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O presente artigo visa contemplar as noções sobre o narcisismo para além da ideia corriqueira,
buscando a compreensão no âmbito da Psicologia Clínica, sobretudo, sob o olhar psicanalítico.
Discorre-se sobre as características das pessoas que apresentam este tipo de personalidade, o
narcisismo como etapa evolutiva, quando passa a se constituir em um quadro psicopatológico e
a prática clínica ilustrada com vinhetas clínicas.
O termo Narcisismo remete ao mito de Narciso, que se apaixonou pela própria imagem. A
pessoa com características narcisistas é percebida como um suposto adorador de si mesmo,
apresentando elevada autoestima e idealização de si mesmo (Roudinesco, 1999 e Figueredo,
2003).
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O que inspira a preocupação constante com a própria pessoa é a ausência de um estável amor
interior por si mesmo, obrigando-a a usar os outros para confirmá-lo. Assim preocupações como,
“devo ser importante”, apontam que algo está errado com o seu amor por si mesmo, vive
dominado pela ansiedade, pela dependência, pela necessidade de aprovação pelo outro. Diante
das inevitáveis frustrações que essa dinâmica lhe custa, não tem sido raro deparar-se com
pessoas com tais características dentro de uma prática clínica em que pode ser encontrado por
meio de queixas como: exigência com o corpo e a estética, vazio interior e depressão.
Assim, concorda-se com o pensamento de Zimerman (1999) em que afirma que as pessoas que
sofrem de vazios, tem uma ausência de reconhecimento de suas emoções, em realidade, elas
estão cheias de buracos negros, resultantes de uma rígida carapaça, uma “concha autística”,
que se forma contra a ameaça de um sofrimento provindo de frustrações impostas pela realidade
exterior.
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Discorrer sobre o narcisismo é, sem dúvida alguma, um grande desafio por ser um dos temas
mais relevantes dentro da psicopatologia atual. O conceito de narcisismo passou por uma
evolução de diferentes enfoques dentro da teoria psicanalítica e contou com a contribuição de
diversos autores.
De maneira geral, quando se faz menção ao narcisismo, logo se vem à mente um espectro de
significados, mas destacam-se palavras ligadas à perfeição, vaidade, autossuficiência,
superioridade, egoísmo entre outros. Tal a importância do conceito que, conforme apontado por
Zimerman (1999) e Figueiredo (2003), apreende-se que tanto o narcisismo quanto o
investimento objetal mostram-se fundamentais para a formação do sujeito, uma vez que são os
investimentos narcísicos, oriundos dos cuidados maternos, que confirmarão ou não à criança o
seu lugar como objeto de amor, estando, portanto, na base do que conhecemos por autoestima.
Faz-se necessário, esclarecer que existe uma diferenciação entre a etapa evolutiva normal vivida
por todo ser humano, que conferem ao homem características sadias, que estão relacionadas
com a formação da autoestima, de um quadro de narcisismo patológico ou transtorno narcisista,
que confere acarreta ao indivíduo uma carga de sofrimento emocional. Para Macckinon, Michels
e Buckley (2008) o narcisismo organiza a personalidade desde o saudável até o patológico,
sendo que sua face saudável é fundamental para manter a convicção de que a pessoa é valiosa
e que aceita aplausos e recompensas por suas conquistas e realizações, ao mesmo tempo em
que compartilha e aceita o papel das outras pessoas neste sucesso.
A este respeito, concorda-se com Figueiredo (2003) quando este aponta para os fenômenos
sociais e psíquicos que se está experimentando no século XXI: “A ameaça de destruição da
humanidade cedeu lugar a uma cultura do individualismo esquizóide, na qual, entre mortos e
feridos, todos nos salvamos, cada um na sua e nada entre nós” (p. 52-53). Com isso, evidencia-
se o inegável sofrimento subjacente destas pessoas que apresentam alta insatisfação, uma
enorme inveja do sucesso dos outros e um grande vazio interno.
Nesse sentido, Wanderley (1999) assinala que o homem narcísico se diz tolerante, permissivo e
liberado, mas em contrapartida diante de tanta liberdade, na busca incessante do prazer, sente-
se vazio. Além disso, nesta perspectiva esse sujeito torna-se e indiferente a tudo e a todos que
não lhe dizem respeito diretamente.
