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TÓPICA E JURISPRUDÊNCIA

RESUMO
Estuda-se tópica como sendo uma forma particular de raciocínio,
construída com base na dialética e se reveste como sendo uma arte de
trabalhar com opiniões opostas, capazes de instaurar diálogos que se
confrontam, formando um procedimento crítico, baseado na prudência. Os
conceitos e proposições básicas do procedimento dialético que são estudados
pela Tópica, transformaram-se nos TOPOI de argumentação, que são pontos
de partida de séries argumentativas. Parte-se de um ponto, o problema, sobre
o qual se irá buscar soluções. É importante frisar que, para se resolver o
problema, buscam-se premissas adequadas, através dos topoi, para delas se
extrair certas conclusões, chegando-se, assim, em Viehweg, na tópica de
primeiro grau.

PALAVRAS-CHAVES: TÓPICA, JURISPRUDÊNCIA, PROBLEMAS,


SOLUÇÕES,

*Clara Angéé lica Gonçalvés Dias


Méstré é Doutoranda ém Diréito péla PUC-SP, Proféssora Univérsitaé ria da Fasé
( Faculdadé dé Sérgipé-Estaé cio) é Faculdadé dé Négoé cios dé Sérgipé é Advogada.
[Digité téxto] Paé gina 1
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ABSTRACT
Studies are topical as a particular form of reasoning built on the dialectic
and importance as an art of dealing with conflicting opinions, able to establish
dialogues facing, forming a critical procedure, based on prudence. The basic
concepts and propositions of dialectical procedure that are studied by Topical,
became the TOPOI of argument, which are starting points of serious argument.
It starts with one point, the problem, on which will seek solutions. It is important
to note that in order to solve the problem, we are seeking suitable premises,
through the topoi, for them to draw certain conclusions, coming up, so in
Viehweg, the topical first degree.

KEY-WORDS: TOPICS, CASE LAW, PROBLEMS, SOLUTIONS

*Clara Angéé lica Gonçalvés Dias


Méstré é Doutoranda ém Diréito péla PUC-SP, Proféssora Univérsitaé ria da Fasé
( Faculdadé dé Sérgipé-Estaé cio) é Faculdadé dé Négoé cios dé Sérgipé é Advogada.
[Digité téxto] Paé gina 2
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I- INTRUDUÇÃO:
Na verdade, veremos a indagação sobre o conceito de tópica e a sua
função a partir dos estudos de Aristóteles e Cícero, que, pela doutrina,
aparecem como os precursores desta escola.
Na realidade, os dois entendem a tópica como sendo uma forma de
pensar por problemas, que se desenvolve a partir da retórica e que se distingue
de qualquer tipo ou estrutura lógico-sistemática.
Ela aparece tanto no direito civil, como se verá mais tarde, como
também em outras esferas e áreas do Direito, bem como, aparecerá ainda, na
Jurisprudência, por mais que hoje em dia se tente afastar, cada vez mais essa
possibilidade, o que, na verdade, consiste numa tentativa sem êxito.

II- CONCEITO E ASPECTOS GERAIS DA TÓPICA


Tópica é o nome de um dos livros do Organon de Aristóteles. Muitos
entendem que a tópica consistiu num trabalho que antecedeu a elaboração dos
Analíticos, sendo, pois, uma tentativa frustrada de produção de um Tratado da
Lógica.
É, pois, uma forma particular de raciocínio, diferente da adotada nos
Analíticos.
É construída com base na dialética, que nada mais é que um conjunto
de premissas aceitas como verdadeiras pela comunidade e se reveste como
sendo uma arte de trabalhar com opiniões opostas, capazes de instaurar
diálogos que se confrontam, formando um procedimento crítico, baseado na
prudência.
A tópica prevaleceu na Idade Média, por intermédio das Artes Liberais da
Gramática, Retórica, Dialética, perdendo significado com o more geométrico,
surgido em seguida.
Os conceitos e proposições básicas do procedimento dialético que são
estudados pela Tópica, transformaram-se nos TOPOI de argumentação, ou
seja, nos lugares comuns, fórmulas, variáveis no tempo e no espaço, que têm
força persuasiva diante de um confronto de opiniões. São ainda, pontos de
*Clara Angéé lica Gonçalvés Dias
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( Faculdadé dé Sérgipé-Estaé cio) é Faculdadé dé Négoé cios dé Sérgipé é Advogada.
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partida de séries argumentativas, o que, de fato, impede a formação de um


