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Sobre centralidade urbana

Dieter Hassenpflug

Do meu ponto de vista, existem três definições básicas de “cidade”. Uma


delas é precisamente sobre a centralidade urbana.
A primeira definição é uma criação da filosofia da história. Ela categoriza
a cidade e a sua história ambas como um produto e produtor da civilização.
Deste ponto de vista, a cidade é considerada como uma força espacial que
impulsiona o avanço da sociedade e a liberação dos seus vínculos com a
tradição (comunidade), assim transformando sociedade em sociedade civil (1).
Esta forma de entendimento da cidade como “máquina civilizadora” pertence a
diferentes linhas das ciências humanas, representadas, inter alias, por cientistas
como Karl Marx, Ferdinand Toennies, Max Weber e Henri Lefèbvre.
A segunda definição é sociológica e conceitua a cidade como “presença
da diversidade e diferença” (2). Embora este fenômeno da diversidade e
diferença em grandes cidades fosse freqüentemente experimentado e descrito
desde o fim do século XVIII – por exemplo, por Georg Lichtenberg, Charles
Baudelaire e Walter Benjamin – foi Georg Simmel quem primeiramente o
transformou em conceito chave da nova ciência da Sociologia. Esta definição
marca o princípio da sociologia urbana no início do século XX. Louis Wirth,
imigrante alemão nos EUA, aluno de Park, Burguess e influenciado por Simmel,
introduziu o conceito de cidade enunciado por este último no corpo teórico da
Escola de Chicago. Naquele momento, diversidade e diferença foram definidas
com base em propósitos empíricos como “heterogeneidade”. Desde então, a
cidade é considerada como um lugar caracterizado por tamanho, permanência,
densidade e heterogeneidade.
A terceira definição se refere à cidade como lugar de centralidade cultural.
As cidades são cidades porque – e quando – elas têm um centro (ou mais
centros, por exemplo, uma hierarquia de centro principal, subcentros e centros
de vizinhança). Os centros têm grande importância no provimento da forma
urbana e de sua coerência. Eles tornam as cidades distintas e legíveis. Como
preconizado pela Escola de Chicago, a saber, por E. Burguess e R. Park, o
centro urbano é em princípio, o lugar com o maior significado simbólico, o solo
mais escasso e a melhor acessibilidade (3). A combinação destes aspectos torna
os centros urbanos certamente os espaços mais caros da cidade.
As idéias da “cidade” e do “centro” estão sempre ligadas. As primeiras e
as mais antigas “cidades” da história eram híbridos de casas de imperadores
divinos: templos e palácios, assim como aquelas derivadas de lugares sagrados
centrais. O mais primitivo destes centros enigmáticos poderia ter raízes nas
lareiras das tribos da Idade da Pedra. A poderosa magia dos antigos lugares
sagrados de reuniões de ritos e cultos os fez finalmente muitíssimo atrativos para
os então chamados “grandes indivíduos” (4) ou “grandes homens” (5), em sua
maioria líderes militares, ou melhor, líderes tribais. Estes se apoderaram dos
centros de cultos, usurparam o totem do clã e, quando as comunidades se
estabeleceram, finalmente construíram as suas grandes casas’ exatamente
neles. Assim, as primeiras cidades palácio-templo foram criadas.
Apesar dos antigos lugares sagrados das sociedades tribais terem sido
executados sob um processo de mais de mil anos de transformações culturais –
o seu espírito significativo nunca desapareceu por completo. Nos tempos
antigos, as cidades eram consideradas lugares divinos e espaços mágicos
habitados por poderosos líderes espirituais e políticos semelhantes a deuses.
Em tempos medievais na Europa, toda cidade queria ser uma espécie de
Jerusalém sagrada, e do Renascimento à Revolução Francesa, as imagens da
cidade perfeita carregavam as expectativas humanas de possuir o poder da
divina razão. Enquanto os lugares centrais modificaram completamente sua
aparência e funções, a sua aura permaneceu e reaparece até hoje em diferentes
expressões culturais da centralidade urbana.
Dando os primeiros passos para a separação do espaço sagrado do
profano pela criação da ágora em aproximadamente 800 A.C., os gregos foram
os primeiros a dar à centralidade urbana a face dual de uma Esfinge. Esta
separação deve que ser tomada como o resultado de um synoikismo (6) ou
synecism (7). Synoikismos deve ser entendido como um meio para evitar a
monarquia. Refere-se à fundação de uma irmandade de patrícios rurais assim
como uma nova cidade, na ocasião de uma cerimônia de inauguração sagrada.
Naquele momento, uma irmandade de soberanos substituiu a monarquia
anterior. Estes soberanos denominaram as suas cidades de polis e a sua ação
relacionada a ela de democracia (política do povo). Seguindo o exemplo das
suas então cidades-mãe (como Atenas), os fundadores construíram uma
acrópole (uma cidade templo no topo de uma colina) e uma praça chamada
ágora.
A ágora tem que ser interpretada como um tipo de palácio comunitário ou
corte de cidadãos – uma versão civil dos palácios-templos anteriores. Este lugar
central se mostrou amplo o suficiente para abrigar a Assembléia Popular do
povoado em crescimento – durante o período clássico incluindo somente
homens gregos maduros possuidores de terras. A primeira democracia da
história se constituiu em domínio de proprietários de terras. Esta é a razão pela
qual Max Weber denominou a polis de cidade de cidadãos rurais
(Ackerbuergerstadt). Mulheres, estrangeiros (em sua maioria comerciantes e
artesãos) e escravos eram excluídos da Assembléia do Povo. A ágora
simbolizava uma sociedade que, apesar de urbana, permanecia culturalmente
centrada na vida rural, como uma instituição semi-urbana.
A ágora definiu uma instituição total (8), isto é, sistemas sócio-espaciais
que ainda não se diferenciaram funcionalmente como os sistemas modernos.
Compreendia todas as funções e instituições importantes da sociedade antiga:
o parlamento, um tipo de proto-prefeitura, o tribunal, vários templos, a casa da
moeda, escolas, a primeira universidade (stoa), teatro, e eventos. Servia como
lugar de muitos eventos sociais, para cerimônias religiosas, procissões,
celebrações e festivais de todas as sortes, como um palco para contadores de
histórias e aqueles que traziam as últimas notícias e por último, mas não pior –
e até mesmo mais extraordinário – como um antepassado da praça do mercado.
A ágora era a representação espacial da transformação da economia palaciana
(rural e de subsistência) para a economia civil (urbana e de mercado),
simbolizando então a economia de mercado emergente (9).
Não é de surpreender que sob essas circunstâncias a economia de
mercado parecesse duvidosa e a imagem do comércio não fosse tão boa. A
sociedade grega excluiu mercadores profissionais dos direitos civis por um longo
período (10) e, de tempos em tempos, o governo fechava a ágora alegando que
atividades indecentes estavam conectadas às transações mercantis. Não foi
ninguém menos do que Aristóteles quem nos deu a explicação para este
comportamento. Ele argumentou que a troca direta de produtos era boa e que o
uso do dinheiro para comprar commodities (mercadorias) era também capaz de
suportar o ideal de boa vida. Em contrapartida, a barganha objetivando lucro
deve ser considerada incompatível com as regras da boa vida e do bom governo.
A propósito: este princípio se tornou fonte das maiores proibições canônicas de
interesses da Igreja Católica Romana medieval.
Esta instituição religiosa ocidental, sendo a mais importante herança do
Império Romano arruinado, manteve e transmitiu um pouco da sua cultura,
especialmente a língua e, relacionada com ela, sua memória cultural. Enquanto
os imperadores continentais medievais (primeiramente aqueles do então
chamado Império Romano Sagrado das Nações Germânicas) residiam em
palácios capitais móveis denominados palatinos, os bispos reinavam em centros
estáveis chamados civitates (no singular civitas). Até hoje e com muita
freqüência, estas civitates são consideradas meras cidades. Entretanto, isto é
obviamente errado. As civitates eram centros predominantemente de cultura
rural. Elas eram castelos, palácios, residências de bispos, centros
administrativos e espirituais de dioceses com catedrais, mosteiros e outras
instituições religiosas – mas sem praças ou atividades de mercado consideráveis
e assim, sem comerciantes ou outros habitantes civis. Por outro lado, as civitates
pertenciam aos primeiros a ganhar direitos urbanos.
