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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
I. Introdução
Durante o rito litúrgico do sacramento da eucaristia, logo nos ritos iniciais, todos
somos convidados à participarmos da celebração dos “santos mistérios”. Nesse contexto,
a SC ensina que “Os sacramentos estão ordenados à santificação dos homens, à
edificação do Corpo de Cristo e, enfim, a prestar culto a Deus; como sinais, têm também
a função de instruir. Não só supõem a fé, mas também a alimentam, fortificam e exprimem
por meio de palavras e coisas, razão pela qual se chamam sacramentos da fé. Conferem
a graça, a cuja frutuosa recepção a celebração dos mesmos òptimamente dispõe os fiéis,
bem como a honrar a Deus do modo devido e a praticar a caridade. Por este motivo,
interessa muito que os fiéis compreendam facilmente os sinais sacramentais e recebam
com a maior frequência possível os sacramentos que foram instituídos para alimentar a
vida cristã” (SC 59). Ora, na liturgia cristã, Deus se faz presença na história humana de
uma maneira inaudita, nunca antes vista ou experimentada, pois ela é a história da
salvação em exercício, de tal modo que os fatos passados são feitos de novo presentes
para a nossa participação. Essa presença ritual de Cristo é manifestada no sacramento da
eucaristia, nos sacramentos em geral, palavra bíblica proclamada e na oração comunitária.
Mas, qual o significado destes conceitos e a sua relação com os sacramentos da
Igreja como hoje os conhecemos? O termo mistério (do grego “mysterion”) deriva do
verbo “myein”, cujo significado era “calar”, “silenciar”. Já no âmbito dos cultos
mistéricos do Imprério Romano, os iniciados aperfeiçoavam-se pela aquisição de uma
sabedoria oculta. Nesse contexto, as características cúlticas e o acesso ao conhecimento
das divindades restringiam-se aos poucos indivíduos considerados “iluminados”. Com
São Paulo essa mentalidade ganha um novo significado. Agora, há a compreensão de que
a ação salvífica de Deus foi progressivamente anunciada aos homens, sem
particularizações e exclusões e com objetivos universalistas. Essa ideia é expressada na
teologia paulina também com o emprego do conceito de “mistério”. Nesse novo contexto,
o termo MISTÉRIO é interpretado como o plano salvífico de Deus, revelado
progressivamente na história humana e manifestado plenamente na pessoa de Cristo.
Essas características são evidenciadas nos seguintes textos: 1 Cor 2,7; Ef 3,3-5.10; Cl
1,27; Ef 1,9. Nestas passagens, São Paulo corrobora a tese da livre iniciativa divina em
revelar seu plano de salvação e a universalização da fé, através da história e, na
plenitude dos tempos, por meio de Cristo, sua máxima manifestação.
Nos Padres da Igreja, o conceito de Mistério continua em pleno uso, mas adquire
outros novos significados. Agora, seu emprego refere-se aos feitos salvíficos da Redenção
Cristã, às pessoas, às coisas e aos acontecimentos do AT, considerados figuras de Cristo
e de sua obra (leitura tipológica da Escritura), mas também às verdades da fé cristã e,
particularmente, aos ritos sagrados do cristianismo. Assim, nos primeiros séculos do
cristianismo o termo mistério era usado para designar: a) a plano salvífico concebido por
Deus desde toda eternidade; b) a ação salvífica de Cristo, que começou a revelar este
plano; c) a celebração dessa obra salvífica no culto sagrado; d) os símbolos do AT que
prefiguravam o Cristo Salvador; e) as verdades da fé ligadas a essa ação salvífica do
Senhor. Quando, na Idade Média, operou-se a passagem do termo mysterion, originado
no grego para o emprego do termo latino sacramentum (que remonta originalmente aos
ritos de consagração consolidados por meio de juramentos) os significados deles, no
âmbito da liturgia, ficam, individualmente, mais precisos. Agora, sacramentum passa a
significar os sete ritos sagrados, ao passo que mysterion é utilizado com referência às
ações salvíficas de Cristo e às grandes verdades da fé. Essa mentalidade perdurou até o
advento do Concílio Vaticano II.
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
“O Pai, por Cristo e no Espírito, santifica a Igreja e, por ela, o mundo; mundo
e Igreja por sua vez, por Cristo e no Espírito, dão glória ao Pai” (Puebla 917). Sim, o
mundo carrega em si uma mensagem. Esta mensagem está escrita em todas as coisas que
formam o mundo e o homem, que é muito mais que mero manipulador do mundo, é o ser
capaz de ler essa mensagem do mundo: no efêmero, pode ler o Permanente; no temporal,
o Eterno; no mundo, Deus. Então, o efêmero se transfigura em sinal da presença do
Permanente; o temporal em símbolo da realidade do Eterno; o mundo em grande
sacramento de Deus.
“Por isso, não basta recebê-los de forma passiva, mas sim inserindo-nos
vitalmente na comunhão eclesial. Pelos sacramentos Cristo continua, mediante a ação
da Igreja, a encontrar-se com os homens e salvá-los. A celebração eucarística, centro
da sacramentalidade da Igreja e presença mais plena de Cristo no meio da
humanidade, é o centro e ponto culminante de toda a vida sacramental” (Puebla 923).
Convém, entretanto observar que o Batismo, a Crisma, a Eucaristia, a Penitência, a
Unçãos dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio não absorvem toda essa riqueza
sacramental. O mesmo deve ser afirmado em relação a manifestação da Graça Divina.
Esta não se amarra, de modo exclusivo, aos sete sacramentos, uma vez que, de certa
forma, tudo pode ser veículo de sua manifestação.
Ora, o cristianismo tem uma pré-história. A este respeito, por exemplo, o Concílio
Vaticano II considera que a Igreja foi “prefigurada já desde o princípio do mundo e
admiràvelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança” (LG 2)
e, portanto, não surge de “improviso” na história. Nesse sentido, assim como é importante
recorrer aos antecedentes do cristianismo para a sua maior compreensão, faz parte do
processo de aprofundamento dos nossos sacramentos, o igual conhecimento dos daqueles
que não são cristãos e que constituem sua pré história. Neste aspecto, este nosso estudo
introdutório sobre estes sinais reveladores de uma realidade sagrada se desenvolverá da
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a) O ser humano: as primeiras páginas da Escritura afirmam que o ser humano foi
criado “à imagem e semelhança de Deus” (cf. Gn 1, 26). É, pois um, sinal e deve,
portanto, representar Deus no mundo. Com efeito, é aquele ao qual são concedidos
os mesmo atributos divinos: a imortalidade, a santidade, a espiritualidade, o
domínio sobre o mundo. Ele deve fazer no mundo aquilo que Deus faz, de tal
modo que as intervenções divinas sejam repercutidas na história. A razão
fundamental porque o ser humano não pode ser morto reside nesta sua
constituição essencial (cf. Gn 9,6).
A Tenda: segundo o texto bíblico, é Deus mesmo quem dá a ordem de que se faça
um santuário para que ele habite no meio do povo (cf. Ex 25,8) e assim nasce o
tabernáculo-tenda, que será chamada “tenda do encontro ou da reunião” (cf. Ex
29,43-45; 33, 7.39.40; 40,2.3.7) e servirá de sinal perene da aliança, uma vez que
manifesta a prontidão de Deus em caminhar com seu povo;
c) Os “sinais” de Cristo:
Obras de Cristo: Jo 5,20.36; 6,29; 7,3.21; 9,3ss; 10, 25.32.37ss; 14,10ss; 17,4;
Obras do Pai, ou juntas, suas e do Pai: Jo 4,34; 5,36; 9,3ss; 10,32; 14,10; 17,4.
1) Os sacramentos da nova Lei foram instituídos por Cristo e são em número de sete, a
saber: o Batismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a
Ordem e o Matrimônio (CIC 1210).
V. Os sete sacramentos
Pela Eucaristia, a Igreja é constituída corpo de Cristo, ou seja, Crfisto vivo nos
seres humanos, os quais nele e para ele rendem a Deus o próprio culto espiritual
perfeito na aceitação de sua vontade.
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Concílio de Trento, Sessão VII, Decretum De Sacramentis, Cân 4; DS 1604
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A Unção dos Enfermos é o sacramento que nos põe em contato com Cristo, que
aceita o sofrimento e a morte em expiação do pecado. O momento da morte ou do
sofrimento, pelo qual todos passaremos, se torna para o cristão não uma pena, ou
castigo, mas uma verdadeira expiação do pecado. É o sacramento do ingresso no
sofrimento de Cristo, de união à morte de Cristo, a fim de que o nosso sofrimento
e a nossa morte, inseridos no sofrimento e na morte de Cristo, se tornem elementos
da redenção do nosso corpo mortal e de santificação para toda a Igreja.
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A ordem em que os nomeamos – Batismo, Confirmação e Eucaristia – é a ordem original dos sacramentos.
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RICA, nº 2
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1. O Batismo
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RICA, nº 1
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RICA, nº 4
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RICA, nº 6
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RICA, nº 7
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Ver, por exemplo: a) Na Tradição bíblica: Lv 11,44; 19,2; 21,8; Is 1,15-16; Ez 36,23-27; b) Na Tradição
Rabínica: Mc 7,1-5; Mt 15,1-2;
9
Sobre o batismo de prosélitos: Zc 12,48; 20,10; Lv 17,8-15; 24,16-22;Nm 15,15)
10
A Didaqué (Διδαχń) é um documento antiquíssimo, que remonta à primeiríssima geração da Igreja. É
anterior a alguns livros da própria Bíblia Sagrada, tendo sido escrito provavelmente antes do Evangelho de
S. João, do Apocalipse e de algumas das epístolas. "Didaqué" é uma palavra grega que significa "instrução"
ou "doutrina", e a obra era conhecida como "A Instrução dos Doze Apóstolos", – o que lembra muito o que
diz o livro de Atos (2,42) sobre "o ensinamento dos Apóstolos" e constitui um verdadeiro catecismo dos
primeiros cristãos.
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podendo ser por imersão na água parada ou corrente, por infusão 11, ou por aspersão12.
