Você está na página 1de 3

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

REPRESENTAÇÃO Nº 0601041-17.2018.6.00.0000 – CLASSE 11541 – BRASÍLIA –


DISTRITO FEDERAL

Relator: Ministro Carlos Horbach

Representante: Jair Messias Bolsonaro

Advogados: Tiago Leal Ayres e outros

Representada: Globo Comunicação e Participações S.A.

Advogados: José Perdiz de Jesus e outros

DECISÃO

Cuida-se de representação, com pedido de direito de resposta, formalizada por


Jair Messias Bolsonaro, candidato a Presidente da República, contra Globo Comunicação e
Participações S.A., na qual questiona a veiculação, na edição de 29 de agosto de 2018 do
programa denominado Jornal Nacional, de editorial que conteria, na dicção da exordial,
afirmação difamatória e sabidamente inverídica, ofensiva à honra do representante.

Sustenta a inicial que o mencionado editorial, ao refutar dados apresentados pelo


representante em entrevista concedida ao mencionado telejornal no dia anterior, relativos às
receitas publicitárias da representada oriundas de verbas públicas da União, promoveu
falseamento da verdade, em programa de grande audiência e impacto nacional, o que atingiria
negativamente sua imagem e honra, ensejando a concessão de direito de resposta, nos termos
do art. 58 da Lei das Eleições.

A representada aduz, em sua defesa, a ilegitimidade passiva de empresas


jornalísticas para figurar no polo passivo em ação de direito de resposta fundada na Lei nº
9.504/1997, a qual envolveria apenas candidatos, partidos políticos e coligações. No mérito,
argumenta que o conteúdo da nota não traz ataques à honra do candidato, apenas esclarece
que a afirmação feita por ele não seria correta, sem que se tenha nenhum excesso a ser
combatido por meio de direito de resposta.

A Procuradoria-Geral Eleitoral opinou pela improcedência do pedido, em parecer


assim ementado (ID 323343):

Assinado eletronicamente por: CARLOS BASTIDE HORBACH - 07/09/2018 20:36:31 Num. 327047 - Pág. 1
https://pje.tse.jus.br:8443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=18090720363086300000000322043
Número do documento: 18090720363086300000000322043
Eleições 2018. Presidente da República. Representação. Direito de resposta.
Afirmação difamatória e sabidamente inverídica. Não constatação.

1. Compete à Justiça Eleitoral apreciar pedido de direito de resposta “sempre


que órgão de imprensa se referir de forma direta a candidatos, partidos ou
coligações que disputam o pleito”. Precedentes.

2. Os órgãos da imprensa são responsáveis pelo conteúdo das afirmações que


expõem aos seus receptores, de modo que são parte legítima em
representações objetivando direito de resposta perante a Justiça Eleitoral

3. A mensagem, para ser qualificada como sabidamente inverídica, deve ser


conter inverdade flagrante, perceptível de plano.

4. A exposição de versões sucessivas de candidato e veículo de comunicação


não justifica a pretensão a réplica.

5. A concessão de direito de resposta formulado com base na alegação de que


proferida afirmação difamatória não prospera quando desta não for extraível a
imputação de fato ofensivo à honra do candidato.

Parecer pela improcedência do pedido contido na representação.

De início, impõe-se a rejeição da preliminar arguida pela empresa representada.


É que a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é pacífica no sentido de que, “sempre que
órgão de imprensa se referir de forma direta a candidatos, partidos ou coligações que disputam
o pleito, com ofensa ou informação inverídica, extrapolando o direito de informar, haverá
campo para atuação da Justiça Eleitoral para processar e julgar direito de resposta” (Rp
nº 1313-02/DF, rel. Min. Admar Gonzaga, DJe de 25.9.2014 – destaques não originais).

No mérito, não assiste razão ao representante. A controvérsia dos autos se


resume a determinar qual das afirmações é verdadeira: a proferida pelo representante na
entrevista, ou a expressada pela representada em sua nota editorial.

Essas afirmações, do representante e da representada, têm, respectivamente, o


seguinte teor:

Vocês vivem, em grande parte aqui, de recursos da União. São bilhões que
recebem o sistema Globo, de recursos da propaganda oficial do governo (ID
314398 fl. 2).

O candidato Jair Bolsonaro do PSL afirmou que a TV GLOBO recebe bilhões


de recursos da propaganda oficial do governo. É uma afirmação absolutamente
falsa. A propaganda oficial do governo federal e das suas empresas estatais
corresponde a menos de 4% das receitas publicitárias e nem remotamente
chega à casa do bilhão. Os anunciantes, privados ou públicos, reconhecem na
TV globo uma programação de qualidade, prestigiada por enorme audiência e,
por isso, se valem dela para levar ao público mensagens sobre seus produtos e
serviços. Fazemos esse esclarecimento por apreço à verdade, ao nosso
público e a nossos anunciantes.

Assinado eletronicamente por: CARLOS BASTIDE HORBACH - 07/09/2018 20:36:31 Num. 327047 - Pág. 2
https://pje.tse.jus.br:8443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=18090720363086300000000322043
Número do documento: 18090720363086300000000322043
É possível perceber, da simples leitura das duas transcrições, que nem o
argumento do representante nem o contra-argumento da representada delimitam o tempo em
que estimam as receitas publicitárias em discussão, o que impede a definição de um parâmetro
objetivo para aferição de sua veracidade.

Esse aspecto foi devidamente observado pelo Ministério Público em sua


manifestação, nos seguintes termos:

25. No caso em apreço, a suposta inveracidade da afirmação contida na nota


editorial não é perceptível de plano, o que se confirma pelo fato de o
requerente ter a necessidade de instruir a sua petição inicial com o objetivo de
demonstrar a falsidade dos dados em questão.

26. De qualquer sorte, o fato de a representada ter recebido 10,2 bilhões de


reais provenientes da União entre os anos 2000 e 2016 – como informa o
representante – não torna o conteúdo da nota impugnada inverídico, pois o
tempo verbal utilizado pelo candidato, em sua afirmação originária, denota o
caráter de atualidade do fato, indicando que a representada recebe bilhões a
título de recursos da propaganda oficial do governo, o que não procede. (ID
323343 fl. 4)

Nesse contexto, não se pode imputar à nota editorial da representada a


divulgação de fato sabidamente inverídico, nem ofensa alguma à honra do representante, não
sendo o caso de concessão de direito de resposta, o qual somente deve ser deferido de modo
excepcional, em respeito à liberdade de expressão dos atores sociais.

Ante o exposto, nego seguimento à representação, nos termos do art. 36, § 6º,
do RITSE.

Publique-se.

Brasília, 7 de setembro de 2018.

Ministro CARLOS HORBACH


Relator

Assinado eletronicamente por: CARLOS BASTIDE HORBACH - 07/09/2018 20:36:31 Num. 327047 - Pág. 3
https://pje.tse.jus.br:8443/pje-web/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=18090720363086300000000322043
Número do documento: 18090720363086300000000322043

Você também pode gostar