Nos tempos medievais, começando em aproximadamente 1000 D.C., a
economia de mercado tomou outro rumo na Europa feudal. O comércio se tornou
o poder dirigente do renascimento urbano. Entretanto, tal renascimento não deve
ser entendido como mera reanimação da antiga cidade romana. Deparamo-nos
com um desenvolvimento completamente novo, o qual trouxe finalmente cidade
e cidadania em acordo. Enquanto polis, cidade romana e civitas tinham sido
criações de sociedades basicamente agrárias, isto é, sociedades culturalmente
fundamentadas na vida rural e suas ideologias e ideais. A ‘cidade medieval’ era,
sobretudo, uma criação de comerciantes, mercadores e artesãos, ou melhor, de
negociantes leigos, isto é, pessoas existencialmente dependentes da economia
mercantil. A cidade medieval é uma criação do – segundo – synecism dos
mercadores. Denominamos estas novas irmandades de guildas. Como as
cidades de guildas (corporações) são, apesar de muito religiosas, centradas na
economia mercantil, a praça do mercado se tornou o mais importante símbolo
do seu status urbano.
Independentemente das reformas e novas tecnologias agrícolas, foi a
economia mercantil que se tornou a força condutora por trás da rápida
urbanização medieval. Em menos de 300 anos, de aproximadamente 1000 a
1300, foram fundadas cerca de 80% de todas as cidades européias. Como os
documentos de fundação – leis (direitos) de empréstimos de mercado, comércio,
impostos, casa da moeda, eleições, tribunal de justiça, assembléia, segurança,
auto-governo, etc. para a câmara municipal – eram assinados e entregues por
imperadores, reis, bispos, eleitores, duques ou príncipes poderosos, muitos
historiadores consideravam (e ainda consideram) estes soberanos feudais como
os verdadeiros fundadores das cidades medievais.
Porém, esta interpretação é errônea: ela subestima a contribuição real dos
‘mercatores’ e ‘negociatores’ (11) para a revitalização da cultura urbana.
Especialmente os mercadores distantes, aqueles patrícios comerciais, ajudaram
as cidades e estabeleceram a sua cultura urbana medieval. Os imperadores, reis
e duques, por desfrutar das vantagens fiscais de uma próspera economia de
mercado, meramente cooperaram e deram a sua bênção aos resultados que
foram, acima de tudo, alcançados por estes atores. Nós podemos considerar os
nobres citados como os fundadores formais da cidade. Entretanto, os
comerciantes, mercadores e artesãos foram os fundadores reais da cidade.
A cidade européia é uma criação do que chamamos ‘velha burguesia’ ou
terceiro estado – daqueles que procuravam (e pagavam) pela proteção dos
soberanos contra piratas ou outros criminosos e, por esta razão, freqüentemente
decidiam se estabelecer próximo aos seus castelos. A língua alemã preserva a
memória deste incipiente estágio do urbanismo europeu ao chamar os cidadãos
até hoje de Buerger (burgueses). Um castelo é um Burg e Buerger significa:
‘aqueles que se assentaram num castelo’. A muralha da cidade é um
descendente da muralha do castelo. Ela deve ser considerada não apenas como
algo muito útil para a proteção contra ataques feudais, mas também como
símbolo de independência civil. Se olhares para as antigas prefeituras
contornando as praças dos mercados medievais – não parecem elas castelos?
Não é surpreendente. A história urbana nos mostra o fato de que sociedades
descendentes predominantemente usarem o estoque de imagens, símbolos e
estilos dos seus precedentes para dar às suas próprias cidades, novas
identidades culturais. Até hoje, muitas cidades pequenas da Itália Central,
especialmente na Toscana, parecem castelos (12).
Como a economia de mercado – comprando e vendendo mercadorias –
se tornou o centro social da cidade medieval, a praça de mercado, por sua vez,
se tornou o centro da cidade medieval. Porém, a praça do mercado deve ser
considerada como uma parte importante de conjunto espacial que, como um
todo, é um centro sócio-cultural. Justamente como a ágora, este centro é bipolar,
combinando uma área sagrada e outra profana. Por um lado, encontramos a
igreja ou a catedral com a sua infra-estrutura de empatia e compaixão como
mosteiro, hospital, asilo para pobres, e cemitério; do outro lado vemos a praça
do mercado, com a sua infra-estrutura pública e civil como prefeitura, escola,
tribunal, prisão, etc. Comparável com a ágora, a praça do mercado era uma
instituição total que compreendia todas as funções públicas importantes. Mas
naquele momento, a função mercantil detinha o mais alto posto e marcava a
posição do centro, incluindo o espaço sacro. Novamente, o potencial memorial
da língua nos convence quão próximos o sagrado e o profano estão: o termo
alemão “Messe”, por exemplo, tem dois significados, um é “feira (comercial)” e o
outro é “missa (religiosa)”.
Estudando cuidadosamente os aspectos deste centro sócio-cultural
bipolar da antiga cidade européia, verificamos que ele é o responsável pela
comparativamente baixa densidade do centro da cidade. Como regra: quanto
mais perto das muralhas da cidade, maior a densidade. Este uso generoso do
espaço urbano central salienta o seu significado sócio-cultural representativo. O
centro é um palco público. Ele é (ou reclama ser) espaço público, isto é, espaço
que é (ou deveria ser) acessível para todos, para os ricos e pobres, os jovens e
velhos, nativos e estrangeiros. Como regra, os estrangeiros eram, naquela
época, comerciantes distantes. Em alemão, os termos “estrangeiro” (Fremder) e
“comerciante” (Haendler) se mantiveram como sinônimos até meados do século
XIX!
Sabendo da importância da praça do mercado no processo de
reanimação urbana medieval, não é surpresa que ela esteja localizada, quase
sem exceção, no ponto médio (centro) de um desenho urbano concêntrico radial.
Apesar de predominantemente arqueadas ou curvas (seguindo a situação
topográfica assim como um ideal estético) todas as ruas importantes conduziam
diretamente a este lugar, tornando-o o mais acessível espaço da cidade.
O Renascimento resumiu este padrão radial concêntrico e o combinou
com o modelo medieval urbano guia da sagrada Jerusalém. Ligando-o com as
suas idéias de individualismo e razão (perspectiva e racionalidade) surgiu a
então conhecida “cidade ideal”. A ‘cidade ideal’ deveria refletir um mundo perfeito
– um mundo artificial. Ela deveria simbolizar a habilidade humana de agir como
o divino Criador. Sobretudo, a cidade ideal enfatizava a centralidade. As
muralhas da cidade ficaram em segundo posição. É por isso que a maioria
destes planos nos apresenta cidades com fortes padrões radiais concêntricos –
e pesadas fortificações. Dependendo do contexto cultural destas criações,
podemos encontrar uma prefeitura e uma plaza (praça do mercado) no centro
(por exemplo os planos toscanos) ou um castelo (freqüente nos planos alemães).
Os planos de cidades ideais foram postos em prática durante a era do
absolutismo – também conhecida como época estilística do Barroco. O desenho
do Vaticano de Bernini serviu essencialmente de modelo para a nova arquitetura
residencial da época barroca, bem conhecida através de Versailles, o palácio de
Luís XIV. Lá, o centro dos gigantes e extensos parques era o seu dormitório. Na
Alemanha, várias cidades residenciais foram construídas de acordo com os
planos de cidades ideais, mais proeminentemente as cidades de Mannheim,
Karlsruhe e, como uma extensão de Berlim medieval, o Friedrichvorstadt.
A centralidade americana
Façamos agora uma pequena excursão à América do Norte. Naquele
lugar, emergiu uma nova civilização, a qual era fortemente ligada à cultura rural
– e por isso não particularmente interessada em fazer cidades e em dar especial
atenção à vida urbana. Por outro lado, seria totalmente errôneo tomar a
civilização americana como meramente rural. Sendo rural e urbana ao mesmo
tempo, ela combina e integra aspectos tradicionais e modernos desde o primeiro
momento. Os colonizadores, seguindo o ideal do ‘homem comum’, criaram o que
eu chamo de “paisagem republicana”, uma paisagem que não é rural nem
urbana, mas ambas simultaneamente – uma paisagem híbrida de proveniência
americana. A versão radical da Broad-Acre-City de Frank Lloyd Wright é um
exemplo perfeito de uma paisagem republicana americana. Ela apresenta uma
paisagem rural-urbana ortogonalmente estruturada – um espaço sem nenhum
centro.
Mas o que aconteceu quando modelos ideais de cidades de produção
espacial barroca fortemente centralizadores migraram para o Novo Mundo e