pensamento sistemático, já que conta apenas com conhecimentos
fragmentários. Parte-se de um ponto, o problema, e sobre o qual se irá buscar
soluções. O problema, portanto, aparecerá como um dado que orientará a
argumentação e que culminará numa solução. É importante frisar que, para se
resolver o problema, buscam-se premissas adequadas, através dos topoi, para
delas se extrair certas conclusões, chegando-se, assim, em Viehweg, na tópica
de primeiro grau. Contudo, essa técnica é eivada de insegurança, fato esse
que culmina na criação da tópica de segundo grau, baseada em certos critérios
que buscam elaborar “inventários” de topoi (gramaticais, históricos, lógicos,
etc).
Cícero, como veremos adiante, não via a tópica como uma teoria da
dialética, mas, sim, como uma teoria práxis de argumentação e foi, diante
disso, responsável pela elaboração de um catálogo de topoi. Esses catálogos
de topoi, enquanto meios auxiliares para a discussão de problemas, se
multiplicaram no decorrer dos séculos e foram objeto de análise de obras
importantes.
Foi tida como um estilo de pensamento dos pré-glosadores,
glosadores e pós-glosadores, devido à sua vinculação com a retórica e a
jurisprudência. Quando a tópica se vinculava à jurisprudência, foi capaz de
torná-la um estilo de pensar e não um método, reproduzido por invenção,
trazendo para a mesma, uma grande confiabilidade.
Existem duas acepções, segundo informa Tércio Sampaio Ferraz Júnior,
sobre tópica: uma concepção restrita, que considerava a tópica como um
conjunto mais ou menos organizado de categorias gerais, nas quais se
agrupavavam os argumentos básicos para as técnicas da disputa e persuasão;
e outra concepção restrita, que considerava a tópica como uma técnica de
raciocínios dialéticos que partiam de premissas baseadas em opiniões
verossímeis, assimilando-se a um modo de pensar não apodítico.
Hoje, como se aduzirá em toda essa passagem, a tópica é vista como
uma técnica de pensamento orientada por problemas (parte-se de problemas e

*Clara Angéé lica Gonçalvés Dias


Méstré é Doutoranda ém Diréito péla PUC-SP, Proféssora Univérsitaé ria da Fasé
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neles culminam). O pensar topicamente, em Ferraz Júnior , consiste em manter


conceitos, postulados e princípios com caráter problemático.
Em se tratando da aplicabilidade prática da Tópica, Viehweg afirma que
a interpretação, indispensável no pensamento jurídico, desenvolve-se por
intermédio da tópica, pois, parte do problema, que impede o enrijecimento da
norma jurídica. Até mesmo a análise interpretativa de fatos do cotidiano
necessita da tópica, pois, dependerá da versão que lhes serão atribuídas. O
que se constata, aqui, é que o jurista, sempre será condicionado a pensar
topicamente, já que sempre estará diante de ambigüidades e vaguezas quando
estiver perante a norma ou mesmo na sua vida cotidiana.

III- A VISÃO DE GIAN BATTISTA VICO SOBRE TÓPICA


Aqui, iremos fazer menção a este estudioso, em suas obras, em
especial, as intituladas “O modo de estudar do nosso tempo” e “A conciliação
do antigo com o moderno modo de estudar”, o referido autor visa estudar os
principais métodos e formas de escrita, partindo da idéia da conciliação, como
uma forma de conhecimento baseado nas contradições, e que passa a ser
amplamente adotado pela Física, Medicina, Moral e, em especial, pela
Jurisprudência. Ele, em boa parte da sua obra, se preocupa sempre em
mostrar as vantagens e as desvantagens quando se faz a contraposição entre
as formas ou métodos modernos (crítica) e antigos (tópica) de se estudar,
chegando, por isso, a implantar aquilo que ficou conhecido como uma Nova
Ciência.
Dentre as caracterizações desses métodos de estudo, Vico afirma que o
mais novo parte de um ponto inicial baseado na certeza, e, por isso mesmo,
não poderá ser anulado por qualquer forma de dúvida. Em contraposição, a
tópica, modelo mais antigo, baseia-se no ponto de partida chamado senso-
comum, dotado de vários silogismos. Assim sendo, a vantagem do primeiro
método repousa na precisão, ao passo que o segundo conta com certas
desvantagens, tais como a pobreza da linguagem e a imaturidade do juízo, o
que vai sendo impedido pela tópica retórica.

