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TESE DE DOUTORADO
POSSÍVEL CARTOGRAFIA PARA
UM CORPO VOCAL QUEER
EM PERFORMANCE
FLORIANÓPOLIS, 2015
Jacobs, Daiane Dordete Steckert
Possível cartografia para um corpo vocal queer em
performance / Daiane Dordete Steckert Jacobs. - 2015.
292 p. il.; 21 cm
CDD: 792
Banca Examinadora
Orientadora: ______________________________
Profa. Dra. Maria Brígida de Miranda
UDESC
Coorientadora: _______________________________
Profa. Dra. Janaína Träsel Martins
UFSC
Membros:
_______________________ ________________________
Profa. Dra. Meran M. C. Vargens Profa. Dra. Wânia M. A. Storolli
UFBA FASM
________________________ _______________________
Profa. Dra. Sandra Meyer Nunes Profa. Dra. Fátima C. de Lima
UDESC UDESC
Florianópolis, 02/07/2015.
Ao Keko, meu parceiro de vida e
arte, pela paciência em me
acompanhar e me esperar nestes
anos extensos de leituras, aulas,
viagens, congressos, ensaios,
montagens e apresentações. Amo-te
ad infinitum.
AGRADECIMENTOS
Prólogo: a diva-drag.............................................................169
A diva mostra seus dotes.....................................................177
A diva começa a se desmontar............................................180
A atriz lê o roteiro.................................................................183
Como não conquistar ninguém pelo estômago ou Na cozinha
com Tigella...........................................................................184
Tigella coloca leitchi na receita.............................................189
O público ajuda Tigella a marcar a banha............................190
A mulher-porco.....................................................................191
A face da violência...............................................................193
A atriz anuncia a próxima cena............................................200
Como não ser agradável......................................................201
Julgando o público...............................................................203
O superpênis........................................................................205
Como não proferir um discurso............................................212
Os olhos falantes..................................................................217
O espelho da alma...............................................................219
A atriz lê o roteiro no microfone............................................224
Como não rezar....................................................................226
A bruxa oferece óleo de eucalipto........................................229
As bruxas..............................................................................230
A morte de Joana D’Arc na fogueira da Inquisição aos
dezenove anos.....................................................................231
Linchamento público seguido de morte na fogueira de Kepari
Leniata, vinte anos...............................................................232
A caminhada da sacerdotisa................................................236
O sofrimento da penitência...................................................237
1
Com exceção de A morte de Joana D’Arc na fogueira da Inquisição
aos dezenove anos e Linchamento público seguido de morte na
fogueira de Kepari Leniata, vinte anos, todas as demais imagens
presentes nesta cartografia são da peça Pequeno Manual de
Inapropriações. Criação e atuação: Daiane Dordete. Fotos: Cristiano
Prim.
A atriz lê o roteiro sentada sobre o baú................................238
Como não sentir...................................................................241
O público recorda suas inapropriações................................245
Jogo do Maestro...................................................................246
O fim.....................................................................................251
SUMÁRIO
Instruções iniciais
Notas preliminares..................................................................34
Como ler esta parte do mapa.................................................37
Sobre feminismos e gêneros..................................................39
Fisiologia da produção vocal..................................................48
A unicidade da voz e a desestabilização de gênero..............55
Nos domínios da oratória.......................................................68
Uma nova retórica: o realismo em cena.................................86
Notas preliminares..................................................................98
Como ler esta parte do mapa...............................................100
Em busca de corporeidades vocais dissonantes.................102
O corpo vocal dissonante em Antonin Artaud......................110
O corpo vocal dissonante em Roy Hart................................115
O corpo vocal dissonante em Jerzy Grotowski....................119
Performance art e teatro performativo como territórios
propícios aos corpos vocais queer.......................................124
O (possível) surgimento da performance art........................126
O performativo e a performatividade na Performance art e nos
Performance Studies............................................................128
O teatro performativo............................................................133
Devir queer em performance................................................135
Um exemplo de corpo vocal queer em performance - Laurie
Anderson..............................................................................138
Uma questão de escuta?......................................................142
Escuta queer........................................................................148
Notas preliminares................................................................156
Como ler esta parte do mapa...............................................164
Um tema inapropriado..........................................................165
Prólogo: a Diva-drag.............................................................169
Como não conquistar ninguém pelo estômago ou na cozinha
com Tigella...........................................................................184
Como não ser agradável......................................................201
Como não proferir um discurso............................................212
Como não rezar....................................................................226
Como não sentir...................................................................241
Instruções finais
Evocações............................................................................254
Ressonâncias.......................................................................257
Referências..........................................................................261
Materiais de “Pequeno Manual de Inapropriações”
INSTRUÇÕES INICIAIS
16
2
Não encontrei referências históricas para esclarecer quando esta
subversão linguística iniciou.
17
***
***
***
18
Apresentação do mapa
3
Não encontrei este termo nas bibliografias por mim consultadas
durante esta pesquisa. Utilizo o verbo engendrar no sentido de
atribuir características específicas a determinado gênero
(gendering).
4
Principalmente na fonoaudiologia, área especializada na saúde
vocal. Cf.: Sílvia Pinho (2007, 2009), e Mara Behlau e Roberto
Ziemer (1988).
5
Bel canto é o nome dado à escola operística italiana surgida no
século XVII, que se espalhou pelo continente europeu e tornou-se
uma importante referência no canto. As vozes deveriam ter timbre
19
10
Além da já citada Companhia de Teatro da Univille, também
participei da companhia estudantil Eros Pixote de Joinville, entre os
anos de 1999 a 2001.
11
Participei da extinta Faunos Cia. Teatral, de Joinville-SC, entre os
anos de 2003 e 2010.
12
Adriana Cavarero traz este termo em seu livro Vozes Plurais:
filosofia da expressão vocal (2011), fazendo referência às
metafísicas platônica e cartesiana, que sobrepunham a razão
(logos-linguagem) à corporeidade. A metafísica seria logocêntrica e
androcêntrica, por relacionar a esfera da corporeidade à mulher
(ciclos da vida: menstruação, gravidez), e a esfera da razão ao
homem.
13
Segundo o dicionário Oxford, queer (do inglês) significa estranho,
esquisito. Como gíria, traz uma conotação semelhante ao termo
bicha no Brasil. Disponível em:
http://www.oxforddictionaries.com/definition/english/queer. Acesso
em 11 de janeiro de 2014, às 20h.
