos, devem guiar
o uso do método. É oportuno, portanto, distinguir os conceitos de método e processo.
Método pode ser entendido como o procedimento sistemático, o dispositivo ordenado,
em plano geral. Por sua vez, o processo (a técnica) é a aplicação do plano metodológi-
co e a forma específica de executá-lo. Pode-se afirmar que a relação existente entre
método e processo é similar à que existe entre estratégia e tática. O processo está,
portanto, subordinado ao método.
capítulo 4 • 119
O método científico utiliza-se da observação, da descrição, da comparação,
da análise e da síntese, além dos artifícios intelectuais (mentais) da dedução e
da indução, comuns a todos os tipos de investigação, racional ou experimental.
Em síntese, o método é ordenado, sistematizado e possuí um plano geral, sen-
do empregado para apreciar os méritos de uma pesquisa.
É pertinente, para aprofundar a discussão proposta, separar método da técnica e
desfazer um equívoco presente nas análises de muitos pesquisadores, especialmen-
te os iniciantes. A técnica nada mais é do que a aplicação do plano metodológico, é a
forma de executar, sendo a auxiliar imprescindível e subordinada ao método.
Há ainda um ponto que merece nossa atenção nesse momento de nosso es-
tudo, é o método racional. O método racional também é considerado científico
apesar de os assuntos a que se aplica não serem reais, fatos ou fenômenos sus-
cetíveis de comprovação experimental. As disciplinas que o empregam, como
as da área da filosofia, nem por este motivo deixam de ser verdadeiras ciências.
Todo o método esta sujeito ao objetivo da investigação, por exemplo, a filo-
sofia tem por objeto de estudo as coisas irreais ou inexistentes, questiona a rea-
lidade. Por isso, o ponto de partida do método racional é a observação dessa re-
alidade ou a aceitação de certas proposições evidentes, princípios ou axiomas,
para, posteriormente, prosseguir por dedução ou por indução, em virtude das
exigências lógicas e racionais (CHARLOT, 2000). Mediante o método racional,
que também se desdobra em diversas técnicas cientificas como a observação, a
analise, a comparação e a síntese, e técnicas de pensamento, como a indução,
a dedução, a hipótese e a teoria, procura-se interpretar a realidade quanto a sua
origem, natureza, destino e significado no contexto geral.
Busca-se através do método racional obter uma compreensão e uma con-
cepção mais amplas sobre o ser humano, sobre a vida, sobre o mundo que nos
circunda, sobre o ser. Essa cosmovisão, a qual conduz a investigação racional,
não pode ser testada ou nem ao menos comprovada experimentalmente e é
essa possibilidade de comprovar ou não as hipóteses que distingue o método
experimental (científico em sentido restrito) do método racional.
120 • capítulo 4
to, podendo até mesmo ser tido como uma arte, um artesanato mesmo, o que
permite as variações de estilo, de estratégias de busca por respostas. Podemos
dizer isso porque nessa fase, ou seja, durante o percurso, o pesquisador não
precisa “prestar contas”, o que ocorre no momento da avaliação do método que
é por ele aplicado.
Assim, mesmo parecendo paradoxal diante do que estudamos até aqui, o mé-
todo científico, que parece algo rígido por tratar das regras disciplinares da ciência,
possui significados muito amplos. Em alguns métodos, por exemplo, é a estatís-
tica elementar, começando com a média e o desvio padrão, não ultrapassando os
rudimentos de teoria das probabilidades, em outro caso encontramos questões de
epistemologia. Esses exemplos meramente ilustram a elasticidade do termo.
Mas onde estaria então o ponto de convergência entre os que pesquisam,
portanto utilizam os métodos, e os que pensam sobre os métodos, os filósofos
da ciência? Este ponto de encontro é a metodologia, cuja função é ajudar-nos
a entender não apenas os produtos da pesquisa científica, mas também o pró-
prio processo de elaboração do conhecimento.
A Metodologia Científica
A complexidade do método científico fez dele uma disciplina específica chamada me-
todologia. Metodologia Científica é a disciplina dos métodos de conhecer, dos métodos
de buscar conhecimento, é uma maneira de pensar para chegar as respostas para a
solução de um dado problema. O método científico é compreendido como o conjunto
de artifícios orientados por uma habilidade crítica e criadora focada na construção da
ciência, a pesquisa constitui seu principal instrumento ou meio de acesso.
Barros e Lehfeld (2007) afirmam que a metodologia não busca soluções, mas selecio-
na os modos de encontrá-las, integrando os conhecimentos a respeito dos métodos
em vigor nas diferentes disciplinas científicas ou filosóficas. A disciplina metodologia
científica teria como principal função a apresentação e o exame de diretrizes aptas a
instrumentar estudantes e pesquisadores no que tange a estudar e aprender. Essa
disciplina está, pois, voltada a assessorar e colaborar com o crescimento intelectual
do aluno/pesquisador, para a formação de um compromisso científico frente à reali-
dade. Metodologia científica não é, portanto, um amontoado de técnicas, embora elas
devam existir, mas sim uma disciplina que está sempre a serviço de uma proposta de
conhecimento. Estrutura-se, para que o conhecimento desenvolva os papéis que lhe
são impostos frente às necessidades culturais e científicas.
capítulo 4 • 121
Metodologia é a preocupação instrumental, cuida dos procedimentos, das
ferramentas, dos caminhos. Não deve ser compreendida como uma disciplina
auxiliar ao processo de estruturação do conhecimento, mas como uma discipli-
na fundamental para o amadurecimento científico, para a promoção do espíri-
to crítico, capaz de revisar o trajeto feito e preparar o por fazer. A metodologia
científica delimita a criatividade do pesquisador e a sua potencialidade no es-
paço de pesquisa, de trabalho.
Usualmente a metodologia pode ser compreendida basicamente em duas
vertentes mais tradicionais. A mais comum é aquela que deriva da teoria do
conhecimento e centra-se no esforço de transmitir uma iniciação aos proce-
dimentos lógicos do saber, geralmente voltada para a questão da causalidade,
dos princípios formais da identidade, da objetividade, da dedução e da indução
(DEMO, 2009). A outra vertente é a que está próxima da sociologia do conheci-
mento, que acentua mais o débito social da ciência, mas sem desprezar a outra.
Trata-se, na verdade, de uma acentuação preferência, e por isso não pode, subs-
tituir a outra. Deste modo, não afirmamos que um trabalho é mais importante
que outro porque está calcado mais na ótica sociológica ou na teoria do conhe-
cimento, pois o que realmente interessa é a pesquisa sendo importante apenas
que os pesquisadores reconheçam a existência de propostas ligadas ou não aos
procedimentos lógicos e epistemológicos.
Alerta!
122 • capítulo 4
A dimensão positiva é o método, como um mapa da estrada a ser trilhada no curso da
pesquisa. A negativa é ver o método como um controle de qualidade do produto final, isto
é, a pesquisa. São coisas diferentes e cada um tem o seu lugar (CASTRO, 2006, p.32).
CONEXÃO
Por que utilizamos um Método? A opção por um método viabiliza a redução das interferências
pessoais (emocionais e/ou culturais) que podem aparecer na observação e experimentação
dos fenômenos em estudo. Saiba mais em: http://www.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/
metodologia_cientifica....pdf
capítulo 4 • 123
nômenos semelhantes. Assim, um pesquisador dedutivo não ignora os dados
existentes, pois já verificou aspectos semelhantes e um pesquisador indutivo
já leu os livros ou artigos científicos que abordam as teorias pertinentes. O de-
dutivo analisa as teorias e, posteriormente, vai atrás dos dados e o indutivo vai
observar, analisar os dados, deixando que a realidade vá sugerindo os rumos
que tomará suas formulações teóricas.
notamos que a ciência se faz na gangorra entre a indução e a dedução, não há ciência
sem as elucidações que estruturam o que é observado e não há ciência sem o retorno
ao mundo real observado.
Repetindo, somos livres para escolher o método com o qual nos sentimos mais con-
fortáveis. Podemos também escolher o problema com que vamos trabalhar, mas não
podemos escolher os dois ao mesmo tempo. Em boa medida, o problema impõe o
método. Se quisermos ficar no método de nossa preferência, pode ser preciso mudar
de problema (CASTRO, 2006, p.35).
124 • capítulo 4
forma mais impositiva, de caráter mais imperativo. É a face do método que nos
descreve o que não podemos fazer e o que somos sujeitados a fazer para que os
resultados da pesquisa tenham validade científica.
Agora faz sentindo falarmos em dimensão negativa do método? Sim, por-
que todas as grandes pesquisas passaram por testes, resistindo positivamente
a eles. O método usado para a realização da pesquisa deve, então, permitir ao
pesquisador não apenas chegar a resultados válidos, mas também permitir a
percepção de falhas na construção destes resultados ou teorias. Além do cami-
nho a ser seguido, o método deve garantir que uma dada proposição científica
resista as tentativas de derrubá-la (CASTRO, 2006).
4.5 As técnicas
Até aqui discutimos os diversos discursos sobre o método, agora, após o percur-
so feito, é o momento de compreendermos quais são as técnicas utilizadas para
a efetivação do método. Isso mesmo, o método concretiza-se com o conjunto de
etapas que devem ser cumpridas para a realização da pesquisa e que configu-
ram as técnicas (SEVERINO, 2010).
Os objetivos a serem alcançados pela pesquisa determinam o tipo de méto-
do que a ser empregado, o experimental ou o racional, que empregam técnicas
específicas ou comuns a ambos para o desenvolvimento sistemático do traba-
lho de pesquisa. Como a maior parte das técnicas que compõem o método cien-
tífico e racional é comum, embora seja necessária a adaptação aos objetivos de
cada investigação, as técnicas que vamos analisar aqui estão ligadas ao método
experimental e, indiretamente, também ao método racional.