Todavia, pelo paralelismo entre o nosso Batismo e a sepultura/ressurreição de Cristo, a
imersão é certamente a forma considerada normal por Paulo (Rm 6,3-4; Cl 2,12) e sua
manutenção, atestada na tradição litúrgica da Igreja, perdurou até os séc. XIV-XV,
quando iniciou-se a emancipação do rito por infusão. Os novos ritos batismais, originados
a partir da reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II, preveem tanto o rito de
imersão quanto o de infusão. Já a fórmula batismal, prevista em Mt 28,19, aparece nos
documentos mais antigos e compreendeu, desde o início, a menção à Trindade, conforme
os testemunhos da Didaqué13 (séc I), de Tertuliano14 (séc II), de Hipólito15 (séc III) e de
Santo Ambrósio16 (séc IV), por exemplo.
2. A Confirmação
11
“No que diz respeito ao batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente.
Se não tens água corrente, batiza em outra água; se não puderes em água fria, faze-o em água quente. Na
falta de uma e outra, derrama três vezes água sobre a cabeça em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo.” (Did VII)
12
São Cipriano de Cartago (Epístola 69) se declara favorável pelo menos no caso de doença ou epidemia.
Agostinho (De baptismo contra Donatistas) segue essa recomendação e Santo Tomás de Aquino também
admite essa possibilidade.
13
Idem 6.
14
“Foi imposta a lei e dada a forma quando foi dito: “Ide e batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo”. Para tornar confiante a nossa esperança, basta a enumeração dos nomes divinos (...), porque sob
o tríplice nome é colocada a afirmação da fé e é garantida a promessa da salvação” (De baptismo 13)
15
“Quando o que é batizado tiver descido na água, aquele que batiza lhe dirá, impondo-lhe a mão: “Crês
em Deus Pai Todo-poderoso?” e aquele que é batizado dirá, por sua vez: “Creio”. E então (aquele que
batiza), tendo a mão posta sobre sua cabeça, o batizará uma vez. E depois dirá: “Crês em Jesus Cristo,
Filho de Deus, que nasceu do Espírito Santo da Virgem Maria, foi crucificado sob Pôncio Pilatos, morreu
e ressuscitou ao terceiro dia vivo dentre os mortos, subiu aos céus e está sentado à direita do Pai; que virá
julgar os vivos e os mortos?” e quando (o que é batizado) tiver dito: “Creio”, será batizado pela segunda
vez. Novamente (o que batiza) dirá: “Crês no Espírito Santo, na Santa Igreja?” O que é batizado dirá:
“Creio”, e assim será batizado pela terceira vez” (Tradição Apostólica 21)
16
“Foste interrogado: crês em Deus Pai onipotente? Respondeste: Creio. E foste imerso, isto é foste
sepultado. De novo foste interrogado: crês em nosso Senhor Jesus Cristo e na sua cruz? Disseste: Creio.
E foste imerso, isto é, foste sepultado com Cristo. Pela terceira vez foste interrogado: crês no Espírito
Santo? Disseste: Creio. E, pela terceira vez, foste imerso” (De sacramentis 2)
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cristã”17. Apesar de inserir-se como elemento central na iniciação cristã e, por isso
mesmo, participar de toda a importância e de todo o significado que ela tem na edificação
do novo ser humano em Cristo, o sacramento da Confirmação enfrentou dificuldades para
afirmar o seu valor no interior da Igreja no plano da práxis litúrgico-pastoral e no plano
da teologia devido à toda problemática que envolve a história de seu rito. De fato, mesmo
que a instituição do sacramento possua o status de uma definição dogmática, não se pode
negar que nem sempre houve unanimidade a este respeito. Nesse sentido, podemos citar
os seguintes exemplos:
“Se os confirmandos são crianças que ainda não receberam a Eucaristia, nem vão
ser admitidas à Primeira Comunhão nessa ação litúrgica, ou se circunstâncias
especiais a aconselharem, a Confirmação será conferida fora da missa. Todas as
vezes que a Confirmação for administrada fora da missa será precedida de uma
celebração da Palavra de Deus” (RC 13);
O sacramento da Confirmação é conferido por meio da unção do crisma sobre a
fronte, unção que se faz com a imposição da mão, acompanhada das palavras:
recebe o sinal (marca) do dom do Espírito Santo;
A imposição das mãos feita pelo bispo, acompanhada pela oração de invocação,
não pertence à validade do sacramento, mas deve ser realizada em vista da
integridade do rito e para dar uma maior compreensão sobre o sacramento;
17
PONTIFICAL ROMANO renovado por decreto do Concílio Vaticano II e promulgado pelo Papa Paulo
VI. Ritual da Confirmação. São Paulo, Paulus, 1998. Doravante esse documento será citado com a sigla
RC.
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Este conjunto ritual tem um duplo significado: a imposição das mãos antes da
crismação reproduz o gesto bíblico com o qual se invoca o Espírito Santo, ao passo
que a unção com o crisma e as palavras que a ele se referem exprimem o efeito do
dom do Espírito Santo; ou seja: o batizado, marcado pela mão do bispo, recebe o
caráter indelével e o dom do Espírito.
Nos três primeiros séculos da Igreja, o Rito da Confirmação era tão unido às
cerimônias conclusivas do Batismo que se torna uma tarefa exigente sua distinção como
um outro sacramento. De qualquer forma, justamente porque toda a antiga tradição
patrística atribui a estes ritos pós-batismais a prerrogativa da oferta do dom sacramental
do Espírito Santo aos neófitos é que eles podem ser considerados como a forma primitiva
daquilo que atualmente é chamado de sacramento da Confirmação. No Ocidente, onde o
ministro é o bispo, a crismação ou unção e a imposição das mãos, embora em ordem e
em modos diferentes, podem ser encontrados em todas as liturgias latinas desde as
origens; já nas liturgias orientais, cujo ministro é o presbítero, em geral, aparecem como
seu rito de Confirmação só a crismação (liturgia bizantina, armênia ortodoxa e siro-
antioquena), só a imposição das mãos (liturgia caldeia-nestoriana), ou a crismação e a
imposição das mãos (liturgia copta e etíope).
“Depois de subir da água, será ungido com o óleo santificado pelo presbítero,
que dirá: "Unjo-te com o óleo santo em nome de Jesus Cristo". Após isto, cada
um se enxugará e se vestirá, entrando, a seguir, na igreja. Impondo as mãos sobre
eles, o bispo fará a invocação, dizendo: "Senhor Deus, que os tornaste dignos de
merecer a remissão dos pecados pelo banho da regeneração, torna-os dignos de
ser repletos do Espírito Santo; lança sobre eles a tua graça para que te sirvam
conforme a tua vontade, pois a ti são a glória, ao Pai, ao Filho e com o Espírito
Santo na Santa Igreja, pelos séculos dos séculos. Amém".
Após isto, derramará o óleo santo nas mãos e dirá, colocando as mãos sobre a
sua cabeça: "Eu te unjo com o óleo santo, no Senhor Pai todo-poderoso e em
Jesus Cristo e no Espírito Santo". Marcando-o na fronte com o sinal da cruz,
oferecer-lhe-á o ósculo, dizendo: "O Senhor esteja contigo". O que foi marcado
responderá: "E com o teu Espírito". Assim deve proceder com cada um. Em
seguida, rezarão com todo o povo, não podendo rezar com os fiéis enquanto não
atingirem tudo isso. Após a oração, oferecerão o ósculo da paz.”18
1. Que o rito de séc. III foi conservado praticamente idêntico em seus elementos até
os nossos dias. De fato, a primeira das duas unções às quais aqui se faz referência
foi conservada como “unção pós-batismal”, como pode ser verificado no nº 224
do RICA. A segunda “unção”, acompanhada da imposição das mãos e da oração
18
HIPÓLITO, Tradição apostólica 21. Ed Bras: Tradição Apostólica. Petrópolis. Vozes, 1981
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5. No entanto, dado que o rito também comporta uma “imposição das mãos” sobre
os candidatos, a ser realizada antes da crismação, declara-se que esta deve ser
mantida porque contribui para a integridade do sacramento e porque lhe dá uma
maior compreensão.
Santo Tomás de Aquino, por exemplo, considera que “Cristo instituiu esse
sacramento não o conferindo, mas prometendo-o”, segundo o testemunho de Jo 16,7:
‘se eu não for, não virá a vós o Consolador; mas se eu for, o enviarei a vós’. Com efeito,
nesse sacramento se dá a plenitude do Espírito Santo, que não devia ser dado antes da
ressurreição e ascenção de Cristo, segundo Jo 7,39: ‘o Espírito não tinha ainda sido dado
porque Jesus não tinha ainda sido glorificado’19; e o Concílio de Trento, por sua vez,
define que “todos os sacramentos foram instituídos por Cristo”. A Constituição
Apostólica de Paulo VI, limita-se a dizer que a tradição católica reconheceu, naquele
gesto da imposição das mãos, a origem do Sacramento da Confirmação, que perpetua de
algum modo na Igreja, desde os tempos apostólicos, a graça de Pentecostes (RC 11).
1. No Magistério
19
Summa Theol. III, 72, 1
20
Um aspecto interessante, é que comumente essas fontes (cf. Cipriano, Jerônimo, Inocêncio I) citam o
texto de At 8,4-17 para justificar a práxis litúrgica do Sacramento da Confirmação, como um rito distinto
do Batismo.
21
LG 11
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b) Ad Gentes – “todos os cristãos [...] devem manifestar com sua vida [...] a
virtude do Espírito Santo, pelo qual foram revigorados na Confirmação”22
c) Divinae Consortium Naturae – “aqueles que foram regenerados no Batismo
recebem como dom inefável o próprio Espírirto Santo, pelo qual são dotados
de uma força especial (LG 11) e, marcados com o caráter do mesmo
sacramento, são agregados mais perfeitamente à Igreja” (LG 11).
d) Ritual da Confirmação – a Confirmação é o rito com o qual se “confere” e
se “comunica” o Espírito Santo23;
2. Na Liturgia
3. Na Teologia
22
AG 11
23
RC 10 e 12
24
Homilia de Pentecostes (cf. texto em PL 7, 1119)
25
RABANO MAURO, De cleric. Instit. 30; PL 107,314
26
ST III, 72; 72, 1, a2
27
RC 10
28
Salvatore, Marsili. Sinais do Mistério de Cristo. 1ª Ed. São Paulo: Paulinas, 2009.