encontraram esta incipiente paisagem republicana? O mais notável master plan
urbano barroco foi feito pelo arquiteto francês L’Enfant para Washington DC, a
capital do país. Além disso, Washington influenciou fortemente o designer
urbano Peter Durham. Inspirado pela estética do seu arranjo espacial barroco,
ele esboçou uma cidade ideal como master plan para Chicago e estabeleceu o
então chamado movimento City Beautiful. Este movimento, fazendo a travessia
transatlântica reversa, tornou-se também influente na Grã-Bretanha (13). Mas
Durham permanece uma exceção (14).
Sendo pragmáticos de livre pensamento e modernos desde o princípio,
os americanos estavam interessados em bons negócios e consideravam correto
se certas estruturas, formas e figuras do espaço pudessem ajudar a melhorar o
desempenho econômico. Em vez de ser entendida como um fim em si mesmo,
a cidade era considerada como um meio para propósitos exteriores. Então, as
cidades americanas – especialmente nos tempos passados – devem ser
consideradas, mais ou menos, como efeitos colaterais espaciais da economia de
mercado moderna ou, no máximo, como um meio para melhorar os negócios.
Mas estes efeitos colaterais (ou meios) são muito singulares: demonstram que o
capitalismo liberal é uma força que cria uma nova centralidade – e assim uma
nova cidade. Antes de examinar este fenômeno da centralidade americana mais
detalhadamente, devemos dar uma olhada na forma mais típica de produção
espacial no Novo Mundo.
Ao examinarmos minuciosamente o desenho da Broad-Acre-City,
percebemos que faltam elementos da iconografia dos jardins barrocos
(franceses) e ingleses, enquanto a grelha é dominante. Apesar de fundamentada
na arquitetura palaciana ocidental antiga e usada pelo mítico primeiro urbanista
Hipódamo de Mileto e por designers urbanos romanos, a grelha se torna uma
figura espacial americana típica e de imagem relevante. Desde o terceiro
presidente americano Thomas Jefferson (um antiurbanista declarado) o sistema
em grelha (o qual, segundo o Ato de Homestead de 1862, fez uma medição
suprema do desenvolvimento e prescrições espaciais) é considerado um signo
de igualdade e democracia. Desde então, a malha ortogonal tem sido uma
espécie de marca registrada da paisagem republicana americana. Como uma
conseqüência, planos renascentistas e barrocos eram rejeitados freqüentemente
por causa do seu simbolismo de hierarquia espacial. A centralidade radial
concêntrica era tida como incompatível com as visões de igualdade e
democracia. Assim, é pouco surpreendente o fato de encontrarmos casos em
que cidades começaram a ser construídas de acordo com os planos barrocos e
foram, passo a passo, sendo reintegradas ao sistema de grelha total (por
exemplo, Circleville).
Inacreditavelmente, nem a orientação rural da população ou o sistema de
grelha arranjado administrativamente preveniu que a sociedade americana
produzisse cidades com um novo e muito forte tipo de centro. É um centro de
negócios, produzido (ou devo dizer “inspirado”?) pela mão invisível da economia
liberal de mercado. Nós o conhecemos por CBD (ou downtown). Este tipo de
centro reflete o desejo dos negócios de usar fatores de localização como alto
valor simbólico e muito boa acessibilidade. Não é nenhuma surpresa que os
grandes negócios estejam juntos em CBD’s para participar de economias de
escala, efeitos positivos externos e outras vantagens econômicas
proporcionadas pelas sinergias deste espaço excepcional (15).
Como o espaço central é limitado, uma forte competição por esta área
ocorre e o preço do solo sobe vertiginosamente. Para diminuir a pressão do
preço do solo, os prédios altos – ou melhor: o elevador – foi inventado. Assim, o
Novo Mundo se tornou o pioneiro do arranha-céu e do conjunto de arranha-céus
que formam o CBD. O CBD deve ser tomado como um retorno – ou uma
reinvenção não-intencional – da centralidade urbana. A civilização norte-
americana não procurou por centros ou hierarquias espaciais – mas realizou
ambos. O fez de uma maneira nova, demonstrando que a grelha não é capaz de
proteger contra a centralidade e a hierarquia espaciais. O CBD nos mostra um
novo tipo de hierarquia espacial que parece ser justamente o oposto da européia.
Enquanto a hierarquia espacial européia é horizontal, a americana é vertical (16).
As fortes tradições políticas na Europa certificaram – e ainda certificam –
que os CBD’s não puderam – e não poderão – aparecer nesta parte do mundo
até hoje. Todos os esforços para ‘criar’ distritos de negócios na Europa
permanecem, por fim, mais ou menos, o que eles são: tentativas políticas
incapazes de substituir as soluções do mercado liberal – mesmo espacialmente.
O projeto francês La Defénse em Paris, por exemplo, consiste em um CBD
sintético (ou político). Depois de muitos anos, sabemos que este moderno bairro
nunca foi capaz de competir com o centro velho (ou centros) de Paris.
Permanece fraco e dependente da vida, energia e suporte de instituições
públicas. Uma análise similar pode ser feita em Frankfurt/Main, o centro do
tráfego aéreo alemão e financeiro europeu. Os cerca de 20 arranha-céus não
deram a esta cidade e à sua área metropolitana do Reno-Main uma nova
centralidade (americana). O Frankfurt Roemer e as cercanias desta antiga praça
do mercado se mantêm como lugar onde bate o coração da cidade. Por outro
lado, os arranha-céus são fortes suficientemente para contribuir para um tipo de
imagem híbrida relacionada com o centro de Frankfurt/M. E alguns casos na
Europa oriental, Varsóvia na Polônia, por exemplo, nos mostra que espaços
parecidos com CDBs emergem onde precondições apropriadas existem (ou uma
real economia de livre mercado e/ou uma ausência de intervenções estatais).
A centralidade em tempos proto-modernos
Jefferson, sendo um embaixador na França no período pré-revolucionário
(durante o ano de 1770), pôde ter contato com os visionários da paisagem
republicana francesa e suas cidades novas. O arquiteto proto-revolucionário
Claude Nicholas Ledoux era um deles. Ele foi o designer das primeiras cidades-
jardim (ou melhor: cidades republicanas) e posicionou os símbolos de uma nova
cultura burguesa nos seus centros: em Chaux (1775-1759), em parte uma cidade
construída real, uma casa de um diretor, com duas salinas industriais em ambos
os lados, é posicionada no centro, refletindo a emergência da sociedade do
trabalho e do capitalismo.
Outro master plan de Ledoux, a cidade-jardim de Maupertuis, antecipou
os ideais urbanos da Revolução Francesa com a sua combinação de escola e
prefeitura (um ‘templo da razão’). Os templos revolucionários centrados na razão
eram edifícios que pareciam montanhas exteriormente e catedrais internamente.
Moll, um arquiteto com relações estreitas para com o poderoso comitê do bem-
estar, propôs um master plan para uma cidade de 100.000 habitantes. A cidade,
com um arranjo em grelha romano, apresentava um tipo de templo público da
razão, um híbrido de prefeitura e universidade, localizado no centro. Este edifício
proeminente era cercado por quatro jardins, um francês (barroco), um inglês
(pitoresco), um chinês (combinando dialeticamente o racional barroco e o
pitoresco inglês) e por último, mas não menor, um jardim científico (jardim
botânico) simbolizando o espírito da modernidade (17).
Jefferson já estava de volta à América quando o revolucionário comitê do
bem-estar, inspirado pelas idéias de Jean-Jacques Rousseau, decidiu
transformar a França inteira em um jardim inglês. A idéia era sobre igualdade de
justiça social e beleza: uma boa sociedade com uma boa constituição que
garante direitos iguais para todos, justiça, liberdade de palavra, etc. se
expressam em um paraíso como a paisagem republicana. O jardim inglês era
considerado como a representação espacial ideal da república burguesa. Este
deve ser tomado como a Broad-Acre-City européia, como uma paisagem sem
centro e hierarquia espacial. Mas este projeto falhou desde o princípio. Era muito
grande para a França, assim como para uma sociedade de poderes sociais
heterogêneos e díspares.
Entretanto, houve um Estado europeu que esteve próximo do ideal de
paisagem republicana de Rousseau. Este foi o Principado de Dessau-Anhalt, um
pequeno Estado alemão. Localizado no vácuo da grande Prússia, foi abençoado
por um compreensivo e moderno pensador admirador das idéias do Iluminismo.
Seu nome era Duque Leopoldo III, Franz de Dessau-Anhalt e sua crença também
