Você está na página 1de 55

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA
LABORATÓRIO DE QUÍMICA DE PRODUTOS NATURAIS

DÉBORA GRANEMANN E SILVA

ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DO ÓLEO ESSENCIAL


DA Lippia alba (Mill.) N. E. Brown (ERVA CIDREIRA)
E INVESTIGAÇÃO DA ATIVIDADE BIOLÓGICA

FLORIANÓPOLIS – SC
2008
DÉBORA GRANEMANN E SILVA

ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DO ÓLEO ESSENCIAL


DA Lippia alba (Mill.) N. E. Brown (ERVA CIDREIRA)
E INVESTIGAÇÃO DA ATIVIDADE BIOLÓGICA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à


disciplina QMC 5231 – Estágio Supervisionado,
do Curso de Bacharel em Química, da
Universidade Federal de Santa Catarina,
desenvolvido no semestre 2008.1.
Orientadora: Profª. Dra. Inês Mª Costa Brighente

FLORIANÓPOLIS, 04 JUNHO DE 2008


...”Sou um elétron”, disse a forma. “Sou
um elétron spin para cima. É fácil me
distinguir da minha amiga ali, a elétron
spin para baixo, que é obviamente muito
diferente de mim .” E disse para si mesmo
num tom baixinho, algo que soou como
“Vive la différence”...

ALICE NO PAÍS DO QUANTUM


ROBERT GILMORE (1995)
AGRADECIMENTOS

A orientadora profª. Drª. Inês M. Costa Brighente pela oportunidade, incentivo, dedicação e auxílio
em todas as etapas deste trabalho. Pela confiança e liberdade concedida na escolha do tema deste
trabalho;

Ao profº Dr. Moacir Geraldo Pizzolati pelas valiosas discussões, sugestões e participação nas
determinações estruturais;

A profª. Drª. Maria da Graça Nascimento, coordenadora do Laboratório de Síntese e Biocatálise


desta universidade, pelo auxílio na determinação da rotação óptica e do índice de refração;

Ao profº Drº Faruk J. N. Aguilera, coordenador do Laboratório de Catálise e Fenômenos


Interfaciais, pela disponibilização do equipamento de cromatografia gasosa acoplada à
espectrometria de massas e ao aluno de doutorado Jacques Priebe pela paciência e valioso auxílio
na realização das análises e varreduras;

Ao profº Daniel de Barcellos Falkenberg, do Departamento de Botânica a UFSC, pela identificação


da espécie vegetal que é tema deste trabalho;

A mãe da professora Inês, pela disponibilização da espécie estudada, a qual foi coletada da sua
residência em Santo Amaro da Imperatriz (SC);

A todos os professores do Departamento de Química, que se dedicam ao ensino de graduação na


Universidade Federal de Santa Catarina, que colaboraram na interdisciplinaridade possibilitando
uma formação acadêmica harmoniosa e profícua na produção de informações que me foram
essenciais na elaboração deste trabalho de conclusão de curso.

A todos os colegas de graduação e especialmente aos colegas do Laboratório de Química de


Produtos Naturais com os quais compartilhei momentos de amizade e aprendizagem;

A todos aqueles que direta ou indiretamente cooperaram para a realização deste trabalho.
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ................................................................................................................ III


ÍNDICE DE FIGURAS ............................................................................................................... VI
ÍNDICE DE TABELAS .............................................................................................................. VIII
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................. VIII

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................. 3


2-1. Óleos Essenciais ........................................................................................................ 3
2-1-1. Composição dos Óleos Essenciais ............................................................................. 5
2-1-2. Biossíntese de Óleos Essenciais ................................................................................ 8
2-1-3. Extração e Armazenamento de Óleos Essenciais....................................................... 10
2-1-4. Caracterização de Óleos Essenciais ........................................................................... 12
2-1-5. Métodos Cromatográficos de Análise ....................................................................... 12
2-1-6. Controle da Identidade e da Pureza ........................................................................... 13
2-2. Espécie Vegetal Lippia alba (Mill.) N. E. Brown ..................................................... 14

3. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 17
3-1. Objetivos Gerais ............................................................................................................ 17
3-2. Objetivos Específicos .................................................................................................... 17

4. PARTE EXPERIMENTAL .................................................................................................. 18


4-1. Material Vegetal ......................................................................................................... 18
4-2. Método de extração e armazenamento ....................................................................... 18
4-3. Análise dos Óleos Essenciais ..................................................................................... 19
4-3-1. Propriedades Físico-Químicas .................................................................................... 19
4-3-2. Análise Cromatográfica por CG ................................................................................. 19
4-3-3. Análise Cromatográfica por CG-EM .......................................................................... 19
4-3-4. Índice de Retenção de Kovats..................................................................................... 20
4-3-5. Investigação da Toxicidade Usando Larvas de A. salina (TAS) ................................ 20
4-3-6. Investigação da Atividade Antimicrobiana ................................................................. 21
4-3-7. Investigação da Atividade Antioxidante Utilizando o Radical
21
Livre DPPH (2,2-Difenil-picril-hidrazil) ...................................................................
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................................ 23
5-1. Propriedades Físico-Químicas ....................................................................................... 23
5-2. Determinação da Composição do Óleo Essencial ......................................................... 23
5-3. Investigação da Toxicidade Usando Larvas de A. salina (TAS) ................................... 33
5-4. Investigação da Atividade Antimicrobiana .................................................................... 34
5-5. Investigação da Atividade Antioxidante Utilizando o Radical
35
Livre DPPH (2,2-Difenil-picril-hidrazil) ......................................................................

6. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 37

APÊNDICE ................................................................................................................................. 40
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Esquema simplificado da principal rota de biossíntese de metabólitos secundários e
suas interações com o metabolismo primário ............................................................ 4
Figura 2. Exemplos de monoterpenos ....................................................................................... 6
Figura 3. Exemplos de sesquiterpenos....................................................................................... 8
Figura 4. Esboço da biossíntese de terpenos. A unidade básica C5 dos terpenos é sintetizada
por duas rotas diferentes. Os intermediários fosforilados, IPP e DMAPP, se
combinam para formar C10, C15 e outros terpenos maiores........................................ 9
Figura 5. Foto de uma glândula capilar de uma folha jovem de girassol (Balsamorhiza
sagittata)..................................................................................................................... 10
Figura 6. Aparelho de Clevenger: (A)manta aquecedora, (B)Balão de 1 L, (C)Vidraria de
Clevenger, (D)Condensador, (E)Erlenmayer e (F)Suporte universal......................... 12
Figura 7. Espécie vegetal Lippia alba (Mill.) N. E. Brown ...................................................... 15
Figura 8. Folhas de Lippia alba recém colhidas......................................................................... 18
Figura 9. Destilação por arraste a vapor com aparelho de Clevenger........................................ 18
Figura 10. Óleo essencial em vidro âmbar................................................................................... 18
Figura 11. Cromatograma do óleo essencial da Lippia alba (Mill.) N. E. Brwon ...................... 24
Figura 12. Espectros de massas do β-mirceno. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 25
Figura 13. Proposta para a fragmentação do β-mirceno quando analisado em CG-EM.............. 25
Figura 14. Espectros de massas do β-citral. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST)................. 26
Figura 15. Proposta para a fragmentação do β-citral quando analisado em CG-EM................... 26
Figura 16. Espectros de massas do α-citral. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST) ................ 27
Figura 17. Espectros de massas do germacreno B. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 28
Figura 18. Cromatograma do óleo essencial da Lippia alba (Mill.) N. E. Brwon ...................... 29
Figura 19. Cromatograma da série homóloga de alcanos alifáticos (C10-C30)............................. 29
Figura 20. Estruturas propostas para os componentes detectados no óleo essencial extraído da
Lippia alba (Mill.) N. E. Brwon ................................................................................ 32
Figura 21. Gráfico da LD50 do óleo essencial de L. alba na investigação de toxicidade usando
larvas de A. Salina....................................................................................................... 33
Figura 22. Gráfico da LD50 do controle positivo das larvas de A. Salina.................................... 33
Figura 23. Cromóforo DPPH........................................................................................................ 35
Figura 24. Gráfico para determinação de IC50 do óleo essencial da L. alba na investigação da
atividade antioxidante utilizando o radical livre DPPH.............................................. 35
Figura 25. Espectros de massas do Sabineno. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST)................. 40
Figura 26. Espectros de massas do p-Cimeno. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 40
Figura 27. Espectros de massas do β-Ocimeno. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 41
Figura 28. Espectros de massas do γ-Terpineno. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 41
Figura 29. Espectros de massas do Linalol. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST)................. 42
Figura 30. Espectros de massas do trans-Verbenol. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 42
Figura 31. Espectro de massas do cis-Crisantenol obtido da amostra. Espectro de massas
proveniente de biblioteca eletrônica indisponível para consulta (NIST).................... 43
Figura 32. Espectros de massas do Geranil acetato. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 43
Figura 33. Espectros de massas do β-Elemeno. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 44
Figura 34. Espectros de massas do β-Cariofileno. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 44
Figura 35. Espectro de massas do γ-Elemeno obtido da amostra. Espectro de massas
proveniente de biblioteca eletrônica indisponível para consulta (NIST).................... 45
Figura 36. Espectros de massas do α-Humuleno. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 45
Figura 37. Espectros de massas do Germacreno-D. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 46
Figura 38. Espectros de massas do Germacreno-A. Superior: Espectro de massas obtido da
amostra. Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).. 46
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Componentes do óleo essencial da Lippia alba (Mill.) N. E. Brown, tempo de
retenção, índice de retenção de Kovats e percentagem em área ................................ 31
Tabela 2. Atividade antimicrobiana do óleo essencial da Lippia alba (Mill.) N. E. Brown,
frente aos microrganismos Eschrichia coli, Staphylococcus aureus e Pseudomonas
aeruginosa .................................................................................................................. 34

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS


AMV Ácido Mevalônico
CG Cromatografia Gasosa
CG-EM Cromatografia Gasosa acoplada a Espectroscopia de Massas
CIM Concentração Inibitória Mínima
DL Dose letal
DMAPP Dimetilalil difosfato
DPPH 1,1-difenil-2-picrilhidrazil
FPP Farnesil difosfato
GPP Geranil difosfato
IC Concentração Inibitória
IK Índice de retenção de Kovats
IPP Isopentenil difosfato
MeOH Metanol
MEP Metileritritol fosfato
UV-VIS Ultra vioveta – Visível
1. INTRODUÇÃO

Os óleos essenciais são produtos voláteis de origem vegetal obtidos por processo físico de diversas
partes das plantas como folhas, flores e frutos. Ocorrem em diversos gêneros de plantas superiores e
inferiores e constituem uma mistura complexa de substâncias, apresentando estruturas químicas
heterogêneas. As técnicas mais usuais para sua obtenção são: prensagem ou expressão, extração
com solventes orgânicos ou com gorduras, com fluído supercrítico, destilação por arraste de vapor
ou, ainda, headspace (microdestilação em fase sólida).

