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C. W. LEADBEATER
ESBOÇO TEOSÓFICO
Tradução:
PAULINO DIAMICO
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ÍNDICE
CAPÍTULO I Preliminar - O que é a Teosofia 04
Como o sabemos 05
Método de observação 06
CAPÍTULO II Princípios Gerais 08
As três grandes Verdades 08
Corolários 09
Vantagens que este conhecimento acarreta 10
CAPÍTULO III A Divindade 12
O Plano Divino 13
Lição da Vida 14
CAPÍTULO IV O composto humano 16
O verdadeiro Homem 18
CAPÍTULO V A Reencarnação 20
CAPÍTULO VI Novo conceito da natureza humana 24
CAPÍTULO VII A Morte 26
CAPÍTULO VIII O passado e o futuro do homem 31
CAPÍTULO IX Causa e Efeito 34
CAPÍTULO X Benefícios da Teosofia 37
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CAPÍTULO I
PRELIMINAR - O QUE É A TEOSOFIA
COMO O SABEMOS?
MÉTODO DE OBSERVAÇÃO
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CAPÍTULO II
PRINCÍPIOS GERAIS
Uma das principais obras teosóficas estabelece três verdades absolutas que jamais
poderão desaparecer por completo; mesmo que, em certas épocas, sofram passageiros
eclipses, por ninguém se dar então ao trabalho de proclamá-las. Estas verdades
fundamentais são tão vastas e sublimes como a própria vida e, não obstante, tão simples
como o espírito do homem mais ingênuo. Não posso deixar de colocá-las como os mais
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importantes princípios gerais dos que vou expor.
Em seguida, formularei alguns colorários às três verdades fundamentais, e em terceiro
lugar, enumerarei algumas das vantagens que resultam necessariamente destes
conhecimentos primordiais. Enfim, depois de haver bosquejado esquematicamente as
linhas gerais do assunto, examiná-las-emos uma e a uma e me esforçarei em dar todas as
explicações complementares que caibam nesta pequena obra para aproveitamento dos
principiantes.
1ª - Deus existe. É bom. É o grande "outorgante de vida" que mora em nós e fora de
nós. É imortal e eternamente bernfazejo. Não se pode vê-lo, nem ouvi-lo, nem tocá-lo e,
não obstante, percebe-o quem o deseja perceber.
2ª - O homem é imortal. A glória e esplendor de seu futuro não têm limites.
3ª - O mundo é regido por uma lei divina de justiça absoluta; de modo que cada
homem é em realidade o seu próprio juiz, o árbitro de sua própria vida e a si mesmo
proporciona glória ou ignomínia, prêmio ou castigo.
COROLARIOS
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CAPÍTULO III
A DIVINDADE
O PLANO DIVINO
Nenhuma proposição é tão difícil de ser aceita pelo vulgo, como o primeiro
corolário da primeira verdade fundamental. Ao observar os fatos da vida cotidiana,
vemos tantas tormentas e tempestades, tantas penas e sofrimentos, que nos
inclinamos, no primeiro momento, a acreditar na vitória do mal sobre o bem; pois
parece impossível que a aparente desordem faça parte de uma evolução sabiamente
dirigida. Entretanto, esta é a verdade de que facilmente nos podemos convencer!
Basta para isso apartarmo-nos da nuvem de pó que a nossa encarniçada luta contra
o mundo exterior levanta, e examinar tudo do ponto de vista que nos oferecem a
paz interior e um conhecimento mais completo. Então ficam a descoberto os
mecanismos desta complicada engrenagem. Pensávamos que as correntes do mal,
opostas à caudalosa corrente do progresso, prevaleceriam. E vemos que, ao fim e ao
termo, as correntes contrárias não são mais do que insignificantes agitações, leves e
superficiais redemoinhos, nos quais algumas gotas d’água parecem remontar à
majestosa corrente. Entretanto esta, apesar das aparências, e arrastando consigo
agitações e remoinhos, prossegue serenamente o seu curso para o escoadouro que
lhe está assinalado. A grande corrente da evolução persiste do mesmo modo no seu
caminho, e o que tomamos por terríveis tempestades não são mais do que
ondulações da superfície. Em apoio desta verdade, M. C. H. Hinton expõe outro
símile. (1)
(1). Scientific Romances, 1, 18, 24.
