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1 Introdução
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Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul
de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo (a).
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Acadêmico (a): Ariane da Silva de Souza do curso de Psicologia. E-mail:arianesouza111@live.com
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Professor (a) Orientador (a): Valdirene Bruning de Souza. Mestre em Educação pela Universidade do Sul de
Santa Catarina E-mail:Valdirene.souza@unisul.br
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Professor (a) Coorientador: Sâmia Torquato Rahim. Mestre em Educação pela Universidade do Sul de Santa
Catarina E-mail:samia.correa@unisul.br
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O suicídio nos dias de hoje está cada vez mais frequente. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde - OMS (2000), o suicídio é uma das dez maiores causas de
morte em todos os países, e uma das três maiores causas de morte na faixa etária de 15 a 35
anos. As pessoas vêm se entregando à morte pelos mais diversos motivos, um deles sendo o
aspecto social, que abrange a questão da autoimagem, status social e mesmo bens materiais.
Assim, o suicídio é um fenômeno multifatorial, ou seja, fatores diversos interferem no
comportamento suicida (MALLAUER; MALISKA, 2012). Além disso, a depressão é um
fator importante para o suicídio tanto em adolescentes quanto em idosos, mas aqueles com
depressão de início tardio estão em maior risco (OMS, 2000a; 2000b).
O manejo do suicídio exige do psicoterapeuta um olhar atento aos fatores de risco
e aspectos relacionados à morte e ao desespero humano (FUKUMITSU, 2014, p. 270). Por
conta disso, objetivou-se nessa pesquisa de forma geral analisar os manejos psicoterapêuticos
do Psicodrama e da Gestalt terapia diante do paciente com risco de suicídio. De maneira mais
específica, objetivou-se: identificar as técnicas de avaliação dos pacientes com risco de
suicídio no Psicodrama e na Gestalt terapia utilizadas por psicoterapeutas adeptos de tais
abordagens; descrever o método psicoterapêutico utilizado por profissionais que utilizam o
Psicodrama e a Gestalt terapia no atendimento a pacientes em risco de suicídio e identificar as
diferenças e semelhanças do manejo psicoterapêutico de pacientes com risco de suicídio
dentro da teoria do Psicodrama e da Gestalt terapia.
Na psicologia clínica, além de conhecer as práticas gerais da área da
saúde/psiquiatria, é fundamental para o psicoterapeuta conhecer os aspectos teóricos de sua
abordagem psicológica para realizar a intervenção de forma específica, pois sabe-se que na
psicologia as abordagens teóricas e as técnicas dão um direcionamento, ou seja, uma base
para a intervenção prática.
A respeito do interesse pelo assunto, no período da graduação este é abordado de
forma geral. Não se discute o suicídio na especificidade das abordagens e com isto surgiu na
pesquisadora uma curiosidade cientifica para se falar do assunto; a falta de publicações
correlacionando os temas reafirmou este interesse. Existem na psicologia diversas teorias ou
abordagens psicológicas, porém, considerando as limitações dessa pesquisa, optou-se por
investigar o suicídio dentro das duas abordagens citadas, por serem as de maior interesse da
pesquisadora.
No atendimento ao paciente que apresenta risco de suicídio, o profissional
necessita de um vínculo de empatia no que se refere ao sofrimento humano, ou seja, o
psicoterapeuta deve se colocar à disposição para se aproximar um pouco mais do lugar onde o
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paciente está. Por meio desta intervenção do profissional, há a esperança de que o paciente
possa verificar suas potencialidades a fim de modificar ou mesmo ampliar a “capacidade” de
enfrentar seus problemas, sofrimentos e conflitos. Neste sentido, uma relação terapêutica que
prioriza o cuidado para com o paciente – não a cura – pode ser uma orientação importante que
possibilitará ressignificar seu desespero existencial e descobrir maneiras de lidar com seus
conflitos. Entretanto, mesmo com tudo que foi proposto ao paciente, nem sempre se faz com
que ele pare de acreditar que a sua morte seja a solução para seu sofrimento (FUKUMITSU,
2014, p. 270).
