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Tudo é relativo, mas o Relativismo e uma posição filosófica correta? Hoje, é correto
dizer, como sustentavam os sofistas, que são todas as opiniões válidas e todas as
verdades pessoais? Se todos podem ter sua verdade, e aqueles que rejeitam as outras
verdades, como seriam aceitos? Todas as culturas devem ser respeitadas ao extremo ou
há limites? E quem impõe esses limites? Cabe a você refletir. Podemos comparar os
sofistas com os relativistas de hoje, que acreditam que "tudo é questão de opinião" e que
"cada um tem sua própria verdade". Muitos consideram essa posição demasiado
superficial e um tanto perigosa. Como disse recentemente o famoso sociólogo português
Boaventura de Souza Santos: “Todas as cultuas são relativas, mas o relativismo cultural
enquanto atitude filosófica é incorreto”. O que você pensa?
1 Retórica: arte ou técnica de discursar ou escrever de forma persuasiva ou comovente; eloquência; oratória; discurso primoroso.
2 Por essa razão, hoje se chamam sofismas os enganosos jogos de palavras.
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Cabe a nós lembrar que, no mercado de Atenas, apareceu a figura de Sócrates,
criticando fortemente os sofistas; para ele, as ideias sofistas não levam os homens ao
conhecimento verdadeiro, mas apenas à opinião. Sócrates vai dizer também que, na
democracia ateniense, muitas decisões estavam sendo tomadas não com base no saber,
mas na retórica. Sócrates rejeita o relativismo e lembra que existe uma verdade, não
obstante ninguém ter posse dela.
3. Sócrates
VIRTUDE
Nasce, com Sócrates, uma nova concepção de virtude (areté): não deveis cuidar do
corpo, nem das riquezas, nem de qualquer outra coisa antes e mais do que da alma, de
modo que ela se torne ótima e virtuosa; não é das riquezas que nascem as virtudes. O
homem é definido por sua alma (alma, aqui, significa inteligência, a psyché) – o vício é a
privação da ciência, a virtude é o conhecimento. O homem virtuoso e livre é um homem
dominado pela razão, e não escravo dos instintos, e não vítima dos desejos.
Muda-se, assim, o conceito de herói: antes, o herói era alguém capaz de vencer todos
os inimigos, todos os perigos, todas as adversidades e o cansaço externo; agora, o herói é
aquele que, livre, vive de seu conhecimento: “somente o sábio, que esmagou os monstros
selvagens das paixões que se lhe agitam o peito, é verdadeiramente suficiente a si mesmo”.
A felicidade (em grego, eudaimonia, na origem da palavra o “bom demônio”, isto é, aquele
que teve a sorte de ter um bom demônio guardião, que garante sorte e prosperidade) não
vem das coisas exteriores, mas somente da alma. O sujeito Socrátes ensinava: “seja o que
você gostaria de parecer aos outros” – o homem, devido à capacidade de pensamento, traz
em seu interior uma testemunha da qual não pode fugir, onde quer que fosse, isto é, sua
consciência.
A. Nada Sei: o oráculo de Delfos declarou Sócrates o maior sábio da Grécia, dizendo:
"sábio é Sófocles, mais sábio é Eurípedes, mas entre todos os homens, Sócrates é
sapientíssimo". Categoricamente, o filósofo afirmou: “Só sei uma coisa. E é que nada sei”.
Ele sabia o quão pouco sabia perante imensas e intermináveis questões da vida e do
mundo, e isso era a maior prova de sua sabedoria. Ao contrário dos sofistas, Sócrates não
cobrava por seus ensinamentos, simplesmente se autodenominava um “amante da
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sabedoria”. O reconhecimento da própria ignorância é o primeiro passo para a busca da
Verdade. A Verdade existe, sim; ela não é, entretanto, propriedade de nenhum homem, e
ser filósofo é estar numa incessante busca por ela – para Sócrates, dizer, como os jovens
fazem no século XXI, que “cada um tem sua verdade”, é uma atitude antifilosófica. "E o que
é senão ignorância, a mais reprovável, acreditar saber aquilo que não se sabe?" (Fonte:
Platão, Apologia de Sócrates)
"A vida não refletida não vale a pena ser vivida".
