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(In-)visibilidade, abjeção e perspectiva: A cidade como hipertexto.

Ana Lúcia Marques Camargo Ferraz

O presente artigo pretende se acercar de responder a seguinte questão: o que pode a


etnografia na linguagem hipermídia? Discuto as formas de apresentar a etnografia das
redes de relações das classes trabalhadoras pauperizadas de Niterói, no Rio de Janeiro
(Brasil) em linguagem multimídia. A questão norteadora da reflexão aqui
desenvolvida é como expressar o conhecimento produzido pela etnografia das
relações entre posições de onde se experimenta a cidade. Para dar conta de tal desafio,
visamos construir um método cartográfico para apresentar perspectivas sobre a vida
urbana, vista a partir da experiência de sujeitos específicos. Aqui, não se trata de
pensar o espaço, estudar a praça pública, mas de reconstruir experiências, lances de
vista oriundos de posições sociais de onde se vive a cidade de determinada maneira. O
objetivo do trabalho é relacionar posições, constituindo seus pontos de vista,
mapeando a rede que configura a classe trabalhadora como conjunto heterogêneo.
A pesquisa busca desenvolver uma cartografia em hipermídia dos espaços da
cidade tal como experimentados por nossos personagens. Parece hoje que os recursos
digitais poderiam fornecer novos padrões para abordagens antropológicas, restituindo
a experiência, difundindo o conhecimento etnográfico (SCHOENI, 2014, p. 89).
Dialogo, na concepção do projeto Cartografias da Margem, com alguns trabalhos
recentes que concebem uma forma para apresentar o conhecimento etnográfico
produzido em sites ou outras plataformas nas quais se apresentam uma multiplicidade
de imagens, textos, sons, sequencias fotográficas, entre outras (GLOWCZEWSKI,
2006; RAMELLA, 2014).
Desde Warburg, em seu Atlas Mnemosyne,1 a espacialização da organização
das imagens concebe plataformas como mapas cognitivos. Mas, segundo Didi-
Huberman (1998), para além de uma lógica territorial, que visa conter o mundo ali

1 O Atlas Mnemosyne de Aby Warburg é um compendio de imagens que apresenta uma nova forma de
se fazer história, por associação, mobilizando o inteligível pelo sensível (SAMAIN, 2011, p. 36). O
Atlas propõe reestruturar o pensamento por meio da imagem. O trabalho valorizava a visualidade,
construindo painéis-montagem. Neles, a leitura da história valorizava a semelhança e operava por meio
de saltos, como vemos também na obra das Passagens, de Walter Benjamin (SELIGMANN-SILVA,
2007, p. 109).
representado, portanto organizado, compreendido, capturado; a lógica das cartografias
imagéticas pode permitir ultrapassar fronteiras, atravessar territórios, pensar
criticamente. O autor defende que tomemos a imagem como sintoma (DIDI-
HUBERMAN, 1998), atentando para o fato de que a imagem-memória irrompe; o
sintoma revela diferenças entre imagens, suas relações conflituosas, montagens de
heterogeneidades. Enquanto o símbolo unifica realidades a partir dos códigos
herdados pela sociedade, o sintoma dá a ver o esquecido, subterrâneo, presente (id.,
ibid.). Nossa cartografia deve então, localizar o simbólico e o sintomático que vive às
margens da imagem, o exemplo etnográfico da segunda parte do texto deve
concretizar nossa compreensão.
Aby Warburg constituía mapas cognitivos, Glowczewski (2006) fala em
mapas mentais que se materializam em trilhas esculpidas pelo ato de caminhar o chão,
lugares de sonhar, em bases digitais de dados antropológicos. Entre um e outro, o
refinamento da experimentação em produzir constelações de imagens. Essa
experiência é técnica e política, e demanda que apreendamos as linguagens do mundo.
Em Dream Trackers/Pistes des rêves, um DVD interativo reúne os materiais de sua
pesquisa sobre os caminhos Walpiri no deserto, “a circulação de sistemas culturais de
conhecimento” (2007, p. 183). Em Linhas e entrecruzamentos: Hiperlinks nas
narrativas indígenas australianas, Glowczewski (2007) apresenta o seu foco: “a
percepção da memória como espaço-tempo virtual e a maneira como eles [os
aborígenes] projetam o conhecimento em uma rede geográfica, tanto física quanto
imaginária” (GLOWCZEWSKI, 2007, p. 176). Pensando em redes, a autora localiza
uma teia virtual de narrativas, imagens e performances, na maneira reticular como os
aborígenes Walpiri mapeiam seu conhecimento e experiência de mundo.
Em nosso caso visamos a cidade de Niterói, seus personagens, homens e
mulheres da rua, que vivem nos morros e ocupações, habitam a praça pública. Na rua,
as relações são imediatas, velozes; ao passo que na “Comunidade”2 o tempo é
moroso, acordar, conseguir o de comer, embriagar-se de luz, anoitecer. Sempre
armados, digo, prontos, atentos, habitam seu mundo, as portas cheias de vielas que se