Quimicamente, os óleos essenciais são compostos com baixo peso molecular, constituindo misturas
bastantes variáveis de fenilpropanóides e terpenóides, especificamente monoterpenos (C10) e
sesquiterpenos (C15), embora diterpenos (C20) também possam estar presentes, além de uma
variedade de hidrocarbonetos alifáticos (lineares, ramificados, saturados ou insaturados), ácidos,
álcoois, aldeídos, ésteres acíclicos ou lactonas.

Devido a sua freqüente presença nos vegetais e variedade de composição química, os óleos
essenciais constituem objeto de extensivos estudos visando identificar atividades biológicas e os
resultados apontam um potencial terapêutico importante. Porém, devido à complexidade química,
torna-se difícil relacionar a atividade com as substâncias presentes (Tepe et al., 2005). Porém, em
alguns casos, o óleo de uma planta pode apresentar um constituinte majoritário, como o de canela,
que contém mais de 85% de cinamaldeído (Dominguez, 1973; Duke, 1985), tornando mais evidente
a correlação entre a química e a atividade. Entretanto, substâncias presentes em menores
quantidades podem contribuir pelo menos em parte para a ação possivelmente por sinergismo entre
os componentes. Também a variação da constituição associada à existência de diferentes
quimiotipos das espécies (ocasionados por fatores genéticos e influência do meio ambiente sobre o
metabolismo dos terpenóides) entre outros, são fatores que dificultam a determinação inequívoca da
atividade. Assim, inúmeras investigações são realizadas com componentes isolados.

Dentre as principais atividades farmacológicas dos óleos essenciais destacam-se: antimicrobiana,


antiinflamatória, antioxidante, anticolinesterásica, antihelmíntica, antiparasitária, analgésica,
sedativa, antitumoral, entre outras. Também é de importância atualmente, sua utilização na indústria
farmacêutica como promotores de permeação de fármacos para administração pela via
transdérmica.
Atualmente, os óleos essenciais são empregados na indústria alimentícia, farmacêutica, de
cosméticos e produtos de limpeza, além de utilizados na aromaterapia. É estimado que cerca de
3000 óleos essenciais sejam conhecidos, dos quais aproximadamente 300 são comercialmente
importantes, destinados principalmente para o mercado de fragrâncias (Burt, 2004). Componentes
individuais dos óleos são também usados, obtidos tanto por extração de matéria vegetal como
produzidos por síntese. No Brasil, a regulamentação de uso destes produtos como aditivos ou
adjuvantes é realizada pela ANVISA (Brasil, 1999).

A razão do estudo do tema proposto emerge no interesse da identificação de espécies produtoras de


óleo essencial com vistas nas suas possíveis aplicações “in natura” ou como fonte de precursores de
outras substâncias de maior valor agregado em indústrias cosméticas e farmacêuticas. O amplo
emprego da Lippia alba (Mill.) N. E. Brown nas práticas caseiras da medicina popular é motivo
suficiente para sua escolha como tema de estudos químicos, seguido de estudos farmacológicos e
clínicos visando sua validação como medicamento eficaz e seguro. Além disso, justifica-se a
elucidação e fixação do seu quimiotipo, através de análises químicas do óleo essencial e ensaios
farmacológicos direcionados para cada tipo de atividade.

Este trabalho visa a extração do óleo essencial da espécie vegetal Lippia alba (Mill.) N. E. Brown,
assim como análise deste óleo através de cromatografia gasosa acoplada à espectroscopia de massas
com posterior avaliação de toxicidade frente a larvas de Artemia Salina, atividade antimicrobiana e
antioxidante.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2-1. Óleos Essenciais


De forma geral, os óleos essenciais são misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas,
geralmente odoríferas e líquidas. Também podem ser chamadas de óleos voláteis, óleos etéreos ou
essências. Essas denominações derivam de algumas de suas características físico-químicas, como
por exemplo a de serem geralmente líquidos de aparência oleosa à temperatura ambiente, advindo
daí, a denominação de óleo. Entretanto, sua principal característica é a volatilidade, diferindo assim,
dos óleos fixos, que são misturas de substâncias lipídicas, obtidas geralmente de sementes. Outras
características importantes dos óleos essenciais são: aroma agradável e intenso, sabor geralmente
picante, geralmente incolores ou levemente amarelos, instáveis principalmente na presença de ar,
luz, calor, umidade e metais, solúveis em solventes orgânicos e solubilidade limitada em água
(Simões, 2007).

Diferentemente dos metabólitos primários, tais como clorofila, amino ácidos, nucleotídios,
carboidratos simples e membranas lipídicas, os metabólitos secundários entre, eles os óleos
essenciais, geralmente não tem papel reconhecido nos processos de fotossíntese, respiração,
transporte, assimilação de nutrientes e diferenciação. Metabólitos secundários também se
diferenciam dos metabólitos primários por terem uma distribuição restrita no reino vegetal. Isto é,
metabólitos secundários específicos são encontrados em apenas uma espécie de planta ou um grupo
de espécies taxonomicamente relacionadas, ao passo que os metabólitos primários básicos são
encontrados por todo o reino vegetal (Taiz & Zeiger, 2002).

Metabólitos secundários de plantas podem ser divididos em três grupos quimicamente distintos:
terpenos, compostos fenólicos e compostos contendo nitrogênio. Terpenos, os quais são os
principais constituintes dos óleos essenciais, são sintetizados a partir da rota do ácido mevalônico
ou de intermediários básicos da glicólise (Rota MEP), conforme esquematizado na figura 1.
Compostos fenólicos são substâncias com caráter aromático formadas através do ácido chiquímico
ou do ácido malônico. Os produtos secundários contendo nitrogênio, tais quais alcalóides, são
biossintetizados primariamente de amino ácidos (Taiz & Zeiger, 2002).

Os óleos essenciais das plantas foram considerados por muito tempo como “desperdício fisiológico”
(Knobloch et al., 1986), ou mesmo produtos de desintoxicação, como eram vistos os produtos do
metabolismo secundário (Mothes, 1980). Atualmente, é atribuída aos óleos essenciais a existência
de funções ecológicas assim como fisiológicas, tais como inibir o crescimento de plantas
competitivas (alelopatia), proteger as plantas para que não sejam comidas por herbívoros, proteger a
planta contra a perda de água e controle da temperatura. Os óleos essenciais também têm se
mostrado eficientes na atração de insetos polinizadores (Craveiro & Machado, 1986; Harborne,
1993).

Químicos do final do século dezenove se interessaram no estudo dos óleos essenciais por causa de
seu potencial medicinal e industrial (Taiz & Zeiger, 2002). Comercialmente, estes óleos são
importantes devido à utilização crescente nas indústrias farmacêutica, de alimentos, e de cosméticos
(Simões, 2007; Taiz & Zeiger, 2002).

Figura 1. Esquema simplificado da principal rota de biossíntese


de metabólitos-secundários e suas interações com o metabolismo primário.
2-1-1. Composição dos Óleos Essenciais
Quimicamente, os óleos essenciais são constituídos de derivados fenilpropanóides ou de
terpenóides, sendo que esses últimos preponderam (Simões, 2007).

Todos os terpenos são derivados do agrupamento de unidades com cinco carbonos que apresentam a
forma estrutural do isopentano (1). Assim, terpenos são definidos como um grupo único de produtos
naturais baseados em hidrocarbonetos, possuindo uma estrutura que hipoteticamente poderia ser
derivada do isopreno (2), fornecendo a base para estruturas que poderiam ser divididas em unidades
de isopentano (Cseke et al., 2006):

Os terpenos são classificados de acordo com o número de unidades de C5 que eles contém. Embora
devido às extensivas modificações metabólicas às vezes é difícil encontrar os resíduos originais de
C5. Assim, terpenos com cinco carbonos (C5) são chamados hemiterpenos, terpenos com dez
carbonos (duas unidades C5) são chamados monoterpenos, terpenos com 15 carbonos (três
unidades C5) são chamados sesquiterpenos e terpenos com 20 carbonos (quatro unidades C5) são
diterpenos. Terpenos maiores incluem triterpenos (30 carbonos), tetraterpenos (quarenta
carbonos), e politerpenóides ([C5]n onde n>10) (Taiz & Zeiger, 2002).

Como todos os produtos naturais, dentro desta classificação simplista se encontra uma enorme
diversidade estrutural que resulta numa grande variedade de compostos semelhantes aos terpenos
(terpenóides). Algo como 30.000 terpenóides já foram identificados (Sacchetini & Poulter, 1997).

Mono e sesquiterpenos são as principais substâncias que compõem as misturas chamadas de óleos
essenciais (Simões, 2007).

Monoterpenos: C10
Existe na natureza uma interessante variedade de arranjos para decanos baseados na estrutura do
isopreno. Os monoterpenóides são os principais componentes de muitos óleos essenciais e, tal qual,
têm importância econômica como aromatizantes e perfumes. Exemplos acíclicos comuns
incluemgeraniol (3), lavandulol (4), mirceno (5), perileno (6) e linalol (7). Estruturas cíclicas
incluem muitos compostos bem conhecidos como carvona (8), 3-careno (9), α-pineno (10), mentol
(11), cânfora (12), safranol (13), eucaliptol (14) e β-tujona (15). As estruturas destes compostos
monoterpênicos são mostradas na figura 2 (Cseke et al., 2006).

Figura 2. Exemplos de monoterpenos.