21
19
As feministas essencialistas refletem sobre possíveis diferenças
ontológicas entre os gêneros, o que acarretaria particularidades
específicas à mulher e às suas produções.
20
Para Félix Guattari e Sueli Rolnik, “a singularidade é um conceito
existencial; já a identidade é um conceito de referenciação, de
circunscrição da realidade a quadros de referência, quadros estes
24
23
Disfonias, doenças da voz como nódulos, pólipos e fenda vocal.
26
24
A psicóloga e pesquisadora Virgínia Kastrup (2012) parte de
diversos filósofos e pesquisadores como Henri Bergson, Isabelle
Stengers, Humberto Matura e Francisco Varela, Gilles Deleuze e
Félix Guatari, etc., para discorrer sobre a invenção como criação de
problemas na pesquisa, e não solução de problemas. Ela contrapõe
a criatividade (solução de problemas) à invenção (criação de
problemas).
27
25
Sílvia Davini faleceu em 2011.
28
26
“O ‘saber com’, diferentemente [do saber sobre], aprende com os
eventos à medida que os acompanha e reconhece neles suas
singularidades. Compreende de modo encarnado que, mais
importante que o evento em geral, é a singularidade deste ou
daquele evento. Ao invés de controlá-los, os aprendizes-cartógrafos
agenciam-se a eles, incluindo-se em sua paisagem, acompanhando
os seus ritmos. Nesse sentido, os aprendizes-cartógrafos estão
interessados em agir de acordo com esses diversos eventos,
atentos às suas diferenças. O pesquisador se coloca numa posição
de atenção ao acontecimento. Ao invés de ir a campo atento ao que
se propôs procurar, guiado por toda uma estrutura de perguntas e
questões prévias, o aprendiz-cartógrafo se lança no campo numa
atenção de espreita. Conhecer, nessa perspectiva, pressupõe o
"endereçamento" ou a relação de mutualidade que entrelaça sujeito
e objeto da pesquisa.”. (ALVAREZ, PASSOS, 2009, p. 143-144).
30
27
Em todo o meu percurso formativo de atriz – tanto em cursos
regulares quanto livres- as obras de Stanislavski sempre foram
leitura recorrente. A metodologia de atuação elaborada pelo diretor
russo ainda é constantemente revisitada, e em minha graduação em
teatro na Faculdade de Artes do Paraná (2004-2008), por exemplo,
era a primeira metodologia aprendida pelos calouros.
31
Notas preliminares28
Simone de Beauvoir
28
Excertos de textos contidos em Corpo Vocal Engendrado foram
publicados em formato de capítulo de livro, sob o título
“Corporeidade e performatividade vocal – Reflexões sobre voz e
palavra em cena”. In: ALEIXO, Fernando Manuel (org.) Práticas e
Poéticas Vocais – vol. 1. Uberlândia: EDUFU, 2014.
29
“Não se nasce mulher, torna-se.” (Tradução minha).
35
30
Ervin Goffman (2005) discorre sobre a representação de papéis
sociais em A representação do eu na vida cotidiana.
36
31
Conceito trazido por Maturana e Varela (1998).
39
32
Cf.: GAMBLE, 2001.
33
“[...] cultural construction of woman as Other [...]” (Tradução
minha).
40
35
A autora faz menção às militantes americanas e europeias da
segunda onda do movimento feminista, na sua maioria mulheres
brancas, de classe média e heterossexuais, que não priorizavam as
questões raciais, de classe social, de diversidade sexual e de
diversidade de gênero em suas demandas políticas, ou seja, de
outras classes sociais, de outras etnias e de outras identidades
sexuais (gêneros) que não as suas.
36
Uma obra de referência para a construção dos argumentos
feministas sobre discriminação e diferença sexual é o livro A origem
da família, da propriedade privada e do Estado, do filósofo alemão
Friedrich Engels. Segundo o autor marxista, ainda na era primitiva
do mundo ocidental a transição do sistema matriarcal e matrilinear
para o sistema patriarcal e patrilinear se dá através da produção.
Toda a família (mulher, filhos e escravos) passa a servir às ordens
do homem, patriarca e detentor do rebanho de gado, que garante a
alimentação do grupo. Engels afirma que na passagem do
casamento grupal ao sindiásmico e, por fim, ao monogâmico, a
mulher perdeu todos os seus direitos na tribo, sendo designada
apenas aos cuidados da casa e dos filhos. Ao homem passa a caber
a preservação e passagem da herança aos outros filhos homens. A
família patriarcal surge no mesmo momento histórico da definição da
propriedade privada, movida por motivos econômicos. (ENGELS,
1991).
42
37
“[...] a performative is that discoursive practice that enacts or
produces that which it names.” (Tradução minha).
43
38
“[...] deconstrucción sistemática de la naturalización de las
prácticas sexuales y del sistema de gênero.” (Tradução minha).
45
39
“El gênero no es simplesmente performativo (es decir, un efecto
de las prácticas culturales lingüístico-discursivas) como habría
querido Judith Butler. El gênero es ante todo prostético, es dicir, no
se da sino en la materialidad de los cuerpos. Es puramente
construído y al mismo tiempo enteramente orgánico. Escapa a las
falsas dicotomías metafísicas entre el cuerpo y el alma, la forma y la
materia. El género se parece al dido. Porque los dos pasan de la
imitación. Su plasticidad carnal desestabiliza la distinción entre lo
imitado y el imitador, entre la verdad y la representación de la
verdad, entre la referencia y el referente, entre la naturaleza y el
artifício, entre los órganos sexuales y las prácticas de sexo. El
género podría resultar una tecnologia sofisticada que fabrica
cuerpos sexuales.” (Tradução minha).
40
“[...] historia de la producción-reproducción sexual, en la que
ciertos códigos se naturalizam, otros quedan elípticos y otros son
sistemáticamente eliminados o tachados.” (Tradução minha).
46
41
Lignelli (2011, p. 225-226) também discorre sobre a evolução
filogenética do aparato vocal. Todavia, como pretendo fazer apenas
uma breve abordagem sobre a produção da voz neste texto, não
discorrerei sobre estes aspectos, ficando ambas as referências
como sugestão de leituras para aprofundamento.
42
Geralmente, não obrigatoriamente, porque esta é tida como a
biomecânica que envolve menor esforço e maior controle na
produção da voz. Todavia, há exceções, como o caso de artistas
que produzem a voz durante a inspiração para a criação de
determinadas vocalidades nas artes da cena e na música.