2 O termo “Comunidade” é o modo que os moradores das favelas do Rio de Janeiro adotaram para
referirem-se a seus espaços de moradia, trata-se de uma disputa simbólica para afastar o caráter
estigmatizante do segundo termo, como discutem em seus trabalhos Freire (2008) e Birman (2008).
aprofundam no terreno em direção à mata (onde ela ainda existe). O morador dessa
posição na cidade é um sobrevivente, isto é, tem um repertório de experiências de
risco de vida, tem muitos conhecidos com experiência de cárcere. Vive literalmente na
margem da cidade. Acompanhamos os seus trajetos.
A relação entre forma e conteúdo nesse trabalho é determinante, incorporamos
materiais de vários formatos, captados em distintas situações e por autores vários que
passaram pela equipe do projeto. O material não se pretende belo, embora haja algo
de beleza na vida que resiste. O trabalho caracteriza-se sobretudo por uma estranheza
que não pretende se disfarçar em familiaridade.
Aqui o mapa ganha a fisicalidade da cidade, com ruas, morros, casas,
ocupações, praças, bicicletas e gente. Notando com Telles que “o que antes foi dito e
escrito sobre a cidade e seus problemas, a “questão urbana”, parece ter sido esvaziado
de sua capacidade descritiva e potência crítica em um mundo que fez revirar de alto a
baixo o solo social das questões então em debate” (2010). A autora auxilia a entender
o modo como ilegalismos redefinem as tramas urbanas, as relações sociais e relações
de poder em situações variadas. A asserção “o Estado de exceção é a regra”, de Walter
Benjamin (1994), segue hoje válida, e tem implicações inclusive sobre a forma deste
trabalho.
Diante da indiferença e da banalização da vida das classes trabalhadoras no
Rio de Janeiro, o corpo se torna abjeto (KRISTEVA, 1982), justamente porque não se
pensa esse extrato precarizado da classe como morador da cidade, seu igual, seu
vizinho; o que tem suas relações com a experiência brasileira, marcada pelas formas
de relação com o outro que herda uma formação escravocrata. A publicação na
internet das imagens etnográficas produzidas entre populações que vivem expostas à
violência implica em dar a ver a sua existência. O problema do constituir-se em
imagem visibiliza as parcelas da população que ocupam a experiência precária da
margem, da fronteira do representável, do cognoscível, do imaginável. Visibilizando
certos modos de ocupar a cidade e as relações que os mantém, circulamos a imagem
do “outro social”, o morador da cidade dos trabalhadores, apresentando-o mais que
como “sujeito de direitos”, como agência de afetos.
Pensar a linguagem do trabalho que estabelece o encontro pesquisador/
pesquisado/receptor. O receptor que interage com o site produz sentido na experiência
de recepção. O interator pode construir “sua própria dramaturgia no contato com o
material da pesquisa”, como entende Anna Lisa Ramella (2014, p. 12). Em seu site La
Vie du Rail,3 segue a estrutura do mapa e a “busca de conexões translineares de
ideias”. Em uma outra experiência, levada a cabo pelo National Film Board do
Canada, o site Out My Window,4 temos panorâmicas de 360 graus que revelam os
espaços habitados das casas em distintas cidades, a vida em apartamentos. Compõem
espaços internos a partir de mosaicos elaborados de fotografias. Montagens
fotográficas com intervenção em desenho constituem o panorama do espaço habitado,
além da reconstrução das paisagens visuais e sonoras. Num segundo nível de acesso,
encontramos depoimentos articulados com fotografias, especial atenção é dedicada à
música. Em ambos os casos, são histórias independentes, articuladas em série, aqui,
ligadas pelo território que é reconstruído a cada lance.
Catarina Alves Costa é autora de uma série de filmes etnográficos e tem
recentemente realizado algumas instalações em vídeo. Em seus trabalhos mais
recentes, tem-se valido dessa linguagem que nomeamos performática. Refiro-me a
duas peças em especial, Caretos e Casas para o povo. Este último, apresentado na
Bienal de Arquitetura de Lisboa, retoma a experiência daqueles que se engajaram na
revolução dos cravos a partir das imagens de sua família, de sua infância. O trabalho
pauta-se na pesquisa de acervos pessoais e composição de trilha sonora, atualizando a
experiência de ter vivido este momento histórico. Destacando o trabalho de arquitetos
que se engajaram nas lutas populares por moradia, o curta-metragem reconstrói o
espírito, restituindo em imagem, som e ritmo, aquele momento. Em seu outro vídeo,
Caretos, a câmera está na festa de rua, caminha entre as pessoas, atenta, mira o
careto5 que se aproxima. Perigo! Na obra de Catarina Alves Costa temos uma