Muitos dos monoterpenos ilustrados na figura 2 vêm de fontes das quais a maioria de nós somos
familiares. Mirceno (5) é encontrado no óleo essencial das folhas de louro (Laurus nobilis) assim
como de lúpulo (Humulus lupulus). Ele é usado como um intermediário na fabricação de perfumes
(Opdyke, 1987). Geraniol (3), o qual é isômero do linalol (7), constitui a maior parte do óleo do
gerânio (Pelargonium graveolens) e também é encontrado no óleo essencial da citronela
(Cymbopogon nardus) (Temple et al., 1991), capim limão (Cymbopogon citratus ou C. flexuosus), e
outros. Lavandulol (4) é um dos principais ingredientes do óleo da lavanda (Lavandula
augustifolia), geralmente usada em perfumes masculinos (Shellie et al., 2002). Perileno (6) pode ser
encontrado na hortelã-púrpura (Perilla frutescens), nativa do sul e do oriente da Ásia (Yuba et al.,
1995). Mentol (11) é um monoterpeno bastante conhecido que é encontrado no óleo essencial da
hortelã pimenta (Mentha piperita) e outros membros da família (Lamiaceae). Carvona (8) é um
monoterpeno comum, um dos principais componentes olfatórios do cominho (Carum carvi) e
apresenta atividade fungicida (McGeady et al., 2002). O 3-careno (9) é um monoterpeno que possue
o anel ciclopropano, derivados dele têm demonstrado atividade anestésica (Librowski et al., 2004).
O principal ingrediente do óleo de terebentina, α-Pineno (10), provavelmente têm um papel
significativo na atividade de bactérias degradadoras de hidrocarbonetos na natureza (Trudgill,
1994). Linalol (7) é um dos principais constituintes do coentro (Coriandrum sativum) (Gil et al.,
2002). Ele é também um dos compostos com essência floral mais comum encontrado nas plantas
em floração, e é um composto aromatizante em vários chás (Dudareva et al., 1996). Safranol (13) é
o maior responsável pelo característico odor do açafrão (Crocus sativus) (Kanakis et al., 2004).
Eucaliptol (1,8-cineol) (14) é o principal componente do óleo essencial das folhas de eucalipto
(Eucalyptus globulus). Eucaliptol assim como cânfora, formam os principais constituintes do óleo
de alecrim (Rosmarinus officinalis Linn.) (Kovar et al., 1987). Pesquisas recentes mostraram que
eucaliptol é eficiente na redução de inflamações e dores assim como promove a morte de células
leucêmicas (Moteki et al., 2002)

Sesquiterpenos: C15
Compostos por três unidades de isopreno, os sesquiterpenos C15 existem em agrupamentos acíclicos
e cíclicos. Um membro importante desta série é o farnesol difosfato, um intermediário chave na
biossíntese de terpenóides. Farnesol têm demonstrado atividade preventiva ao câncer (Crowell &
Gould, 2004). Alguns exemplos dos sesquiterpenos mais comuns são mostrados na figura 3 como:
x-bisaboleno (16), lanceol (17), perezona (18), humuleno (19), alfa-cadideno (20), guaiol (21),
cedrol (22), cariofileno (23), santonina (24), helenalina (25), acorone (26) e ácido abscísico (27).

Santonina (24) é um anti-helmíntico que é isolado da santônico (Artemisia maritima). Cariofileno


(23) é um dos principais componentes do cravo-da-índia (Eugenia caryophyllata). Acorone (26) é
um sesquiterpeno dicetônico presente no óleo essencial do cálamo (Acorus calamus) (Mazza, 1985).
Helenalina (25) é uma das muitas lactonas sesquiterpênicas isoladas do óleo da arnica (Arnica
montana). Recentemente demonstrou-se atividade tripanossomicida para esta lactona (Hoet et al.,
2004; Schmidt et al., 2002).
Figura 3: Exemplos de sesquiterpenos.

2-1-2. Biossíntese de Óleos Essenciais


A rota biossintética considerada atualmente para os terpenos não é muito simples. Conforme
demonstrado na figura 4, duas diferentes rotas biossintéticas produzem o principal bloco construtor
de terpenos, o isopentenil difosfato (IPP). A primeira rota biossintética é conhecida como rota AMV
(ácido mevalônico), e a segunda é referida como rota MEP (metileritritol fosfato) (Dewick, 1997).

Na bem estudada rota do ácido mevalônico (AMV) três moléculas de acetil CoA se combinam para
formar o ácido mevalônico. Esse intermediário chave de seis carbonos é então pirofosforilado,
descarboxilado e desidratado para formar o isopentenil difosfato (IPP) que eventualmente se
converte em seu isômero dimetilalil difosfato (DMAPP) (Dewick, 1997).
Na segunda rota biossintética, denominada rota do metileritritol fosfato (MEP), uma molécula de
gliceraldeído-3-fosfato e dois átomos de carbonos derivados do piruvato aparentemente se
combinam para formar um intermediário, dimetilalil difosfato (DMAPP), que eventualmente se
converte em seu isômero isopentenil difosfato (IPP) (Dewick, 1997). Isopentenil difosfato (IPP) e
seu isômero dimetilalil difosfato (DMAPP) são as unidades básicas ativadas de C5 na biossíntese de
terpenos que se juntam para formar moléculas maiores. Primeiramente, IPP e DMAPP reagem para
gerar geranil difosfato (GPP), o C10 precursor de quase todos os monoterpenos. GPP pode então se
unir à outra molécula de IPP para formar o composto C 15 farnesil difosfato (FPP), o precursor de
quase todos os sesquiterpenos (Dewick, 1997).

Figura 4. Esboço da biossíntese de terpenos. A unidade básica C5 dos terpenos é sintetizada por duas rotas diferentes. Os
intermediários fosforilados, IPP e DMAPP, se combinam para formar C10, C15 e outros terpenos maiores.
Foi demonstrado por Croteau & Winters (1982) na Universidade do Estado de Washington que as
folhas podem sintetizar uma variedade de monoterpenos à partir de geranil pirofostato (GPP). A
figura 5 mostra uma foto, obtida com um microscópio eletrônico, da glândula capilar de uma folha
jovem de um girassol (Balsamorhiza sagittata). Supõe-se que os terpenos sejam sintetizados nas
células capilares e armazenados na parte arredondada do topo. Esta “parte arredondada” é um
espaço extracelular que se forma quando a cutícula e uma porção da parede celular se projetam para
fora do restante da célula.

Monoterpenos, assim como, alguns sesquiterpenos, em geral, servem como agentes repelentes que
tem significante toxicidade contra insetos mas toxicidade negligenciável para mamíferos. Misturas
destes compostos voláteis de baixo peso molecular, denominados óleos essenciais, são os
compostos que fornecem às plantas, como hortelã pimenta (Mentha piperita), limão (Citrus limon),
basílico (Ocimum basilicum), e sálvia (Salvia officinalis), seus característicos odores, e são
comercialmente importantes na aromatização de alimentos e na produção de perfumes (Cseke et al.,
2006).

Figura 5. Foto de uma glândula capilar de uma folha


jovem de girassol (Balsamorhiza sagittata). (x1105) (J.N.A.
Lott/Biological Photo Service)

2-1-3. Extração e Armazenamento de Óleos Essenciais


Os óleos essenciais podem ser extraídos de certas variedades de árvores, arbustos, ervas, gramíneas,
e flores. O óleo é concentrado em diferentes partes da planta, podendo ser encontrado no caule, nas
folhas, nas pétalas ou nas cascas das frutas. Eles podem ser extraídos das plantas por vários
métodos, dependendo da espécie em particular. O método mais comum é a destilação por arraste a
vapor, embora existam outros métodos importantes como extração com solvente, enfloração,
maceração e extração com fluído supercrítico. Geralmente o rendimento de um óleo essencial é
baixo, sendo que uma grande quantidade de material vegetal é necessária para produzir poucos
mililitros de óleo.

A destilação por arraste a vapor é uma destilação de misturas imiscíveis de compostos orgânicos e
água (vapor). Misturas imiscíveis não se comportam como soluções. Os componentes de uma
mistura imiscível “fervem” a temperaturas menores do que os pontos de ebulição dos compostos
individuais. Assim, uma mistura de compostos de alto ponto de ebulição e água pode ser destilada à
temperatura menor do que 100 °C, que é o ponto de ebulição da água. O princípio da destilação por
arraste a vapor baseia-se no fato de que a pressão total de vapor de uma mistura de líquidos
imiscíveis é igual a soma da pressão de vapor dos componentes puros individuais. A pressão total de
vapor da mistura torna-se igual a pressão atmosférica, e a mistura ferve numa temperatura menor
que o ponto de ebulição de qualquer um dos componentes (Godefroot et al., 1981).

Tanto na condução do processo de destilação quanto na elaboração de projetos de equipamentos


para a extração de óleos essenciais, seja em escala laboratorial ou industrial, estes fundamentos
teóricos são necessários. Uma das principais propriedades físicas utilizadas nos projetos de
extratores é a densidade do óleo essencial a ser extraído, se mais ou menos densos que a água, em
temperaturas que variam de 5 °C a 50 °C. Com base nessa propriedade, existem vários tipos de
sistemas extratores de óleos essenciais, mas o sistema Clevenger (Figura 6) é o mais conhecido e
utilizado em escala laboratorial, podendo operar em circuito aberto ou fechado. Na destilação tipo
Clevenger a matriz da qual se quer extrair o óleo é imersa em água. O aquecimento até a fervura
provoca a formação de vapor que arrasta os compostos mais voláteis. Após condensação, estes
compostos separam-se da água por decantação. Na destilação o material é sujeito a temperaturas
próximas dos 100 °C, o que poderá levar a decomposição dos constituintes termolábeis. O
aquecimento prolongado em contato com a água, poderá conduzir à hidrólise de ésteres,
polimerização de aldeídos ou decomposição de outros compostos (Godefroot et al., 1981).
Figura 6. Aparelho de Clevenger: (A)manta aquecedora, (B)Balão de 1 L, (C)Vidraria de Clevenger,
(D)Condensador, (E)Erlenmayer e (F)Suporte universal.

Armazenamento é uma questão importante no que se refere à óleos essenciais. Eles devem ser
guardados em frascos marrons ou de cores escuras, protegidos da luz, calor, e umidade. O frasco
deve ser mantido bem fechado quando o óleo não estiver sendo utilizado (Dodt, 1996).

2-1-4. Caracterização de Óleos Essenciais


Na química dos óleos essenciais, o grande desafio é elucidar as estruturas dos constituintes do óleo
essencial de interesse (Cseke et al., 2006). Em média, um óleo essencial contém uns cem
componentes. Os principais são hidrocarbonetos, álcoois, ésteres, aldeídos, cetonas e fenóis.
Embora a tecnologia tenha permitido identificar mais compostos, ainda existem muitos para serem
elucidados (Dodt, 1996). Existem vários métodos que podem ser usados para realizar a avaliação da
qualidade dos óleos essenciais. Esses métodos podem ser classificados em organolépticos, físicos,
químicos ou físico-químicos. As opções dependem do tipo e quantidade da amostra, do rigor
analítico requerido e da infra-estrutura laboratorial disponível (Simões, 2007). A ferramenta mais
importante para a elucidação de estruturas dos componentes dos óleos essenciais é a cromatografia
gasosa acoplada à espectroscopia de massas (CG-EM) (Cseke et al., 2006).

2-1-5. Métodos Cromatográficos de Análise


A cromatografia gasosa é o método de escolha para separar e quantificar substâncias componentes
de óleos essenciais. Como os óleos são suficientemente voláteis, a amostra é solubilizada em
solventes orgânicos como hexano, antes de ser injetada no cromatógrafo (Kitson et al., 1996). A
identificação dos compostos individuais pode ser realizada através da comparação do tempo de
retenção relativo da amostra com padrões. Para ser mais independente das variações do tempo de
retenção, sob condições diferentes de medida, foi introduzido o índice de retenção de Kovats (IK)
que relaciona o tempo de retenção dos compostos ao tempo de retenção de uma série de
hidrocarbonetos homólogos. Tais índices permitem uma comparação melhor dos dados entre
laboratórios diferentes. Os valores de IK se encontram entre 900 (volátil) e 1900 (menos volátil).
Um valor de 950 significa que a substância está eluindo entre nonano (IK=900) e decano (IK=1000)
(Kitson et al., 1996).