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Ele é o princípio vital infundido no ser humano para permitir-lhe falar com Deus,
fazê-lo um ser vivo na santidade e torná-lo semelhante a Deus, (Gn 2,7);
Com o pecado, o homem é reduzido ser “carne”(Gn 6,3);
Guia e sustento do povo, é infundido sobre suas cabeça (Jz 3,9-10,12.15; Nm
11,17.25.26.29; 1Sm 16,13-14), fala pelos profetas (1Rs 18,12; 2Rs 2,16; Ez 2,2;
3,12-14);
O AT conhece uma promessa de Deus, que anuncia uma efusão de seu Espírito.
humano, isto é, a vida que já lhe infundira na criação e que novamente lhe
comunica no Mistério de Cristo, nova criação.
O Pentecostes e a realização do Mistério Pascal: Pentecostes celebrava, 50 dias
depois da Páscoa (Êxodo do Egito), a constituição de Israel como “povo
sacerdotal de Deus” (Shavuot: Festa das Semanas - Dt 16,16). Por isso mesmo,
ao realizar o dom do Espírito Santo, foi interpretado como o momento no qual
Deus passa a ter o seu novo povo no discípulos de Cristo.
A Confirmação e o dom da pessoa do Espírito Santo: os padres da Igreja já
afirmavam que a ação do Espírito no Batismo difere do dom do Espírito que
ocorre na Confirmação. Interpretando a obra redentora de Cristo como um
suceder-se de fatos conexos entre si, eles ensinam que o Batismo, unindo-nos a
Cristo, imagem do Pai, nos reforma à imagem de Deus, ao passo que a
Confirmação é acrescentada como elemento perfectivo e comunica ao ser humano
renascido como filho de Deus o seu Espírito, para que seja participação na sua
vida divina. Nesse sentido, “o Crisma depois da oração de invocação é um dom
de Cristo, dom efetivo do Espírito Santo pela presença de sua própria divindade”
(Cirilo de Jerusalém, bispo – séc. IV)
3. A Eucaristia
A Missa entrou no mundo, foi instituída, com a Última Ceia de Cristo, quando
ele, “na noite da traição, tomou o pão nas suas santas e veneráveis mãos e, levantando
os olhos para o céu, deu graças, abençoou-o, partiu-o e o deu aos seus discípulos: ‘tomai
e comei todos vós, porque este é o meu corpo’. A seguir, depois de ter ceado, tomou nas
suas santas e veneréveis mãos também este maravilhoso cálice e, depois, de ter dado
graças, abençoou-o e o deu aos seus discípulos dizendo: ‘tomai e bebei todos vós, porque
este é o cálice do meu sangue, (que é sangue) da nova e eterna Aliança – mistério da fé
– que é derramado por vós e por todos, para a remissão dos pecados. Toda vez que
fizerdes isso, o fareis em memória de mim’”.
Nas comunidades de cristãos gentios, passou muito cedo a ser acompanhada por
um ritual de leituras, sermões e orações;
Já era considerado um rito religioso próprio, que distinguia os primeiros cristãos
(em sua grande maioria oriundos do judaísmo) do restante dos judeus;
Nos dá indícios de uma primeira celebração pascal, realizada em âmbito familiar
(At 2,46; 20,7), no qual, como sabemos por São Paulo, se "partia o pão" e se
"abençoava o vinho" (1 Cor 10,16; 11,23);
Sua periodicidade era, muito provavelmente, semanal, sendo realizada aos
domingos, conforme nos indicam os textos de At 20,7 e da Did XIV;
Ocorria durante uma "eucaristia" (1 Cor 11,24; MT 26,27; Mc 14,20; Lc 22,19.19;
At 27,35), isto é, numa oração de agradecimento a Deus pela revelação de seu
amor aos homens (criação-redenção) e, embora essa fórmula de agradecimento
derivasse do uso judaico cotidiano (berakah), os cristãos dele se serviam -
incluindo na mesma a narração da última ceia e as palavras de Cristo - não nas
suas refeições rotineiras, mas unicamente na refeição ritual;
Seu sentido ritual apresentava-se, já desde a era apostólica, da seguinte forma:
1. Memorial: o rito cria uma presença salvífica do Senhor (Lc 24,1-35; Jo 20,20
e 24,29); a ceia do Senhor e a proclamação e a memória da morte do Senhor, que
se tornou presente no rito. Na fração do pão se dá a presença da Paixão, Morte e
Ressurreição de Jesus Cristo;
2. Sacrifical: já a Didaqué (escrito que data de fins do séc. I de nossa era e,
portanto, bem próximo do Novo Testamento) vai ensinar que os fiéis “reúnam-se
no dia do Senhor para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os
pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro” (Did XIV).;
3. Eclesial: é das palavras do Apóstolo Paulo que vai emergir a eclesialidade deste
rito; “embora muitos, somos um só corpo, pois todos participamos deste único
pão”(1Cor 10,17).
Capítulo IX
2 Primeiro sobre o Cálice, dizendo: Nós vos bendizemos (agradecemos), nosso Pai, pela
santa vinha de Davi, vosso servo, que vós nos revelastes por Jesus, vosso Servo; a Vós, a
Glória pelos séculos! Amém.
3 Sobre o Pão a ser quebrado: Nós vos bendizemos (agradecemos), nosso Pai, pela Vida e
pelo Conhecimento que nos revelastes por Jesus, vosso Servo; a Vós, a Glória pelos séculos!
Amém.
4 Da mesma maneira como este Pão quebrado primeiro fora semeado sobre as colinas e
depois recolhido para tornar-se um, assim das extremidades da Terra seja unida a Vós vossa
Igreja em vosso Reino; pois vossa é a Glória e o Poder pelos séculos! Amém.
5 Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em Nome do Senhor.
Pois a respeito dela disse o Senhor: "Não deis as coisas santas aos cães!".
Capítulo X
2 Nós vos bendizemos (agradecemos), Pai Santo, por vosso Santo Nome, que fizestes habitar
em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelastes por Jesus,
vosso Servo; a Vós, a Glória pelos séculos. Amém.
3 Vós, Senhor Todo-poderoso, criastes todas as coisas para a Glória de Vosso nome e, para
o gozo deste alimento e a bebida aos filhos dos homens, a fim de que eles vos bendigam; mas
a nós deste uma Comida e uma Bebida espirituais para a vida eterna por Jesus, vosso Servo.
4 Por tudo vos agradecemos, pois sois poderoso; a Vós, a Glória pelos séculos. Amém.
5 Lembrai-vos, Senhor, de vossa Igreja, para livrá-la de todo o mal e aperfeiçoá-la no vosso
Amor; reuni esta Igreja santificada dos quatro ventos no vosso Reino que lhe preparaste, pois
vosso é o Poder e a Glória pelos séculos. Amém.
6 Venha vossa Graça e passe este mundo! Amém. Hosana à Casa de Davi [Cf Mt 21,15].
Venha aquele que é santo! Aquele que não é (santo) faça penitência: Maranatá! [Cf 1Cor
16,22; Ap 22,20] Amém.
Capítulo XIV
2 Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós antes de se ter se
reconciliado, a fim de que vosso Sacrifício não seja profanado [Cf Mt 5,23-25].
3 Com efeito, deste Sacrifício disse o Senhor: "Em todo o lugar e em todo o tempo se me
oferece um Sacrifício puro, porque sou o Grande Rei – diz o Senhor – e o meu Nome é
admirável entre todos os povos" [Cf Mal 1,11-14].
Apologia I, 65:
“No dia 'do Sol', como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das
cidades, quer dos campos. Lêem-se, na medida em que o tempo o permite, ora os comentários
dos Apóstolos, ora os escritos dos Profetas. Depois, quando o leitor terminou, o que preside
toma a palavra para aconselhar e exortar à imitação de tão sublimes ensinamentos. Nós,
depois de havermos batizados ao que creu e se uniu a nós, o conduzimos aos chamados
irmãos, ali onde estão reunidos, para rezar fervorosamente as orações comuns por nós
mesmos, pelo que acaba de ser iluminado e por todos os outros espalhados pelo mundo...
Acabadas as preces, saudamo-nos mutuamente com o ósculo da paz. Em seguida, ao que
preside entre os irmãos são apresentados pão e uma taça de água e de vinho. Quando o
presidente os recebe, louva e glorifica ao Pai do universo pelo nome do seu Filho e pelo
Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de graças, por haver-nos concedido esses dons,
que d’Ele nos vem. E quando o presidente conclui as orações e a ação de graças, todo o povo
presente aclama, dizendo: “Amém”. “Amém” seignifica, em Hebraico, “assim seja”. E uma
vez que o presidente deu grças e todo o povo aclamou, os que entre nós se chamam diáconos
distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água 'eucaristizados' e levam (também)
aos ausentes“.
Liturgia II: Sacramentos
20
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
“Este alimento se chama entre nós Eucaristia; da qual a ninguém é lícito participar , senão
ao que crê que nossa doutrina é verdadeira , e que foi purificado com o banho que concede
o perdão dos pecados e a regeneração, e que vive como Cristo ensinou. Porque essas coisas
não as tomamos como um pão comum ou bebida ordinária, mas que assim como Jesus Cristo,
nosso Salvador, feito carne por virtude do Verbo de Deus, teve carne e sangue pela nossa
salvação, assim ensinou-nos que, por virtude da oração ao Verbo que Deus procede, o
alimento sobre o qual foi dita a ação de graças – alimento do qual, por transformação, se
nutrem nosso sangue e nossa carne – é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado.
Pois os apóstolos, nas recordações por eles compostas, chamadas Evangelhos, nos
transmitiram que assim lhes havia sido mandado, quando Jesus, tendo tomado o pão e dado
graças, disse: “Fazei isto em memória de mim; isto é o meu corpo” (Lc 22,19; 1Cor 11,24),
e que, tendo do mesmo modo tomado o cálice e dado graças, disse: “Isto é o meu sangue”
(Mt 26,27); e que só a eles lhes deu parte”
“Cristo tomou o pão, que é algo da criação, e deu graças, dizendo: “Isto é o meu corpo”. E,
da mesma maneira, afirmou que o cálice, que é desta nossa criação terrena, era seu sangue.
E ensinou a nova oblação do Novo Testamento, a qual, recebendo-a dos Apóstolos, a Igreja
oferece em todo o mundo a Deus.”