3 Disponível em: <www.laviedurail.net>. Acesso em jan. 2016.

4 Disponível em: <http://www.outmywindow.nfb.ca/#/outmywindow>. Acesso em jan. 2016.

5 Os caretos são máscaras carnavalescas da região de Trás-os Montes, em Portugal, figuras rodeadas de
mistério, mobilizando o sarcasmo e o patético, utilizando-se do contato corporal com os passantes. A
este respeito, ver Raposo (2010).
concepção que valoriza o instante etnográfico como aquele que constrói a relação
com o outro e a densidade da experiência como produtora de sentidos.
No projeto Cartografias da Margem a disputa pela representação social
legítima, pelo reconhecimento dos “moradores de rua” como sujeitos de direitos, está
em questão. Observamos recentemente o surgimento de comunidades de redes sociais
baseadas nas grandes cidades brasileiras (o FbRioInvisível6 e o FbInvisibleSãoPaulo7,
por exemplo, são algumas delas) que apresentam seus personagens a partir de um
recorte biográfico. A iniciativa é mais uma que opera no sentido de dar visibilidade às
populações que estão vivendo nas ruas das grandes cidades brasileiras. Sontag (1977),
em seu livro On Photography, afirma que a imagem fotográfica estetiza e ao fazê-lo
banaliza o visto como conhecido à distância. Este seria o caso das imagens que
circulam nos grandes meios, aquelas que reforçam a vitimização de tais populações, o
ponto de vista que torna tais personagens abjetos. A outra possibilidade seria fazer
uma história dos perdedores, mas a imagem do perdedor não mobiliza nem promove
identificação. A etnografia em multimídia, que cartografa a cidade tal como
experimentada desde a sua margem, lida com as possibilidades da imagem na
constituição de pontos de vista outros e se defronta com uma subjetividade da rua, a
experiência sensível de alteração dos sentidos vivida e buscada, suas paisagens
sonoras e seus interiores. O que vemos em nossa cartografia é a constante
metamorfose da cidade, que varia conforme o ponto de vista.
Mas como expressar as dinâmicas sociais em um mapa? Pensamos aqui o
problema da representação dos processos. Florestan Fernandes criticou a pretensão
mapeadora como pretensão estática e estatizante, ciência de Estado. No entanto, seria
importante aqui distinguir cartografia como modo de disponibilizar uma estrutura
para o conhecimento do espaço como algo dado e, por outro lado, modo de construir
pontos de vista a partir dos quais o espaço como objeto se re-figura. Assim, “mapear é
epistemológico, mas também profundamente cosmológico” (KITCHIN & DODGE,
2007). Os debates recentes sobre cartografia apontam outras possibilidades, assim, o

6 Disponível em: <https://www.facebook.com/rio.invisivel?fref=ts>. Acesso em jan. 2016.

7 Disponível em <https://www.facebook.com/InvisibleSaoPaulo?fref=ts>. Acesso em jan. 2016.


mapa não fixa o já dado, mas é produtor daquilo que dá a ver (id., ibid.; WOOD,
2012).
Aqui, o espaço é um (des)fazer-se contínuo e frágil da vida nua. A vida se dá
em instantes. O critério adotado baseou-se nas relações estabelecidas com indivíduos
específicos, na experiência etnográfica, encontrando pontos onde posicionar-se para
nomear a experiência da cidade. Apostamos no acompanhamento de casos com os
quais dialogamos ao longo de tempo. Hipermídia, como rede de imagens cruzadas
referenciadas a uma base comum, permite aproximar lances de olhos da experiência
vivida pelas franjas populosas dos pedaços em que uma socialidade outra vai se
territorializando. Uma antropologia das classes trabalhadoras precárias e
criminalizadas exige atentarmos para os processos materiais e simbólicos, antes de
serem modos em que a classe trabalhadora é meramente adjetivada. Todavia, o que
aparece de substantivo, quando a classe se enfrenta com o desafio de constituir-se
como imagem? Relações, modos de vida, intensidades. Porque “o errante não vê a
cidade de cima, a partir da visão de um mapa, mas a experimenta desde dentro; ele
inventa a sua própria cartografia a partir de sua experiência itinerante”, como propõe
Jacques:

As narrativas errantes foram escritas nos desvios da própria história do urbanismo.


