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AUTISMO E LINGUAGEM: aspectos comportamentais dos autistas nas atividades¹ de

linguagem desenvolvidas pelo Centro de Ensino Especial Helena Antipoff na cidade de São
Luís Maranhão

ALICE CRISTINA QUEIROZ RAPOSO²

RESUMO: O referido trabalho aborda um levantamento sobre a Síndrome Autística e um


estudo de caso supervisionado, feito através de um diagnóstico psicopedagógico com um
aluno autista, evidenciando o autismo quanto aos seus primeiros estudos e suas definições e
ressaltando sua sintomatologia. Evidencia-se, ainda, um diagnóstico enfatizando a
epidemiologia, etiologia, fisiologia e o tratamento. Demonstra-se a linguagem buscando a
comunicação como elemento de ligação. Ressalta-se o papel da família como base de
sustentação para os portadores dessa síndrome. Considera-se o autismo na perspectiva
educativa de superação da aprendizagem. Apresenta-se o Centro de Ensino Especial Helena
Antipoff para o estudo de caso objeto deste trabalho.

Palavras-chave: Autismo. Linguagem. Educação.

Abstract: This work approachs a survey about Austism Syndrom and supervised study s
case, carried out through phycopedagogic diagnosis with an autist student. Showing up the
Autism in first studies, and its definitions and emphasizing the symptoms. The evidence of
diagnosis stresses the epidemiology, ethiology, physiology and treatment. The language
works like a link. The important value of family is support of basis for autism people.
Considering the autism in education s perspective showing that the autist students are able to
learn. Presenting the case s study from Center of Special Teaching Helena Antipoff .

Key-words: Autism. Language. Education.

______________________________________________________
¹Artigo Científico apresentado a Universidade Estadual do Maranhão para obtenção do título de Especialista em
Educação Especial.
²Aluna do curso Lato Senso de Especialização em Educação Especial UNDB.
1 INTRODUÇÃO

O referido trabalho tem como objetivo a transmissão de informações sobre o


autismo, mostrando suas concepções históricas e conceituais, definições, sua etiologia e
enfatizando como ocorre o processo da linguagem na vida dos portadores desta síndrome.
Este estudo caracteriza-se principalmente por sua abordagem qualitativa, sendo uma
investigação sistemática que procura analisar as situações de linguagem e de aprendizagem
em que os alunos observados se encontram.

Entender o autismo enquanto uma síndrome que compromete o desenvolvimento


global da criança, em seus aspectos mais comuns de comportamento, é o primeiro passo para
se tentar estabelecer, sob o ponto de vista qualitativo, uma possível aproximação desse
universo tão preconizado como estranho , indiferente e anormal.

Faz-se relevante e ocasional identificar as contribuições que este estudo trará para
os autistas do Centro de Ensino Especial Helena Antipoff e em particular para suas famílias
que, na maioria dos casos, são deflagradas pelo desânimo, incertezas e fracassos diante do
quadro de comprometimento que as crianças autistas apresentam.

Este trabalho foi organizado a partir de nove capítulos, esta introdução


constituindo o primeiro. No segundo capítulo abordam-se os primeiros estudos sobre o
autismo, seus principais teóricos. Já no terceiro, contemplam-se algumas definições da
síndrome autística e sintomatologia. O quarto refere-se ao diagnóstico do autismo,
apresentando sua Epidemiologia, Etiologia, Fisiologia e Tratamento. Quanto ao quinto
capítulo, este trata de como ocorre o desenvolvimento da linguagem na criança autista. No
sexto capítulo, enfocam-se aspectos relacionados à comunicação e de que forma esta
acontece. O sétimo capítulo enfatiza o fundamental papel da família na vida dos portadores
desta síndrome. Como acontecem e se desenvolvem as relações educativas; as características
da escola campo usada para realização da pesquisa (Centro de Ensino Especial Helena
Antipoff onde foi observado um aluno autista no período de março a junho de 2007)
constituem o oitavo capítulo. Por fim, no nono capítulo, apresentam-se os resultados do
estudo de caso realizado com um aluno autista, com o qual foi desenvolvida uma intervenção
psicopedagógica e anamnese.
2 AUTISMO: os primeiros estudos

A palavra autismo vem da raiz grega autos, que quer dizer de si mesmo. Kanner
utilizou esse nome porque as crianças autistas passam por um estágio que são muito voltadas
para dentro de si mesmas e não demonstram interesse em outras pessoas (ASSOCIAÇÃO DE
AMIGOS DOS AUTISTAS, 2003).

Toda definição do autismo tem início na primeira descrição dada por Leo Kanner.
Em 1943, esse psiquiatra austríaco, residente nos Estados Unidos, descreveu 11 crianças que
tinham em comum um comportamento original, que correspondia ao conceito de autismo.
Observou nessas crianças inabilidade para estabelecer contato afetivo e interpessoal e sugeriu
que se tratava de uma síndrome, no seu artigo intitulado Autistic Disturbances of Affective
Contact (Distúrbio Autístico do Contato Afetivo).