Para ter mais segurança na identificação dos picos individuais e controlar a pureza de um pico
cromatográfico, a combinação de cromatografia gasosa (CG) e espectrometria de massa (EM) para
a detecção e identificação dos componentes de óleos essenciais têm se tornado uma ferramenta
poderosa em análises fitoquímicas. A cromatografia gasosa separa os componentes de uma mistura
num intervalo de tempo, e a espectrometria de massa fornece um espectro de massas para cada pico.
O espectro de massas geralmente indica a massa molecular e o padrão de fragmentação. A massa
molecular já informa sobre a classe de substância (p.ex. m/z 136 monoterpenóides com C10H16). O
padrão de fragmentação pode ser comparado com aqueles constantes da biblioteca de espectros de
massas, que normalmente é instalada no computador. Ainda assim, é comum que sobrem alguns
picos que não podem ser identificados. A amostra a ser analisada é injetada dentro da CG, onde é
varrida através da coluna capilar por uma corrente de gás inerte. Os componentes da amostra são
separados baseados em suas diferentes interações adsortivas com a fase estacionária (apolar) da
coluna cromatográfica. Os compostos separados, então, passam individualmente através do
espectrômetro de massas, onde ionização, fragmentação e detecção de massas ocorrem. A
combinação CG-EM permite a separação dos componentes dos óleos essenciais e a aquisição do
espectro de massas dos componentes separados. Utilização dos dados de retenção da CG juntamente
com a fragmentação EM e comparação com bibliotecas espectrais permite a identificação de
compostos (Kitson et al., 1996).

2-1-6. Controle da Identidade e da Pureza


Para avaliar a qualidade de um óleo volátil, de uma matéria-prima vegetal rica em óleo volátil, de
um cosmético ou de um medicamento que contenha óleo volátil, é necessário dispor de informações
analíticas sobre a identidade e a pureza do material em questão. Se os valores medidos encontram-
se na faixa dos dados da literatura, é possível que o material analisado seja o óleo essencial de
interesse. Porém, é importante salientar que em certos casos de falsificação, esta não pode ser
detectada somente com métodos que forneçam informações básicas. Para certificar-se dessa
identidade, outros métodos devem ser utilizados, além da cromatografia gasosa (Simões, 2007).
O índice de refração [η]D20 fornece informação analítica sobre a identidade e pureza do óleo
essencial, os valores devem estar entre 1.450 e 1.590 e cada óleo possui um valor característico. A
rotação óptica [α]D20 também fornece informação analítica sobre a identidade e pureza do óleo
essencial, os valores preconizados pelas farmacopéias são relativamente grandes, por exemplo, óleo
de eucalipto: [α]D20 entre 0 e 10; óleo de menta: entre 16 e 30. Densidade relativa [d]20 em relação a
água é mais um indicador de pureza para óleos essenciais, os valores encontram-se geralmente entre
0,69 e 1,118 e são característicos para cada óleo (Simões, 2007).

2-2. Espécie Vegetal Lippia alba (Mill.) N. E. Brown


A Lippia alba é uma planta de aroma forte e agradável, nativa de quase todo o território brasileiro,
conhecida popularmente por diversas designações, especialmente como erva-cidreira. A literatura
etnofarmacológica registra o uso do chá de erva-cidreira em todo o Brasil, tanto por seu sabor
agradável como pela ação calmante atribuída pela medicina tradicional brasileira. Como resultado
de várias análises morfológicas e químicas, foi possível determinar a existência de três quimiotipos
para a espécie: o primeiro quimiotipo foi caracterizado por teores elevados de citral e mirceno no
óleo essencial, o segundo quimiotipo foi caracterizado por teores elevados de citral e limoneno e o
terceiro quimiotipo caracterizado contém altos teores de carvona e limoneno. Depois desse estudo
químico, o uso do chá preparado com suas folhas tem sido orientado conforme os quimiotipos
acima descritos. O chá das folhas dos dois primeiros quimiotipos tem ação calmante e espasmolítica
suaves atribuídas à presença do citral e atividade analgésica devida ao mirceno, o chá das folhas do
segundo quimiotipo, além destas ações tem forte atividade sedativa e ansiolítica, enquanto o chá das
folhas do terceiro quimiotipo tem atividade principalmente mucolítica, isto é, seu uso contribui para
tornar mais fluidas as secreções dos brônquios, facilitando a expectoração. Além de ser saboroso e
aromático, o chá preparado com as folhas dos dois quimiotipos ricos em citral, é eficaz no alívio de
pequenas crises de cólicas uterinas e intestinais, bem como no tratamento do nervosismo e estados
de intranquilidade (Lorenzi & Matos, 2002).

De acordo com Joly (1993) esta espécie vegetal foi classificada como:
Reino: Plantae
Ordem: Lamiales
Família: Verbenaceae
Gênero: Lippia
Espécie: Lippia alba (Mill.) N. E. Brown

A família Verbenaceae compreende 100 gêneros com aproximadamente 2.600 espécies de


distribuição pantropical e somente um número limitado de espécies ocorre em regiões temperadas.
São plantas em geral herbáceas ou arbustivas, com folhas opostas cruzadas, inteiras e em geral com
cheiro intenso. Flores pequenas, reunidas em densas inflorescências quase sempre axilares. Muitos
gêneros são conhecidos no Brasil (Vitex, Lantana, Stachytarpheta, Lippia, entre outros), alguns
nativos, outros adaptados. Dentre as Verbenaceae existem diversos exemplos de plantas que são
medicinais. (Joly, 1993).

O gênero Lippia reúne cerca de 200 espécies (Lippia alba (Mill.) N.E. Br., Lippia chamissonis D.
Dietr., Lippia florida Cham., Lippia herbacea Mart., Lippia nodiflora var. Nodiflora, Lippia
substrigosa Turcz., entre outras) com distribuição pantropical. O maior número de espécies se
encontra no Brasil, cerca de 150, com ocorrência especialmente nos campos rupestres e cerrados
(Joly, 1993).

A espécie Lippia alba (Mill.) N. E. Brown é um subarbusto de morfologia variável, alcançando até
um metro e meio da altura, raramente dois metros, nativa de quase todo o território brasileiro. Seus
ramos são finos, esbranquiçados, arqueados, longos e quebradiços. As folhas são inteiras, opostas,
de bordos serreados e ápice agudo, de 3-6 cm de comprimento. Flores azul-arroxeadas, reunidas em
inflorescências axilares capituliformes de eixo curto e tamanho variável. Os frutos são drupas
globosas de cor róseo-arroxeada (Figura 7) (McHoy & Westland, 1994; Vieira & Albuquerque,
1998).

Figura 7. Espécie vegetal Lippia alba N. E. Brown.


Pascual e colaboradores (2001) fizeram uma revisão etnofarmacológica do uso tradicional na
América Central, América do Sul e África de 52 espécies de Lippia, incluindo a Lippia alba. Foi
observado na literatura disponível que a maioria das espécies eram usadas no tratamento de
desordem gastrintestinal, respiratória e como temperos. Segundo estes pesquisadores, o estudo desta
espécie demonstrou ainda resultados positivos como sedativo e antiinflamatório, no tratamento de
doenças cutâneas e respiratórias, desordem gastrintestinal e mestrual, no tratamento de sífilis e
gonorréia.

Em um outro estudo etnofarmacológico da espécie Lippia alba, Oliveira e colaboradores (2006)


investigaram a composição química e a atividade antimicrobiana do óleo essencial com objetivo de
correlacionar com as aplicações tradicionais. Foi constatada atividade antimicrobiana do óleo
essencial contra todos os organismos testados (entre eles o microrganismo Staphylococcus aureus) e
o uso correlacionado em maior proporção como sedativo. A análise química possibilitou a
identificação da Lippia alba (Mill.) N. E. Brown como sendo do quimiotipo citral-mirceno.

Alguns resultados apontaram atividade de proteção contra infecções proporcionada pelo óleo
essencial da Lippia alba (Hennebelle et al., 2008). A atividade antioxidante utilizando o radical livre
DPPH (1,1-difenil-2-picrilhidrazil) e a inibição in vitro da peroxidação lipídica na espécie Lippia
alba demonstrou IC50 < 30 μg/mL na redução do radical DPPH e IC50 < 32 μg/mL na inibição in
vitro da peroxidação lipídica (Ramos et al., 2003). Testes com ratos demonstraram que citral,
limoneno e mirceno, constituintes do óleo essencial de diferentes quimiotipos da Lippia alba,
apresentam efeitos sedativos e de indução ao aumento no tempo de sono, sendo que o efeito mais
intenso foi atribuído ao citral (Gurgel do Vale et al., 2002). O óleo essencial da Lippia alba
apresentou atividade contra Candida albicans em estudo feito com um grupo de plantas medicinais
brasileiras. Análises químicas do óleo essencial destas plantas mostraram a presença de compostos
com conhecida atividade antimicrobiana, incluindo 1,8-cineole, geranial, germacreno-D, limoneno,
linalool e mentol (Duarte et al., 2005). A extração do óleo essencial da Lippia alba, de origem
colombiana, através da destilação por arraste à vapor do tipo Clevenger demonstrou a presença de
carvona (40-57%) como o componente mais abundante, seguido por limoneno (24-37%),
biciclosesquihellandreno (5-22%), piperitenona (1-2%), piperitona (ca. 1%), e β-bourboneno
(0,6-1,5%) (Stashenko, 2004).

Estes resultados motivaram o estudo do tema proposto neste trabalho, análise química dos
componentes do óleo essencial da Lippia alba seguida da investigação de atividades biológicas.
3. OBJETIVOS
3-1. Objetivos Gerais
Contribuindo para a consolidação da linha de pesquisa em produtos de origem vegetal, este trabalho
de conclusão de curso visa o estudo da composição química do óleo essencial da espécie Lippia
alba (Mill.) N. E. Brown com posterior aplicação deste óleo em testes biológicos.

3-2. Objetivos Específicos


i. Extrair o óleo essencial das folhas e talos da Lippia alba, empregando para tanto a
técnica de destilação por arraste à vapor;
ii. Estudar as propriedades físico-químicas do óleo essencial através do índice de refração,
da rotação óptica e determinação do rendimento;
iii. Determinar a composição química do óleo essencial utilizando a técnica de
cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas;
iv. Determinar a toxicidade frente a A. Salina, a atividade antimicrobiana frente a três
microrganismos (Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa)
e determinar a atividade antioxidante do óleo essencial da Lippia alba.
4. PARTE EXPERIMENTAL
4-1. Material Vegetal
O material vegetal foi colhido de forma manual, armazenado em caixas de papel (Figura 8) e levado
para o laboratório onde ficou estocado por um período de no máximo 24 hs, até que a extração do
óleo essencial fosse realizada.