Elas constituem um outro tipo de historiografia, ou de escrita da história, uma história
errante, não linear, que não respeita a cronologia tradicional, uma história do que está
na margem, nas brechas, nos desvios e, sobretudo, do que é ambulante, não está fixo,
mas sim em movimento constante. (2006, p. 24).

No caso do Rio de Janeiro, temos visto o modo como a intervenção militar se dá nos
espaços de vida e moradia populares, as favelas ou “comunidades”, como preferem se
nomear. Nesses espaços, o Estado implantou as Unidades de Polícia Pacificadora
(UPP’s), impondo um controle militar das áreas onde vivem as classes trabalhadoras.
Com o argumento do combate ao narcotráfico, as forças repressivas estão autorizadas
a invadirem os espaços domésticos, a abordarem quaisquer indivíduos, a revistas
armadas de toda a população. Travestida de política de segurança pública impõe-se a
terrível prática estatal de controle populacional.
Cartografamos séries de relações, isto é, um mapa da vida em seus
movimentos de afinidade ou evitação. A partir de tais relações vão se constituindo os
pontos de vista sobre a cidade tal como experimentada. Mapeamos espaços de
visibilidade/invisibilidade, em que o primeiro termo implica atuar, tornar-se visível,
constituir-se como imagem que circula socialmente, e o segundo é a relação de
evitação fruto da abjeção social. No outro extremo, estão as posições que não
aparecem no espaço público, imagens que não podem aparecer, imagens veladas, ou
que aparecem carregadas de estereótipo, como na grande mídia, imagens que são
recusadas socialmente. A literatura produzida na área limita-se a lidar com as
representações sociais instituídas opondo trabalhadores a bandidos (ZALUAR, 1994)
ou adjetivando os sujeitos, marcando-os com a categoria lumpemproletariado
(NEVES, 2010). Assumir o ponto de vista dos sujeitos demanda outro tratamento para
sua existência, considerar a sua potência de performance.
Mas, os pontos de vista desde onde se constrói esta cartografia se assumidos
com seriedade nos levam a notar uma ampla rede de relações estabelecidas entre
diversos setores da classe empobrecida: órfãs que cresceram em instituições do
estado, mulheres que engravidaram aos catorze anos e hoje têm quarenta, guardadores
de carros, esquizofrênicos, trabalhadores da construção civil aposentados, soldadores
desempregados, jardineiros idosos, cozinheiras demitidas, mães de muitas crianças,
que habitam casarões que permaneceram fechados e foram ocupados há mais de duas
décadas. Suas relações se mantêm ao compartilharem o mesmo espaço social na
cidade, trocam favores e afetos, compartilham trabalho e cachaça, estabelecem
relações de compadrio, numa noção de familiaridade mais que de família.
O risco é vivido cotidianamente, posto que nessa cidade outros poderes
territorializam o espaço. Nos morros, soldados do tráfico de substâncias cuja
comercialização é considerada crime pelo estado, impõem zonas de circulação
permitida ou proibida, assim se formam as áreas controladas por esta ou aquela
facção, ou pela milícia oriunda das polícias, que cobra por serviços clandestinos como
“gatos” de televisões a cabo, água e luz, e, disputam em tiroteios o controle da área. A
praça é espaço de visibilidade e controle de uma das facções. Algumas imagens ali
são proibidas. Esta etnografia inicia sua tomada de posição a partir do espaço da Praça
da Cantareira, em Niterói, tal como vivido pelos personagens que a habitam noite e
dia, seus moradores, e, daí, seguimos aos outros espaços de vida e relações
estabelecidas a partir das construções daqueles que fazem dessa posição o seu ponto
de vista: ocupações, favelas, cortiços.8
No site Cartografias da Margem vislumbramos redes de socialidade que
estruturam relações. Experimentamos modos de desessencializar o outro, sem
pressupor uma “cultura” que prescreve, observar a posição de quem age, como e por
que age e em que contexto. Estudamos suas redes de relações, assim a vida social se
mostra em ação a partir de posições que jogam entre si. Mas o problema da
visibilidade se configura de modo particular na pesquisa etnográfica, trata-se de
assumir o ponto de vista daqueles que vivem as histórias, assumir seus lugares na
cidade.
Tal pesquisa lida com as formas sensíveis com as quais interagimos, que se
experimentam com o corpo, linguagens a apreender. Mas, como incorporar na escrita
a sensação dos becos e vielas da favela (OPIPARI, 2011), como se a arquitetura
prescrevesse a ginga como apontou Oiticica (BERENSTEIN, 2014)? Para lidar com o
desafio de uma cartografia que apreenda o movimento dos processos sociais de
reterritorialização e desterritorialização que estão em curso, de permanente
reinvenção de táticas de ocupação da cidade pelas classes trabalhadoras,
experimentamos linguagens e narrativas, aqui a abordagem etnobiográfica como
dispositivo contrasta com a performance dos corpos que falam por si sós. Discutimos
a criação de uma linguagem etnográfica em multimídia para aprofundar o
experimento de criação de base na rede mundial de computadores, ao passo que
justamente visibilizamos o personagem dos processos sociais imerso em suas
questões.
No texto, o recurso à imagem concretiza, contraria, difere. Aqui, narro casos
constituindo figuras, discuto o paradoxo da imagem enquanto representação, presença
e fantasma. Apresento dípticos e trípticos, sequências fotográficas que dialogam com
o texto por contraste, antecipação ou enviesamento. Mas, os sujeitos eles mesmos