Em 1954, Kanner (apud ASSUMPÇÃO JR, 1995) frisa o autismo infantil como
uma psicose, referindo-se a que os exames físicos e laboratoriais falharam em fornecer dados
consistentes sobre as bases constitucionais do autismo; da mesma maneira que cita a pobreza
dos quadros psicóticos em seus familiares. Referindo-se, ainda, à sofisticação e à
diferenciação dessas famílias, bem como sua dificuldade nos relacionamentos interpessoais e
seu padrão obsessivo, usando, então, o termo que se tornaria importante: refrigeração
emocional.

Kanner ressaltava que o sintoma fundamental o isolamento autístico estava


presente na criança desde o início da vida. Ele sugeria que se tratava de um distúrbio inato.
Em 1956, Kanner retornou essa noção, juntamente com Eisenberg, observando que a
síndrome pode se revelar depois de um desenvolvimento aparentemente normal, no primeiro
ou segundo ano de vida (LEBOYER, 1995). Ainda no ano de 1956, Kanner e Eisenberg
reduziram os sintomas essenciais do autismo a dois: extrema solidão e preocupação com a
manutenção da rotina.

Finalmente, a definição mais atualizada e aceita pela National Society for Autistic
Children e pela Organização Mundial de saúde (OMS) é:

Autismo é uma síndrome presente desde o nascimento e se manifesta


invariavelmente antes dos 30 meses de idade, caracteriza-se por respostas anormais
a estímulos auditivos ou visuais, e por problemas graves quanto à compreensão da
linguagem falada. A fala custa aparecer, e, quando isto acontece, nota-se ecolalia,
uso inadequado dos pronomes, estrutura gramatical imatura, inabilidade de usar
termos abstratos. Há também, em geral, uma incapacidade na utilização social,
tanto da linguagem verbal quanto da corpórea [...]. (GAUDERRER, 1997, p. 8)
Cerca de metade das crianças autistas tem grave retardo mental (QI abaixo de 50);
um terço tem retardo leve (QI de 50 a 69); e um quinto é limítrofe, ou seja, está dentro da
faixa normal (QI 70 ou mais).

Visualizando o autismo, observa-se uma grande variabilidade comportamental e


diagnóstica, o que dificulta a ciência a definir um diagnóstico específico para o autismo.
Muitas foram as teorias, de diferentes correntes, que tentaram explicar as causas da síndrome
autista; no entanto, cada uma delas contribuiu, somente, para o estabelecimento em uma área
específica, de acordo com a corrente em que se embasou.

Ainda não existe uma resposta clara para a causa do autismo. Acredita-se que o
autismo esteja presente desde o nascimento, parece ter predisposição genética e é associado a
certos tipos de lesão cerebral. Por enquanto, não há nenhuma cura comprovada.

3 DEFINIÇÃO DO AUTISMO

O autismo é definido como um distúrbio congênito do comportamento que se


manifesta durante a infância, caracteriza-se por uma interiorizarão intensa, uma espécie de
fechamento sobre si mesmo e por um pensamento desligado do real. É marcado por
incapacidade para estabelecer relações com as pessoas, atrasos e alterações na linguagem,
utilização não comunicativa da fala, uma vez adquirida ecolalia retardada (depois de um
tempo a criança repete as palavras ouvidas), ou ecolalia imediata (as palavras são repetidas
imediatamente depois de ouvidas) carência de imaginação, boa memória, aspectos físicos
normal, atividades de brincar estereotipadas, insistência obsessiva de manutenção da rotina,
défices motores, comportamento de automutilação, distúrbios afetivos e de atenção.

O autismo pode aparecer no bebê desde os seus primeiros dias de vida ou na sua
primeira infância ou na idade pré-escolar; é caracterizado por perda da linguagem, perda da
capacidade de socialização, das condutas de jogos e, frequentemente, também das
capacidades cognitivas. Pessoas com autismo apresentam, em maior ou menor grau, uma
tríade de limitações, que são as características que definem o transtorno:

1) Comunicação: Limitações linguísticas em todos os modos de comunicação


fala, entonação, linguagem, gestos, expressões facial e outras formas de
linguagem corporal. Pessoas com autismo têm dificuldade para entender o
significado das palavras, a interação da pessoa que fala e tampouco interpretar
gestos;

2) Imaginação: rigidez e falta de flexibilidade no processo de pensamento:


resistência a mudança, comportamento obsessivo e ritualístico. Possuem
dificuldades para manipular seus pensamentos com imaginação. Podem se
irritar indevidamente com mudanças em seu padrão de vida ou rotina. É
possível apresentarem tendência a atos repetitivos com pouca variedade
como balançar o corpo e abanar as mãos e os braços;

3) Sociabilização: Dificuldades com relacionamentos sociais, pouco entendimento


do tempo das relações sociais, falta de empatia social, rejeição de contatos
corporais normais, contato visual inadequado. Não estabelecem
relacionamentos automaticamente e têm dificuldade para entender que outras
pessoas têm sentimentos, pensamentos e emoções.

3.1 Sintomatologia

3.1.1 Défices motores, estereotipias, comportamento de automutilação

Os défices motores das crianças autistas foram raramente estudados e não foram
devidamente explicados seus fundamentos neurológicos. É comum observar hipotonia sem
diminuição da força muscular e sem tremor. Algumas crianças autistas possuem capacidades
motoras excepcionais tanto para atividades finas quanto para motricidade em geral, outras são
desajeitadas.