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IV- A TÓPICA DE CÍCERO E ARISTÓTELES


Na verdade, esses dois autores, pelo que se tem conhecimento nos dias
atuais, foram os maiores estudiosos da tópica e que, até hoje, têm suas obras
vistas como cânones utilizados para o conhecimento desse método.
Para Aristóteles, primeiramente, tópica coloca-se em uma situação
particular, que se destaca, ao longo do tempo, da ciência da Lógica.
Ele se preocupará em tentar distinguir o que é apodítico (aporias),
considerado como uma verdade utilizada pelos filósofos, com o que se
chamará de dialético, ou seja, uma verdade opinável amplamente utilizada
pelos sofistas e retóricos.
Para Aristóteles, o que, na verdade, se busca em seus trabalhos, é ir à
busca de métodos que possibilitem o estabelecimento de conclusões relativas
aos problemas apresentados, a partir da utilização de certas proposições,
evitando-se contradições.
Portanto, para Aristóteles, as conclusões dialéticas são, na verdade,
aquelas que têm como premissas, opiniões respeitadas, das quais se possam
presumir uma aceitação por parte dos sábios mais conhecidos e respeitados.
Por isso, a tópica, para ele, tem por objeto, conclusões que decorrem de
premissas que parecem verdadeiras, com base em opiniões respeitáveis e um
valor específico.
Na dialética, pode-se utilizar como mostra a sua obra, da indução e do
silogismo como métodos de fundamentação, a fim de se chegar a
determinadas conclusões adequadas, chamadas de topoi. Portanto, em
Aristóteles, topoi na verdade, consiste num conjunto de pontos de vista
empregáveis em muitos sentidos e que são aceitáveis universalmente,
que podem conduzir à verdade. Podem ajudar, inclusive, o sujeito a
encontrar conclusões dialéticas em relação a qualquer problema, que se
apresenta na forma de perguntas. Entretanto, o que se vê em conclusão, aqui,
é que não existe nenhuma discussão a qual não se possa aplicar algum tipo de

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topoi, contudo, deixando bem claro que nem todos eles serão adequados a
todo e qualquer tipo de debate.
Além disso, precisa-se afirmar que, em se tratando dos topoi, só vimos,
até aqui, pelos estudos apresentados por Aristóteles e Cícero, os que se
aplicam universalmente. Todavia, há de se constatar que eles se apresentam
também como aplicáveis, não de maneira universal, mas, sim, numa
determinada área do saber, servindo, ao contrário dos primeiros, a um
determinado âmbito de problemas, apesar de terem, ambos, a mesma função,
qual seja, servir à condução do problema, alcançando-se uma verdade.
Portanto, ao falar de Aristóteles, não se pode esquecer que ele mesmo
esboçou em sua tópica, uma teoria dialética, na qual ele lança um catálogo de
tópicos estruturado de modo flexível, onde se busca, a todo tempo, discutir
problemas, tendo, o debate, paralelamente, como forma de controle.
Agora, passando à análise da Tópica em Cícero, o que se vê é que, em
relação à anteriormente apresentada – de Aristóteles – ela teve uma maior
influência do ponto de vista histórico, sendo escrita nos anos 44 a. C e , em
média, trezentos anos após o escrito de Aristóteles.
O nível da Tópica de Cícero é, como mostra Viehweg, sem dúvida
alguma, inferior à aristotélica, pois, muitos afirmam que a elaboração do seu
trabalho sobre tópica se deu em situações adversas, ou seja, numa viagem que
fazia quando deixava Roma, pelo mar, além de não contar, como seria
necessário, propriamente, com a obra de Aristóteles em mãos, apenas,
reportando-se a ela, com as lembranças que guardava sobre a mesma, em sua
mente. Contudo, mesmo assim, era considerada como uma obra de essencial
consulta aos juristas, já que era a eles dirigida.
Tópica, em Cícero, consiste numa prática da argumentação que adota
um catálogo de tópicos que precisa ser empregado.