Traditio Apostolica, 4
“Os diáconos ofereçam (ao bispo ordenado) a oblação, e ele, impondo as mãos sobre ela
com todos os Presbíteros, dando graças, diga: “O Senhor esteja convosco”. E todos digam:
“E com o teu espírito”. “Corações ao alto”. “Já o temos elevado ao Senhor”. “Demos graças
ao Senhor”. “Isto é digno e justo”. E continue assim: “Nós te damos graças, ó Deus, por
meio do teu amado Filho Jesus Cristo, que nos enviastes nos últimos tempos como salvador
e redentor nosso, e como anunciador de tua vontade. Ele é teu Verbo inseparável, por quem
fizestes todas as coisas e no qual te comprouveste. Tu o enviaste do céu ao seio de uma virgem
e, tendo sido concebido, se encarnou e se mostrou como teu Filho, nascido do espírito Santo
e da Virgem. Ele, cumprindo a tua vontade e conquistando para ti um povo santo, estendeu
seus braços, padecendo para livrar do sofrimento os que creram em ti. Tendo se entregado
voluntariamente a paixão para destruir a morte, romper as cadeias do Demônio, humilhar o
inferno, iluminar os justos e manifestar a ressurreição, mostrando o pão e dando-te graças,
disse: “Tomai, comei. Isto é o meu corpo, que será dado por vós.” Do mesmo modo, tomou
o cálice, dizendo: “Isto é o meu sangue, derramado por vós. Quando fazeis isto, fazei-o em
minha memória”. Recordando, pois, sua morte e ressurreição, nós te oferecemos este pão e
este cálice, dando-te graças porque nos tornastes dignos de estar em tua presença e de servir-
te como sacerdotes. E (agora) te pedimos que envies o teu Espírito Santo sobre a oferta da
santa Igreja, congregando na unidade todos os santos que desta (oferta) participam, para
que sejam cheios do Espírirto Santo para poder confirmar a fé na verdade, e assim possamos
te louvar e glorificar por meio do teu Filho Jesus Cristo, o qual é glória e honra a ti, Pai e
Filho com o Espírito Santo, na tua santa Igreja, agora e nos séculos dos século. Amém!”
Traditio Apostolica, 21
“Todas estas coisas o bispos as explicará aos que recebem (pela primeira vez) a comunhão.
Quando parte o pão, ao apresentar cada pedaço, dirá: ‘o pão do céu em Cristo Jesus’. E o
que recebe responderá: ‘Amém’. Se não há presbiteros suficientes para oferecer os cálices,
intervenham os diáconos, atentos a observar perfeitamente a ordem; o primeiro segure o
cálice da água; o segundo, o do leite, e o terceiro o do vinho. Os comungantes tomem de cada
um dos cálices.”
Liturgia II: Sacramentos
21
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Traditio Apostolica, 22
Traditio Apostolica, 37
“Todos os tenham o cuidado de tomar a Eucaristia antes que comam qualquer outro
alimento...E cuide-se que não a tome um infiel, nem um rato nem outro animal, e de que
ninguém a profane, nem a derrame, nem a perca. Sendo o corpo de Cristo, que será
comido pelos fiéis, não deve ser menosprezado.”
Traditio Apostolica, 38
“Também no cálice bendito no Nome do Senhor se recebe como sangue de Cristo. Por
isso, nada deve ser derramado...se tu o menosprezas, serás tão reponsável do sangue
derramado como aquele que não valoriza o preço pelo qual foi adquirido.”
“Conheceis vós, os que costumais assistir aos divinos mistérios, como quando recebeis o
corpo do Senhor, o guardais com toda cautela e veneração, para que não se percanem um
pouco dele, nem desapareça algo do dom consagrado. Pois seríeis réus, se se perdesse algo
dele por negligência. E se empregais, com razão, tanata cautela para conservar seu Corpo,
como julgais coisa menos ímpia ter descuidado sua Palavra que seu Corpo?
Carta 63, 14
“Se Cristo Jesus, Senhor e nosso Deus, é sumo sacerdote de Deus Pai, e o primeiro que se
ofereceu em sacrifício ao Pai, e presecreveu que se fizesse isto em memória de Si, não há
dúvida que cumpre o ofício de Cristo aquele sacerdote que reproduz o que Cristo fez, e então
oferece na Igreja a Deus Pai o sacrifício verdadeiro e pleno, quando ofereceu aquilo que
Cristo mesmo ofereceu”
Carta 63, 14
“E já que fazemos menção de sua paixão em todos os sacrifícios, pois a paixão do Senhor é
o sacrifício que oferecemos, não devemos fazer outra coisa senão o que Ele fez”
Carta 57,3
De oratione dominica 4
“Quando nos reunimos com os irmãos e celebramos os divinos sacrifícios com o sacerdote
de Deus, não proferimos nossas orações com palavras descompassadas, nem lançamos em
torrentes de palavreados a petição que devemos confiar a Deus com toda modéstia.”
Carta 5,2
“A comunhão é a melhor preparação para o martírio, e por isso deve ser levada aos
confessores que no cárcere se dispõem a confessar a sua fé”
Carta 58,1
“Aproxima-se uma luta mais feroz e dura, para a qual se devem preparar os soldados de
Cristo com uma fé incorrupta e uma virtude fortíssima, considerando que para isso bebam
todos os dias o cálice do sangue de Cristo, para poderem derramar, eles mesmos, o sangue
por Cristo”
“Não devem ser recebidos (na Eucaristia) os que não estão reconciliados e em paz com a
Igreja, nem fizeram penitência, nem receberam a imposição das mãos do bispo ou do clero”
“Nós ensinamos que, em vez dos antigos sacrifícios e holocaustos, foi oferecida a Deus a
vinda na carne de Cristo e o corpo a Ele adequado. E esta é a boa nova que se anuncia a sua
Igreja, como um grande mistério. Nós temos recebido o mandato de celebrar na mesa
(eucarística) a memória deste sacrifício por meio dos símbolos do seu corpo e do seu sangue
salvador, segundo a instituição do Novo Testamento. E assim todas estas coisas preditas por
inspiração divina desde os tempos antigos, celebram-se atualmente em todas as nações,
graças aos ensinamentos evangélicos de nosso Salvador...Sacrificamos, por conseguinte, ao
Deus supremo um sacrifício de louvor; sacrificamos um sacrifício inspirado por Deus,
venberado e sagrado; sacrificamos de um modo novo, segundo o Novo Testamento, o
“sacrifício puro”
Demonst. Evang. 1, 10
“Por conseguinte, não só sacrificamos, mas também queimamos incenso. Umas vezes,
celebrando a memória do grande sacrifício, segundo os mistérios que nos foram confiados
por Ele, e oferecendo a Deus, por meio de piedosos hinos e orações, a ação de graças
(Eucaristia) pela nossa salvação; outras vezes, submetendo-nos por completo a Ele e
consagrando-nos em corpo e alma ao seu sacerdote, o Verbo mesmo”
Carta 1, 9
“Nós não estamos mais em tempos de sombras, e agora não ijmolamos um cordeiro material,
mas aquele verdadeiro cordeiro que foi imolado, nosso Senhor Jesus Cristo, o que foi
conduzido ao matadouro como uma ovelha, sem que dissesse uma palavra diante do algoz
(cf. Is 53,7), purificando-nos assim com o seu precioso sangue, que fala muito mais que o de
Abel”
Carta 5,1
“Nós nos alimentamos com o pão da vida, e deleitamos sempre nossa alma com seu precioso
sangue, como se fosse uma fonte. E, com efeito, sempre estamos abrasados de sede. E Ele
mesmo está presente nos que têm sede, e por sua benignidade chama à festa aqueles que têrm
entranhas sedentas: “se alguém tem sede, venha a mim e beba”
Possui, basicamente, duas partes distintas: uma parte didática (com leituras do
AT e NT, homilia, oração universal e rito da paz) e um rito eucarístico
(apresentação das ofertas, oração eucarística feita pelo presidente da
celebração, dirigida ao Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo e concluída com o
amém dos fiéis, seguida da comunhão);
Acontece aos domingos, dia da ressurreição do Senhor, sendo uma reunião única
para todos;
Tertuliano, entre o final do séc II e começo do séc III, acrescenta alguns pontos
novos ao nosso conhecimento da Missa:
As ofertas eram apresentadas pelo diácono e sobre ela ofertas eram impostas as
mãos do bispo e dos presbíteros presentes;
A Eucaristia (Prefácio) começava com o diálogo: “Dominus vobiscum [...];
Sursum corda [...]; Gratias agamus Domino”. O pão partido era distribuído
dizendo-se: “Panis caelestis in Christo Iesu” e se respondia: “Amen”;
Existia uma fórmula completa de oração eucarística, ainda endereçada ao Pai,
mas com um caráter fortemente cristológico, pois concentrava-se no Mistério da
encarnação-paixão de Cristo; que celebrava a eucaristia (e sua instituição) como
uma manifestação da Paixão do Senhor; que compreendia o memorial como o
mecanismo pelo qual a Igreja se conecta a Cristo; cuja epíclese é a invocação do
Espírito Santo sobre a oferta da Igreja; e onde a doxologia final, com a qual se dá
glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, acontece na santa Igreja.
