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TEXTO 1

Concentração, foco e minutos de solidão antes de começar. Medalha


conquistada, muita comemoração com a equipe técnica, seguida de cumprimentos
quase sempre cercados de cordialidade com os adversários na prova. Medalha no
peito — e já devidamente mordida –, falta dar a última entrevista ainda no contexto da
competição para, por fim, poder voltar para casa. Esse ritual faz parte de quase todos
os eventos olímpicos.
Nas Olimpíadas de 2020 , essa cerimônia foi novamente onipresente, mas há
algo de novo, ou resgatado, no espírito olímpico, que chamou a atenção dos
brasileiros desde que movimentamos pela primeira vez o quadro de medalhas. 
Foi em 25 de julho que o Brasil chegou a seu primeiro pódio no Japão, a prata
de Kelvin Hoefler na prova de street do skate . Entre as muitas repercussões em
torno da conquista, a atenção de muita gente nas redes sociais se voltou para algo
que aconteceu nos instantes imediatamente seguintes à prova.
Ao sair da pista, o brasileiro foi cumprimentado efusivamente por um
adversário peruano, Angelo Caro, que ficou em quinto lugar na disputa, mas estava
por lá vibrando com as outras voltas, em vez de se lamentar por ter ficado sem
medalha. Ao contrário: ele vibrava como se fosse alguém do próprio país que tivesse
subido no pódio, indo bem além dos cumprimentos cordiais e protocolares.

Um dia depois, uma menina de apenas 13 anos, Rayssa Leal, dançava e


sorria enquanto aguardava o momento de se apresentar na disputa feminina da
mesma prova de Kelvin. Um jeito peculiar de se concentrar. Em seguida, já
confirmada como medalha de prata, Fadinha também foi celebrada por adversárias , e
ela própria parabenizou afetuosamente a medalhista de ouro Momiji Nishiya, do
Japão.
Cultura de rua
O interesse das pessoas nesse comportamento passa por este ser incomum
ao que se costuma ver em Olimpíadas ou quaisquer outras competições esportivas
de grande porte, embora seja muito próximo do que passamos a chamar de espírito
olímpico ao longo das décadas. Engana-se, no entanto, quem pensa que isso tem a
ver com ganhar ou perder, ou com não se importar em ganhar ou perder. “Todo
mundo entra para ganhar, é o objetivo. É uma competição e foi a competição de skate
em mais alto nível que eu já vi. Mas o skatista também está lá para se divertir”,
explica à CNN o skatista brasileiro Cristiano Mateus, técnico da chilena Josefina
Tapia, de 24 anos, que disputou as Olimpíadas na prova de skate park.
O que Cristiano diz vai ao encontro do que pensa o mais importante skatista
brasileiro da história, Bob Burnquist, que começou a andar nos anos 1980 em uma
pista chamada Ultra Skate Park, em São Paulo, construída justamente pelo pai de
Cristiano.
Lenda da modalidade no mundo, Bob tem 30 medalhas e é o maior vencedor
da história dos X-Games, evento criado em 1995 nos Estados Unidos. Conhecido
como uma espécie de olimpíada de esportes radicais, o projeto é historicamente um
misto entre disputa entre atletas — elemento competitivo e comercial, voltado para a
televisão — e um projeto de difusão e celebração da cultura que cada esporte radical
presente na programação carrega. Lá, o skate está entre BMX, patins inline, entre
outros esportes, todos com diversas provas diferentes. 