Segundo nos ensina a terceira verdade primordial, a justiça absoluta intervém
em tudo. Portanto, em quaisquer circunstância que o homem se ache, deve saber
que ele próprio as engendrou.
Porém, isto não é tudo. Havemos de estar também inquebrantavelmente
convencidos de que, por efeito das leis da evolução, tudo concorre para
proporcionar ao homem os meios mais eficazes de desenvolver em si mesmo as
qualidades que lhe sejam mais necessárias. Pode-se mesmo dar o caso de que não
tenha escolhido a situação em que se encontra; mas tal situação é sempre a que
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deve ser, porque a merece, e por isso é a mais conveniente ao seu progresso. A vida
pode opor ao homem obstáculos de toda espécie. Todavia, os obstáculos têm um
único fim: ensiná-lo a vencê-los e a desenvolver em si mesmo o valor, a resolução, a
paciência, a perseverança, em suma todas as qualidade de que carecer. Com
frequência o homem fala das forcas da natureza com se todas conspirassem contra
ele. Contudo, se refletisse melhor compreenderia que, ao contrário, tudo está
cuidadosamente previsto para ajudá-lo na sua ascensão progressiva.
Posto que o plano divino existe em realidade, o homem deve tratar de
compreendê-lo. Não há necessidade de demonstrar esta proposição. Se se tratasse
unicamente de assunto de interesse pessoal, nada melhor poderia fazer quem
vivesse em certas condições, do que acostumar-se a elas. Todavia, desde o
momento que o homem deixa de obedecer a considerações egoístas, tem mais
claramente assinalado o dever de estudar o plano divino, com o fim de cooperar
eficazmente para a sua realização.
Não há dúvida de que no plano divino deve-se contar com a cooperação
inteligente do homem, tão depressa tenha ele adquirido o desenvolvimento mental
suficiente para abarcar tal plano e a evolução moral precisa para que deseje auxiliar
o mundo. Na verdade, o plano divino é tão belo e admirável que, se o homem
chegar a contemplá-lo uma vez apenas, não terá outro remédio senão dedicar todos
os seus esforços a converter-se em operário de Deus, por ínfimo que seja o trabalho
que se lhe confie. (1)
(1) Para ampliar o conhecimento da matéria esboçada neste capítulo, o leitor
pode consultar as obras seguintes: "O Cristianismo Esotérico e a Sabedoria
Antiga", de A. Besant; "O Credo Cristão", de Leadbeater; "Fragmento de uma
crença esquecida" e "Orfeo", de Mead. (Livraria Orientalista, de R. Maynadé).
LIÇÃO DA VIDA
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e que para o seu desenvolvimento
lhe são necessárias amarguras
do cálice transbordante e sempre cheio;
mas sei que tudo quanto existe é bom
Sei que não existe nenhum erro
no divino e vasto plano eterno
e que entre humanos seres nenhum há
que não coopere ao bem de todos eles.
Sei que quando minha alma ao alto ascenda
perseguindo o seu inextinguível anseio
em direção à terra olhará, dizendo
que tudo é bom quanto nela existe.
(Poesia anônima publicada por um
jornal norte-americano).
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CAPÍTULO IV
O COMPOSTO HUMANO
(1) A palavra "além" não significa aqui, distância, e sim maior sutileza da matéria. Já o dissemos, e o estudante deve
ter sempre presente que os planos ou mundos se compenetram.
O VERDADEIRO HOMEM
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CAPÍTULO V
A REENCARNAÇÃO
Visto que, no princípio, as vibrações muito sutis não podem influir na alma, é
preciso que esta se revista de invólucros suficientemente grosseiros para que ao
menos as vibrações mais pesadas possam afetá-la. Assim, a alma se reveste
sucessivamente dos corpos mental, astral e físico. Isto constitui um nascimento ou
encarnação, o começo de uma vida física, durante a qual a alma adquire alguma
experiência sobre toda ordem de coisas; aprende, por assim dizer, certas lições e
desenvolve determinadas qualidades.