Figura 8. Folhas de Lippia alba recém colhidas

4-2. Método de extração e armazenamento


O material vegetal foi picado com tesoura de forma a aumentar a
superfície de contato. A técnica empregada para a extração do
óleo essencial foi a destilação por arraste à vapor com aparelho
de Clevenger (Figura 9), realizada segundo métodos
convencionais. Foi usada água refrigerada (5 °C) para
condensação dos vapores. O tempo de destilação variou de 2 a 3
horas. Para a separação do óleo essencial obtido pela destilação
por arraste à vapor foi utilizado éter etílico. A solução resultante
foi transferida para um béquer pequeno, tratada com agente
dessecante sulfato de magnésio e posterior decantação. Em
seguida foi aplicada ventilação fria sobre o béquer para evaporar
o éter etílico e deixar apenas o óleo essencial.
Figura 9. Destilação por arraste à
vapor com aparelho de Clevenger

O óleo essencial obtido foi armazenado em pequenos recipientes de


vidro âmbar (Figura 10) sob refrigeração seca (-18 °C) e ao abrigo da
luz até a realização das análises e ensaios.

Figura 10. Óleo essencial


em vidro âmbar
4-3. Análise dos Óleos Essenciais

4-3-1. Propriedades Físico-Químicas


O índice de refração do óleo essencial da L. alba foi observado através de refratômetro modelo Jera,
fabricante Carl Zeiss e o valor observado foi comparado com valores da literatura.

O estudo do comportamento do óleo essencial da Lippia alba em relação à luz plano polarizada foi
realizado no aparelho Polartronic E, do fabricante Schmidt Haensch e contribuiu para a avaliação
das propriedades físico-químicas. Uma amostra do óleo essencial foi dissolvida em etanol para a
determinação da atividade óptica. Uma medida com o solvente puro foi realizada previamente para
que não houvesse influência do etanol nos resultados obtidos.

Estas análises foram realizadas no Laboratório de Síntese e Biocatálise na Universidade Federal de


Santa Catarina, sob orientação da profª. Drª. Mª da Graça Nascimento.

4-3-2. Análise Cromatográfica por CG


Amostras puras (1 μL) de óleo essencial da Lippia alba foram submetidas à cromatografia gasosa,
em cromatógrafo modelo Shimadzu GC-14B, coluna capilar CBLM-5 (30,0 m x 0,25mm d.i.), e
detector de ionização de chamas. Como gás de arraste foi utilizado nitrogênio com vazão de 1 mL
min-1. A aquisição de sinais foi realizada por software em interface com o cromatógrafo. A
temperatura do injetor foi de 250 °C e a programação empregada foi a seguinte: 40 °C, aumentando
5 °C por minuto até 90 °C e então aumentando até 210 °C com uma taxa de 2 °C por minuto.

Estas análises foram realizadas no Laboratório de Química de Produtos Naturais na Universidade


Federal de Santa Catarina, sob orientação da profª. Drª. Inês Mª Costa Brighente e do profº Drº
Moacir G. Pizzolatti.

4-3-3. Análise Cromatográfica por CG-EM


Amostras puras (1 μL) de óleo essencial da Lippia alba foram submetidas à cromatografia gasosa
acoplada a espectrômetro de massas, em cromatógrafo Shimadzu modelo GCMS-QP5050A, coluna
capilar de sílica fundida 5% fenilpoli(dimetilsiloxano) (30,0 m x 0,25 mm d.i.). Como gás de arraste
foi utilizado hélio com vazão de 1 mL min -1. A aquisição de sinais foi realizada por software em
interface com o cromatógrafo. A temperatura do injetor foi de 250 °C e a programação empregada
foi a seguinte: 40 °C (5 min), aumentando 5 °C por minuto até 90 °C e em seguida aumentando até
210 °C (5 min) com uma taxa de 2 °C por minuto. A faixa de massa atômica investigada foi de
25-400 u.m.a. A identificação dos constituintes foi realizada por comparação dos espectros de massa
obtidos com os armazenados em biblioteca computadorizada, segundo banco de dados do
cromatógrafo usado, em função de seus índices de retenção. A quantificação foi realizada segundo
as áreas dos picos, embora se reconheça que este método não é muito confiável sem a aplicação de
um índice de correção.

Estas análises e varreduras foram realizadas com a ajuda do aluno de doutorado Jacques P. Priebe
no Laboratório de Catálise e Fenômenos Interfaciais da Universidade Federal de Santa Catarina, sob
coordenação do profº Drº Faruk J. N. Aguilera.

4-3-4. Índice de Retenção de Kovats


Os índices de retenção de Kovats foram determinados por injeção de uma solução contendo uma
série homóloga de alcanos alifáticos (C10-C30) nas mesmas condições da amostra de óleo essencial
descrita no ítem 4-3-2, aplicando a equação:

I = 100z + 100[(log t'rx – log t'rz) / (log t'r(z+1) – log t'rz)


Onde:
z = número de carbonos do alcano anterior ao composto x;
t'rx = tempo de retenção ajustado do composto x;
t'rz = tempo de retenção ajustado do alcano anterior ao composto x;
t'r(z+1) = tempo de retenção ajustado do alcano que aparece após o composto x;

4-3-5. Investigação da Toxicidade Usando Larvas de A. salina (TAS)


Para os bioensaios de letalidade da A. salina, utilizou-se a metodologia de Meyer et al. (1982), com
pequenas modificações. O óleo essencial foi diluído em etanol a fim de obter concentrações de 100
a 1000 ppm. O meio para o cultivo das larvas de A. salina foi água salgada (3,8 g de sal marinho
para cada litro de água destilada). As larvas foram utilizadas nos ensaios 48 hs após a eclosão, em
fase náupilo. Aproximadamente 10 larvas de A. salina foram transferidas para cada um dos poços de
uma placa com 24 poços, contendo 1 mL de salina e a substância a ser testada em diferentes
concentrações: 100, 200, 300, 400, 500, 700, 800, 900 e 1000 ppm. Os testes foram feitos em
triplicata. A contagem dos animais mortos e vivos foi realizada após 24 hs. A dose letal necessária
para matar 50 % das larvas (DL50) foi obtida através do gráfico da % de larvas mortas em função do
logaritmo da dose testada.
4-3-6. Investigação da Atividade Antimicrobiana
Avaliação da Concentração Inibitória Mínima (CIM)
O ensaio para a investigação da atividade antibacteriana do óleo essencial da Lippia alba seguiu o
modelo de Souza e colaboradores (2005). Foram utilizadas três espécies de bactérias: Escherichia
coli ATCC 25922, Staphylococcus aureus ATCC 25923 e Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853.
O óleo essencial da Lippia alba foi dissolvido em dimetilsulfóxido (DMSO), com objetivo de se
produzir soluções-mãe contendo 50 mg/mL. Posteriormente foi realizado diluições seriadas destas
soluções em caldo Brain Heart Infusion (BHI), produzindo concentrações variando de 25 mg/mL a
1,5 μg/mL, distribuídas em volumes de 100 μL em cada micro poço da placa de micro diluição
estéril. Em cada orifício teste foram adicionado 5 μL do inóculo bacteriano contendo 5 x 105 UFC/
mL de cada microorganismo testado. Os experimentos foram realizados em duplicata e as placas
incubadas em aerobiose a 36º C ± 1º C por 24 horas. Após esta incubação inicial, adicionou-se 10
µL de cloreto de 2,3,5 trifenil-tetrazólio (5% v/v) em metanol, a cada micro cavidade da placa
utilizada no experimento. Em seguida, realizou-se outra incubação em aerobiose por 30 minutos à
temperatura de 36º C ± 1º C , onde foi possível verificar a mudança de coloração para vermelho nos
micro poços onde há presença de bactérias viáveis, ou seja, onde o óleo essencial não foi capaz de
inibir o crescimento bacteriano. A concentração inibitória mínima (CIM), foi determinada como
sendo a concentração correspondente ao primeiro micro poço imediatamente anterior ao micro poço
onde foi possível se verificar a presença da cor vermelha. Como controle da inibição bacteriana, foi
utilizado o antibiótico gentamicina (Laboratório Chile, Santiago, Chile) cuja concentração inibitória
mínima (CIM) contra os microorganismos testados deve estar entre 0,2 a 1,5 µg/mL, e como
controle de crescimento e esterilidade foram utilizadas apenas as misturas do caldo BHI (Brain
Heart Infusion) e DMSO com e sem adição da bactéria teste, respectivamente. A classificação para
a atividade antimicrobiana de origem vegetal, baseada na CIM é a seguinte: inibição forte para
CIM abaixo de 0,5 mg/mL, inibição moderada para CIM entre 0,5 e 1,5 mg/mL e inibição fraca
para CIM acima de 1,5 mg/mL.

4-3-7. Investigação da Atividade Antioxidante Utilizando o Radical Livre DPPH (2,2-Difenil-


picril-hidrazil)
O ensaio para a determinação da atividade antioxidante utilizando o radical livre DPPH (2,2-difenil-
picril-hidrazil) foi baseado no método descrito por Cavin e colaboradores (1998), com algumas
modificações. Uma solução de DPPH 0,004% (4 mg / 100 mL MeOH) foi adicionada à solução
teste (óleo essencial) nas concentrações de 200 a 12,5 ppm. No espectrofotômetro UV-VIS (517
nm) e após 30 minutos, foi medida a absorbância da solução de DPPH (2 mL de solução 0,004%),
acrescentada de 1 mL de MeOH, obtendo-se assim a absorbância no tempo inicial (A o). Para cada
uma das concentrações da amostra em análise (1 mL) foram adicionados 2 mL de solução de
DPPH, obtendo-se a absorbância de cada amostra (Ai) nas diferentes concentrações. A absorbância
de uma solução da amostra (1 mL) em metanol (2 mL), foi descontada da absorbância das amostras
analisadas, a fim de descontar a possível interferência do óleo essencial nesse comprimento de
onda. A análise foi feita em triplicata. Os valores obtidos foram graficados na forma de % de
decréscimo da absorbância de DPPH em função da concentração da amostra teste. Com a utilização
de um gráfico foi determinada 50% da atividade antioxidante, ou IC50. A atividade antioxidante foi
calculada pela fórmula (A0-Ai/A0) x 100% (eixo y do gráfico) em função das concentrações das
amostras (eixo x).
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o emprego da técnica de destilação por arraste a vapor foi constatado a presença de
componentes voláteis na espécie Lippia alba. Os resultados das propriedades físico-químicas, da
análise química por CG e por CG-EM e da atividade antimicrobiana do óleo essencial desta espécie
são apresentados e discutidos abaixo.

5-1. Propriedades Físico-Químicas


A rotação óptica observada na amostra de óleo essencial da Lippia alba foi de -0,12°. O índice de
refração observado para esta mesma amostra foi de 1,473 ficando dentro da faixa prevista (1,450 –
1,590) e podendo ser considerado dentro das normas. O rendimento calculado foi de 1%.