A autora ressalta também que o psicoterapeuta, quando recebe um paciente com
queixa suicida, logo infere que este está passando por um momento difícil em sua vida e que,
para ele já ter chegado a pensar em tirar a própria vida, é porque realmente está diante de um
sofrimento intenso. Então, é fundamental que o terapeuta apresente empatia diante do que o
paciente lhe traz e dar a ele um olhar e uma direção que lhe tragam conforto, bem como uma
visão diferenciada diante daquele problema que ele pensa que não terá fim.
são fatores de suma importância para considerar a possibilidade do suicídio. Assim, tudo que
estiver presente no contexto de vida do indivíduo pode conduzi-lo ao ato. Problemas
relacionados ao trabalho ou mesmo o próprio desemprego são alguns exemplos de fatores que
podem desencadear um comportamento suicida nesse indivíduo.
Por outro lado, Mallauer e Maliska (2012) afirmam que uma das principais
categorias do fator ambiental está relacionada a estressores da vida. Os estressores da vida, de
modo geral, referem-se a problemas interpessoais, rejeição, perdas, mudanças, problemas
financeiros e/ou se sentir extremamente envergonhado ou ameaçado diante de alguma
situação.
Diante da discussão, constata-se que para a ocorrência do ato suicida, todo o
contexto social no qual o indivíduo se encontra pode e deve ser considerado, pois pode ser de
grande influência. Muitas vezes, os indivíduos não estão preparados para as adversidades
“impostas” pela vida, e estas podem atuar como fortes contribuintes para a realização do ato
quando não há um mínimo de equilíbrio de ordem psicológica.
A Gestalt terapia foi fundada por Fritz e Laura Perls na década de 1940
(ALMEIDA, 2010, p. 217). É uma abordagem de base fenomenológica que foi criada através
de uma série de influencias teóricas e filosóficas.
A abordagem gestáltica acredita que o homem é um ser em projeto, que em seu
processo de vida é capaz de fazer escolhas sobre o que pretende fazer e deseja ser
(CARDELLA, 2002).
Por sua base fenomenológica, para a Gestalt terapia, o processo de entender o
sujeito em sua plena consciência busca o “o quê” e o “como” (ao invés de procurar saber o
“porquê”) por ser extremamente relevante e trazer para o sujeito visões mais amplas e com
significados pertinentes, com os quais passará a entender melhor as situações vividas por ele
(CADELLA, 2002).
Segundo Martin (2008), a abordagem da Gestalt terapia vem das teorias visuais e
auditivas, especialmente da Psicologia da Gestalt. Segundo o mesmo autor, a psicologia da
Gestalt não levava em conta os sentimentos, as emoções ou tudo que “viesse do interior” do
indivíduo, que pudesse de alguma forma representar e expressar sua personalidade.
Ainda de acordo com o autor, a Gestalt terapia tem como principal função em seu
processo psicoterapêutico avaliar como o indivíduo lida com sua formação e eliminação de
gestalts. Ou seja, ela busca saber o que o indivíduo possa estar evitando, o que ele espera de
algo ou de alguma situação, o que ele sente e o que ele quer com seu comportamento.
Portanto, através do relato dirigido pelo autor (no caso o cliente), pode-se
entender que, para os gestalt terapeutas, suas intervenções estão ligadas a compreender como
ocorreu tal processo na vida do indivíduo. O porquê não seria de muita importância.
Uma premissa também muito importante para a Gestalt terapia é a homeostase. O
processo homeostático é definido como um processo de autorregulação, que seria como o
indivíduo interage com o ambiente para se equilibrar física e psicologicamente. Sabe-se que o
organismo possui muitas necessidades e uma delas seria essa relação do fisiológico com o
psicológico, já que estes não podem ser separados, pois cada um necessita e contém
elementos do outro (PERLS, 2008 apud MARTIN, 1974).
Martin (2008) ainda afirma que na Gestalt terapia existe o objetivo de o paciente
“dar-se conta”. Ele justifica tal objetivo pela capacidade de o ser humano perceber o que
acontece ao seu redor e dentro de si mesmo. É uma possibilidade de o indivíduo compreender
e entender a si mesmo, bem como situações que estão ao seu redor. Alguns níveis do dar-se
conta seriam: dar-se conta de si mesmo ou do mundo interior; dar-se conta do mundo exterior
e dar-se conta da zona intermédia ou da fantasia. Desse modo, o indivíduo tem como
possibilidade perceber todos os tipos de acontecimentos, sensações e emoções que estão a sua
volta e fazem parte do seu cotidiano.
O contato é também um dos conceitos fundamentais da psicoterapia gestáltica.
