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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: História do Brasil Republicano: do Estado Novo aos dilemas do Brasil
Contemporâneo.
DOCENTE: Prof. Me. Wagner Cabral
DISCENTE: Anderson Henrique Lopes Santos

FERREIRA, Jorge, 2003 – O tempo da experiência democrática: da


democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964 – Rio de Janeiro – Civilização
Brasileira. – (O Brasil republicano; v.3)

A democratização de 1945 e o movimento queremista. (pág. 15 à 46)

O autor Jorge Ferreira vem analisar e problematizar em sua produção o nascimento e a


atuação do movimento queremista que teve destaque no período da democratização, surgindo
no ano de 1945 em meio a várias problemáticas, tendo como atuantes principais a massa dos
trabalhadores operários que tinham esperanças na imagem de Getúlio Vargas como o único
capaz de atender os seus interesses, conseguindo ceder amparos a classe, era uma espécie de
redentor.
“Cai a ditadura do Estado Novo, mas cresce o prestígio do ditador; vislumbra-se o
regime democrático e, no entanto, os trabalhadores exigem a permanência de Vargas no poder”.
(pág. 15) ou seja, a ditadura varguista é derrubada, mas por questões de interesses existentes
voltados ao contexto, os trabalhadores preferiam a fixação de Vargas no seu cargo de poder.
“O Estado Novo, sobretudo no segundo semestre de 1944, dava mostras de esgotamento
político. Estudantes, comunistas, liberais, empresários que enriqueceram sob a ditadura e
coalizões de civis e militares, organizados em grupos políticos, surgiram no cenário”. (pág.16),
personagens surgem para a realização de protestos contra a ditadura varguista, com o
enfraquecimento do Estado Novo, os aparelhos de repressão já não eram mais tão eficientes.
“Vargas perdeu a base de sustentação de seu poder e, portanto, as condições políticas
para continuar na presidência da República”, por todo o contexto de mudança social e as críticas
que Getúlio recebera diretamente no ambiente midiático foram pontos cruciais para o
enfraquecimento do seu nome e popularidade, eram tecidas críticas principalmente “à
implantação do sindicalismo controlado pelo Ministério do Trabalho, definida como obra do
fascismo” (pág.17).
No contexto de 1945 houveram manifestações em prol da derrubada de Vargas de forma
completa liderada por uma massa de estudantes e alguns trabalhadores, em choque se
apresentou um grupo de trabalhadores que reivindicavam a continuação de Vargas, o que foi
descrito na impressa um grupo de “desordeiros, provocadores, bêbados, exaltados, violentos,
selvagens entre outros qualitativos.” (pág.17)
Houve esse levante por parte do trabalhadores porque segundo os próprios, os produtos
positivos adquiridos pela legislação social do Estado Novo viessem a ser desmoronados,
contava a questão da desconfiança existente sob o novo grupo que se preparava para lutar pela
chegada ao poder, havia “o receio de que a democratização, sem o controle de Vargas,
ameaçassem os princípios que fundamentavam a cidadania social alcançada pelos trabalhadores
desde 1930”. (pág. 18)
Logo a permanência de Vargas compete não somente a fruto de disseminação midiática,
mas porque de fato houve uma solidificação no imaginário dos trabalhadores através de suas
políticas que os favoreceram. “Não há propaganda, por mais elaborada, sofisticada e
massificante, que sustente uma personalidade pública por tantas décadas sem realizações que
beneficiem em termos materiais e simbólicos, o cotidiano da sociedade”. (pág.19)
Como o grupo que clamava a permanência de Vargas crescia, já não dava mais para
colocar estes como invisíveis, as lutas foram reais, começando a partir do campo ideológico,
como era notável a multiplicação do movimento, já não dava mais para ser ignorada a questão
do queremismo que por suas proporções acabou nutrindo um apoio financeiro de grupos
empresariais que eram de acordo com a permanência de Getúlio.
Mediante que toda ação tem uma reação, o “movimento de oposição, no entanto, surgiu
