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A Laringe X Anatomia X Processos Inflamatórios X Tumores
A Laringe X Anatomia X Processos Inflamatórios X Tumores
Tumores
Introdução
Podemos dizer com certeza que o laringe ocupa um dos principais papeis na complexa
dinânima da comunicação entre os seres humanos.
A fala é o produto de uma espetacular evolução que vem ocorrendo hà milhões de anos entre
os seres que habitam este planeta, evolução esta que, manifestando-se mais claramente na
raça humana, facilitou enormemente a troca de experiencias e sentimentos que foram
traduzidos em resultados fantásticos para a população de um modo geral.
O ato de falar, que nos parece simples superficialmente, envolve um grande número de
estruturas e não depende, como veremos adiante, apenas das cordas vocais.
O tom fundamental da voz (TF) é produzido através da vibração das cordas vocais (CV) que se
encontram no interior do laringe.
Esta vibração é desencadeada pela coluna aérea oriunda dos pulmões durante a fase
expiratória da respiração.
Ao atravessar a região glótica (entre as CV), o ar é entrecortado por aduções rítmicas de várias
frequências das cordas vocais nascendo então o TF.
Quanto maior for o numero de vibrações por segundo (frequência) mais agudo será o som
produzido. Inversamente, quanto menor for a frequência das vibrações, menor será a
frequência do som.
Os sons de baixa frequência são os sons graves e os sons de alta frequência são os sons
agudos.
Entre estes extremos, encontramos os sons intermediários ou sons médios.
Dito isto, podemos ver que a voz humana possue uma enorme veriedade de tons.
Não existe, a exemplo da impressão digital, uma voz exatamente igual a outra. Semelhantes ou
imitações sim, perfeitamente iguais não.
Logo após ser produzido o TF ascende em direção ao aparelho articulador da voz aonde
sofrerá uma série de modificações através do aparelho articulador buco-faringeo, nariz e
estruturas anexas como os seios da face.
Vejam bem, a voz quando ainda a nível das cordas vocais, não pode ser entendida como tal e
é totalmente imcompreensível.
Tente por exemplo abrir a bôca e emitir o som “A”. É fácil não?. Agora sem mexer um músculo
facial, isto é, com a bôca aberta tente dizer “PA” ou mesmo “LA”. Impossível não é?. Para emitir
o “PA” você teve obrigatoriamente que usar os lábios para acrescentar o P na sua tentativa de
dizer “PA”. Com o “LA” você usou a lingua.
E assim por diante. Cada sílaba, cada palavra, engloba uma enormidade de estruturas como
lábios, dentes, lingua, palato, bochechas, nariz, seios da face entre muitos outros que, no
conjunto, são conhecidos como sistema articulador buco-facial.
A voz portanto, resulta da integração da laringe com este sistema, ambos na dependência de
um perfeito comando central.
ANATOMIA BÁSICA
O laringe situa-se anteriormente no pescoço e em posição mediana, podendo ser facilmente
percebida como uma proeminência dura e móvel que desloca-se verticalmente para cima
durante a deglutição logo abaixo da região mentoniana.
Nos primeiros anos de vida, o laringe encontra-se situado mais superiormente do que no
adulto.
Este fato pode ser comprovado facilmente nas crianças através de um simples exame de
garganta quando deprimimos a lingua do paciente e percebemos uma estrutura em forma de
folha cartilaginosa revestida por mucosa.
Aí temos a nossa conhecida epiglote, tão falada nos livros de pediatria.
O laringe encontra-se montado sobre o primeiro anel traqueal, fato este que faz com que a
grande maioria dos autores o considerem como um anel traqueal mais diferenciado.
Relaciona-se posteriormente com o hipofaringe, superiormente com a base da lingua,
inferiormente com a traquéia e anteriormente com a glândula tireóide (Fig 1).
Para que haja movimentação destas peças anatômicas existe um delicado conjunto de
músculos que, distribuidos na sua maioria dentro do laringe (endolaringeos), realizam
conjuntamente a função que a natureza destinou para este órgão.