As famosas estereotipias, muitas vezes consideradas como autoestimulação , são


frequentes e diversas no autismo, tanto que apenas com a sua presença já pode suspeitar-se da
síndrome. Incluem, aqui, movimentos que implicam todo o corpo, como o fato de balançar-se,
girar em círculos, enrijecer-se, pular com excitação, mexer as mãos, ranger os dentes,
produzir ruídos sem relação com o contexto.

Os comportamentos de automutilação são variantes de comportamentos


estereotipados. As causas das estereotipias e da automutilação não estão estabelecidas,
embora tenham sido frequentemente invocadas.
4 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico se fará de acordo com o quadro clínico e os antecedentes, já que


não existem exames complementares que o corroborem. Obviamente, uma anamnese e um
exame da criança seguindo todos os passos estabelecidos irão permitir obter os dados, os
sintomas e signos necessários para chegar ao diagnóstico positivo.

O diagnóstico do autismo baseia-se inteiramente na avaliação de comportamentos


como a sociabilidade, o jogo e a afetividade. Tal avaliação provém da observação clínica e da
investigação do meio familiar da criança, ela deverá incidir sobre as manifestações
comportamentais que puderam ser observadas desde o início do desenvolvimento.

Como o autismo é uma síndrome definida a partir de características


comportamentais, não há nenhum teste neurológico, neuropsicológico ou de linguagem que
possa ser utilizado para confirmar ou invalidar seu diagnóstico.

Remetendo-se a possíveis causas do autismo, percebe-se que a maior parte da


evidência disponível no momento indica causa orgânica. Em alguns casos, há uma história
clara de início do comportamento autista após uma doença como encefalite (inflamação no
cérebro). Aproximadamente metade das crianças autistas tem outras deficiências devido à
doença física ou lesão afetando o cérebro e o sistema nervoso central.

4.1 Epidemiologia

Os números mais frequentemente citados são de 4 a 5 casos para 10 mil


nascimentos, subestimam a prevalência, pois estão baseados em pesquisas voltadas a escolas
especializadas e instituições para deficientes, com os sujeitos menos gravemente acometidos
não sendo considerados. Presume-se, pois, que a real incidência seja bem maior do que a
descrita na literatura, sendo ampliada para a relação de 4 a 15 indivíduos para cada 10 mil
nascimentos; os resultados apontam, portanto, a relação de um autista a cada mil crianças
nascidas. É quatro vezes mais comum em meninos, não se sabe o porquê.

No Brasil, calcula-se que existam, aproximadamente, 600 mil pessoas afetadas


pela síndrome do autismo (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AUTISMO, 1997, p. 31-34)
se considerar-se somente a forma típica da síndrome.
4.2 Etiologia e Fisiopatologia

O autismo é consequência de uma encefalopatia não-progressiva, de origem pré-


natal que terá consequências ao longo da existência do sujeito, ainda que as suas
manifestações mudem consideravelmente com a idade.

O autismo pode aparecer várias vezes em um mesmo grupo de irmãos, o que


sugeriria uma transmissão recessiva em outras famílias nas quais os casos observados são, em
geral, menos severos, assim, uma transmissão dominante poderia ser lembrada (RIBEIRO,
1999). Na maioria dos casos, a etiologia é desconhecida. O risco de recorrência em uma
família na qual uma criança foi afetada é de 3 a 8%.

A síndrome autística também pode ser decorrente de infecções gestacionais como


rubéola, toxoplasmose, citomegalia, neurofibromatose, traumatismo de parto,
meningoencefalites e traumatismo craniano encefálico. É um distúrbio severamente
incapacitante, pois a criança autista não possui todas as habilidades de uma criança dita
normal como o fato de comunicar-se bem, expressar-se, falar bem. É uma síndrome que
permanece por toda a vida.

4.3 Tratamento

Não existe um tratamento específico, nem a cura total para o autismo. Existem
muitas abordagens individualizadas dependendo do autor, escola ou grupo de cada um. Os
resultados variam, mas, em última análise, nenhum deles sobreviveu ao implacável teste do
tempo. Diferente foi o empenho por este ou aquele método: psicoterapia individual,
psicanálise, terapia familiar, modificação de comportamento, terapia da palavra, educação
especial, estimulantes cerebrais, vitaminas, estimulação sensorial, são alguns dos tratamentos
tentados.

Como o autista pode variar muito na sua capacidade intelectual, compreensão e


uso da linguagem, estágio de desenvolvimento, idade na época do tratamento, nível de
desenvolvimento, personalidade, grau de gravidade da doença, estrutura familiar, além de
outros fatores já comentados, qualquer método pode funcionar para uma criança e não para
outra; por isso, é importante que se elabore um plano individualizado para tratar de cada
criança conforme suas necessidades particulares.

A melhor abordagem é a flexibilidade e o ecletismo, uma adaptação de métodos


diversos a faces e problemas diferentes. Os pais e as crianças se beneficiam de um plano a
longo prazo com uma orientação clara e específica, que também leve em consideração
mudanças evolutivas e regressões espontâneas. Estas oscilações devem ser reconhecidas para
não serem confundidas com progresso ou falhas de plano terapêutico.

