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RESUMO: ​A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE BRINQUEDOS E A ABERTURA

COMERCIAL - UMA ANÁLISE SEGUNDO A TEORIA DOS JOGOS DE DOIS NÍVEIS


O sistema internacional em transformação
O século XX é caracterizado pela revolução tecnológica (era da informação), que trouxe para
o mundo uma proximidade relativa das culturas do planeta. Até então a teoria que reinava nas
relações internacionais era o realismo, em que o Estado era ator unitário, porém com a
globalização ocorre uma dinamização economia internacional, que vai impulsionar a
relevância de novos atores, por isso partir de 1970 o liberalismo volta a ganhar força no SI
(sistema internacional).
Diante de todo esse processo de mudanças no mundo, as empresas transnacionais surgiram
como os frutos mais fortes da revolução tecnológica e vão se mostrar atores extremamente
estratégicos nos planos financeiro, econômico e político, exercendo influencia por meio de
grupos de pressão ou por financiamento de atividades políticas para garantir seus interesses.
Então, o Estado passa por uma perda de sua autonomia que garantia uma capacidade mais
acessível de ações unilaterais, apesar de ainda ter o posto de ator central das relações
internacionais, pois ainda domina os recursos naturais e a vida das sociedades.
As transnacionais surgem no fim da Segunda Guerra Mundial para produzir em larga escala,
com baixo custo e vinculada (financiada) pelo Estado de origem, com o objetivo de lucrar
com a reconstrução do Japão e da Europa, onde foram feitos diversos acordos entre os
governos e as grandes empresas. Pouco tempo depois as multinacionais estavam com
dificuldade de produzir em larga escala, por isso as filiais se tornaram mais autônomas e
agindo de acordo com uma gestão ​worldwide. Sendo assim, se dissociando de um Estado de
origem.
A descentralização ocorre quando uma empresa terceiriza todos os seus serviços associados à
construção de um produto final. Isso gera uma maior agilidade e transformação dos fluxos
mundiais, o que dá a capacidade de inovação e ampliação dessa empresa, permitindo maior
competitividade no mercado internacional.
Por outro lado, os Estados ainda dependem economicamente das empresas transnacionais,
principalmente na forma de impostos e dominarem os respectivos mercados nacionais. Pouco
mais de 2/3 de todas as transações comerciais do mundo são realizadas por essas empresas e
suas filiais. Elas possuem o controle recursos e controlam a maior parte do comércio mundial,
tornando as transnacionais um novo e muito influente ator econômico internacional, podendo
até ser caracterizado por apresentar um monopólio internacional.
Assim, observa-se que, em um mundo globalizado regido pela interdependência complexa,
até mesmo atores não-estatais afetam as relações domésticas e entre Estados. Nesse sentido, a
participação de grandes empresas desvinculadas da esfera estatal no sistema internacional
tornou-se apenas mais uma das possibilidades de ação. Além de perseguirem interesses
próprios, tais instituições atuam como “correias de transmissão”, colaborando para que as
políticas nacionais fiquem mais sensíveis umas às outras (Keohane & Nye, 2001: 22).
Jogos de dois níveis: uma alternativa metafórica
Robert D. Putnam estabelece que previamente às negociações em meio internacional –
definido por ele como Jogo – há outros jogos que influenciam diretamente nos movimentos
dos jogadores. A isto Putnam nomeia de Jogo de Dois níveis, onde o primeiro nível consiste
no plano internacional, onde há as rodadas de negociações com base nas políticas externas
dos atores, e o segundo nível, onde são produzidas parte das diretrizes da diplomacia de
Estado.
O trabalho do autor tem por maior destaque a análise do segundo plano, o interesse nacional.
Neste nível é descrito que um Estado organiza-se internamente em coalizões vencedoras – ou
como denominado pelo autor: win-sets – que tratam- se, em suma, de grupos nacionais que
buscam a vinculação de seus desejos. Tais grupo tem poderes e pesos distintos sobre as
discussões dos assuntos domésticos, e assim, para validar sua voz organização em coligações
de interesses comuns para que seu desejo seja levado a nível estatal e posteriormente à
internacional.
Válido ressaltar que em um Estado há a composição de vários win-sets que buscam seus
interesses, e a estrutura de tais organizações é altamente sistematizada, há internamente a
chamada roundtable onde os membros da coalizão discutem quais serão as medidas
requisitadas ao Governo. Além disso, devido ao grau variado de poder dos grupos nacionais e
de seus desejos, há internamente às coligações a formação de uma coalizão interna.
Putnam estabelece que é possível classificar as win-sets quanto ao seu tamanho segundo
algumas propriedades tais quais: distribuição do poder interno, preferências, coalizões
internas; e afirma que se um assunto é ratificado por maioria de votos domésticos o win-set é
pequeno.
Ressalta-se igualmente que o segundo nível é interdependente ao primeiro uma vez que
apesar das negociações finais serem dadas no âmbito internacional, quando as negociações
estão sendo realizadas o segundo plano passa a se movimentar de acordo com o estas.
Ademais o Estado também tem voz quanto a sua organização interna podendo facilitar o
contato das coalizões com atores multinacionais que passam a ser atores em win-sets
nacionais.