51
43
Contexto de produção vocal no qual o emissor procura agir sobre
outras pessoas, como em palestras, apresentações de canto e
teatro (LE HUCHE, ALLALI, 2005).
44
Em diversas técnicas vocais para o canto e para o teatro, e
também em algumas pesquisas da fonoaudiologia, utilizam-se os
termos apoio respiratório ou apoio vocal para fazer menção à força
exercida pelos músculos da respiração no controle da pressão e da
saída do ar. Há várias técnicas de apoio vocal (ou apoio
respiratório): apoio abdominal, apoio costodiafragmático, apoio
costodiafragmático-abdominal, apoio pélvico, etc. Muitas destas
técnicas de respiração advêm do canto e da fonoaudiologia, mas a
respiração e a força que partem do centro de gravidade do corpo
também são encontradas em práticas das artes marciais, da
educação somática e do teatro (Cf.: FINARDI, 2014). Em meu
trabalho como professora de voz para atores, procuro despertar a
consciência muscular do apoio vocal nos alunos, e realizar
exercícios focados em diferentes tipos de apoio, para que cada
pessoa possa descobrir o processo mais orgânico e funcional para
si. Cf.: MARTINS, 2004; PACHECO, BAÊ, 2010.
52
45
Os livros de fisiologia consultados, indicados na nota de rodapé
anterior, relacionam especificamente os articuladores à fala, ou seja,
à linguagem verbal oral. Destaco esta questão, pois acredito ser um
relevante aspecto da visão da voz atrelada apenas à produção de
linguagem na própria ciência, visto que qualquer onomatopeia ou
melisma, por exemplo, necessita de uma articulação específica,
mesmo não se configurando como palavra.
55
46
Há muitas divergências na definição dos parâmetros de produção
da voz. Lignelli (2011) atribui tanto ao som quanto à voz os mesmos
parâmetros sonoros: silêncio, ruído, frequência, timbre, intensidade,
ritmo, reverberação, contorno e direcionalidade. A reverberação diz
respeito à propagação e ressonância do som no ambiente; o
contorno à curva melódica, que na voz costuma-se chamar de
entonação; e a direcionalidade refere-se ao ponto de emissão do
som, ponto no qual se localiza a fonte sonora, e seu percurso no
espaço. Já Gayotto (2009) classifica os elementos formantes da voz
em recursos, primários (respiração, intensidade, frequência,
ressonância e articulação) e secundários (projeção, entonação,
pausas, velocidade, fluência). Outrxs autorxs também farão uma
distinção entre parâmetros sonoros e elementos prosódicos (ou
expressivos).
58
47
A muda vocal na puberdade ocasiona o abaixamento da laringe e
o crescimento das pregas vocais. Pelo maior aumento hormonal (de
testosterona) nos meninos, a tendência é de que as pregas vocais
masculinas aumentem em até 01 cm, enquanto as pregas vocais
das meninas aumentam em média 04 mm no máximo. Isso faz com
que a frequência fundamental da voz masculina diminua geralmente
em uma oitava, enquanto a voz feminina diminui apenas de 02 a 04
semitons da voz infantil (BEHLAU, AZEVEDO, PONTES, 2008, p.
60).
59
48
‘‘Chaque culture établit pour les deux sexes des normes et des
conventions constrastées qui vont bien au-delà des différences
biologiques.’’ (Tradução minha).
60
49
Significa deslizando. Termo utilizado na música para indicar um
movimento de escorregar continuamente entre frequências. O
glissando descendente vai de uma frequência mais aguda para uma
mais grave, e o ascendente de uma mais grave para uma mais
aguda.
61
50
O treinamento vocal no canto também tem como objetivo expandir
a tessitura vocal, ou seja, o alcance de notas mais agudas e mais
graves.
51
O termo é utilizado para designar usos não convencionais da voz
na música ocidental, como um contraponto ao bel canto. A inclusão
do ruído na música a partir do início do século XX, a exploração de
novas sonoridades e sistemas musicais (como a música
dodecafônica em contraponto à música tonal), a presença da voz
falada, sussurrada, gritada, da glossolalia (espécie de grammelot – o
termo provém das áreas da religião e da saúde), da desconstrução
semântica da linguagem, de qualidades vocais não convencionais,
etc., estão neste território. Cf.: VALENTE, 1999.
52
Segundo Laura Backes (2010), o alemão judeu Alfred Wolfson
(1896-1962), após presenciar os horrores da Primeira Guerra
Mundial, na qual serviu como maqueiro, encontra na voz as
62
53
Verificar, por exemplo, GUNDERSON, 2009 e LUCAITES;
CONDIT; CAUDILL, 1999.
70
54
"[...] a pratical art based on concrete advice and rules together with
a general theory about what really happens in the process of speech
and how people react generally to different means of expression,
intellectually, aesthetical and emotionally." (Tradução minha).
55
Para falar da retórica e da atuação na Grécia Antiga, utilizarei os
termos flexionados no gênero masculino, visto que às mulheres não
era permitida a participação na vida política e no teatro.
71
56
É importante lembrar que Aristóteles viveu no século IV a.C., e
escreveu sobre o teatro do século V a.C., o que gera diversas
polêmicas em relação às estruturas por ele atribuídas ao teatro
grego. Além disso, partes significantes de seus escritos foram
perdidos.
57
O pesquisador e professor Alexandre Mate (2015, s/p) afirma
que: “no teatro erudito [...] as atrizes ganham o palco somente no
século 17, enquanto que, nas tradições populares, desde sempre,
as mulheres participaram dos espetáculos.”. O autor continua
explicando que na Grécia Antiga “[...] as mulheres não podiam atuar
e sequer assistir às comédias, que eram consideradas inferiores às
72
60
“[…] the danger of acoustic pleasures.” (Tradução minha).
61
“[…] sensory faculties that prevent men from seizing upon the
truth.” (Tradução minha).
62
“[…] the ear is a funnel of flesh through which the physicality of the
phóné travels directly into the soul, compromising rational harmony.”
(Tradução minha).
63
“[…] to separate and classify the components of logos.” (Tradução
minha).
64
“[…] of vocalizing mental significations.” (Tradução minha).
74
65
“[…] restricted to vocalizing meanings whose rational order they
are scarcely able to master.” (Tradução minha).
66
Cidades-estado da Grécia antiga.