5-2. Determinação da Composição do Óleo Essencial


Para a determinação do perfil químico do óleo essencial da espécie Lippia alba procedeu-se
inicialmente a análise por cromatografia gasosa acoplada à espectroscopia de massas (CG-EM). O
resultado preliminar da caracterização por CG-EM foi comparado aos valores tabelados de índice
de retenção de Kovats, pois a existência de espectros de massas muito parecidos para alguns
isômeros pode equivocar a interpretação. Os valores do índice de retenção de Kovats calculados
ficaram bem próximos, alguns se igualando aos encontrados na literatura. O cromatograma do óleo
essencial obtido nesta análise é apresentado na figura 11.

A análise por CG-EM permitiu identificar que o óleo essencial da Lippia alba é composto em sua
grande maioria por terpenos, dos quais 55,6% são monoterpenos, 38,9% são sesquiterpenos e
apenas 5,6% destes são terpenos oxigenados. Embora o número de compostos seja alto, quatro
compostos majoritários foram identificados: α-citral (43,1%), β-citral (25,1%), β-mirceno (5,8%) e
germacreno-B (4,9%), que somados representam uma área total de 78,9%. Com base nesta
composição ficou constatando que se trata de uma espécie com o quimiotipo citral – mirceno.
Figura 11. Cromatograma do óleo essencial da Lippia alba (Mill.) N. E. Brwon.

Os espectros de massas dos quatro compostos majoritários são apresentados nas figuras de 12 a 17.
Os espectros de massas dos demais compostos estão no apêndice. Para todos os compostos
identificados na amostra de óleo essencial da Lippia alba, foi feito uma comparação entre os
espectros de massas obtidos da amostra (posicionados na parte superior das figuras) com os
respectivos espectros de massas obtidos com padrões autênticos (posicionados na parte inferior das
figuras) cujos dados estão publicados na literatura (Adams, 1999) e também disponíveis na
biblioteca eletrônica NIST.

Algumas classes de compostos apresentam fragmentações características quando submetidas à


análise de cromatografia gasosa acoplada a espectroscopia de massas. O conhecimento dessas
fragmentações pode facilitar um pouco o trabalho na hora de propor estruturas para compostos
desconhecidos. Embora seja muito difícil caracterizar uma substância somente pela análise de seu
espectro de massas, esta é de fundamental importância.
Figura 12. Espectros de massas do β-mirceno. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Na figura 12, pode-se observar os espectros de massas do β-mirceno, um terpenóide classificado


como monoterpeno. O fragmento de massa m/z 136 refere-se ao íon molecular, pouco intenso
devido à sua instabilidade. O pico em m/z 121 foi produzido pela perda de um radical metila (Figura
13). O pico em m/z 93 é provavelmente produzido por uma estrutura de fórmula C 7H9+ formada por
isomerização (provocada pelo aumento de conjugação), seguida por clivagem alílica. Os picos em
m/z 67 e 69 são fragmentos resultantes de clivagem bialílica. O pico base aparece em m/z 41 e sua
formação deve envolver rearranjos.

Figura 13: Proposta para a fragmentação do β-mirceno quando analisado em CG-EM.


Figura 14. Espectros de massas do β-citral. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Na figura 14, pode-se observar os espectros de massas do β-citral, um terpenóide classificado como
monoterpeno. O pico do íon molecular pode ser observado em m/z 152. O pico em m/z 137 foi
produzido pela perda de um radical metila (Figura 15). Na maioria das vezes é observado em
aldeídos alifáticos a α-clivagem do grupo carbonil resultando no fragmento M-29, observado no
pico m/z 123. A interpretação do fragmento m/z 109 (M-43) não é tão óbvia, mas poderia ser
relativa a perda de um grupo isopropil. O pico em m/z 69 é formado devido a clivagem da ligação
na posição alílica. O pico base aparece em m/z 41.

Figura 15: Proposta para a fragmentação do β-citral quando analisado em CG-EM


Figura 16. Espectros de massas do α-citral. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Na figura 16, pode-se observar os espectros de massas do α-citral, um terpenóide classificado como
monoterpeno. O α-citral é um isômero do β-citral visto anteriormente, possuindo portanto o mesmo
padrão de fragmentação.

A seqüência de eluição dos dois isômeros foi deduzida com base no tempo de retenção, levando em
consideração a estereoquímica dos dois compostos e suas respectivas interações com a coluna
cromatográfica usada na análise. O α-citral apresenta uma estereoquímica mais favorável às
interações com a fase estacionária da coluna. O β-citral, por ter a estrutura menos aberta, tem menos
facilidade para tais interações e fica portanto menos tempo retido na coluna, sendo o primeiro a
eluir. Para ser mais independente das variações do tempo de retenção foi realizada também
comparação dos índices de Kovats (IK) teóricos com os calculados. Para o β-citral, IKteórico = 1240,
enquanto que para o α-citral o IKteórico = 1270, ou seja, teoricamente o primeiro isômero a eluir é o β-
citral. Os índices de Kovats calculados demonstraram a mesma tendência e os valores ficaram
bastante próximo dos teóricos. Estes cálculos estão detalhados na seqüência e os resultados são
demonstrados na tabela 1.
Figura 17. Espectros de massas do germacreno B. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Na figura 17, pode-se observar os espectros de massas do Germacreno B, um terpenóide


classificado como sesquiterpeno. O pico observado em m/z 204 refere-se ao íon molecular. O pico
em m/z 189 foi produzido pela perda de um radical metila. A saída de dois fragmentos de etenila,
um após o outro pode ter produzido o pico observado em m/z 161 e em m/z 133. O pico base
aparece em m/z 41.
Para ter mais segurança na identificação dos picos individuais, foram realizadas novas análises por
cromatografia gasosa com as quais foram calculados os índices de retenção de Kovats (IK) dos
compostos 1-18 observados na figura 11. Primeiramente foi realizada a análise por CG do óleo
essencial da Lippia alba (Figura 18) e na seqüência foi realizada a análise por CG de uma série
homóloga de alcanos alifáticos (C10-C30) (Figura 19).

Figura 18. Cromatograma do óleo essencial da Lippia alba (Mill.) N. E. Brwon.

Figura 19. Cromatograma da série homóloga de alcanos alifáticos (C10-C30).


Para a determinação dos índices de retenção de Kovats, o tempo de retenção de cada um dos picos
do cromatograma da amostra (Figura 18) foi relacionado com o tempo de retenção do pico e a
quantidade de carbonos do alcano anterior e posterior no cromatograma da série homóloga de
alcanos alifáticos (C10-C30) (Figura 19) através da equação apresentada no ítem 4-3-4 da parte
experimental. Exemplos destes cálculos podem ser observados abaixo, utilizando os compostos No.
9 (α-Citral) e No. 10 (β-Citral):

I = 100z + 100[(log t'rx – log t'rz) / (log t'r(z+1) – log t'rz) Onde:
I = índice de retenção de Kovats
z = nº de carbonos do alcano
anterior ao composto x
Composto x sendo o composto No. 9
tM = tempo morto = 1,075
I = 100(12) + 100[(log 19,615 – log 16,590) / (log 21,823 – log 16,590) t'rx = tempo de retenção do composto
I = 1200 + 100[0,073 / 0,119] x menos o tempo morto
I = 1261 t'rz = tempo de retenção do alcano
anterior ao composto x menos o
tempo morto
Composto x sendo o composto No. 10 t'r(z+1) = tempo de retenção do alcano
I = 100(12) + 100[(log 21,308 – log 16,590) / (log 21,823 – log 16,590) que aparece após o composto x
menos o tempo morto
I = 1200 + 100(0,109 / 0,119)
I = 1292

A comparação dos valores calculados com os tabelados, mostra que os índices de retenção de
Kovats calculados ficam bastante próximo dos teóricos. Vale ressaltar que as relações IKcalculado x
IKteórico levam em consideração as análises preliminares referente a ordem de eluição dos compostos
e os respectivos espectros de massas. Assim, o composto No. 9 que obteve IKcalculado = 1261, foi
associado ao valor tabelado de IKteórico = 1240 que corresponde ao isômero β-citral. Enquanto que o
composto No. 10 que obteve IKcalculado = 1292, foi associado ao valor tabelado de IKteórico = 1270 que
corresponde ao isômero α-citral.

Os mesmos estudos foram realizados para os demais compostos presentes na amostra, porém não
estão demonstrados. Para os compostos 1, 2, 15-18, não foi possível calcular o IK devido a falta de
alguma informação necessária para a correta aplicação da fórmula. Nos compostos 1 e 2 (sabineno e
β-mirceno) o tempo de retenção do menor alcano da série C 10-C30 foi maior do que o deste
composto. Nos compostos 15-18 o tempo usado na programação da análise de CG foi menor do que
o necessário para que estes compostos pudessem eluir da coluna de forma que fossem detectados.

A porcentagem de cada componente foi determinada relacionando a intensidade de cada pico com a
intensidade total apresentada pelo cromatograma do óleo essencial (Figura 11). Os compostos
identificados, cada qual com seu respectivo tempo de retenção, índice de retenção de Kovats
(teórico e calculado) e área relativa estão listados na tabela 1.
Tabela 1. Componentes do óleo essencial da Lippia alba (Mill.) N. E. Brown, tempo de retenção, índice de
retenção de Kovats e percentagem em área.
No. Componente tR (min) IK(teórico) IK(calculado) Área (%)
1 Sabineno 12,69 976 * 0,5
2 β-Mirceno 13,40 991 * 5,8
3 p-Cimeno 14,54 1026 1028 0,9
4 β-Ocimeno (trans-ocimeno) 15,44 1050 1051 2,3
5 γ-Terpineno 15,83 1062 1063 2,7
6 Linalool 17,45 1098 1106 1,0
7 trans-Verbenol 20,27 1144 1168 0,6
8 cis-Crisantenol 21,15 1162 1186 1,0
9 β-Citral (neral, cis-citral) 24,03 1240 1261 25,1
10 α-Citral (geranial, trans-citral) 25,60 1270 1292 43,1
11 Geranil acetato 31,98 1383 1395 2,0
12 β-Elemeno 32,50 1391 1422 2,4
13 trans-Cariofileno (β-cariofileno) 34,11 1418 1441 2,8
14 γ-Elemeno 34,95 1433 1455 0,8
15 α-Humuleno (α-cariofileno) 36,07 1454 * 1,0
16 Germacreno-D 37,66 1480 * 1,8
17 Germacreno-A 39,06 1503 * 1,3
18 Germacreno-B 42,00 1556 * 4,9
TOTAL 100,0
*Índice de retenção de Kovats não calculado devido a falta de alguma informação necessária
para a correta aplicação da fórmula.