8 Situo com maiores detalhes o contexto do recorte etnográfico dessa investigação em Ferraz (2012).
produzem suas performances, quando encenam a cidade tal como experimentada para
a câmera.

O mosaico como interface

A interface adotada como primeira tela da estrutura composta de hiperlinks é um


mosaico construído pela equipe do projeto.9 Para dar a ver a fisicalidade do espaço,
optamos por uma imagem-base, um plano geral em plongée que visibiliza a Praça da
Cantareira e as vias no seu entorno, espaços de trajetos, de ocupações diversas, por
inúmeros sujeitos. As inserções que foram sobrepostas a essa imagem-base são planos
de detalhe de lugares, objetos ou pessoas, que assumem a função de links para outros
territórios. O dispositivo imagem-base com interferências compõe um plano sobre o
qual se inserem os caminhos seguidos pela pesquisa. Apresento a seguir a imagem em
elaboração para a interface de hiperlinks digitais. A seguir, discuto os dispositivos que
elaborei em cada uma das situações estudadas e as apresento em texto. No site, as
sequências de imagens sucedem-se e convivem lado a lado com os sons captados que
compõem as paisagens sonoras de quem vive uma posição específica. Lugares de vida
e dispositivos de imagem, de narrativas e de performance. Os pontos no mapa como
hiperlinks conduzem a outros vídeos ou sequências fotográficas e sonoras. O ponto já
é um deslocamento no tempo e não há cronologia, somente o tempo retomado pelas
narrativas, quando são biográficas. Na imagem inicial, os links restituem as
experiências que encontramos. A interface localiza trajetos, áreas de ocupação.

9 Agradeço a todos os jovens pesquisadores que participaram das distintas fases projeto Cartografias da
Margem na Universidade Federal Fluminense, entre os anos de 2012 e 2015: Adriana Xerez, Pedro de
Andrea Gradella, João Inácio Cardoso Rocha, Jeisse Alvares, Pedro Ivo Mira da Silva, Caroline Gatti,
Diogo Campos do Santos, Vinícius Rocha do Nascimento, Giulia de Vito Nunes Rodrigues, Raylane
Christian Braz de Oliveira, Renata Carvalho Rodrigues Souza, Ícaro Torres e Josep Juan Segarra.
!
Cartografias da Margem. Mosaico em esboço para interface clicável.
Trabalho em processo.

A imagem invisível

A única condição de visibilidade é habitar o mapa, sentar nos bancos da praça a ouvir
histórias, ver performances, interagir. A cidade vivida por nossos interlocutores é
voraz. Compartilhar a crítica é o que torna possível assumir a posição de onde se vê a
cidade. Um engajamento algo mais material, alimentá-los era a troca que alguns me
exigiam. Encontrar em mim a atenção à vida necessária para me relacionar com meus
interlocutores. Em campo a restituição da imagem se dá no cotidiano da relação com
os sujeitos. A restituição da pesquisa, na Praça, se deu pelo visionamento das imagens
gravadas, primeiro em telas de notebook, depois em exibições na praça e a devolução
do material bruto em DVD para visionamento doméstico, estas foram práticas que
foram construindo a possibilidade da relação com o grupo. Dialogando com os
sujeitos e acompanhando os seus deslocamentos ao longo de anos, os dispositivos
utilizados foram muitos: coabitar os bancos da praça, ouvindo depoimentos, gravar a
preparação de um almoço na praça, realizar oficinas de stencil na ocupação, oficina de
fotografia na sede da associação de moradores no morro, oficina de vídeo com jogos
teatrais, realização de entrevistas em casa, colher depoimentos coletivos nas áreas
internas das ocupações. Visitar edifícios e instituições antes habitadas.