inspirada por Rousseau. Um bom governo seria refletido em uma paisagem
pitoresca. Cidade e país belos, por um lado, e liberdade e justiça, por outro, estão
juntos (18). Partes dos seus belos estados-jardim ainda existem (Dessau-
Woerlitzer Gartenreich).
A idéia republicana de rejeitar a centralidade espacial é uma idéia
moderna. Ela permanece como ela realmente era: uma visão. Incrivelmente, a
história européia de procura pela “ausência de centralidade” nos ensina sobre o
seu colapso. Ao procurar evitar a centralidade espacial, um novo e moderno tipo
de centralidade foi criado.
A centralidade urbana nos tempos modernos
De acordo com a centralidade, devemos distinguir entre três períodos
históricos (ou tipos de desenvolvimento) da modernidade urbana: crescimento
urbano extensivo, intensivo e flexível. Estes períodos devem ser interpretados
como camadas que se superpõem e se interpenetram, mas que não substituem
a(s) fase(s) precedente(s). Na Europa, o primeiro período começou durante a
primeira metade do século XIX. Na Alemanha, tendo a industrialização se
iniciado muito mais tarde do que na Inglaterra, este período é então chamado de
Gruenderzeit (desenvolvimento incipiente da cidade industrial). Gruenderzeit foi
um período no último terço do século XIX, quando muitas empresas, firmas e
marcas que existem até hoje (como Siemens) se estabeleceram. Este período é
também caracterizado por um rápido crescimento urbano extensivo, estimulado
por uma nova economia de mercado orientada para o trabalho, denominada
capitalismo. Durante esta fase de incipiente acumulação, as cidades industriais
sugaram trabalhadores (operários migrantes) do campo em grandes
quantidades, como flutuantes. As cidades passaram por um crescimento
explosivo e polarização social.
Entretanto, este desenvolvimento não enfraqueceu a centralidade urbana
existente. Pelo contrário! Àquela época, os antigos centros das cidades puderam
até melhorar as suas qualidades centrais. Duas são as razões para esse
fenômeno: primeiramente a nova sociedade civil, conduzida por uma classe
média e alta de empreendedores, banqueiros, intelectuais, artistas, acadêmicos,
cientistas, funcionários públicos e muitos outros grupos de profissionais,
adicionou “templos civis modernos” aos centros existentes, como teatros,
universidades, bibliotecas, salas de concertos, museus, galerias de arte, etc.,
tornando-os assim mais ricos e mais atrativos. Em segundo lugar, um novo
sistema de transporte de massa, que se tornou emblema do progresso e do
poder industrial, contribuiu para fortalecer os antigos centros: a ferrovia. Suas
rotas em combinação com rodovias arteriais e métodos tradicionais de
construção como os edifícios contornando as quadras, asseguraram que o
padrão de crescimento urbano continuasse radial concêntrico. A capital
prussiana Berlim, uma das metrópoles que mais e rapidamente cresceu no
século XIX, é um bom exemplo deste padrão tradicional de crescimento. De
todas as direções chegavam trilhos à capital, mas nenhum deles a cruzava.
Todas as linhas paravam nas bordas do centro da cidade. Nós contamos cerca
de oito destas estações (Kopfbahnhoefe), isto é, estações que os trens não
podem atravessar, mas entram e saem pelo mesmo caminho. Estes dois
eventos, a atualização cultural burguesa dos centros das cidades e o
desempenho dos trens, cuspindo e sugando as pessoas exatamente na borda
dos centros das cidades, fez deste o período áureo para a centralidade urbana.
A ascensão da cidade moderna foi experimentada como um choque
cultural. Este choque despertou pesadas críticas por toda a Europa. Na
Alemanha se propagou uma reação conservadora sobre a experiência da grande
cidade moderna. O pioneiro da Sociologia alemã, Ferdinand Tönnies, a quem
devemos agradecer por sua notável maneira de distinguir entre “comunidade” e
“associação” (também o título da sua muito conhecida magnum opus), e o
famoso autor Oswald Spengler (19) são representativos deste ponto de vista
crítico. Ambos adoravam a cidade medieval da velha burguesia com a sua
centralidade sócio-cultural, seus espaços públicos encenados por belas
fachadas empenadas. E ambos detestavam um desenvolvimento urbano que,
em sua opinião, levaria à degeneração das boas maneiras, dos padrões morais
e o qual distanciava o homem da natureza. No início do século XX
(especialmente após a Primeira Guerra Mundial), esta maneira babilônica de
encarar a grande cidade moderna se transformou em uma aversão aguda e
agressiva pela grande cidade. De acordo com a ideologia do movimento nacional
socialista de Hitler, a grande cidade era considerada um espaço infernal
produzindo ‘quatro males’, que para serem exterminados, o Fascismo
desenrolou a sua e guerra física e cultural: “intelectualismo marxista,
especulação capitalista, guetos judaicos desraigados e tecnologia industrial
suicida”.
Na Europa ocidental, por ser o lar de democracias mais maduras, preferia-
se soluções mais pragmáticas para o desafio da grande cidade. Ebenezer
Howard – ao procurar por alternativas para a superpopulosa, insalubre e inquieta
metrópole de Londres – deve ser visto como um pioneiro do planejamento
urbano moderno. Arraigado às tradições para além das utopias espaciais de
socialistas precoces como Robert Owen ou Charles Fourier até os protagonistas
franceses da ‘paisagem republicana’ e até mesmo do movimento da cidade ideal
do Renascimento, ele lançou uma solução de notável evidência: sua idéia básica
era desenvolver uma alternativa para a grande cidade industrial combinando as
virtudes da vida rural com aquelas da vida urbana. Eis sua mensagem: fica com
o melhor daqueles espaços e terás a “cidade-jardim”. Não foi por acaso que
Howard, que viveu por vários anos em Illinois, teve contato com o movimento
City Beautiful. No Novo Mundo, aprendeu a entender o código da “cidade-
campo”, de um espaço que não é nem cidade nem campo, mas ambos ao
mesmo tempo.
Houve uma travessia transatlântica reversa no conceito britânico de
cidade-jardim. Howard a idealizou usando esquemas das cidades ideais do
Renascimento e do Barroco. É por isso que os esquemas das cidades-jardim
são fortemente radiais concêntricos, assim como o centro primário e os
subcentros. Usou, além disso, a boa e velha tradição européia quando promoveu
os centros das cidades-jardim como centros comunitários e culturais, como
lugares predestinados para serviços coletivos e atividades de vizinhança.
Ao integrar o melhor das cidades e do campo em uma cidade num jardim
e um jardim numa cidade, Ebenezer Howard encontrou o conceito-chave do
urbanismo moderno. Desde então, todos os planejadores urbanos modernos
procuram por uma boa mistura e boa organização espacial de aspectos urbanos
e rurais, para superar as desvantagens ambientais, econômicas, sociais,
espaciais e culturais da grande cidade industrial. Este conceito foi também aceito
por outro movimento modernista, baseado nas tradições racionalistas ou
cartesianas. Os seus representantes concordaram totalmente com a abordagem
“cidade-campo”. Para eles, a cidade moderna é um projeto que objetiva a
melhoria da vida urbana, levando luz, ar fresco e calor solar para dentro do
denso, escuro e poluído tecido urbano.
Mas a visão dos modernistas cartesianos continentais era bastante
diferente daquela dos protagonistas da cidade-jardim britânica. Enquanto os
últimos encontraram o seu ideal espacial em tradições que mantinham a
memória da centralidade espacial, os modernistas seguiram outro ideal. Este
eles não encontraram no passado, mas no presente moderno: a máquina, um
artefato sem centro, mas com um desempenho fantástico. Um artefato que,
baseado no conhecimento científico, funciona independentemente das incertas
fontes de energia naturais como vento, água, luz do sol, é fácil de controlar (não
empaca como os bois e os asnos) e desempenha a preço baixo, rápida e
eficientemente.
A máquina é o ídolo da segunda fase, “madura” da industrialização. Este
período, também chamado de “fordista” é fundamentado em:
Ciência: baseou-se na produção em massa (“grandes séries”). Como
Henry Ford foi o primeiro a introduzir a produção em série na fabricação de
automóveis, este período ganhou o seu nome. Ao usar os resultados da pesquisa
científica de Taylor, o carro se tornou um produto de massa e assim um símbolo
da emergente sociedade de consumo. Em geral, o carro se tornou um tipo de
veículo para o compromisso entre as classes.