75
67
“El triunfo de los filósofos griegos sobre los sofistas probaba la
eficiencia de la retórica como instrumento de control social. Desde
entonces, las retóricas se han constituido en instrumentos eficientes
para el poder político y religioso dominante, mientras que las
vocalidades [...] efímeras, proteicas y nómades, fueron
gradualmente arrojadas a regiones periféricas en el ambiente
cultural occidental.” (Tradução minha).
76
68
“[...] fundamento de las bases económicas y políticas
occidentales.” (Tradução minha).
69
Zumthor (1993) realiza um amplo estudo sobre as manifestações
da oralidade poética na Idade Média europeia, às quais ele chama
poesia oral. A poesia oral (declamação, canto, teatro, jograis,
contação de histórias, etc.) demandava a dupla presença de poeta
(artista) e público.
77
70
“La literatura acabó ejerciendo na hegemonía sobre las
representaciones culturales, en primer lugar en Europa y más tarde
en América; absorbió la retórica, substituyendo su función normativa
y difundiéndose como lenguaje artístico individual.” (Tradução
minha).
71
O conceito de verossimilhança denota o potencial do espetáculo
em apresentar uma imitação do cotidiano tão contundente que
consiga criar a ilusão ou a ideia de que a cena poderia acontecer
enquanto realidade empírica.
78
Na performance [ação/exposição],
expressões vocais, em sua maioria,
tornam-se indissociavelmente ligadas a
uma língua, já que a maioria emprega
vozes cantadas ou faladas. Teorias da
retórica e declamação popular desde o
século XVII reforçam esta ligação entre
voz e linguagem. Atores da época tinham
que empregar suas vozes como
ferramentas parassintáticas,
parassemânticas e parapragmáticas para
transmitir significado linguístico. Por um
lado, a voz esclareceria a estrutura
sintática do que é falado, em segundo
lugar, ela acentuaria e enfatizaria o
significado pretendido e, terceiro, poderia
reforçar ainda mais o efeito desejado sobre
o ouvinte. [...] A voz tinha de servir à
palavra falada.72 (FISCHER-LICHTE, 2008,
p. 125-126).
72
"In performance, vocal expressions have mostly become indivisibly
linked to a language, since they mostly employ singing or speaking
voices. Theories of rhetoric and declamation popular since the
seventeenth century have stressed this link between voice and
language. Actors of the time had to employ their voices as
parasyntactic, parasemantic, and parapragmatic tools to convey
linguistic meaning. For one, the voice would clarify the syntactic
structure of what is spoken; second, it would accentuate and
emphasize the intended meaning; and third, it could further reinforce
its desired effect on the listener. […] The voice had to serve the
spoken word." (Tradução Minha).
80
73
“[...] a special way of sounding their words […] [with] the full
musical cadence of their speaking voices”. (Tradução minha).
81
74
“Apesar de que sus orígenes se remontan más allá de la
configuración de lo que hoy entendemos por literatura, el teatro es
todavía entendido como uma forma literaria. […]. Esta transposición
del texto teatral al universo literario inscribe un texto originalmente
aprehendido a través del imaginario auditivo del autor, en um
espacio legible, regido por la racionalidad visual de la representación
y la interpretación.” (Tradução minha).
82
75
“[...] a la voz y la palabra tanto en la escena teatral como en la
vida social.’’ (Tradução minha)
83
76
Apesar dos livros de história do teatro em sua maioria não
contemplarem mulheres diretoras no teatro deste período, há relatos
da presença delas no teatro europeu. Peta Tait (2013) cita a
iniciativa de Anna Brenko, atriz do Teatro Imperial de Mali, que
fundou e dirigiu a companhia Teatro Pushkin em 1880 em Moscou.
A companhia durou 02 anos e envolveu um total de 70 artistas, com
o objetivo de “criar um grupo de atores para trabalhar em longos
processos de ensaio para a produção de teatro sério, bem antes do
surgimento do TAM” (TAIT, 2013, p. 171). Ou seja, uma diretora
87
78
Teatro de Arte de Moscou.
79
“una palabra bien dicha ya es una canción, y una frase bien
cantada ya es habla”. (Tradução minha).
90
80
“Las propuestas vinculadas al realismo en el teatro restringen la
necessidad de la técnica vocal a la conservación de uma voz sana y
apta para las altas intensidades, como si la producción de altas
intensidades, por si misma, no interferiese en los estilos vocales y
verbales resultantes em performance.” (Tradução minha).
91
81
"With naturalism, a significant change occurred. The seemingly
indivisible link between voice and language loosened. The voice
could now be used without necessarily corresponding to the spoken
words in intonation, emphasis, pitch, and volume. While the words
spoken might suggest a friendly greeting, the voice itself might imply
fear or aggression and be enhanced by corresponding facial
expressions, gestures, or movements. The result was a break in
perception that indicated the inherent contradiction between
conscious behavior and actual, perhaps only subconsciously given,
attitude. […] Voice and language split." (Tradução Minha).
93
82
Há aqui uma contradição de datas: Odete Aslan (2003, p. 263)
identifica a data de viagem da companhia de Stanislavski aos
Estados Unidos como o ano de 1923, e Davini (2007) aponta esta
viagem na década de 1930.
83
Segundo Aslan (2003, p. 263-264), Lee Strasberg, diretor mais
conhecido do Actor’s Studio, teve contato com o sistema
desenvolvido por Stanislavski tanto acompanhando a turnê do grupo
em 1923 nos EUA, quanto sendo iniciado no sistema no American
Laboratory Theatre, de Richard Boleslaski. Strasberg desenvolveu
seu método mesclando conceitos de psicanálise ao sistema
stanislavskiano, e subvertendo o trabalho em grupo enfatizado pelo
diretor russo em um trabalho individual, que segundo Aslan (2003, p.
264), “[...] às vezes, aproxima-se mais de uma terapia do que de
uma prática teatral.”. Boleslaski trabalhou como ator de Stanislavski
no Teatro de Arte de Moscou, e emigrou para os EUA em 1920.
(sobre Boleslaski, cf.:
http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Boleslawski. Acesso em
25.01.14).
95
Notas preliminares84
84
Excertos de textos contidos em Corpo Vocal Dissonante foram
publicados em formato de capítulo de livro, sob o título
“Corporeidade e performatividade vocal – Reflexões sobre voz e
palavra em cena”. In: ALEIXO, Fernando Manuel (org.) Práticas e
Poéticas Vocais – vol. 1. Uberlândia: EDUFU, 2014.