TEXTO 2

Eu quero mais é asfalto e concreto, para pegar meu skate e sair por aí
gastando minhas rodas, descendo e subindo ladeiras puxado por ônibus, dropar
de muros, horrorizar o trânsito, achar transições para uma boa diversão, entrar
na contramão, subir guias, etc. Por quê? Por que nós amamos isto, vivemos
disto!!!"
Assim escreveu o skatista Fábio Bolota em matéria de 1986 da revista Overall.
Em agosto daquele mesmo ano, o então prefeito de São Paulo, Jânio Quadros
(1917-1992), daria sua primeira ordem para coibir o skate no Parque do Ibirapuera.
Dois anos depois, a ordem para reprimir viraria proibição oficial, posteriormente
estendida para toda a cidade de São Paulo.
Como o skate no Brasil foi de prática transgressora, perseguida por políticos
conservadores, a esporte campeão de medalhas nas Olimpíadas? A gente conta aqui.
No início, os skatistas apenas deslizavam pelas ruas e calçadas imitando as
manobras que os surfistas realizavam nas ondas do mar", escreve o pesquisador,
acrescentando que, por conta disso, o skate era mais conhecido na época como "surfe
de asfalto" ou "surfinho".
A partir de 1977, no entanto, a atividade passa por um "processo de
esportivização", conta Brandão, com o desenvolvimento de um mercado, publicações
especializadas, pistas, campeonatos, equipes, marcas e empresas interessadas na sua
promoção e profissionalização.
Até que, na década de 1980, surge uma nova forma de praticar o skate, que
subvertia a lógica da atividade como prática esportiva: o street skate, ou skate de rua,
em bom português.
"O street começa a perambular pelas cidades, principalmente em praças, onde
existem bancos e corrimãos", diz Brandão, em entrevista à BBC News Brasil.
"Ele trazia de novidade um uso irreverente da cidade. Uma escada é planejada
pelo urbanista para ser descida a pé e o corrimão para servir de apoio à mão. O
skatista transgride, 'transvaloriza' esse uso. A escada passa a ser um obstáculo que ele
vai pular de diferentes maneiras, o corrimão, ele vai descer com o skate. Então o
skatista faz um 'contra uso' da cidade e é isso que vai gerar conflitos"
O street skate se desenvolveu no Brasil misturado à cultura punk e com o
mesmo espírito de transgressão e rebeldia.
"Eles [os skatistas] não se preocupam com a etiqueta social, nem com o sistema
que tentam lhes impor. Criam uma anarquia urbana e circulam sem nenhum tipo de
autoritarismo. São os filhos do futuro! Não se importam com comentários ou críticas,
pois banalidades já estão cansados de ouvir. Eles pensam diferente do Status Quo e
se comportam como tal."
O trecho é de autoria de Paulo Anshowinhas, editor da revista Yeah! e foi
coletado pelo historiador Leonardo Brandão.
"Existe uma bifurcação no skate: de um lado o skate praticado em rampas,
associado à ideia de esporte e, posteriormente, de esportes radicais", diz o professor
da FURB. "Agora, o skate na rua é considerado mais como uma espécie de uso da
liberdade. Está mais perto do campo artístico, da criação, do que da competição,
disciplina física e espaço instituído do esporte."
Na São Paulo da década de 1980, os skatistas de rua tinham nas marquises do
Ibirapuera seu local preferido, devido ao chão liso e à proteção que a cobertura
oferecia em dias chuvosos.
O local porém tinha um vizinho careta: o prefeito Jânio Quadros, cujo gabinete
estava instalado no Pavilhão Manoel da Nóbrega do parque, hoje sede do Museu Afro.
Vale lembrar que, antes de ser prefeito de São Paulo, Jânio Quadros foi por um
brevíssimo período presidente do Brasil (de 31 de janeiro a 25 de agosto de 1961),
tendo sido eleito sob o moralizante jingle anticorrupção "Varre, varre, vassourinha!
Varre, varre a bandalheira!".
Pois, em agosto de 1986, o conservador Jânio Quadros dá as primeiras ordens
para coibir a prática do skate no Ibirapuera, orientando a Polícia Militar a apreender os
skates dos praticantes. Após muitos atritos entre skatistas e policiais, a proibição
efetiva é decretada em 19 de maio de 1988, em memorando impresso no Diário Oficial.
nconformados com a proibição, os skatistas paulistanos organizaram uma
manifestação, que reuniu cerca de 200 participantes. Eles foram de skate do metrô
Paraíso ao parque do Ibirapuera, com a intenção de entregar "uma carta com mais de 6
mil assinaturas" pedindo a reconsideração da proibição e a construção de uma pista no
local ou em outra área pública.
Quadros ordenou que os seguranças fechassem os portões de acesso ao
parque e impedissem a entrada dos skatistas. Além de não receber os manifestantes, o
então prefeito decidiu levar a proibição além, barrando o uso do skate em toda a cidade
de São Paulo.
Brandão destaca que a proibição da capital paulista é a mais documentada, mas
não foi a única do período. Muitos municípios brasileiros proibiram o skate nas ruas no
final da década de 1980 e a repressão também aconteceu em cidades da Califórnia,
nos Estados Unidos, berço do skate. Com a proibição, a repressão policial endureceu.
"Por duas vezes eu fui preso, me colocaram numa cela", conta o skatista
Thronn, em relato colhido por Leonardo Brandão.
"Uma vez fui preso porque estava dando fiftys [deslizando com os eixos do
skate] nos arcos de ferro da igreja de Moema. Uma vez no Parque do Ibirapuera, fui ao
banheiro da lanchonete e, quando voltei, todos meus amigos tinham sido abordados e
seus skates, confiscados. Aí os guardas vieram querer pegar o meu, e o pessoal, já
meio derrotado e cabisbaixo, pediu pra eu entregar também, mas comecei a lutar,
girando como numa roda de punk e saiu voando caneta, blocos de anotações,
distintivos, moedas, tudo que os guardas tinham”.