 Um Estado intervencionista: especialmente na Europa continental,


soluções não mercadológicas na produção e distribuição do bem-estar
ganharam significativa influência. Um Estado redistribuidor se desenvolveu para
fechar a lacuna entre “trabalho e capital”.
 “Consumo coletivo”: quando Manuel Castells (20) assinalou a
“cidade do consumo”, referia-se ao programa da cidade fordista. Esta cidade
dava ênfase à integração da classe trabalhadora ao prover bens e serviços
públicos, especialmente habitações disponíveis – operadas por companhias de
habitação social públicas.
 Compromisso entre classes: sob a pressão das centrais de
trabalhadores (sindicatos) as vantagens de produtividades maiores foram
usadas para aumentar salários e para fixar a jornada de trabalho.

Sociedade do grande grupo, corporativismo: a redução da influência do


mercado pela política era balanceada através de uma variedade de associações
que lutavam pelos interesses da sua clientela privada (21).
Não é nenhuma surpresa que o paradigma da especialização, isto é,
aumento da velocidade (aceleração), eficiência econômica e desempenho
técnico tenham influenciado fortemente a produção espacial. Na “Carta de
Atenas” do CIAM, lançada pelo proeminente arquiteto franco-suíço Le Corbusier,
estas regras fordistas foram transformadas em um manifesto. Objetivando tornar
a cidade mais eficiente e a vida urbana mais saudável, a Carta promove a idéia
de uma “cidade-máquina polida e zoneada”, cujas principais recomendações
espaciais são:
 Zoneamento, isto é, especialização ou diferenciação espacial
separando todas as funções urbanas importantes como habitação, trabalho,
educação, consumo cultural, atividades de lazer, etc. Incrivelmente, a Carta de
Atenas não menciona o comércio varejista, isto é, a função comprar. Este lapso
realça a falta de importância dada à centralidade urbana.
 Construção em fila ou linha orientada para o Sul (“Zeilenbau”) para
buscar a luz solar. Esta regra significa a rejeição às práticas tradicionais de
construção em bordas de quadras e à correlata produção de espaços públicos.
 Edifícios isolados e espaços verdes de separação para compor
uma cidade no verde, num parque. Esta era a interpretação modernista da
realização da “cidade-campo”, isto é, da combinação de aspectos da cidade e
do campo numa nova figura espacial.
 Aceleração espacial pela melhoria da acessibilidade através da
provisão de infra-estrutura de tráfego pública e privada de alto nível.
 Alta qualidade da infra-estrutura urbana (sistema de esgotamento,
abastecimento de água e energia, coleta de lixo, etc.) de modo a atender às
grandes demandas higiênicas do planejamento urbano moderno.

A centralidade não estava na agenda – falando precisamente: não era


uma prioridade. O fordismo planejava a cidade social. A máquina, isto é, o uso
da ciência e da tecnologia, era considerado o melhor meio de pôr em prática esta
idéia. Enquanto objetivava uma visão urbana de alto desempenho retratando
eficiência, velocidade e especialização espacial, a produção espacial fordista
não estava interessada nem em centros urbanos como na centralização como
uma estratégia de desenvolvimento urbano. Muitos projetos de vizinhanças do
século XX, especialmente da Bauhaus (fundada em 1919 em Weimar), da
reconstrução após Segunda Guerra e da produção espacial durante a era
comunista comprovam esta indiferença à centralidade. A cidade fordista se
manifestava fundamentalmente como uma antítese da cidade medieval com a
sua funcionalmente e altamente integrada centralidade cívica. Walter Gropius,
Mies van der Rohe, Ludwig Karl Hilberseimer e outros, apesar de grandes
arquitetos que trouxeram ao mundo (até então clássico) um novo estilo,
expressando uma estética da ciência e da tecnologia, eram relutantes em manter
e reinterpretar a herança urbana da centralidade do passado. Esta atitude
antiurbana os provou como representantes da modernidade fordista.
Por outro lado, deve-se reconhecer que a rejeição da centralidade urbana
tradicional não significou o fim da centralidade espacial. Extraordinariamente, a
idéia da centralidade sobreviveu – em uma nova forma e formato. Como ela pôde
sobreviver? A resposta é: ela sobreviveu por causa do incessante e indiscutível
poder ontológico da centralidade urbana. O fordismo não pôde e não questionou
o centro da cidade como sendo o espaço de maior significado simbólico e melhor
acessibilidade. E como ela sobreviveu? A resposta é: ela sobreviveu como um
subsistema especializado da máquina urbana funcionalmente diferenciada. O
fordismo confrontou práticas da produção do espaço urbano com a questão de
como combinar a idéia da especialização funcional com o inevitável fato da
centralidade urbana.
A mais popular resposta tem sido a zona de pedestres (calçadão), a qual
teve êxito em recodificar a antiga textura dos centros das cidades européias. Ela
confirmou a prioridade fordista ao automobilismo, ao excluir o carro dos centros
medievais e submetendo-o à periferia. Ela ajudou a mediar o desenvolvimento
da expansão urbana, cidades exteriores ou adjacentes. A carreira do mono
espaço de pedestres começou após a Segunda Guerra Mundial – e exerceu uma
extraordinária influência no desenvolvimento da faixa e do centro comerciais
americanos (22). A grande vantagem da zona de pedestres se baseava na sua
habilidade de usar antigos centros urbanos medievais, sua atmosfera, intimidade
espacial, escala humana e especialmente os seus espaços públicos encenados
para propósitos comerciais. Desde então o comércio varejista tem se
transformado no mais importante defensor da centralidade urbana, e a
manutenção desta zona acessível aos clientes se tornou um desafio contínuo
para o planejamento urbano.
Outra prática da centralização fordista pode ser encontrada em projetos
de habitação socialistas. Estes assentamentos eram basicamente mono
estruturados e suburbanos. Por causa da sua localização periférica, geralmente
surgia a necessidade de assegurar o acesso de algumas carências básicas
individuais e sociais. Por esta razão, alguns dos conjuntos eram equipados com
os então chamados centros de vizinhança, variando dos centros urbanos sócio-
culturais anteriores. Um bom exemplo de uma reinterpretação proletária muito
difundida da centralidade social é o assentamento fordista alemão oriental Halle-
Neustadt, planejado por Pöelzig – e o adepto da Bauhaus, Richard Paulick. Sua
nova cidade nos mostra um tipo de centro de vizinhança provedor de alguns
serviços sociais essenciais e instalações públicas como jardins-de-infância,
escolas, banhos públicos, biblioteca, hall, assim como algumas oficinas, lojas e
supermercados.
Alguns arquitetos modernistas e designers urbanos não atuaram sem a
centralidade, quer dizer, sem os elementos da centralidade. Sobretudo, esta
observação se refere a Le Corbusier. Seus esboços da “Cidade Radiosa”, “a
Cidade Contemporânea” e o Plan Voisin são bons exemplos desta consideração.
La Ville Contemporaine, um esboço que nos remete ao arquiteto Moll do
conselho do bem-estar do século XVIII, nos mostra um diferenciado centro
acentuado por estações de trens e táxis aéreos. Vinte e quatro arranha-céus
para escritórios e uma multidão de prédios menores abrigavam algumas
instalações como lojas, cafés, restaurantes, etc. Os moradores da cidade foram
banidos às cidades-jardim suburbanas. O Plan Voisin, desenhado para substituir
grandes partes do centro existente de Paris, consistia em 18 edifícios altos e
residenciais os quais acentuavam um tipo de centralidade proletária na
paisagem da cidade.
Para resumir, podemos recordar o fato de que as práticas européias de
centralização fordista apresentam algumas convergências em relação ao CBD
americano. A zona de pedestres (em alemão: Fussgaengerzone) poderia ser
considerada um reflexo europeu do centro de negócios americano, como um
mono espaço comercial que usa as invariáveis características da centralidade
urbana e do potencial narrativo dos centros europeus para melhorar o seu
desempenho.
Planejamento reflexivo ou a reinvenção da cidade centralizada
Hoje sabemos que o planejamento fordista resolveu muitos problemas no
campo da qualidade do ar, da higiene, do acesso ao espaço verde, da habitação
acessível, da justiça social, etc. Entretanto, sua filosofia de produção espacial
tem sido criticada tão freqüente como drasticamente. Em geral, assinala-se que
a aceleração e a especialização espaciais têm transformado cidades habitáveis
em desalmadas paisagens urbanas de alto desempenho.
Em urbanologia a complexa análise deste processo de desvalorização
espacial foi condensada na então chamada “Lei da Especialização Espacial”
(23). Para dar um exemplo: quando espaços públicos multifuncionais altamente
integrados (digamos uma rua com uma vívida vizinhança urbana onde crianças
brincam e idosos podem se encontrar e conversar, lojas e oficinas prestam
serviços...) se transformam em ‘infra-estrutura funcional’ (uma artéria veicular
mono espacial ou uma passagem), as funções destruídas e ou excluídas têm
que ser reproduzidas por novas ‘infra-estruturas de substituição’ (playgrounds
para crianças, asilos, centros públicos, parques de negócios, centros comerciais,
etc.) Por fim, a entidade urbana se torna uma máquina funcionalmente
diferenciada como sistema espacial sem nenhum espírito e atmosfera urbana.
Agora é o momento da “infra-estrutura de eventos”, dos espaços que devolvem
a qualidade perdida do espaço central da cidade, a atmosfera, os mitos e a
histórias ausentes da centralidade urbana.
A produção espacial fordista foi criticada. Alegou-se que a aceleração e a
especialização espaciais:

 Têm sustentado freqüências oscilantes e assim contribuído para


tornar os espaços mais perigosos (24); Têm, sobretudo deformado e finalmente
demolido a cultura, mais ou menos, teatral (encenada) dos espaços públicos
(25);
 Têm fragmentado a entidade urbana em um arquipélago de
localidades especializadas. O crescimento desta fragmentação (isolamento) vem
provocando uma mobilidade insustentável, ineficiente e insalubre (26);
 Têm encorajado a expansão urbana e o crescimento urbano
periférico ao centralizar o transporte automotivo individual e ao promover estilos
de vida guiados pelo carro. Como apontou Robert Fishman, o carro tem sido o
responsável pela criação de um novo tipo de paisagem urbana, a qual ele
denominou de “cidade construída no tempo” (27).
 E finalmente, a produção espacial fordista foi culpada por
enfraquecer as virtudes urbanas como tolerância, compreensão,
cosmopolitismo, auto-responsabilidade, etc. ao negligenciar a centralidade
urbana. A este respeito, o fordismo fez a cidade até mesmo perder a sua
capacidade de integrar a diversidade.

Extraordinariamente, não foi tanto a crítica dos arquitetos, planejadores


urbanos, sociólogos e designers que revitalizou e fez progredir a prática da
recentralização. Foi a crítica popular, em outras palavras, o mercado. As pessoas
estavam sentindo falta das atmosferas urbanas, lugares, narrativas, eventos.
Almejavam aqueles mitos, histórias e imagens urbanas, que fazem as cidades
excepcionais, e os quais podem usar para suas estratégias individuais de
identificação local e construção de identidade.
A mídia foi a primeira a decifrar a nova demanda espacial e a identificar o
seu grande potencial. Ela reagiu oferecendo uma nova mercadoria, ou melhor,
um novo serviço. Eu o denomino citytainment (28). O citytainment deve ser
entendido como uma produção típica da modernidade reflexiva, enquanto
combina e mistura aspectos da cidade tradicional e reivindicações modernas por
boa vida. O citytainment se refere às práticas de imitar atmosferas urbanas
reproduzindo os aspectos da centralidade urbana tradicional. Walt Disney é um
bom exemplo. Ele foi o primeiro a equipar seus parques temáticos com Main
Street-US’ fictícias, contando a história e encenando o mito dos bons tempos
idos. Desde então, o citytainment do Disney-World se tornou o mais importante,
até mesmo inevitável componente da produção especial narrativa, isto é, da arte
de dreamscaping (criação de cenários de sonhos) ou imagineering (engenharia
da imagem) como Disney a denominava (29).
Foi também Walt Disney, o subestimado pioneiro do citytainment, quem
deu ao movimento Novo Urbanismo um impulso inicial, devido aos experimentos
do seu EPCOT-center (Experimental Prototype Community of Tomorrow). Neste
lugar, ele e sua equipe estudaram as tradições da cidade ideal do Renascimento
e do Barroco. Finalmente esta instituição preparou o desenvolvimento de
Celebration, uma cidade que poderia ser considerada como um projeto do proto-
Novo Urbanismo. Celebration apresenta um centro urbano fortemente articulado
consistindo em duas praças situadas no fim de um eixo barroco. Lá, o centro
coleta os mais importantes prédios públicos (a prefeitura) e serviços (governo
municipal) – os quais atualmente são privados. Celebration é uma cidade
interessante, que nos mostra o que acontece quando uma cidade se torna
completamente privatizada, um tipo de mercadoria. Nesta ‘cidade privada’ até
mesmo o prefeito – em razão da ausência de legitimidade política – deve ser
levado como um ator que está somente interpretando o papel de prefeito nesta
versão extrema do citytainment!
Neste meio tempo, encontramos imitações de ruas ou praças por todo o
mundo, não apenas em parques temáticos, mas também – na verdade mais
numerosos – em centros comerciais, centros urbanos de entretenimento e outros
shopping centers, que têm se aproveitado, sobretudo, das vantagens da
arquitetura das arcadas. Os enormes centros comerciais atuais estão imitando
os centros urbanos. Eles não parecem apenas zonas de pedestres, mas são
também organizados como elas. Assim, encontramos ímãs ou lojas âncora para
manter altas freqüências, encontramos espaços multifuncionais para manter
freqüências estáveis, encontramos construções em borda de quadra,
normalmente enquadramento de fachadas em empena, espaço privado
encenado que parece público, e espaços antiquados como restaurantes, cafés,
etc.
Existe uma clara ligação entre a precedente Main Street da antiga cidade
e o enorme centro comercial atual. O último é um resultado da expansão urbana,
dos estilos de vida suburbanos, sustentados pelo automóvel e iniciativas como
lotes baratos e, freqüentemente, subsídios estatais, redução de impostos e
outros auxílios. Quando os cidadãos se mudam para o campo, procurando por
paisagens pitorescas, árcades ou bucólicas, o comércio tem que segui-los.
Primeiramente eles se mudam para a periferia e assim transformam as rodovias
arteriais em faixas comerciais. Mais tarde aparecem os blocos tributáveis e
depois de algum tempo estes shopping centers em faixas têm que se mudar para
mais longe, onde finalmente se dilatam em grandes centros comerciais. Estes
enormes centros comerciais freqüentemente se tornam pontos iniciais de novos
centros urbanizados periféricos. Eles levam os antigos centros urbanos para
onde as pessoas estão vivendo. Eles o fazem funcionalmente com a sua
multiplicidade de serviços privados e públicos, suas lojas normais e de
departamentos, cinemas, restaurantes, instalações recreativas e hotéis. E eles
o fazem esteticamente em ambientes urbanos falsos, encenando (semi-)
espaços públicos como praças, ruas de pedestres, etc.
Ambas as práticas do citytainment, a Imagineering e a imitação da
centralidade urbana, prepararam para a ascensão do movimento conhecido
como Novo Urbanismo. Este movimento pode ser considerado como uma
resposta nova e atual ao movimento city beautiful. Ele já influenciou o
planejamento urbano nos Estados Unidos e, a levar pela velha e comprovada
trajetória da ‘travessia transatlântica’ reversa, influenciou também as políticas da
recentralização do Reino Unido (ver, por exemplo, os notáveis resultados da
revitalização do centro antigo da cidade de Manchester durantes os últimos dez
anos).
Para entendermos corretamente e avaliarmos o impacto estrutural do
fordismo, foi necessário fixar as suas características de produção espacial no
extenso contexto sócio-cultural da industrialização intensiva. O mesmo é
adequado ao citytainment. Essas práticas de imitação de qualidades urbanas
têm que ser relacionadas à nova camada da industrialização flexível, isto é, à
emergência da sociedade pós-industrial (pós-fordista). Na sociologia existem