A casa (invisível) de Maria

Morando na praça

Aos fins de semana, desde cedo, Maria está na arrecadação de mantimentos, com seus
companheiros para a hora do almoço. Tomando sol nos bancos da Praça, conversa
com os conhecidos, compartilhando a cachaça. Arruma uma fogueira com lascas de
tábuas, gravetos, dois tijolos e uma grelha fazem o fogão, em volta dele se fica
conversando.

Morando no Paço da Pátria

Cláudio [companheiro de Maria]: Um quarto com barata, rato e mofo, não dá pra ficar
lá. Só pagamos pra deixar as coisas. Aqui na Praça é melhor, no domingo fazemos o
almoço na praia.

O Fluminense

Na manhã de domingo, o jornal O Fluminense estampa a fotografia de nossa


interlocutora na capa: a imagem de Maria com o filho no colo, sendo confrontada por
dois policiais. Dentro do jornal, ela aparece algemada e o filho no colo do policial.
Encontro Maria deitada no asfalto amamentando seu filho sob um lençol. Os seus
amigos que me indicaram onde ela estava, disseram que ela mal dormira à noite. Dali
a pouco ela se levanta, pergunto o que houve, ela, transfigurada, range os dentes,
falando uma língua que nem sempre compreendo. O menino não larga de seu seio.
Comem animadamente o feijão preto cozido que eu trouxera, ela tira do carrinho de
supermercado estacionado na calçada uma sacolinha plástica cheia de pães. Mostro o
jornal, ela não o tinha visto. Transtornada ela acusa o policial de tê-la algemado,
enquanto o outro pegava o seu filho. Os moradores da ocupação e os pequenos
comerciantes da rua intervêm em seu favor. Os policiais perguntam o endereço dela,
os vizinhos dizem que ela mora no 17. Eles a soltam.

Morando no 17

Mais de um ano depois, Maria herda do pai de sua primeira filha uma casa na
ocupação. Antes de engravidar e dar à luz a Silas, filho de Cláudio, ela morava lá.
Assim ela deixa a Praça e o quarto no Paço da Pátria, para voltar a morar no 17.

Início da noite

Praça da Cantareira, sexta-feira. Muito movimento de estudantes, algumas pessoas


vendem cerveja com seus isopores. Maria conversa com sua vizinha. Quando ela me
vê, me puxa para o canto da banca de jornal, sentamos no canteiro da Praça, ela com o
filho no colo. Ela: Eu estava lembrando da minha casa, onde eu cresci, casa do meu
pai. Quartos com camas e travesseiros, uma sala ampla com sofá. Mas tinha ela, a
desgraçada da minha irmã, que ia namorar na rua e falava que os namorados eram
meus. Meu pai me batia. Se eu encontro ela... Na casa dele tinha uma cozinha com
geladeira, cheia de comida. Na casa de meu pai. Foi por causa dela que eu saí de lá.
[nervosa]. Eu: “Lembrar dessa história não está te fazendo bem”. Ela se acalma e o
filho a abraça, entre sonolento e atento.

Direito à maternidade

Caridoso, o professor Augusto tira os documentos de toda a família, a mãe, o pai e o


filho, de cinco anos. Ele apadrinhou o menino, levando-o para morar com a irmã mais
velha, que tinha outros dois filhos. Afinal, “todos sabem, a rua não é lugar pra
criança”. Sem o menino, o casal começa a brigar e vai se distanciando. Com ciúmes
do pai de seu filho, ela o fura com a boca de uma garrafa. Ele se muda. Um tempo
depois, tem um ataque cardíaco. Professor Augusto interna Carlos no hospital.
Recuperado do problema, vai morar na casa de sua mãe adotiva, em Icaraí. O menino
volta a morar em Niterói, seu padrinho o matriculou na escola pública, Cláudio o leva
e o traz para Maria, diariamente, na ocupação do 17, onde é agora a sua casa.

! ! !
Foto: Ana Lúcia Ferraz

A ruína do casarão antigo se aprofunda no terreno, emendados a ela seguem


barracos de alvenaria e Eternit, escadas e vielas. Pelos fundos da área construída,
pátios integram casas, criando espaços de convivência, um lugar para sentar-se e
trocar ideias entre iguais, por ali se chega à trilha, um caminho distante do asfalto.
Outras vias não mapeadas se fazem a cada dia, nos trajetos e desvios que a vida
experimenta.

