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OPINIÃO
O Estado já era havia muito tempo dono da maioria das pedreiras, minas e salinas; ele
passou a proibir a exportação de sal, ferro, ouro, vinho, grãos e óleo da Itália e a regular
rigidamente a importação desses produtos. Em seguida, começou a controlar os
estabelecimentos que produziam para o exército, os funcionários do Estado e a Justiça.
Em fábricas de munições, fábricas de têxteis e padarias, o governo impunha uma
produção mínima, comprava essa produção a um preço que ele próprio definia e deixava
as associações de manufatures responsáveis pelo cumprimento de suas ordens e
especificações. Se isso se mostrasse insuficiente, o governo nacionalizava essas fábricas
por completo e as munia de mão-de-obra vinculada.
Um sistema como esse não poderia funcionar sem controles de preços. Em 301,
Diocleciano e seus colegas emitiram um Edictum de pretiis ditando os preços ou salários
legais máximos para todas as mercadorias e os serviços importantes no Império. O
preâmbulo do edito critica os monopolistas, que, em uma “economia de escassez”, haviam
impedido a chegada de mercadorias ao mercado, com a finalidade de elevar os preços.
O Edito foi o exemplo mais famoso até nossa época de uma tentativa de substituir leis
econômicas por decretos governamentais. Seu fracasso foi rápido e completo. Os
comerciantes escondiam suas mercadorias, a escassez de bens diversos se agravou, o
próprio Diocleciano foi acusado de conivência com o aumento dos preços, houve tumultos,
e o Edito teve que ser abrandado para que a produção e distribuição pudessem ser
retomadas. No final, foi revogado por Constantino.
Burocracia
O ponto fraco dessa economia controlada estava em seu custo administrativo. A
burocracia necessária para administrá-la era tão grande que Lactâncio, certamente
exagerando para fins políticos, estimou que metade da população trabalhava nela. Os
burocratas achavam que trabalhavam mais do que a honestidade justificaria; a
fiscalização à qual eram submetidos era demasiado esporádica para frustrar seus
esforços evasivos. Para sustentar a burocracia, os tribunais, o exército, o programa de
obras públicas e os subsídios, a tributação subiu para níveis inéditos de continuidade
onipresente.
Como o Estado ainda não aprendera a contrair empréstimos públicos para ocultar seus
desperdícios e adiar o momento de sua prestação de contas, o custo das operações de
cada ano tinha que ser coberto pela receita de cada ano. Para evitar retornos em moedas
desvalorizadas, Diocleciano determinou que, sempre que possível, os impostos fossem
recolhidos em mercadorias: os contribuintes tinham que transportar suas cotas para
armazéns governamentais, e foi criada uma organização complexa para levar as
mercadorias desses armazéns para seu destino final. Em cada município, os decuriones,
funcionários municipais, eram responsabilizados financeiramente quando os impostos
cobrados de suas comunidades não eram pagos por completo.
Como cada contribuinte fazia o possível para sonegar impostos, o Estado organizou uma
força especial de polícia da receita para examinar os bens e a receita de cada homem.
Esposas, filhos e escravos eram torturados para obrigá-los a revelar a riqueza ou os
ganhos ocultos da família, e evasões de impostos eram punidas severamente. Perto do
final do século III, ainda mais no século IV, a evasão fiscal tornou-se quase endêmica no
Império. Os ricos escondiam sua riqueza, aristocratas locais se faziam reclassificar
como humiliores para evitar serem eleitos para cargos municipais, artesãos abandonavam
seus ofícios, pequenos produtores rurais abandonavam suas pequenas propriedades
sobretaxadas para tornarem-se trabalhadores assalariadas, muitos povoados e algumas
cidades menores (por exemplo Tiberíades, na Palestina) foram abandonadas devido às
alíquotas altas impostas, e por fim, no século IV, milhares de cidadãos deixaram o Império,
atravessando suas fronteiras para buscar refúgio entre os bárbaros.
Foi provavelmente para frear essa mobilidade custosa, para assegurar um fluxo correto de
alimentos para os exércitos e as cidades e de impostos para o Estado, que Diocleciano
recorreu a medidas que, na prática, estabeleceram a servidão em campos, fábricas e
guildas. Tendo responsabilizado o proprietário de terras pela produtividade de seus
arrendatários, através de cotas de impostos recolhidos em mercadorias, o governo
decretou que o arrendatário teria que permanecer na terra até saldar suas dívidas ou
dízimos.
Ignoramos a data desse decreto histórico, mas em 332 uma lei de Constantino o
pressupôs, o confirmou e decretou que o arrendatário era adscriptitius, “vinculado por
escrito”, às terras que cultivava; ele não poderia deixá-las sem o consentimento do
proprietário, e, quando a terra fosse vendida, ele e sua família seriam vendidos com ela.
Ele não fez nenhum protesto, pelo que sabemos; talvez a lei tenha sido apresentada a ele
como garantia de segurança, como na Alemanha de hoje. Dessa e de outras maneiras, no
século III a agricultura passou da escravidão para a liberdade, então para a servidão, e
ingressou na Idade Média.
Notas de rodapé
[1] Alguns dos tetos fixados no Edito revelam o nível dos preços e salários vigentes no ano
301. $ 3,50 o alqueire de trigo, lentilhas e ervilhas; $ 2,10 o alqueire de cevada, centeio e
feijão; um quartilho de vinho, 21-26 cents; um quartilho de azeite, 10,5 cents; uma libra de
carne de porco, 10,5 cents; uma libra de carne bovina ou de carneiro, 7 cents; frangos,
dois por 52,5 cents; arganazes, 10 por 35 cents; os melhores repolhos ou alfaces, cinco
cabeças por 3,5 cents; cebolas verdes, 25 por 3,5 cents; caracóis da melhor qualidade, 20
por e,5 cents; maçãs ou pêssegos grandes, 10 por 3,5 cents; cabelo, 5 cents a libra;
calçados, 62 cents a $ 1,38 o par. Diária do trabalhador rural, 23 a 46 cents por dia, mais
alimentação; de pedreiros, carpinteiros, ferreiros e padeiros, 46 cents mais alimentação;
barbeiros, $ 1,75 por cliente; escrivãos, 23 cents por cada cem linhas; professores
primários, 46 cents por aluno por mês; professores de literatura grega ou latina ou de
geometria, $ 1,84 por aluno por mês; advogados, $ 7,36 pela defesa de uma causa.
Trecho extraído segundo as normas de utilização justa da obra “The Story of Civilization,
Volume 3: Caesar and Christ”.
Will Durant (1885–1981) foi escritor, historiador e filósofo, conhecido principalmente por
sua obra em 11 volumes The Story of Civilization, escrita em colaboração com sua
esposa, Ariel.
©2018 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês