Com o intuito de obter os efeitos desejados − e os
obteve − a aliança argentinobrasileira era questionada por muitas razões: a) O Brasil era “rival histórico e natural do povo argentino; “erigiu em sistema sua participação e cumplicidade permanentes nas guerras civis dos países vizinhos, que quer aniquilar para sucedêlos na posse de seus belos territórios”; “a República Argentina, ainda que saísse vencedora, não recolheria dessa guerra senão desonra, porque haveria triunfado para o Brasil, seu rival histórico e seu perigo de todos os tempos”. b)Seria vergonhoso, para uma raça superior, subordinarse a uma inferior: “Os povos de origem espanhola não poderiam ver com indiferença a absorção de que estão ameaçados seus irmãos do Prata, por império de raça portuguesa, alterada fortemente pela mescla de raças de cor, pois tal absorção seria um argumento tristíssimo de inferioridade contra a América antes espanhola...”. c) “Desaparecer, como o México, para ser parte da primeira república do mundo, é a calamidade mais feliz que pode suceder a um país condenado a morrer como nacionalidade; mas desaparecer, para ser um anexo obscuro de uma ex- colônia portuguesa situada na zona tórrida, é morrer três vezes, para a raça, para a liberdade e para a honra.” d) A anexação gradual da Argentina, Uruguai e Paraguai ao Brasil seria uma vitória da “monarquia constituída pelo sacrifício de uma raça superior, ou que sentese como tal, a outra raça visivelmente inferior”. e) Um determinismo geográfico, implacável, não permitia que o povo brasileiro fosse, na melhor das hipóteses, mais que um bando de mestiços degenerados: O Brasil é um país “tórrido e ardente (....), não convém às raças soberanas da Europa; o espaço habitável e útil para o homem de raça branca é escasso e pequeno”, o que impõe “a necessidade fatal e indeclinável (...) da imigração de negros e da escravatura dessa raça”. Diante dessas fatalidades, um conselho humanitário: “Aceite o Brasil a nobre e caritativa missão que lhe dá a zona tórrida de embranquecer, pelo cruzamento, a raça negra”, até porque “duvidar da transformação final da raça negra pelo cruzamento, em um século em que a zoologia tem descoberto o segredo de tantas transformações prodigiosas, seria supor que o homem nasceu para fazer a perfeição de todos os seres, menos a sua própria”. f) Não era possível suportar, sem o mais veemente protesto, que um país nessas condições agredisse o heróico Paraguai, “povo cristão, europeu de raça, que fala o idioma castelhano”, que é “livre e homogêneo”, que “representa a civilização”, cujos soldados, todos, “sóbrios, pacientes e bravos [...] sabem ler e é raro o que não sabe escrever e contar. A própria Europa não tem exemplos dessa espécie”. g) Era preciso que as demais repúblicas da América do Sul se dessem conta de que “cada vitória do Paraguai é vitória de todas elas, cada triunfo do Brasil é uma perda para elas na balança do poder americano” e que “certamente [...] não será jamais o Brasil a aduana por onde se introduza na América o governo a la européia”, anseio de todos os liberais amantes do progresso. h) O Brasil encabeçava uma bem urdida e tenebrosa conspiração dos Bourbon e a prova disso “resulta de uma palavra atribuída a D. Pedro II, que haveria dito que abdicaria de sua coroa se não conseguisse o governo do Paraguai”.