Existem diferentes tipos e maneiras de se conectar utilizando o contato. Pode ser conectado a
alguém, o que normalmente é pensado quando se fala no termo contato, mas vai além de estar
ligado somente fisicamente a uma pessoa ou mesmo a algo. O contato pode ser consigo
mesmo. O contato nada mais é que uma das mais importantes necessidades psicológicas que o
ser humano precisa ter (MARTIN, 2008).
Na Gestalt terapia, existem também diferentes tipos de limites do sujeito, que são
chamados de limites ou fronteiras do eu. Por meio delas, o indivíduo consegue estabelecer a
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quantidade e qualidade do contato que queira ter com as pessoas e com o mundo ao seu redor.
São de alguma forma os riscos que este indivíduo se dispõe a enfrentar chegando aos limites
de seu comportamento (MARTIN.2008). Conclui-se que os limites que são empregados por
nós sujeitos dispostos a viver determinadas situações são de suma importância para não nos
prendermos a certos comportamentos inadequados, ou para chegar ao nosso limite e
conseguirmos comportamentos desejados. A forma como a pessoa utiliza suas fronteiras de
contato pode determinar seus processos de saúde e doença, uma vez que tais fronteiras estão
diretamente ligadas ao contato, isto é, às trocas físicas e psicológicas entre organismo e meio.
Para Martin (2008), o que se pode dizer de bom ou de ruim de uma técnica
utilizada em Gestalt terapia não vem textualmente dela, mas sim da maneira como o terapeuta
está utilizando a técnica. Assim, o profissional deve ter um bom preparo, pois se a terapia não
for realizada da maneira correta, o resultado que se espera em uma sessão dificilmente será
eficaz. Entende-se que se o terapeuta não estiver totalmente preparado para aplicar uma
técnica gestáltica de maneira correta, automaticamente ele não terá um resultado esperado
pela abordagem (MARTIN, 2008).
A Gestalt enfatiza a ideia de que se o ser humano for de alguma maneira julgado
por seus comportamentos e pensamentos, a pessoa autora do julgamento estará culpando a
outra pessoa. Para alguns, receber um julgamento pode soar como um ato de desamparo ou
até mesmo condenação, principalmente se esta postura vier de alguém com grandes
significados para a pessoa, como um companheiro, ou mesmo o terapeuta. Esta pessoa pode
estar passando por um processo de medo, vergonha ou confusão, por isso, o julgamento não
terá serventia alguma (MARTIN, 2008).
O mesmo autor afirma que o bom terapeuta não deve criar deveres e obrigações
para seu paciente, pois ao sugerir que o paciente deveria ter tal postura e experiência
particular ou mesmo fazer alguma coisa de um modo que acredite ser o ideal, o profissional
não possibilitará o paciente seguir suas vontades e necessidades, e posteriormente, fará com
que o mesmo abandone suas experiências e necessidades para se adaptar aos desejos do
terapeuta. Entende-se que o profissional deve respeitar e aceitar as necessidades do paciente,
intervindo diante daquilo que for relevante e necessário, ou seja, acolhendo e mostrando
possibilidades de uma nova visão, mas deixando claro que quem decidirá alguma coisa sobre
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sua vida será somente o cliente. Só assim o terapeuta estará prestando um serviço eficaz para
ele.
Para uma terapia ser bem conduzida pelo terapeuta, ele deve seguir a princípios e
características como pautação, controle, potência, humanidade e compromisso. São
características que darão um suporte positivo para a realização de um processo terapêutico
(MARTIN, 2008).
Sobre a pautação, o autor afirma que o terapeuta deverá apresentá-la no momento
em que o paciente chega ao consultório. Desde o primeiro momento, o terapeuta deverá ir
guardando todas as informações trazidas pelo paciente e pontuando dados sobre seu passado e
presente, pois permitirá ao terapeuta conhecer seu paciente desde o primeiro encontro. Quanto
ao controle, é importante que o terapeuta peça a autorização do cliente para alguns
procedimentos que serão fixados pelo próprio profissional, que incluem uma série de técnicas
e jogos utilizados em uma sessão terapêutica gestáltica.
Sobre o que o autor destaca como potência, seria quando o terapeuta enxergar a
possibilidade de não conseguir ajudar o paciente em sua queixa. O profissional deverá expor
esta situação para o paciente, podendo expressar seus pensamentos e sentimentos em relação
às possíveis dúvidas da parte do paciente sobre o porquê não poderá ajudá-lo.