5 LINGUAGEM

O bebê recém-nascido humano, estudado nas primeiras horas e meses de vida, veio
a indicar a sua preferência pelo parceiro humano a qualquer outro objeto. Entre os
comportamentos inatos do recém-nascido o choro, a tendência a fixar o olho no olho do
parceiro humano, o agarra-se ao corpo do adulto e o sorriso reflexo, parecem ser dotação
constitucional sensório motora para a comunicação com o cuidador.
As interações entre a mãe e o bebê caracterizam comportamentos específicos da
espécie humana, entre eles o sorriso e o balbucio, nos quais se manifestam na mesma época e
para estímulos semelhantes.
Conforme Tailer (1993, p. 35) a afetividade e a construção do sujeito na
psicogenética de Wallon contempla que:

No primeiro ano de vida, o colorido peculiar é dado pela emoção, instrumento


privilegiado de interação da criança com o meio. Resposta ao seu estado de
imperícia, a predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às
pessoas, as quais intermedeiam sua relação com o mundo físico [...]. A distinção
entre o eu e o outro só se adquire progressivamente, através da interação social.

Com as crianças autistas esse comportamento é diferente. O bebê não demonstra


emoção ao ver a mãe, não olha nos olhos, não tem afeto, pouco balbucia, quase não sorri,
dificilmente se agarra ao corpo de um adulto, não possui interação social e nem interação com
o meio e não demonstra conhecer seu cuidador.
O surgimento da linguagem marca o desenvolvimento cognitivo e social da
infância. Embora a criança em desenvolvimento típico não fale durante o primeiro ano de
vida, sua interação com os outros é fundamental para o desenvolvimento da linguagem. As
relações entre a reação ao outro, a troca de olhar e o sorriso, produção de sons, a imitação e o
uso de gestos intencionais de aproximação dependem da combinatória de habilidades e
envolve processos motores, cognitivos e linguísticos.
A aquisição da linguagem para os autistas é retardada, mas, quando se desenvolve,
caracteriza-se por anomalias específicas como repetição de palavras e troca de pronomes.
Quando a linguagem se desenvolve, não tem nenhum valor de comunicação e se caracteriza
por uma ecolalia imediata (o autista repete o que a outra pessoa acabou de falar) ou pela
repetição de frases estereotipadas ou mesmo uma inversão pronominal. Os que desenvolvem
linguagem verbal frequentemente apresentam ecolalia (repetição de frases ou palavras que
ouviram) e mostram uma maneira de usar e interpretar a linguagem que é restrita a uma
situação.
Crianças autistas referem-se a si mesmas como você ou por seu, em vez de eu.
Esse fenômeno é chamado de inversão de pronomes, muito comum em crianças autistas. A
inversão de pronomes é um problema linguístico, comum em crianças com problemas de
linguagem e deve ser tratado como tal. Não há nenhuma evidência científica de que haja um
significado inconsciente tal como a falta de consciência do eu, como muitos propõem.
São comuns, especialmente nas crianças autistas, perturbações do comportamento,
inclusive gritos, ataques de raiva, agressividade, destrutibilidade, fugas, espalhar
indiscriminadamente objetos ao seu redor e autoagressão. Os motivos para esses
comportamentos podem vir de mudanças nos objetos de rotina importantes para a criança
autista. Assim,

A princípio, toda ação do bebê é dirigida ao sucesso em sua manipulação e da


satisfação pessoal. Posteriormente, sua atividade toma outra direção: cognitivamente
a criança passa a refletir sobre suas ações e afetivamente passa a querer comunicá-
las. A criança quer contar ao outro suas descobertas que se tornam conhecimento
dos objetos e eventos e não mais apenas reações aos objetos e eventos [...]. A noção
de comunicação, essencial à capacidade de utilização da linguagem, tem grande
avanço dado pela tendência que a mãe apresenta de interpretar o comportamento de
seu filho como se houvesse um significado. (LIMONGI, 1998, p. 48)

As crianças autistas não apresentam qualquer brincadeira imaginativa,


restringindo-se à mera manipulação de objetos ou, então, têm um repertório limitado e muito
repetitivo de brincadeiras que tende a ficar sem mudanças por longos períodos de tempo.
6 COMUNICAÇÃO

Segundo Lewis e Leon (1995, p. 248) a comunicação é a ação de receber a


mensagem através de outra pessoa e interpretar a mensagem que esta pessoa lhe enviar. O
ser humano tem competência inata para a comunicação que ao longo dos primeiros anos de
vida se desenvolverá e se manifestará através de sofisticados comportamentos, como a
mímica corporal, os gestos e a produção fonoarticulatória e, finalmente, a produção gráfica.
Esta é uma área de maior impacto no desenvolvimento dos indivíduos autistas,
pois apresentam uma grande variedade de comportamentos incomuns no desenvolvimento
típico, tais como isolamento, estereotipias, dificuldade de comunicação, dificuldade na
linguagem. Portanto,

As crianças autistas sofrem de um específico déficit relacionado à compreensão do


significado expresso na comunicação e na interação social, possuem um estilo
cognitivo diferente, o que implica problemas específicos como a percepção, atenção
e pensamento. (LEWIS; LEON. 1995, p.56)