A indústria brasileira de brinquedos e a abertura comercial


As ações protecionistas em relação a indústria brasileira de brinquedos demonstram que as
negociações ocorrem em um jogo de dois níveis, ou seja, a forma como o Estado se
posiciona internacionalmente, bem como suas atitudes resultam de uma pressão doméstica,
que busca defesa contra os produtos importados.
A liberalização comercial, iniciada pelo então presidente Fernando Collor de Mello, no
início da década de 90, ocasionou a redução das taxas de importação dos brinquedos. Tal
liberalização manteve-se nos governo posteriores, e em menos de 10 anos, as tarifas de
importação caíram cerca 38%.
Aliado a isso, o Plano Real - instaurado durante o governo de Itamar Franco e caracterizado
por ser uma reforma econômica neoliberal - provocou o crescimento da demanda por
brinquedos. Presumindo uma carência na oferta, o governo reduziu pela metade a alíquota
da importação de brinquedos, prejudicando as empresas nacionais.
Assim, a Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos - Abrinq - exigiu o aumento
dos impostos de importação sobre brinquedos, ao argumentar que as empresas chinesas
vendiam os produtos abaixo do custo de produção, tornando a concorrência injusta.
Com isso, o governo aprovou medidas provisórias para proteger a indústria nacional,
elevando a alíquota dos brinquedos importados, prometendo reduzir-lá com tempo. Dessa
forma, o setor de brinquedos se desenvolveu, os investimentos e o faturamento cresciam e
houve a geração de milhares de postos de emprego direto.
No entanto, isso foi ineficiente para salvaguardar a competitividade do setor industrial
brasileiro de brinquedos no mercado nacional e, as medidas protecionista que seriam
mantidas até 1999, foram prorrogadas até 2003.
As empresas importadoras de brinquedos - lideradas pela norte-americana pela Mattel -
argumentavam que a desvalorização do real, diminuiria a demanda por produtos importados
e, por isso, não havia necessidade da prorrogação.

O autor alega que, em realidade, o setor industrial nacional estava habituado às facilidades de
um mercado interno sem concorrência, continuando obsoleto e sem preocupar-se com a
modernização do processo produtivo.
Destaca-se também o papel das mídias e da sociedade. A mídia possui a capacidade de
influenciar tanto os gestores de políticas públicas, quanto a sociedade, dependendo das
orientações ideológicas de cada emissora. A sociedade defende seu posicionamento como
consumidores, não se envolvendo fortemente na proteção da indústria nacional ou na
liberalização econômica.
Assim, as empresas transnacionais prejudicadas buscaram apoio em seus países de origem, e
esses países apresentaram uma reclamações junto à OMC (Organização Mundial do
Comércio), argumentando quanto a incoerência entre a queda na produtividade nacional e o
aumento das importações. Por exemplo, não foi a Mattel exigir explicações ao Brasil na
OMC e sim, os Estados Unidos.
Isso demonstra que as multinacionais se valem de seu nacionalismo quanto está de acordo
com seus próprios interesses, mas não sustentam a vontade de cumprir os interesses
nacionais.
Portanto, a Teoria dos Jogos de dois níveis pode ser empregada a situação do setor industrial
brasileiro de brinquedos na época da abertura comercial, demonstrando os diversos interesses
e atores (domésticos e internacionais) envolvidos na questão.

Pesquisa de caso
● “Alibaba e IBM são líderes na lista das empresas com maior número de patentes
focadas em blockchain”
A disputa comercial entre duas empresas transnacionais que dominam o mercado de
informática, tem sido uma dois meios de competitividade internacional das mercadorias
norte-americana e asiática que trabalha o desenvolvimento das suas empresas ( Alibaba, da
china e IBM, dos Estados Unidos) para impor em suas empresas esse novo surgimento da
nova tecnologia que está crescendo, a criptomoeda. É nessa disputa Alibaba adquire o
primeiro lugar no Ranking de patentes, e o segundo IBM. Enquanto que a IBM ​investe na
blockchain em diversos campos, a Alibaba se mantém um pouco cético a relação as
criptomoedas, causando assim uma possível avanço da IBM em relação a ela.