29
Com o fim das perseguições, os mártires da fé se tornam objeto de atenção especial e de veneração. Por
volta da metade do séc. II, a comunidade de Esmirna na Ásia Menor já celebra a memória anual do seu
Bispo o mártir Policarpo
Liturgia II: Sacramentos
24
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Copta
Alexandrino
Etíope
Romano
Africano
Ambrosiano
Aquileiês
Grupo Ocidental (Patriarquino)
Hispânico
(visigótico - depois:
mozarábico)
Galicano
céltico
Liturgia II: Sacramentos
25
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Parte I Parte II
Canto de Entrada Oferta (com canto e oração sobre as oferendas)
Oração de Intercessão Oração eucarística (Prefácio-Santo-Cânon)
1ª Oração: Leitura dos “profetas” – canto Fração do pão
2º Oração: Leitura dos “apóstolos” – canto Beijo da paz
Evangelho – Homilia Comunhão (com canto)
Envio dos catecúmenos Oração depois da comunhão
Oração sobre o povo
Salvo algumas pequenas modificações, o quadro da Missa dos séc. VII-VIII fica
praticamente sem variações em sua composição. Os livros vão sendo acrescidos de novas
fórmulas, mas já modeladas sobre um tipo literário tradicional. A oração eucarística, que
se distingue claramente em duas partes, das quase uma se chamará “Prefácio” e a outra
“Cânon” (ou seja, segundo uma norma fixa), fica, nesta segunda parte, definitivamente
codificada e veneravelmente conservada. Desenvolve-se, então, a partir daí, um
verdadeiro acúmulo de movimentos, cerimônias e personagens, que passou a cobrir
aquela simplicidade primitiva e apresenta algo de grandioso e solene, cuja inspiração é,
sem dúvida, a cultura da corte do império romano (passada do imperador para o papa e
para o bispo), e foi intensificado especialmente na Idade Média, em muito, devido à
Liturgia II: Sacramentos
26
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
É no ambiente espiritual da ceia judaica que Cristo celebra sua última Páscoa e
institui a Missa e, segundo evangelhos, este fato teve uma extraordinária importância em
sua vida (cf. Lc 22, 15 “desejei ardentemente...”). Foi nela que Cristo inseriu o novo
significado pascal da libertação verdadeira e definitiva. Em outras palavras: aquela era
a última Páscoa de Jesus, mas não só a dele. A Páscoa judaica acabou, pois cede agora o
seu lugar à nova Páscoa, celebrada não mais com os sinais do sangue do cordeiro e dos
pães ázimos, mas com o Corpo (Jo 19,36; 1Cor 5,7; 1Pd 1,13-21) e o Sangue de Cristo
(Mt 26,28; Mc 14,24; Lc 22,20; 1Cor 11,25), sinais da Nova e Eterna Aliança, já
anunciada desde o AT (cf. Jr 31,31). A novidade da aliança de Cristo não está somente
na ordem temporal. Esta, de fato, é “nova”, porque é “diferente” da primeira; é “melhor”
do que a primeira (Hb 7,22) porque fundamenta-se sobre promessas mais elevadas (Hb
8,6) e foi sancionada num sangue realmente imaculado (Hb 8,7); é a “segunda” (Hb 8,7)
e ao mesmo tempo “eterna”, , porque não está sujeita ao envelhecimento (Hb 8,13); “tem
Jesus por mediador” (Hb 8,6; 9,15; 12,24) no lugar de Moisés (Hb 9,19; Gl 3,19); é o
“cumprimento da primeira aliança”; e une o próprio Cristo ao novo povo de Deus. Isto
foi o que Cristo fez na sua Última Ceia Pascal. A Eucaristia é a última e perene Páscoa
de Cristo, ou seja, a redenção total.
4. A Penitência
30
Esse estado de inimizade era percebido pelo surgimento do mal (dor, perseguição, desastres físicos,
econômicos, morte), visto que a violação de um tabu provoca o desencadeamento de forças maléficas das
quais o tabu protegia tanto o indivíduo como a comunidade. Este mal poderia, assim, ser expurgado por
práticas penitenciais, pela confissão de pecados e pela oferta de sacrifícios.
Liturgia II: Sacramentos
27
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
31
Em Ne 9 verificamos a presença dos típicos sinais penitenciais do AT: jejum, vestes de saco, cabeças
cobertas de cinza, separação entre judeus e estrangeiros, leitura da Lei do Senhor, confissão dos pecados,
apelo ao perdão e proclamação de um compromisso de fidelidade futura.
32
Essa linha desembocará num rigorismo extremo, com a proibição da Penitência para determinados
pecados na práxis eclesial precedente ligada aquelas correntes espirituais montanistas, por exemplo.
Liturgia II: Sacramentos
28
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
fiéis formavam as três classes das quais era composta a Igreja de então; aos
penitentes era proibido, enquanto não houvessem cumprido a Penitência,
participar da Eucaristia e unir sua voz à dos fiéis na oração comum. Assistiam à
essa oração, aliás, ficando num lugar separado dos demais fiéis e perto da entrada.
b) Obras penitenciais, que consistiam principalmente em prolongados jejuns e na
proibição de comer carne e beber vinho; vestes simples (sacos), orações de
joelhos, pedidos de orações dos outros durante a liturgia.
c) Reconciliação ou paz. Era o rito no qual, com a imposição das mãos do bispo e
de todo o clero presente, ocorria a remissão dos pecados e a readmissão pública
no interior da assembleia daquele que até então estavam à margem dela33.
33 A partir do séc IV o rito da reconciliação passou a ser realizado na manhã da Quinta Feira Santa, de
modo que, junto com os fiéis, pudessem celebrar a Páscoa tanto os cristão novos (batizados) como os
cristãos renovados (penitentes).
34
Se por um lado a Igreja nunca aceitou a distinção entre pecados remissíveis e irremissíveis, por outro ela
sempre reconheceu a diferença entre culpas graves pecados quotidianos e, consequentemente, também
conheceu uma Penitência comum ou quotidiana, que consiste em fazer todo tipo de boas obras e a
Penitência extraordinária, laboriosa, pelas culpas graves.
35
Deve-se considerar que, durante algum tempo, ainda vigorou certa submissão dos pecadores públicos-
notórios a Penitência pública, segundo o sistema antigo.
Liturgia II: Sacramentos
29
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
36
Sejam revistos o rito e as fórmulas da Penitência, de forma que estes exprimam claramente a natureza e
o efeito do sacramento” (SC 72).
Liturgia II: Sacramentos
30
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
a) O nome do Sacramento
O nome que se procurou manter e generalizar no uso é aquele mais antigo e mais
expressivo: Sacramento da Penitência. O termo Penitência provém do Latim e, nos
primeiros autores cristãos aparece como uma tradução do grego metànoia, que significa
propriamente mudança radical na conduta de vida, ou seja, uma conversão espiritual de
ânimo, de pensamento e de atitude interior, que signifique o efetivo distanciamento do
mal e do pecado e realize um consequente retorno a Deus.
b) O que é a Penitência
c) O Ministério da Reconciliação
espaço. Assim, quando Cristo envia os seus discípulos da mesma forma e com a mesma
missão com que o Pai o enviou (Jo 20,21), ele lhes confia o ministério e a palavra da
reconciliação (2 Cor 5,18): “ a quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem
os retiverdes, ficarão retidos” (Jo 20,23). Trata-se de um ministério, isto é, um fruto de
um carisma do Espírito Santo (cf. Jo 20,22; 1 Cor 12,4-5), exercido e aplicado, “em
nome e pelo poder de Cristo” (2 Cor 5,20; 1 Cor 5,4), no sacramento do Batismo e, nesse
caso, no sacramento da Penitência.
“Pela santa Unção dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, toda a Igreja
encomenda os doentes ao Senhor, sofredor e glorificado, para que os alivie e os salve:
mais ainda, exorta-os a que, associando-se livremente à paixão e morte de Cristo,
concorram para o bem do povo de Deus”37.
37
Catecismo da Igreja Católica, 1499
Liturgia II: Sacramentos
32
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
perdoar os pecados: veio curar o homem na sua totalidade, alma e corpo: é o médico de
que os doentes precisam. A sua compaixão para com todos os que sofrem vai ao ponto de
identificar-Se com eles: «Estive doente e visitastes-Me» (Mt 25, 36). O seu amor de
predilecção para com os enfermos não cessou, ao longo dos séculos, de despertar a
atenção particular dos cristãos para aqueles que sofrem no corpo ou na alma. Ele está na
origem de incansáveis esforços para os aliviar.
Frequentemente, Jesus pede aos doentes que acreditem. Serve-se de sinais para
curar: saliva e imposição das mãos, lodo e lavagem. Por seu lado, os doentes procuram
tocar-Lhe, «porque saía d’Ele uma força que a todos curava» (Lc 6, 19). Por isso, nos
sacramentos, Cristo continua a «tocar-nos» para nos curar.
Comovido por tanto sofrimento, Cristo não só Se deixa tocar pelos doentes, como
também faz suas as misérias deles: «Tomou sobre Si as nossas enfermidades e carregou
com as nossas doenças» (Mt 8, 17). Ele não curou todos os doentes. As curas que fazia
eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória
sobre o pecado e sobre a morte, mediante a sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre Si
todo o peso do mal e tirou «o pecado do mundo» (Jo 1, 29), do qual a doença não é mais
que uma consequência. Pela sua paixão e morte na cruz. Cristo deu novo sentido ao
sofrimento: desde então este pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão
redentora.
Curai os enfermos
O Senhor ressuscitado renova esta missão («em Meu nome… hão-de impor as
mãos aos doentes, e estes ficarão curados»: Mc 16, 1 7-18) e confirma-a por meio dos
sinais que a Igreja realiza invocando o seu nome. Estes sinais manifestam de modo
especial, que Jesus é verdadeiramente «Deus que salva».
«Curai os enfermos!» (Mt 10, 8). A Igreja recebeu este encargo do Senhor e
procura cumpri-lo, tanto pelos cuidados que dispensa aos doentes, como pela oração de
intercessão com que os acompanha. Ela “crê na presença vivificante de Cristo, médico
das almas e dos corpos, presença que age particularmente através dos sacramentos e de
modo muito especial da Eucaristia, pão que dá a vida eterna e cuja ligação com a saúde
corporal é insinuada por São Paulo.
Liturgia II: Sacramentos
33
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Entretanto, a Igreja dos Apóstolos conhece um rito próprio em favor dos enfermos,
atestado por São Tiago: “Alguém de vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja
para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará
o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Ts;
5, 14-15). A Tradição reconheceu neste rito um dos sete sacramentos da Igreja.
“Assim como, santificando este óleo, com o qual ungiste reis, sacerdotes e profetas,
concedes ó Deus, a santidade aos que são com ele ungidos e aos que o recebem assim
proporcione ele consolo aos que o provam, e saúde aos que dele se servem”38.
Nota-se que o óleo usado para a unção ou para alimento, podendo ser aplicado
pelo próprio doente.
“Quando vem uma doença, o enfermo recebe Corpo e o Sangue de Cristo. Humildemente
peça o óleo bento dos sacerdotes, e unja o seu corpo para que nele se realize o que está
escrito… (Tg 5,14s). Vedes, irmãos, que aquele que na enfermidade vai à igreja,
merecerá receber a saúde do corpo e obter o perdão dos pecados. Visto que podemos
encontrar na Igreja esses dois bens, como é possível que homens infelizes causem a si
mesmo mal imenso, recorrendo aos magos, aos feiticeiros e aos adivinhos?”39
38
Tradição Apostólica de Hipólito de Roma, 18
39
Cesário, bispo de Arles, sermão 13
Liturgia II: Sacramentos
34
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
“Deste texto deduz-se com evidência que o costume, da Santa Igreja, de ungir os
possessos ou qualquer outro doente com óleo consagrado pela bênção do Bispo foi-nos
entregue pelos Apóstolos ”40.