Portanto, cada pesquisa tem sua metodologia e exige o uso de técnicas es-
pecificas para a aquisição dos dados. Selecionado o método, as técnicas a se-
rem usadas serão consequentemente selecionadas, em conformidade com os
objetivos da investigação científica (ANDRADE, 2010). Uma pesquisa pode ser
realizada apenas com a aplicação de questionários; outra pode exigir o uso da
entrevista, da observação direta e da pesquisa de campo. O mais importante
é adequar as técnicas às características da pesquisa que se pretende realizar,
sempre tendo em vista que a coleta bem feita dos dados facilita, significativa-
mente, o desenvolvimento da pesquisa.
capítulo 4 • 125
Mas o que exatamente são as técnicas? As técnicas para a concretização do
método são os procedimentos científicos utilizados por uma ciência em suas
pesquisas. As técnicas em uma ciência são os meios corretos para a execução
das operações de tal ciência, devendo o pesquisador pertencente a esse grupo
dominar certas técnicas utilizadas para poder trabalhar. Assim, há técnicas
associadas a certos testes de laboratório, à coleta de informações a partir da
observação do comportamento humano em determinada situação, como den-
tro do espaço escolar, por exemplo; técnicas para a realização de entrevistas,
dentre outras. Todavia, é importante esclarecer que existem técnicas que são
compartilhadas por diversas ciências, são procedimentos comuns a diversas
áreas do conhecimento.
Existe, pois, um conjunto de técnicas basicamente análogo para todas as ci-
ências, que compreende um número de procedimentos, aplicações científicas
ou operações que perpassam qualquer tipo de pesquisa, pois auxiliam sempre
na formulação de questões ou levantamento de hipóteses, na observação, no re-
gistro cuidadoso dos dados observados e na construção de explicações (CERVO;
BERVIAN; SILVA, 2007, p.30) Essas técnicas são a observação, a descrição, a
comparação, a análise , a síntese, a experimentação, as técnicas de abordagem
e também as técnicas de coleta de dados e contribuem para o desenvolvimento
da pesquisa porque são utilizadas para:
126 • capítulo 4
Veja como esta autora, Inês Lacerda Araújo, apresenta a discussão sobre o método e
a técnica.
Os métodos têm alcance mais amplo que as técnicas. Técnicas são processos definidos
e delimitados que servem para atingir conhecimentos úteis; servem de guias para a prá-
tica de modo geral, podendo servir ainda a propósitos específicos de cada ciência, tais
como: mensuração, uso de instrumentos, modos de agir na coleta de dados, emprego
de questionários, levantamentos estatísticos, projeções gráficas etc.
Já os métodos dependem de regras gerais, cujo emprego capacita a avaliar, aceitar
ou rejeitar o conjunto bastante amplo das técnicas. O método, como indica a palavra,
é um caminho, um conjunto de regras e procedimentos comuns a várias ciências, que
permitem obter explicações, descrições e compreensão, sendo a compreensão mais
adequada para as ciências humanas. Tendo em vista este objetivo, o método poderá
ser o da observação e da descrição, o da experimentação, o da construção de sistemas
formais e modelos explicativos, o de levantamento e teste de hipóteses, com explica-
ções através de leis e/ou teorias. Todos eles têm caráter dedutivo, indutivo ou ambos.
Do emprego de um ou mais destes métodos, resultam conhecimentos acerca de um
determinado recorte da realidade, suscetíveis de algum tipo de validação, seja o simples
teste empírico seja o confronto crítico de hipóteses e teorias.
Da relação entre ciência e técnica resultam avanços formidáveis tanto para uma como
para outra. A técnica, algumas vezes, provém da ciência; outras vezes é a ciência que
é devedora dos aparatos técnicos que favorecem medidas cada vez mais detalhadas
e observações cada vez mais precisas. Da técnica da mensuração de solos nasceu,
por exemplo, a geometria e da máquina a vapor nasceram os elaborados conceitos da
termodinâmica.
Mais recentemente, a ciência passou a ter seus conhecimentos teóricos aplicados e o
resultado disto é a tecnologia moderna, que outra coisa não é senão a pura pesquisa
científica aplicada.
A ciência não tem, no entanto, a sofisticação da técnica. A ciência nasce antes de obs-
táculos, de problemas que a observação atenta e a experimentação rigorosa detectam
como fatos incompatíveis com a(s) científica(s) vigente(s).
ARAÚJO, Inês Lacerda. Introdução à
filosofia da ciência. 2. ed. Curitiba:
Ed. da UFPR, 1998, pp. 15-16.
capítulo 4 • 127
4.5.1 Observação
128 • capítulo 4
é a observação planejada ou controlada, tem como
características o uso de anotações e o controle do
OBSERVAÇÃO tempo e da periodicidade, recorrendo também ao uso
SISTEMÁTICA de recursos técnicos, mecânicos e eletrônicos. É re-
(ESTRUTURADA) alizada em condições controladas para atender es-
pecificamente a propósitos anteriormente definidos;
capítulo 4 • 129
TIPOS DE OBSERVAÇÃO
VANTAGENS DA OBSERVAÇÃO:
130 • capítulo 4
• Exige menos do observador do que outras técnicas
• Depende menos da introspecção ou da reflexão
• Permite a evidência de dados não constantes do roteiro de entrevistas ou de questionários.
LIMITAÇÕES DA OBSERVAÇÃO:
4.5.2 Descrição
4.5.3 Comparação
capítulo 4 • 131
A comparação, para ter validade científica, deve estar sempre acompanhada
da análise e da síntese, como veremos posteriormente, porque esses são passos
fundamentais para a identificação das propriedades gerais e das características
particulares de cada um dos termos ou elementos comparados.
132 • capítulo 4
4.5.5 Experimentação
capítulo 4 • 133
A experimentação científica pode ser de dois tipos, a experimentação em
campo e a experimentação em laboratório. Nos experimentos realizados em
campo, todos os eventos são realizados em ambiente externo e, portanto, não
controlado e os dados são registrados a partir das reações resultantes das va-
riáveis que o pesquisador introduz no experimento. Já na experimentação em
laboratório, o ambiente para a realização da experiência é controlado e todas as
variáveis são controladas e introduzidas pelo pesquisador.
Francis Bacon, como estudamos anteriormente, pode ser considerado um
dos principais cientistas a sistematizar a experimentação ao organizar o méto-
do das coincidências constantes (BARROS; LEHFELD, 2007). Posteriormente,
Stuart Mill, apresentou um número significativo de combinações que podem
conduzir a causa determinando do aparecimento dos fenômenos, apresentan-
do, assim, os métodos de exclusão que se baseiam em regras fundamentais.
CONEXÃO
http://www.cobea.org.br/
A indução e a dedução não são métodos científicos propriamente ditos. São mais ade-
quadamente caracterizados como forma de abordagem de um tema, formas de racio-
cínio ou de argumentação e, como tais, são formas de orientar a reflexão, e não de
simples produção de pensamentos (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007, p.42).
134 • capítulo 4
4.5.7 Dedução
A lógica aristotélica
A ciência lógica foi “descoberta” pelos gregos, todavia, não podemos dizer que o pensa-
mento lógico não existisse antes deles, este é tão antigo quanto o ato de pensar, pois
toda imaginação fértil é controlada por regras de lógica. A Aristóteles cabe o mérito
de ter iniciado o estudo orgânico das regras lógicas. Aristóteles foi o primeiro a tratar
a lógica com rigor avançado, especialmente na obra Analíticos. Nessa obra o filósofo
faz uma análise do pensamento nas suas partes integrantes. Essa e outras obras sobre
o assunto forma denominadas, posteriormente e em conjunto, Órganon, que signifi-
ca “instrumento”, instrumento para se pensar corretamente. Todavia, devemos lembrar
novamente, que o próprio Aristóteles não utilizou a palavra lógica, que só foi forjada
tempos depois.
Apesar disso, a lógica seria para seu precursor não uma disciplina teórica, mas sim um
instrumento de para as ciências, daí o nome Órganon, instrumento para as ciências
pensarem corretamente.
capítulo 4 • 135
De acordo com Marilena Chauí, a lógica aristotélica, como ficou posteriormente conhe-
cida, apresenta as seguintes características:
Acreditamos que o mérito principal desse importante filósofo grego foi ter fixado com
exatidão as regras da argumentação dedutiva, na forma do silogismo.
O silogismo (método de dedução de uma conclusão por meio de duas premissas) pos-
suí três proposições, duas primeiras que são chamadas “premissas” e a terceira, deno-
minada “conclusão”. As três proposições são construídas apenas três termos, denomi-
nados “médio”, “maior” e “menor”. O termo médio aparece duas vezes nas premissas,
mas não na conclusão. O termo maior e o termo menor figuram nas premissas e na
conclusão. O maior está presente na premissa maior e o menor na premissa menor.
Por exemplo, no silogismo: “todos os homens são racionais; Sócrates é homem; logo,
Sócrates é racional”.
Termo médio: Homem
Termo maior: Racional
Termo menor: Sócrates
136 • capítulo 4
As premissas (etimologicamente: “que foram colocadas antes”) são as hipóteses ini-
ciais a partir das quais tiramos as conclusões. A hipótese, ou proposição, é tudo o que
pode ser afirmado ou negado. Por exemplo: Todo gato é mamífero ou Animal não é
mineral. As proposições (hipóteses) podem ser verdadeiras ou falsas e os argumentos
dizemos que são válidos ou inválidos. Uma proposição pode ser considerada verdadeira
quando corresponde ao fato que expressa e um argumento é válido quando sua con-
clusão é conseqüência lógica de suas premissas.