Muitos autistas permanecem sem fala, enquanto outros iniciam a fala em época
posterior à do desenvolvimento comum. Dentre os autistas verbais, a maioria apresenta
inabilidade na prosódia (nuance de tons de voz acompanhada de gestos e expressões faciais
que dão a coloração emocional da fala), fala repetitiva e uso idiossincrático de palavras.
As maiores dificuldades estão nos aspectos pragmáticos da comunicação e na
estrutura de narrativa. Limitações de compreensão sobre como as pessoas usam a linguagem
para obter algo e na interpretação de narrativas impedem o sujeito autista de compreender,
iniciar e manter a conversação.
Crianças autistas possuem muita dificuldade em iniciar um diálogo que
pressuponha o compartilhamento de emoções. A falta da habilidade de pré-comunicação em
crianças com autismo é também aparente nas suas dificuldades de variar suas expressões para
conseguir certos objetos e coordenar diferentes tipos de expressões tais como expressões
faciais, contato ocular, sons, mãos e movimentos corporais.
Todas as pessoas com autismo tendem a ter dificuldade na comunicação verbal,
como gestos, entonação, tom de voz. Cerca de 60% delas, porém, aprendem a falar. As
funções de comunicação mais avançadas como comentar, dar informações, pedir
informações e compartilhar emoções são mais difíceis para pessoas com autismo, devido à
dificuldade que possuem para se comunicar e demonstrar emoções. Para serem capazes de
comentar algo, as pessoas precisam entender a idéia de compartilhar experiência com outras
pessoas. Muitos pais relatam que se sentem impotentes porque seus filhos com autismo não
podem lhes comunicar se sentem dor, frio, medo etc.
Os aspectos formais da comunicação, isto é, a mecânica da linguagem, sua
síntese, vocabulário e semântica, encontram-se atrasados e anormais na maioria, mas não em
todas as pessoas com distúrbio autista. Algumas das crianças autistas que permanecem mudas
conseguem aprender a se comunicar por escrito a mão ou digitando no computador, outras
aprendem uma linguagem de gestos.
O olhar para o desenvolvimento da linguagem e comunicação é muito importante,
no entanto, crianças com autismo dificilmente olham nos olhos, torna-se difícil encarar outra
pessoa.
A criança autista não utiliza o contato visual para chamar a atenção, há ausência ou
atraso do sorriso em resposta ao sorriso dos outros; é indiferente, ignora e não reage à afeição
ou ao contato físico, a criança não parece distinguir o pai dos adultos estranhos, não procura
ser acariciada, demonstra pouca emoção e pouca simpatia.

7 PAPEL DA FAMÍLIA

A família é o primeiro grupo social no qual os hábitos de saúde e as atitudes são


formados com vistas a uma orientação para a vida. Constitui-se uma das instituições mais
sólidas da sociedade. É o lugar onde nascem e se desenvolvem os seres humanos, conferindo
a eles um suporte emocional, econômico e geográfico que possibilite seu desenvolvimento e
sua inserção social.
É importante compreendermos a família como instituição social significativa até
porque o autismo é um distúrbio de desenvolvimento que se caracteriza por um défice social,
no qual se observa extrema dificuldade no relacionamento com o próximo, carência de
linguagem e alteração de comportamento.
Ter uma criança diferente gera um sentimento de culpa muito grande nos pais,
mesmo amando seu filho. Aqueles se preocupam sobre o que acontecerá quando não
estiverem mais vivos para cuidar deste. A situação acarreta uma crise grave para qualquer
família e inevitavelmente produz problemas emocionais para todos, pois a sociedade
marginaliza e o preconceito fragiliza essa família.
Para a sociedade em geral, o autismo não é muito comum e a maioria das pessoas
não sabem nada sobre o assunto, levando os pais dessas crianças a se sentirem muito sós e
ignorantes a respeito dessa condição, e o que têm a fazer. As pessoas, frequentemente, não
entendem por que uma criança autista grita ou se comporta mal em público, e os pais recebem
desaprovação e crítica em vez de simpatia e ajuda.
A princípio, Kanner teria inferido uma etiologia ambiental ao se referir a grande
obsessividade e preocupação com abstrações no ambiente familiar e também aos pais frios.
Isso culpabilizou por décadas os pais das crianças autistas, principalmente a mãe que era tida
como mãe geladeira e promoveu o desenvolvimento das teorias a respeito das causas
psicodinâmicas. Ao falar sobre a incapacidade inata para o contato afetivo, Kanner pendeu
para o lado organicista (ARAÚJO, 1995). Assim,

[...] estudos controlados mostram que o estresse emocional profundo, advindo do


fato de se ter um filho autista, pode produzir ou precipitar desordens emocionais nos
pais predispostos. [...] Assim, os distúrbios às vezes encontrados nos pais devem ser
concebidos em termos de reação à carga e ao choque que representa ter um filho
autista e não como uma causa patológica da criança. (LEBOYER, 1995, p. 44)

Os pais sentem dificuldades constantes em visitar outras famílias, porque o seu


filho tem um comportamento bastante inapropriado e imprevisível, optando, assim, pelo
isolamento. Estas dificuldades de interação, já dentro da própria família, levam-na a
experimentar uma sensação de diferença extrema e de completa impotência no que diz
respeito à participação do meio social e, principalmente, de levar valores socioculturais à
criança autista.

