Você está na página 1de 16

Unidade 6: Música na fase escolar.

6.1 Primeiras palavras

Nesta sexta unidade, estaremos nos atentando à questão do trabalho de educação


musical com “jovenzinhos” de 7 a 10 anos. Sabemos que nesta etapa, se musicalizadas
as crianças podem já estar tocando algum instrumento especifico, ou podem estar
iniciando algum. De qualquer forma, é neste período que elas vão definindo suas
preferências musicais e que a música se torna muito significativa e fascinante para o
desenrolar das relações sociais. O meio no qual estamos inseridos, e as relações sociais
que estabelecemos é que nos influenciam a gostar mais de uma ou de outra música.
Juntamente com a aritmética, a geometria, a astronomia e a ginástica, a música,
na antiga Grécia, era considerada uma importante ferramenta para a formação do
cidadão, pois os gregos acreditavam que a música contribuía para a constituição do
caráter. Portanto, desde esta época, a música já exercia uma função educativa. O estudo
da música não incluía apenas a dimensão prática, mas também uma dimensão teórica,
como a proporção matemática e o estudo dos números em movimento, desenvolvendo
uma perfeição física e mental. Hoje, o ensino da música é associado ao
desenvolvimento social, intelectual, estético e afetivo, atribuindo as pessoas valores
pessoais e sociais.
A música também pode contribuir para que o aluno relacione-se criativamente
com as outras disciplinas do currículo escolar. De acordo com os Parâmetros
Curriculares Nacionais, de 1997 para o ensino da arte:
...o aluno que conhece arte pode estabelecer relações mais amplas
quando estuda um determinado período histórico. Um aluno que
exercita continuamente sua imaginação estará mais habilitado a
construir um texto, a desenvolver estratégias pessoais para resolver
um problema matemático. (PCN, 1997, p. 19)

Desta forma, os educadores e os alunos integram seus conteúdos e aprendizado e


provavelmente, os tornam mais lúdicos e significativos.
Aqui, os “mocinhos e mocinhas” já percebem e sentem a música, associando-a a
momentos de diversão, alegria, tristeza, amor, entre outros sentimentos que estão
começando a conhecer e entender. A música está muito presente no dia-a-dia das
crianças, pois está na televisão, no rádio (hoje temos os aparelhos portáteis como o mp4,
os ipods...), nas ruas, no computador (internet), nas festas... O acesso à música está cada
vez mais fácil, e a cada momento nos deparamos com ritmos e estilos diferentes.
Precisamos assim, prestar atenção nos diferentes elementos que constituem a música,
para que possamos compreender como estes elementos, combinados de diferentes
maneiras, despertam também diferentes sensações e sentimentos em nós. Enfim, a
música mexe com as pessoas!

6.2 Problematizando o tema

Como podemos iniciar ou continuar um trabalho com crianças de 7 a 10 anos? O


que elas pensam? Como podem reagir a música? Como podem agir durante uma aula de
educação musical? Elas ainda gostam de brincar, cantar e dançar? Estas e outras
questões irão nos guiar durante esta unidade. Não pretendo aqui, responder nenhum
destes questionamentos, mas sim, dialogar sobre eles, a fim de expor para vocês um
pouco da minha experiência.
A partir dos sete anos, de acordo com Piaget, as crianças entram na fase das
operações concretas, que é marcada pela aquisição da noção de reversibilidade das
ações, ou seja, ela consegue refletir sobre o inverso das coisas e dos fenômenos, e a
habilidade de discriminar os objetos por similaridades e diferenças. Já domina os
conceitos de tempo e número. Ela já expõe e defende as suas idéias.
É importante lembrarmos de que não existe esta história de que competência
musical é privilégio de algumas poucas pessoas talentosas e bem-dotadas. Granja
ressalta:

É preciso retomar a dimensão da música como um


conhecimento acessível às pessoas comuns. Todos nós somos seres
musicais por natureza, assim como seres lingüísticos, matemáticos,
corporais, históricos etc. A música deve ser contemplada pela escola
por que é uma linguagem própria do homem e não apenas do músico.
(GRANJA, 2006, p.105)