Não obstante, suas ocasionais ilusões de onipotência, o narcisista depende dos outros para
validar sua autoestima. Ele não consegue viver sem uma audiência que o admire, mesmo com
sua aparente liberdade dos laços familiares e dos constrangimentos. Essa inclinação para o
mundo externo não o impede de ficar só consigo mesmo ou até mesmo de se exaltar em sua
individualidade. Pelo contrário, ela contribui para sua insegurança, que ele somente pode
superar quando vê seu “eu grandioso” refletido nas ações e nas atenções das outras pessoas,
ou se ligar àqueles que irradiam sua celebridade, poder e carisma. “Para o narcisista, o mundo é
um espelho, ao passo que o individualista áspero o via com o um deserto vazio, a ser modelado
segundo seus próprios desígnios” (Lasch 1983 p. 30 citado por Wanderley 1999).
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Além disso, não é possível falar em narcisismo sem trazer para esta reflexão os conceitos de
narcisismo primário e secundário, propostos por Freud. Em “Sobre o narcisismo: uma
introdução” (1914), Freud concebeu a ideia de que o sujeito toma seu próprio corpo como sendo
ao mesmo tempo fonte e objeto da libido sexual. Assim, o narcisismo primário é uma etapa
evolutiva que ocorre após a etapa do autoerotismo, e baseia-se no investimento que objetos
externos fazem ao bebe, porém ainda não há uma diferenciação entre eles.
De acordo com Mackinon et al (2008) enquanto patologia narcisista existe um continuum desde
a forma branda até as mais graves. O paciente narcisista mais comprometido apresenta uma
oscilação entre dois estados do sentimento: grandiosidade e um senso de insignificância.
Destaca-se a grande contradição nestes pacientes se por um lado precisam do outro como fonte
de gratificação e admiração constantes, por outro lado, evitam qualquer intimidade e interesse na
relação.
A este respeito, recorre-se ao conceito de posição narcisista, proposto por Zimerman (1999) que
auxilia na compreensão da construção de uma configuração narcisista que cada sujeito vivencia,
e que depois toma seus contornos e singularidades próprias, de acordo com a constituição do
sujeito e da interação deste com o ambiente. Esta posição narcisista pela qual todos passam,
refere-se ao momento do desenvolvimento no qual ainda não se estabeleceu a diferenciação
entre o eu e o outro.
No entanto, no decorrer do desenvolvimento o contato com realidade vai rompendo com essa
onipotência e evidenciando que o que existe, na verdade, é um estado de absoluta dependência.
Por isso, a separação da mãe, por meio da entrada de um terceiro na relação mãe-bebê torna-se
fundamental para o estabelecimento de frustrações necessárias em direção ao reconhecimento
e aceitação da incompletude e falta. Se o bebê não passa por este processo, ou seja, se ele
permanece na ilusão da independência e completude, ele poderá ter dificuldades em suportar a
realidade. Neste sentido, ele pode estar constantemente buscando aquela satisfação perdida,
quais sejam, sentir-se poderoso e indispensável.
Para o sujeito narcisista, reconhecer que necessita de outros, demanda sofrimento. O sujeito
pode então recorrer a mecanismos de defesa como negação e onipotência para fugir dessa
realidade, para não ver ruir sua autoestima e sentimento de identidade. De modo geral, o sujeito
passa pela vida tentando fugir do que Zimerman (1999) chama de verdades penosas, quais
sejam: reconhecer que não é o único importante, que sofre dependência, perdas e separações.
Esta necessidade poderá ser ampliada para tudo o revele um limite, como a morte, o
envelhecimento e tantos “Nãos” que receberá ao longo da vida.
Associado a isto, elucida-se a dificuldade destes sujeitos em reconhecer seus limites:
envelhecimento, morte, perda. A este respeito cita-se como exemplo: Paciente J, 25 anos, ao
agendar uma sessão para a terapeuta pediu a mesma um horário que já tinha outra pessoa
marcada. Indignado o referido paciente solicitou que a profissional desmarcasse com o outro
cliente para que fosse atendido. Este relato evidencia a dificuldade do mesmo em lidar com
limite, não ser o único importante para a terapeuta e sentir-se desprivilegiado.
