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A ciência por trás de como aprendemos

novas habilidades
Publicado em 29.07.2013

Quem nunca sonhou em aprender uma nova língua, finalmente descobrir


como tocar violão ou cantar? Aprender novas habilidades é de fato uma das
melhores maneiras tanto de te fazer ter mais chances de boas colocações no
mercado de trabalho quanto de te deixar simplesmente mais feliz e
realizado. Entretanto, aprender algo novo não é assim tão fácil quanto
parece. A ciência por trás do aprendemos é a base para ensinar a si mesmo
novas habilidades. Aqui está o que sabemos sobre a aprendizagem de uma
nova habilidade.

Nossos cérebros possuem ainda um pouco de mistério para a ciência. E é


provável que nos próximos anos nós ainda aprenderemos muito sobre como
o nosso cérebro funciona, mas por enquanto os cientistas estão começando
a ter uma melhor ideia de como podemos aprender coisas novas. Para isso,
vamos começar falando sobre o que acontece no seu cérebro quando você
tenta adquirir um novo conjunto de habilidades antes de passar para
algumas das maneiras cientificamente eficazes de aprender melhor.

Toda vez que você aprende algo novo, seu cérebro se altera de uma forma
bastante substancial. Porém, os benefícios da aprendizagem se estendem
para além do cérebro. Já foi provado que aprender uma nova habilidade
possui uma sorte de benefícios inesperados, incluindo a melhoria da
memória e da inteligência verbal, além de aumentar as competências
linguísticas da pessoa.

Da mesma forma, à medida que você vai aprendendo uma nova habilidade,
essa habilidade realmente fica mais fácil para você. A pesquisadora Karene
Booker, da Universidade de Cornell, localizada no estado de Nova York,
EUA, explica o que acontece: “Em um experimento, observamos que o
treinamento resulta em diminuição da atividade em regiões do cérebro
envolvidas no controle de esforço e de atenção”, conta.

No entanto, ela relata que, após os exercícios, foi identificado um aumento


da atividade em locais do cérebro responsáveis pela auto-reflexão,
incluindo o planejamento futuro ou nossos sonhos cotidianos “Assim, a
habilidade está associada com o aumento da atividade em áreas que não
estão envolvidas no desempenho de habilidades, e essa mudança pode ser
detectada em grande escala no cérebro”, diz.

Em outras palavras, quanto mais experiente você se torna em uma


habilidade, menos trabalho seu cérebro tem que fazer. Com o tempo, a
habilidade se torna automática e você não precisa pensar sobre o que você
está fazendo. Isso ocorre porque seu cérebro realmente se reforça com o
tempo para realizar da melhor forma possível tal habilidade. Foi assim
quando você começou a falar, a dirigir e até nas primeiras aulas de inglês.
Agora tudo parece mais fácil, doesn’t it?

Em um artigo na revista científica “Scientific American”, a neurocientista


da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Heidi Johansen-Berg, afirma
que muitos eventos diferentes podem aumentar a força de uma sinapse ao
aprender novas habilidades. “O processo que compreendemos melhor é
chamado de potenciação de longa duração, que consiste em estimular
repetidamente dois neurônios ao mesmo tempo a fim de fortalecer a ligação
entre eles”, afirma. “Depois que essa forte ligação é estabelecida entre os
neurônios, ao se estimular o primeiro neurônio, será mais provável que o
segundo também se estimule automaticamente”.

Johansen-Berg também escreve que, além de fazer as sinapses existentes


ficarem mais fortes, a aprendizagem provoca o crescimento do cérebro.
Pesquisadores já foram capazes de visualizar esse crescimento em animais.
“Por exemplo, poucos minutos após um rato aprender uma habilidade
difícil, como conseguir passar através de um buraco para chegar numa
porção de alimento, novas saliências, chamadas espinhas dendríticas,
crescem sobre as sinapses em seu córtex motor, a região que permite a
animais planejarem e executarem movimentos”, conta.
Quanto mais conexões entre os neurônios são formadas, mais aprendemos e
mais informações somos capazes de reter. Conforme as conexão ficam
mais fortes, menos precisamos pensar sobre o que estamos fazendo,
abrindo tempo e espaço para a aprendizagem de uma nova habilidade.

A ciência ainda tem muito o que aprender sobre a aprendizagem. Enquanto


já sabemos como as habilidades de aprendizagem afetam o cérebro, ainda
estamos tentando decifrar exatamente por que isso acontece e todos os seus
benefícios. Como diz o velho ditado, a prática leva à perfeição, mas a
maneira como praticamos é tão importante quanto o fato de estarmos
praticando.

Saber como o cérebro se adapta a novas habilidades é apenas parte do


processo. Afinal, esse conhecimento é inútil se você não souber como
aplicá-lo. Com isso em mente, vamos apresentar alguns dos métodos
experimentados e verdadeiros de aprender novas habilidades o mais rápido
possível. O segredo é sempre aumentar sua capacidade intelectual, de uma
forma ou de outra. Felizmente, isso é surpreendentemente fácil.

4. Obrigue-se a aprender sem guias ou ajuda

Quando estamos aprendendo uma nova habilidade, é muito fácil confiar no


YouTube, em tutoriais, orientações ou guias para nos ajudar a iniciar o
processo. Isso é ótimo para aqueles que estão apenas começando, mas se
continuar fazendo isso com o passar do tempo, nunca vai realmente
aprender porque não estamos resolvendo problemas por conta própria.