Ela é um conhecimento necessário, pois valoriza o ser humano como um todo,


harmonizando-o, colocando em ordem nosso corpo e nossa alma.
Com o impacto causado na vida das crianças por meio da tecnologia e dos jogos
eletrônicos, onde a criança é limitada de movimentos, de convivência social e suas
ações são automáticas, o ensino da música, através do movimento, do uso de jogos e
brincadeiras pode apresentar um universo de conhecimentos culturais que estimule a
criança a criar, sentir e agir humanamente.
O que vocês fizeram com oito e nove anos? Vocês cantaram? Dançaram?
Tocaram? O que as crianças de hoje em dia podem fazer? Vamos pensar...

6.3 Texto básico


6.3.1 A aula de musicalização para crianças de 7 a 10 anos.

A música é inerente ao ser humano e todos têm o direito a ela, para dela se
utilizar como meio de comunicação e expressão artística. A expressão musical é parte
integrante de nossa cultura, aparecendo naturalmente em nosso contexto social e
educativo. A prática musical, associada, neste período ao estudo das estruturas musicais,
é fundamental para o desenvolvimento da criança, do seu corpo, de seu intelecto e,
principalmente de sua afetividade.
O primeiro contato da criança com a música se realiza por meio da percepção do
ritmo e da melodia, através do contato com as diferentes maneiras de se falar, andar ou
rir, nas batidas do coração, nas ondas do mar, na respiração, no vento, nas folhas que
caem...
Cada aluno tem um ritmo próprio conforme seu temperamento e personalidade.
Uns são mais lentos, outros rápidos; alguns são tímidos, outros inquietos e desinibidos;
uns mais ativos e outros indiferentes. As características de cada um refletem-se em seus
gestos e ações. Por meio da atividade rítmica, os “jovenzinhos” liberam suas forças e
alegrias, manifestando seus impulsos e emoções.
Já sabemos que o fazer musical contribui para aumentar a capacidade de
concentração, atenção, raciocínio, memória, controle motor, entre outros e nesta fase,
podemos desenvolver ainda mais nos alunos, o equilíbrio da personalidade e o senso
estético musical, levando os alunos a ouvirem de forma consciente.
O acesso à música constitui-se nas possibilidades de se criar, de interpretar ou de
ouvir, e podem ser desenvolvidas e educadas.
O uso da apreciação, a partir de diversos tipos de música, da produção musical e
da exploração sonora, desenvolve nos alunos a vivência musical e o entendimento da
grande diversidade de sons e estilos musicais existentes. Muitas vezes, uma música
pode soar estranha ao ouvido de alguns, e agradar o ouvido de outros... Isto porque
algumas músicas são mais significativas para uns do que para outros, simplesmente pelo
fato de que não conhecemos ou nunca tenhamos escutado determinadas canções. Mas
existem várias maneiras e possibilidades de se apreciar música e de se aprender a ouvir.
Como produto da música, podemos destacar o ato de improvisar, compor e
interpretar. Podemos improvisar a partir da exploração sonora de objetos, sons do
ambiente, instrumentos convencionais e outros, onde a manipulação destes seja
espontânea. Da improvisação, podemos desenvolver uma composição, a partir da
escolha dos sons e de seus parâmetros, como altura, duração, intensidade, andamento e
timbre e juntar com outros sons e silêncios, organizando como música os objetos
sonoros utilizados. Para interpretar basta que os elementos da linguagem musical
ganhem vida e significado.
Neste período, os alunos estão abertos à diversidade, através da interação com os
outros e da aprendizagem de novos conhecimentos que o preparam para se relacionar
com o mundo real. Assim, improvisar, compor e interpretar podem ser recursos
utilizados pelo educador para desenvolver o processo de percepção, expressão e
comunicação dos alunos. O manuseio de objetos e a descoberta dos diferentes sons
oportunizam a reflexão dos elementos musicais, como qualidade do som, silêncio, pulso
e ritmo, densidade, textura, proporcionando a criança uma maior variedade de
atividades motoras e mais autonomia nas tarefas do dia-a-dia.
O desenvolvimento da música a partir do trabalho com a educação musical,
independentemente da idade, está diretamente ligado ao desenvolvimento corporal. O
trabalho com o corpo, além de desenvolver as habilidades motoras, o ritmo, a noção
espacial, entre outros, ajuda cada um de nós a perceber nossos próprios sentimentos e a
fazer com que os outros nos compreendam sem o auxílio da palavra. Ao transmitir sem
palavras sentimentos ou situações, o aluno organiza seu pensamento lógico e busca
compreender causas e conseqüências para melhor se expressar. Aprender a mover-se
envolve contínuo desenvolvimento da capacidade de usar o corpo efetivamente e
graciosamente. Improvisar, compor e interpretar também são produtos relacionados ao
desenvolvimento do corpo. Aliás, primeiramente, o corpo pode iniciar o trabalho, pois
na medida em que os alunos experienciem o movimento e desafiam suas capacidades
físicas, eles vão conhecendo as capacidades e os limites de seu próprio corpo.
Faz-se necessário saber que a percepção do nosso próprio corpo e a consciência
do movimento realizado é de extrema importância para o desempenho motor de certas
atividades, como por exemplo, tocar um instrumento.
Aqui, os alunos já são capazes de escrever os símbolos musicais e de ler uma
partitura convencional ou não, mas estes conteúdos devem ser utilizados com cautela.
Se as crianças estiverem iniciando o processo de musicalização, faz-se necessário que
antes da notação musical, elas vivenciem e conheçam outros aspectos musicais. O uso
do instrumental Orff será de grande valia, pois os alunos já estarão preparados para
executar músicas inteiras e realizar ostinatos mais complexos.