4.5.8 Indução
capítulo 4 • 137
Apesar da aparente fragilidade da indução, que não alcança o rigor do raciocínio dedu-
tivo, trata-se de uma forma muito fecunda de pensar, responsável pela fundamentação
de grande parte dos nossos conhecimentos na vida diária e de grande valia nas ciên-
cias experimentais. Além disso, todas as previsões têm base na indução, ou seja, no
raciocínio que, partindo de alguns casos da experiência presente, nos faz inferir que o
mesmo poderá ocorrer mais tarde. (ARANHA; MARTINS, 2003, p.104).
4.5.9 Intuição
A palavra intuição significa ver por dentro, mas apesar de um significado claro
o seu conceito pode variar de acordo com a corrente do pensamento. Por exem-
plo, para o grego Platão, existiriam quatro níveis de conhecimento, do inferior
ao superior, sendo estes a crença, a opinião, o raciocínio e a intuição (CHAUÍ,
2006). Kant compreendia a intuição como o conhecimento que se relaciona
imediatamente com os objetos.
A intuição sempre foi e continua sendo um conceito polêmico dentro
das ciências porque está no campo da subjetividade, uma vez que para uma in-
tuição ser aceita é necessário que o indivíduo tenha um conhecimento prévio
e que também tenha observado, registrado, analisado, além de possuir certa
dose de criatividade.
Percebemos então que a intuição é algo que pode ser desenvolvido através
do estudo, da leitura, da participação cultural, porque é uma condensação de
conhecimentos anteriores.
138 • capítulo 4
4.5.10 Inferência
A inferência, como se vê, é uma operação mental que leva a concluir algo a partir de certos
dados antecedentes. É uma extensão do conhecimento. É uma passagem do conhecido ao
não conhecido. Implica uma espécie de salto dos dados estabelecidos e verdades aceitas
para novas verdades com elas relacionadas. Esse salto ou passagem recebe sua justifica-
ção da validade do antecedente e da continuidade lógica que a inteligência crê descobrir
entre os fenômenos implicados e os fenômenos novos. A essa transposição do conhecido
ao desconhecido dá-se também o nome de ilação (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007, p.50).
capítulo 4 • 139
A coleta de dados ocorre na fase intermediária porque deve ser feita após
a escolha e a delimitação do tema, a formulação do problema de pesquisa, o
esclarecimento dos objetivos, o agrupamento dos dados e a identificação das
variais envolvidas.
Essa fase intermediária da pesquisa envolve passos como a determinação
da população a ser analisada, a elaboração do instrumento que será utilizado
para a coleta de dados, programação dessa coleta e o treinamento, quando ne-
cessários, dos auxiliares que também trabalharão na coleta dos dados.
Os instrumentos de coleta de dados mais utilizados, que analisaremos a se-
guir, são a entrevista e o questionário.
4.5.12 Entrevista
CONEXÃO
http://www.emtese.ufsc.br/3_art5.pdf: Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em
Ciências Sociais
140 • capítulo 4
Apesar da flexibilidade apresentada, a coleta de dados por meio da entrevis-
ta exige do pesquisador muito cuidado no processo de seleção e treinamento
dos entrevistadores, porque o sucesso desta técnica está diretamente relacio-
nado com a relação entrevistador e entrevistado. Para que os objetivos sejam
alcançados o entrevistador deve saber observar e saber buscar algo de preciso,
necessita ter uma malícia para compreender o entrevistado.
Adequada para o desenvolvimento de levantamentos sociais, a pesquisa
tem como vantagens à agilidade, não exige exaustiva preparação dos pesquisa-
dores, possibilita a análise estatística dos dados através das respostas padroni-
zadas, porém sua limitação é o fato de não possuir um maior aprofundamento
em perguntas pré-fixadas.
Para maior êxito devem-se observar algumas pontos fundamentais como a
forma como será feito o contato inicial entre entrevistador e entrevistado, como
serão formuladas as perguntas, se serão utilizados estímulos a respostas com-
pletas e quais serão esses, como serão registradas as respostas, quando e como
deverá ser encerrada a entrevista.
As pesquisas utilizadas para a coleta de dados que servirão para a estrutura-
ção de um trabalho acadêmico pode ser padronizadas ou estruturadas ou não
estruturadas. A pesquisa padronizada é aquela que segue um roteiro prévio, já
a entrevista não estruturada é mais informal, mas dividi-se em: focalizada, que
possui um roteiro com alguns tópicos; clínica, para analisar sentimentos e rea-
ções; não dirigida, que garante liberdade total ao entrevistado e painel, que usa
a repetição de perguntas para estudar mudanças de opiniões (ANDRADE, 2010).
Vantagens da entrevista
capítulo 4 • 141
Limitações da entrevista
142 • capítulo 4
• Seja objetivo, para evitar que a entrevista fique cansativa;
• Interaja com o entrevistado para que ele não sinta que
está falando sozinho;
• Anote imediatamente as informações do entrevistado,
DURANTE A sem deixar que ele fique esperando sua próxima inquiri-
ENTREVISTA ção, enquanto você anota;
• Caso opte pelo uso de um gravador, não se esqueça de
solicitar a permissão do entrevistado para tal;
• Lembre-se que o uso do gravador pode inibir o entre-
vistado.
CONEXÃO
A entrevista em situação de pesquisa acadêmica: reflexões numa perspectiva discursiva
http://cpd1.ufmt.br/meel/arquivos/artigos/24.pdf
4.5.13 Questionário
capítulo 4 • 143
As perguntas de um questionário dependem da natureza da informação
que se deseja coletar, do nível sociocultural da população que será interrogada.
Para que os objetivos sejam satisfatoriamente atingidos e o questionário não
se torne um mero adereço dentro da pesquisa, as questões devem ser bem re-
digidas e traduzir os objetivos da pesquisa, para isso ao elaborar as questões o
pesquisador precisa considerar a forma, o conteúdo, a escolha, a formulação, a
quantidade, a ordem e as deformações.
O pesquisador que utilizar o questionário para sua coleta de dados jamais
poderá desconsiderar que o conteúdo da resposta está diretamente relaciona-
do com a maneira como foi formulada cada uma das perguntas e também do
interesse do interrogado em relação ao tema.
Para garantir o sucesso da aplicação dos questionários os pesquisadores
devem elaborar uma introdução ao questionário ou uma carta separada infor-
mando os objetivos da pesquisa, qual a entidade pesquisadora, as razões desse
estudo e como as questões poderão ser respondidas.
Antes de aplicar o questionário o pesquisador individualmente ou com seu
grupo de pesquisa deve testar a aplicação das questões para identificar falhas
como falta de clareza na redação, complexidade, presença de questões desne-
cessidade ou fora de contexto, constrangimento ao informante, exaustão, den-
tre outras e também para assegurar validade e precisão de um questionário.
Essa verificação prévia é denominada pré-teste e comumente é aplicado em
grupo de 10 a 20 pessoas com as mesmas características da população que se
pretende pesquisar. Após a aplicação do pré-teste, os participantes devem ser
questionados acerca de suas impressões e dificuldades no momento de realiza-
ção do questionário (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007).
Vantagens do questionário:
144 • capítulo 4
Limitações do questionário:
ATIVIDADES
03. Durante uma visita à biblioteca, examinar as obras voltadas para a pesquisa e seus
métodos e técnicas. Por meio da verificação do índice avaliar se ensinam ferramentas para
conduzir as pesquisa ou se tratam dos problemas de controlar a qualidade dos resultados.
Nos livros que tratam de ambos, selecionar os capítulos correspondentes a cada fase.
REFLEXÃO
Texto 1: Elaboração do projeto de pesquisa
O projeto das pesquisas descritivas experimental deve conter informações sobre diver-
sos aspectos do trabalho, tais como:
• Tipo de pesquisa;
• Delimitação do assunto, com o tópico ou enfoque a ser estudado;
• Objetivos, com a indicação do que se pretende alcançar com a pesquisa;
• Justificativa que envolva a delimitação do problema, análise de situação que o projeto
pretende modificar e uma demonstração de como a modificará;
• Revisão da literatura referente à questão;
• Formulação do problema, indicando a questão ou dúvida a ser esclarecida;
• Hipótese, que é a tentativa de explicação do problema levantado;
• Definição operacional das variáveis da hipótese; com a indicação das variáveis de controle;
• População e amostragem, com sua descrição e indicação dos critérios para sua constituição;
capítulo 4 • 145
• Instrumentos da pesquisa e como serão aplicados na coleta de dados;
• Procedimentos para constituição ou não de grupo de controle e com relação a como serão
conduzidos a coleta é o registro das informações;
• Análise dos dados, em que se fará a comparação e confronto dos dados e das provas des-
tinadas a comprovar ou a rejeitar a hipótese;
• Discussão dos resultados, que possibilite a interpretação e à generalização dos resultados
a partir da análise dos dados;
• Orçamento, com previsão de despesas com pessoal, materiais e serviços;
• Cronograma de execução, com a indicação do escalonamento no tempo de todas as fases
e tarefas da pesquisa;
• Conclusão e observações sobre o projeto;
• Anexos, com as normas e os instrumentos de coleta de dados, de acompanhamento, de
avaliação e controle;
• Bibliografia referente ao assunto de pesquisa.