Ao termo de um tempo mais ou menos longo, a alma torna a concentrar-se em
si mesma e vai se despojando, um após outro, dos corpos de que se revestiu. O
primeiro a ser abandonado é o físico, e a este abandono chamamos morte, que não
representa, de modo algum, a cessação de nossas atividades, como ignorantemente
supomos. Nada mais contrário à verdade do que esta suposição. A morte é, em
verdade, o simples esforço que a alma realiza para recolher-se em si mesma,
levando como fruto de sua vida terrena os conhecimentos adquiridos. Após um
período de repouso mais ou menos longo, ser-lhe-á mister fazer outro esforço da
mesma natureza.
Assim, pois, conforme dissemos, o que geralmente chamamos vida, é apenas
um dia da mais durável e verdadeira vida, é um dia de escola no qual a nossa alma
aprende apenas algumas lições. Mas, o que é uma vida de 70 ou 80 anos, no
máximo, para aprender todas as lições que o mundo nos deve ensinar e que Deus
quer que nos ensine? A nossa alma há de, forçosamente, renascer várias vezes para
viver dias e anos na escola que chamamos existência, em classes diversas e em
diversos ambientes, até receber todas as lições que tenha necessidade de aprender.
Então e só então termina a nossa tarefa de escolares e passamos a cumprir um
dever mais elevado e glorioso: o da vida divina, para o qual não é mais do que uma
preparação a aprendizagem das vidas terrestres.
Eis, pois, em que consiste a doutrina da reencarnação e dos renascimentos,
doutrina quase universalmente admitida pelos povos civilizados da antiguidade e
que ainda é professada pela maior parte da espécie humana.
"O que é incorruptível - diz Hume - deve ser igualmente improcriável. Se a alma
é imortal, deve preexistir ao nascimento do corpo. Portanto, a metempsicose é o
único sistema espiritualista admissível pela filosofia" (1).
(1). Hume: "Essay on Immortality" - Londres, 1875.
A propósito das teorias reencarnacionistas da Índia e da Grécia, diz Max Muller:
"Baseiam-se numa ideia que, se estivesse expressa em termos menos
mitológicos, poderia. considerar-se como a melhor prova de cultura filosófica
superior" (2).
(2). Max Muller: "Teosofia ó Religión psicológica", 22 - Edição de 1895.
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Em sua obra póstuma, o grande orientalista insiste na doutrina da
reencarnação, declarando que, pessoalmente, acredita nela.
Huxley, por sua parte, diz:
"A doutrina da transmigração tem, como a doutrina evolucionista, a sua raiz no
mundo dos fatos e funda-se em tudo quanto a analogia pode proporcionar de mais
demonstrativo relativamente a argumentos".
Vemos que tanto os escritores modernos como os antigos consideram digna de
sério exame a hipótese reencarnacionista. Todavia, nem por um momento devemos
confundi-la com aquela outra teoria, filha de profunda ignorância, segundo a qual a
alma, chegada por evolução ao período humano, podia regressar e converter-se em
alma de animal. De modo algum. Tal regressão é absolutamente impossível. Desde o
momento em que um homem existe (é uma alma humana com o corpo causal por
invólucro), não pode mais retroceder ao reino animal em razão de erros cometidos,
por muito grande que seja a sua teimosia em desperdiçar as ocasiões de progresso
que se lhe ofereçam. Se tal homem é preguiçoso e desaplicado na escola da vida, da
qual falamos acima, terá que repetir a mesma lição, até que, cedo ou tarde, chegue a
sabê-la, por lentos que sejam os seus adiantamentos.
Faz alguns anos, uma revista expôs, galantemente, a crença nesta doutrina,
dizendo:
Um pimpolho foi à escola sem saber mais do que o que tinha sugado com o leite
de sua mãe. O mestre, que era o próprio Deus, colocou-o na ínfima classe e marcou-
lhe estas lições, para que as aprendesse: - "Não matarás. Não farás mal a nenhum
ser vivo. Não furtarás". O discípulo não matou, mas foi cruel e furtou. Ao terminar o
dia, quando já trazia cans da barba, e veio a noite, o mestre, que era o próprio Deus,
lhe disse: - "Aprendeste a não matar, mas não aprendeste as outras lições. Volta
amanhã".
Feito menino, voltou na manhã seguinte, e o mestre, que era o próprio Deus,
colocou-o numa classe mais adiantada e lhe marcou estas lições:
"Não farás mal a nenhum ser vivente. Não furtarás. Não mentirás". E o discípulo
não fez mal a ser vivente algum, mas furtou e mentiu. E pelo fim do dia, quando veio
a noite e a sua barba encaneceu, o mestre, que era o próprio Deus, lhe disse:
"Aprendeste a ser compassivo, mas não aprendeste as outras lições. Volta amanhã".