6.3.2 O Desenvolvimento infantil associado ao desenvolvimento


musical e corporal.
Dos sete aos dez anos, os “pequenos jovenzinhos” são menos egocêntricos e já
são capazes de usar operações mentais para resolver problemas concretos. No entanto,
como nos mostra Piaget, ainda não estão no estágio das operações formais e do
pensamento abstrato, ou seja, fase em que o domínio do pensamento lógico e dedutivo,
habilita à experimentação mental (formulação de hipóteses), estas são capacidades
características da adolescência, próximo estágio a ser vivenciado por eles. Neste
momento, usam o raciocínio lógico para compreender a relação entre o todo e as partes.
Esta fase é marcada pela presença do “melhor amigo”. Com ele, a criança
aprende a ser leal, fiel e sofre se for traída. O amigo assim passa a ser o maior
confidente. Os “mocinhos” são mais unidos e as “mocinhas” são mais críticas e
cobradoras. Gostam e envolvem-se mais com jogos de regras. A linguagem está bem
desenvolvida, o que facilita a comunicação com o outro.
O site Insight – Psicologia e Recursos Humanos (2011) descreve algumas coisas
que as crianças nesta faixa etária são capazes de fazer e de sentir.. Sendo assim:
Sete a oito anos de idade:
- Apresenta grande atividade motora.
- Baseia-se mais na realidade.
- Gosta da escola.
- Exige mais amor e compreensão da figura materna.
- Participa de atividades organizadas em grupo.
- Gosta de colecionar objetos.
- Preocupa-se com as suas reações e a dos outros.
- Gosta de aprender coisas novas.
- Tem mais segredos.
- Exibe menos medos.
- Inicia-se a divisão de sexos.
- Está desenvolvendo a autonomia.
- Aprecia recompensas imediatas pelo seu comportamento.
- Vivência sentimentos de culpa e vergonha.

Nove a dez anos de idade:


- Possui bom controle corporal.
- Gosta de conversar.
- Manifesta preferência por trabalhos e tarefas mais complexas.
- Apresenta interesses definidos.
- Gosta de ler e escrever.
- Apresenta curiosidade.
- Torna-se cada vez mais independente.
- Apresenta preferência por jogos em equipe.
- Interessa-se por relações afetivas e atividades sociais.
- Preocupa-se com o estilo, como roupa e cabelo.
- Pode exibir problemas de comportamento.
- É altamente competitiva.
- Gosta de privacidade.
- Preocupa-se com o que é certo ou errado.