Tudo deve ser estudado e planejado para que as fases da pesquisa se processem nor-
malmente, sem riscos de surpresas desagradáveis. O projeto de pesquisa é, muitas vezes, a
garantia de seu êxito. Evidentemente, o projeto de pesquisa pode ser modificado, adaptando
se às novas contingências. Ele será sempre motivo de tranquilidade para o pesquisador,
além de testemunhar seu espírito sistemático e à sua força de vontade. Todo pesquisador
deve desenvolver a capacidade de elaborar projetos de pesquisa, pelo menos para atender a
seus interesses pessoais ou do grupo em que está inserido.
As instituições de fomento à pesquisa, tanto públicas como privadas, possuem geral-
mente um roteiro próprio com instruções específicas para montagem e apresentação do
projeto de pesquisa que pretendem obter esse tipo de financiamento. O interessado deve
então se orientar pelo modelo relevante. Veja no companion website alguns exemplos esco-
lhidos para você se cadastrar nas instituições de fomento à pesquisa e apresentar projetos.
Não raro ocorre, porém, que a elaboração do projeto, sobretudo quando se trata de pes-
quisas importantes, seja confiada aos técnicos em planejamento que fazem parte dos institutos
de pesquisa e planejamento. Nossas universidades, em boa hora, procuram um criar órgãos
que têm, entre outras finalidades, fornecer assistência direta aos estudantes, incentivando-os
e orientando os seus passos na pesquisa. Veja no companion website alguns exemplos de
roteiro de projetos exigidos por programas de pós graduação de universidades brasileiras
146 • capítulo 4
Texto 2: O Jogo da Ciência
capítulo 4 • 147
Neste cenário, a observação do mundo não se preta à conclusão, nem mesmo à mania
classificatória própria do pensamento moderno. É preciso afirmar uma postura mais respei-
tosa com as múltiplas experiências da vida cotidiana, distanciada das noções afirmadas pela
Razão Moderna.
É no interior desse debate que emerge o movimento instituinte que tende a modificar as
regras da ciência: a aparência não é um dado a ser ultrapassado: ela é considerada em si, já
que, como disse Novalis, o exterior é um interior elevado a estado de mistério.
É certo que algumas pessoas tendem a reagir às novas concepções com misoneísmo,
isto é, com hostilidade a inovação, à mudança. Por certo, é cômodo entrincheirar-se por trás
de um método universal, desencarnado.
Mas é sempre bom lembrar da belíssima passagem de Hegel que afirma que a filosofia
somente toma uma forma quando a realidade terminou o seu processo de formação: não no
início do crepúsculo, que a coruja de Minerva alça vôo. Pense nisso.
LEITURA
BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico. Contribuição para uma psicanálise do
conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996
RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 23. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
1998, p. 29-33.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 10 ed. São
Paulo: Atlas, 2010.
ARANHA, Maria Lucia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. 3 ed. São Paulo:
Moderna, 2003.
ARAÚJO, Inês Lacerda. Introdução à filosofia da ciência. 2. ed. Curitiba: Ed. da UFPR, 1998.
BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico. Contribuição para uma psicanálise do
conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996
148 • capítulo 4
BARROS;Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos da
metodologia científica. 3 ed. São Paulo: Pearson, 2007.
CASTRO, Claudio de Moura. A prática da pesquisa. 2 ed. São Paulo: Pearson, 2006
CERVO, Amado Luiz. BERVIAN, Pedro Alcino. SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6 ed. São
Paulo: Pearson, 2007.
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Trad. B. Magne. Porto
Alegre: Artmed,2000.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13 ed. São Paulo: Ática, 2006.
DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 2009.
DIEHL, Astor A.; TATIN, Denise C. Pesquisa em ciências sociais aplicadas: métodos e técnicas.
São Paulo: Prentice Hall, 2004.
GONSALVES, Elisa P. Iniciação à pesquisa científica. São Paulo: Alínea Editora, 2001.
JAPIASSÚ, Hilton. MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4 ed. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2006.
MARCONI, Marina de Andrade.; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico. São
Paulo:Atlas, 2010.
NASCIMENTO, Dinalva M. Metodologia do trabalho científico. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 23. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
1998.
RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica. Guia para eficiência nos estudos. 6 ed. São Paulo: Atlas,
2008.
SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento. Rio de
Janeiro: DP & A, 1999.
SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2010
capítulo 4 • 149
150 • capítulo 4
5
O Trabalho de
Conclusão de Curso
Um dos objetivos deste livro de Metodologia da Pesquisa é apresentar ele-
mentos teóricos para a futura elaboração do trabalho de conclusão de curso
(TCC), ou seja, fornecer instrumental para a prática de pesquisa em si.
Assim, veremos neste último capítulo algumas das características do temido
e inevitável Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e informações relevantes
para a elaboração da pesquisa.
OBJETIVOS
• Discutir as principais características de um do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC);
• Analisar o que é plágio e suas implicações;
• Compreender as implicações a aplicações da normalização e padronização da investigação
científica e da comunicação dos resultados da pesquisa;
• Aplicar adequadamente as normas referentes à pesquisa científica e à apresentação de
trabalhos acadêmicos.
152 • capítulo 5
5.1 Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
O trabalho de conclusão de curso (TCC) pode ser realizado pelos estudantes que
estão terminando um curso de graduação, de especialização ou de aperfeiçoa-
mento. O principal objetivo deste trabalho acadêmico-científico é a divulgação
dos dados obtidos, analisados e registrados, permitindo a outros pesquisadores
utilizar as informações ali compiladas como fontes de pesquisa, capazes de nor-
tear futuros trabalhos facilitando a recuperação no diferentes sistemas de infor-
mação utilizados. Apresenta o fruto de estudo, devendo expressar conhecimento
do assunto abordado, que deve ser obrigatoriamente emanado da disciplina ou
conjunto de disciplinas, curso, programa e outros (ABNT/NBR 14724, 2011).
De acordo com Barquero (1979, p. 16-25 apud OLIVEIRA, 1999, p. 237-238),
podemos analisar o trabalho de conclusão de curso, especialmente o de gradu-
ação como:
• Repetir o que já foi dito por outro, sem se apresentar nada de novo ou em
relação ao enfoque, ao desenvolvimento ou às conclusões;
• Responder a uma espécie de questionário; não é executar um trabalho se-
melhante ao que se faz em um exame ou deveres escolares;
• Manifestar meras opiniões pessoais, sem fundamentá-las com dados
comprobatórios logicamente correlacionados e embasados em raciocínio;
• Expor ideias demasiado abstratas, alheias tanto aos pensamentos, preo-
cupações, conhecimentos ou desejos pessoais do autor da monografia como de
sua particular maturidade psicológica e intelectual;
• Manifestar uma erudição livresca, citando frases irrelevantes, não perti-
nentes e mal-assimiladas, ou desenvolver paráfrases sem conteúdo ou distan-
ciadas da particular experiência de cada caso.
capítulo 5 • 153
• Utiliza de forma inteligente as leituras e as experiências para comprovação;
• Comunica aos demais seus resultados.
154 • capítulo 5
devem sempre apresentar de forma clara, direta e precisa a ideia central neles contida.
Além disso, todas as partes devem estar articuladas, logicamente, a partir da ideia prin-
cipal, que gera a visão hamoniosa e quilibrada do todo (RUIZ, 2008, p.76).
CONEXÃO
Dica de filme Epidemia (EUA, 1995, Wolfgang Petersen).
capítulo 5 • 155
Deste modo, nos deparamos com as questões éticas relacionadas à pesquisa
científica e seus resultados. Acreditamos que essas questões podem ser anali-
sadas sob dois ângulos, o primeiro, relaciona-se aos impactos da utilização dos
conhecimentos científicos na vida cotidiana; o segundo, refere-se aos meios de
aquisição do conhecimento dentro da comunidade científica.
Quanto aos impactos da pesquisa científica na vida humana, há questões
éticas como: a solução apresentada respeita o indivíduo em seus aspectos físi-
co, moral e psicológico? Respeita a sua autonomia? Preserva os seus direitos?
Garante a sua liberdade? Já em relação aos caminhos selecionados para a aqui-
sição do conhecimento, as questões éticas indagam sobre a conduta e atitude
do cientista ou de sua comunidade: O pesquisador teve atitude ética de respeito
aos sujeitos envolvidos na pesquisa? Os dados usados são seguros? Foi fiel aos
dados conseguidos? Há referências às fontes de informação? Algum dado foi
“produzido”?
Os meios para a aquisição do conhecimento científico têm suscitado, nas
últimas décadas, uma quantidade significativa de questões éticas nos ambien-
tes de produção científica. Os debates foram tão inflamados que conduziram
a fundação de órgãos de avaliação da pesquisa científica, sob o ponto de vista
ético. No Brasil atualmente, todas as instituições de ensino e pesquisa devem
possuir um Comitê de Ética em Pesquisa, devidamente registrado no governo
federal e toda pesquisa, que necessite ou não de financiamento, deve subme-
ter-se ao referido comitê. O Comitê de Ética em Pesquisa avalia todas as pes-
quisas que envolvam não apenas animais ou estejam relacionadas a aspectos
físicos/clínicos, mas também para pesquisas que possam causar algum dano
moral ou psicológico ao sujeito participante.
É pertinente destacar que ainda são recentes os esforços para a adoção de
procedimentos éticos na pesquisa em Ciências Sociais e Humanas, isso se con-
firma ao verificarmos que a maioria das discussões sobre a ética na pesquisa
vêm das Ciências Biológicas. Encontramos muitos livros, por exemplo, sobre
ética e biossegurança e mesmo os Comitês de Ética em Pesquisa são compos-
tos por cientistas das áreas saúde. Porém, entre os pesquisadores das Ciências
Sociais e Humanas amplia-se gradativamente o debate e o interesse pelas ques-
tões e dilemas éticos inerentes à prática de pesquisa (SOUZA,2003).
