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incorrer no erro de defini-lo apenas como uma permanência da centralidade do
poder privado na esfera pública num regime democrático representativo.
Antes, o fenômeno coronelismo vai além dessa conceitualização, sendo
uma forma especifica da manifestação do poder privado que se recusa a
perder sua centralidade do antigo regime.
Mas para entender o coronelismo, Nunes Leal explicita a necessidade
de compreendermos a estrutura agrária brasileira, onde o coronelismo se
manifesta como um acordo, ou compromisso entre duas partes: a esfera
privada e a esfera pública.
Mas não é qualquer esfera privada, mas especificadamente, o coronel,
aquele que detém muitas terras. Percebemos assim, o predomínio dos chefes
locais, que em virtude de sua decadência na influencia sociopolítica, busca
meios de se manter no poder.
Esse compromisso só se torna possível, mediante a não possibilidade
do governo em abrir mão do eleitorado rural, onde, como consequência dessas
“troca de favores” pode-se observar fenômenos como: mandonismo, voto de
cabresto, alterações irregulares das eleições, em suma, meios pelos quais os
coronéis tentam se manter no poder.
Em seguida o autor se adentra em como esse poder do coronel é
exercido, e como sua centralidade abarca as instituições sociais, e lhe confere
uma posição social de destaque.
Qualquer que seja a liderança - o chefe municipal - quem de fato detém
o poder, segundo Nunes Leal, é o coronel que comanda porções consideráveis
de “votos de cabresto”. É uma situação de dupla causa que produz um
determinado efeito: o coronel possuiu força eleitoral, o que lhe confere
influência social, que também decorre de sua situação econômica.
Essa influência social, ou prestígio, lhe confere a incorporação de
algumas importantes instituições sociais, como funções de jurisdição, de
policiamento, entre outras.
Entretanto, vale mencionar que os dependentes desses coronéis viviam
em condições difíceis e os únicos no meio rural que poderiam obter ajuda
(empréstimos de banco) eram os proprietários de terra. Sendo assim, eram os
coronéis que “ajudavam” proporcionando armazéns onde poderiam fazer
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comprar “fiado” para pagar com a colheita, ou às vezes pedindo dinheiro
emprestado.
A distribuição das propriedades, ou mais especificadamente, a
concentração de terras é um fator importante quando se quer analisar a fonte
de influência social dos coronéis.
Nunes Leal apresenta um recenseamento realizado em 1940 para
fundamentar suas analises, além de expor um aumento das pequenas
propriedades no Brasil que não implica numa diminuição da concentração da
propriedade rural, considerando as desigualdades regionais.
Seguidamente, ainda baseado no quadro apresentado sobre as
desigualdades nas propriedades rurais; analisa os aspectos centrais das
composições de classe na sociedade rural. Onde nos é exposto as seguintes
categorias: empregadores, empregados, autônomos, membros da família, de
posição ignorada.
Resumidamente, Nunes Leal constata uma certa deficiência dos critérios
adotados nesse recenseamento, mas que são úteis e eficazes para constatar
pouca diferença na pobre condição material de subsistência do proletário rural,
do parceiro, e do pequeno proprietário. Tornando-os dependente do coronel,
que por sua vez, se utiliza de sua posição de “provedor” para angariar os votos
de cabresto.
O coronel além de um papel mais abrangente no que tange a liderança
municipal exerce uma influência - igualmente orientada a determinados fins –
na esfera privada de determinados atores, trazendo uns para a esfera pública,
e ao mesmo tempo tirando outros. Nunes Leal denomina essa característica
como um “paternalismo” que desemboca no filhotismo "pão para os amigos” e
no mandonismo “pau para os inimigos”.
Os períodos que antecedem o processo eleitoral são marcados por uma
ebulição das forças que antes estavam inânimes, ou pouco ativos. Troca de
favores, apoio ou não apoio estadual e dos coronéis á facção que está no
poder.
É importante ressaltar, que o coronel não exercia um “poder absoluto” na
prática, antes o que ocorria, era um sistema de reciprocidade entre os chefes
municipais e os coronéis. Nunes Leal, explicita uma certa dependência que
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coronel possuía para com o Estado, visto que, sua influência social decorria da
estrutura agrária, que por sua vez decorria dos empréstimos do poder público.
Seguidamente, o autor discute a questão da autonomia municipal no
Brasil, frente ao fenômeno do coronelismo. O que ele constata é na realidade
uma falta de autonomia considerável tanto na presente analise como em
tempos passados no Brasil.
Ele cita alguns processos que pelos quais ocorre um atrofiamento dos
municípios, que são: falta de orçamento público, excesso de obrigações,
poucos atribuições autônomas, restrição a eletividade administrativa, e o
intervencionismo policial em questões nas demandas locais.
O autor também ressalta um erro muito comum aos que se propõem
estudar o coronelismo, que se trata de atribuir ao coronel uma hegemonia
social do município. É preciso entender que essa hegemonia existe somente
em relação aos dependentes da propriedade do coronel, levando em
consideração que um município divide-se em distritos, e alguns desses distritos
escapam a influência do coronel.
Nas considerações finais, Nunes Leal sintetiza alguns pontos já
apresentados com o intuito de nos fornecer alguns pontos centrais do
coronelismo, que são: um fenômeno que atua num cenário reduzido (governos
locais), rarefação do poder público (que não é uma sobrevivência do período
colonial), e um sistema político que é domesticado por um pacto entre o poder
privado cada vez mais decaído, e o poder público revigorado.