Na questão do desenvolvimento do interesse musical, podemos destacar algumas


características desenvolvidas, de acordo com Nicole Jeandot (1997), que ressalta que
estas características variam de criança para criança de acordo com o estímulo recebido:
Sete anos: ouve em silêncio, acompanhando a melodia e o ritmo da música. Já
consegue cantar acentuando o tempo forte, bate pulso com as mãos e acento com os pés
ao mesmo tempo. Distingue ritmos populares, produz pequenas melodias e interpreta
músicas com expressão e dinâmica.
Oito anos: cria frases rítmicas, percebe e distingue os elementos rítmicos
musicais e produz pequenas melodias.
Nove anos: distinguem elementos da música, como ritmo, melodia e harmonia.
Lê, interpreta e responde a formulas rítmicas e percebe o fraseado musical.
Dez anos: já consegue cantar a duas ou três vozes e facilmente cria sonoplastias
para histórias. Gosta de cantar e escuta muitas músicas.

Como compreende o ponto de vista dos outros, a criança nesta etapa está mais
preparada para se socializar e se comunicar mais eficazmente, portanto, atividades que
favoreçam esta interação como jogos, brincadeiras musicais em grupo, como criar e
improvisar e danças de roda podem ser apropriadas para esta idade. A interação com o
grupo potencializa o desenvolvimento cognitivo, já que partilham conhecimentos e se
confrontam com novos. Ao confrontar-se com as diferentes formas de pensar de seus
colegas, a criança irá testar e adaptar valores diferentes dos herdados de seus pais.
Através do compartilhar, da inter-ajuda, da confiança e da reciprocidade, elas já
conseguem desenvolver as atividades musicais propostas em conjunto com mais
eficiência.
As atividades rítmicas musicais permitem que os “jovenzinhos” tenham a
oportunidade de participarem ativamente da proposta, seja ouvindo, tocando ou até
mesmo assistindo e assim desenvolvem sua acuidade auditiva, sua atenção, descobrem
sons e relacionam-se com o ambiente. Eles podem acompanhar uma música, de
diferentes maneiras, utilizando movimentos corporais, instrumentos de percussão ou
melódicos e outros objetos. O ritmo tem um papel importante na formação e equilíbrio
do sistema nervoso, pois toda expressão musical ativa e age sobre a mente, auxiliando
na descarga emocional, nas reações motoras e no alivio de tensões. Movimentos
adaptados a um ritmo são resultados de um conjunto completo de atividades
coordenadas.
Outro aspecto importante, que pode, ou melhor, dizendo, deve estar presente em
todas as idades, mas aqui, pode ser mais bem compreendido pelas crianças, é a questão
de conhecer a expressão musical de outras culturas. Como vocês leram acima, a criança
neste período, gosta de ouvir e faz silêncio para que possa compreender a escuta.
Também são muito curiosas, gostam de aprender coisas novas e já conseguem entender
uma estrutura musical. De acordo com Jeandot (1997):

A música é uma linguagem universal, mas com muito


dialetos, que variam de cultura para cultura, envolvendo a maneira de
tocar, cantar, de organizar os sons e de definir as notas básicas e seus
intervalos. A tradição musical hindu e a tradição musical árabe, por
exemplo, são diferentes da ocidental. (JEANDOT, 1997, p.12)

Conhecer e reconhecer a música de outras culturas nos faz também conhecer


melhor a nossa. Sem contar que, ao entrarmos em contato com a música de diversas
partes do mundo, passamos a conhecer e a entender melhor como estas outras culturas
pensam e agem. Cada povo tem uma forma própria de fazer, elaborar, pensar e criar,
enfim não existe uma única maneira de olhar para as coisas. Desta forma, os alunos vão
percebendo que apesar de todos pertencermos ao mesmo mundo, somos diferentes na
maneira de se expressar. Assim, ampliamos os conceitos culturais dos nossos alunos,
mostrando-lhes canções, instrumentos, acessórios, vestimentas... e valorizamos a
diversidade.