Nos transtornos narcisistas, evidencia-se um lado regressivo, por meio de características com
baixa tolerância a frustração, uso de negações, inveja entre outros. Assim, é possível que o
sujeito transforme sua insegurança e dependência em autossuficiência e onipotência. Neste
sentido, evidencia-se o que Zimerman (1999) chama de núcleo de simbiose e ambiguidade.
Na relação com psicoterapeuta estes pacientes fazem uso de demasiada identificação projetiva,
ou seja, uma forma de comunicação inconsciente em que aspectos do próprio sujeito são
negados e atribuídos ao psicoterapeuta. Nesse sentido, pode-se apontar para a vinheta clínica
do caso clínico da jovem, 21 anos, recém graduada e que não passou em um processo seletivo
para uma vaga de emprego na qual sentia que tinha todas as condições para assumir:
eu não acredito que não passei, era o emprego dos meus sonhos e sempre me dediquei para
isto. Acho que você já sabia que eu não iria passar. Acho que agora vou fazer outra faculdade e
virar estagiária.
Complementando que já foi apontado até aqui é possível conhecer que podem ser delineadas
outras características desta personalidade narcisista, tais como: possuir a tendência a
generalizar alguma deficiência para a totalidade de sua pessoa.
eu acho que tive um insigth (pausa), eu visualizei um monstrinho correndo, fugindo de mim, daí
eu cheguei devagarinho, e cuidei dele, fiz carinho e ele se acalmou...eu penso que não preciso
mais lutar contra coisas que eu criticava em mim, sou vaidoso, ambicioso, quero ser mais,
melhor...talvez se eu souber dosar pode ser bom...porque se eu ficar acreditando que tudo é
ruim não vou a lugar nenhum.”
No processo terapêutico torna-se importante ajudar o paciente a integrar o seu self, superando
essa lógica dualista de ser ou bom ou mal. Frisa-se, ainda, a auto exigência como uma outra
característica comum entre os narcisistas. A fim de satisfazer um ideal de ego e ego ideal
severos, a autoestima sofre uma espécie de pressão, ficando vulnerável. O ego ideal se constitui
das ambições pessoais enquanto o ideal de ego representa a necessidade do sujeito em cumprir
as expectativas e ideais dos pais e da sociedade.
Bleichmar (1983), utilizou o termo depressão narcísica para designar o quadro clínico em que,
frustrações pequenas são sentidas como desamparo, humilhação e aniquilamento, por não
atender as exigências do ideal de ego e ego ideal. Outra consequência da tentativa de super
adaptação em relação as demandas do ego é a construção de um “falso self”, em que o sujeito
afasta-se de seu verdadeiro eu, para ser aquilo eu crê que seja idealizado e desejado pelos
outros e por ele mesmo. Esse “falso self” esgota facilmente o ego porque o sentimento de
insatisfação é continuo, e obriga o sujeito a ultrapassar até mesmo seus limites.
Sou um Maria vai com as outras, o outro é que é referência, se estou próximo de um gigante,
poderoso, bem-sucedido, quero ser como ele, quando estou com um cara simples, que não se
importa com isso, eu também quero ser como ele. Além disso, sinto que falo o que as pessoas
gostariam de ouvir, sei agradar, fico preocupado se causei uma boa impressão, fico com medo
dos erros aparecerem”.
Para que isto ocorra, é natural que falhas precoces sofridas pelo sujeito nos primeiros anos de
vida, tenham prejudicado o desenvolvimento saudável de sua autoestima. Assim, a
personalidade narcisista, frágil em sua confiança básica e segurança básica, passa a utilizar com
frequência um jogo e comparações, para reafirmar ou descartar seu valor. Para a paciente M, 43
anos, caso B, a família dos outros sempre era melhor que a sua e desta forma passava a
inferiorizar-se:
Eu praticamente não tenho família e me contentar que a minha família não me ajuda, se eu
tivesse a família igual à da fulana, tudo seria diferente, tudo dá errado para mim por causa desta
família, mas se eu tivesse uma família com dinheiro como a dela, eu ainda seria melhor que ela.
Acho que até fazer dieta seria mais fácil.
