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Estudo Dirigido

Alunas: Ana Carolina França, Denise Oliveira Gama, Cintia Faria e Yana Findlay.

Questão 1.

Segundo o texto, o próprio nascer significa deparar-se com uma crise devido ao
rompimento com todas as suas “certezas” e a inércia presente no útero. Sendo a crise, então,
vista como “uma das vivências mais originais do ser humano, senão a mais original.” (SOUZA,
2003, p.29) Essa, é aqui vista e interpretada também como um momento de tensão e decisão,
e não como um momento de catástrofe absoluta. Significa romper como uma lógica pré-
existente e a adequação ao momento presente, em um sentido de construção para o futuro.
Sendo assim, a crise é colocada como um momento de ruptura da temporalidade,
propiciando a separação e a tomada de decisão. Essa, gera um trabalho que pode vir a
movimentar a dimensão criadora. Nesse sentido, impulsionando o sujeito ao movimento.
Segundo o autor, “a vida é uma crise constante, uma permanente crise de crescimento”. Ao
negar-se a crise, nega-se também possibilidades para a própria vida.
O sujeito, se relaciona com o mundo e consequentemente está inserido na sua própria
história. Ou seja, é um processo de percepção que se dá a partir de um desdobramento
temporal, que são modos de nascimento do fenômeno. Esse, irá surgir- aparecer diante da
configuração temporal. E é a partir da percepção do espaço-temporal: aqui-agora, que este
fenômeno se dará.
O autor coloca que aquilo que nós somos enquanto seres humanos é a própria
temporalidade, sendo a nossa existência a própria existência da temporalidade também. Essa
se dá como expectativa e cumprimento de expectativa auxiliando na quebra da
“simultaneidade”.
Como exemplo, o término de um relacionamento de longa data que gera uma ruptura
em uma condição anteriormente constante-rotineira. Nesse momento, é preciso se recolocar
diante da crise para que torne-se viável um distanciamento, separação de ideias e a tomada de
decisão. Sendo possível, dessa forma, a articulação de novos sentidos e a mudança, a partir
do recolocamento no tempo e espaço.

Questão 2.
Quando se faz um filosofar preocupado demais em se justificar seus passos e
caminhos, é posto como medíocre. Essa configuração nega o verdadeiro ato de filosofar, em
que se guia pela inquietude da dúvida e incerteza.
A criança tem a habilidade e característica de impressionar-se facilmente. Ela possui
essa inquietação da existência, nata da constituição do filosofar. Crianças são pequenos
filósofos pela sua curiosidade perante o mundo e não viver com verdades absolutas já
consolidadas. É aquela fase conhecida como “porquês”, se indagando e questionando a tudo.
Tudo a elas é novo, o mundo é uma imensidão a se explorar. Elas vivem o novo
acompanhados de medos e inseguranças. O novo causa esse desconforto de não sabermos
onde estamos pisando. É estar vivendo no imprevisível.
A curiosidade aguda, se bem fomentada na infância, torna no futuro os filósofos
maduros. Entretanto, a curiosidade é algo vulnerável que, diante de certos adultos, pode não
ser bem recebida e assim estes fazerem a criança ver que sua curiosidade não é bem vinda. E
aí está a primeira ameaça de morte à filosofia. Extinguir esse instinto curioso. A aceitabilidade
social domestica muitas vezes a inteligência inquieta, matando a capacidade criativa e
inventiva do humano. Faz-se então a primeira possível morte do filosofar quando se reprimem
as crianças, fazendo-as crer ser um problema seu excesso de energia. Inclusive, excesso já
traz essa ideia de ser um problema e não uma qualidade. E então, ao invés de se incentivar
esses impulsos questionantes de forma saudável, passa a se preocupar no escoamento deles.
O convencionalismo social e a mediocridade transformam a curiosidade pela realidade em algo
inconveniente.
A adolescência é demarcada por ser um tempo de contrastes, de surgimento de
questões existenciais. Isso culmina em uma emersão de profundas inquietações filosóficas. O
adolescente vive crises, uma fase de redescobrimento. É um momento de alta incidência de
suicídios. É um tempo extremo, em que os que conseguem passar pelas crises que pareciam
insuportáveis, desabrocham seus conhecimentos.
Os adolescentes se vêem no desejo de revolucionar a realidade apática em que se
encontram. Diferente das crianças que se submetem à autoridade dos adultos e
consequentemente dos costumes da sociedade, eles são ousados tendo o mínimo de
autonomia para criar essas pequenas revoluções que rompem com a realidade. Abrem espaço
para o novo e o inusitado mais uma vez.
A sociedade logo assume como problema essa potência criativa jovem, considerando-a
destrutiva ou inconsequente. E assim, o adolescente é posto a adequar-se nas normas que
reprimem suas reais energias aflorarem. E essa seria a segunda ameaça de morte do filosofar.
A transição para a fase adulta é como uma mortificação dessa revolução adolescente, fazendo
o indivíduo aceitar que precisa corresponder às expectativas sociais que lhe são impostas.
Aqueles que não se adequam e decidem alimentar essas inquietudes criativas, acabam sendo
rotulados de forma patológica como desviantes.
A adequação social produz padrões comportamentais no indivíduo, que cumprem
certa expectativa da sociedade. Ela faz com que vivemos de maneira automática, buscando
sobreviver às incertezas sem de fato enfrentá-las (não se questiona, supera aceitando-a). Se
acomodando nas normas e vivendo um pragmatismo da rotina. As tarefas do dia-a-dia nos
tomam tempo e energias de maneira que não se sobra para questionar a realidade.
Souza traz a questão de estarmos hoje no contemporâneo dentro de um sistema que
fazemos parte de um todo e assim o processo de funcionamento desse todo se perde à nós, se
tornando distante demais para sabermos mais além do que nos cabe fazer. Fazemos uma
pequena parcela do processo e não temos assim conhecimento de como o todo se torna todo
no fim das contas. Como é mostrado no filme Tempos Modernos.
Quando uma crise surge diante de nós, nos faz repensar sobre a rotina em que antes
nos encontrávamos. Pois ela demanda uma reestruturação de ser no mundo. Entretanto, o
indivíduo pode se recusar a enfrentar essa demanda, sofrendo a tentação de se forçar a se
manter na normalidade de antes. Essa talvez seja a última chance de se filosofar na sua vida,
que novamente pode vir a ser desperdiçada ao aceitar sucumbir à realidade sem questioná-
la mais uma vez. E assim se concretizará a terceira ameaça de morte do filosofar.