O domínio de outras formas de conhecimento não tira as nossas raízes,


mas assegura o acesso a esse pensamento critico e permite estabelecer
outros modelos de sociedade. Isso significa ouvir sons e escutá-los,
percebê-los sem julgá-los, apreciando-os por sua forma e textura, sem
preconceitos. (MENDES e CUNHA, 2001, p. 96)

As canções brasileiras, com seus variados ritmos, também apresentam inúmeras


possibilidades para o ensino da música com música, permitindo que as crianças
entendam conceitos como pulso, ritmo, melodia, harmonia entre outras propriedades
musicais. O Brasil possui diversas culturas formadoras, elas ampliam o repertório dos
alunos e podem estimulá-los para o ensino de música.
Por manifestar preferência por trabalhos e tarefas mais complexas, podemos
instigar nas crianças a vontade de conhecer a variedade de instrumentos existentes ou se
aprofundar no estudo de um instrumento específico, como, por exemplo, a flauta doce.

6.3.3 Partes da aula de musicalização para crianças de 7 a 10


anos.

Com os “pequenos jovenzinhos”, podemos proceder com a aula de uma maneira


mais livre, assim como para as crianças de 5 e 6 anos. A rotina não é tão necessária,
aliás, eles gostam quando a aula é diferente. Assim, o professor pode planejar também
poucas atividades e explorar mais cada uma delas, dançando, cantando e tocando de
diferentes maneiras. Cabe usar a criatividade....
Os cantos de entrada e de saída podem ainda estarem presentes, mas devemos
escolher canções com melodias e letras apropriadas para a idade. Utilizá-los pode
estabelecer um início e um final de aula alegre e feliz.
Nesta aula podemos desenvolver atividades de canto, solfejo, percepção auditiva
e rítmica, expressão corporal, apreciação musical, conjunto instrumental, etc.
Nesta faixa etária, o conhecimento musical pode ou não interessar aos alunos e,
portanto, torna-se necessário pensar e avaliar a abordagem metodológica que queremos
utilizar ou estamos utilizando, para que assim, possamos buscar uma prática
educacional mais efetiva.
Os “mocinhos” e “mocinhas” podem auxiliar o professor na escolha do
repertório ou mesmo na escolha da direção que uma determinada atividade vai tomar.
Por exemplo: O que podemos fazer com esta música? Qual instrumento podemos
utilizar para acompanhar esta canção? Basta que o professor constantemente questione
os alunos sobre suas preferências ou suas vontades e mostre para eles que nem sempre
todas as possibilidades são possíveis. Por exemplo: cada instrumento possui o seu
timbre, e nem sempre o mesmo instrumento combina com todas as músicas. Alguns
instrumentos acompanham melhor uma canção do que outra. Devemos mostrar o
porquê isso acontece. Esta postura mais democrática, inclusive pode facilitar o trabalho
do educador.
O trabalho com a improvisação e a composição musical, como dito acima,
também desperta nos alunos o prazer em fazer música. A utilização e criação de letras
de canções e parlendas são fontes inesgotáveis para a compreensão da linguagem
musical e para o desenvolvimento da criatividade.
O desenvolvimento da percepção auditiva também não deve ser esquecido,
muito pelo contrário, ele desperta o aluno para o mundo dos sons, apreciando o
ambiente sonoro no qual está inserido. Enny Parejo (s/d) nos mostra:

Uma das funções da educação musical é justamente levar o


educando à apreciação do ambiente sonoro que o cerca. A pedagogia
musical atual não se interessa apenas por sons”agradáveis” ao ouvido,
mas sim por todos os sons. Aprendemos a cada dia a lidar com os sons
e ruídos trabalhando a sua beleza potencial. Beleza que advém de sua
pesquisa, manipulação, preparação e ordenação segundo padrões
estéticos que nos orientam. Descobrimos que os ruídos podem ser
belos, e muito prazeroso produzi-los. (PAREJO, s/d, p.3)

Este é o momento em que podemos descobrir os sons e transformá-los, mesclá-


los e juntá-los, sonorizando e produzindo sons. Assim podemos trabalhar com a
sonorização de cenas, histórias e personagens. Ao contrário do que muitos pensam e
com o tempo, com o meu trabalho em educação musical, pude comprovar o quanto as
crianças nesta idade adoram histórias. Elam adoram contos que envolvam
encantamento, aventuras, explorações. Também gostam de fábulas, mitos e lendas.
Além de sonorizar as histórias, elas já conseguem planejar e criar cenários. Gostam de
interpretar, escolhem papéis, se caracterizam e se preocupam com o resultado final.