“A atual praxe da Igreja quer que os enfermos sejam ungidos com óleo consagrado e que
sejam curados pela oração que acompanha a unção. E não só aos sacerdotes, mas, como
escreve o Papa Inocêncio, também a todos os cristãos é lícito fazer uso do mesmo óleo,
realizando, eles ou os seus caros, uma unção quando a doença os molesta. Todavia só
ao Bispo é permitido benzer tal óleo”41.
No século VII, a bênção do óleo dos enfermos era reservada ao Bispo na quinta
feira santa e, a partir do século IX, apareceram os primeiros rituais da Unção dos
Enfermos; a administração do sacramento passou a ser feita só pelo clero; a Unção foi
sendo considerada uma graça de preparação para a morte, sendo mais valorizados os
efeitos espirituais. O Concílio de Trento, em 1551, enfrentando a objeção dos
protestantes, ratificou a veracidade do sacramento, afirmando que foi instituído por Jesus
Cristo. No ano de 1972, na sequência do II Concílio do Vaticano, se estabeleceu que, a
partir de então, se observasse o seguinte no rito romano: “O sacramento da Unção dos
Enfermos é conferido aos que se encontram enfermos com a vida em perigo, ungindo-os
na fronte e nas mãos com óleo de oliveira ou, segundo as circunstância, com outro óleo
de origem vegetal, devidamente benzido, proferindo uma só vez, as palavras: “Por esta
santa unção e pela sua infinita misericórdia o Senhor venha em teu auxílio com a graça
do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na sua bondade,
alivie os teus sofrimentos”42.
Tertuliano:
Hipólito de Roma:
“Ó Deus que santificastes este óleo, concedendo a todos os que são ungidos e por ele
recebem a santificação, como quando ungistes os reis, sacerdotes e profetas, assim
concedei que ele possa dar fortaleza a todos os que dele se valem e saúde a todos o que
o usam”44
Orígenes:
40
PL 92,188
41
PL 93,39s
42
Constituição Apostólica Sacram Unctionem Infirmorum
43
Prescrições 49; 200 d.C..
44
Tradição Apostólica 5,2; 215 d.C..
Liturgia II: Sacramentos
35
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
“Além disso, aqueles que estão também com setenta anos, se bem que arduamente e
sofridamente… Nesse caso deve ser realizado o que também o Apóstolo Tiago diz: ‘Se,
pois, alguém está enfermo, que chame o presbítero da Igreja para impor as mãos sobre
ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o enfermo, e se ele
está em pecados, esses lhe serão perdoados.”45
Afrate, o Persa:
João Crisóstomo:
“Porque não somente no tempo da conversão, mas depois também, eles têm autoridade
para perdoar os pecados. ‘Está alguém doente entre vós?’ está dito – ‘que chame os mais
velhos da Igreja, e que esses orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E
a prece da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará: e se ele cometeu pecados, esses
lhe serão perdoados” 47
Atanásio:
“O enfermo considerava uma calamidade mais terrível do que a própria doença… (se
permitisse) que as mãos dos arianos fossem colocadas sobre sua cabeça” 48
Serapião de Thuis:
“Este óleo… para boa graça e remissão dos pecados, para uma medicina de vida e
salvação, para saúde e bem estar da alma, corpo ,espírito, para a perfeita consolidação”
49
Efraim:
Ambrósio:
“Por que, então, impondes as mãos e acreditais que isso tenha efeito de bênção, se acaso
alguma pessoa enferma se recupera? Por que assumis que alguém possa ser purificado
por vós da sujeira do demônio? Por que batizais se os pecados não podem ser remidos
pelo homem? Se o batismo é seguramente a remissão de todos os pecados, que diferença
faz se o sacerdote diz que esse poder é dado a eles na penitência ou no batismo? Em
ambos o mistério é um” 51
Papa Inocêncio:
45
Homilia sobre os Levíticos 2,4; 244 d.C.
46
Tratados 23,3; 345 d.C..
47
Sobre o Sacerdócio 3,6; 386 d.C.
48
Epístola Encíclica; 341 d.C..
49
Anáfora 29,1; 350 d.C.
50
Homilia 46; 373 d.C.
51
A Penitência I, 8,36; 390 d.C.
Liturgia II: Sacramentos
36
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
“Se alguma parte de teu corpo está sofrendo… recorda-te também das Escrituras
Inspiradas: ‘Alguém entre vós está doente? Chama o presbítero da Igreja e deixa-o orar
sobre ele, ungindo-o com óleo no nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente, e
o Senhor o soerguerá, e se ele está em pecados, esses serão perdoados”. 52
“Na epístola do santo Apóstolo Tiago… – ‘Se alguém entre vós está doente, chama os
sacerdotes…’ – não há dúvida de que o ungido deve ser interpretado ou compreendido
como enfermo da fé, que pode ser ungido com o santo óleo do crisma… é uma espécie de
sacramento” 53
César de Arles:
“Que aquele que está doente receba o Corpo e Sangue de Cristo; que humildemente e
com fé peça aos presbíteros a unção abençoada, para ungir seu corpo, de modo que o
que foi escrito possa lhe ser frutuoso: ‘Está alguém entre vós enfermo? Que lhe tragam
os presbíteros, que esses orem sobre ele, ungindo-o com óleo; e a prece da fé salvará o
enfermo, o Senhor o reerguerá; e se estiver em pecados, esses lhes serão perdoados'” 54
Cassiodoro:
“Deve-se chamar um padre que, pela prece da fé e a unção do santo óleo que comunica,
salvará aquele que está doente [por causa de um grande ferimento ou por uma doença]”
55
A Unção dos Enfermos não é sacramento só dos que estão prestes a morrer. Por
isso, o tempo oportuno para a receber é certamente quando o fiel começa, por doença ou
por velhice, a estar em perigo de morte. Se um doente que recebeu a Unção recupera a
saúde, pode, em caso de nova enfermidade grave, receber outra vez este sacramento. No
decurso da mesma doença, este sacramento pode ser repetido se o mal se agrava. É
conveniente receber a Unção dos Enfermos antes duma operação cirúrgica importante. E
o mesmo se diga a respeito das pessoas de idade, cuja fragilidade se acentua.
52
Cirilo de Alexandria, Culto e Adoração 6; 412 d.C
53
A Decêncio 25,8,11; 416 d.C.
54
Sermões 13, 3; 542 d.C.
55
Complicações; 570 d.C.
Liturgia II: Sacramentos
37
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
A união à paixão de Cristo. Pela graça deste sacramento, o enfermo recebe a força
e o dom de se unir mais intimamente à paixão de Cristo: ele é, de certo modo, consagrado
para produzir frutos pela configuração com a paixão redentora do Salvador. O sofrimento,
sequela do pecado original, recebe um sentido novo: transforma-se em participação na
obra salvífica de Jesus.
Àqueles que vão deixar esta vida, a Igreja oferece-lhes, além da Unção dos
Enfermos, a Eucaristia como viático. Recebida neste momento de passagem para o Pai, a
comunhão do corpo ,e sangue de Cristo tem um significado e uma importância
particulares. É semente de vida eterna e força de ressurreição, segundo as palavras do
Senhor: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna: e Eu
ressuscitá-lo‑ei no último dia” (Jo 6, 54). Sacramento de Cristo morto e ressuscitado, a
Eucaristia é aqui sacramento da passagem da morte para a vida, deste mundo para o Pai.
Assim, do mesmo modo que os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia
constituem uma unidade chamada “os sacramentos da iniciação cristã”, também pode
dizer-se que a Penitência, a Santa Unção e a Eucaristia, como viático, constituem, quando
a vida do cristão chega ao seu termo, os sacramentos que preparam a entrada na Pátria ou
os sacramentos com que termina a peregrinação.
6. O Matrimônio
O matrimónio como aliança. Quando o amor fiel entre um homem e uma mulher
é vivido em entrega mútua e em partilha da própria intimidade, o matrimónio torna
presente o ideal bíblico da aliança. Inspirando-se no simbolismo nupcial, quer Paulo (Ef
5, 32), quer os Padres da Igreja partem do paradigma da aliança para a compreensão
teológica do matrimónio. A aliança implica um encontro inter-pessoal íntimo, seja entre
Deus e o seu povo, seja entre os esposos. O conceito bíblico de aliança é o mais importante
para uma teologia do matrimónio.
56
Cf. G. MARTÍNEZ, Los Sacramentos, signos de liberdad, (Lux Mundi 91) Sígueme, Salamanca 2009,
333-344
Liturgia II: Sacramentos
39
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Não obstante este caráter secular, o Matrimónio não era visto como uma realidade
profana. Mesmo usando os ritos próprios da sociedade em que se inseriam, os cristãos
tinham consciência de que a sua fé em Cristo transformava também a sua vida
matrimonial. Significativa é a expressão usada por Tertuliano: casar-se “no Senhor” (Ad
uxorem, 2, 1, 1). Este mesmo autor afirma que o matrimónio “é unido pela Igreja,
confirmado pela oblação eucarística, selado pela bênção, anunciado pelos Anjos e
santificado pelo Pai” (Ad uxorem 2, 8, 6). O Batismo constituia a matriz básica do
Matrimónio cristão.
57
Cf. Gianni COLOMBO, «Matrimónio», em D. SARTORE – A.M. TRIACCA (ed.), Dicionário de
Liturgia, Paulinas – Paulistas, São Paulo 1992, 710-711; J. EVENOU, «O Matrimónio», em A.-G.
MARTIMORT, A Igreja em oração. Iniciação à Liturgia 3. Os Sacramentos, Vozes, Petrópolis 1991, 168-
176.
Liturgia II: Sacramentos
40
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Teologicamente, foi nos séculos XII e XIII que se elaborou a reflexão sobre a
sacramentalidade do Matrimónio, muito marcada por concepções jurídicas. Será,
contudo, essa síntese a servir de base a toda a reflexão teológica posterior. O
consentimento mútuo dos esposos é claramente definido como o ato essencial do
sacramento, mas não sem grandes discussões. De fato, nos séculos XI e XII assiste-se a
uma acesa discussão entre teólogos e canonistas: os primeiros defendendo que era o
consentimento que era o elemento essencial do sacramento (influência do direito
romano); os segundos defendendo ser a consumação, isto é, o ato em que o matrimónio
se realizava (influência germano-franca). De fato, no direito romano era claro que era o
consentimento o ato mais importante. Porém, no direito germânico, era a consumação.