O discurso político atual, por exemplo que auxiliou a eleger o presidente vigente do país
se embasou em uma distorção do conceito de verdade. Na qual, mesmo tendo acesso à
informações de fontes confiáveis, o que importava era o conteúdo do discurso do candidato tido
como verdade. Seus eleitores se fecharam a isso, sentidos foram congelados e tudo que
divergia do que tinham como a sua crença, era automaticamente desconsiderado. Sendo
assim, tomando para si verdades absolutas dentro do que seu próprio conceito de verdade
estava inserido.
O conteúdo religioso do seu discurso reafirmava dogmas e paradigmas religiosos
(morais sociais) fielmente seguidos. Dogmas esses construídos com fim de de fato doutrinar
essas pessoas, sendo essas partes do convencionalismo. O próprio discurso político e religioso
não abria espaço para diálogos, divergências e questionamentos.
A partir disso, a adequação social surgiu em busca de uma adaptação a esses padrões
e normas a serem seguidas. Por exemplo, a própria cura gay, que pressupõe uma adequação
normativa. Commented [1]: corrigir o exemplo alinhando à
discussão acima
Poderíamos pensar, por exemplo, a criança enquanto esse lugar de espontaneidade, cujas
forças de adequação e normatização ainda não sobrepujaram sua capacidade de criação, sua
abertura ao inesperado e sua capacidade de questionar as verdades que são dadas como
absolutas. É preciso valorizar essa capacidade de questionar e criar, de não aceitar as coisas
como naturais, de ter essa curiosidade em torno de um mundo que sempre surpreende, o que
significa também: é preciso valorizar a infância, justamente porque o mundo para a criança é
sempre uma descoberta.

Questão 3.

