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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA & ANTROPOLOGIA
DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA 2 – DSOC 0077 (60h 4cr), 2018.1
DIA E HORÁRIOS: 6ª. FEIRA, N1-4.
CURSO: CIÊNCIAS SOCIAIS
PROFESSOR: LUIZ ALBERTO COUCEIRO
ALUNO : JEFFERSON TROVÃO CANTANHEDE

TRABALHO EM CUMPRIMENTO À 2ª NOTA

1- Em continuação ao primeiro trabalho realizado com as ciganas, me proponho a


trazer neste segundo trabalho um conceito social de análise social do autor Max
Gluckman,relacionado ao seu escrito sobre a situação social da zululândia moderna a partir da
inauguração de uma ponte,que é um evento importantíssimo que envolve zulus e europeus; um
evento festivo com participação de magistrados,pessoas investidas de autoridade, cerimônias com
características propositalmente européias mas que ao cerne culmina em celebrações de costumes do
povo zulu. A questão é que ali estavam muitas pessoas que, participando do mesmo evento, sabiam
que lhes cumpriam certas reservas e procedimentos de separação de uns grupos em relação a outros,
como exemplo a questão de que os zulus não transitavam livremente entre os brancos, ou que os
brancos não tomavam suas refeições entre os negros e havia um certo constrangimento de um grupo
em relação ao outro ainda que estivessem unidos em uma mesma comemoração. Há uma sensação
de que ao mesmo tempo que os negros sentem-se sob autoridade dos brancos, no entanto sentem-se
livres entre os de sua própria naturalidade, como que sua alegria se expande quando estão entre seus
pares. O que não deixa de existir conflitos quando se cruzam como aconteceu com o veterinário e
um zulu por causa de um medicamento a ser aplicado no gado “ Mesmo assim o comportamento
de um grupo em relação ao outro é desajeitado, o mesmo não ocorrendo no interior de cada
grupo racial.”
Há entre os ciganos uma unidade cultural. Eles têm suas festas, seus rituais de
passagem ou iniciação, apesar de assimilarem parte da cultura em que estão vivendo, ou adequando-
se a ela por motivos de conveniência, como por exemplo, “adotando” a religião do povo em que
estão acampando, eles não deixam de praticar seus próprios costumes como forma de preservação
de sua história, cultura e hábitos concernentes ao seu povo. Porém isso de certa forma vem a gerar
conflitos por que as pessoas naturais da localidade não os aceitam como iguais ainda que eles
adotem alguns dos costumes locais. Fica evidente que eles também preferem manter certa distância
da sociedade; eles também acreditam que suas tradições são melhores do que os da sociedade
geral.Mas isso não os impede de conviver ,de transitar entre as pessoas locais, de comprar , ou pedir
favores. Mas ainda assim continua a existir uma tensão e certa desconfiança que permeia os
relacionamentos. È como óleo e água que podem estar juntos mas não se misturam. E isso é
evidente que existe de ambas as partes. Os ciganos não casam com não ciganos, a não ser em casos
de desobediência às regras impostas pela sociedade cigana. E no entanto eles realmente se vêm
como a parte mais frágil dessa convivência. “ A cisão entre os dois grupos raciais é em si o fator
de sua maior integração em apenas uma comunidade. Eles não se separam em grupos de status
similar: os europeus são dominantes.” Provavelmente a unidade do povo cigano é acompanhada
por um medo de que suas tradições se dissolvam num mundo indiferente aos seus costumes. Eles
vivem num mundo que os suporta mas não os aceita.
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Vou falar agora de conceitos de Mary Douglas, que permeiam a relação dos
ciganos com a sociedade geral. Os ciganos são pessoas que valorizam muito o misticismo, as
crenças no oculto,na advinhação, e , como falei no primeiro trabalho, as mulheres ciganas têm a
incumbência de jamais perderem a virtude da advinhação, sendo esse um poder que pode trazer