inúmeros termos para caracterizar este período: sociedade do conhecimento,
sociedade dos serviços, e etc. Todas estas categorias enfatizam alguns
aspectos da nova camada societária. O mesmo acontece com “sociedade dos
eventos” (em alemão: Erlebnisgesellschaft). Esta categoria proporciona um útil
contexto estrutural para o fenômeno do citytainment. O modelo da sociedade dos
eventos cita, inter alias, as seguintes características gerais: produção de
pequenas séries baseadas em IT, flexitime (tempo flexível), isto é, pagamento
por hora de trabalho, períodos flexíveis de trabalho; privatização (desregulação)
dos serviços públicos; gerenciamento de recursos humanos (por exemplo,
descentralização de responsabilidades, hierarquias horizontais, etc.) e
estetização, isto é, o renascimento da imagem e do mito (discutida muito
freqüentemente no contexto do estilo pós-moderno).
Erlebnisgesellschaft (sociedade dos eventos) significa prioridade da
emoção (emoção sobre a razão) e rejeição do funcionalismo fordista refletido no
slogan “a forma segue a função”. O atual slogan é “a forma segue a emoção”.
Esta reviravolta está fortemente relacionada à reinterpretação do valor de uso.
As pessoas em opulentos ambientes pós-industriais não se perguntam mais “do
que eu preciso?”. Eles se esqueceram disso e simplesmente se questionam “do
que eu gosto?”. A superficial sociedade dos eventos nos demonstra o triunfo da
embalagem ou da aparência sobre o conteúdo. As pessoas não estão mais
calçando sapatos – elas estão usando Nike, Adidas ou Puma. Elas precisam das
marcas dos tênis, não deles em si. Ter e usar sapatos são atitudes normais.
Entretanto, a marca importa. Esta imagem apóia a identificação e a criação de
ambas identidades: individual e grupal. A sociedade dos eventos finalmente
significa que tudo se torna entretenimento: infotainment, edutainment,
citytainment.
Observemos agora as principais características da produção espacial
pós-fordista. Estas são, primeiramente, recentralização, isto é, o
redescobrimento dos aspectos sociais, funcionais e emocionais dos bons
centros urbanos (reurbanização). Todos as demais podem ser consideradas
derivadas da recentralização, como por exemplo:

 Temática: ou seja, produção espacial narrativa ou contadora de


histórias (ver acima);
 Conversão, isto é, o desenvolvimento de brownfields para devolver
à cidade áreas não utilizadas (ver os mais proeminentes dos inúmeros projetos
de orlas por todo o mundo, especialmente em países desenvolvidos);
 Promoção de projetos “carro-chefe”. Estratégias “carro-chefe”
usam extraordinários arquitetura e desenho urbano para dar a cidades e regiões
fracas e decadentes um forte impulso. Projetos “carro-chefe” como o Museu
Guggenheim em Bilbao são capazes de revitalizar cidades atraindo turistas e
fortalecendo fatores de localização “suaves” como a cultura. Ao usar as sinergias
resultantes de estreitas relações com os centros urbanos, podem ajudar a
desenvolver ambientes criativos.
 Festivalização. Atualmente, a festivalização pertence às mais
importantes medidas do planejamento urbano pós-industrial. Somente grandes
eventos como os Jogos Olímpicos, Exposições Internacionais, Copas do Mundo
de futebol, festivais de arte, filmes ou música, Bienais de Arquitetura (por
exemplo, de Veneza ou Pequim) são capazes de concentrar enormes recursos
no mesmo lugar. Se analisarmos estes grandes eventos, encontraremos
freqüentemente que uma grande quantidade de dinheiro é usada para reformar
os decaídos centros urbanos. A razão é que os centros hospedam normalmente
os recursos imagéticos da cidade, isto é, os mais importantes monumentos,
edifícios, artefatos, texturas, etc. sustentando as histórias e mitos do lugar.
Assim, os centros urbanos são palcos naturais onde a cidade bem saúda os
visitantes de todo o mundo.
 De-diferenciação. Se a festivalização é considerada como um
importante meio para atrair recursos e medidas para o melhoramento do centro
da cidade, a de-diferenciação pode ser tomada como a meta para os esforços
urbanísticos. A de-diferenciação é uma pré-condição para um tipo de espaço
urbano demandado por jovens membros de alguns grupos sociais, como os
conhecidos por gentrificadores, compradores on-line, yuppies, etc. Na Europa,
os centros urbanos até mesmo se tornaram moda. No entanto, e como
conseqüência da prioridade do zoneamento – áreas de usos mistos ainda são
consideradas espaços inferiores, sobras ou restos. Somente sob pressão da
mudança dos estilos de vida e da reinterpretação do espaço central da cidade,
a avaliação do espaço urbano se modifica e libera o caminho para uma legenda
espacial mais sofisticada.

Antes de finalizar, repassemos rapidamente à idéia de centralidade


urbana de Jean Gottmann. Para ele, a centralidade urbana se refere, sobretudo,
a um conjunto de importantes e típicas funções que dá às cidades um papel
condutor no desenvolvimento de uma região ou país (30). Nos tempos
modernos, ou melhor, na era da industrialização, a usina ou fábrica se tornou
uma função guia. Enquanto a sua produtividade cresce, e os mercados crescem
de locais para regionais, nacionais e, por último, para globais, o impacto da
produção industrial sobre a centralidade muda de forte para fraco. O diagrama a
seguir tenta resumir esta mudança.
À guisa de conclusão
Para resumir: a cidade, sendo uma obra social, é, acima de tudo,
caracterizada pela centralidade, refletindo um alto significado simbólico, a
acessibilidade e a escassez de espaço do centro urbano. O seu valor (da
centralidade) é invariável. Existe desde que as cidades surgiram e não pode ser
separado de seu significado. A centralidade é parte essencial da definição de
cidade.
Durante o século XX – nós denominamos este período como Modernidade
Fordista – os aspectos da centralidade foram subestimados e a relação entre
função e significado se tornou desequilibrada. O funcionalismo da produção
espacial fordista ameaçou o potencial narrativo e imagético da cidade européia.
Interessantemente, o mercado se mostrou muito mais sensível às mudanças
sociais, de acordo com o uso do espaço central da cidade. Então, uma enorme
indústria de espaços urbanos imitados (espaços de consumo) se expandiu, a
qual garantiu o abastecimento do novo mercado do citytainment. Somente
gradualmente as novas demandas foram aceitas pelo planejamento profissional.
Mas agora, no início do século XXI, a prática da recentralização está no topo da
agenda do planejamento urbano. Estas práticas são “reflexivas” na medida em
que elas acreditam na possibilidade de reconciliação entre a tradição e a
modernidade, isto é, na harmonização da centralidade sócio-cultural tradicional
com a nova centralidade funcional.
notas