E outra vez, no dia seguinte, voltou feito menino. E seu mestre, que era o
próprio Deus, colocou-o numa classe um tanto mais adiantada e lhe marcou estas
lições: "Não furtarás. Não mentirás. Não cobiçarás". E o discípulo não furtou, mas
mentiu e cobiçou. De modo que, ao termo do dia, quando veio a noite e a sua barba
estava branca, o mestre, que era o próprio Deus, lhe disse: "Aprendeste a não furtar,
mas não aprendeste as outras lições. Volta amanhã, meu filho".
Isto li no rosto de homens e mulheres e no livro do mundo e no pergaminho
que, escrito com estrelas, se desenrola nos céus". (1)
(1). Berry Benson, "The Century Magazine", Maio de 1894.
Não acumularemos nestas páginas os inúmeros argumentos irrefutáveis sobre
os quais se funda a doutrina da reencarnação, pois estão magistralmente expostos e
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por pena mais douta noutras obras teosóficas. Observaremos que a vida nos põe
frente à frente inumeráveis problemas, cuja solução só se acha na hipótese
reencarnacionista. Esta grande verdade os explica e, consequentemente, somos
levados a tê-la por boa enquanto não se descubra outra hipótese mais satisfatória.
Acrescentarei que, para muitos de nós (e o mesmo podemos dizer dos outros
ensinos), esta chamada hipótese não o é de modo algum, mas sim conhecimento
sólido e diretamente obtido, ainda que isso não possa servir de prova para a massa
em geral.
Exporemos outra consideração: grande número de varões justos e virtuosos se
têm visto tristemente incapacitados de conciliar os acontecimentos de que
diariamente eram testemunhas, com a existência de um Deus ao mesmo tempo todo
poderoso e infinitamente bom.
O espetáculo das torturas morais e dos sofrimentos físicos sugeria-lhes o dilema
de que: ou Deus não era onipotente e não podia impedir o mal, ou não era
infinitamente bom e via com indiferença nossas misérias. Nós, os teósofos, temos a
inquebrantável convicção de que Deus- é todo Poder e ao mesmo tempo todo Amor,
pois graças à doutrina fundamental da reencarnação, podemos conciliar com esta
certeza a realidade das amarguras que nos rodeiam. Seguramente merece detido
exame a única hipótese que nos permite reconhecer racionalmente na Divindade a
perfeição da misericórdia e da onipotência, pois tal hipótese nos ensina que a nossa
vida atual não é um começo, mas sim que atrás de nós deixamos longa série de
existências, e mediante o que aprendemos no passado podemos nos elevar do nível
do homem primitivo à nossa condição presente. Não há dúvida que, no decorrer
dessas vidas passadas, haveríamos de ter agido bem e agido mal. De cada uma de
nossas ações resultou, de acordo com a lei de justiça infalível, uma proporção
definida de bem ou de mal. O bem produz sempre a felicidade e, além disso, as
condições favoráveis ao desenvolvimento ulterior.
Portanto, se de algum modo nos encontramos embaraçados em nossas
aspirações para o bem, havemos de compreender que esta inferioridade provém
unicamente de nós mesmos, ou é efeito da juventude de nossa alma; e se
estivermos pesarosos e em luta com a tristeza e o sofrimento, unicamente nós
mesmos somos os causadores disso. Os milhares e milhares de destinos dos homens,
tão variados e complexos, são outras tantas resultantes inevitáveis e exatas do bem
ou do mal inerentes aos seus atos anteriores, pois tudo progride regularmente de
conformidade com a lei divina e em previsão da final e gloriosa apoteose.
Nenhum ensinamento teosófico terá sido tão violentamente combatido como
esta grande verdade da reencarnação, e, não obstante, é uma doutrina
consoladora, pois nos concede o tempo necessário para realizarmos os progressos
que nos faltam e a possibilidade de chegarmos a ser "perfeitas" como o nosso Pai
"que está nos céus".