Alguns aspectos e temas da conduta humana são comuns às diversas áreas
do conhecimento no que tange a ética, como, por exemplo, o cuidado no trato
dos dados da pesquisa, o respeito à integridade do corpo humano, e a busca
156 • capítulo 5
do conhecimento como ferramenta de utilidade coletiva. Contudo as Ciências
Humanas e Sociais têm já na sua escrita um ambiente de intensa reflexão éti-
ca em virtude do significativo valor que se dá ao texto como apontamento das
ideias, como peça de organização do pensamento e como meio de comunica-
ção e difusão dos saberes elaborados.
capítulo 5 • 157
Atualmente as agências financiadoras da pesquisa científica e organizações
e comitês de ética em pesquisa, resumiram em três os principais problemas que
comprometem a conduta no meio científico, essa trilogia da impostura científi-
ca seria composta pela mentira, pela falsificação e pelo plágio (GOLDIM, 2000).
A mentira deve ser compreendida como o ato através do qual um emissor dissi-
mula aquilo que ele reconhece como verdadeiro, tentando fazer com que o ou-
vinte/leitor aceite ou acredite ser verdadeiro algo que é sabidamente falso. É a
intenção de dizer o falso, sendo, portanto, moralmente condenável (JAPIASSÚ,
MARCONDES, 2006). A falsificação ocorre quanto o estudioso afirma ou teori-
za sobre algo que não corresponde à realidade, ou seja, que não pode ser con-
firmado. Mas não está relacionada com a falseabilidade criada como critério
metodológico por Karl Popper e o plagio, sobre o qual discutiremos detalhada-
mente, é a apresentação o um trabalho ou obra intelectual de outro autor.
O site www.ori.hhs.gov, criado pelo governo dos Estados Unidos para inves-
tigar os casos de má conduta científica e também controlar a pesquisa apre-
senta alguns casos recentes de fraudes assumidas por cientistas renomados
em vários países. São casos de pesquisadores ou grupos de pesquisadores que
falsificaram dados, cometeram plágio, não analisaram dados contrários a tra-
balhos anteriores ou simplesmente não documentaram suas pesquisas.
Mas quais são os impactos de condutas irresponsáveis? Os impactos da má
conduta no meio científico e na sociedade são muitos: descrédito do público
na pesquisa científica, desconfiança entre pesquisadores, prejuízo dos investi-
mentos feitos, problemas físico, psicológicos e morais aos sujeitos participan-
tes. Esses impactos são muito evidentes porque existe uma conexão direta ou
indireta de praticamente todo conhecimento científico relativamente a deci-
sões tomadas pelos cientistas, quer individualmente, quer dentro de sua comu-
nidade científica, decisões essas que, frequentemente estão ligadas a agentes
sociais, econômicos, políticos e religiosos.
O que hoje efetivamente é investigado pela ciência atende, cada vez mais,
aos interesses de um número significativo de pessoas, que, de alguma forma,
participam das decisões que são tomadas durante o processo de elaboração
dos resultados e virtualmente sob o alcance das responsabilidades morais e éti-
cas desses resultados.
Apesar dessas conseqüências a maioria da população não tem consciência
das implicações que a ética científica tem em suas vidas uma vez que a pes-
quisa científica está cada vez mais direcionada para atender aos mais diversos
158 • capítulo 5
interesses e não está afastada do resto da sociedade, muito pelo contrário. Há
um equivoco em relação aos rumos da pesquisa científica, pois estes não são di-
tados pela comunidade científica, mas pela sociedade, pelas e seus interesses,
muitas vezes diversos e conflitantes (GOLDIM, 2000).
Uma das características mais novas da ciência está em que as pesquisas cientificas
passaram a fazer parte das forcas produtivas da sociedade, isto ‘e, da economia. A auto-
mação, a informatização, a telecomunicação determinam formas de poder econômico,
modos de organizar o trabalho industrial e os serviços, criam profissões e ocupações
novas, destroem profissões e ocupações antigas, introduzem a velocidade na produ-
ção de mercadorias e em sua distribuição e consumo, modificando padrões industriais,
comerciais e estilos de vida. A ciência tornou-se parte integrante e indispensável da
atividade econômica. Tornou-se agente econômico e político (CHAUÍ, 2006, p. 239).
capítulo 5 • 159
Os gregos antigos acreditavam que os poetas possuíam uma onisciência divina, es-
creviam sob a inspiração das musas. Criando, a partir daí, a ideia de inspiração, pois
os poetas compunham em uma espécie de transe. Notamos que não havia entre os
gregos antigos a ideia de propriedade sobre aquilo que se escreve.
No período medieval a noção de autor ainda não ficou bem definida, pois os textos são
marcados pelo comentário, pela escrita grupal e pelo continuísmo. O Renascimento abre as
portas para autores, artistas, criadores e com essa abertura, atrelada ao processo de indus-
trialização da literatura nos séculos posteriores, emerge o autor como proprietário de sua
obra. Nascem nesse período as noções de “literatura” e de “escritor” (FOUCAULT, 2001).
5.2.1 Plágio
CONEXÃO
O crime de plágio e suas variações no ambiente acadêmicO Alexandre Gazetta Simões
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
id=11057
Vamos falar sobre o plágio para encerrar a nossa discussão sobre a ética e a
ciência, porque a experiência acadêmica vem comprovando que esta prática é
mais comum na realização de trabalhos científicos do que professores e insti-
tuições de ensino e pesquisa possam imaginar.
Mas o que afinal é considerado plágio? É preciso compreender que o plá-
gio acadêmico ocorre quanto o autor retira, seja de livros, artigos, dissertações,
teses, impressos ou digitais, ideias, conceitos, fórmulas, frases ou trechos de
outro autor, sem lhe dar o devido crédito, sem, metodologicamente falando,
citá-lo e referenciá-lo como fonte de pesquisa.
O plágio não é apenas uma cópia sequencial, porque nem sempre o plagia-
dor reproduz na íntegra o conteúdo original da obra de outrem. É um pouco
mais sutil, é um aproveitamento do conteúdo plagiado com aparência distinta
da essência da obra original, é uma reprodução dissimulada, ardilosa e tam-
bém criminosa. Portanto, o plágio pode ocorrer em partes, com a alteração de
alguns fragmentos, caracterizando-se por uma similaridade exagerada.
160 • capítulo 5
Em conformidade com o Código Penal Brasileiro, mais precisamente no Título que
aborda os Crimes Contra a Propriedade Intelectual encontramos a previsão de crime
de violação de direito autoral, em redação dada pela pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003.
O artigo 184 destaca que “Violar direito autoral: Pena – detenção, de 3 (três) meses a
1 (um) ano, ou multa”. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm
Citação direta: Assunção (2006) acredita que as novas posturas organizacionais vie-
ram para ficar e afirma que “a visão geral da prática de gestão organizacional deve ser
concebida como um processo comprometido com a conquista de resultados diferen-
ciados por meio de ações simultâneas em toda a organização, baseada em um modelo
plenamente adequado aos objetivos estratégicos definidos” (p. 13).
capítulo 5 • 161
por meio de paráfrase que é um texto que torna mais claro e objetivo aquilo que
é dito por outro autor. É, portanto, a reescritura de um texto já existente, como
uma ‘tradução’ dentro da própria língua, com os devidos créditos.
Citação indireta: Para resultados mais eficazes de gestão que leve em consideração
questões ambientais, são propostas ações que alterem de forma significativa o modo
como a organização educacional é gerenciada. Assunção (2006, p. 17) afirma que:
Os administradores estão em busca de orientação sobre novas formas de organizar e gerir
as organizações. Reduzir o impacto de suas organizações sobre o meio ambiente é neces-
sário para vencer esse desafio. Como estabelecer prioridades sistematicamente, e como
criar um plano de ação para implementar melhorias, ou um programa de redução de risco
ambiental, diretrizes abrangentes e práticas para a nova era de responsabilidade social e
ética nos negócios se faz premente. Observamos que os modelos nos quais baseiam-se os
métodos e ferramentas de gestão em relação ao meio ambiente são inadequados.
Passaremos agora para uma análise mais pormenorizada sobre os fatores externos
que levam diversas organizações educacionais a tomar determinadas medidas admi-
nistrativas.
Texto Original:
Portanto, a gestão organizacional deve ser concebida como um processo comprome-
tido com a conquista de resultados diferenciados por meio de ações simultâneas em
toda a organização, baseada em um modelo plenamente adequado aos objetivos estra-
tégicos definidos pela empresa.
Paráfrase:
De acordo com Assunção (2006), a gestão organizacional precisa ser entendida como
um processo que visa resultados específicos. Para tanto, ela propõe ações simultâneas
em toda a organização que levem em consideração os objetivos estratégicos previa-
mente definidos.
162 • capítulo 5
Vimos o que o plágio e como evitá-lo, mas qual seria a causa dessa práti-
ca, muitas vezes equivocada? Podemos afirmar que um dos principais motivos
que conduz, especialmente alunos de graduação e pós-graduação, a comete-
rem o plágio em diferentes tipos de trabalho acadêmico é a dificuldade em ela-
borar um texto próprio e a crença de que uma pesquisa é a transcrição literal de
outros textos.
Para desfazer esse equívoco, muitas vezes arraigado nos estudantes desde a es-
cola básica, é preciso esclarecer que para a elaboração de trabalhos acadêmicos,
não apenas os relacionados à conclusão de curso, o autor deve apresentar o texto
com suas próprias palavras, mas sempre embasado em fontes originais utilizando
para isso todo o instrumental fornecido pela disciplina de metodologia científica.