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V- IMPORTÂNCIA DO PAPEL DA TÓPICA NA CONCEPÇÃO

DINÃMICA DO SISTEMA

Para a filosofia do direito, a tópica é o modo típico de raciocínio jurídico


que, segundo Theodor Viehweg, procede por questionamentos sucessivos,
apresentando uma relação “pergunta-resposta”. Trata-se de uma técnica de
pensar por problemas, que tem sua origem na retórica, ocupando-se das
aporias jurídicas. A arte de descobrir premissas, os pontos de vista, ou ‘topoi’,
que irão presidir a solução dos concretos problemas da vida. É a teoria dos
lugares comuns, vale dizer, das classes gerais, nas quais podem ser
encontrados todos os possíveis argumentos, possibilitando a eleição do mais
convincente ou adequado e o reforço da argumentação 1.
A tópica, informa Aristóteles, pertence ao mundo da lógica
dialética, vez que o raciocínio é dialético quando se adota a premissa de que
as opiniões são geralmente aceitas e, consequentemente, todos a admitem ou,
minimamente, a maioria das pessoas 2. Esclarece-se, por oportuno, que os
topois são considerados pontos de partida de dada argumentação.
Uma das maiores críticas desenvolvidas em face da obra de
Viehweg consiste na falta de clareza, o que se denota da análise da obra
Tópica e Jurisprudência.
Não é possível compreender a tópica jurídica desvinculada da
época de seu surgimento. A obra Tópica e Jurisprudência de Viehweg teve sua
origem num momento muito particular de Viehweg, que a concebeu no ano de
1945, período da pós-guerra, na Alemanha devastada. Viehweg era professor
e magistrado, embora na época, desempregado e, conseqüentemente, com
poucas expectativas3.

1
DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 704-
705.
2
ANDRADE, Christiano José de. Hermenêutica jurídica no Brasil. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1991, pg. 201.
3
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Prefácio à tradução brasileira. In.: VIEHWEG,
Theodor. Tópica e Jurisprudência. Brasília: Departamento de Imprensa Nacional, 1979
(Coleção Pensamento Jurídico Contemporâneo), p. 7.
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Dito isto, Karl Larenz ensina que a tópica jurídica se desenvolve


com a intenção de se obter uma alternativa a jurisprudência, já que no Século
XIX, as decisões judiciais eram consideradas um sistema, pelo qual se partia
de axiomas4.
O método axiomático-dedutivo não era o bastante, de
forma a permitir que as decisões fossem justas e, por tal razão, a tópica
consistiria na maneira em alcançar a justiça, já que os casos concretos eram
compreendidos como problemas.
O que se considera, na tópica, portanto, são os variados pontos
de vista que se busca encontrar na solução do caso concreto o que, por vezes,
abrange o senso comum que, em princípio, pode-se considerar como um
sentido de justiça, ou, por outras palavras, o senso de justiça do homem médio.
Assim sendo, os pontos de vista considerados justos, são
considerados por Viehweg como os tópicos ou os lugares comuns.
Viehweg compreendia a jurisprudência da Roma antiga e da
Idade Média como a própria tópica, já que o jurista romano, por meio dos casos
práticos apresentados, apontava soluções para os problemas, por meio de
argumentos. Obviamente, as soluções se pautavam nas regras ou tópicos, o
que se destinavam aos homens, para a época, considerados de prestígio.
Conquanto tenha a tópica sua finalidade, como afirmava Viehweg,
é ela alvo de crítica, tais como a imprecisão conceitual, sendo que seus
críticos afirmam que os termos, tais como, tópica, problema, lógica e sistema
são vagos e/ou ambíguos.
Outra dificuldade é atrelar a justiça à tópica, já que por meio da
jurisprudência o que se busca, por meio da tópica, são soluções justas, através
de conceitos e proposições que são buscadas no próprio sentido de justiça.
Essa é a principal critica que decorre da tópica, pois embora sempre se busque
o justo, ela não fornece elementos que possam ser utilizados racionalmente
nas decisões judiciais.

4
LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. Trad. de José Lameto. 2. ed.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989, p. 171.
*Clara Angéé lica Gonçalvés Dias
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Neste sentido, vale informar que Chaïm Perelman, ao tratar da