oficialmente em 7 de abril de 1945. Com o nome de União Democrática Nacional (UDN), o
partido abrigava diversos grupos políticos...unidos pelo mesmo rancor a Vargas”. (pág.20) o
partido representava a união para a levada ao poder a figura de Eduardo Gomes, o dito
“brigadeiro”.
Havia uma guerra midiática em torno dos dois movimentos, “recorrendo a imagens que
sugeriam entusiasmo e mobilização popular pela candidatura da UDN, as manchetes
procuravam convencer o público da vitória certa, praticamente inevitável da oposição”.
(pág.21) no entanto os queremistas nos meios de comunicação tinham a imagem denegrida e
rebaixada a meros baderneiros.
No olho do furacão ainda surge o “candidato do Partido Social Democrático, general
Eurico Gaspar Dutra, surgia pequenas notas, cercadas por outras notícias, sugerindo ao leitor
uma candidatura fracassada e sem maior importância”, percebe-se o jogo em definir através de
ideologias e imagens quem iria vencer a corrida de chegada à Presidência da República, sendo
que isso correspondia a um outro jogo de interesses por trás.
O queremismo continuava a abraçar uma poderosa magnitude e expansão, visto que em
julho de 1945 o movimento começa a ganhar moldes mais fortes e convictos, que foi gerado
como produto o Comitê Pró-Candidatura Getúlio Vargas, mostrava uma força de base, logo “as
adesões, núcleos e comitês de bairros, abaixo-assinados e declarações de solidariedade
aumentavam diariamente”. (pág.22)
“O crescimento do movimento, os conflitos nas manifestações da UDN e a proximidade
do primeiro comício queremista inquietaram as oposições” (pág. 23) a crescente adesão ao
movimento queremista sofreu duras críticas nos meios de comunicação também, onde
respondia-se com ironia que Getúlio “desfruta de alguma popularidade” (pág.23), percebendo
que havia uma importância na candidatura e eleição de Eduardo Gomes.
“As oposições, sem dúvida, viviam uma situação, no mínimo, constrangedora. Dias
antes do comício, na sede do PSD em São Paulo e no Recife, a propaganda eleitoral de Dutra
foi substituída pela de Vargas.” (pág.24) logo imagina-se a força que tomara o movimento, “a
candidatura de Dutra, até aquele momento sem empolgação alguma, ameaçava esvaziar-se por
completo”. (pág.24)
O PTB mantinha algum elo com o queremismo , mesmo que fosse o partido que apoiava
a candidatura de Gaspar Dutra, sendo que de fato foi mantida uma aliança, mesmo que fosse
um partido voltado a trabalhadores e o movimento queremista fosse majoritariamente composto
por estes, deveriam ter uma atenção especial as suas nuances, mesmo que fossem ligados a
imagem de Vargas e a legislação social, não eram a mesma coisa.
“A parada militar da FEB, simbolizando a luta pela democracia e a derrota do fascismo,
e portando do Estado Novo, seria a festa da UDN e do brigadeiro Eduardo Gomes. No entanto,
quando Vargas chegou no palanque, a multidão ovacionando-o manifestou sua alegria.”
(pág.26) era visto como evento que contava uma vitória para Vargas e descontentamento para
os seus adversários.
Esse apego a figura de Getúlio Vargas tem ligação com as questões de assistencialismo
e um forte apelo emocional que envolveu a sua obra social, o queremismo emana através da
ideologia trabalhista e do sentimento de pertencimento dos trabalhadores a algum lugar, algo
assegurado, uma visão de existência, da saída de uma total subalternização, tudo construído
dentro do Ministério do Trabalho no Estado Novo.
“Para aqueles que viviam do trabalho, havia o tempo de ‘hoje’ e o tempo de ‘antes’, cuja
linha simbólica que os separava era 1930.” (pág. 28), que segundo relato de alguns operários,
era tido um determinado medo de voltar ao estado de antes, se caso Vargas não fosse eleito,
vide que o operário antes de 30 estava a condição de escravidão e não tinha nenhum tipo de
amparo que valorizasse a sua existência enquanto sujeito operário.
“A repercussão verdadeiramente impactante que as leis sociais causaram entre os