Para o psicanalista Zimerman (1999), Narciso e Édipo estão inter-relacionados, muitas vezes,
um torna-se o refúgio para o outro. Nem sempre uma regressão narcisista resulta numa fuga do
Complexo de Édipo, mas sim numa nova tentativa de fazer um começo diferente, com uma base
de autoestima suficiente para superar o complexo de édipo e seguir de forma mais madura e
saudável. Com tudo o que foi exposto, podemos delinear a matriz, as principais defesas e a
psicodinâmica desta estrutura. Para Rosenfeld (1987) o narcisismo pode ser também
classificado em dois tipos:
Narcisista de “pele fina” que são aqueles que são supersensíveis, melindráveis, com uma
extrema vulnerabilidade na autoestima, que se colocam num papel de vítima, para de alguma
forma, assegurar o poder. Este tipo de narcisista reage com dor a tudo que parece rejeição,
sensação de inferioridade e utilizam-se da ameaça suicida como uma forma de controle.
Também é comum o sujeito “pele fina’ a oscilação entre estados emocionais e exige um trato
especial do psicoterapeuta.
Narcisista “pele grossa”. Este tipo apresenta-se de forma mais arrogantes, prepotentes, com
uma atitude defensiva e agressiva, intimidadores, insensíveis aos aspectos de dependência.
Aparentam superioridade, quando na realidade, apresentam um self destrutivo. Estas pessoas
funcionam a partir da “tríade maníaca”: atitude de controle, triunfo e desprezo. Na realidade
essas características encobrem, dissimulam e protegem uma subjacente pele fina. Para evitar as
dores das velhas e precoces feridas narcísicas, constroem uma espessa cicatriz de pele grossa.
O narcisismo de pele grossa, aproveita seus conflitos como uma força para ir atrás das coisas
que deseja, sua ferida é o seu “combustível”.
No caso do paciente A, podemos considerar seu narcisismo do tipo pele grossa, pois apesar de
sua insegurança, baixa autoestima e medos de rejeição, abandono entre outros, ele
transformava sua vulnerabilidade em força para lutar, superar, crescer, e ir em busca de seus
sonhos e ideais. Apesar de suas feridas e conflitos, sentia-se um “guerreiro” e “não entregava os
pontos” (palavras do paciente). Quando encontrava uma dificuldade transformava em desafio e
buscava força para superar. Já os narcisistas de pele fina adotam uma postura de desistência
na vida. Como exemplo de uma estrutura tipo pele fina, citaremos trecho da sessão da paciente
S, 21anos, em sua terceira faculdade (não concluída):
“Quando eu piso nos corredores desta instituição de ensino sinto minhas pernas me puxando
para fora. É como se elas me dissessem que não vou dar conta mais uma vez, aí eu prefiro nem
ir mais e desistir”.
De acordo com Zimerman (1999), os pacientes que possuem muitas características da posição
narcisista que pertencem ao que se chama “pacientes de difícil acesso”, que por sua vez,
evidenciam a necessidade um manejo técnico cuidadoso e especial. Torna-se importante a
análise dos aspectos narcisistas, em termos de grau (moderado ou intenso), e natureza (sadia
ou patológica). Compreender o perfil do paciente narcisista: a base da estruturação do paciente
narcisista encontra-se na forma como se desenvolveu o apego da criança com sua mãe.
Situações de precoce fracasso ambiental, como privações maternas, possessividade narcisista
da mãe em relação ao filho, falhas na empatia, falhas da capacidade de frustrar a criança
adequadamente, depressão materna no momento primordial do investimento do olhar e amor da
mãe para com o bebê, entre outros. Tais aspectos dificultam a construção do apego saudável e
trazem consequências negativas para a autoestima da criança que apresenta como resultante
disso tudo, um prejuízo na construção da confiança básica, da constância objetal, da passagem
da indiferenciação para a de separação e individuação e da internalização de objetos bons, com
largos “vazios” no espaço psíquico (Zimerman, 2004).
Para o paciente narcisista conectar-se com a realidade interna é algo extremamente penoso,
pois reconhecer as suas limitações e aceitação da realidade, pode se constituir uma ameaça ao
seu ego frágil. Estes pacientes possuem ainda, um baixo limiar de tolerância a frustrações vindas
do psicoterapeuta, pois teme decepcionar o mesmo e, assim, ser abandonado como foi
percebido outrora na sua relação com a mãe.