grandes riquezas para sua vida “ O ritual reconhece a potência da desordem.Na desordem da
mente, nos sonhos,desmaios ,frenesis, o ritual espera poder descobrir poderes e verdades que não
podem ser alcançados através de esforço consciente.” Isso pode ter muito a ver com o fato de as
mulheres ciganas não se permitirem distrair com conversas triviais,mas estão como que
concentradas , em transe, como que tendo algum tipo de ligação com o desconhecido, seja por que
acreditam realmente ou por saberem que esse estado mental impressiona as pessoas e as deixam
mais vulneráveis às suas palavras. Nesse sentido, o receio que as pessoas têm dessas mulheres,
ainda que, sendo uma questão de dificuldade de aceitação, também é um fator que funciona a favor
delas no quesito sugestibilidade. O medo e o receio que as pessoas têm desse mistério, favorece a
que suas palavras sejam mais persuasivas por conta de algumas pessoas acreditarem que elas
são,deveras,possuidoras de certo poder de advinhação. É possível que os ataques que elas sofrem
sirvam para obrigá-las a buscar mais poder de persuasão, pois “ Nessas crenças há um duplo jogo
de inarticulações. Primeiro, há uma aventura pelas regiões desordenadas da mente. Segundo, há
uma aventura além dos limites da sociedade. O homem que retorna dessas regiões inacessíveis
traz consigo um poder inacessível àqueles que tenham permanecido sob o controle de si mesmo e
da sociedade.” Os ciganos são encarados como pessoas perigosas. Não merecedoras de confiança
ou pessoas não confiáveis. A eles são atribuídas muitas desordens, isto é, são perigosos à ordem
social , podem manipular as pessoas, conduzí-las a um estado hipnótico em que sejam dominadas e
levadas a conceder seus desejos. São tidas como iminente ameaça. “Primeiramente considerem-se
as crenças sobre pessoas em situação marginal. Estas são pessoas que estão de algum modo
excluídas do padrão social, que estão deslocadas.Podem não estar fazendo nada de moralmente
errado,mas seu status é indefinível.” É interessante notar que quando se conversa com uma
mulher cigana,ou com um homem cigano, no sentido de compreender seu estilo de vida, não se
percebe todas essas acusações sofridas por eles. Eles dizem que são trabalhadores, comerciantes,que
vendem tapetes, fraldas, e se dizem injustiçados com as acusações sofridas. Muitos são vendedores
de tapetes, colchas, carros, cavalos e se julgam bons comerciantes. Eles são muito voltados à
família e mantêm os filhos sempre juntos mesmo depois de casados até que se certifiquem que estão
prontos para viver por conta própria. Mas “ Parece que se uma pessoa não tem lugar num sistema
social,sendo,por conseguinte,marginal, toda a precaução contra o perigo deve partir dos outros.
Ela não pode evitar sua situação anormal.” Talvez por viver-mos em um país de maioria tida
como cristãos,onde há a crença em um Deus que proíbe a prática da advinhação, da
quiromancia,exista um alto nível de rejeição ás praticas ciganas. “Quando entrares na terra que o
Senhor teu Deus te dá, não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos. Não se
achará no meio de ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador,
nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte um
espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz estas
coisas é abominável ao Senhor, e é por causa destas abominações que o Senhor teu Deus os
lança fora de diante de ti. Perfeito serás para com o Senhor teu Deus.” (Deuteronômio 18:9-13).
Vemos que os cristãos não dão credibilidade aos ciganos em obediência aos mandamentos bíblicos
referentes a videntes e cartomantes, práticas habituais da cultura cigana.
“Isto pode ser afirmado relativamente às linhas familiares de Durkheim. As
crenças religiosas expressam a cosnciência que a sociedade tem de si mesma; a consciência
social é creditada com poderes punitivos que a mantém existente.” Pag 126