Alguns adversários apoiam o seu argumento principal na consideração de que
as penas e dores sofridas nesta vida forçam-nos a repelir a ideia de que seja
necessário repetir semelhantes provas. Fraco raciocínio! Dado que procuramos a
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verdade e que vamos ao seu encontro, não havemos de retroceder perante ela,
ainda que o seu aspecto nos desagrade; mas, em realidade, a reencarnação bem
compreendida é, conforme já dissemos, uma doutrina profundamente consoladora.
Outros perguntam frequentemente por que se temos passado por tantas vidas
anteriores - não nos lembramos de nenhuma? Responderemos em duas palavras,
dizendo que algumas pessoas se recordam, se bem que sejam a minoria, pois a
grande maioria das pessoas de nossa época tem ainda a consciência focalizada num
dos seus veículos ou invólucros inferiores. Não é possível exigir deste veículo que
relembre encarnações anteriores, pois que jamais as teve; e a alma que as teve não
é ainda plenamente consciente no seu plano peculiar. Não obstante, todas as
recordações do passado ficam na alma, e as qualidade que a criança traz ao nascer
são, exatamente, a sua expressão. Mas quando um homem evoluiu o suficiente
para focalizar a sua consciência na alma e não já nos seus veículos inferiores, então
abre-se perante ele, como em livro aberto, a história completa de uma mais vasta e
verdadeira vida.
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CAPÍTULO VI
NOVO CONCEITO DA NATUREZA HUMANA
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CAPÍTULO VII
A MORTE
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CAPÍTULO VIII
O PASSADO E O FUTURO DO HOMEM
Uma vez convencidos de que todos os homens chegaram ao seu atual estado
de evolução mediante a passagem sucessiva por uma longa série de várias vidas
anteriores, acode aos lábios esta pergunta: "Até que ponto nos é possível investigar
o nosso passado?" O problema é notoriamente interessante; e - felizmente - é
possível obter informação certa sobre este ponto, pela tradição, como também por
outra maneira mais segura.
Falta-nos espaço para nos estendermos aqui sobre as maravilhas da
psicometria, e assim diremos tão somente que existem numerosas provas e que não
há fato nem incidente, por mínimo que seja, que não se registre por si mesmo,
imediata e indelevelmente "na memória da Natureza", na qual se pode encontrar,
com exatidão absoluta, a representação verdadeira, completa, fiel, de qualquer
cena ou fato acontecidos desde o princípio do mundo. Todos os estudantes de ocultismo
sabem que é possível ler os anais do passado e muitos sabem, além disso, como os ler.
Esta memória da Natureza deve ser, em essência, a mesma Memória Divina que está
muito além do alcance da nossa mente, porém, que se reflete em planos inferiores, de
modo que, quando a mente humana se exercita nesse trabalho, pode achar nestes planos
os vestígios de todos os acontecimentos que a afetaram. Exemplifiquemos. Tudo quanto
acontece diante de um espelho se reflete na superfície do mesmo e os nossos olhos, cegos,
acreditam que nenhum vestígio deixam aquelas imagens na superfície refletora. Não
obstante, poderia acontecer o contrário, pois não é difícil conceber que as imagens "fiquem
impressas" no espelho, do mesmo modo que os sons impressionam o cilindro de um
fonógrafo, e nada se oporia a que se reproduzissem as imagens por meio de seus vestígios
no espelho, como se reproduzem os sons mediante o seus nos cilindro.
A psicometria superior demonstra, não só que "pode ser assim", mas também "que é
assim"; e que não somente um espelho, mas qualquer objeto físico, conserva os vestígios
exatos de tudo quanto diante dele acontece. Deste modo dispomos de um método rigoroso
e preciso, que nos permite ler a história do mundo e de nossa raça desde o seu começo,
desde os seus primeiros momentos, podendo observar infinidade de fatos,
interessantíssimos, como se os atores de outros tempos repetissem para nos obsequiar, as
cenas que realmente representaram no passado.
As investigações levadas a efeito por tais métodos na pre-história nos permitem
descortinar um dilatado processo evolutivo, lento e gradual, mas incessante. O
desenvolvimento da humanidade está sujeito a duas grandes leis: a de evolução, que
tranquilamente impele o homem para diante e para cima, e o da justiça divina, ou de causa
e efeito, que assegura ao homem, com absoluto rigor, a sanção dos seus menores atos e,
pouco a pouco, ensina-o a conformar-se inteligentemente com a primeira lei.