CONEXÃO
Plágio: quando a cópia vira crime http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp
?tmp.area=398&tmp.texto=106317
CONEXÃO
Para conhecer mais sobre o sistema de normalização da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), visite a página oficial do orgão: www.abnt.org.br
capítulo 5 • 163
Um trabalho acadêmico é um texto que serve para comunicar resultados
de pesquisas e deve seguir as orientações normativas dos trabalhos acadêmi-
cos, observando-se em especial a NBR 6023/2002, da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT).
Ao redigir sua pesquisa, enquanto pesquisador, deve proceder como se es-
tivesse preparando os originais de um livro a serem enviados para uma editora.
Cabe destacar que a qualquer professor ou examinador causará boa impressão
inicial um trabalho bem cuidado também no que diz respeito a seus aspectos
gráficos.
O papel deve ser de boa qualidade, branco e do tamanho conhecido como
A4. O texto deve ser digitado utilizando o espaço previsto pela ABNT. A margem
superior do papel deve ter três centímetros, a inferior um e meio, a margem
esquerda deve ter três centímetro, a margem direita deve ter dois centímetros.
Lembrando que estas distancias devem ser mantidas uniformemente
O quadro a seguir apresenta, resumidamente, quais elementos devem ser
seguidos para que a apresentação gráfica do trabalho seja satisfatória.
164 • capítulo 5
ESPAÇAMENTO DAS ENTRELINHAS 1,5
PARA O TEXTO
Superior e esquerda: 3 cm
MARGENS Inferior e direita: 2 cm
capítulo 5 • 165
Seção primária 1
NUMERAÇÃO PROGRESSIVA PARA AS Seção secundária 1.1
SEÇÕES Seção terciária 1.1.1
Seção quaternária 1.1.1.1
166 • capítulo 5
Conforme o tipo de trabalho, essas partes da estrutura da apresentação
da pesquisa terá uma ou outra variação. No artigo, por exemplo, não teremos
como elemento pré-textual a capa ou a folha de rosto, enquanto na monografia
a capa e a folha de rosto são alguns dos itens obrigatórios entre os elementos
pré-textuais.
A estrutura de trabalhos científicos, como trabalhos de conclusão de curso
TCC), dissertações de mestrado e teses de doutorado compreende sempre uma
parte externa e uma interna. A parte externa é formada pela capa e pela lom-
bada, sendo essa última opcional, e a parte interna composta por elementos
pré-textuais, que antecedem texto, elementos textuais, que são os conteúdos
principais do trabalho, e os elementos pós-textuais, que sucedem o texto prin-
cipal e complementam o trabalho.
A capa, um componente importante da parte externa de seu trabalho por
ser, além de proteção do trabalho, a parte que traz, como bem destaca a ABNT/
NBR 14724, as informações indispensáveis à sua identificação (ABNT/NBR
14724, 2011). A capa não deve ser numerada e nem considerada na contagem
das paginas que compõem o trabalho, sua apresentação, prioritariamente,
deve ser em capa dura.
Na tabela a seguir exibimos a ordem de apresentação dos elementos da
capa:
capítulo 5 • 167
ELEMENTOS APRESENTAÇÃO GRÁFICA
Essa parte corresponde aos elementos que antecedem o texto, por isso ela é
designada como pré-textual. Esses elementos pré-textuais apresentam infor-
mações que contribuem para a identificação da pesquisa e a própria utilização
ou divulgação do trabalho. De modo geral, os elementos pré-textuais são: capa,
lombada, folha de rosto, folha de aprovação, dedicatória, agradecimentos,
epígrafe, resumo na língua vernácula e em língua estrangeira, lista de ilustra-
ções, lista de tabelas, lista de abreviaturas e siglas, lista de símbolos e sumário
(DIEHL & TATIN, 2004, p. 106).
Alguns desses elementos podem ser opcionais, como a lombada, a dedica-
tória e os agradecimentos. Outros elementos serão inseridos quando os itens
corresponderem ao que for apresentado no conteúdo do trabalho, como as lis-
tas de ilustrações ou de tabelas.
168 • capítulo 5
Além disso, como você já leu aqui, um artigo dispensa elementos pré-textu-
ais como capa, lombada, folha de rosto, dedicatória, agradeci mentos e sumá-
rio. No entanto, o artigo como requisito para realização do TCC apresentará,
em sua primeira página, dados de identificação como título, autores, orienta-
dor, curso, local, resumo e palavras-chave. Se o artigo for enviado para publi-
cação em algum periódico, os elementos pré-textuais poderão sofrer alguma
alteração, de acordo com as normas editorias e de publicação da revista.
De qualquer modo, você deve sempre seguir as instruções que são apresen-
tadas nos Manuais de TCC ou nas normas editoriais do periódico no qual seu
trabalho será publicado. Nesses materiais você encontrará detalhes formais
sobre a elaboração, a redação e o formato de cada elemento pré-textual que se
fizer necessário.
Vale lembrar, no entanto, que na capa de uma monografia ou na primeira pági-
na de um artigo, o título é um item que deve ser redigido de forma clara e precisa,
“identificando o seu conteúdo e possibilitando a indexação e recuperação da in-
formação”. O subtítulo, por sua vez, quando houver, “deve ser precedido de dois
pontos, evidenciando a sua subordinação ao título” (NBR 14724, 2011, p. 6).
Entre os elementos pré-textuais, o resumo é um item que merece ain-
da alguns comentários, dada a dificuldade que muitos apresentam na sua
elaboração.
O resumo deve dar uma “visão rápida e clara do conteúdo e das conclusões
do trabalho, constituindo-se em uma sequência de frases concisas e objetivas,
e não em uma simples enumeração de tópicos” (DIEHL & TATIN, 2004, p. 114).
O resumo pode destacar ou informar o tema, a finalidade, a metodologia
empregada e os resultados da pesquisa. O resumo deve sempre ser redigido em
parágrafo único, sem recuo em relação à margem esquerda no seu início e em
espaçamento simples. Não se recomenda usar citações no resumo, nem se es-
tender em demasia. Nos artigos, o resumo deve conter entre 100 e 250 palavras.
Nas monografias, dissertações e teses, o resumo deve conter entre 150 e 500
palavras. Acompanhando o resumo, as palavras-chave são recomendadas para
efeito de indexação. As palavras-chave devem se limitar a no máximo cinco e no
mínimo três palavras. O resumo em língua estrangeira pode ser obrigatório em
vários casos, como nas publicações em periódicos. Na verdade, a publicação da
ABNT NBR 14724/2011, em sua terceira edição, estabelece como obrigatórios
tanto o resumo em língua vernácula quanto o resumo em língua estrangeira
para apresentação dos trabalhos acadêmicos.
capítulo 5 • 169
5.4.2 Elementos textuais
Essa parte consiste basicamente no próprio trabalho, uma vez que corresponde
ao conteúdo que será exposto. Geralmente, os elementos textuais consistem na
introdução, desenvolvimento e conclusão. O texto, no entanto, será organizado
em função do tipo de trabalho.
Assim, no caso de uma monografia, o texto será apresentado em partes que
podem ser organizadas em capítulos, seções, subseções e alíneas, por exemplo.
Também há a possibilidade de uma divisão do texto em três partes temáticas,
organizando-se, por exemplo, em primeira parte (histórico e contextualização
do problema), segunda parte (fundamentação e discussão teórica) e terceira
parte (análise) (CERVO & BERVIAN, 2002, p. 142-143).
De qualquer modo, a introdução, o desenvolvimento e a conclusão serão os
elementos textuais fundamentais no trabalho científico.
A introdução corresponde à parte do texto na qual “devem constar a apresen-
tação e a delimitação do assunto tratado, bem como a identificação e a justificati-
va do problema e os objetivos da pesquisa” (DIEHL & TATIN, 2004, p. 121).
No artigo, a introdução pode se ater à exposição da finalidade do artigo e à
metodologia utilizada para alcançar os objetivos. Em função da limitação do
espaço, a introdução no artigo precisa não se estender muito ao apresentar o
tema ou objeto de estudo, o problema e os objetivos da pesquisa, a abordagem
ou o ponto de vista sob os quais o assunto foi tratado e a justificativa.
O desenvolvimento consiste na parte mais extensa do trabalho e pode ser or-
ganizado em capítulos, seções e subseções nas monografias, por exemplo, e em
seções e subseções nos artigos. A divisão da parte que corresponde ao desen-
volvimento deve levar em conta as recomendações do orientador e das normas
da instituição. É recomendado, em geral, que o desenvolvimento apresente um
conteúdo que dê conta de aspectos relacionados com a revisão da literatura, o
contexto, a metodologia e a discussão de resultados.
Num artigo, o desenvolvimento volta-se para o tratamento da matéria ou as-
sunto de modo abrangente e objetivo. O desenvolvimento pode corresponder a
uma breve “referência ao esquema teórico, bem como à apresentação e à análi-
se dos resultados relativos ao estudo” (DIEHL & TATIN, 2004, p. 129).
A conclusão ou as considerações finais também fazem parte dos elemen-
tos textuais. A conclusão precisa “ser fundamentada no texto, conter deduções
lógicas e corresponder aos objetivos da pesquisa, com ênfase no alcance e
170 • capítulo 5
nas consequências de suas contribuições, bem como no seu possível mérito”
(DIEHL & TATIN, 2004, p. 121). É bom considerar, ainda, que:
capítulo 5 • 171
O glossário deve constar entre os elementos pós-textuais quando houver
quantidade significativa de palavras utilizadas ao longo do texto que carecem
de explicação ou de terem seu significado exposto com precisão.
Os apêndices são elaborados pelo próprio autor do trabalho, sendo subsí-
dios ou suportes que ilustram ou esclarecem aspectos apresentados no texto,
mas que não são essenciais.