8 AUTISMO E EDUCAÇÃO

Estudos comparativos do desenvolvimento de autistas sem retardo mental, os


denominados como de alto funcionamento, demonstram que o sujeito portador de autismo,
quando estimulado, aumenta seu coeficiente de inteligência de maneira mais significativa,
enquanto que a criança normal mantém os níveis apresentados inicialmente.
Muitas instituições utilizam o Método Tretment and Education of Autistic and
Related Comunication Handicapped Childern (TEACCH, 1972), que traduzido significa
Tratamento e Educação para Crianças Autistas ou com Problemas de Aprendizagem para
tratamento e educação para autistas e crianças com défices relacionados à comunicação Esse
método é analisado por ter intervenção psicopedagógica, que visa a favorecer a educação
destas crianças a partir de um ensino sistemático em ambiente organizado, utilizando-se de
estratégias para minimizar e compensar défices apresentados.
O método (TEACCH, 1972) Tretment and Education of Autistic and Related
Comunication Handicapped Childern respalda-se na Terapia Comportamental, que propõe
facilitar novos padrões de comportamento através da utilização de recursos (estímulos visuais,
corporais e audio-cinestésico-visuais) dirigidos à busca da fala ou de uma comunicação
alternativa.
Inicialmente, o programa terapêutico TEACCH, criado em 1972, preocupou-se em
desenvolver os pais como grandes agentes no desenvolvimento de seus filhos, realizando um
programa individual para cada criança nos níveis de: diagnóstico, atividades domiciliares e
educação especial em escolas e grupos. O segundo passo foi proporcionar à criança autista
uma forma de atendimento estruturado com vias à diminuição e extinção dos comportamentos
tais como: estereotipias motoras, hiperatividade, estereotipias verbais e isolamento.
Os programas de educação para crianças autistas mais bem sucedidos têm sido
baseados na compreensão nítida das deficiências das crianças, enquanto que aqueles baseados
numa teoria de causa emocional têm contribuído muito pouco para o progresso nesse campo.
É importante lembrar que problemas emocionais podem se desenvolver como consequência
de deficiências infantis básicas.
Porém, mesmo a criança autista mais inteligente tem dificuldades com matérias
que requerem compreensão de vocabulário, como Redação, Literatura e Poesia. Muitos
aprendem a ler, alguns bastante influentes, mas muito poucos leem com real compreensão ou
escolhem leitura por prazer. Parecem que aprendem o lado mecânico da leitura, reconhecendo
as letras e palavras, pronunciação e ortografia, mas isso pode ocorrer independente da
compreensão do significado e ortografia das palavras (hiperlexia).
Crianças autistas que são retardadas mentais leves, também podem aprender
habilidades práticas e talvez alguns aspectos do trabalho escolar mais formal. Obviamente, a
dificuldade em compreender o significado das coisas limitará o nível de seu progresso.
Um menor progresso educacional é possível na faixa gravemente retardada.
Algumas dessas crianças podem ter uma ou duas áreas de maiores habilidades, mas existirão
muitas para as quais o único objetivo possível é ensinar-lhes atividades básicas de vida diária
e outras que nem isso será alcançado. Através de uma organização cuidadosa e planejada,
consegue-se melhor ajudá-las.
Alguns autistas não fazem nenhum progresso e permanecem mudos e introvertidos
durante toda a vida. Porém, a maioria deles mostra pelo menos uma pequena melhora quando
mais velhos, especialmente depois dos cinco anos ou seis anos de idade. Suas deficiências
básicas começam a melhorar e o mundo gradativamente se torna mais compreensível.
Apesar dos objetivos educacionais e resultados alcançados variarem enormemente
dependendo da gravidade das deficiências de cada indivíduo, existem algumas regras gerais
de ensino que podem ser aplicadas para todas as crianças autistas. Professores e pais são
colocados frente ao problema de ensinar sem usar palavras. Basta pensar no papel que
palavras escritas e faladas têm na educação de crianças normais para perceber como é difícil
passar sem elas. Portanto,

A educação, usando técnicas de ensino baseadas, em primeiro lugar, na


compreensão clara do padrão dos transtornos e das habilidades da criança, e
segundo, nos conhecimentos do desenvolvimento normal da criança, pode ajudar
uma criança autista a desenvolver, ao máximo, quaisquer habilidades que possua e a
encontrar formas de compensar suas deficiências. Um bom manejo dos problemas
comportamentais pode ajudar, também, a criança a ter uma vida social mais normal.
(WING, 1997, p. 107)

O maior problema em ensinar crianças autistas é sua dificuldade de generalizar o


que aprendem. A criança pode aprender a abotoar os botões do casaco, mas não percebe que
as mesmas ações são necessárias para os botões do seu pijama.
Para educação de crianças autistas, sem dúvida, é necessário um programa de
ensino individualizado devido à ampla variação dos níveis e padrões de habilidades
encontrados em qualquer grupo dessas crianças. Cada criança deve ser avaliada de forma que
seu nível de desenvolvimento em cada área possa ser usado como ponto de partida para o
ensino.