Martin (2008) afirma que humanidade é quando o terapeuta desenvolve certo
interesse e cuidado pelo seu paciente, e está disposto a compartilhar com ele sua afetividade.
A humanidade traz a possibilidade de o terapeuta falar sobre suas próprias experiências
(apenas se houver um momento adequado para isso, contudo), e também se volta para sua
própria abertura para um avanço, no qual se possibilitará como um modelo para seu paciente.
Por último, o autor (2008) fala que o compromisso terapêutico vem desde o momento em que
o terapeuta se responsabiliza com sua profissão até quando decide empregar-se a ela.
Além disso, uma das funções do terapeuta para a Gestalt terapia é estabelecer um
diagnóstico adequado. Em relação ao diagnóstico em Gestalt terapia, segundo Frazão (1995),
se o diagnóstico for mal feito, ou mesmo não ser realizado, isso poderá acarretar em
consequências graves para o paciente. A autora ressalta também que a realização do
diagnóstico é um instrumento importante, mas ainda não é suficiente para definir o trabalho
do terapeuta, pois acredita que todo ser humano, por mais que se siga uma linha de
diagnóstico em comum, possui características individuais. As pessoas são diferentes, com
interesses, pensamentos e sentimentos diferentes. Uns dão mais importância para tal situação
do que outros, ou seja, as queixas se diferem. Por esta razão, a realização do diagnóstico por si
só não trará ajuda para o paciente.
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A autora destaca que aquilo que o paciente traz no aqui e agora, suas queixas,
sintomas e sofrimentos, é o que ele consegue identificar apenas. Porém, o terapeuta precisa
reconhecer que o que seu paciente traz de imediato não é o suficiente para entender seu
presente, pois o aqui e agora sofre interferência de seu passado. Configura-se assim a
importância de identificar o fundo além da figura, pois através do fundo fica possível entender
a história de vida do cliente.
Além disso, Frazão (1995) afirma que, para realizar o diagnóstico, é necessário
acompanhar o processo terapêutico, pois este está relacionado ao conhecimento deste paciente
e visa estabelecer diferenças. Não se deve, porém, mencionar os diagnósticos ao paciente, mas
sim seus pensamentos, que dão base para o terapeuta compreender o que está se passando
com ele.
Assim, entende-se que os critérios diagnósticos não são tão úteis quanto
aparentam, pois não dão conta de um processo terapêutico tão complexo. Tratando-se de
termos gestálticos, o diagnóstico está intrinsicamente ligado à ideia de desenvolvimento,
transformação, relações, e principalmente, compreender o que é o foco principal de um
processo terapêutico (FRAZÃO, 1995). Assim, o diagnóstico em Gestalt terapia remete ao
conceito de um processo de fato, e uma das funções do terapeuta é revê-lo de acordo com as
necessidades que emergem durante a psicoterapia.
Para Fukumitsu (2005), a pessoa que busca o ato do suicídio procura na morte o
sentido que não conseguiu na vida. Ressalta ainda que o indivíduo que tenta praticar o ato ou
mesmo o pratica, fá-lo como uma maneira de tentar expressar algo que em vida não
conseguiu. A autora também acredita que a pessoa com queixa suicida não está procurando a
morte, mas sim outra maneira de viver.
Fukumitsu (2005) ainda afirma que o terapeuta que segue como base teórica a
abordagem da Gestalt terapia, quando recebe um paciente com queixa de risco suicida, e que
durante a sessão relata estar decidido a cometer o ato, deve informá-lo da necessidade de
entrar em contato com seus familiares para comunicar sobre o que ele diz estar decidido a
fazer, pois o paciente não se encontra em condições de ficar sozinho e precisa ser
acompanhado e monitorado no seu dia a dia. Seu papel enquanto terapeuta é manter o sigilo
em vida, mas como há um risco de vida, o terapeuta precisa quebrar este sigilo para não se
comprometer de forma negativa com o que o paciente poderá cometer (FUKUMITSU, 2005).
