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Texto 5363c721f2664
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RESUMO
Para Marx o início da utilização do trabalho das mulheres pelo capitalista foi
facilitado pela introdução da maquinaria que, segundo ele, permitia o emprego de
trabalhadores sem força muscular. À época, as mulheres eram consideradas
parcialmente capazes do ponto de vista jurídico. O olhar sobre as mulheres é o
olhar sobre seres indefesos e incapazes, dos quais o capitalista se aproveita para
diminuir os salários dos homens adultos, roubar-lhes o trabalho e aumentar os
lucros. Diz Marx: “Antes, o trabalhador vendia o trabalho do qual dispunha
formalmente como pessoa livre. Agora vende mulher e filhos. Torna-se traficante
de escravos (Marx)1[1]”.
1
O fato das mulheres afastarem-se de seu lugar “natural” – o lar - é tido como uma
degradação moral, ocasionada pela exploração capitalista. A presença
predominante de mulheres e crianças no trabalho nas indústrias recém-
mecanizadas é tida também como um determinante da quebra da resistência que
o trabalhador masculino opunha ao despotismo do capital na manufatura.
A noção de divisão sexual do trabalho, tem sido uma importante categoria para a
compreensão do processo de constituição das práticas sociais a partir de uma
base material. O uso de práticas sociais aqui é usado como uma noção
indispensável que permite a passagem do abstrato ao concreto; poder pensar
simultaneamente o material e o simbólico; restituir aos atores sociais o sentido de
suas práticas, para que o sentido não seja dado de fora por puro determinismo
(Kergoat,1996).
Para Bruschini (1998), esta definição social dos papeis masculinos e femininos no
âmbito da família têm conseqüências diferenciais sobre um e outro sexo, em sua
participação no mercado de trabalho. Para a autora a constante necessidade de
articular papéis familiares e profissionais limita a disponibilidade das mulheres
para o trabalho, e essa disponibilidade não depende apenas da demanda do
mercado e das suas qualificações para atendê-la, mas decorre de uma complexa
combinação de características pessoais e arranjos no âmbito doméstico.
2
O modelo ainda não se dá de forma homogênea. Sua penetração varia
significativamente de um setor para outro, de acordo com o modo de inserção na
economia mundial, e se a mão de obra é masculina ou feminina.
Convém assinalar que Harvey (1992) não compactua com a posição de que a
acumulação flexível já é totalmente hegemônica e possua elementos novos que
rompem com antigos paradigmas da acumulação capitalista. Para ele a
acumulação flexível deve ser considerada uma combinação particular e, quem
sabe, nova de elementos primordialmente antigos no âmbito da lógica geral da
acumulação do capital.
Ainda para Harvey (1992), mesmo com a diminuição do poder sindical, reduzindo
o poder dos trabalhadores brancos do sexo masculino do setor monopolista, não é
verdade que os excluídos desses mercados de trabalho - negros, mulheres,
minorias étnicas de todo tipo - tenham adquirido uma súbita paridade, exceto no
sentido de que muitos operários homens e brancos tradicionalmente privilegiados,
foram marginalizados unindo-se aos excluídos.3[3]
3
Abramo (1998), considera que uma série de estudos empíricos realizados na
América Latina parece indicar que o novo modelo de flexibilização, para as
mulheres, passa pela utilização intensiva de formas de emprego precárias, como
contratos de curta duração, empregos em tempo parcial e/ou trabalho em
domicilio. A autora chama a atenção para uma das formas como se manifesta
esse fenômeno, que é a concentração da presença feminina no que ela chama
empresas “mão” dos novos encadeamentos produtivos, ou seja, aquelas onde
predomina o trabalho instável, pouco qualificado e mal pago, em oposição às
empresas “cabeça”, na qual se concentraria o trabalho mais bem qualificado, mais
estável e melhor remunerado.