1
O dualismo e a dialética entre comunidade e sociedade desenvolvidos na
filosofia e sociologia – continentais – são formadores desta definição. Ver
Toennies 1991; Weber 1981; Lefébvre, 1972, 1975.
2
SIMMEL, Georg. Soziologie. Frankfurt/M, 1983.
3
PARK, Robert E. "Human Migration and the Marginal Man". In: American Journal
of Sociology, Vol. 33, 1928.
4
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Vorlesungen über die Philosophie der
Geschichte. Frankfurtam/M., Suhrkamp, 1970.
5
GODELIER, Maurice. Die Produktion der Großen Männer. Frankfurt/New York,
Campus, 1987.
6
WEBER, Max. Wirtschaftsgeschichte - Abriß der universalen Sozial- und
Wirtschaftsgeschichte. Berlin, 1981.
7
SOJA, Edward W. Postmetropolis. Oxford, 2000.
8
HABERMAS, Jürgen, Theorie des kommunikativen Handelns. Bd. 2: Zur Kritik
der funktionalistischen Vernunft, Frankfurt/M., Suhrkamp, 1981.
9
POLANYI, Karl. Ökonomie und Gesellschaft. Frankfurt/M., Suhrkamp, 1979.
10
Para os comerciantes, para aqueles cidadãos “reais”que eram dependentes
existencialmente da economia de Mercado e assim da vida urbana, a cidade
adquiriu uma certa ‘esquizotopia’, um lugar duplamente codificado que os incluía
e excluía ao mesmo tempo.
11
Especialmente comerciantes de longa distância, muitos judeus entre eles, vindos
da Ásia Menor, Norte da África, Espanha Árabe, Veneza, etc. que se
estabeleceram após um período muito aventuroso de caravanas baseadas na
mobilidade.
12
Talvez seja esta identidade híbrida o que faz estas cidades tão atrativas para
ficções. Monte Cassino, próximo de Joanesburgo é um bom exemplo de uso
destas potenciais narrativos.
13
HALL, Peter. Cities of Tomorrow - An Intellectual History of Urban Planning and
Design in the Twenties Century. Oxford, Cambridge, Blackwell, 1988.
14
O forte corrente movimento ‘Novo Urbanismo’, o qual poderia ser considerado
como um descendente do Movimento “City Beautiful”, está perto de perder este
status excepcional. Para uma visão crítica de relevância social, ver MARCUSE,
Peter. The New Urbanism: The Dangers so Far. DISP 140, Nr. 1, 2000.
15
Na literatura sobre planejamento, alguns aspectos deste fenômeno têm sido
também discutidos, no contexto dos ‘efeitos da aglomeração’ especial. Cf.
KRUGMANN, Peter. Geography and Trade. Cambridge, MIT University Press,
1991.
16
Deve-se levar em consideração que frequentemente ambos os conceitos –
centralidade guiada pelo mercado e centralidade sócio política – estão
misturados. A ocidentalização ou globalização espacial do urbanismo chinês nos
dá um bom exemplo. Para o decifrador Pudong em Xangai, é necessário
considerá-la como ambos um produto do Mercado e da política. Em todo caso,
a centralidade em si parece ser inevitável e é por isso que tomamos este termo
como parte de uma definição ontológica da cidade.
17
HARTEN, Hans-Christian; HARTEN, Elke: Die Versöhnung mit der Natur -
Gärten, Freiheitsbäume, republikanische Wälder, heilige Berge und Tugendparks
in der Französischen Revolution. Reinbek, 1989.
18
EISOLD, Norbert. Das Dessau-Wörlitzer Gartenreich - Der Traum von der
Vernunft. Köln, 1993.
19
Ver Oswald Spengler, The Decline of the Occident. [SPENGLER, Oswald. Der
Untergang des Abendlandes. München, 1922]. Contado em edições, este livro
deve ser tomado como um dos mais bem sucedidos já publicados em lingual
alemã.
20
Ver CASTELLS, Manuel. "Towards a Political Urban Sociology". In: HARLOE, M.
(Org.) Captive Cities. London, 1977.
21
Em frente a todas estas características e aspectos fordistas, o sociólogo teuto-
britânico Sir Ralph Dahrendorf certa vez denotou o século XX europeu como a
era da Social Democracia.
22
GRUEN, Victor. Shopping Centers of Tomorrow. Catalogue, 1953.; DURTH,
Werner; GUTSCOW, Niels. Architektur und Städtebau der fünfziger Jahre.
Schriftenreihe des Deutschen Nationalkomitees für Denkmalschutz, Nr. 33,
Köllen Druck+Verlag, 1987.
23
FELDKELLER, Andreas. Die zweckentfremdete Stadt - Wider die Zerstörung des
öffentlichen Raums. Frankfurt/M., New York, Campus, 1994.
24
‘Freqüência instável’ é um termo técnico que remete ao fato de que espaços
especializados somente atrairão pessoas em determinadas horas do dia,
enquanto espaços funcionalmente integrados são capazes de sempre prover
razões para certas pessoas fazerem certas coisas. A crítica sobre a freqüência
instável foi pronunciada proeminentemente por Jane Jacobs, que nos lembra
que “os olhos sobre as ruas” sempre foi a melhor segurança contra crimes
(Jacobs, 1963).
25
HASSENPFLUG, Dieter. "City and Consumption". In: ECKARDT, F.,
HASSENPFLUG, D. (Orgs.) Consumption and the Post-Industrial City.
Frankfurt/M., Peter Lang, 2003.
26
BECK, U.; BECK-GERNSHEIM, E. Riskante Freiheiten. Individualisierung in
modernen Gesellschaften. Frankfurt/M., 1994.
27
FISHMAN, Robert. "Bourgeois Utopias: Visions of Suburbia". In: FAINSTEIN,
Susan S., CAMPBELL, Scott, (Orgs.) Readings in Urban Theory. Oxford (UK),
Malden (USA), Blackwell Publishers, 1996/97.
28
Citytainment significa atmosferas urbanas imitadas (falsas), e para obter sucesso
nesta tarefa, é preciso entender as regras da centralidade urbana. Seus
elementos mais importantes são: espaços de multifuncionais, grande
importância dada ao comércio, espaços públicos encenados, atrativos como
monumentos ou projetos ‘carro-chefe’, etc. Os parques temáticos se tornaram os
percussores da produção especial pós-fordista ou contadora de histórias
(narrativa).
29
SORKIN, Michael (Org.). Variations on a Theme Park. New York, 1992.
30
GOTTMANN, Jean. The Evolution of Urban Centrality: Orientations for Research.
Oxford, 1974.
bibliografia complementar

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II, Frankfurt/M., 1974/82/91.
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Analysis of Globalization". In: ECKARDT, F., HASSENPFLUG, D. (Orgs.).
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WRIGHT, Frank Lloyd. The Living City. New York, 1958.
sobre o autor
Dieter Hassenpflug (Prof. Dr. phil.habil.) é professor da Cátedra de
Sociologia e História Social da Cidade desde 1993, na Universidade Bauhaus,
em Weimar. Desde 2006 é o diretor do Instituto de Estudos Urbanos Europeus
(IfEU). Diretor do Programa Internacional de Doutorado (IPP), patrocinado pelo
DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico). Atualmente é professor
visitante da Universidade Tongji, em Xangai. Publicou vários livros e artigos em
alemão, inglês e chinês.
Texto original em inglês. Tradução Adriana Gondran Carvalho da Silva.

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