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1 INTRODUÇÃO
Portanto, no presente estudo, será abordado o direito das mulheres a viverem sem
violência, conforme serão tecidas reflexões analíticas iniciais sobre a Política Nacional de
Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres.
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Disponível em : https://www.cnj.jus.br/processos-de-violencia-domestica-e-feminicidio-crescem-
em2019/#:~:text=O%20Brasil%20terminou%20o%20ano,563%2C7%20mil%20novos%20processos.
Considerando o destacado por Kergoat (2009), onde a autora enfatiza que existe o
pressuposto que as condições em que vivem mulheres e homens são produtos das construções
sociais, ou seja, não são produtos de um destino somente biológico.
Destaca-se que a produção da vida em sociedade é mediada pelo trabalho, assim como
todo sistema produtivo, com destaque ao sistema capitalista, que tem como referência a
divisão desigual e hierárquica do trabalho entre mulheres e homens. Desta forma, pode-se
afirmar que a divisão sexual do trabalho causa materialmente, a exploração dos homens sobre
as mulheres. (CISNE & SANTOS, 2018).
Sendo assim, a família, por sua vez, ocupará uma posição de importância essencial na
reprodução desta divisão sexual do trabalho, e do próprio sistema patriarcal capitalista: ela é
seu “microcosmo” insubstituível de reprodução e consumo. Na obra Para Além do Capital,
István Mészáros, revela que:
Dessa forma, o trabalho doméstico não remunerado, posto junto à família na sociedade
capitalista, sustenta a reprodução da força de trabalho sem ônus ao Estado e ao capital e torna
as mulheres subordinadas aos homens e oprimidas e exploradas pelo capital.
No artigo A Classe Operária tem dois Sexos, as autoras Helena Hirata e Daniele
Kergoat destacam que “na realidade relações de classe e de sexo organizaram a totalidade das
práticas sociais em qualquer lugar que se exerçam, em outras palavras não é só em casa que
se é oprimida nem só na fábrica que se é explorada” (1994, p.96). Portanto, a dinâmica do
modo de produção capitalista vai atribuir às mulheres múltiplas jornadas de trabalho e nesse
sentido, concordamos com Cisne quando afirma que “o incentivo à entrada da mulher no
mercado de trabalho vem assim, no sentido de corresponder às novas exigências advindas das
transformações no mundo do trabalho” (2012, p.124).
Tendo como base essa delimitação histórica e social sobre a condição da mulher na
sociedade capitalista, no item a seguir, buscou-se observar em que medida as políticas
públicas e sociais como expressões da contraditória relação capital versus trabalho, colocadas
na arena social democrata do Estado capitalista, possibilitaram (ou não) a diminuição da
violência contra as mulheres diante da libertação das múltiplas jornadas de trabalho que lhe
foram impostas.
Deve-se ressaltar o papel que cumpre o Estado para esse modo de produção capitalista,
ele (Estado) tem o papel-chave de sustentar a estrutura de classes e as relações desiguais de
produção. (BEHRING & BOSCHETTI, 2011).
Vale lembrar que que o regime capitalista vive crises estruturais e cíclicas em plano
internacional e no artigo Luta Sociais e desafio da Classe Trabalhadora: reafirmar o projeto
profissional do Serviço Social Brasileiro, a assistente social Maria Beatriz Costa Abramides,
pontua:
Fica evidente, assim, que o processo de reestruturação produtiva adotada para retomar
as taxas de lucro para o capital, produzem a ampliação da exploração da força de trabalho dos
trabalhadores, destacamos a condição das mulheres. (IAMAMOTO, 2018).
Desta maneira, toda ausência de uma proteção social pública ao conjunto da classe
trabalhadora colocará a mulher em patamares superiores de opressão exploração e violência,
tanto no espaço doméstico com no espaço público.
Segundo Lisboa (2005, p.201), “o termo violência contra a mulher surge nos anos
1970, através do movimento feminista”. É o movimento feminista que tenciona esse debate
junto à agenda pública e aos Estados nacionais, no sentido de garantir a vida das mulheres.
Saffioti (2015, p.107) destaca que, a cada período histórico observa-se diferenças de
grau no domínio exercido por homens sobre mulheres, ou seja, o sistema patriarcal molda o
modo de viver das mulheres e dos homens em sociedade.
Neste sentido, cabe aqui destacar que o sistema de proteção à mulher vítima de
violência no Brasil, contempla a Lei Maria da Penha, a Lei do Feminicídio e Política Nacional
de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, elaborado e publicado pela Secretaria de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República em 2011, tal política estabelece
conceitos, princípios, diretrizes e ações de prevenção e combate à violência contra as
mulheres no âmbito doméstico.
Assim, define-se aqui que o Estado Brasileiro incluiu na sua agenda pública o
problema da violência contra mulher, em destaque a violência desencadeada no espaço
doméstico e familiar, somente após a luta do movimento feminista e a imposição dos
organismos e órgão internacionais. Ou seja, não foi suficiente ao Estado brasileiro a violência
cometida contra apenas uma mulher para tomar ações de combate à violência via políticas
sociais.
Uma Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres foi criada em 2003, com o
intuito de ser responsável por formular e coordenar políticas públicas para as mulheres.
Inicialmente compôs a estrutura da secretaria de Governo da Presidência durante a gestão do
Partido dos Trabalhadores. Porém, com a publicação do Decreto nº 9.417, de 20 de junho de
2018 foi transferida, junto com o Conselho Nacional dos Direito da Mulher, para o Ministério
dos Direitos Humanos, ação essa que foi alvo de críticas, por fragilizar a atuação da Secretaria
frente a execução de Políticas para as Mulheres, incluindo a de enfrentamento à violência.
Desta maneira, o Estado busca regular somente a violência no âmbito da vida privada
das mulheres, pois a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres
garante assistência às mulheres vítimas de violência familiar e doméstica, e a Lei Maria da
Penha, mais a Lei do Feminicídio julga e condena os sujeitos homens agressores. No entanto,
esse mesmo Estado mantém toda a estrutura social que produz e reproduz a violência contra
as mulheres. Compreendemos que a real diminuição da violência contra as mulheres só
poderá ocorrer quando as mulheres forem libertas das múltiplas jornadas de trabalho impostas
pelo modelo patriarcal burguês ainda em vigência.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sem dúvidas, a força e a luta constante do movimento feminista é responsável por uma
série serviços estatais que protegem a vida das mulheres, um exemplo é a Lei Maria da Penha,
a Lei do Feminicídio e a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres,
porém os dados referente às mortes das mulheres pela sua condição de gênero, demonstram
que essas Leis e a Política, executada por um Estado (neo)liberal burguês se mostra
insuficiente para garantir a vida das mulheres.
REFERÊNCIAS
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BIROLI, F. Divisão sexual do trabalho. In: Gênero e desigualdades. São Paulo: Boitempo,
2018, p. 21-52.
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Mônica Tussel. Barcelona: Editora Crítica Nova Gráfik, 1990, p. 310-345.
QUEIROZ, F.M & DINIZ, M.I. Serviço Social, Lutas Feministas e Violência Contra a
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SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado, violência. 1ºed. São Paulo: Fundação Perseu
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