Nós vivemos em um mundo opressivo, em que a rotina torna a vida maçante e


automática, sem espaço para questionamentos. A filosofia serve para quebrarmos esse
automatismo adoecedor e trazer esse espaço de dúvidas que antes não se era possível de se
configurar. A crise do sentido vem como uma ameaça à nossa vida rotineira, um trauma que
rompe a lógica em que vivíamos até então. O futuro que antes se tinha projeções do passado,
passa a ser convocado para o campo do presente tentando preencher um vácuo que essa
ruptura deixa. A crise tira o respectivo chão, a base, exige que nos reconstituamos no mundo
de novo. Precisamos nos reinventar e recriar a partir do que sobrou da vida anterior ao trauma.
Segundo Souza, a crise aponta para uma separação do que era vivido, e talvez por isso
cômodo, para uma tensão decisiva de algo novo. Ao citar a gestação e nascimento como
exemplo de desenrolar de crise, Souza, reflete sobre a expectativa de crise como algo maior
mas não impossível ou traumático, como é o uso banal da palavra crise. Crise, poderia dentro
da perspectiva, ser traduzido por potência. A potência da crise leva a descoberta de novos
modos de vivenciar nossas experiências, ou seja, damos rumos novos a nossa vida.
A separação do conhecido diante ante de um quadro desconhecido, leva ao primeiro
momento a confusão causado pela angústia, de um evento antagônico a nossa experiência
presente. Logo, usamos a palavra crise banalizada: crise = problemas + traumas medos.
Esses sentimentos são vividos quase que automaticamente diante de algo novo e inesperado.
O óbvio, nos dirá que crise é algo ruim e que deu errado. Ele não se admira com coisa
alguma, pois acredita-se que nada é novo, tudo está estabelecido e dado. Não há inquietação.
E sim um caminho prontamente estabelecido, um ciclo de nascer, crescer e morrer sem entre
linhas. O óbvio é posto no texto de Souza como esse automático da vida. O óbvio, então, não
demanda reflexões. Logo, podemos associar que o romper com o óbvio seria esse evento de
crise, em que chacoalha a vida e nos faz reestruturarmos. O rompimento do óbvio é, assim
também, o caminhar para o pensamento filosófico. É poder se questionar de novo, se permitir
ao novo mais uma vez. Não só permitir, mas estar diante do novo.
As estruturas automáticas da vida estão presentes por exemplo nos hábitos, em que
nos encontramos condicionados a atos e ações agora conduzidos tão no automático que não
se reflete e pensa mais em como se executa. Flui e acontece sem o esforço de se pensar
sobre. Frases machistas, por exemplo, que reproduzia na minha pré-adolescência eram
estruturas automáticas, em que eu apenas repetia sem saber de onde veio e o que diziam mais
profundamente. Hoje com minha trajetória de vida e oportunidades de poder me contemplar
sobre essas questões, consigo repensar, criticar e questioná-las. Consigo estar em um
processo contínuo de desconstrução dos antes óbvios e automáticos vícios e armadilhas
patriarcais que entranham nas falas da nossa sociedade. Entram em lugares cômodos que não
se questiona sobre, tornando-se normas disciplinares sobre o corpo feminino.
Um outro exemplo sobre estruturas automáticas, de como as definições de vida
estabelecidas, são as normas relacionais e sociais. Para ser uma pessoa completa e
“saudável” a mulher deve se casar e ter filhos, uma vez casada e com filhos, alguns eventos
são proibidos como viajar a passeio sozinha,sair com amigas solteiras em finais de semana.
Essa obviedade é antiga mas, muito presente ainda nos dias de hoje. A vulnerabilidade dessa
regra cultural e social não tem curiosidade para refletir que os papéis desempenhados pela
mulher, não são sua totalidade que é plural, fluida e mutável.

Questão 4.

A denominação de crítica, segundo Souza, segue a mesma reflexão da palavra crise.


Ou seja,o termo é usado em sua potência de mudanças. A crítica serviria para balançar a
estrutura da obviedade, mobilizar e efetivar forças criadoras. Tornar algo construtivo, sendo ela
“a mobilização e efetivação das forças criadoras e transformadoras que habitam o núcleo da
crise”. (SOUZA, 2003, p.70)
A crise de convicção, segundo o texto, seria a circunscrição em inúmeras obviedades
que se sobrepunham, sendo esse constructo de obviedades falso. Esse constructo, que é dado
como natural, não consegue envolver as questões de legitimidade acerca da sua própria
autolegitimação. Uma crise de convicção possível seria acerca da religiosidade, por exemplo.
Até que ponto se acredita em algo porque foi-se criado acreditando e escutando dado como
verdade e até que ponto é uma convicção pessoal e interna, de fato? Colocando-se assim, em
um questionamento acerca dos automatismos.
Uma possível forma de lidar com tal crise é tentar compreender até que ponto se está
alinhado à tais convicções, e fazer uma autocrítica e auto-reflexão. Estudar, pesquisar e
entender se é de fato algo que se acredita ou que se é imposto.
A crítica filosófica procura não se fechar em torno do evento ocorrido, mas caminhar a
partir de uma visão de algo a ser construído em um espaço adverso. Questionar os
acontecimentos que me cercam, sem fazer uso do julgamento externo, mas a partir de mim,
seria sair da obviedade. Um exemplo, pode ser as redes sociais, onde hoje parece que tudo se
resolve através dela. Criticar essa construção, poderia ser deixar o encontro virtual para o
encontro físico, sem que o celular esteja à mão. Ou fazer a própria síntese de um livro, abrindo
mão de uma opinião fechada.
A filosofia se encarrega de tentar questionar o óbvio, não transformar um espectro total
da realidade em realidade em si. Pensar uma estrutura de compreensão e não de definição. A
própria desconstrução da obviedade vista pela filosofia pode ser analisada enquanto uma
transformação da “crise”, responsável por originar a inquietação e a procura em crítica. A
filosofia sem autocrítica é uma auto-negação. É preciso que haja para exercer a crítica,
segundo o texto, a percepção de uma pluralidade de perspectivas possíveis acerca da
realidade e a possibilidade de diálogo com outras dimensões do conhecimento e, por fim, tomar
como referência o que se faz com a teoria, para além da sua criação.

Referência Bibliográfica:

SOUZA, R. T. de. Sobre a construção do sentido: O pensar e o agir entre a vida e a filosofia.
Editora Perspectiva. São Paulo. 2003.

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