99
85
Segundo Cavarero (2011, p. 50-51), “Logos deriva do verbo
legein. Desde a Grécia arcaica, este verbo significa tanto ‘falar’
quanto ‘recolher, ‘ligar’, ‘conectar’. Isso não é surpreendente, uma
vez que quem fala liga as palavras umas às outras, uma após a
outra, recolhendo-as em seu discurso. Tampouco é estranho que,
exatamente por isso, legein signifique também ‘contar’ e ainda mais
propriamente ‘narrar’. Na sua acepção comum, o logos se refere à
atividade de quem fala, de quem liga os nomes aos verbos, e a
qualquer outra parte do discurso. O logos consiste essencialmente
numa conexão de palavras. Justamente nesse plano da conexão,
que ‘liga’ e ‘recolhe’ segundo determinadas regras, está centrada a
atenção da filosofia. Centrada inclusive com prejuízo – mas talvez
fosse melhor dizer: sobretudo com prejuízo – do plano acústico da
palavra. O logocentrismo filosófico se interessa, principalmente, pela
104
86
Demétrio Stratos (1945-1979) foi um cantor e pesquisador vocal
grego naturalizado italiano. Stratos desenvolveu uma vasta pesquisa
vocal, que envolvia técnicas vocais interculturais (como o canto
harmônico), sonoridades não convencionais em bel canto, poesia
sonora e outras investigações em técnica vocal estendida. Cf. EL
HAOULI, 2000.
109
87
Poeta aqui tem o sentido de propositor, visto que muitos
pesquisadores afirmam que Artaud nunca conseguiu colocar
totalmente em práticas suas ideias acerca da arte teatral.
111
88
Para acabar com o julgamento de deus (tradução minha).
89
Seguimento religioso surgido no judaísmo.
113
90
Teixeira Coelho (1982) considera Les cenci, de 1935, o
espetáculo no qual Artaud chegou mais próximo da realização de
seu Teatro da Crueldade. Todavia, segundo SHEER (2004), em
suas palestras (1933 na Sorbonne, 1937 em Bruxelas e 1947 no
Teatro Vieux-Colombier) Artaud conseguiu performar princípios do
teatro ritualístico e antirrepresentacional que propunha em seus
escritos. Os principais textos sobre seu Teatro da Crueldade foram
escritos entre 1931 e 1936, e publicados na França em 1938 no livro
Le Thèâtre e son doble (O Teatro e seu Duplo).
115
91
A catarse consiste em um “método terapêutico que permite a
evocação e a revivência de acontecimentos traumáticos que foram
reprimidos, permitindo a descarga dos afetos ligados a estes.”
(CERQUEIRA LEITE apud BACKES, 2010, p. 23-24).
92
Em seu ideal de 8 oitavas, Wolfson pretendia que xs alunxs
conseguissem interpretar todos os naipes da ópera A flauta mágica,
de Mozart, do grave profundo à soprano agudíssima. Roy Hart foi
um dxs alunxs que conseguiu a expectativa do mestre.
116
93
“redefined the verb ‘to sing’ to mean the individual’s willingness to
give all the manner of voices which he is capable of producing –
high, low, loud, soft, cries, gurgles, shouts, squeaks – the whole
register of so-called ‘ugly’ unconventional voices, which, like hidden,
darker forces within him, are constantly struggling to be released.”
(Tradução minha).
94
Linda Wise foi atriz do Roy Hart Theatre e cofundadora do
Panthéâtre, grupo formado por integrantes do Roy Hart Theatre
após a morte de Roy Hart (em 1975). Ela ministrou a oficina “A voz é
sempre um sonho” em Florianópolis no ano de 2014, no evento
Vértice Brasil – Festival de teatro feito por mulheres. A influência do
trabalho de Hart na abordagem de Lisa se dá, em uma primeira
visão tautológica, já no próprio título de sua oficina. Como
participante do curso, pude perceber que Linda afirma a influência
notável de Hart no trabalho desenvolvido pelo descentralizado
Panthéâtre (os integrantes desenvolvem muitos projetos individuais),
118
95
Na década de 1970, na fase parateatral de Grotowski, Molik
iniciou o desenvolvimento do trabalho que resultou em seu método
“Voz e Corpo”, que inclui o “Alfabeto do Corpo”. Segundo Campo
(2012, p. 19-20), Molik concebeu seu método como “uma evolução
dos princípios de trabalho que utilizou como ator e líder da
companhia de Grotowski durante o ‘Teatro dos Espetáculos’”.
Mesmo depois da dissolução da companhia em 1984, Molik
continuou ensinando seu método a milhares de praticantes do
mundo inteiro, até seu falecimento. O ator português Jorge Parente,
radicado há muitos anos na França, foi incumbido por Molik de
continuar os ensinamentos de seu método. Parente continua a
ministrar cursos pelo mundo, e em 2012 eu pude organizar e
participar do curso “Do Corpo e da Voz à Composição Cinética”,
ministrado por ele e pelo professor português Tiago Porteiro na
UDESC. O princípio do trabalho continua sendo a abertura da voz a
partir do movimento e investigação de apoios corporais e vocais.
121
96
Uma reconstrução audiovisual do espetáculo foi realizada pelo
Centro Teatro Ateneo
Università di Roma "La Sapienza", e está disponível no link
https://www.youtube.com/watch?v=UtST2tTN4iA. Acesso em 30 de
maio de 2015.
122
98
Espetáculos: Smoked Love (2009 – pesquisa, direção,
dramaturgia e atuação), ©elas (2011 – direção e dramaturgia),
Pequeno Manual de Inapropriações (2014 – pesquisa, direção,
dramaturgia e atuação). Performances: Retrato de uma mulher que
chove horas para marcar o tempo (2010 – criação e performance),
CPF – cadastro de pessoas falsas (2012 – criação coletiva), Abraço
Vocal (2013 e 2014 – criação coletiva), Contamin(a)ção (2013 –
criação coletiva), Apneia-suspensão do tempo-dor (2014 – criação
coletiva).
99
Curso Laboratório Permanente de Performance: curso realizado
em 2012, 2013 e 2014 no Centro de Artes da Udesc através do
Programa de Extensão Laboratório de Performance, sob minha
coordenação. Com encontros semanais, o curso abordava a arte da
performance através de leituras e práticas interdisciplinares, e
visava à montagem de performances com os participantes (alunos
da Udesc e comunidade em geral). Oficinas Performance e(m) ação
e Processos criativos para a voz em performance: oficinas curtas
ministradas em vários eventos no país desde 2012.