Como basicamente os movimentos do laringe são de abertura e fechamento os principais
grupos musculares são os abdutores e os adutores.
Os primeiros são obviamente muito mais importantes na respiração e os segundos na fonação.
Temos ainda os tensores que participam ativamente na melhoria da qualidade vocal fornecendo
timbre a voz.
Para que todo este conjunto músculo cartilaginoso possa mover-se, necessitamos de uma
inervação. Esta é fornecida através do nervo vago ou X par craniano.
Os nervo laringeos inferiores direito e esquerdo são essencialmente motores enquanto que, os
laringeos superiores são sensitivos.
A lesão, seja ela uni ou bilateral dos inferiores, também chamados de recurrentes, ocasiona
paralisias laringeas fechadas ou abertas de acordo com o grupo neuro-muscular atingido ou se
esta paralisia é central ou pariférica.
O nervo recurrente esquerdo, apesar da semelhança que o nome indica, é , no tocante ao seu
trajeto, bastante diferente do direito.
O esquerdo é bem mais longo que o direito.
Emerge do X par no mediastino, contorna a crossa da aorta, mergulha novamente no
mediastino subindo entre a traquéia e o esôfago, passando por cadeias ganglionares
mediastínicas, plexos nervosos, glândula tireóide, vasos cervicais dentre outras estruturas, num
longo trajeto para poder alcançar o laringe e desempenhar a sua função motora.
Já o recurrente direito contorna a subclávia direita logo que sai do vago, passa pela glândula
tireóide e em seguida entra no laringe.
Por ser bem mais longo que o direito o recurrente esquerdo é muito mais sujeito a lesões
sejam elas de traumáticas ou compressívas.
Por este mesmo motivo, as paralisias recurrenciais do laringe são muito mais frequentes no
lado esquerdo.
PROCESSOS INFLAMATÓRIOS
Os processos inflamatórios do laringe como em qualquer outro órgão podem ser divididos
classicamente em agudos e crônicos.
Existem portanto as laringites agudas e as crônicas mas, obviamente, não falaremos de todas
elas e sim apenas das mais importantes, isto é, aquelas que encontramos na nossa prática
clínica diária.
Agudas
Os principais tipos de laringites agudas sã laringite aguda catarral, laringite estridulosa
(pseudo-diftérica) e laringite diftérica.
A laringite catarral é um processo inflamatório agudo que instala-se sobre a mucosa da laringe
com repercussões principalmente a nível das CV.
Ocasiona congestão difusa desta mucosa com edema liso desta e diminuição da mobilidade do
aparelho fonador.
Pode ser desencadeada por inúmeros fatores como choques térmicos, uso abusivo da voz,
fumo, álcool, exposição a agentes químicos, resfriados comuns etc.
Sua instalação é rápida, (em questão de horas) provocando intensa rouquidão, sensação de
aperto ao nível da laringe, tosse espasmódica e expectoração abundante tipo mucosa.
Quando sobrevem infecção por bactérias esta expectoração torna-se amarelada e associa-se
com sintomas gerais de febre e mal estar.
Se tratar-se de etiologia virótica estes sintomas gerais apresentam-se já no inicio da doença.
No adulto o quadro é bastante fácil de controlar e não temos grandes riscos.
A sintomatologia regride dentro de 5 dias com tratamento adequado.
Este deve obrigatoriamente incluir repouso absoluto da voz (aproximadamente 5 dias),
antiinflamatórios e ou antibióticos.
As inalações com mentol devem ser prescritas com cuidado pois se usadas em excesso
ocasionam quadros graves de tosse por irritação local da endolaringe.
A laringoscopia indireta revela edema e congestão difusos do laringe e dificuldade de
coaptação das cordas vocais durante a fonação.
Na laringite diftérica o quadro clínico, apesar de semelhante, é muito mais assustador porque
sempre encontramos a criança já com diagnóstico firmado de angina diftérica. Isto quer dizer
que a laringite diftérica sempre é secundária a angina diftérica.
Atinge geralmente crianças na faixa etária de 1 a 6 anos de idade.