tópica e verificando esta dificuldade em se ter critérios para a busca do justo,
adota em sua retórica a noção de justiça. Há de se considerar, entretanto, que
embora tenha sido uma colaboração subjetiva, o foi também formal, já que o
que a lei determina se ampara no conceito de eqüidade 5.
Pode-se dizer que a tópica se revela por meio do convencimento
e dos argumentos, com o escopo de que seu interlocutor a compreenda como
a idéia de regulatividade e de pretensão de universalidade, revelando-se um
ideal dogmático.
Outra crítica consiste na falta de hierarquia da tópica, não sendo
possível embasar a teoria da argumentação jurídica, vez que o que a
compreende – topois – são gerais, não se obtendo uma hierarquia da
metodologia jurídica. Não é por outra razão que muitos a compreendem como
um estilo, mas não reconhecem nela uma teoria científica, embora tenha um
sistema próprio que torna a tópica algo singular. O que é impossível dizer,
entretanto, é negar-lhe enquanto prática argumentativa.
Embora a tópica seja alvo de várias críticas, bem ensina Maria
Helena Diniz que é fácil perceber a grande importância do pensamento tópico,
de tal modo que se ele inexistisse seria quase que impossível o conflito de
posições (a favor ou contra), a constatação e preenchimento de lacunas, a
resolução de conflitos normativos. A argumentação tópica guia-se pela
intuição, que a precede. Colocado ante o caso ‘sub judice’, o sujeito
cognoscente (o magistrado), com o auxílio das noções jurídicas, terá, com o
emprego da intuição, possibilidade de operar a subsunção e, em caso de
omissão normativa, de aplicar os argumentos analógicos, os costumes e os
princípios gerais de direito às espécies propostas e de corrigir antinomias.
Enfim, poderá fazer um ‘diagnóstico jurídico’ 6.

5
PERELMAN, Chaïm. Ética e Direito. Trad. de Maria Ermantina Galvão. São Paulo:
Martins Fontes, 2000, p. 33.
6
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 16ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 487.
*Clara Angéé lica Gonçalvés Dias
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Conclui-se que a tópica, embora muitos não a compreendam


como um sistema, minimamente, é utilizada para dirimir muitas questões que o
sistema tende a resolver senão por ela, por meio dela.

VI- ANÁLISE CONCLUSIVA


Em conclusão, pelo que vimos até aqui, a tópica, é, na verdade,
uma técnica de pensamento orientada para o problema, como bem elucidado
nas passagens sobre Aristóteles, até aqui vistas. E todas as classificações com
base em tópica, se levantam com base nos problemas.
É o estilo de pensamento adotado pelos retóricos e pelos sofistas.
O modo de trabalho da tópica é baseado na aporia, que nada mais é que
uma questão colocada, em face da qual não se chega a nenhuma forma de
esclarecimento. É a tópica também quem vai se ocupar dos problemas das
lacunas e das antinomias do Direito.
É vista como uma situação problemática dotada de ausência de
caminhos para a sua solução. E é, ai, exatamente, onde entra em ação a
tópica. Ela, na verdade, vai mostrar como se deve proceder diante dessas
situações. É, pois, o problema concreto que se denomina tópica, não podendo
essa aparecer diante de sistemas explícitos, que não almejam solução, que é o
que se busca na tópica.
Para compreendê-la, necessário se faz que se entenda que ela jamais
estará inserida numa ordem. O pensamento tópico auxilia, precisamente, na
forma de interpretação.
A tópica pressupõe, sempre, segundo Maria Helena Diniz 7, a
consideração dinâmica do Direito e a adoção da idéia de sistema aberto que
sempre exige um certo grau de elasticidade.
Isso se pode analisar, quando, por exemplo, um magistrado, a fim de
solucionar um caso concreto, procura o seu melhor entendimento, formando o
seu livre convencimento através, por exemplo, de citações e autores e
doutrinadores de renome em seus pareceres e sentenças, sem esquecer, é
7
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito, p. 489.
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claro, do uso da intuição (heurística) , quando a norma não trouxer,


especificamente, a solução para o caso concreto, levando, assim, o
magistrado, a utilizar-se de argumentos analógicos, dos costumes e dos
princípios gerais do Direito. O órgão jurisdicional, primeiramente, verificará
todas as hipóteses ou premissas, mediante as argumentações dogmáticas e
zetéticas e depois, através da lógica, demonstra a norma mais adequada para
o caso concreto.
Contudo, mesmo usando de todos esses métodos, a sua decisão não
vai nunca, ser vista como imutável, já que, uma vez não se satisfazendo a
parte vencida, poderá esta recorrer, através de uma apelação, da decisão
proferida, a fim de que o órgão jurisdicional profira uma nova decisão mais
justa que a primeira. Por isso, contata-se que a tópica, na verdade, tem a
função de auxiliar na aplicação do Direito.
Por isso, se pode concluir que é grande a importância do pensamento
tópico, pois, se ele não existisse, não teríamos como vislumbrar o conflito de
posições, a constatação e o preenchimento de lacunas e a resolução dos
conflitos normativos.

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