8.1 Centro de Ensino Especial Helena Antipoff

O Centro de Ensino Especial Helena Antipoff pertence à rede pública estadual


do Maranhão, escolhido como campo empírico deste estudo, foi fundado no dia 23 de abril de
1982. Está localizado na Rua Domingos Olímpio, Quadra S , s/n, Bairro Ipase, São Luís-
MA. Seu nome foi dado em homenagem à psicóloga russa Helena Antipoff, considerada
pioneira na Educação Especial no Brasil.
O Centro conta com o apoio de uma equipe técnica multidisciplinar (terapeuta
ocupacional, psicopedagogo, psicólogo) no atendimento a pessoas com Necessidades
Educacionais Especiais, a partir dos 14 anos de idade nas áreas de Deficiência Mental
Múltipla e Síndrome, podendo permanecer por até 8 (oito) anos no Centro.
Um dos objetivos do Centro é preparar os alunos para serem autônomos e
independentes, portanto, capazes de se inserirem no mundo do trabalho que cada vez mais se
torna competitivo em razão das mudanças científicas e tecnológicas sobrevindas do processo
de globalização.
São oferecidas várias Oficinas Pedagógicas como: Cerâmica, encadernação,
jardinagem, práticas agrícolas, reciclagem, trabalhos manuais I e II das quais o aluno participa
após passar por uma sala de adaptação, por um período de 3 (três) meses a 01 (um) ano,
período em que são sondadas e detectadas as habilidades com as quais o aluno mais se
identifica, podendo mudar de Oficina após avaliação dos especialistas, desde que tenha
habilidades para aquela nova prática.
Sua estrutura curricular encontra-se baseada nos seguintes eixos:
a) Preparação para o Trabalho;
b) Qualificação para o Trabalho;
c) Colocação no Mundo do Trabalho, quando os alunos são considerados
sujeitos individuais, sociais e culturais.
A escola oferece merenda escolar para os alunos e recebe recursos do Ministério
da Educação e acompanhamento da Secretaria Estadual de Educação.

9 ESTUDO DE CASO

A intervenção consiste em um trabalho voltado para a aquisição das capacidades


comunicativas, para a interação social e para as adaptações comportamentais. Foram
desenvolvidas atividades comunicativas, jogos, dinâmicas, atividades envolvendo pintura,
desenhos e outras atividades visando a observar coordenação motora, noção de espaço, nível
de desenvolvimento potencial, nível de ajuda, identificar os processos e estratégias
desenvolvidos pelo aluno e como essas crianças se comportam em determinadas situações.

9.1 Etapas de Observação

Em primeiro lugar, fez-se um levantamento bibliográfico; depois, uma observação


dos alunos a serem trabalhados em sala de aula, entrevista com os pais e professores,
anamnese, entrevista com os alunos, aplicação de atividades visando a observar a parte
comunicativa, cognitiva, espacial e motora desses alunos.

Na primeira etapa, recorremos ao método de observação, que teve uma duração de


quatro semanas, quando observamos: o nível de desenvolvimento potencial, o nível de ajuda,
identificação dos processos e estratégias utilizados pelas crianças para realizarem uma tarefa.
Podemos notar que esses alunos autistas são muito bons na observação de detalhes,
especialmente os visuais, percebem quando muda o ambiente, ou a rotina e quando se tem
alguma coisa fora do lugar. É muito difícil os alunos se concentrarem e prestarem atenção no
professor, costumam ficar enfadados com tarefas longas e seu foco de atenção muda
rapidamente de uma sensação para outra.

A relação de comunicação entre os alunos é bem restrita, praticamente não se


comunicam entre si, com a professora só se comunicam quando sentem necessidade, quando
querem algum objeto ou quando realizam alguma tarefa, costumam pegar a mão ou o braço da
professora para ajudá-los a executar alguma tarefa ou mesmo para sair da sala.

9.2 Diagnóstico Psicopedagógico Interventivo

Identificação do ser cognoscente

Nome: G. L.O.

Data de nascimento: 29/07/1987

Idade: 20

Naturalidade: Mineiro

Escolaridade: Escola Especial

Dominância Manual: Destro

Escola: Centro de Ensino Especial Helena Antipoff

Identificação do pai

Nome: C. R. S.
Idade: 54

Naturalidade: Mineiro

Profissão: INSS Servidor Público Federal

Estado Civil: Casado

Identificação da mãe

Nome: F. A. L.