A construção de uma aliança terapêutica é fundamental, incluindo aquilo que Bion chama de
“pessoa real do analista”, pois o terapeuta está servindo como um novo modelo de identificação,
que vai oferecer novas formas de enfrentar as angustias, funcionar como continente, e ajudar o
paciente a pensar sobre as verdades. O terapeuta deve auxiliar o paciente a realizar uma
integração do self, mostrando as conquistas e potencialidades dos pacientes bem como aquilo
que é desafio para ele, ou seja, integrar a parte adulta e a parte infantil.
É muito comum no início do tratamento que o paciente narcisista faça uma idealização
necessária do terapeuta, que se transforma no decorrer do processo. Da mesma forma, o
paciente gostaria que o terapeuta o idealizasse, pois na logica psíquica essa seria uma garantia
de não separação ou abandono. O terapeuta deve estar atento também as resistências e
contra-resistenciais, pois esta é uma indicação sobre o funcionamento do paciente. O terapeuta
por vez necessitara ter uma boa capacidade de continência, para tolerar e transformar os
sentimentos, tais como, a “fúria narcísica” (Kohut) que surge no decorrer do processo
psicoterapêutico. De acordo com Kohut, algumas formas de transferência narcisista: fusional, na
qual o paciente espera que o terapeuta adivinhe e dê conta das necessidades dele. O tipo
“gemelar”, na qual o paciente espera que o terapeuta seja como ele é, que apoie e confirme suas
teses. E a do tipo especular, na qual espera que o terapeuta reconheça sua grandiosidade
exibida por ele.
O paciente do caso A costumava apresentar o seguinte padrão: todas as vezes que a terapeuta
se afastava por motivo de férias ou algum imprevisto importante que necessitasse desmarcar a
consulta, tornava-se comum a ausência na sessão seguinte ao retorno. Uma forma de
demonstrar sua ambivalência com o afastamento da terapeuta. Ao mesmo que trazia à tona sua
dúvida quanto a seu valor e aceitação, uma ferida primitiva, também precisava sentir-se no
controle, e por isso a falta seguinte, para não se sentir tão vulnerável, já que apresentava medo
da dependência afetiva.
“Estou com medo de ficar dependente de ti, porque eu não consegui decidir aquilo, eu precisava
da tua opinião, e não deu tempo, fiquei com raiva não de ti, mas porque eu queria muito vir... ás
vezes eu preciso de ti e tu não estás”.
Já a paciente do Caso B, ligou para terapeuta enquanto esta estava de férias, para certificasse
que a terapeuta estava viva porque, segundo ela, precisava dela viva para continuar vivendo.
Por fim, entende-se que os conceitos, a caracterização, bem como as vinhetas clínicas até aqui
apresentadas são apenas alguns delineamentos da estrutura narcisista que vão além do que
abordado. À guisa de conclusão, sabe-se que um paciente narcisista pode beneficiar-se de uma
psicoterapia em que estejam claras as nuances desta estrutura pois, compreende-se que possuir
uma dose de narcisismo, gostar-se, ser bom naquilo que faz, mas sem escravizar-se é saudável.
Porém, sofrer por conta das próprias exigências, toma outro contorno que se afasta do
narcisismo saudável. Como psicoterapeutas, vivencia-se cotidianamente a presença de
pacientes com vários níveis de narcisismo e sofrimento, o delineamento do processo terapêutico
bem-sucedido com empatia e cuidado pode descortinar o aprisionamento destes pacientes que
tiveram seu desenvolvimento reprimido. Acredita-se que é possível vislumbrar um bom
prognóstico, quando o gelo intrapsíquico e a angústia interior forem atingidas neste processo e
propiciarem o crescimento emocional destes pacientes.
Sobre os Autores:
Referências:
Berlinck, L.C (2008). Melancolia, rastros de dor e de perda. São Paulo: Humanitária, Associação
de Acompanhamento Terapêutico, CAP II.
Figueiredo, L.C (2003). Psicanálise. Elementos para clínica contemporânea. São Paulo: editora
escuta Ltda.
Freud, S (1914). Sobre o Narcisismo: uma introdução. Rio de Janeiro: Imago, 1990.
Lasch, C (1987) O mínimo eu. Sobrevivência Psíquica em tempos difíceis. São Paulo: editora
brasilense.
Roudinesco, E. (1999) Por que a Psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor
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