Acabou por prevalecer a posição dos teólogos, posição assumida pela magistério
eclesial60.
O Concílio de Trento imporá, pela primeira vez, sob pena de invalidade, a forma
canónica de celebração do Matrimónio: só era válido o Matrimónio celebrado diante do
pároco, ou daquele a quem o pároco desse a devida jurisdição (Decreto Tametsi, em
1563). Os matrimónios clandestinos e secretos, embora ilícitos, eram reconhecidos como
válidos o que provocava graves dificuldades. Assim, o Concílio resolveu dar solução ao
problema pastoral, impondo a forma canónica como necessária à validade do sacramento.
58
B. SESBOÜE, «La doctrina sacramental del Concilio de Trento V. El matrimonio», in Historia de los
dogmas 3. Los signos de la salvación, Sacretariado Trinitario, Salamanca 1996, 150.
59
Um exemplo é o que nos dá um dos mais antigos rituais do Matrimónio, do início do século XII: Ritual
do Matrimónio do Missal da Abadia de S. Melânio de Rennes em: J. Evenou, «O Matrimónio», 174; Rituali
nuziali del mondo latino occidentale, ed. L. Crociani, Cantagalli, Siena 2001, 145.
60
N. REALI, Scegliere di essere scelti. Riflessioni sul sacramento del matrimonio, Cantagalli, Siena 2008,
89-93.
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41
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
apenas numa face, mas na sua complementaridade. A bênção que se segue refere-se, pois,
ao casal humano. O encontro e a união do homem e da mulher é algo querido por Deus,
“instituído” e santificado pelo próprio Criador (“Deus viu tudo o que tinha feito e era
muito bom”: Gn 1, 31). O próprio dom da vida, que brota dessa união dos esposos, é
considerado dom de Deus (cf. Gn 4, 1).
61
C. ROCCHETTA, Os sacramentos da fé. Ensaio de teologia bíblica sobre os sacramentos como
“maravilhas da salvação” no tempo da Igreja, Paulinas, São Paulo 1991, 417.
Liturgia II: Sacramentos
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
instituída; por outro lado, manifesta que, tendo o pecado introduzido graves
desequilíbrios na relação conjugal, este já não aparece em todo o seu esplendor.
62
ROCHETTA, Os sacramentos da fé, 421.
63
Cf. L.-M. CHAUVET, «Le Sacrement de Mariage», em COMMISSION ÉPISCOPALE DE LITURGIE,
Pastoral sacramentelle. Points de repère. Commentaires et guide de travail 1. Les Sacrements de
l’initiation chrétienne et le mariage (Liturgie 8), Cerf, Paris 1996, 198-204.
64
ROCHETTA, Os sacramentos da fé, 424.
Liturgia II: Sacramentos
44
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
sobretudo as orações de bênção dos esposos que fazem memória deste percurso pela
história da salvação. Tomemos como exemplo a primeira parte (anamnética) da segunda
oração de bênção nupcial:
“Pai santo, que formastes o homem à vossa imagem, homem e mulher os criastes,
para que, unidos no corpo e no espírito, cumpram a sua missão no mundo; Pai
santo, que, para revelar o desígnio do vosso amor, quisestes significar, no mútuo
amor entre os esposos, a aliança que firmastes com o vosso povo, e, chegada a
plenitude da nova aliança, manifestais, na união conjugal dos vosso fiéis, o
mistério nupcial de Cristo e da Igreja: estendei sobre estes vossos servos a vossa
mão protectora...” (Ritual da Celebração do Matrimónio, n.º 242).
Esta visão abre caminho a considerar a família como “pequena Igreja” ou “Igreja
doméstica” (LG 11), pois é no seio da família que os pais são, “pela palavra e pelo
exemplo (...), os primeiros arautos da fé para os seus filhos, ao serviço da vocação própria
de cada um e muito especialmente da vocação consagrada” (LG 11). É na família “que se
exerce, de modo privilegiado, o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos filhos,
de todos os membros da família... O lar é, assim, a primeira escola de vida cristã e uma
escola de enriquecimento humano” (Catecismo 1657). A LG 35 sublinha precisamente
isso: a vida matrimonial e familiar é “um exercício e uma admirável escola de apostolado
dos leigos... Aí encontram os esposos a sua vocação própria, de serem um para o outro e
para os filhos as testemunhas da fé e do amor de Cristo”. Considerando a família como
“Igreja doméstica”, o Concílio faz derivar as características da vida conjugal e familiar
das próprias características da Igreja. As afirmações da LG são depois aprofundadas na
GS 47-52. Aí o matrimónio é caracterizado como “íntima comunidade da vida e do amor”
(GS 48) e o Concílio abandona o conceito de “contrato” para definir o matrimónio,
optando pela expressão “aliança matrimonial”. Elemento essencial do matrimónio é, pois,
65
Cf. REALI, Scegliere di essere scelti, 57-100.
Liturgia II: Sacramentos
45
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
o amor conjugal. Não o “amor” como conceito vago e indeterminado, mas amor-eleição
(dilectio), pelo qual “os cônjuges mutuamente se dão e recebem um ao outro” (GS 48), e
que encontra o seu fundamento no amor com que Cristo ama a Igreja:
A sacramentalidade do matrimónio
66
J. AUER, Los Sacramentos de la Iglesia, (Curso de Teología Dogmatica 7) Herder, Barcelona 19893,
284-285.
Liturgia II: Sacramentos
46
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
caridade conjugal, que é o modo próprio e específico com que os esposos participam e
são chamados a viver a mesma caridade de Cristo que se doa sobre a Cruz. [...]
“Os esposos participam nele enquanto esposos, a dois como casal, a tal ponto
que o efeito primeiro e imediato do matrimónio (res et sacramentum) não é a
graça sacramental propriamente, mas o vínculo conjugal cristão, uma comunhão
a dois tipicamente cristã porque representa o mistério da Encarnação de Cristo
e o seu Mistério de Aliança. E o conteúdo da participação na vida de Cristo é
também específico: o amor conjugal comporta uma totalidade na qual entram
todos os componentes da pessoa - chamada do corpo e do instinto, força do
sentimento e da afetividade, aspiração do espírito e da vontade - ; o amor
conjugal dirige-se a uma unidade profundamente pessoal, aquela que, para além
da união numa só carne, não conduz senão a um só coração e a uma só alma; ele
exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca definitiva e abre-se
à fecundidade. Numa palavra, trata-se de características normais do amor
conjugal natural, mas com um significado novo que não só as purifica e as
consolida, mas eleva-as a ponto de as tornar a expressão dos valores
propriamente cristãos” (Familiaris consortio, n. 13).
67
AUER, Los Sacramentos de la Iglesia, 287.
Liturgia II: Sacramentos
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Dimensão trinitária
A graça sacramental
68
Cf. AUER, Los Sacramentos de la Iglesia, 304.
Liturgia II: Sacramentos
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
de santidade e santificação para os esposos cristãos: são chamados a ser santos, não apesar
de serem casados, mas precisamente enquanto marido e esposa, pai e mãe. A fonte desta
graça do Matrimónio é o próprio Cristo: “[Cristo] fica com eles, dá-lhes a coragem de O
seguirem tomando sobre si a sua cruz, de se levantarem depois das quedas, de se
perdoarem mutuamente, de levarem o fardo um do outro (cf. Gl 6, 2), de serem
«submissos um ao outro no temor de Cristo» (Ef 5, 21) e de se amarem com um amor
sobrenatural, delicado e profundo” (Catecismo 1642). Esta graça, que tem a sua fonte em
Cristo, destina-se a fortalecer os esposos para a vivência das exigências da vida
matrimonial: a indissolubilidade, a fidelidade e a fecundidade (cf. Catecismo 1643-1654).
Conclusão
1. acolher;
2. favorecer uma progressão de fé;
3. cuidar da celebração do sacramento;
4. acompanhar o casal depois da celebração.
7. A Ordem
O Novo Testamento
69
COMMISSION ÉPISCOPALE DE LITURGIE, «Points de repère en pastoral sacramentelle», in Pastoral
sacramentelle. Points de repère. Commentaires et guide de travail 1. Les Sacrements de l’initiation
chrétienne et le mariage (Liturgie 8), Cerf, Paris 1996, 11-96 (especificamente sobre o Matrimónio, 81-
96).
Liturgia II: Sacramentos
49
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
a) Os Doze: sua eleição, que torna patente a vontade de Jesus de prolongar a sua
missão e sua obra no tempo da Igreja, responde a uma sua iniciativa pessoal, que
“chamou os que queria” (cf. Mc 3,13-14), associou-os estreitamente à sua pessoa
e ministério e enviou-os em missão com a sua autoridade para que, como
testemunhas de sua ressurreição, pregassem em sua nome o evangelho e
congregassem o novo Israel. A Tradição considerou os apóstolos como ponto de
referência obrigatório, raiz e fonte de todo o ministério na Igreja;
b) Apóstolos, profetas e doutores: grupo que, além dos “Doze” e dos “Setenta e
dois” tão próximos a eles, gozava de certa proeminência (cf. 1 Cor 12,28; Ef 2,20;
3,5; 4,11);
c) Evangelistas: se ocupavam de pregar o evangelho e em estabelecer novas
comunidades de crentes (cf. Ef 4,11; At 21,8; 2Tm 4,5).
1. At 6,1-3 (os sete diáconos): eleição pela comunidade, imposição das mãos e
oração dos apóstolos;
2. At 13, 3-4 (missão de Paulo e Barnabé): jejum e oração, imposição das mãospor
profetas e doutores;
3. 1 Tm 4,14 e 2Tm 1,6: palavra profética e imposição das mãos que confere o
“carisma de Deus” de modo duradouro;
70
Os “presbíteros”, que às vezes são identificados com os “episkopoi” (cf. At 20,28), aparecem em Jeruslém
exercendo seu ministério colegialmente (ver At 15,2.4.6.22.23; 16,4)
Liturgia II: Sacramentos
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
A Igreja antiga
71
Das cartas de Santo Inácio de Antioquia emerge a imagem de uma Igreja bem estruturada, com centro de
unidade no bispo, em estreita colaboração com o colégio dos presbíteros e o grupo dos diáconos. Para ele,
e depois para Clemente de Alexandria e Orígenes, a hierarquia terrena é símbolo da hierarquia celestial.