As pseudo-membranas ou placas diftéricas que inicialmente forma-se na faringe, descem e
invadem o laringe e, se nenhuma medida for tomada, terminam por ocluir a luz deste órgão
provocando a morte da criança por asfixia.
Existem muitos outros tipos de laringites agudas porém felizmente muitíssimo raras como a
herpética, da escarlatina, tífica, reumática, erisipelatosa e a flegmonosa.
Não discorreremos sobre elas pois como dissemos, são bastante raras e sempre associadas a
uma doença de etiologia conhecida como os seus próprios nomes indicam.
Crônicas
Podemos simplificar bastante dizendo apenas que as laringites crônicas são aquelas laringites
agudas que não foram adequadamente tratadas.
Em alguns casos isto não é verdade como veremos adiante.
Os tumores benígnos do laringe são bastante frequentes e falaremos apenas dos mais
encontrados na nossa prática clínica. São êles os pólipos, nódulos, papilomas, cistos e
granulomas.
Os pólipos nem sempre são considerados como verdadeiros tumores por alguns autores.
Alguns chegam a enquadrá-los como uma alteração de caráter inflamatório puro e enumeram
uma série de subtipos, que ao nosso ver, apenas aumentam a problemática em classificar as
doenças do laringe.
O pólipo geralmente apresenta-se como uma lesão pequena, de cor rósea e lisa no bordo de
uma das CV, podendo ser pediculado (a grande maioria) ou séssil .
Existem 2 tipos principais de pólipos. O angiomatoso e o fibroso.
O angiomatoso sempre é relacionado com inflamações agudas do laringe e pode regredir
espontaneamente sem cirurgia ao contrário do fibroso.
O principal sintoma é a rouquidão progressiva e ocasionalmente a voz bitonal quando o pólipo
tem tamanho suficiente para deslocar-se entre as CV.
Em pólipos muito grandes e pediculados há determinadas posições em que o paciente tem a
sua voz normal. Ao mudar de posição a voz torna-se rouca.
O tratamento consiste em microcirurgia da laringe sob anestesia geral e afastamento das
causas que originaram o pólipo como os processos inflamatórios crônicos, alérgicos e irritativos
das vias aéreas.
Os pólipos excepcionalmente tornam-se recidivantes após uma microcirurgia. Ocasionalmente
o pólipo apresenta-se nas duas CV.
Ao meu ver hoje a única alternativa possível é mudar radicalmente o padrão nutricional e
higiênico destas crianças, coisa que as autoridades envolvidas com o poder não sabem, não
querem, não fazem e nem deixam ninguem fazer.
Os cistos são lesões unilaterais, lisas, translúcidas com conteúdo seroso ou mucoso que
ocorrem sempre que tivermos obstrução de uma glândula dentro do laringe.
Os sintomas são semelhantes aos dos pólipos e o tratamento sempre é cirurgico.
TUMORES MALÍGNOS
O aspecto laringoscópico desta lesões varia muito mas, de forma geral, apresentam-se como
uma lesão saliente no terço médio da CV, superfície queratinizada e halo de hiperemia
circundante assemelhando-se muito a uma placa de leucoplasia com a qual sempre devemos
fazer o diagnóstico diferencial.
Este é o Ca. epidermóide inicial.
Com o passar do tempo podem infiltrar as comissuras anterior e posterior, fixar ou limitar os
movimentos das cordas, passando a acometer a CV do lado oposto quando o prognóstico
muda completamente para pior. Pode também ascender em direção à supraglote ou descer em
direção a infraglote.
Quando infiltra as 3 regiões do laringe também é conhecido como Ca. epidermóide transglótico
e aí sim o doente encontra-se em maus lençóis pois terminará certamente submetendo-se a
uma laringectomia total com perda total da capacidade fonatória.
Nunca é demais lembrar que rouquidão com mais de 20 dias em paciente do sexo masculino e
fumante é motivo suficiente para indicarmos minuncioso estudo do laringe através de
laringoscopia. Isto sim é fazer medicina preventiva. Barata, rápida, simples e eficaz.