assalariados dificilmente pode ser minimizada e permitiu que, na memória popular – embora
possivelmente não em outras- 1930 surgisse como um divisor de águas nas relações entre
Estado e classe trabalhadora”. (pág.29).
“Insatisfeitos com os rumos da transição à democracia, sentindo-se ameaçados com a
possibilidade de voltarem ao tempo de ‘antes’, os trabalhadores se mostraram indignados. É na
defesa de sua condição de ‘vencedores’, de ‘cidadãos”. (pág.33) ou seja, os trabalhadores
passam a tomar uma ordem de consciência sobre o lugar que ocupam socialmente e de tensões
de classes, além de estarem temerosos por descerem a uma posição subalterna, jogados ao
campo da exclusão.
Além de que nesse entrave encontra-se os laços em que envolviam essa massa de
operários com ideais republicanos, onde pautava-se a soberania popular que era o canal para
alcançar uma plena democracia, “a democracia não poderia se restringir a votar em nomes para
a presidência da República, mas também, sobretudo, deveria permitir a interferência do povo
na escolha dos próprios candidatos”. (pág.34) e com isso declaravam também que “o voto é a
mais legítima propriedade do eleitor”. (pág.34)
Outro grande acontecimento foi a disputa para a existência da Assembleia Constituinte
que partia de Vargas e seus apoiadores, era uma maneira de estender o poder e domínios de
Getúlio aos setores, que é citado logo nas primeiras páginas desse capítulo, diante as pressões
populares em volta de sua candidatura, ele tranquilizava o povo sobre a possibilidade da
concretude disso. “poderia ouvir os partidos políticos e as forças organizadas da sociedade sobre
a conveniência da convocação de uma Assembleia Constituinte”. (pág.38)
Como o queremismo se solidificou, Getúlio Vargas convocou para que os trabalhadores
aderissem ao PTB, o autor aponta como complexo os caminhos processuais logo após o corpo
do queremismo ganhar forma e toda uma força ideológica existente em forma de manto. “Estava
ocorrendo um conjunto de ideias, crenças e atitudes coletivas – o trabalhismo como projeto
político, o getulismo como a sua personalização e o queremismo como movimento social”.
(pág. 39)
Vargas não conseguiu participar na chegada a presidência no contexto por eventualidade
de um golpe militar em 1945, houve um desequilíbrio e a perda do foco por parte dos
trabalhadores, mas era necessário uma força para que os interesses por trás do movimento
queremista, é aí que entra em cena a figura de Hugo Borghi, “com imaginação e talento político,
ele conseguiu estabelecer, com extrema habilidade, um símbolo que representou uma
identidade coletiva dos trabalhadores e, no mesmo tempo, projetou uma imagem absolutamente
negativa do adversário”. (pág.40)
“Borgui acionou uma cadeia de 150 rádios. Sem meias-palavras declarou: A maior
prova de que o senhor Brigadeiro é o candidato dos grã-finos, dos milionários, dos ricos, dos
barões, dos exploradores do povo [...] é que ele declarou que não precisa do voto dos
marmiteiros, que trabalham, que lutam [...].” (pág.41)
“A partir daí, a candidatura de Eduardo Gomes, que até então não alcançara
popularidade, tornou-se definitivamente apática aos eleitores de baixa renda”. (pág.42) Foi
visto que houve uma tática, utilizando do discurso do brigadeiro, através de estratégia Borgui
conseguiu contornar a situação e manter os trabalhadores ainda do lado ideológico que
correspondia ao campo de Vargas, já que não podia concorrer à presidência, em últimos
momentos cede apoio a Gaspar Dutra que vence as eleições.
Apesar do queremismo não ter conseguido consumar o seu projeto central que era
manter Vargas no poder, é de adição verificar a audácia do movimento em ter causado tanto
reboliço, primeiro no campo das ruas e depois na esfera ideológica, tudo motivado pelo temor
de sucumbir socialmente e perder direitos que lhes foram garantidos no Estado Novo, descendo
a um conceito de escravidão, além de que despertou uma consciência de classe ainda não vista
e que condizia a uma coletividade.

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