TEXTO 3

Vai ser preciso ter jogo de cintura na Olímpiada da França, em 2024. Isso porque o
breaking, estilo de dança mais conhecido como break dance, será incluído como uma
das modalidades nos Jogos Olímpicos que serão realizados na capital da França. Um
dos precursores do break dance, que na época inovou com suas músicas e danças no
estilo Soul, James Brown estaria feliz com a novidade se estivesse vivo hoje em dia.

TÓQUIO: Pedro Barros comemora medalha de prata no skate park: "skate life!" - Este
vídeo começará em0:06
A ideia de incorporar o breaking nos Jogos de Paris é uma iniciativa do Comitê
Olímpico Internacional (COI) de trazer a audiência dos jovens para a competição. Na
edição de Tóquio, o surfe e o skate tiveram esse papel.

Essa dança de rua foi criada nos anos 1970, no Bronx, na cidade de Nova York. Mas
chegou ao Brasil nos anos 1980. O interessante é que cada país tem um estilo próprio,
desta forma, os brasileiros agregam algumas influências, como a da capoeira. E da
mesma forma que os estreantes olímpicos em Tóquio-2020, o surfe e o skate, que têm
uma comunidade e estilo de vida característicos, o breaking também tem
suas particularidades. Como explica o diretor do Conselho Nacional de Dança
Desportiva, Jose Bispo de Assis “Bispo SB”, em exclusiva ao LANCE!:

- O breaking é um dos elementos que compõe a Cultura Hip-Hop. Sendo assim carrega
toda ideologia que permeia esta manifestação. Assim como o skate e o surfe definimos
isso como nosso “Life Style”. Temos nossa música, nossa arte e nossa dança. Temos
nosso estilo de roupas e nossos locais de encontro, confraternização e organização.
Crews são como definimos nossos coletivos. Já temos eventos de alcance
internacional e os nacionais - disse Bispo, que ainda completou:

- Temos muito mais a buscar do que somente medalhas visto que um dos nossos
preceitos é melhorar o local em que vivemos através de atitudes positivas. A melhor
vitória é aquela que é dividida com as comunidades de ondem viemos. (FONTE: Lance
NET)

Refletindo no que pode ser lido nos textos motivadores acima, elabore um texto
dissertativo-argumentativo com o tema Esporte e cultura de rua no Brasil

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