Fotos: Vinícius Rocha do Nascimento

Cine 94

A mostra de filmes na sede da Associação de Moradores, realizada durante o segundo


semestre de 2014, foi frequentada por jovens moradores do morro do 94 e da região
que tem entre seis e dezoito anos. A seleção dos filmes, que partiu do gosto dos
jovens, priorizou linhas temáticas que se dividem entre a violência institucionalizada
em torno do tráfico de drogas e uma outra linha com funk, gravidez; muitas
animações foram exibidas.
No semestre seguinte, iniciaram-se as oficinas de vídeo, com encontros às
sextas-feiras no fim da tarde. O grupo é majoritariamente frequentado por meninos, as
meninas comparecem menos aos encontros. Além dos vários moradores do 94 de
todas as idades, frequentam os encontros os primos Enrico e Roberto, moradores da
Rua Projetada, localizada atrás do muro que separa a Universidade do bairro. Eles
trabalham na barraca de doces e cigarros dos pais de Roberto, localizada na porta da
Universidade; repõem um espaço de contato com a diferença na Oficina, o que repete
suas diferenças construídas no espaço da escola pelo fato de serem migrantes
nordestinos. Espaços de diferenciação entre os jovens se repõem a cada instante: os
que formam grupos que se impõem pela força e aqueles que não se identificam com
esta prática, isolados, divergem. A oficina acolhe todas as diferenças.
O enredo do filme realizado na Oficina de vídeo apresenta três amigos de
infância que crescem juntos, enfrentando os distintos caminhos que se abrem para os
jovens.

A gravação da cena do assalto

Luciano sugere que encenássemos na rua a cena do assalto. Eu seria a assaltada, ele e
Téo, os assaltantes. A cena é simples, os meninos vêm pela rua correndo, na direção
da moça que caminha com a bolsa no ombro. Os meninos sacam a bolsa do ombro da
passante.
A avó do menino persegue Luciano até a rua, toma dele relógio, boné e o
vigia. Ele dirige a performance na cena do assalto. Ela comenta que essa cena não é
boa. João Marcelo comenta que este não pode ser o começo do filme. A câmera passa
de mão em mão para verem o que foi gravado. No dia seguinte cedo, apagam as
sequências do assalto e gravam as sequências do jogo de futebol.
Na porta do morro o grupo de jovens assedia os passantes, estudantes,
moradores do bairro... A avó do menino, furiosa, avança em Luciano e o corrige
imediatamente: “Você não pode provocar as pessoas assim. Quando chegar em casa,
você sabe que o coro vai comer”. A Comunidade sabe o que pode a imagem e,
exaustos de serem discriminados, velam a cena em que suas crianças repetem a
imagem do “infrator”, enquanto representação social instituída. Podemos afirmar a
existência de um controle social da imagem que se aprofunda. A cena do assalto foi
velada; encontramos novamente o irrepresentável.

! !
Fotos: Ícaro Torres

A cena

O jovem João Marcelo, de onze anos, sugere uma cena como história para um filme.
Um mês depois, encenamos a história:
O Jovem trabalha no MacDonald’s, sob o olhar de seu gerente.
Compadecendo-se de um morador de rua, atende o seu pedido, dando a ele um
sanduíche. O gerente vê e o repreende: Não sei se te demito agora ou se faço você
pagar. [Pensa]. Você está demitido. Um tempo depois, o jovem trabalhador está ao
lado do morador de rua, pedindo ajuda assim como ele.
Pergunto ao grupo, que se constituiu como plateia, se algum deles gostaria de
estar no lugar de algum personagem para tentar dar um outro final a esta história.
Tentamos quatro vezes, mas o fim da história sempre se repete. Roberto (morador da
Rua Projetada) fala para o jovem demitido: “É o meu sustento, não estou aqui fazendo
caridade”. Para ele este é um argumento irrecusável. Surge uma proposta para a cena
seguinte. O gerente, passeando com seu filho é assaltado e fica sem nada, pede
dinheiro àquele que demitira e obtém um não. Cápsulas de moral. A questão das
condições de reprodução da vida colocada às classes trabalhadoras põe a necessidade
de comprometer-se com o bem-estar do outro. A história que se repete tira os meninos
do jogo. Eles se sabem em um mundo social injusto, e não vacilam ante a
possibilidade de fazer justiça com as próprias mãos.
A encenação, neste caso, opera no sentido de constituir em imagem o tema-
problema do grupo. Como disse Didi-Huberman, o simbólico e o sintomático que
vivem às margens da imagem emergem onde nem se espera. As imagens são
produzidas valendo-se de diversos dispositivos. Os hiperlinks carregam a densidade
da imagem lá onde ela é caminho para encontrarmos novos olhares desde onde mirar
a cidade.