As estórias são como uma sonata. As crianças exigem que as


estórias sejam repetidas da forma como as ouviram pela primeira vez.
O conhecimento, uma vez dito, não precisa ser repetido. Mas a
música, se bela, exige a repetição. As estórias não são conhecimento.
São música.(RUBEM ALVES, 2008, p. 89)

Para incrementar o trabalho de escuta e sensibilização, podemos sugerir um


trabalho com construção de instrumentos. As crianças nesta idade gostam de aprender
fazendo e se sentem parte do que fizeram. Quando a criança faz é chamada a pensar e
acaba aprendendo efetivamente. Com o trabalho de construção de instrumentos é
possível entender melhor como nascem os sons, como funcionam as caixas de
ressonância, e assim por diante.
Jogos e brincadeiras, típicos da aula de educação musical não podem ficar de
fora. As possibilidades lúdicas não podem ser excluídas, pois elas estabelecem a
fundamentação para o amadurecimento social, emocional, físico e cognitivo do aluno.
Muitas vezes, nesta etapa a escola “sufoca” os alunos com conteúdos, tarefas e
disciplina. Desta forma, a aula de música pode ser um espaço mais divertido e alegre.
Ilza Joly (s/d) nos mostra que através de jogos e brincadeiras podemos atingir os
seguintes objetivos:
1. Cantando:
- explorar vários tipos de vozes, como cantarolar e zumbir.
- desenvolver o controle da voz – cantar afinada.
- desenvolver um repertório de canções.
2. Tocando:
- criar diferentes maneiras de produzir sons.
- explorar o ambiente para descobrir diferentes sons e o uso possível para
eles.
- experimentar sons corporais e vocais.
- escolher sons para acompanhar canções, histórias, composições, etc.
3. Movimentando-se:
- usar seu próprio repertório de movimentos e inventarem novos.
- dramatizar canções.
- executar jogos musicais.
- dançar obedecendo a um pulso ou ritmo.
4. Ouvindo:
- responder aos estímulos sonoros de músicas de diferentes formas, culturas
e tipos
- descrever músicas verbalmente ou não verbalmente.
- conhecer o ambiente sonoro em que está inserida.
Em qualquer época da vida de crianças e adolescentes, as brincadeiras devem
estar presentes. Brincar não é coisa apenas de crianças pequenas. Muitas vezes nós
fragmentamos sua ação, colocando de um lado os jogos e as brincadeiras e de outro, o
trabalho e os estudos. Todos precisam brincar, sonhar e fantasiar para viver. O
desenvolvimento do aluno também depende deste mundo lúdico.
É brincando que a gente se educa e aprende. Alguns, ouvindo
isso, pensam que quero tornar a educação coisa fácil. Coitados! Não
sabem o que é brincar!Brinquedo fácil não tem graça. Brinquedo, para
ser brinquedo, tem de ter um desafio. (RUBEM ALVES, 2008, p. 42)

6.4 Considerações finais

A música favorece a integração de alunos, professores e conteúdos de forma


totalitária e não fragmentada. O tocar, o cantar, o dançar, o olhar e as trocas afetivas,
fazem com que todos vivenciem e se envolvam numa constante relação de carinho, onde
a aprendizagem é mais fluente e significativa. Esta integração valoriza o ser humano
em todas as suas dimensões. Para isso, o professor deve ficar atento a sua expressão
musical, ao uso de seu corpo e de sua fala, buscando se comunicar, não só verbalmente,
mas corporalmente com seus alunos.
O educador que se propõe a desenvolver um trabalho com educação musical
deve estar ciente de que esta desenvolvendo uma ação formadora de pessoas sensíveis
às artes e a cultura e mais conscientes para intervir nas questões sociais. Joly escreve:

De maneira geral, em se tratando de um professor de educação


musical, quanto mais completa for sua cultura, mais amplitude e
domínio demonstrará na prática de seu ensino, pois esta se encontra
estreitamente vinculadas artes e a todas as outras disciplinas. Quando
os alunos percebem que o professor tem uma preparação sólida, a dose
de admiração e respeito será ampliada, criando-se um clima próprio
para o desenvolvimento da atividade em sala de aula. (JOLY, s/d, p.7)

O professor deve procurar pesquisar sempre, não só conteúdos, atividade ou


questões relacionadas ao desenvolvimento de suas crianças, mas principalmente, ele
deve pesquisar a si próprio. Deve se questionar, deve procurar sempre se renovar e se
recompor, deve estar aberto a conhecer coisas novas e a mudar sua metodologia se for
necessário. A aula deve ser um espaço pleno de significados, não só para os alunos, mas
também para o professor, que deve compreender o processo que está vivendo e ter
prazer em ensinar. Em minha prática pedagógica eu procuro sempre pensar em práticas
que sejam prazerosas para as crianças e que sejam extremamente gratificantes para
mim. Procuro me dedicar, em momentos fora do trabalho para praticar uma música,
exercitar uma dança ou ensaiar uma apresentação de história ou de teatro que estarão
fazendo parte das próximas aulas que ministrarei. Desta maneira eu me sinto renovada e
satisfeita coma minha atuação – e parece que as crianças também!
As crianças têm seus direitos e precisam de atenção diferenciada. Assim os
educadores necessitam de constante “reciclagem” de conhecimentos para que, com o
tempo, possam aperfeiçoar sua sabedoria e suas “ferramentas” de trabalho. Devemos
ser transformadores e nos unirmos a outros que também podem transformar.

Logo, o grande diferencial metodológico do que faço está


naquilo que as pessoas conseguem perceber sobre si próprias. Dentre
estas percepções, eu poderia destacar: a percepção de que o processo
de ensinar/aprender é vivo e prazeroso; a percepção de que a emoção é
responsável pela alquimia que torna possível a relação
professor/aluno, aluno/aluno; a percepção de sua própria fragmentação
de ser e da fragmentação do processo de educar. Estas percepções,
entre outras, são então fundamentais, pois, a partir delas, a mudança se
torna possível, não somente para que se tenha melhores alunos e
professores, mas sobretudo para que se possa viver melhor, amar,
relacionar-se e reunir-se, promovendo a unidade de todas as
dimensões humanas.(ENNY PAREJO, s/d, p.7)

É de grande importância que cada um analise, questione, avalie e selecione quais


os meios que serão mais pertinentes para se trabalhar com a educação musical, de
acordo com seus alunos, sua realidade, seu tempo. O importante é que o educador
utilize o bom senso, a imaginação e a criatividade, despertando os sentimentos de
partilha, amor, responsabilidade e verdade, levando os alunos a desenvolverem o seu
pensamento, os seus interesses, suas idéias e ideais. Fazendo assim, certamente será
bem sucedido em sua prática pedagógica e em sua profissão.

6.5 Estudos complementares


6.5.1 Saiba mais

Nos estudos complementares desta unidade, trarei sugestões de materiais


didáticos que vocês podem adquirir e utilizar para ampliarem seus conhecimentos sobre
a prática pedagógica.
 Para fazer música, de Cecília Cavalieri França. Belo Horizonte: Editora
UFMG, volume 1, 2008.
 Para fazer música, de Cecília Cavalieri França. Belo Horizonte: Editora
UFMG, volume 2, 2010.
 De todos os cantos do mundo, de Heloisa Prieto e Magda Pucci. São
Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008.
 Ouvinte Ativo(Apreciação Musical Infantil), de Elvira Drummond.
Fortaleza, Ceará: LMiranda Publicações, 2007.
 Descobrindo a música – idéias para a sala de aula, de Elizabeth Krieger.
Porto Alegre: Sulina, 2007.
 A Orquestra tintim por tintim, de Liane Hentschke, Susana Ester Kruger.
Luciana Del Bem e Elisa da Silva e Cunha. São Paulo: Moderna, 2005.

