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Ponto de Equilíbrio

a DiETA PaLEo
O impacto de milhares de anos de evolução na saúde do nosso organismo
por Roni Moya *

a «medicina evolucionária», comenta- As profundas alterações de serem obesos ou hipertensos. A expo-


da por Willis e Neese, em 1991, investiga sição à luz natural, entre o nascer e o pôr-
o desenvolvimento dos hábitos alimenta- do meio ambiente, iniciadas do-sol, garantia uma perfeita produção
res e estilo de vida dos ancestrais humanos com a introdução da de vitamina D e um ciclo do sono regu-
e a relevância das suas dietas para a saú- lado, facilitando o metabolismo da sero-
de actual da população. Dos estudos surge agricultura há dez tonina e impedindo a insónia, depressão
uma nova teoria: as profundas alterações mil anos, ainda não e stress. O que os nossos bravos caçadores
do meio ambiente, iniciadas com a intro- não consumiam, e que hoje compõe mais
dução da agricultura há dez mil anos, se ajustaram à nossa de 70 por cento do nosso prato, eram
foram tão recentes, do ponto de vista da genética lacticínios, álcool, açúcar e sal isolados,
antropologia e selecção natural, que ain- leguminosas, grãos, cereais, óleos vege-
da não se ajustaram à nossa genética. Isso tais e carnes gordas de animais criados
quer dizer que, devido às diferenças her- em cativeiro. Segundo o cientista Loren
dadas dos nossos irmãos de milhões de Cordain, 99,6 por cento da geração Pré-
anos e os padrões contemporâneos cul- Neolítica não possuía experiência evo-
turais e nutricionais recém-adquiridos, lucionária com os alimentos modernos
ocorreram muitas das «doenças da civi- ingeridos. Isso dá-nos a ideia de como
lização». Os métodos de conservação, as alergias e intolerâncias podem ter
refinamento e processamento durante sido originadas. O nosso corpo não está
os períodos Neolítico e Industrial alte- «antropologicamente» preparado para
raram radicalmente os níveis de açúcar, aceitar tais produtos! Poucas fibras pro-
composição da massa gorda, dos macro e vocam problemas intestinais; o seden-
micronutrientes, acidez, razão de sódio e tarismo, o aumento do açúcar, diabetes
potássio e conteúdo de fibras dos alimen- e obesidade; o sal e a troca das frutas e
tos. Cada um ou a associação desses fac- vegetais frescos por grãos e cereais refina-
tores estão implicados em patologias que dos, hipertensão, osteoporose, pedras nos
atingem a população moderna ocidental, rins... O que fazer então? Voltar às nossas
como obesidade, stress, hipertensão, dia- origens e consumir ao máximo legumes
betes, osteoporose e cancro. e verduras frescas com carnes magras de
No período Paleolítico, a ali­men­ caça ou ricas em ómega; sem se esquecer
tação era carnívora e todos os humanos de dormir bem, expor-se ao sol e praticar
tinham uma origem comum africana, exercícios. Existe fórmula mais simples
isto é, com pouca diversidade genéti- para viver para sempre?
ca (daí a difícil adaptação aos novos ali-
mentos). Também não existia uma dieta Caros leitores, é com grande satisfação que vos
universal, pois variava de acordo com as escrevo e me despeço com esta crónica. Ao lon-
foto: mário príncipe

diferenças geográficas, ecologia, tempe- go de 12 meses, compartilhamos os campos mais


ratura e estação do ano. Como caçadores, inovadores da Biomedicina. Muito obrigado pelo
eram obrigados a manter uma actividade vosso apoio. Ainda existe muito por aprender.
física intensa, reduzindo a possibilidade Mantenham a mente aberta. Até breve.

* Roni Moya é Biomédico, Especialista em Biologia celular e Molecular e membro da World Societ y of Anti-Aging Medicine (WOSAAM), da World
146 saber viver outubro 2009 Academy of Anti-Aging Medicine (WAAAM) e da Societ y for free radical biology and medicine (sfrbm). É brasileiro e, actualmente, vive em Portugal.

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