B. Conhece-te a ti mesmo: Sócrates acreditava que ouvir a si mesmo era a maior
fontes de sabedoria. Repetindo o oráculo de Delfos, dizia: “conhece-te a ti mesmo e
conhecerás o universo”.
σαυτόν ίσθι
C. Dialética: Sócrates costumava andar pelas ruas de Atenas e abordar algum jovem
ou erudito, dialogando com eles no meio de toda a gente. O diálogo, suscitando a busca
pela verdade, era a forma de livrar a alma do erro. A partir do diálogo, qualquer um, de forma
autônoma, pode ser um filósofo3. Como agia nosso filósofo?
Exortação: Sócrates apresentava-se ao seu interlocutor, convidando-o à
jornada para a sabedoria;
Indagação e Ironia Socrática: comportando-se como um ignorante ávido pelo
conhecimento de seu interlocutor, o qual se julgava sábio, começava a questioná-lo.
Maiêutica: Sócrates continua a fazer diversas perguntas, mostrando as
contradições e pontos fracos de seu interlocutor, levando-o a questionar as próprias
verdades pré-estabelecidas e, assim, parir uma nova concepção (maiêutica) Por isso
Sócrates diz ter uma função semelhante à de sua mãe: enquanto ela era parteira de
crianças, ele era parteiro das ideias, ou seja, dava luz à razão. (Ver filme Sócrates, Roberto
Rossellini, 1971)
Retórica VS Dialética:
3 No Diálogo Fédon, por exemplo, Sócrates faz um escravo, que nunca foi alfabetizado, provar um teorema geométrico.
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Enquanto a retórica busca encontrar argumentos para persuadir um auditório, a
dialética serve-se de perguntas e respostas. A dialética é a técnica de discutir com um
adversário, tentando refutar a tese deste ou tentando não deixar que este lhe refute a
própria tese. Aquele que ataca levanta perguntas, e essas, em geral, supõem respostas
endoxais (endoxais é o mesmo que verossímil e o contrário de paradoxal, um adjetivo que
caracteriza uma opinião compartilhada por todos ou pela maioria) das quais quer deduzir
uma contradição com a tese do adversário.
D. A Morte de Sócrates: Sócrates era, na verdade, um questionador, figura que
incomoda as sociedades todas as épocas. Acusado de corromper a juventude de Atenas e
não reconhecer a existência dos deuses, foi condenado à morte. Por mais que seus amigos
quisessem o libertar, o sábio se recusava, pois fugir de sua condenação seria renegar suas
próprias ideias: "conservando a vida, eu me tornaria indigno. Não me peças que eu mate a
minha palavra". Ele suicidou-se antes de sua execução, utilizando para isso um cálice de
cicuta4:
Eu digo cidadãos que me haveis matado, que uma vingança recairá sobre vós logo
depois da minha morte , bem mais grave do que aquela pela qual vos vingastes de mim ,
matando - me. Hoje, vós fizestes isso na esperança de que vos tereis libertado de ter que
prestar contas de vossa vida. no entanto, vos acontecerá inteiramente o contrário: eu vô-lo
predigo. Não serei mais somente eu, mais muitos a vos pedir contas (Platão, Apologia de
Sócrates).
4 Xenofonte, em sua Memorabilia, trata das concepções de Sócrates sobre Deus, a mais antiga tentativa de provar racionalmente Sua existência. Tais são
os argumentos: 1) tudo que está constituído para alcançar um objetivo e um fim pressupõe uma inteligência que o produziu 2) esta inteligência não pode ser vista, é
fato; entretanto, a nossa própria inteligência (alma) não pode ser vista também, entretanto ela existe em tudo o que fazemos 3) a preexcelência que o homem tem
sobre os outros animais mostra nossa posição especial no Cosmos 4) O homem possui, em si, elementos que estão presentes em todo o universo; isso indica que há,
fora de nós, uma inteligência.