In-conclusões necessárias

O desafio de cartografar a cidade tal como experimentada desde a sua margem nos
levou a adotar o hipertexto como linguagem. Esta solução baseou-se no modo como a
etnografia de variados espaços de vida e moradia pelos quais nos conduziam nossos
interlocutores seus moradores, foi produzindo uma multiplicidade de abordagens
diferenciadas que demandavam suportes, meios e recursos variados.
Da escuta atenta das histórias de vida dos senhores trabalhadores aposentados
que oferecem à handycam suas narrativas, à fisicalidade da performance dos jovens
na atividade da “viração”, todos moradores de rua, à produção de almoços em que se
observa uma socialidade da rua que se constitui em torno do compartilhar comida,
cachaça e pedra, inúmeros foram os recursos adotados. Tantos quantos os pontos de
vista que, ao diferirem uns dos outros, nos apresentam suas múltiplas posições. Este é
o primeiro achado do trabalho: na margem só há diferir.
Em torno do problema da (in)visibilidade das classes trabalhadoras
precarizadas e da concomitante afirmação por parte de um discurso hegemônico de
sua abjeção, temos a reprodução do lugar da margem para as enormes minorias que
vivem a cidade à pé. Na rua velaram as minhas imagens, mostrar o invisível foi
impossível. Um tapa na lente está gravado. Ocultar a centralidade do negócio do
tráfico de drogas consideradas ilícitas para a reprodução da ordem atual é o dado
estruturado em nossa sociedade.
Subindo o morro, conhecer a casa própria lograda ao longo de décadas de
autoconstrução e, mais uma vez, a “viração” como atividade nômade, ambulante.
Aqui o vídeo é o meio e o depoimento, o registro da fala. A fotografia também é
muito bem-vinda, quase dádiva que funda relações. Os morros se conectam uns aos
outros, são caminhos pedestres que só se conhece se seguimos a trilha dos que
palmilham a cidade.
Depois, a ocupação de mulheres que ofereciam à pesquisa o seu coletivo
constituído ao logo de trajetórias de violência institucional: formar meninas para o
trabalho doméstico, todas mães. Ouvir os seus depoimentos, pintar fachadas e
interiores, atualizar memórias que constituem a despeito de todas as diferenças, um
outro ponto de vista, este o mais frágil, por se afirmar político em terra de controle
armado. Outro universo ainda seria o do coabitar a ocupação em que há proprietário,
imposto e favor obrigatório. Distinta de todas essas posições é a performance juvenil
que encena a potência do constituir-se como bando para enfrentar o olhar hegemônico
que os faz minoritários.
Retomar tais posições e reuni-las como série em uma plataforma de
experiências da cidade invisível assim como vivida pelas grandes minorias, foi o
desafio que enfrentamos.
Alguns problemas se colocam para tal cartografia: a questão da escala. Da
invisibilidade panorâmica que vê a casa e a rua, buscamos a profundidade de campo
que localiza detalhes fora de foco: corredores, vielas, passagens, escadas, caminhos
que conduzem a espaços menores. Quartos-casa de abrigam grupos, além do grupo, a
pessoa, seus modos, suas construções. A abordagem monadológica, aquela que nota
que é sempre possível ver mais de perto, é a que a solução hipermidiática vai
configurando. No rosto, o caminho traçado pelas rugas atualiza a história.
Outro problema colocado pela proposição cartográfica seria a questão da
projeção – adotar um eixo, um centro – aqui seria inviável, posto que cada
experiência difere fortemente das outras, a despeito de qualquer pretensão identitária.
Na margem não há centro, mas cada espaço tem a sua ordem quando se o habita desde
dentro.
A relação tempo e espaço se reconfigura não linearmente, mas redefinindo o
espaço segundo a sua apropriação, num tempo cíclico do amanhecer, entardecer,
anoitecer e vem a madrugada e assim sucessivamente. O mapa põe também o
problema da simbolização, mas aqui estamos num espaço antes de o código ter seu
sentido fechado; ao contrário, o sentido de faz na sua relação com o ponto que é ponto
de vista.
Cartografias da margem como hipermídia compõem séries de diferentes
caminhos para conhecer a cidade invisível. Como Glowzcewski (2007) sublinha, os
hiperlinks estão nas narrativas aborígenes que a autora produz em seu Yapa. Aqui a
cidade, ela própria se reconfigura como hipertexto que contém retratos e paisagens,
música e ruído, narrativas e performances em mosaico.

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Yapa: pistes de reves. Barbara Glowzcewski. 2005. DVDROM.

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