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2 Método
Esta pesquisa se define como uma pesquisa de campo, uma vez que possibilitará a
busca de informações diretamente com profissionais. Define-se também como qualitativa e de
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campo, pois serão realizadas entrevistas onde o sujeito poderá expressar suas experiências e
opiniões como respostas. De acordo com Godoy (1995), a pesquisa qualitativa trata-se de uma
pesquisa que possibilita investigar as ocorrências que envolvem o ser humano e suas
complexas relações sociais e sua estabilidade em diversos ambientes. Quanto à pesquisa de
campo, o mesmo autor afirma que:
Com relação aos dados coletados, utilizou-se uma entrevista semiestruturada com
perguntas direcionadas aos objetivos desta pesquisa, às quais os participantes responderam
de acordo com seus atendimentos, bem como as respectivas abordagens com as quais
trabalham.
A realização das entrevistas ocorreu em ambientes fechados, reservados, buscando
a privacidade necessária ao procedimento. Foram realizadas individualmente e gravadas em
áudio.
No que se refere à análise dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo. Para
Bardin (2011), a análise de conteúdo seria:
Dessa forma, os dados foram analisados a partir de uma transcrição das entrevistas
e posterior criação de categorias de análise, obedecendo aos objetivos da pesquisa. Por fim, as
respostas dos participantes foram relacionadas ao referencial teórico do projeto.
3 Resultados e discussão
No primeiro momento, vou acolher ele, ouvir ele, e tentar mostrar para ele que ele
não esta sozinho, eu tenho o hábito de passar o meu contato e autorizar este meu
paciente para que em algum momento de crise ou algo do tipo em que ele não tenha
ninguém para conversar, que ele me ligue para poder colocar para fora aqueles
sentimentos que estão guardados dentro dele (E2 Psicodramatista).
paciente aderir ao ato suicida não se envolvem somente fatores psicológicos. Os fatores
sociodemográficos e ambientais são de extrema relevância quando se considera o cenário da
possibilidade do ato suicida.
Por fim, as teorias do Psicodrama utilizadas com paciente RS seriam os conceitos
teóricos da espontaneidade, criatividade, Tele, matriz de identidade, teoria dos papéis, teoria
do vínculo, a teoria do momento e conservas culturais. Já as técnicas utilizadas seriam a troca
de papel, espelho, duplo, solilóquio, maximização e concretização. Moreno (1988) discorre da
importância destes conceitos teóricos e técnicas para atender esse paciente. O autor destaca
que são trabalhados os conceitos teóricos e técnicas que forem necessárias e que um bom
psicodramatista sempre irá trabalhar com seu paciente o que há de espontâneo e de criativo
dentro dele.
Na sequência, traz-se o Quadro 3, que sintetiza a compreensão do suicídio na
Gestalt terapia para os pesquisados. As categorias representam as questões da entrevista e os
objetivos específicos da pesquisa, tal como ocorreu na elaboração do quadro dos
psicodramatistas.
paciente possui risco de suicídio ou mesmo como ele identificaria esse risco seria explorando
seus pensamentos, fazer com que este paciente possa compartilhar seus sentimentos ou ainda
encorajá-los a comunicar o que talvez fique difícil para ele naquele primeiro momento. A
autora (2005) afirma também que essa possível identificação do RS pode ser realizada a partir
da detecção de falta de interesse pelas coisas, autoestima baixa, forte desejo de se isolar do
mundo etc. De uma forma geral, Cardella (2002) traz que, para a Gestalt terapia, o processo
de entender o sujeito em sua plena consciência busca muito mais que os “porquês”. Mais
importante que isso são o “o quê” e o “como”, pois isso trará ao sujeito visões mais amplas e
significativas.
No que se refere ao tipo de acolhimento ao paciente com RS para os Gestalt
terapeutas entrevistados, o mais adequado é trabalhar com o que há de vida ao redor dele,
“trazer” esse paciente para a vida, resgatar o que há de bom na vida dele para mantê-lo vivo,
fazer uma escuta ativa e respeitosa, e acolhê-lo de uma forma humana. Acerca do assunto,
Fukumitsu e Scavacini (2013) afirmam que se sugere ao Gestalt terapeuta trabalhar em busca
de fatores de proteção ao paciente que pensa na morte, com o propósito de levantar dados e
expectativas positivas para que este paciente, guiado pelo terapeuta, possa avistar novos
caminhos e recursos, bem como compreender que adversidades podem ser solucionadas e/ou
servirem de aprendizado. Além disso, para Martin (2008) o objetivo da Gestalt terapia é o
paciente dar-se conta, pois ele próprio tem a capacidade de compreender a si mesmo e os
acontecimentos ao seu redor, podendo assim encontrar novos e diferentes pontos de vista. O
mesmo autor afirma que o terapeuta na Gestalt terapia deve acolher o paciente sem
julgamentos, pois estes tendem apenas a levar o paciente ao sentimento de culpa que são
negativos ao processo terapêutico. Martin (2008) também afirma que para uma terapia ser
bem conduzida pelo terapeuta, ele deve seguir a princípios e características de pautação,
controle, potência, compromisso e humanidade, sendo que esta se refere ao interesse e
cuidado pelo paciente. Dessa forma, a fala dos pesquisados parece ir ao encontro dos autores
da Gestalt terapia.