126
100
No sentido de teatro dramático representacional.
128
101
Seminário proferido em 17.05.2011, no Programa de Pós
Graduação em Teatro da Universidade do Estado de Santa
Catarina, em Florianópolis, integrante da disciplina Estética,
teatralidade e performatividade. A disciplina, com carga horária total
de 60 h, foi ministrada no primeiro semestre de 2011, com
seminários temáticos proferidos pelo professor Mostaço e
seminários analíticos realizados pelxs alunxs. Além de meu caderno
de anotações de aula, utilizo nesta pesquisa o material escrito pelo
professor para projeção em sala através de datashow, que chamo
de fichário do autor. O arquivo foi cedido por ele axs alunxs durante
130
O teatro performativo
102
"The artists did not restrict their voices to serve as the medium of
language. Instead, the voice made itself heard for its own sake. The
self-serving voice did not necessarily imply a de-semantization, as
has often been claimed. Rather, the voice's polymorphism released a
multiplicity of meaning in the words. It only complicated an
unambiguous interpretation but did not destroy linguistic intelligibility
as a whole. With each breath, the voice also, if not first and foremost,
directed the listener's attention to its own special qualities and
expressed the subject's bodily being-in-the-world to others."
(Tradução minha).
137
103
"The materiality of the voice reveals the performance's materiality
in this entirety. The voice captures tonality as it resounds in space; it
emphasizes corporeality because it leaves the body through
respiration; it marks spatiality because its sounds flows out into the
space and enters the ears of spectators and articulating subjects
alike. Through its materiality the voice already is language without
having to first become a signifier." (Tradução minha).
138
104
O conceito de devir é discutido na filosofia desde a Grécia Antiga
(Platão, Aristóteles) até a atualidade (Deleuze). De modo geral, trata
da potência de transformação, de vir a ser, e não de um estado dos
seres.
139
105 “
Such moments were not only produced through specific voice
techniques but also – especially in the cases of Anderson, Galás and
Moss – through electronic media, which amplified or multiplied the
voice so as to distribute it fragmented and distorted across a space,
thus transforming the aural space into a soundscape.” (Tradução
minha).
141
106
Maturana e Varela (1998) diferenciam os sistemas autopoiéticos,
necessariamente formados por seres vivos, dos sistemas
alopoiéticos, formados por máquinas artificiais. Enquanto o primeiro
produz a si mesmo em suas relações internas e externas, o segundo
produz outra coisa diferente de si (ex.: um carro a ser
operado/dirigido por uma pessoa).
142
107
Philadelpho Menezes (1992) conceitua a poesia sonora antes da
década de 1950 como poesia fonética, por se utilizar apenas dos
recursos vocais sem intermediação tecnológica, e posteriormente
como poesia sonora, por incorporar também as alterações
proporcionadas pela eletroacústica. Segundo o autor, “se as
vanguardas históricas haviam mantido uma marca nítida da poética,
em seus experimentos fonéticos, ainda que em ruptura com os
cânones clássicos, e uma distinção mais ou menos clara entre
poesia e canto, a poesia sonora e as músicas concreta e eletrônica
pareciam buscar, ao contrário, o definitivo cancelamento de suas
diferenças [...].” (MENEZES, 1992, p. 14).
143
108
Segundo Reyner (2011, p. 97) existe um problema de tradução
com o verbo que designa esta função da escuta, visto que “entendre
é a função da escuta referente à intencionalidade. Função
intraduzível para o português, uma vez que não possuímos um
verbo para escuta com o potencial semântico de entendre, isto é,
capaz de assumir o sentido dos outros três verbos.”. Todavia, optei
145
109
Em semiótica, diz respeito à representação parcial de algo
concreto. Ex: a foto da casa representa a casa em si,
transformando-se em seu signo.
110
Em semiótica, diz respeito à associação de uma coisa com outra.
O índice não representa algo concreto, mas faz alusão a algo
concreto, por associação. Ex: o catavento é um índice do vento,
assim como a fumaça é um índice do fogo.
147
Escuta queer111
111
O pesquisador Britânico Yvon Bonenfant (2010) desenvolve o
conceito de queer listening, refletindo sobre uma dupla
responsabilidade (do performer e da audiência) no rompimento com
noções de vocalidade atrelada a gêneros. Ele também discorre
sobre noções de corporeidade da voz a partir da percepção física do
som, que se daria como tato. Todavia, as relações que empreendo
aqui entre escuta queer e escuta reduzida, e as reflexões sobre a
corporeidade da voz a partir do conceito de Adriana Cavarero não
são desenvolvidas no trabalho de Bonenfant. Cf.: BONENFANT,
2010.
149
112
Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas no âmbito das ciências
cognitivas para explicar as implicações da escuta no comportamento
(emoções, empatia, identificação) e na neuroplasticidade cerebral
150
113
“La extraordinaria presencia de la voz y la palabra en la escena y
en la vida profesional y cotidiana las ha naturalizado al punto de
dificultar su percepición por parte de quien la produce.” (Tradução
minha).
114
O canto harmônico, ou canto difônico ou bitonal, consta de
técnicas de ampliação da intensidade dos harmônicos da voz, para
que sejam ouvidos ao mesmo tempo tanto a frequência fundamental
quanto o harmônico em questão. É tradicional em países como a
República de Tuva. Há pessoas, como o grego Demétrio Stratos,
que conseguiram (e conseguem) destacar mais de um harmônico ao
mesmo tempo, transformando o canto em trifônico ou quadrifônico,
ou seja, parece que várias vozes cantam ao mesmo tempo, mas a
emissão é de uma única pessoa.
152
115
“Tomando la flexibilidad como principio, podemos afirmar que la
valoración de um comportamiento corporal como correto o errado
generalmente se remite a presupuestos logocéntricos originados en
el campo de la ciencia o del arte.” (Tradução minha).
153
Notas Preliminares
118
Ivan Izquierdo (2002) estuda a memória há 40 anos, e é um dos
neurocientistas mais reconhecidos no mundo. Argentino
naturalizado brasileiro, ele investiga cientificamente muitas das
questões apontadas por Jorge Luís Borges em sua obra literária.