Liturgia II: Sacramentos
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Evangelizador: Luis Carlos Pereira
A Idade Média
Em nossos dias
propor, como eles, a relação dos ministérios com Cristo em termos de símbolo, imagem
e sacramento: os ministros são representantes da pessoa e da obra de Cristo.
A integração num destes corpos da Igreja fazia-se através dum rito chamado
ordinatio, ato religioso e litúrgico que era uma consagração, uma bênção ou um
sacramento. Hoje, a palavra ordinatio é reservada ao ato sacramental que integra na ordem
dos bispos, dos presbíteros e dos diáconos, e que ultrapassa a simples eleição, designação,
delegação ou instituição pela comunidade, pois confere um dom do Espírito Santo que
permite o exercício dum «poder sagrado» (sacra potestas) que só pode vir do próprio
Cristo, pela sua Igreja. A ordenação também é chamada consecratio consagração –,
porque é um pôr à parte e uma investidura feita pelo próprio Cristo para a sua Igreja. A
imposição das mãos do bispo, com a oração consecratória, constituem o sinal visível desta
consagração.
72
Segue o esquema do Catecismo da Igreja Católica
Liturgia II: Sacramentos
53
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
O povo eleito foi constituído por Deus como «um reino de sacerdotes e uma nação
consagrada» (Ex 19, 6). Mas, dentro do povo de Israel, Deus escolheu uma das doze
tribos, a de Levi, segregada para o serviço litúrgico o próprio Deus é a sua parte na
herança. Um rito próprio consagrou as origens do sacerdócio da Antiga Aliança. Nela, os
sacerdotes são «constituídos em favor dos homens, nas coisas respeitantes a Deus, para
oferecer dons e sacrifícios pelos pecados». Instituído para anunciar a Palavra de Deus e
para restabelecer a comunhão com Deus pelos sacrifícios e a oração, aquele sacerdócio é,
no entanto, impotente para operar a salvação, precisando de repetir sem cessar os
sacrifícios, sem poder alcançar uma santificação definitiva a qual só o sacrifício de Cristo
havia de conseguir.
que «com uma única oblação, tornou perfeitos para sempre os que foram santificados»
(Heb 10, 14), isto é, pelo único sacrifício da sua cruz.
O sacrifício redentor de Cristo é único, realizado uma vez por todas. E no entanto,
é tornado presente no sacrifício eucarístico da Igreja. O mesmo se diga do sacerdócio
único de Cristo, que é tornado presente pelo sacerdócio ministerial, sem diminuição da
unicidade do sacerdócio de Cristo: «e por isso, só Cristo é verdadeiro sacerdote, sendo os
outros seus ministros».
Cristo, sumo sacerdote e único mediador, fez da Igreja «um reino de sacerdotes
para Deus seu Pai». Toda a comunidade dos crentes, como tal, é uma comunidade
sacerdotal. Os fiéis exercem o seu sacerdócio batismal através da participação, cada qual
segundo a sua vocação própria, na missão de Cristo, sacerdote, profeta e rei. É pelos
sacramentos do Batismo e da Confirmação que os fiéis são «consagrados para serem […]
um sacerdócio santo».
Esta presença de Cristo no seu ministro não deve ser entendida como se este
estivesse premunido contra todas as fraquezas humanas, contra o afã de domínio, contra
os erros, isto é, contra o pecado. A força do Espírito Santo não garante do mesmo modo
todos os atos do ministro. Enquanto que nos sacramentos esta garantia é dada, de maneira
que nem mesmo o pecado do ministro pode impedir o fruto da graça, há muitos outros
atos em que a condição humana do ministro deixa vestígios, que nem sempre são sinal de
fidelidade ao Evangelho e podem, por conseguinte, prejudicar a fecundidade apostólica
da Igreja.
«Em nome de toda a Igreja» não quer dizer que os sacerdotes sejam os delegados
da comunidade. A oração e a oferenda da Igreja são inseparáveis da oração e da oferenda
de Cristo, sua cabeça. É sempre o culto de Cristo na e pela sua Igreja. É toda a Igreja,
corpo de Cristo, que ora e se oferece, «por Cristo, com Cristo, em Cristo», na unidade do
Espírito Santo, a Deus Pai. Todo o corpo, caput et memora – cabeça e membros –, ora e
oferece-se; e, por isso, aqueles que, no corpo, são de modo especial os ministros, chamam-
se ministros não apenas de Cristo, mas também da Igreja. É porque representa Cristo, que
o sacerdócio ministerial pode representar a Igreja.
«Reverenciem todos os diáconos como a Jesus Cristo e de igual modo o bispo que
é a imagem do Pai, e os presbíteros como o senado de Deus e como a assembleia dos
Apóstolos: sem eles, não se pode falar de Igreja».
Liturgia II: Sacramentos
56
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
Para desempenhar a sua sublime missão, «os Apóstolos foram enriquecidos por
Cristo com uma efusão especial do Espírito Santo, que sobre eles desceu: e pela imposição
das mãos eles próprios transmitiram aos seus colaboradores este dom espiritual que foi
transmitido até aos nossos dias através da consagração episcopal».
Cada bispo tem, como vigário de Cristo, o encargo pastoral da Igreja particular
que lhe foi confiada. Mas, ao mesmo tempo, partilha colegialmente com todos os seus
irmãos no episcopado a solicitude por todas as Igrejas: «Se cada bispo é pastor próprio
apenas da porção do rebanho que foi confiada aos seus cuidados, a sua qualidade de
legítimo sucessor dos Apóstolos, por instituição divina, torna-o solidariamente
responsável pela missão apostólica da Igreja».
Tudo o que acaba de ser dito explica porque é que a Eucaristia celebrada pelo
bispo tem uma significação muito especial como expressão da Igreja reunida em torno do
altar sob a presidência daquele que representa visivelmente Cristo, bom Pastor e Cabeça
da sua Igreja.
«Cristo, a Quem o Pai santificou e enviou ao mundo, por meio dos seus Apóstolos
tornou os bispos, que são sucessores deles, participantes da sua consagração e missão; e
estes, por sua vez, transmitem legitimamente o múnus do seu ministério em grau diverso
e a diversos sujeitos na Igreja». O seu cargo ministerial foi transmitido em grau
subordinado aos presbíteros, para que, constituídos na Ordem do presbiterado, fossem
Liturgia II: Sacramentos
57
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
«No grau inferior da hierarquia estão os diáconos, aos quais foram impostas as
mãos, “não em vista do sacerdócio, mas do serviço”». Para a ordenação no diaconado, só
o bispo é que impõe as mãos, significando com isso que o diácono está especialmente
ligado ao bispo nos encargos próprios da sua « diaconia».
chamado a apresentar a Deus; para o diácono, entrega do livro dos Evangelhos, pois acaba
de receber a missão de anunciar o Evangelho de Cristo.
Foi Cristo quem escolheu os Apóstolos e lhes deu parte na sua missão e
autoridade. Depois de ter subido à direita do Pai, Cristo não abandona o seu rebanho,
antes continuamente o guarda por meio dos Apóstolos com a sua proteção e continua a
dirigi-lo através destes mesmos pastores que hoje prosseguem a sua obra. É pois Cristo
«quem dá», a uns serem apóstolos, a outros serem pastores. E continua agindo por meio
dos bispos.
Ninguém tem direito a receber o sacramento da Ordem. Com efeito, ninguém pode
arrogar-se tal encargo. É-se chamado a ele por Deus. Aquele que julga reconhecer em si
sinais do chamamento divino ao ministério ordenado, deve submeter humildemente o seu
desejo à autoridade da Igreja, à qual incumbe a responsabilidade e o direito de chamar
alguém para receber as Ordens. Como toda e qualquer graça, este sacramento só pode ser
recebido como um dom imerecido.
Nas Igrejas orientais vigora, desde há séculos, uma disciplina diferente: enquanto
os bispos são escolhidos unicamente entre os celibatários, homens casados podem ser
ordenados diáconos e presbíteros. Esta prática é, desde há muito tempo, considerada
legítima: estes sacerdotes exercem um ministério frutuoso nas suas comunidades. Mas,
por outro lado, o celibato dos sacerdotes é tido em muita honra nas Igrejas orientais e são
numerosos aqueles que livremente optam por ele, por amor do Reino de Deus. Tanto no
Oriente como no Ocidente, aquele que recebeu o sacramento da Ordem já não pode casar-
se.
Liturgia II: Sacramentos
60
Evangelizador: Luis Carlos Pereira
O CARÁCTER INDELÉVEL
Este sacramento configura o ordinando com Cristo por uma graça especial do
Espírito Santo, a fim de servir de instrumento de Cristo em favor da sua Igreja. Pela
ordenação, recebe-se a capacidade de agir como representante de Cristo, cabeça da Igreja.
na sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei.
Uma pessoa validamente ordenada pode, é certo, por graves motivos, ser
dispensada das obrigações e funções decorrentes da ordenação, ou ser proibido de as
exercer: mas já não pode voltar a ser leigo, no sentido estrito, porque o carácter impresso
pela ordenação fica para sempre. A vocação e a missão recebidas no dia da ordenação
marcam-no de modo permanente.
Uma vez que é Cristo, afinal, quem age e opera a salvação através do ministro
ordenado, a indignidade deste não impede Cristo de agir. Santo Agostinho di-lo numa
linguagem vigorosa:
O dom espiritual, conferido pela ordenação presbiterial, está expresso nesta oração
própria do rito bizantino. O bispo, impondo as mãos, diz, entre outras coisas:
«Senhor, enchei do dom do Espírito Santo aquele que Vos dignastes elevar
ao grau de presbítero, para que seja digno de se manter irrepreensível
diante do vosso altar, de anunciar o Evangelho do vosso Reino, de
desempenhar o ministério da vossa Palavra de verdade, de Vos oferecer
dons e sacrifícios espirituais, de renovar o vosso povo pelo banho da
regeneração; de modo que, ele próprio, vá ao encontro do nosso grande
Deus e Salvador Jesus Cristo, vosso Unigênito, no dia da sua segunda
vinda, e receba da vossa imensa bondade a recompensa dum fiel
desempenho do seu ministério».