A autora utiliza a análise das cadeias produtivas 4[4], porquanto essa perspectiva
evidencia a presença feminina nos processos produtivos e, mais do que isso,
contribui para esclarecer o sentido dessa presença nos atuais processos de
reestruturação. Ajuda a entender, por exemplo, o trabalho em domicilio, ou aquele
realizado nas pequenas oficinas informais, não como esfera separada da
economia e do mercado de trabalho, como força de trabalho secundária, atípica,
marginal e eventual, mas sim como parte de uma cadeia produtiva que têm na
outra ponta empresas formais, modernas, inseridas no mercado internacional.
Essas análises mostram também que, conforme se desloca das empresas-
cabeças para as empresas-mão, observa-se uma progressiva precarização das
condições de emprego e trabalho fortemente marcado pela variável gênero.
O contexto brasileiro
Todo este processo, porém, não modificou o quadro de exclusão social, de baixos
salários, ao contrário, aumentou as desigualdades sociais e a concentração de
4
renda, já que estas transformações se deram nos marcos, já colocados, de uma
nova organização do trabalho e de uma reestruturação produtiva que vem
provocando o declínio de formas protegidas de emprego, o desemprego e o
surgimento de novas alternativas de trabalho, em geral, sem cobertura legal.
Embora tenhamos dado mais destaque aos aspectos que mostram as condições
de precariedade da atividade laboral feminina é importante destacar que houve
um crescimento da presença das mulheres em atividades de maior prestigio e
rendimentos como a arquitetura, a medicina, o direito como mostram pesquisas
recentes de Bruschini (2000 ). Interessa-nos aqui, no entanto, explicitar as
condições em que está a maioria da população feminina no mercado de trabalho.
5
Considerações finais
NOTAS
6
[1] Citação retirada de Marx em “O Capital”, Livro 1, Volume 1, p: 451, Editora
Civilização Brasileira, s/d.
7
[2] Citado por Abreu e Sorj in El Trabajo de Las Mujeres en el Tiempo Glogal p.81-
82.
8
[3] Afirma Hirata (1997) “tarefas que exigem iniciativa, responsabilidade,
conhecimento técnico, foram abertas às mulheres com a introdução da informática
nos serviços ou mesmo no setor industrial: analistas de sistemas, programadoras,
técnicas, etc. Mas tais postos são em número limitado, e preenchidas
majoritariamente, por trabalhadores do sexo masculino. Eles não são propícios ao
6
7
8
exercício da criatividade e autonomia, consideradas essenciais na realização de
novos modelos produtivos”.
9
[4] Terminologia usada por Castillo J.J.& Santos M. e exemplificada a partir de
uma pesquisa realizada por estes autores no complexo produtivo localizado em
Arganda (norte de Madri), Espanha, usada como referencia por Abramo em sua
análise sobre o trabalho feminino. Para maiores detalhes sobre a pesquisa de
Castillo e Santos ver “La Cualificacion Del Trabajo Y Los Distritos Industriales in:
Revista de Economia Y Sociologia Del Trabajo, num. 21-22- Espanha.1993.
10
[5] Maiores detalhes in Bruschini op.cit. Fonte de consulta FIBGE,PNAD, 1995
tabelas 4.27-4.22-4.10
ABSTRACT
The productive rebuilding and the changes that it causes on the market and
organization of the work inside the actual economic globalization environment,
have ben fill analyzed from the point of view of gender differences. However, the
productive rebuilding impacts over the work conditions and health depend on the
gender and the nature of labor.
The new flexible model, for the women, pass through the intensive utilization of
precarious jobs, like temporary job, partial time job and/or domicile work. One of
the ways of manifestation of this phenomenon, is the concentration of women in
companies called "hand" of the news productive chaining (that is, those where the
unstable , low specialized and bad remunerated job, is predominant), in the other
hand of the companies called "head", where there is a concentration of high
specialized, more stable and best remunerated jobs.
Key-words: Sexual Harassment. Gender. Sexuality. Female Work.
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