6.5.2 Atividades de aplicação, prática e avaliação

1. Sons da cidade
Sugestão de gravação: Cd Musicaliza, produzido pela Universidade Federal de
São Carlos, faixa 44, 45 e 46.
Objetivos:
- Desenvolver a capacidade de atenção e concentração na escuta
- Desenvolver a prática instrumental em grupo
- Trabalhar a imaginação sonora
- Desenvolver a acuidade auditiva
- Ampliar o repertório de sons conhecidos e utilizados pelas crianças
- Pesquisar fontes sonoras diversas
- Valorizar formas expressivas de locomoção
Descrição da atividade:
Pedir para que as crianças escutar com atenção. Logo após, o professor deverá
questionar os alunos: O que vocês estão escutando? O que é? Como faz? Assim que as
crianças adivinharem, propor uma reprodução do que escutaram, sugerindo: Vamos
montar uma cidade? O que poderíamos utilizar para montar os sons da cidade? Quais
instrumentos? Percussão corporal? Vocal? Poderíamos utilizar algum objeto diferente?
Proceder a atividade “montando” com as crianças, em grupo, os sons da cidade,
utilizando o que for da escolha delas. Logo após perguntar: Alguém gostaria de passear
na cidade?
Sugerir que alguns alunos a alunas representem o passeio corporalmente
enquanto os demais fazem os sons. Como você desenvolveria esta escuta?

2. Vamos passear ?
Sugestão de canção: Cd Rumo – Quero passear, produzido por Palavra Cantada,
faixas 9 e 10.
Objetivos:
- Desenvolver a capacidade de atenção
- Trabalhar a imaginação visual
- Desenvolver a acuidade auditiva
- Desenvolver o contato social
- Valorizar o movimento expressivo
- Ampliar a capacidade de manter-se em silêncio
Descrição da atividade:
As crianças deverão escutar a música atentamente. Logo após, o professor
deverá sugerir: Vamos passear de carro?
Os alunos devem andar, acompanhando a música proposta e fazendo os som
bucal que simula o barulho do motor do carro. Podemos direcionar esta caminhada,
acompanhando também a letra da música: trilhando caminhos, andando de ré, desviando
das galinhas, observando o cachorro...
Podemos utilizar também algum instrumento que simule uma direção, buzinas e
apitos, etc. O que você pode criar e utilizar? O que mais podemos fazer com esta canção
para trabalharmos outros elementos musicais? Pense...

3. As borboletas
Sugestão de história: Cd Mil pássaros – Sete histórias de Ruth Rocha, produzido
por Palavra Cantada, faixa 2.
Objetivos:
- Desenvolver a capacidade de atenção e escuta
- Trabalhar a imaginação visual e sonora
- Desenvolver a acuidade auditiva
- Desenvolver o contato social
- Valorizar o movimento em grupo
- Ampliar a capacidade de manter-se em silêncio
- Desenvolver o trabalho em grupo
Descrição da atividade:
As crianças deverão escutar a linda história com atenção e depois, o professor
pode iniciar uma conversa sobre ela. Logo após, o professor deverá colocar a canção
criada por Paulo Tatit e Zé Tatit para esta história. As crianças devem escutar e entender
o que diz a música. Propor para as crianças: Vamos dançar como as borboletas?
Separar a sala em alguns vários grupos de “borboletas”: azuis, amarelas,
brancas, vermelhas...e pedir que cada grupo crie uma pequena dança a partir da música
apresentada.
Cada grupo deve apresentar a coreografia elaborada para a música e todos
devem assistir. Por último o professor pode sugerir que as crianças elaborem uma única
dança, juntando os movimentos propostos e “todas as cores de borboletas”, assim como
sugerido na história. O que mais podemos fazer? Podemos tocar? Cantar? Vamos criar?

Você também pode gostar