Uma delas é a importância do esquecimento, para se gerar novas
memórias. Enquanto o protagonista do conto Funes, o memorioso
de Borges não esquecia nenhum detalhe dos acontecimentos,
também levava um dia inteiro para descrever suas memórias de
outro dia inteiro. Assim, afirma Izquierdo (2002), o esquecimento é
parte essencial de nosso processo de memoração, para que
possamos armazenar outras memórias, inibir memórias indesejadas,
e ter tempo para viver. Nos processos múltiplos da memória, elas
também podem ser mal gravadas ou distorcidas com o tempo: uma
memória que atua mais como a projeção de um desejo do que como
fato em si. E estas memórias acabam por formar nossas
experiências também, quando as evocamos.
160
119
Do grego, casa, em uma referência direta à unidade familiar e/ou
rede de relacionamento direto de uma pessoa com outras.
120
Do grego, diz respeito ao espaço urbano e público destinado a
reuniões de pessoas, com ou sem fins políticos. A ágora era
utilizada na democracia grega para as votações, das quais as
mulheres, escravos e demais minorias não podiam participar.
161
Um tema inapropriado
121
Capítulo do livro Pistas do método da cartografia: pesquisa-
intervenção e produção de subjetividade. Cf.: PASSOS, KASTRUP,
ESCÓCIA, 2009.
167
Prólogo: a Diva-drag
122
“Porgy and Bess é uma ópera do compositor americano George
Gershwin, com libreto de DuBose Heyward, e letras de Heyward
e Ira Gershwin, executada pela primeira vez em 1935. Teve como
base o romance Porgy, do mesmo DuBose Heyward, e a peça
posterior de mesmo nome, que ele escreveu juntamente com sua
esposa, Dorothy Heyward. As três obras lidam com a vida de negros
americanos na localidade fictícia de Catfish Row (baseada em
Cabbage Row) em Charleston, na Carolina do Sul, no início
da década de 1920.”. Disponível em:
171
Summertime
Summertime
and the livin' is easy
Fish are jumpin'
and the cotton is high
Oh your Daddy's rich
and your ma is good lookin'
So hush little baby
don't you cry
One of these mornings
You're goin' to rise up singing
Then you'll spread your wings
And you'll take to the sky
But till that morning
There's a nothin' can harm you
With you daddy and mamma
standing by
Verão
É verão
E a vida é fácil
Os peixes estão pulando
E o algodão está grande
Oh, seu pai é rico
E sua mãe é linda
Então acalme-se pequeno
Não chore
Numa dessas manhãs
Você vai acordar cantando
http://pt.wikipedia.org/wiki/Porgy_and_Bess. Acesso em 12 de
fevereiro de 2015.
123
Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Summertime_%28George_Gershwin%29.
Acesso em 12 de fevereiro de 2015.
172
124
Letra e tradução disponíveis em:
http://www.vagalume.com.br/ella-fitzgerald/summertime-
traducao.html. Acesso em 12 de fevereiro de 2015.
125
Em referência ao livro de Naomi Wolf (1992), O mito da beleza:
como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres.
173
126
Título original: Who framed Roger Rabbit? Filme de 1988 dirigido
por Robert Zemeckis, baseado no romance Who Censored Roger
Rabbit? de Gary K. Wolf.
174
127
A dragqueen - homem que se veste com roupas e acessórios
para montar uma personagem feminina para performances -
exagera as características femininas, hiperbolizando as marcas de
gênero. A diva-drag que eu abordo aqui faz menção à minha
construção hiperbólica para esta cena, que procurou também expor
a busca pelo glamour na caracterização e performance.
175
Welcome!
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Bem-vindxs a este pequeno manual de inapropriações. Fiquem à
vontade e aproveitem o momento.
128
Belting ou mix é uma técnica que equilibra a ressonância da voz
entre as cavidades oral e nasal. Muito usado no canto popular e no
teatro musical, por dar brilho e potência à voz pelo destaque de
harmônicos, e auxiliar no controle da afinação.
177
129
Prática de minha pesquisa de mestrado intitulada Smoked Love:
estudos sobre performance e dramaturgia do ator contemporâneo,
defendida no programa de Pós-graduação em teatro da Udesc em
2010, sob orientação do professor Dr. Milton de Andrade Leal Jr.
180
130
Termo cunhado pelo médico e psicanalista austríaco Sigmund
Freud (1856-1939) para fazer menção a falhas na fala, escrita ou
ações, causadas pelo inconsciente. Cf.: FREUD, 1980.
131
Prática de minha pesquisa de mestrado intitulada Smoked Love:
estudos sobre performance e dramaturgia do ator contemporâneo,
defendida no programa de Pós-graduação em teatro da Udesc em
2010.
182
Prólogo:
Diva-drag do jazz em cena. Canta “Summertime”, versão de Ella
Fitzgerald. Seduz/brinca com o público enquanto este se acomoda
em seus lugares. Ao fim da canção, recepciona-o com “bem-vindxs”
em inglês, alemão, espanhol, italiano, esperanto e português,
brincando com os ressonadores vocais.
Welcome!
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vontade e aproveitem o momento.
132
Em itálico, no roteiro, estão as rubricas, que para mim também
fazem parte da dramaturgia. Assim como as assumi em cena,
espero que quem leia este texto também identifique um diálogo com
a dramaturga através das rubricas.
183
A atriz lê o roteiro
133
Assisti ao programa Na cozinha com Nigella ainda em 2014, pela
GNT. O canal veicula programas culinários de Nigella Lawson
produzidos por emissoras inglesas. Não consegui encontrar a
informação exata sobre o período de veiculação deste programa
específico pela GNT, que parece ter como título original Nigella
Bites, produção do canal britânico Channel 4, entre os anos de 1998
a 2001. Informações disponíveis em:
http://en.wikipedia.org/wiki/Nigella_Lawson. Acesso em 08 de maio
de 2015.
134
Ação do programa de extensão Laboratório de Performance,
coordenado por mim no Centro de Artes da Udesc desde 2012.
135
Alunos do curso de Licenciatura em Teatro da Udesc.
186
Ahm, Ahm
Água
Leite
136
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=GiGhupsyU9Y. Acesso em
fevereiro de 2015.
137
Wânia Storolli (2012) explica que o termo foi cunhado pela
musicóloga Theda Weber-Lucks em sua tese Vokale
Performancekunst als neue musikalische Gattung.
187
Ovo
Amendoim
Banha
Va vê vé vi vô vó vulva
Amassa
Bate
Soca
batessoca
vagabunda
vacavacafaca
fffffffffffffff
farinha fermento forno
hum
gostoso
gostosa
ahhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!
138
Raoul Hausmann (1992) aponta o poema Ich liebe dich de Paul
Scheerbart, escrito em 1897, como inaugurador da poesia fonética.