A fim de aprender, temos de falhar. A jornalista e escritora Annie Murphy


Paul chama isso de fracasso produtivo: “Temos ouvido muito ultimamente
sobre os benefícios de viver e superar o fracasso. Uma maneira de obter
esses benefícios é encarar as coisas de modo que você esteja certo de que
vai falhar, ao enfrentar um problema difícil, sem qualquer instrução ou
assistência”, propõe.

Manu Kapur, pesquisador do Laboratório de Aprendizagem de Ciências no


Instituto Nacional de Educação de Cingapura, relata uma experiência em
que as pessoas tentaram resolver problemas muito complexos de
matemática. Eles não cconseguiram chegar até a resposta certa, porém
foram capazes de bolar diversas ideias sobre a natureza dos problemas e as
possíveis soluções de um exercício semelhante, dando-os a chance de
executar melhor um desses problemas no futuro. Esse é o chamado
“fracasso produtivo”. “Você pode implementar essa ideia na sua própria
aprendizagem, permitindo que você lute contra um problema por algum
tempo antes de procurar ajuda ou informação”, fala.
Tomemos o exemplo do violão. Você pode facilmente encontrar a partitura
de “Paint it Black” online, mas isso não vai ajudá-lo a aprender o som real
de cada acorde. Em vez disso, tente descobrir por conta própria antes de
buscar uma resposta. Isso é, essencialmente, o que chamamos de “tentativa
e erro”. Pode ser frustrante, mas funciona muito bem. O mesmo acontece
com qualquer outra habilidade. Claro que às vezes você precisa parar e ir
atrás de uma solução, mas você vai ser melhor nisso se você não o fizer.

3. Espalhe o aprendizado ao longo do tempo

Quando estamos tentando aprender algo totalmente novo, pode acontecer


de nos empolgarmos e desenvolvermos quase que uma compulsão
obsessiva por essa competência. No entanto, isso nem sempre é a melhor
ideia. Na verdade, o ato de distribuir uma aprendizagem ao longo do
tempo, também conhecida como “prática distribuída”, provou ser a melhor
maneira de aprender.

O psicólogo John Dunlosky, da Universidade Estadual de Kent, Ohio, EUA


e colegas relatam que espalhar o seu estudo ao longo do tempo e fazer
perguntas sobre o assunto para si mesmo antes de um grande teste são
estratégias de aprendizagem altamente eficazes. Ambas as técnicas têm se
mostrado frutíferas na tarefa de melhorar o desempenho de alunos em
diversos tipos de testes. Sua eficácia tem sido repetidamente demonstrada
para estudantes de todas as idades.

“Fiquei chocado que algumas estratégias que os alunos usam muito – como
a releitura e o destaque de frases importantes – parecem oferecer benefícios
mínimos para a sua aprendizagem e para o seu desempenho”, diz
Dunlosky.

A prática distribuída é uma técnica antiga, mas que realmente funciona


muito bem para as vidas ocupadas que a maioria de nós levamos. Em vez
de sentar-se por horas a fio para aprender uma habilidade, experimente a
prática distribuída, que consiste em sessões mais curtas, que acabam
estimulando as ligações entre os neurônios por mais vezes ao longo do
tempo. Assim, em vez de tentar aprender uma habilidade tendo aulas de
uma hora de duração cada noite, reserva um tempo maior no geral, mas em
pequenos pedaços ao longo do dia. Até mesmo 15 minutos por dia já é o
suficiente para muitos de nós.

2. Escolha muito bem seu tempo de estudo

Você não pensaria isso, mas quando você estuda ou pratica uma
competência é tão importante como o quanto você o faz. Nosso relógio
biológico é ajustado para trabalhar melhor durante certos períodos do dia, e
isso vale para o aprendizado também. De acordo com um estudo publicado
na revista “PLoS One”, aprendemos melhor quando o fazemos antes de
dormir.

O estudo revelou que os indivíduos que foram dormir direto depois de


aprender algo conseguiram realizar significativamente melhor em uma
série de testes de memória. O sono, portanto, possui um grande impacto
sobre a retenção de memória em geral. Basicamente, quando você aprende
uma nova habilidade antes de dormir, você está ajudando a fortalecer a
ligação entre os neurônios em seu cérebro. Isto significa que você retém
essas novas informações de uma forma melhor.

1. Aplique suas habilidades todos os dias

A razão é simples: quanto mais você conseguir aplicar aquilo que está
aprendendo no seu dia a dia, mais essa atividade vai ficar na sua cabeça. De
pouco adianta você aprender o idioma polonês pela internet se você nunca
pratica oralmente, nem lê textos nessa língua ou sequer possui um canal
polonês na TV a cabo para se habituar com os fonemas. Simplesmente fica
bem difícil.

Quando você aprende algo novo, você implementa tudo que faz a nossa
memória funcionar. Quando você é capaz de conectar o que você está
aprendendo com uma tarefa do mundo real, isso forma ligações em seu
cérebro e, posteriormente, as habilidades que você está aprendendo vão
permanecer na sua cabeça. Isto é especialmente verdadeiro com a
aprendizagem de uma língua estrangeira, quando a aplicação prática é a
chave para aprender rapidamente. Lembre-se do polonês. [Life Hacker]

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