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Centro Universitário Internacional – UNINTER

Nome: Maria Emilia Santos Silva

Ru: 4102946

Título: O TRABALHO DOMÉSTICO DA MULHER NA BAHIA.” COMO SE FOSSE DA FAMÍLIA”

Alagoinhas, 14 de fevereiro de 2023 Muito da discriminação sofrida pelo


de 2022. No Brasil, trabalho doméstico trabalho doméstico se deve ao fato de ele
remunerado é herança do trabalho escravo ser entendido como trabalho reprodutivo,
(MELO, 1998; BERNARDINO-COSTA, 2007; em contraposição ao trabalho produtivo,
DIEESE, 2013; RATTS, 2006; MORI et al, realizado fora do lar, remunerado por ser
2011), é contextualizado como sendo pré- produtor de bens / riquezas (NOBRE,
capitalista (MOTTA, 1992), e é considerado 2004). Sendo responsabilizadas e
de suma importância no processo de responsáveis pelo trabalho da casa,
reprodução humana e social (ÁVILA, 2007). quando vão para o mercado de trabalho,
Para tratar sobre representação é preciso percebe-se que a divisão sexual do
entender os debates em torno de como ele trabalho se repete, questão
foi definido numa sociedade marcada pelas subalternizando as mulheres. Elas
injustiças sociais como o Brasil, fruto de geralmente desempenham tarefas ditas
uma estrutura historicamente influenciada “femininas”, relacionadas ao cuidado, além
pelo sistema escravocrata de mais de de ser maioria no trabalho doméstico
duzentos anos, onde os corpos negros, remunerado (NOBRE, 2004; MORI, 2011).
trazidos do continente africano, foram Bruschini (1996) defende que “qualquer
deliberadamente escravizados, explorados análise sobre o trabalho feminino,
e usurpado sua humanidade. A categoria procurando romper velhas dicotomias,
do trabalho doméstico no Brasil, por sua estará atenta à articulação entre produção
vez, carrega as marcas desse período e reprodução, assim como às relações
descrito, suas conquistas tardias tem sociais entre os gêneros.” As pesquisas
relação direta com esse processo, e não à acerca do trabalho doméstico da mulher na
toa a categoria só pôde alcançar avanços Bahia têm alguns traços em comum,
significativos na legislação brasileira em sobretudo as desenvolvidas nas últimas
inícios dos anos 1930, período conhecido duas décadas: a discussão sobre gênero,
na história como a Era Vargas ou segunda e classe e raça; a indicação do longo caminho
terceira República. O importante a ser de desproteção jurídica e; a luta pelo
mencionado é que foi justamente nesse reconhecimento profissional. No campo da
período que as primeiras organizações socioemocional, outra questão tem sido
profissionais começaram a fazer pressão no apontada nos últimos estudos, que é a
Estado para a regulamentação da profissão afetividade como entrave a alguns avanços,
desde o pós abolição. Como resultado identificando que há um traço cultural no
desse cenário, tem-se a criação de modo de se transitar nas relações de
associações, que tinham como objetivo trabalho doméstico. A expressão “como se
defender os direitos trabalhistas das fosse da família” é tradução dessa
relações entre empregadas/os e peculiaridade da relação paternalista que a
patroas/patrões sendo a primeira a define. É uma expressão ambígua: como se
Associação dos Empregados Domésticos. fosse, não é, mas não deixa de ser. De
repente aparece no ar uma nuvem de a questão do poder e o pós-escravismo. A
afetividade, que desaparece quando um partir deles, conceitos e marcadores
copo se quebra, quando o sal da comida importantes à compreensão do trabalho
esta demais, ou quando a criança chora. O doméstico se agregam: racismo, racismo
trabalho doméstico em si é mais que uma institucional, sexismo. No V Congresso das
atividade profissional, é um fenômeno Trabalhadoras Domésticas em 1985, uma
social delineado por inúmeras das resoluções era “não pensar com a
ambiguidades. Podemos citar: as cabeça da patroa” (COSTA, 2007, p. 205).
aproximações e distanciamentos entre as Esse foi o Congresso que antecedeu a
trabalhadoras domésticas e as donas de Constituinte e elas já sinalizavam uma
casa; a colonialidade do poder e o pós- insurgência não só contra a privação de
escravismo manifestados como um direitos, mas indicam um giro no âmbito
racismo institucional sofisticado e as social da profissão. Identificar o trabalho
estratégias ainda mais elaboradas das doméstico a partir desses signos e
trabalhadoras; a subalternização e a força estruturas, leva à compreensão da
motriz para as mudanças. No Brasil as marginalidade jurídica que permeia a
mudanças propostas pela OIT ocorreram trajetória da categoria e as conduz a uma
por meio de proposta de emenda à articulação para participar da Assembléia
Constituição, que é a Emenda Nacional Constituinte. A Carta das
Constitucional nº. 72, de 2 de abril de Trabalhadoras Domésticas entregue em
2013, que culminou na Lei Complementar mãos ao presidente da Assembleia
nº. 150, também conhecida como “PEC das Nacional Constituinte, 1987/88 Ulysses
Domésticas”. Tendo a representação da Guimarães, cumpriu um papel histórico
mulher no trabalho doméstico procuramos que excedia à reivindicação de direitos.
através desse artigo fazer algumas análises, Naquela oportunidade estava sendo posta
inserindo a mulher negra como doméstica. à mesa da sociedade brasileira o registro
Desde conquistas profissionais como: do lugar que as trabalhadoras domésticas
direitos trabalhistas, o lugar de ocupação tem na sociedade. Não querem pensar do
dessa mulher negra, dentro da casa de lugar que as subalternizava. Em se tratando
outra mulher, sendo esta branca. É muito de trabalho doméstico, há muitos
comum nas residências brasileiras a casa agravantes quanto às condições de vida e
ter seus cômodos, e o lugar chamado de de trabalho das mulheres, pois a maior
área de serviço, espaço reservado para os parte da categoria é formada por mulheres
grupos em vulnerabilidade, no entanto, os negras e pobres, o que significa dizer que
indivíduos para os quais foram reservados essas trabalhadoras reúnem fatores de
esses lugares não suportam passivamente grande vulnerabilidade em nossa
a bagunça e insistem em colocar-se em sociedade, quanto ao seu gênero, raça e
locais mais arejados, bem como classe social, citando a maioria mulheres
estabelecer novas ordens na casa. Cito negras e pobres. Essa categoria reflete
novas epistemologias para pensar a muito bem a nossa desigualdade social.
produção do direito, no estado da Bahia São profissionais que não têm outras
85% profissionais domésticos estão na oportunidades de trabalho. Quanto mais o
informalidade. Quem dorme no “quarto de
empregada” à noite é quem sabe o lugar PIB do país cai, mais trabalhadores
de cada coisa, inclusive quais são os domésticos nós temos. Quanto mais
problemas: dão diagnóstico e prognóstico. desemprego, mais pessoas se submetem a
As engrenagens que estruturam a divisão esse tipo de função. E, consequentemente,
entre patrões e empregados nos remetem mais violações de direitos acontecem.

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