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Existe ainda o conflito causado pelo fato de os ciganos frequentemente ocuparem
terrenos abandonados o que desperta ódio por parte dos proprietários que muitas vezes os expulsam
temendo que eles tomem posse do espaço como se não tivesse dono. São ameaça e tão logo estejam
terminando de armar suas cabanas,logo são obrigados a desmontar tudo e sair em busca de outro
local. É certo que quando encontram um terreno que não há alguém para reinvindicá-lo, ficam lá
por muito tempo e quando saem deixam outras famílias ciganas, fazendo assim uma espécie de
revesamento. Outra dificuldade é que como os terrenos são baldios e cheios de mato, alguns
moradores ficam jogando seus lixos na proximidade e culpando aos ciganos por causarem uma
desordem e sujeira ao que eles muitas vezes travam discussões,mas que procuram evitar por causa
de sua situação vulnerável. Nesse caso não existe uma base de cooperação como existe entre
europeus e zulus. Na verdade eles nem limpam o terreno que ocupam, como se quisessem preservar
o mato ao redor como forma de camuflagem. O que não deixa de gerar conflitos,pois os moradores
sentem-se ameaçados com a presença dos ciganos, uma vez que existe um boato de que entre outras
coisas eles praticam raptos de crianças, o que é desmentido por eles,que dizem que apenas os
ciganos circences convidam aqueles que são abandonados pelos pais para que lhes acompanhem em
suas jornadas pelas cidades. “ O desejo dos zulus por bens materiais dos europeus e a necesidade
dos europeus do trabalho zulu,bem como a riqueza obtida por este trabalho, estabelece
interesses fortes e interdependentes entre os dois grupos. É, também ,uma fonte latente de seus
conflitos.”

Nas questões morais, os grupos ciganos procuram estar de acordo com as leis do
local onde estão acampados. Eles evitam ao máximo chamar atenção ou criar conflitos e seu
relacionamento com as demais pessoas são estritamente o necessário. Os ciganos permanecem em
seus grupos e não se misturam aos demais moradores e mesmo quando estão em meio a muitas
pessoas há uma separação bem evidente. As mulheres ciganas não usam vestimentas que mostrem a
barriga,nem as pernas e isso é muito forte entre elas. Seus trajes são longos e cobrem toda a
extensão das pernas. Não falam sobre assuntos relacionados a sexo , mas quando estão ofendidas
usam palavras de muito baixo calão para revidar as ofensas. Mas elas fazem diferença entre os que
as ofendem e aqueles que as tratam bem. Segundo as regras dos ciganos, não existe namoro entre
os jovens,. Quando um rapaz cigano se enamora de uma moça cigana, seus pais, o do rapaz, vão até
os pais da moça e a pedem em casamento ao filho, o que depende de que ela aceite ou não. Não se
houve falar que as ciganas mantêm algum tipo de relacionamento extraconjugal. Elas reajem com
ira aos assédios que recebem por parte dos homens que as odeiam como ciganas mas as elogiam
como mulheres que chamam a atenção pela beleza e valentia. Também não se houve falar que os
homens ciganos tenham algum tipo de relacionamento extraconjugal pelas cidades onde passam.
Alguns ciganos são mais ricos que outros. Algumas famílias possuem bens materiais em grande
quantidade e vivem uma vida de luxo, enquanto outros têm apenas uma barraca de lona e vivem
realmente em extrema pobreza. “Embora seja ilegal na África do sul e seja socialmente
desaprovado pelos dois grupos, brancos mantêm relações sexuais com os zulus.” Não pretendo
aqui afirmar categoricamente que não há algum tipo de relacionamento sexual entre ciganos e
cidadãos tidos como normais à sociedade , pois fatos são fatos e exceções existem, porém até este
presente momento não tenho nenhuma informação a esse respeito, a não ser de uma cigana que
decidiu casar-se com um não cigano e passou a viver em um apartamento, no entanto guardando as
tradições que recebeu de sua família e fazendo as coisas de modo a manter a honra tão cobrada por
parte do pai cigano.

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