Todavia, Dick Higgins (1992) indica a presença de elementos de
poesia fonética e poesia sonora em obras muito antigas da
literatura, com a utilização de aliterações e onomatopeias que
valorizavam a sonoridade em detrimento da semântica na
vocalização dos textos, como em As Rãs, do dramaturgo grego
Aristófanes (séc. IV a.C.), além de citar outros tantos autores
anteriores ao século XX.
188
139
Para conhecer um pouco sobre as composições de Luciano Berio
(1925-2003), sugiro a visita ao site oficial do Centro de Estudos
Luciano Bério. Disponível em: http://www.lucianoberio.org. Acesso
em 08 de maio de 2015.
189
140
A grafia correta do fonema é /x/.
190
A mulher-porco
141
Esse nome surgiu da observação de minhas amigas Isabella
Irlandini e Vivian Coronato, também doutorandas do PPGT, nas
apresentações do Pequeno Manual de Inapropriações na Udesc em
novembro de 2014. Elas me trouxeram a imagem do porco, após
assistirem a peça em dias diferentes, porém não lembro qual delas
primeiramente relatou a imagem.
192
A face da violência
143
Zumthor (1992) aponta o hibridismo de linguagem no movimento
dadaísta, que transita entre poesia, música, dança e pintura.
199
Ahm, Ahm
Água
Leite
Ovo
Amendoim
Banha
Va vê vé vi vô vó vulva
Amassa
Bate
Soca
batessoca
vagabunda
vacavacafaca
fffffffffffffff
farinha fermento forno
hum
gostoso
gostosa
ahhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!
144
O espaço ocupado pelo público era formado por cadeiras
dispostas em fileiras ovaladas, formando uma passarela no centro
da sala. A visualização do espaço lembra uma passarela de escola
de samba, na qual as pessoas que estão de um lado da plateia
conseguem ver as que estão do outro lado.
203
Julgando o público
145
No sentido de praticar bullying.
204
O superpênis
146
“I'll accept you, I won't shut down, I won't shut you out... I’m open
to you, I'm open to everything... This is not a trap, we can go inside,
yes, come inside...". Disponível em
http://www.ubu.com/film/acconci_book.html. Acesso em 13 de julho
de 2011. (Tradução minha).
215
Os olhos falantes
O espelho da alma
147
“O canto difônico (ou canto dos harmônicos) é o canto de dois ou
mais sons em simultâneo por uma única pessoa, que ao manipular
os espaços da cavidade bucal ressalta os harmónicos da
própria voz. Essa experiência conduz a novos planos de escuta e de
emissão vocal. Em certas culturas, é usado para a meditação. Essa
técnica é bastante popular na Ásia Central, de onde vem sua origem
entre mongóis e tuvanos. O amplo uso na música tradicional
também se verifica na África do Sul, entre as mulheres xhosa, em
que a técnica é frequentemente acompanhada por chamada e
resposta. Na América do Norte, seu uso tradicional está em grupos
indígenas como os inuítes, sendo praticado geralmente por
mulheres. Por sua natureza suave, esse canto era usado como
cantiga de ninar. Também é usado no Tibete entre lamas.”.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Canto_dif%C3%B4nico.
Acesso em 08 de maio de 2015.
228
148
Cf. SAKAKIBARA et al, 2002.
229
As bruxas
231
149
Disponível em:
https://www.pinterest.com/pin/92886811035595446. Acesso em 09
de maio de 2015.
150
A francesa Joana D’Arc afirmava ouvir vozes de anjos desde os
13 anos de idade. Impulsionada pelo o que as vozes lhe diziam, a
jovem convenceu o rei francês Carlos VII (1403-1461) a lhe deixar
liderar uma tropa de 4.000 homens na Guerra dos Cem Anos, contra
a Inglaterra. Joana conseguiu recuperar alguns territórios franceses
232
Foto: divulgação151
152
Sobre desigualdade de gênero no Brasil, consultar o Retrato de
desigualdades de gênero e raça do Instututo de Pesquisas
Econômicas Aplicadas, IPEA. Cf:
http://www.ipea.gov.br/retrato/pdf/revista.pdf. Acesso em 09 de maio
de 2015.
153
Em Un Women – Anual Repport 2012-2013, publicação da
United Nations Entity for Gender Equality and the Empowerment of
Women (UN Women) há muitas outras informações sobre
desigualdades de gênero em diversos países do mundo. Cf.:
http://www.unwomen.org/~/media/headquarters/attachments/section
s/library/publications/2013/6/unwomen-annualreport2012-2013-
en%20pdf.pdf. Acesso em 09 de maio de 2015.
234
A caminhada da sacerdotisa
O sofrimento da penitência
Jogo do Maestro
154
Ramo da física que estuda o som.
248
O fim
252
253
INSTRUÇÕES FINAIS
254
Evocações
Ressonâncias
Cantares155
(Antonio Machado)
155
Poesia do modernista espanhol Antônio Carlos, traduzida do
espanhol por Maria Tereza Almeida Pina. Disponível em:
http://estacao018.blogspot.com.br/2012/08/cantares-de-antonio-
machado.html. Acesso em 22 de maio de 2015.
260
Referências
____________________________ Corporeidade e
performatividade vocal – Reflexões sobre voz e palavra em
cena. In: ALEIXO, Fernando Manuel (org.) Práticas e
Poéticas Vocais – vol. 1. Uberlândia: EDUFU - Editora da
Universidade Federal de Uberlândia, 2014.
do-mate-mulheres-como-minoria-no-teatro/. Acesso em 16 de
janeiro de 2015.
Prólogo
Welcome!
Wilkomen!
Bienvenido!
Benvenuto!
Bonvênon!
Bem-vindxs a este pequeno manual de inapropriações.
Fiquem à vontade e aproveitem o momento.
1.
Primeira instrução: Como não conquistar ninguém pelo
estômago, ou na cozinha com Tigella
Ahm, Ahm
Água
Leite
Ovo
Amendoim
281
Banha
Va vê vé vi vô vó vulva
Amassa
Bate
Soca
batessoca
vagabunda
vacavacafaca
fffffffffffffff
farinha fermento forno
hum
gostoso
gostosa
ahhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!
2.
Segunda instrução: Como não ser agradável
3.
Terceira instrução: Como não proferir um discurso
4.
Quarta instrução: Como não rezar
5.
Última instrução: Como não sentir
Duração: 50 minutos