Os anexos consistem em textos ou documentos não elaborados pelo autor
do trabalho, mas que podem ser úteis na ilustração, comprovação ou funda-
mentação de aspectos ou itens apresentados no texto.
172 • capítulo 5
b) A citação indireta é a “transcrição livre do texto do autor consultado,
constituindo-se numa reconstrução da ideia original” (DIEHL & TATIN, 2004,
p. 134-135). Portanto, a citação indireta é um trecho ou “texto baseado na obra
do autor consultado” (NBR 10520, 2002, p. 2).
1. Não é interessante fazer o uso seguido de citações. Sempre que as fizer, comente
as antes ou depois no texto.
2. Não termine seu texto com citações.
3. Sempre utilize o itálico como destaque gráfico para palavras e expressões em
outro idioma.
a) Citação breve: citação direta de até três, devendo ser transcrita no cor-
po do texto entre aspas e com a indicação da fonte. A indicação pode ser por
referência simplificada, colocando o sobrenome do autor e a data da obra junto
à citação, ou por referência completa, com os dados bibliográficos completos
em nota de rodapé ou após o final do texto.
Exemplo 1:
Conforme Cervo & Bervian (2002, p. 151), as “citações são comumente utili-
zadas em trabalhos acadêmicos com dois propósitos distintos: mostrar erudi-
ção por parte de quem escreve ou utilizar a autoridade acadêmica e científica
de renomados autores”.
Exemplo 2:
Deve-se atentar para o fato de que as “citações são comumente utilizadas
em trabalhos acadêmicos com dois propósitos distintos: mostrar erudição por
parte de quem escreve ou utilizar a autoridade acadêmica e científica de reno-
mados autores” (CERVO & BERVIAN, 2002, p. 152).
b) Citação longa: citação direta com quatro ou mais linhas, devendo ser
transcrita sem aspas e em parágrafo próprio, o qual deve ter recuo de 4 cm da
margem esquerda, com letra menor do que a do corpo do texto e em espaça-
mento simples. A referência também deve ser feita junto à citação.
capítulo 5 • 173
A tradição acadêmica e editorial brasileira adota dois tipos de referência para as cita-
ções. Quando a indicação bibliográfica é colocada logo em seguida à citação, antes
do ponto final, trata-se de citação no estilo autor-data (ou americano). Quando se usa,
após a última palavra da citação, um número de referência para remeter à nota de
rodapé, trata-se de citação no estilo sistema de chamada (ou francês). Qualquer que
seja sua opção, utilize apenas um dos estilos do começo ao fim do texto. (CERVO &
BERVIAN, 2002, p. 152).
Exemplo 1:
De acordo com Chiavenato (2000 apud DIEHL & TATIN, 2004, p. 134), “as
empresas são organizações sociais que utilizam recursos para atingir objeti-
vos”, e podem ser empresas lucrativas ou não lucrativas.
Exemplo 2:
É preciso considerar que “as empresas são organizações sociais que utili-
zam recursos para atingir objetivos”, podendo ser empresas lucrativas ou não
lucrativas (CHIAVENATO, 2000 apud DIEHL & TATIN, 2004, p. 134).
Note que sempre que for feita a referência com o sobrenome do autor e a
data, é preciso colocar os dados bibliográficos completos na referência ao final
do trabalho. Aliás, as normas e recomendações sobre as referências bibliográfi-
cas é o próximo e último item deste capítulo.
174 • capítulo 5
2. Os pontos indicadores de supressões e acréscimos devem ser postos entre col-
chetes [ ];
3. A omissão em citação somente poderá ser usada se não alterar o sentido do texto
ou da frase e deve ser indicada pelo uso de reticências entre colchetes [...];
4. Para destacar palavras ou frases, usa-se o grifo (negrito) seguido da expres-
são (grifo nosso) entre parênteses;
5. As incorreções e incoerências são indicadas pela expressão [sic] entre colche-
tes, logo após a ocorrência;
6. Quando se tratar de um texto que foi traduzido pelo autor (acadêmico que
está escrevendo o trabalho), incluir a expressão (tradução nossa) entre parênteses;
7. Em caso de citações subsequentes de uma mesma obra, pode-se adotar a refe-
renciação de maneira abreviada, desde que não existam referências intercaladas de
outras obras do mesmo autor. Veja quais são:
Neste sistema, a indicação da fonte é feita por uma numeração única e conse-
cutiva, em algarismo arábico, remetendo à lista de referências ao final do tra-
balho, do capítulo ou parte dele, na mesma ordem em que aparecem no texto.
Não se inicia a numeração das citações a cada página. O sistema numérico não
deve ser utilizado quando há notas de rodapé. A indicação da numeração pode
ser feita entre parênteses, alinhada ao texto ou situada pouco acima da linha do
texto em expoente à linha deste, após pontuação que fecha a citação.
Exemplos
Como disse Clarice Lispector, ‘apesar de’, temos que continuar vivendo. (15)
Como disse Clarice Lispector, ‘apesar de’, temos que continuar vivendo.15
capítulo 5 • 175
5.5.2 Sistema autor-data
Exemplos
• No texto: A chamada pandectística havia sido a forma particular pela qual
o direito romano fora integrado no século XIX na Alemanha em particular.
(LOPES, 2000, p. 225).
• Na lista de referências: LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na histó-
ria. São Paulo: Max Limonad, 2000.
• No texto: Merriam e Caffarella (1991) observam que a localização de recur-
sos tem papel crucial no processo de aprendizagem autodirigida.
• Na lista de referências: MERRIAM, S.; CAFFARELLA, R. Learning. In
Adulthood: a comprehensive guide. San Francisco: Jossey-Bass, 1991.
Exemplos
• Em Teatro Aberto (1963), relata-se a emergência do teatro do absurdo.
• Em Morais (1955, p. 32), assinala [...] a presença de concreções de bauxita
no Rio Cricon.
As informações de data e de página (para o caso de citação literal) devem
sempre vir acompanhadas do nome do autor quando ele aparecer no texto;
quando não aparecer, no final da sentença. Quando o documento citado não
tiver autoria, coloca-se a primeira palavra do título, reticências (...), vírgula, o
ano e a página (para o caso de citação literal).
176 • capítulo 5
da primeira palavra, de forma a destacar o expoente e sem espaço entre elas e com
fonte menor (10). Todas as notas deverão ser numeradas sequencialmente e aparecer
no pé de página da respectiva folha em que consta a nota. As informações nunca de-
verão passar para as próximas folhas.
Exemplos
1. Veja-se, como exemplo desse tipo de abordagem, o estudo de Netzer (1976).
2. Encontramos esse tipo de perspectiva na 2a parte do verbete referido na nota
anterior, em grande parte do estudo de Rahner (1962).
CONEXÃO
Acesse a Norma da ABNT NBR 6023/2002, que orienta a elaboração de referências, no
link: http://www.cch.ufv.br/revista/pdfs/10520-Citas.pdf
capítulo 5 • 177
Você deve sempre consultar a NBR 6023/2002 para sanar dúvidas e obter
orientações seguras e detalhadas sobre a elaboração de referências de livros,
monografias, teses, artigos de revistas e jornais, textos da internet, vídeos, fil-
mes etc.
Essa Norma da ABNT traz definições importantes dos tipos de documentos
que você pode utilizar para realizar uma pesquisa e como fazer a sua referência,
dando orientações e oferecendo vários exemplos de como redigir a referência
completa.
Tipos de documentos que podem ser utilizados para a realização de pesquisas e devem
ser referenciados
Categoria Material
178 • capítulo 5
Os elementos complementares “são as informações que, acrescentadas aos
elementos essenciais, permitem melhor caracterizar os documentos” (NBR
6023, 2002, p. 2).
Ao elaborar a referência de livros, a ordem básica é apresentar os seguintes
elementos essenciais: Autor, título, subtítulo (quando houver), edição (quando
houver), local, editora e data de publicação.
O autor deve ser introduzido pelo último sobrenome, em letras maiúsculas,
seguido de seu prenome e outros sobrenomes, abreviados ou não. O título deve
ser marcado em negrito ou em itálico, mas é preciso manter a uniformidade
dessa marca na elaboração das referências, não devendo variar entre uma e ou-
tra. O título deve ser reproduzido como consta no original, porém apenas a pri-
meira palavra deve conter inicial maiúscula (salvo em caso de nome próprio).
Quando houver subtítulo, este deve ser separado do título por dois-pontos. O
título separa-se do local pelo uso do ponto e o local, por sua vez, separa-se da
editora por dois-pontos. A editora separa-se da data por vírgula, terminando
com ponto final (NBR 6023, 2002, p. 3-5).
Exemplos:
SILVA, Júlio C. Notícias de minha terra. 2. ed. São Paulo: Edições Modelo, 1978.
capítulo 5 • 179
• Mais de três autores: ADAMS, R. N. et al. Mudança social na América Latina. Rio
de Janeiro: Zahar, 1967.
• Artigo de periódico: TOURINHO NETO, F. C. Dano ambiental. Consulex, Revista
Jurídica, Brasília, DF, v. 1, n. 1, p. 18-23, fev. 1997.
• Jornal: NAVES, P. Lagos andinos dão banho de beleza. Folha de S. Paulo, São
Paulo, 28 jun. 1999. Folha Turismo, Caderno 8, p. 13.
• Artigo da Internet: CASTRO, Daniel. Análise: redes saem vitoriosas com padrão japo-
nês de TV digital. Folha de S. Paulo, São Paulo, 8 mar. 2006, Folha Dinheiro. Disponí-
vel em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u105780.shtml>. Acesso
em: 10 mar. 2015.