A identificação destes compostos, embora esteja baseada em métodos quantitativos e qualitativos,


fornece apenas uma proposta. Existe uma diversidade grande de compostos que possuem índices de
retenção de Kovats, bem como fragmentações semelhantes nos seus espectros de massas. No
entanto, um conhecimento inicial do que já está publicado sobre a planta e sobre os compostos que
podem estar presentes em óleos essenciais, permite propor estruturas para esses compostos tendo
em mãos os respectivos índices de retenção de Kovats e seus espectros de massas. As estruturas
para os compostos identificados são apresentadas na figura 20.
Figura 20. Estruturas propostas para os componentes detectados no
óleo essencial extraído da Lippia alba (Mill.) N. E. Brwon.
5-3. Investigação da Toxicidade Usando Larvas de A. salina (TAS)
O bioensaio utilizando a Artemia salina é um procedimento bastante simples, podendo ser
desenvolvido em laboratórios clássicos de produtos naturais. Este método tem boa reprodutibilidade
e apresenta boa correlação com outros ensaios de toxicidade. Devido a grande sensibilidade da
Artemia salina, esse bioensaio está estreitamente relacionado com a atividade biológica geral, pois
todo composto que possui alguma atividade, também apresenta certa toxidez. Assim, o bioensaio
com A. Salina torna-se bastante adequado para orientar o isolamento biomonitorado dos princípios
ativos de plantas medicinais. Através deste teste, extratos vegetais e óleos essenciais com valores de
DL50 menor do que 1000 μg/mL são considerados tóxicos frente a A. Salina.

A investigação de toxicidade usando larvas de A. Salina, demonstrou que o óleo essencial da Lippia
alba apresenta capacidade de exercer ação tóxica. A dose letal para matar 50 % das larvas (DL50) foi
de 499,6 μg/mL (Figura 21). O controle positivo (Kr2Cr2O7 nas concentrações de 10, 20, 40 e 50 μg/
mL), apresentou DL50 de 25,76 μg/mL, garantindo a qualidade das larvas de A. Salina (Figura 22).

Figura 21. Gráfico da LD50 do óleo essencial de L. alba Figura 22. Gráfico da LD50 do controle
na investigação de toxicidade usando larvas de A. Salina positivo das larvas de A. Salina
5-4. Investigação da Atividade Antimicrobiana
As bactérias escolhidas para realizar estes bioensaios foram Eschrichia coli, Staphylococcus aureus
e Pseudomonas aeruginosa pertencentes a três grupos microbiológicos diferentes. Assim, a
Eschrichia coli é um bacilo gram negativo não esporulado, o Staphylococcus aureus é uma bactéria
(cocus) gram positiva e a Pseudomonas aeruginosa é um bacilo piociânico gram negativo, não
esporulado e bastante aeróbio. Os resultados são apresentados na tabela 2, obtidos dos bioensaios
realizados para determinação da atividade biológica do óleo essencial da Lippia alba.

Tabela 2. Atividade antimicrobiana do óleo essencial da Lippia alba (Mill.) N. E. Brown, frente aos microrganismos
Eschrichia coli, Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa.
Microrganismos
Amostra E. coli S. aureus P. aeruginosa
CIM CIM CIM
Óleo essencial L. alba 2,26 mg/mL 0,56 mg/mL 4,53 mg/mL
Gentamicina 0,39 µg/mL 0,21 µg/mL 0,39 µg/mL

Com base nestes bioensaios, observa-se que o óleo essencial da amostra apresenta capacidade de
exercer ação antibacteriana moderada a fraca frente aos microrganismos testados. Os resultados
apresentados mostram atividade antibacteriana moderada frente a bactéria S. aureus (CIM 0,56 mg/
mL), e atividade antibacteriana fraca frente as bactérias P. aeruginosa (CIM 4,53 mg/mL) e E.coli
(CIM 2,26 mg/mL). Torna-se difícil atribuir a atividade antimicrobiana à algum constituinte
específico do óleo essencial desta espécie, para tal seria necessário isolar cada componente. No
entanto, estão presentes na amostra, compostos com ação bactericida já descrita na literatura, como
por exemplo os álcoois linalol (6), trans-verbenol (7) e cis-crisantenol (8) (Pelczar et al., 1988) e
compostos com ação bacteriostática, também descrita na literatura, como o β-mirceno (2), p-cimeno
(3), β-ocimeno (4), β-cariofileno (13) e α-Humuleno (15) (Dorman & Deans, 2000; Magiats et al.,
2002; Oumzil et al., 2002; Burt, 2004; Valero & Frances, 2006). Além desses exemplos, Kurita et al
(1981), descreve que alguns aldeídos, entre eles o β-citral (9) e o α-citral (10) apresentam
significativa atividade antimicrobiana especialmente por terem uma ligação dupla conjugada com a
carbonila, resultando em espécie com alta densidade eletrônica, o que explicaria sua ação;
compostos desse tipo podem interferir no processo biológico envolvendo transferência de elétrons,
além de interagir com o nitrogênio presente em proteínas e ácidos nucleicos, inibindo desta forma, o
crescimento de microrganismos.
5-5. Investigação da Atividade Antioxidante Utilizando o Radical Livre DPPH (2,2-Difenil-
picril-hidrazil)
A investigação da atividade antioxidante utilizando o radical livre DPPH (Figura 23) é um método
que determina a capacidade seqüestraste de radicais livres de uma amostra, envolvendo a medida
espectrofotométrica do cromóforo 2,2-Difenil-picril-hidrazil (DPPH).

Figura 23. Cromóforo DPPH

Este método é muito usado para medir a capacidade antioxidante em um tempo relativamente curto
comparado com outras técnicas. Baseia-se na inibição do acúmulo de produtos oxidados, tão logo
sejam formados. O efeito da ação antioxidante do radical DPPH é devido a sua habilidade de captar
hidrogênio. Extratos vegetais e óleos essenciais apresentam atividade antioxidante significativa
quando IC50 é menor do que 200 ppm.

A investigação da atividade antioxidante utilizando o radical livre DPPH, demonstrou que o óleo
essencial da Lippia alba não apresenta capacidade de exercer ação antioxidante nas concentrações
testadas, porém foi feito uma projeção da reta de decréscimo da absorbância de DPPH para estimar
o valor de IC50. Os resultados são apresentados na figura 24.

Figura 24. Gráfico para determinação de IC50 do óleo


essencial da L. alba na investigação da atividade
antioxidante utilizando o radical livre DPPH.

A concentração (óleo essencial) projetada, necessária para diminuir a concentração do DPPH em 50


% (IC50) foi de 624 ppm.
6. CONCLUSÕES

Claramente, há um interesse florescente em óleos essenciais para abordar uma variedade de


benefícios acerca do bem estar humano. Este trabalho oferece uma idéia de como os óleos
essenciais podem ser utilizados e sua importância econômica para indústrias de alimentos,
farmacêuticas e de cosméticos. Através de uma breve revisão bibliográfica descreve o que são os
óleos essenciais do ponto de vista químico, sua composição, biossíntese, métodos de extração e
armazenamento, métodos de caracterização dos componentes químicos, assim como também faz
uma descrição da espécie vegetal que foi objeto desta pesquisa, a Lippia alba (Mill.) N. E. Brown
proveniente de Santo Amaro da Imperatriz (SC). Os métodos experimentais foram relatados de
forma resumida porém tomando o cuidado de fornecer todos os detalhes importantes para que sejam
de fácil reprodução. Os objetivos aos quais este trabalho se propôs foram atingidos, ficando
constatado que:

i. Foi extraído 1% do óleo essencial da Lippia alba através da técnica de destilação por arraste
a vapor;
ii. O índice de refração medido para o óleo essencial desta espécie foi de 1,473 e a rotação
óptica medida foi de -0,12°;
iii. Os estudos permitiram identificar que o óleo essencial da Lippia alba é composto em sua
grande maioria por terpenos, dos quais 55,6% são monoterpenos, 38,9% são sesquiterpenos
e apenas 5,6% são terpenos oxigenados. Destacam-se como principais constituintes: α-citral
(43,1%), β-citral (25,1%), β-mirceno (5,8%) e germacreno-B (4,9%), que somados
representam uma área total de 78,9%. Com base nesta composição ficou constatando que se
trata de uma espécie com o quimiotipo citral – mirceno;
iv. O óleo essencial apresentou atividade tóxica frente a Artemia Salina e atividade
antimicrobiana frente aos três microrganismos testados (Escherichia coli, Staphylococcus
aureus e Pseudomonas aeruginosa). Porém, este óleo essencial não apresentou atividade
antioxidante em relação ao radical livre DPPH.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Adams, R.P.; Identification of Essential Oil Components by Gas Chromatography/Mass Spectroscopy, Allured
Publishing Corporation, 1995, Illinois, USA.
Bell, E.A.; Charlwood, B.V.; Secondary Plant Products, Springer-Verlag, 1980, New York, USA.
Bernardo-Gil, M.; Gabriela M.; Albertina R.; Esquível M.M.; Produção de Extratos para a Indústria Alimentar: Uso
de Fluídos Supercríticos, DEQ IST, Lisboa, Portugal.
Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância Sanitária, Resolução 104/99, de 26/04/1999, Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, 1999, 14/05/99.
Brenna, E.; Funganti, C.; Serra, S.; Tetrahedron: Asymmetry, 2003, 14, 1.
Burt, S.; Int J Food Microbiol, 2004, 94, 223.
Cavin, A.; Hostettmann, K.; Dyatmyko, W.; Potterat, O.; Antioxidant and Lipophilic Constituents of Tinospora
crispa, Planta Medica, 1998, 64, 393-396.
Chalcat, J.C.; Chiron, F.; Garry, R.; Lacoste, J.; Sautou, V.; Photochemical Hydroperoxitadion of Terpenes,
Antimicrobial Activity of α-Pinene, β-Pinene and Limonene Hydroperoxides, Journal of Essential
Oil Research, 12, 1, 125-134.
Craveiro, A.A.; Machado, M.I.L.; De Aromas Insetos e Plantas, Ciência Hoje, 1968, 4, 23, 54-63.
Croteau, R.; The discovery of terpenes, Discoveries in Plant Biology, 1998, 1, 329-343.
Croteau, R.; Winters, J.N.; Demonstration of the Intercellular Compartmentation of l-Menthone Metabolism in
Peppermint (Mentha piperita) Leaves, Plant Physiology, 1982, 69, 975-977.
Crowell, P.L.; Gould, M.N.; Cancer Chemopreventive Activity of Monoterpenes and Others Isoprenoids, Cancer
Chemoprevention 2004, 1, 371-378.
Cseke, Leland J.; Kirakosyan, A.; Kaufman, P.B.; Warber, S.L.; Duke, J.A.; Brielmann, H.L.; Natural Products From
Plants, Taylor & Francis Group, 2ª Edição, 2006, Boca Raton, FL, USA.
Dewick, Paul M.; Medicinal Natural Products: A Biosynthetic Approach, John Wiley & Sons Ltda, 1997, England.
Dodt, Colleen K.; The Essential Oils Book , VT: Storey Publishing, 1996, Pownal.
Dorman, H.J.D.; Deans, S.G.; Journal of Applied Microbiology, 2000, 88, 308.
Duarte, M.C.T.; Figueira, G.M.; Sartoratto, A.; Rehder, V.L.G.; Delarmelina, C.; Anti-Candida Activity of Brazilian
Medicinal Plants, Journal of Ethnopharmacology, 2005, 97, 305-311.
Dudareva, N.; Cseke, L.; Blanc, V.M.; Pichersky, E.; Evolution of Floral Scent in Clarkia: Novel Patterns of S-
Linalool Synthase Gene Expression in the C. Breweri Flower, The plant Cell, 1996, 8,7, 1137-1148.
Duke, J.A.; Handbook of Medicinal Herbs, CRC. Press, 1985, Boca Raton, FL, USA.
Gil, A.; De La Fuente, E.B.; Lenardis, A.E.; Pereira, M.L.; Suarez, S.A.; Bandoni, A.; Van Baren, C,; Di Leo Lira, P.;
Ghersa, C.M.; Coriander Essential Oil Composition from Two Genotypes Grown in Different
Environment Conditions, Journal of Agric Food Chem, 2002, 50, 2870-2877.
Godefroot, M.; Sandra P.; Verzele M.; New Method for Quantitative Essential Oil Analysis, Journal of
Chromatography, 1981, 203, 325-335.
Guenther, E.; The Essential Oils, D. van Nostrand Company, 1948, New York, USA.
Gurgel do Vale, T.; Furtado, E.C; Santos Jr., J.G.; Viana, G.S.B.; Central Effects of Citral, Myrcene and Limonene,
Constituents of Essential Oil Chemotypes from Lippia alba (Mill.) N.E. Brown, Phytomedicine,
2002, 9, 709-714.
Harborne, J.B.; Ecological Biochemistry, Academic, 4ª ed., 1993, London, England.
Hennebelle, T.; Sahpaz, S.; Joseph, H.; Bailleul, F.; Ethnopharmacology of Lippia alba, 2008, 116, 211-222.
Hoet, S.; Opperdoes, F.; Brun, R.; Quetin-Leclercq, J.; Natural Products Active Against African Trypanosomes: A
Step Towards New Drugs, Nat Prod Rep, 2004, 21, 353-364.
Joly, A.B.; Botânica – Introdução à Taxonomia Vegetal, Companhia Editora Nacional, 11ª Edição, 1993, São Paulo.
Kanakis, C.D.; Daferera, D.J.; Tarantilis, P.A.; Polissiou, M.G.; Qualitative Determination of Volatile Compounds
and Quantitative Evaluation of Safranal and 4-Hydrixy-2,6,6-trimethyl-1-cyclohexene-1-
carboxaldehyde (HTCC) in Greek Saffron, J Agric Food Chem, 2004, 52, 4515-4521.
Kitson, F.G.; Larsen, B.S.; McEwen, C.N.; Gas Cromatography and Mass Spectrometry – A Pratical Guide,
Academic Press (Harcourt Brace & Company), 1996, San Diego, California, USA.
Knobloch, K.; Weigand, H.; Weis, N.; Schwarm, M.; Vigenschow, H.; Action of Terpernoids on Energy Metabolism,
In: Brunke, E.J. (ed.), Progress in Essential Oil Research, Guyer, 1986, Berlin, Germanny.
Kovar, K.A.; Gropper, B.; Friess, D.; Ammon, H.P.; Blood Levels of 1,8-Cineole and Locomotor Activity of Mice
After Inhalation and Oral Administration of Rosemary Oil, Plant Med, 1987, 53, 315-318.
Kurita, N.; Miyaji, M.; Kurane, R.; Takahara, Y.; Ichimura, K.; Agric Biol Chem, 1981, 45, 945.
Librowski, T.; Vetulani, J.; Nalepa, I.; Carane derivative Stereoisomers of Different Local Anaesthetic and
Antiplatelet Activity Similarly Potentiate Forskolin-Stimulated Cyclic AMP Response and Bind to
beta-Adrenoceptors in the Rat Brain Cortex, J Pharm Pharmacol, 2004, 56, 1429-1434.
Lobato, A.M.; Ribeiro, A.; Pinheiro, M.F.S.; Maia, J.G.S; Atividade Antimicrobiana de Óleos Essenciais da
Amazônia, Acta Amazônia, 1989, 19, 355-363.
Lorenzi H.; Matos, F.J.A.; Plantas Medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas, Instituto Plantarum de Estudos da
Flora Ltda, 2002, Nova Odessa, SP, Brasil.
Magiats, P.; Skaltsounis, A.L.; Chinou, I.; Haroutounian, A.S.; Chemical Composition and in-vitro Antimicrobial
Activity of the Essential Oil of Three Greek Achillea Species, Z Naturforsch 2002, 57c, 287.
Meyer, B.N.; Brine Shrimp: A Convenient General Bioassay for Active-Plant Constituents, Planta Médica, 1982,
45,1, 31-34.
Mazza, G.; Gas Chromatographic and Mass Spectrometric Studies of the Constituents of the Rhizome of Calamus
I. The Volatile Constituents of the Essential Oil. J Chromatography, 1985, A, 328, 179-194.
McGeady, P.; Wansley, D.L.; Logan., D.A.; Carvone and Perillaldehyde Interfere with the Serum-induced
Formation of Filamentous Structures in Candida albicants at Substantially Lower Concentrations
than those Causing Significant Inhibition of Growth , J Nat Prod, 2002, 65, 953-955.
McHoy, P.; Westland, P.; The Herb Bible, Barnes & Noble Inc., 1994, New York, USA.
Moteki, H.; Hibasami, H.; Yamada, Y.; Katsuzaki, H.; Imai, K.; Komiya, T.; Specifc Induction of Apoptosis by 1,8-
Cineole in two Human Leukemia Cell Lines, But Not in a Human Stomach Cancer Cell Line,
Oncol Rep 2002, 9, 757-760.
Mothes, K.; Historical Introduction of Plant Products, Springer, 1980, Berlin, Germanny.
Oliveira, D.R.; Leitão, G.G.; Santos, S.S.; Bizzo, H.R.; Lopes, D.; Alvino, C.S.; Alvino, D.S.; Leitão, S.G.;
Ethnopharmacological Study of Two Lippia Species from Oriximiná – Brazil, Journal of
Ethnopharmacology, 2006, 108, 103-108.
Opdyke, D.; Monographas on Fragrance Raw Materials, Myrcene, Food and Cosmet Toxicol, 1987, 14, 687-689.
Oumzil, H.; Ghoulami, S.; Rhajaoui, M.; Hidrissi, A.; Fkih-Tetouani, S.; Faid, M.; Benjouad, Phytother Res, 2002, 16,
727.
Pascual, M.E.; Slowing, K.; Carretero, E.; Mata, D.S.; Villar, A.; Journal of Ethnopharmacology, 2001, 76, 201-214.
Pelczar, M.J.; Chan, E.C.S.; Krieg, N.R.; Control of Microorganisms, the Control of Microorganisms by Physical
Agents, Microbiology, 469, McGraw-Hill International, 1998, New York.
Ramos, A.; Visozo, A.; Piloto, J.; García, A.; Rodríguez, C.A.; Rivero, R.; Journal of Ethnopharmacology, 2003, 87,
241-246.
Sacchetini, J.C.; Poulter, C.D.; Creating Isoprenoid Diversity, Science, 1997, 277, 1788-1789.
Schmidt, T.J.; Brun, R.; Willuhn, G.; Khalid, S.A.; Anti-Trypanosomal Activity of Helenalin and Some Structurally
Related Sesquiterpenes Lactones, Planta Medica, 2002, 68, 750-751.
Shellie, R.; Mondello, L.; Marriott, P.; Dugo, G.; Characterisation of Lavander Essential Oils by Using Gas
Chromatography-Mass Spectrometry with Correlation of Linear Retention Indices and
Comparison with Comprehensive Two-Dimensional Gas Chromatography, J Chromatography,
2002, A, 970, 225-234.
Simões, C.M.O.; Schenkel, E.P.; Gosmann, G.; De Mello, J.C.P.; Mentz, L.A.; Petrovick, P.R.; [et al],
Farmacognosia, da Planta ao Medicamento, 6ª Edição, 2007, Editora da UFRGS, Porto Alegre,
Editora da UFSC, Florianópolis, Brasil.
Sirisoma, N. S.; Hold, K.M.; Casida, J.E.; The α- and β-Thujones (Herbal Medicines and Food Additives): Synthesis
and Analysis of Hydroxyl and Dehydro Metabolites, J Agric Food Chem, 2001, 49, 1915-1921.
Souza, S.M.; Delle-Monache, F.; Smânia Jr. A.; Antibacterial Activity of Cumarins, Z. Naturforsch, 2005, 60,
693-700.
Stashenko E.E.; Jaramillo, B.E.; Martínez, J.R.; Journal of Chromatography, 2004, A, 1025, 93-103.
Taiz, Lincoln; Zeiger, E.; Plant Physiology, Sinauer Associates Inc. Publisher, 3rd ed, 2002, Sunderlan, Massachusetts,
USA.
Temple, W.; Smith, N.; Beasley, M.; Management of Oil of Citronella Poisoning, J Toxicol Clin Toxicol, 1991, 29,
257-262.
Tepe, B.; Sokmen, M.; Sokmen, A.; Daferera, D.; Polissiou, M.; Jorn Food Engineer, 2005, 69, 335.
Trudgill, P. W.; Microbial Metabolism and Transformation of Selected Monoterpenes - Biochemistry of Microbial
Degradation, C. Ratledge (Ed.), 1994, Kluwer, Dordrecht, 33-61.
Valero, M.; Frances, E.; Food Microbiology, 2006, 23, 68.
Vieira, L.S.; Albuquerque, J.M.; Fitoterapia Tropical – Manual de Plantas Medicinais, FCAP – Serviço de
Documentação e Informação, Belém.
Waterman, P.G.; Mole, S.; Analysis of Phenolic Plant Metabolites, Blackwell Scientific Publications, 1994, Oxford,
England.
Yuba, A.; Honda, G.; Koezuka, Y.; Tabata, M.; Genetic Analysis of Essential Oils Variants in Perilla frutescens,
Biochem Genet, 1995, 33, 341-348. See also: Gernot Katzers Spice Dictionary. Perilla. Http:www-
ang.kfunigraz.ac.at/~katzer/eng/genetic_frame.html?Peri_fru.html.
APÊNDICE

Espectros de massas do Sabineno. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.


Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Espectros de massas do p-Cimeno. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.


Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).
Espectros de massas do β-Ocimeno. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Espectros de massas do γ-Terpineno. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.


Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).
Espectros de massas do Linalol. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Espectros de massas do trans-Verbenol. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.


Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).
Espectros de massas do cis-Crisantenol. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Espectros de massas do Acetato de geranila. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.


Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).
Espectros de massas do β-Elemeno. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Espectros de massas do β-Cariofileno. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.


Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).
Espectros de massas do γ-Elemeno. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Espectros de massas do α-Humuleno. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.


Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).
Espectros de massas do Germacreno-D. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.
Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Espectros de massas do Germacreno A. Superior: Espectro de massas obtido da amostra.


Inferior: Espectro de massas proveniente de biblioteca eletrônica (NIST).

Você também pode gostar