International​ ​Business Machines no Jogo de dois níveis.

De acordo com o paradigma dos jogos de dois níveis, a interação entre os níveis doméstico e
internacional não podem ser desprezados pelo representante de decisão, ou seja, a decisão
tomada deve ser pensado mutuamente. No nível nacional os grupos domésticos elabora seus
interesses mediante pressões ao governo a fim de que o mesmo adote políticas favoráveis,
para seu mercado mundial. No nível internacional os governos nacionais buscam a maior
elevação de sua própria habilidade, enquanto minimizam as consequências para combater os
avanços estrangeiros.

A IBM, uma empresa transnacional de informática dos Estados Unidos, os primeiros passos
da criação da empresa foi no início de 1929, onde que naquela época a política comercial
norte-americano era protecionista, porém a partir de meados da década de 1930 o discurso do
livre comércio e uma política de liberalização comercial foram adotados para o setor
industrial. Com isso, em decorrência ao seu desenvolvimento foi criou ​IBM World Trade
Corporation (1949) uma subsidiária inteiramente independente, cujo objetivo era aumentar
vendas, serviços e em localidades mais distantes do Estados Unidos.
● “Compra da Time Warner pela AT&T não pode ser acatada no Brasil”

A proposta de aquisição, pela AT&T, que no Brasil opera por meio da SKY, da Time
Warner, que reúne Turner, HBO e Warner Bros já foi aprovado pelo Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e tem sido objeto de discussões na Ancine e na
Anatel. O tema foi objeto de audiência pública no dia 04/09, na Comissão de Ciência,
Tecnologia, Comunicação e Inovação (CCTCI) da Câmara dos Deputados.
Essa iniciativa pode colocar em risco a legitimidade da Lei 12.485/11, fruto de anos de
discussões e acordos sobre a organização do setor da TV paga no Brasil, conhecida como Lei
do SeAC.
A Lei do SeAC proíbe o controle ou a titularidade de participação superior a 50% do capital
total e votante de empresas prestadoras de serviços de telecomunicações por concessionárias
ou permissionárias de radiodifusão, bem como o controle ou a titularidade de participação
superior a 30% do capital total e votante de concessionárias e permissionárias de radiodifusão
e de produtoras e programadoras com sede no Brasil, de forma direta, indireta ou por meio de
empresa sob controle comum, por prestadora de serviços de telecomunicações. Essa lei trata
exatamente de tal dinâmica e expressa o intuito, por parte do legislador brasileiro e de
organizações da sociedade civil que participaram da sua elaboração, de evitar o controle, em
poucas mãos, de todas as etapas da cadeia produtiva da comunicação. A própria Constituição
Federal proíbe o monopólio e o oligopólio nas comunicações.
Segundo a teoria dos jogos de dois níveis existem dois tipos de atores internacionais: aqueles
que têm voz ativa no sistema Internacional, por serem dotados de soberania; e aqueles que
perseguem interesses próprios, mas são desprovidos de soberania. Portanto, percebe-se que as
multinacionais são incapazes de agir contra a legislação dos Estados, pelo fato de não
possuírem soberania capaz de se sobressair nessa relação. No caso da aquisição da AT&T,
houve um impasse no Brasil por existir uma lei que proíbe esse tipo de junção, considerando
que a mídia tem um papel central tanto econômico quanto ideológico, tendo forte impacto
sobre a construção de valores e o próprio conhecimento sobre o que se passa no mundo e,
claro, no Brasil.
● “Shell defende criação e regulação do mercado de carbono”

Como mostra a notícia a transnacional Shell está defendendo a criação e regulação do


mercado de carbono. Aos países que ratificaram o Acordo de Paris, negociado durante a
Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2015, é exigido reduzir em
43% das emissões até o ano de 2030 , no caso do Brasil há uma proposta de precificação ao
invés da taxação do carbono. O presidente da Shell Brasil, André Araújo defende a ideia
ressaltando que há mesma só será posto em prática após projeto passar por diversas áreas e
ministérios para ser aprovada. Araújo faz um ressalva citando alguns países latino
americanos que adotaram a precificação ,alertando que o Brasil já está ‘’atrás ‘’ por ainda
não ter posto em prática a proposta .
A notícia mostra como o jogo de dois níveis funciona, as empresas transnacionais emergem
na realidade nacional, influenciando e persuadindo o governo em função da defesa de seus
próprios interesses

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