Em relação a encaminhamentos, eles geralmente são feitos ao psiquiatra, sendo a
preferência dos entrevistados por profissionais que apresentem uma visão mais humanizada
em sua atuação; envolve-se também a família. A abordagem teórica não influencia
diretamente na escolha dos encaminhamentos, conforme afirmaram os pesquisados. Sobre
esta colocação, Fukumitsu (2005) destaca que o terapeuta adepto da Gestalt terapia, quando
recebe um paciente com queixa de risco suicida, deve-se colocar na postura de avisá-lo da
necessidade de entrar em contato com seus familiares para comunicá-los sobre o que ele diz
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estar decidido a fazer, pois entende-se que o paciente não se encontra em condições de ficar
sozinho e precisa ser acompanhado e monitorado constantemente. Já em relação ao
acompanhamento ser feito para psiquiatras, não foram encontrados registros na literatura
sobre Gestalt terapia que fundamentassem essa questão, onde fica subentendido que esta visão
vem das práticas executadas pelos entrevistados, bem como das orientações gerais sobre
suicídio e psiquiatria advindas da formação dos psicólogos.
Por último, sobre as teorias e técnicas utilizadas com pacientes RS, é entendido
pelos pesquisados que todos os conceitos teóricos e técnicas da Gestalt terapia podem ser
utilizados para tratar o risco suicida. Assim, não existiria uma técnica específica para esta
queixa. Sobre esta colocação, Martin (2008) afirma que o que se pode dizer de técnica e
conceito teórico utilizados em Gestalt terapia não vem textualmente deles, mas sim da
maneira que o profissional os está utilizando. Dessa forma, o terapeuta deve ter um bom
preparo, pois se os procedimentos não forem realizados da maneira correta, o resultado
esperado em uma sessão não será o mesmo. Além disso, para Fukumitsu (2005), mais do que
observar as características do paciente com risco ou tentativa de suicídio, o Gestalt terapeuta
precisa fazer uma reflexão acerca de um funcionamento saudável que esse paciente precisa
ter, para que comece a encontrar e elaborar outros sentidos para sua vida. Logo, não são
apontadas técnicas voltadas para o suicídio em si, mas para a retomada do funcionamento
saudável do paciente, tal como os pesquisados sugerem em suas falas.
Entende-se que em relação à compreensão do suicídio, os participantes das duas
abordagens teóricas estudadas trazem grandes semelhanças, uma vez que os ambos entendem
o suicídio como um ato que é resultado de grande sofrimento, onde a pessoa encontra na
morte a única solução. Em relação à identificação do paciente com RS, os participantes
coincidem novamente nas respostas, ficando possível identificar que a mudança de
comportamento e a falta de objetivo trazem um olhar mais atento na ocorrência da queixa.
Quanto ao tipo de acolhimento ao paciente com RS, em algumas das respostas, os
participantes se assemelham; em outras, alguns utilizam diferentes ferramentas, como a
questão de disponibilizar seu contato para qualquer emergência. Em relação aos
encaminhamentos e influência da abordagem dos participantes, apresentou-se semelhança
total entre os participantes. E por último, no que concerne às teorias e técnicas utilizadas com
paciente RS, fica possível identificar maiores distinções, pois os participantes afirmaram que
utilizam todas as teorias e técnicas de sua abordagem de atuação. Acredita-se que as
semelhanças encontradas tenham ocorrido em função de dois fatores: de um lado, o olhar
mais amplo que não se limita à abordagem e engloba a visão psiquiátrica do suicídio, e do
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Considerações Finais
Referências
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