Idade: 42

Nacionalidade: Mineira

Profissão: Dona de casa

9.3 Anamnese

O objetivo principal da anamnese é colher dados significativos sobre a vida do


paciente, consiste em investigar o pai, a mãe, ou responsável para, a partir disso, extrair o
máximo de informações possíveis sobre o sujeito. São informações colhidas do passado e do
presente, juntamente com as variáveis existentes em seu meio. Observamos a visão da família
sobre a história do sujeito, seus preconceitos, expectativas, afetos, conhecimentos e tudo
aquilo que é depositado sobre o mesmo. É necessário o máximo de cuidado com os assuntos a
serem abordados, e procurar passar segurança e conquistar a confiança da pessoa entrevistada.
A coleta de dados foi realizada através de uma entrevista, da qual se obteve a
anamnese, sendo que a mesma só se deu com a mãe do G.L.O., que, desde o início, se
mostrou disposta a ajudar, sendo, em todos os momentos, atenciosa.
Quanto à concepção, a mãe relata que engravidou por acaso, ainda na fase de
namoro; depois do descobrimento da gravidez, casou-se com o pai de G.L.O. e hoje tem 19
anos de casada. G.L.O. foi seu primeiro filho, é do sexo masculino, pesa 75 kg e tem 1,70m
de altura. A mãe tem outro filho mais novo com 16 anos.
Durante a gestação, a mãe não sentiu enjoo, sentiu a criança mexer aos quatro
meses, fez pré-natal, não levou tombos, não teve hemorragia; a única doença que teve durante
a gravidez foi gripe e não fez uso de nenhum medicamento. Não fumou, não tomou bebidas
alcoólicas e nem usou drogas.
O nascimento de G.L.O. foi em uma maternidade; o parto foi cesariano, cefálico e
a termo; nasceu pesando 2.600kg, chorou logo que nasceu; cor normal; não teve nenhum tipo
de complicação após o nascimento e, quando foi para casa, a cunhada e o pai participaram
ativamente dos cuidados da criança.
Quanto ao desenvolvimento do sono, G.L.O. dorme mais ou menos, pois mexe um
pouco as pernas quando está dormindo, às vezes baba, e acorda com frequência. Dorme em
quarto e cama individuais. No entanto, apesar de acordar bastante à noite, fica calmo e nunca
vai para o quarto dos pais.
Quanto à alimentação G.L.O. sempre se alimentou bem, mastiga corretamente,
engole bem, parou de tomar mamadeira aos seis anos.
Quanto ao desenvolvimento psicomotor, G.L.O. sorriu ainda bebê, fixou a cabeça
normalmente na idade esperada, não engatinhou, ficou de pé a primeira vez com um ano,
andou aos dois anos; com oito meses começou a balbuciar as primeiras palavras.
Em relação às esfecteres, não possui total controle, demonstra certa agitação
quando o clima da casa esta pesado com brigas e discussões; caso contrário, permanece
calmo e costuma movimentar-se muito.
Quanto a manipulações, não usou chupeta, mas chupava dedo, não roeu unhas,
não arrancava cabelo e morde os lábios com frequência.
Quanto aos tiques, apresenta autoagressão, esmurra o rosto, morde as mãos, mexe
muito as mãos e a cabeça.
G.L.O. não demonstra ter curiosidade sexual, mas masturba-se desde os treze
anos.
Quanto à sociabilidade, G.L.O. não tem amigos, não costuma dormir fora de casa
e as únicas pessoas com as quais ele brinca são a mãe e o irmão; não se adapta facilmente ao
meio.
Seu temperamento é calmo, não chora com facilidade. A mãe relata que até hoje
ele chorou duas vezes a vida toda, tem muito ciúme da mãe com o irmão.
A única doença mais séria que G.L.O. teve foi catapora. Raramente tem febres e
nunca teve convulsão. Já ficou roxo, já foi hospitalizado. Não tem dificuldades auditivas e
nem visuais, usa anestesia sempre que vai fazer exame.
Quanto aos antecedentes familiares, tem um primo materno com retardo mental.
Quanto ao ambiente familiar e social, os pais vivem juntos, a família vive bem
financeiramente, o pai é alcoólatra, por essa razão, quando este está bêbado, fica muito
nervoso, costuma gritar e assustar G.L.O, briga muito com a esposa. G.L.O fica muito agitado
e irritado com essas situações. O pai acaba prejudicando a família toda. O outro filho
adolescente, segundo a mãe, está revoltado com o pai.
A mãe é evangélica e o pai é ateu. O relacionamento com a mãe é o melhor
possível, ela é muito carinhosa e atenciosa, passa o dia inteiro cuidando dele. O
relacionamento com o pai é problemático, pois mesmo quando está lúcido se mostra
indiferente com o filho.

REFERÊNCIAS

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Salomão. Autismo Infantil. São Paulo: Mnemon, 1995.
ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO AUTISTA. Você sabe o que é autismo? São Paulo, 2003.
Disponível em http:// www.ama.org.br. Acesso em 23 de março de 2007. Não paginado.
ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DE AUTISMO. Política Nacional de Atenção à Pessoa
Portadora da Síndrome do Autismo. In: GAUDERER, C. (Org.). Autismo e outros atrasos
do desenvolvimento: guia prático para pais e profissionais: Rio de Janeiro, 1997.
ASSUMPÇÃO, Jr; FRANCISCO, Baptista. Conceito e Classificação das Síndromes Autistas.
In: SCHWARTZMAN, José Salomão. Autismo Infantil. São Paulo: Mnemon, 1995.
GAUDERER, Christian. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento: guia prático para
pais e profissionais. Rio de Janeiro: Revinter, 1997.
LEBOYER, Marion. Autismo Infantil: fatos e modelos. Campinas: Papiros, 1995.
LEWIS, Sonia Maria do Santo; LEON, Viviane Costa de. Programa TEACCH. IN:
SCHWARTZMAN, José Salomão. Autismo infantil . São Paulo: Mnemon, 1995.
LIMONGI, Sueli. Da Ação à expressão oral: subsídios para a avaliação da linguagem pelo
psicopedagogo. In SISTO, F.F. et al. Avaliação Psicopedagógica da criança de zero a seis
anos. Petrópolis: Vozes, 1998.
RIBEIRO, F. L. C; CARDOSO, M. T.R. Uma proposta de atuação em educação especial.
Coleção Prata da Casa. São Luís: Imprensa Universitária, 1999, n. 06.
TAILER, Yves. Piaget, Vygostsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São
Paulo: Sammus, 1993.
WING, Lorna. Abordagem educacional para crianças autistas: teoria, prática e avaliação.
Rio de janeiro: Revinter 1997.
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