A terra não é o teatro único deste longo processo evolutivo. Começamo-lo noutros
globos da mesma ordem. Mas o assunto é demasiado vasto e complexo para ser tratado
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numa obra rudimentar.
Em livros mais extensos acham-se informações certas e pormenorizadas acerca do
passado do homem e também a respeito do seu futuro, cuja glória idioma algum seria
capaz de expressar, embora seja possível dar ideia dos primeiros períodos que conduzem a
tão sublimes alturas. A muitas pessoas sérias parecer-lhes-á chocante ou mesmo blasfema
a ideia de que o homem seja divino e que possa atualizar em si mesmo as potências
da Divindade. Não obstante, em parte alguma se vê razão para tal estranheza, pois o
próprio Jesus relembra aos judeus que o rodeiam o texto das Escrituras e lhes diz:
"sois deuses". Além disso, os padres da Igreja sustentam a doutrina da deificação do
homem; em nossa época, porém, foram falseadas ou mal compreendidas doutrinas
que, em outro tempo, eram rigorosamente ortodoxas, e só os estudantes de
ocultismo conhecem a verdade integral.
Alguns perguntam porque, se ao princípio o homem era uma chispa da
Divindade, foi-lhe necessário passar por incalculáveis fases de evolução, que tantas
aflições e sofrimentos entranham, com o simples fim de tornar a Deus e a Ele se unir,
como o estava no princípio. Aqueles que apresentam esta objeção, não
compreenderam ainda, em seu conjunto, o plano evolutivo. O que em princípio
emanou da Divindade não era ainda um homem nem era tão pouco, em rigor, uma
chispa, pois na emanação carecia de individualidade. Era simplesmente como uma
nebulosa de essência divina, embora capaz de concretizar-se eventualmente em
infinidade de chispas.
A diferença entre a condição desta essência divina no instante de sua emanação
e no de sua reintegração é exatamente a mesma que se vê entre a matéria tênue e o
resplendor de uma nebulosa, e o sistema solar dela resultante. Esta é, em verdade,
bela, mas indefinida, e de nenhuma utilidade imediata; porém, os sóis que a sua
pausada evolução acende, difundirão vida, calor e luz sobre grande número de
mundos e seus moradores.
Estabeleceremos outra comparação. O corpo humano se compõe de milhões de
pequeníssimas partículas, das quais muitíssimas são expelidas do organismo a todo
instante. Suponhamos que, por qualquer processo evolutivo, cada uma das referidas
partículas pudesse, com o tempo, converter-se por sua vez num ser humano.
Diríamos, porventura, que essas partículas não haviam tirado proveito algum desta
evolução, se bem que, de certo modo, fossem humanas desde o princípio? Pois bem:
a essência divina emana pristinamente em estado de forca pura e é restituída à sua
origem em forma de milhares de poderosos Adeptos, capazes, cada um deles, de se
desenvolverem, ulteriormente, num Logos.
Assim temos direito de proclamar a ilimitada glória e esplendor do futuro do
homem, relembrando, como ponto importantíssimo, que a todos, sem exceção, nos
espera tão brilhante porvir. O homem a quem chamamos bom, aquele que se
conforma com a Vontade Divina e cujas ações cooperam para a marcha da evolução,
progride rapidamente na vereda que conduz ao feliz termo. O homem que, ao
contrário, retarda obcecadamente o majestoso curso da evolução, obstinando-se em
almejar e procurar satisfações egoístas, em vez de cooperar para o bem geral,
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progredirá lenta e irregularmente. Porém, a Divina Vontade é infinitamente mais
poderosa do que os "quereres" humanos, e portanto, realiza perfeitamente o seu
vasto plano. Quem não aprender a lição no primeiro dia, terá de voltar e tornar a
voltar um e outro dia à escola, até que, por fim, aprenda e saiba. A paciência de Deus
é infinita, e tarde ou cedo cada ser humano atinge o fim assinalado. Para os que
conhecem a Lei e a Vontade, não há incerteza nem temor. A paz absoluta é o seu
tesouro.
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CAPÍTULO IX
CAUSA E EFEITO
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CAPÍTULO X
BENEFÍCIOS DA TEOSOFIA
FIM
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