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ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE APLICADA NO PROCESSO

DECISÓRIO DE AQUISIÇÃO DE SOBRESSALENTES

Filipe Rodrigues Martinhão

Vitória – ES, 18 de junho de 2018.


RESUMO

O gasto com peças sobressalentes para manutenção de equipamento na indústria impacta


diretamente nos resultados de uma empresa. Desta forma, a Engenharia de Confiabilidade
da Pelotização Vale incluiu estudos analíticos de confiabilidade no processo decisório de
aquisição de sobressalentes a fim de otimizar a utilização de sobressalentes e evitar
dispêndio financeiro antecipado de forma segura, sustentável e risco calculado, garantindo
que seus ativos físicos cumpram com sua função nas operações industriais com risco
controlado, custo competitivo e disponibilidade adequada para atingimento o plano
estratégico do negócio.

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3

2. MODELO DE RELATÓRIO DE CONFIABILIDADE ANALÍTICA ..........................3

2.1. LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS DE VIDA ........................................ 4

2.1.1. Mapeamento dos componentes para aquisição ................................................ 5

2.1.2. Levantamento dos dados de vida ....................................................................... 5

2.1.3. Definição dos tempos entre falhas ..................................................................... 6

2.1.4. Identificação da função estatística ..................................................................... 7

2.1.5. Determinação da curva de probabilidade de falha do item...............................9

2.2. INTERPREÇÃO DOS PARAMETROS ESTATÍSTICOS ..................................... 10

2.3. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES DO RELATÓRIO .................................. 11

3. APLICAÇÕES DO RELATÓRIO DE CONFIABILIDADE ANALÍTICA ................ 12

3.1. PROCESSO DECISÓRIO NA AQUISIÇÃO DE SOBRESSALENTE .................. 12

3.2. PRIORIZAÇÃO DE SERVIÇOS EM CARTEIRA ................................................. 12

3.3. VALORES DE REFERÊNCIA DE VIDA MÉDIA .................................................. 12

4. CASOS DE USO DO RELATÓRIO DE CONFIABILIDADE ................................13

4.1. ANÁLISE PARA AQUISIÇÃO DE REDUTORES SOBRESSALENTES ............. 13

4.2. REDUÇÃO DE CUSTO COM ADEQUAÇÃO DE VIDA MÉDIA ..........................13

5. CONCLUSÕES .................................................................................................... 14

6. REFERÊNCIAS .................................................................................................... 15

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo demonstrar que estudos de confiabilidade quantitativa
aplicada na gestão de ativos físicos torna-se uma poderosa ferramenta no processo
decisório de aquisição de sobressalentes possibilitando a otimização e utilização dos
recursos financeiros de uma empresa, evitando dispêndios antecipados de forma segura,
sustentável e com risco calculado. Garantindo as operações industriais uma disponibilidade
adequada, risco controlado e custo competitivo para atingimento o plano estratégico do
negócio.

O trabalho consiste no levantamento de dados e criação de um relatório de confiabilidade


analítica que agrupa informações referentes a análise dos dados de vida, parâmetros da
distribuição estatística, criticidade do item, monitoramento, disponibilidade em estoque,
existência de stand-by, possibilidade de recuperação interna, tempo de reparo e ao local
de instalação do item. Proporcionando a tomada de decisão baseada na interpretação da
característica de vida do item, dado a probabilidade de falha do item ao longo do tempo,
vida média estimada, tempo desde a última substituição e alertas do Centro de
Monitoramento de Ativos.

O material também traz uma análise de ganhos proporcionados com identificação e


adequação da vida média de referência entre redutores de mesma categoria. Além de
exemplos reais de decisões baseadas nas informações que compõe o relatório de
confiabilidade analítica.

2. MODELO DE RELATÓRIO DE CONFIABILIDADE ANALÍTICA

O relatório de confiabilidade analítica consiste na apresentação estruturada de informações


de provenientes da análise dos dados de vida, parâmetros da distribuição estatística
interpretados, criticidade do item, monitoramento, disponibilidade em estoque, existência
de stand-by, possibilidade de recuperação interna, tempo de reparo e ao local de instalação
do item. Com interpretação da característica de vida do item, probabilidade de falha do item
ao longo do tempo, estimativa da vida média, alertas do Centro de Monitoramento de Ativos
e idade do item tempo desde a última substituição.

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Figura 1 - Modelo de relatório de confiabilidade analítica.

2.1. LEVANTAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS DE VIDA

Para construção do relatório de confiabilidade analítica dos itens mapeados como


prioritários pelas áreas operacionais, primeiramente como fizemos o levantamento dos
dados de vida dos componentes através do nosso CMMS (Computerized Maintenance
Management System) a fim de obter o tempo entre falhas dos itens e identificar a função

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estatística que melhor representa a distribuição dos dados de vida do componente, e
consequentemente a curva de probabilidade de falha.

2.1.1. Mapeamento dos componentes para aquisição

Como na maioria das empresas que temos contato, atualmente o mapeamento dos
itens para aquisição é feito pelas áreas operacionais baseado em impacto na
produção, complexidade do item, tempo de entrega e na incerteza de quando
ocorrerá a próxima falha, sendo esta última variável o foco de atuação deste
trabalho.

Figura 1.1 Trecho da planilha de captura para aquisição de itens sobressalente.

2.1.2. Levantamento dos dados de vida

A fim obter maior amostragem e qualidade dos dados, o levantamento das falhas é
feito através das ordens de manutenção realizadas deste a migração do CMMS e

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implantação do sistema SAP, período um pouco maior que 4 anos. Visto o que ciclo
de vida de alguns componentes são superiores a 2 anos, quando a amostra contém
poucos dados recorremos a um arquivamento corporativo com mais de 10 anos de
histórico de ordens de serviços. Devido a variação na grafia durante preenchimento
da descrição do serviço realizado e o preenchimento inadequadamente do item que
falhou, é indispensável realizar um saneamento dos dados extraídos do sistema
antes de utilizá-los nos estudos estatísticos.

Figura 1.2 Transação IW39 do sistema SAP.

2.1.3. Definição dos tempos entre falhas

Para definição dos tempos entre falhas é imprescindível que os campos [início
efetivo] e [término efetivo] das ordens de manutenção estejam preenchidos, pois
estas informações possibilitam o cálculo do tempo entre as falhas ou seja, do tempo
entre a [data:hora] do [término efetivo] de uma falha e a [data hora] do [início efetivo]
da próxima falha. Exemplificada pela sequência dos TEF (tempo entre falhas)
abaixo:

TEF 1: [data:hora do início efetivo 2] – [data:hora do término efetivo 1] x 24

TEF 2: [data:hora do início efetivo 3] – [data:hora do término efetivo 2] x 24

TEF n: [[data:hora do início efetivo n+1] – [data:hora do término efetivo n ] x 24

Para amostra com poucos dados, utilizamos suspenções a direita e a esquerda


indicando que o componente operou por determinada quantidade de tempo sem que
a ocorrência de falha. As suspensões a esquerda são definidas com base na

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diferença entre a [data de implantação do CMMS] e a [data hora da primeira falha]
do componente. De forma análoga, os tempos de suspensão a direita são calculados
através da diferença entre a [data:hora da última falha] e a [data corrente de extração
do relatório].

2.1.4. Identificação da função estatística

De posse dos tempos entre falhas identificados no tópico anterior, para identificação
da função estatísticas que melhor representa a distribuição dos dados de vida do
componente utilizamos o software Weibull++ (Reliasoft) que nos permite obter esta
informação de maneira gráfica ou através de um raqueamento das funções
estatísticas mais apropriadas. Na sequência de figuras logo abaixo mostramos como
realizar esta etapa do trabalho.

Figura 1.3 Informando o tempo entre falhas do redutor do transportador de correia


5P39TC na tabela de dados Weibull++.

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Figura 1.4 Visualização gráfica linearizada da distribuição dos dados de vida e a
funções estatísticas, é possível notar que a função Weibull 2P (quadro selecionado)
é a função que possui melhor alinhamento entre a reta e os pontos.

Figura 1.5 Sistema de ranqueamento das funções que melhor representa a


distribuição dos dados de vida.

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Figura 1.6 Parâmetros da função Weibull 2P que melhor representa os dados de
vida do componente.

Visto os dados apresentados, no exemplo do Redutor do Transportador de Correia


5P39TC optamos por utilizar a função estatística Weibull 2P com os parâmetros
(beta = 3,76 e Eta = 12827 horas).

2.1.5. Determinação da curva de probabilidade de falha do item

Após definição da função estatística e seus respectivos parâmetros, utilizamos


novamente o Weibull++ para determinar forma gráfica a curva de probabilidade de
falha do componente, e através da calculadora do software calculamos a vida média
e a probabilidade de falha pontual do componente diferentes períodos.

Figura 1.7 Curva de probabilidade de falha do Redutor do 5P39TC.

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Figura 1.8 Cálculo da vida média do Redutor do Transportador de Correia 5P39TC.

Para determinação da probabilidade de falha pontual do componente utilizamos o


Software BlockSim da Reliasoft para simulação de 5 cinco anos de funcionamento.

Figura 1.9 Probabilidade de falha para 1, 2, 3, 4 e 5 anos de funcionamento do


Redutor do Transportador de Correia 5P39TC.

2.2. INTERPREÇÃO DOS PARAMETROS ESTATÍSTICOS

Além das informações de probabilidade de falha pontual para auxiliar na tomada de


decisão quanto a aquisição de sobressalentes, o relatório de confiabilidade analítica
apresentado neste trabalho também traz a interpretação dos parâmetros das funções
estatísticas de forma simplificada, permitindo realização de ações de engenharia em
função da característica de vida identificada em relação a esperada. Por exemplo,
quando um componente apresenta característica de falha prematura (beta < 1) e o

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esperado é uma característica de falha por desgaste (beta > 1) é recomendado que a
engenharia avalie se existe falha de projeto, se o equipamento está operando
inadequadamente ou as manutenções estão sendo realizadas de forma incorreta.

O campo comportamento contendo a interpretação também visa disseminar e


familiarizar a engenharia de confiabilidade nas áreas operacionais e entre as lideranças
da empresa.

Figura 1.10 Campo comportamento com interpretação dos parâmetros da função.

2.3. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES DO RELATÓRIO

Junto as informações de confiabilidade quantitativas, com intuito de aumentar a


assertividade da decisão, o relatório traz informações completares tais como local de
instalação, criticidade, reportes do CMA (Centro de Monitoramento de Ativos),
disponibilidade em estoque, existência de stand-by, possibilidade de reparo interno e
tempo de recuperação do componente na oficina.

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Figura 1.11 Campos complementares do relatório de confiabilidade analítica.

3. APLICAÇÕES DO RELATÓRIO DE CONFIABILIDADE ANALÍTICA


3.1. PROCESSO DECISÓRIO NA AQUISIÇÃO DE SOBRESSALENTE

O relatório apresentado neste trabalho tem como principal objetivo identificar qual a
probabilidade de um componente falhar nos próximos anos, a fim de suportar a tomada
de decisão de aquisição ou não de um componente sobressalente frente ao ciclo de
captura e aprovação de recursos financeiros.

3.2. PRIORIZAÇÃO DE SERVIÇOS EM CARTEIRA

Outra aplicação para este tipo de relatório é a priorização de serviços em carteira de


uma oficina de manutenção, com as informações do relatório é possível priorizar qual
serviços deve ser realizado primeiro visto a probabilidade do componente falhar em
campo e não existir um sobressalente para reposição.

3.3. VALORES DE REFERÊNCIA DE VIDA MÉDIA

Após análise dos dados de vida de 196 redutores identificamos a oportunidade de


comparar a vida média entre os redutores de mesma aplicação, tornando possível definir
uma vida média de referência entre eles e direcionar as ações de engenharia para
identificação e bloqueio das causas das falhas dos redutores com vida média
significativamente menor ao valor de referência.

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4. CASOS DE USO DO RELATÓRIO DE CONFIABILIDADE
4.1. ANÁLISE PARA AQUISIÇÃO DE REDUTORES SOBRESSALENTES

Sabendo que as plantas de Pelotização (6 unidades) e Utilidades (3 unidades) da Vale


S.A situadas na Unidade de Tubarão gastaram em média R$2,4 milhões/ano com
substituições de redutores nos últimos 2 anos. E que o soma das solicitações das áreas
operacionais para aquisição de sobressalentes para 2019 ultrapassa a quantia de R$6,5
milhões. Ou seja, as áreas operacionais estão solicitando um valor 70% (R$ 4,1 milhões)
maior do que o valor gasto com material e serviço para substituição de redutores no
último ano.

Desta forma, decidimos mapear e analisar todas as trocas de redutores ocorridas nos
últimos 4 anos e confrontar com as solicitações das áreas operacionais.

Através deste estudo identificamos que do parque instalado de 2,8 mil redutores /
motoredutores apenas 635 foram substituídos nos últimos 4 anos, e desde total apenas
220 redutores tiveram duas ou mais substituições neste mesmo período, ou seja,
apenas 8% do parque instalado de redutores foram substituídos duas ou mais vezes em
4 anos.

Dos 214 redutores com dados suficientes para análise de confiabilidade, 61 unidades
(28%) não necessitaram de ser substituídos no próximo ano, o que representa
aproximadamente R$ 2,65 milhões anuais, considerando o maior valor anual de troca
destes redutores nos últimos 4 anos.

Desta forma, os outros 153 redutores (72%) possuem probabilidade maior do que 50%
de serem substituídos nos próximos 365 dias, caso nada seja feito para bloquear os
modos de falhas que historicamente tem provado a substituição do componente. Estas
substituições consumirão aproximadamente R$2,64 milhões dos cofres da empresa.

4.2. REDUÇÃO DE CUSTO COM ADEQUAÇÃO DE VIDA MÉDIA

Através da análise comparativa entre a vida média dos redutores de mesma aplicação,
foi possível encontrar uma vida média de referência para o agrupamento. Neste caso
abordamos redutores aplicados nos sistemas de acionamento de transportadores de

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correia. E através de uma breve análise é possível direcionar ações para adequação da
vida média dos componentes a fim redução de custo com manutenção.

Percebemos no gráfico logo abaixo que 80% (51) dos redutores estão abaixo desta
aplicação possuem com vida média inferior ao valor de referência médio.

Figura 3.1 – Vida média de redutores aplicados em transportadores de correia.

Com este breve estudo foi possível identificar que ações para adequar a vida média dos
redutores que estão abaixo da média proporcionará uma redução de custo de
aproximadamente R$ 1,5 milhões (R$375 mil/ano) com falhas prematuras em 4 anos.

5. CONCLUSÕES

O relatório de confiabilidade analítica apresentado neste trabalho agrupa, organiza,


interpreta, resume e simplifica o entendimento das informações de uma análise de
confiabilidade. Proporcionando um ambiente favorável para que a gestão dos ativos físicos
da empresa e as tomadas de decisão sejam fundamentadas cada vez mais fundamentas
em informações quantitativas e menos no sentimento e conhecimento empírico. Permitindo
que os gestores aloquem de forma assertiva os recursos financeiros e humanos da
empresa, a fim de que nossos ativos cumpram com sua função a um risco controlado, custo
adequado e performance necessária.

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6. REFERÊNCIAS

ABNT NBR ISO 55000: 2014, Gestão de Ativos - Fundamentos, princípios e terminologias

ABNT NBR ISO 55001: 2014, Gestão de Ativos - Sistemas de Gestão - Requisitos

ABNT NBR ISO 55002: 2014, Gestão de Ativos - Sistema de Gestão de Ativos - Diretrizes
da ABNT NBR ISO 55001

ABNT NBR ISO 55002: 2014, Gestão de Ativos - Sistema de Gestão de Ativos - Diretrizes
da ABNT NBR ISO 55001

SPANÓ, CLAUDIO C.: CM560 - Gestão de Ativos Suportada pela Confiabilidade São
Paulo, 2018. (Apostila).

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