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A betaína e sua relação com a hiperhomocisteinemia

Nas últimas décadas, o nível plasmático elevado de A betaína também pode ser sintetizada pelo organismo por meio
homocisteína tem sido considerado um fator de risco da oxidação de compostos que contêm colina no fígado e rim. A
independente e prevalente para a aterosclerose. A homocisteína betaína apresenta duas importantes funções: a de ser um dos
é um aminoácido sulfurado envolvido em diversas vias principais osmólitos acumulados na maioria dos tecidos para
metabólicas. Níveis elevados desse aminoácido no plasma, a auxiliar na regulação do volume celular e a de ser doadora de
hiperhomocisteinemia, podem ser atribuídos à ocorrência de grupo metil para a remetilação da homocisteína em metionina.
defeitos genéticos de algumas enzimas do metabolismo da Como um osmólito, a betaína aumenta a retenção hídrica celular,
homocisteína ou a deficiências nutricionais das vitaminas B6, além de proteger as enzimas intracelulares da desnaturação
B12 e folato, ou pode, ainda, estar relacionada a outros fatores induzida por alta temperatura ou osmolaridade.
de risco para a aterosclerose. No que diz respeito ao segundo papel da betaína – fornecer
grupos metil para a remetilação de homocisteína em metionina –
Homocisteína observa-se que a diminuição das concentrações plasmáticas de
homocisteína pode reduzir inflamação, diminuindo os riscos de
A homocisteína é um aminoácido sulfidrílico formado a partir doenças cardiovasculares. Essa doação parece ocorrer por meio
da desmetilação da metionina. A homocisteína é metabolizada de reações enzimáticas nas mitocôndrias hepáticase renais,
por meio de duas vias: a de remetilação (dependente de mediada pela betaína homocisteína metiltransferase (BHMT),
vitamina B12 e ácido fólico) e a de transfuração (dependente de que transfere um grupo metil da betaína para a homocisteína,
vitamina B6). Na remetilação, a homocisteína é convertida a resultando na conversão de betaína em dimetilglicina e de
metionina, pela enzima metionina sintetase, que requer vitamina homocisteína em metionina.
B12 como co-fator. Nesse momento, ocorre a redução do 5,10
metilenotetra- hidrofolato, que tem como finalidade doar Tratamento da hiperhomocisteinemia
agrupamento metil à metionina sintetase. Essa reação é
catalisada pela 5,10 metilenotetra- hidrofolato-redutase O tratamento atualmente indicado para hiperhomocisteinemia
(MTHF). Contudo, a remetilação também ocorre por meio do fundamenta-se na suplementação alimentar e medicamentosa das
metabolismo da betaína, que doa agrupamento metil para a vitaminas relacionadas ao metabolismo da homocisteína: ácido
metionina sintetase, com o objetivo de converter a fólico, vitamina B12 e B6, além da betaína. O modo do
homocisteína em metionina. Na transfuração, a homocisteína é tratamento varia de acordo com a causa subjacente, porém, as
convertida em cistationina, reação essa catalisada pela enzima doses mínimas efetivas das vitaminas ainda não foram totalmente
cistationina B sintetase (CBS), que necessita de vitamina B6 estabelecidas, no entanto estudos sugerem doses de: ácido fólico
como co-fator e, após, gerando cisteína e alfa cetobutirato. Uma 0,2 a 15mg/dia, vitamina B12 0,4-2mg/dia, vitamina B6 3-
redução da atividade da CBS por deficiência de co-fator, que é a 300mg/dia e betaina 0,5g a 2g/dia. A betaína atua como um
vitamina B6, ou por alguma mutação, pode levar a um aumento doador de grupo metil e é freqüentemente utilizado como um
da homocisteína. A cisteína, formada a partir da homocisteína, suplemento nutricional para diminuir os níveis plasmáticos de
pode ser incorporada em enzimas e proteínas podendo ter seu homocisteína, e como um lipotrópico. É interessante estimular o
grupo -SH convertido em pontes dissulfeto, necessárias para a metabolismo fora da via da metionina, através do tratamento
força e estabilidade de muitas proteínas, inclusive do colágeno. com betaína. Nos indivíduos com homocistinúria causadas por
A deficiência de vitamina B12, vitamina B6 e folato dificulta a um defeito genético na CBS, caracterizada por níveis plasmáticos
execução de diversas reações enzimáticas. A redução dos níveis elevados de homocisteína (> 50 mmol /L), a suplementação de
dessas vitaminas impede o funcionamento da metionina sintase, betaína causou uma queda de homocisteína níveis de até 75%. A
CBS e MTHFR, aumentando as concentrações plasmáticas de betaína pode reduzir o nível de homocisteína mesmo sob
homocisteína. Evidências atuais mostram que o excesso de condições de deficiência de folato.
homocisteína está relacionado com alterações na estrutura de
proteínas, peroxidação lipídica, inflamação e danos ao DNA. Sugestão de fórmula para o tratamento da
hiperhomocisteinemia

Ácido fólico ...................................... 10 mg


Vit B12 ........................................... 1 mg
Vit B6 ......................................... 100 mg
Betaína base .................................. 500 mg

Tomar 1 cápsula 1x ao dia. Uso continuo até próxima avaliação.

Referências:
AMORIM,F.G;REZENDE,L.C.D;COITINHO,L.B;FREITAS,J.V;SHCERR,J.A;
DETTOGNI,R.S; Bioquimica Clínica da aterosclerose provocada por
hiperhomocisteinemia. Revista eletrônica de Farmácia. Vol VIII (1), 36-59, 2011

COUSSIRAT,C;BATISTA,C;SCHNEIDER,R,H;RESENDE,
T,L;SCHWANKE,C.H.A; Vitaminas B12, B6, B9 e homocisteina e sua relação
Betaína com a massa óssea em idosos. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Rio
de Janeiro, 2012;15(3):577-585
A betaína é um trimetil derivado do aminoácido glicina. É
NEVES,L.B;MACEDO,D.M;LOPES,A.C;Jornal Brasileiro de medicina
amplamente encontrada em animais, plantas e microorganismos laboratorial. V.40,nº5,p.311-20. Outubro 2004
e presente em fontes alimentares, como gérmen, farelo de trigo,
espinafre e beterraba, inclusive frutos do mar, especialemte
invertebrados marinhos.

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