Você deve levar em conta que há diversas variantes nos dados das obras que pode-
rão ser utilizadas para sua pesquisa. Por isso, é indispensável lançar mão das orien-
tações contidas na Norma da ABNT. Entre as orientações, você vai encontrar aquelas
que estabelecem a forma correta de se fazer referência de documentos, como artigos,
imagens ou filmes, em meios eletrônicos (Internet, DVD, CD-ROM etc.).
ATIVIDADES
01. Quais são as publicações da ABNT que oferecem orientação para normalização de cita-
ções e referências no trabalho acadêmico-científico?
02. Mencione alguns aspectos que devem ser considerados na escolha do tema. Diante
das possíveis dificuldades que você pode encontrar na escolha do tema, qual dos aspectos
mencionados lhe parece mais relevante?
03. Tome um projeto de pesquisa ou uma monografia que você terá que fazer. Aplique as
regras apresentadas anteriormente para seu planejamento. Redija cada tópico de acordo
com o que você já sabe sobre ele.
04. Para Albert Einstein, “o pensamento científico tem o olho aguçado para métodos e instru-
mentos, mas é cego quanto a fins e valores”. Você concorda com essa afirmação? Explique.
180 • capítulo 5
REFLEXÃO
A postura científica é, antes de tudo, uma atitude ou disposição subjetiva do pesquisador que
busca soluções sérias, com métodos adequados para o problema que enfrenta. Essa postura
não é inata na pessoa; ao contrário, é forjada ao longo da vida, à custa de muito esforço e
de uma série de exercícios. Ela pode e deve ser aprendida. A postura científica, na prática, é
expressão de uma consciência crítica, objetiva, racional.
A consciência crítica levará o pesquisador a aperfeiçoar seu julgamento e a desenvolver
discernimento, capacitando-o a distinguir e a separar o essencial do superficial, o principal
do secundário. Criticar é julgar, distinguir, discernir, analisar para melhor poder avaliar os
elementos componentes da questão. A crítica, assim entendida, não tem nada de negativa. É,
antes, uma tomada de posição, no sentido de impedir a aceitação do que é fácil e superficial.
O crítico só admite o que é suscetível de prova.
A consciência objetiva, por sua vez, implica o rompimento corajoso com as posições
subjetivas, pessoais e mal fundamentadas do conhecimento vulgar. Para conquistar a obje-
tividade científica, é necessário libertar-se da visão subjetiva de mundo, arraigada na própria
organização biológica e psicológica do sujeito e ainda influenciada pelo meio social.
A objetividade é a condição básica da ciência. O que vale não é o que algum cientista
imagina ou pensa, mas aquilo que realmente é. Isso porque a ciência não é literatura. A obje-
tividade torna o trabalho científico impessoal a ponto de desaparecer, por exemplo, a pessoa
do pesquisador. Só interessam o problema e a solução. Qualquer um pode repetir a mesma
experiência, em qualquer tempo, e o resultado será sempre o mesmo, porque independe das
disposições subjetivas.
Nada impede que um pesquisador parta de suas próprias experiências de vida, obser-
vações ou reflexões para formular um problema de pesquisa ou enunciar suas hipóteses
explicativas, mas a verdade última e final deriva da pesquisa, da análise das informações e
dos dados e da ponderação sobre o que é específico de sua experiência e o que pode ser
generalizado para objetos, fatos ou fenômenos análogos. A objetividade da postura científica
não aceita meias soluções ou soluções apenas baseadas nas experiências ou reflexões pes-
soais. O eu acho, eu creio, eu penso, não satisfazem a objetividade do saber.
Finalmente, a postura científica implica ações racionais. As razoes explicativas de uma ques-
tão só podem ser intelectuais ou racionais. As razões que a razão desconhece, as razões da
arbitrariedade, do sentimento e do coração nada explicam nem justificam no campo da ciência.
(CERVO, Amado Luiz. BERVIAN, Pedro Alcino. SILVA,
Roberto da. Metodologia científica. 7ed. São Paulo: Pearson, 2007.)
capítulo 5 • 181
LEITURA
OLIVEIRA, Sílvio Luiz de. Tratado de metodologia científica: projetos de pesquisa, TGI, TCC,
monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira, 1999.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação.
Referências. Elaboração. Rio de janeiro, 2002.
_________. NBR 10520: informação e documentação – citações em documentos - elaboração. Rio
de janeiro, 2002.
_________. NBR 14724: informação e documentação - trabalhos acadêmicos - apresentação. 3. ed.
Rio de Janeiro, 2011.
BARROS;Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos da
metodologia científica. 3 ed. São Paulo: Pearson, 2007.
CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A. Metodologia científica. 5. Ed. São Paulo: Pearson, 2002.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13 ed. São Paulo: Ática, 2006.
DIEHL, Astor A.; TATIN, Denise C. Pesquisa em ciências sociais aplicadas: métodos e técnicas.
São Paulo: Pearson, 2004.
GOLDIM, José Roberto. Rompendo os limites entre ciência e ética. Episteme. Porto Alegre, n. 10,
2000, pp. 31-37.
JAPIASSÚ, Hilton. MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4 ed. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2006.
OLIVEIRA, Sílvio Luiz de. Tratado de metodologia científica: projetos de pesquisa, TGI, TCC,
monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira, 1999
RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica. Guia para eficiência nos estudos. 6 ed. São Paulo: Atlas,
2008.
SOUZA, Carlos F. Mathias. Direito Autoral. 2 ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2003.
TARGINO, Maria das Graças. Produção intelectual, produção científica, produção acadêmica:
facetas de uma mesma moeda? In: CURTY, Renata Gonçalves (Org.). Produção intelectual no ambiente
acadêmico. Londrina : UEL/CIN, 2010.
182 • capítulo 5
GABARITO
Capítulo 1
01. O aluno deve explicar que o Teocentrismo era a busca de todas as respostas em Deus
em detrimento da razão, o que impedia o desenvolvimento cientifico ao impedir que as res-
postas não fossem mediadas pela justificativa religiosa.
02. O iluminismo foi uma das marcas mais importantes do século XVIII, também conhecido
como século das luzes. Luzes significavam, nesse momento, o poder da razão humana de in-
terpretar e reorganizar o mundo. Na economia, o liberalismo representava as aspirações da
burguesia desejosa de gerenciar seus negócios sem a intervenção do Estado mercantilista.
Na política, as ideias liberais opunham-se ao absolutismo. Rousseau retomou a discussão do
contrato social numa perspectiva menos elitista e mais democrática. Na moral também se bus-
cavam novas formas laicas, que possibilitassem a naturalização do comportamento humano. Na
religião vemos o abandono dos dogmas e fanatismos e a busca de uma religião natural.
A educação se desvinculava da religião, pregava-se a modernização do país através do
progresso científico e pela difusão do saber dos pensadores modernos, através do incentivo
da educação pública, ou seja, a escola defendida nesse período histórico deveria ser leiga e
livre, independente de privilégios de classe. Esses pressupostos sugeriam a defesa de algu-
mas ideias, que nem sempre foram colocadas em prática:
• Educação ao encargo do Estado;
• Obrigatoriedade e gratuidade do ensino elementar (instrução pública);
• Nacionalismo;
• Ênfase nas línguas vernáculas, em detrimento ao latim;
• Orientação pratica voltada para as ciências, técnicas e ofícios, não mais privilegiando o
estudo exclusivamente humanístico.
Capítulo 2
01. Ao estabelecer o tipo de pesquisa que será adotado o aluno pode, consequentemente,
estabelecer como mais facilidade em seu projeto de pesquisa o objetivo, a fonte de informa-
ções, os procedimentos de coleta e natureza dos dados.
02. Resposta pessoal
capítulo 5 • 183
Capítulo 3
01. O aluno deve entender que o fichamento, o resumo e a resenha podem ser um excelente
recurso para não se perder os dados bibliográficos, as anotações de aula ou os apontamen-
tos decorrentes de uma leitura. Os dados bibliográficos, as anotações e os apontamentos
contidos nestes documentos devem ser considerados “como uma memória exterior”, pois
quando bem organizados eles até “podem se constituir uma minibiblioteca para uso pessoal”
(CERVO & BERVIAN, 2002, p. 92).
02. Resposta pessoal
Capítulo 4
Capítulo 5
01. O aluno deve indicar que são: NBR 6023, NBR 10520 e NBR 14724
02. Na construção do projeto de pesquisa, um primeiro momento deve ser dedicado à se-
leção do tema.
a) O tema pode nascer da observação atenta do cotidiano, a partir do direcionamento
do para circunstâncias e assuntos que podem revelar problemas ou temas interes-
santes;
b) A escolha do tema pode relacionar-se com a experiência do estágio curricular ou
com a vida profissional, por meio de vivências de situações que merecem ser inves-
tigadas e compreendidas mais detidamente. Às vezes, uma lacuna na for-mação
profissional ou um problema importante na experiência profissional que não pôde
ser compreendido e estudado mais rigorosamente podem motivar a escolha do
tema (GONSALVES, 2001, p. 28).
c) O contato com estudiosos, pesquisadores, especialistas, professores e tutores, de
modo individual ou em situações coletivas (como em eventos científicos e acadêmi-
cos) pode proporcionar reflexões e identificação de temas relevantes.
d) O estudo e a leitura de livros do contexto acadêmico podem oferecer algumas
questões ou indicar assuntos que ainda precisam ser analisador ou aprofundados.
e) O tema também pode surgir da “criatividade, da descoberta repentina e algumas
vezes casual de um problema a ser investigado” (GONSALVES, 2001, p. 27).
03. Resposta pessoal
04. Resposta pessoal
184 • capítulo 5