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Resumo
Muitos parâmetros estão envolvidos ao se projetar e executar uma estrutura de concreto armado,
especialmente para exposição a ambientes altamente agressivos como zonas industriais e marítimas.
Antigamente priorizava-se o projeto estrutural e hoje, reconhece-se a importância da qualidade e
desempenho do concreto a ser utilizado, com vistas a aumentar a durabilidade da estrutura. Assim, cada
componente na confecção dos concretos vem sendo minuciosamente estudado, originando a incorporação
de outros materiais, de acordo com as particularidades de cada tipo de ambiente. Inserido neste contexto,
este trabalho apresenta diversas considerações em relação à seleção dos materiais e procedimentos
necessários para a confecção de concretos de alto desempenho, simulando-se a sua exposição em
ambientes marinhos. Para tanto, são realizados ensaios de caracterização dos concretos de traço 1:3,5 –
compressão e tração diametral e resistência à penetração de cloretos – migração dos íons pelo interior do
concreto, com análises da sua profundidade, de acordo com um cobrimento mínimo exigido. Verifica-se que
o tipo de cimento e a utilização de adições influenciam significativamente na penetração dos íons cloretos,
alterando o risco de corrosão da armadura e, conseqüentemente, da vida útil da estrutura de concreto
armado.
1 Introdução
Anteriormente a qualquer decisão a respeito da seleção de materiais a ser utilizado
na confecção dos concretos, deve-se avaliar o meio no qual a estrutura será inserida ou
as situações a que estarão sendo submetidas suas partes. É extremamente importante
avaliar as disponibilidades dos materiais e as instalações para sua elaboração e, então,
determinar a metodologia e o controle a ser estabelecido para atingir tal objetivo.
Nesta pesquisa, o enfoque é dado para a ação dos íons cloreto nas estruturas de
concreto armado, uma vez que, nos estudos relacionados à durabilidade das mesmas,
verifica-se que a corrosão das armaduras provocada pelos íons cloreto é um dos
problemas mais sérios e freqüentes que ocorrem em uma estrutura. Em algumas regiões
brasileiras, esse índice atinge 50% das principais patologias encontradas em estruturas
de concreto armado (Magalhães et al., 1989).
Assim, é extremamente importante executar um concreto de boa qualidade, que
proporcione uma barreira física à entrada desses agentes agressivos e uma barreira
química, cujo pH da solução dos poros do concreto seja mantido em torno de 12,5 e,
conseqüentemente, proteja a camada de passivação do aço. É importante verificar
também o tempo com que esses íons atingem a armadura, monitorar a velocidade da
corrosão (no caso em que esses íons já tenham atingido o aço) e assim, estimar a vida
útil das estruturas, uma vez que quanto maior o tempo de despassivação da armadura ou
menor a velocidade de corrosão, maior será a durabilidade.
Alguns fatores devem ser considerados para que uma certa quantidade de íons
cloreto chegue até a armadura na forma de cloretos livres e consiga desencadear o
processo de corrosão, como: tipo de cátion associado aos cloretos, presença de outro
ânion como o sulfato, tipo de cimento utilizado na produção do concreto, relação a/c,
carbonatação, umidade relativa, entre outros. Alguns desses parâmetros estão
diretamente relacionados às principais características do concreto: resistência e
permeabilidade. Daí a importância da seleção dos materiais, uma oportunidade para
utilizar bons materiais em sinergia e proporcionar grandes avanços em termos de
durabilidade.
Além da abordagem na seleção e caracterização dos materiais a serem utilizados na
confecção do concreto, alguns parâmetros desse material são estudados: resistência à
compressão axial, resistência à tração por compressão diametral, resistência à
penetração de cloretos e profundidade de penetração dos íons através do método
colorimétrico.
Como são cimentos de alta resistência inicial, devido a dosagens e moagens diferentes
de clínquer, proporciona rápida reutilização dos moldes e maior produtividade. O CP V
ARI RS diferencia do CP V ARI Plus pela presença de escória de alto forno em
substituição ao clínquer, sendo resistente a sulfatos.
Além das características físicas do cimento, como densidade específica, finura e
resistências à compressão, deve-se fazer uma análise química do material,
principalmente para verificar os teores de C3S, C2S, C3A e C4AF, obtidos pela fórmula de
Bogue. A composição potencial dos cimentos é apresentada na Tabela 1.
2.2 Agregados
Em concretos convencionais, é pequena a influência das propriedades dos agregados
na resistência do concreto, desde que estes apresentem boa qualidade. Porém,
apresentam uma influência significativa quando utilizados em concretos de alta resistência
ou concretos de elevado desempenho.
As principais características do agregado que devem ser analisadas são: massa
específica, textura, granulometria e resistência à abrasão, uma vez que é a fase
responsável pela estabilidade dimensional, massa unitária e módulo de elasticidade do
concreto. Um controle mais rigoroso deve ser realizado em relação a granulometria e
tamanho máximo do agregado, uma vez que a proposta é manter a relação a/c mais baixa
possível.
A forma das partículas e a textura superficial dos agregados, são características
importantes a considerar nas ligações entre a pasta e o agregado, pois influenciam na
trabalhabilidade e na compacidade. Quanto mais áspera a superfície do agregado, maior
é o intertravamento mecânico entre o agregado e a matriz de cimento.
Com relação à forma dos grãos, as partículas chatas e alongadas têm uma tendência
maior de reter água no instante em que o concreto está sendo adensado (exsudação
interna), tornando a zona de transição mais porosa e propensa à fissuração. Além disso,
as partículas angulosas exigem mais água de amassamento, pois apresentam áreas
superficiais maiores para mesmo volume, e necessitam de mais água de molhagem.
Metha e Monteiro (1994) afirmam que a distribuição granulométrica do agregado deve
ser adequada a ponto de proporcionar maior densidade de empacotamento das
partículas, proporcionando menor consumo de cimento para uma determinada
trabalhabilidade, ocasionando um menor custo da obra. Com isso, a composição de
agregados tem sido bastante utilizada, visando-se a obtenção de maior massa específica
ou menor índice de vazios. Considerando esse ponto de vista, a forma com a qual são
misturados os materiais e a coesão existente entre as partículas, são fatores influentes.
Neste estudo os agregados utilizados foram: areia de cava Itaporanga e pedrisco de
basalto britado, ambos encontrados na região de São Carlos.
Os resultados da caracterização do agregado miúdo foram:
Massa específica igual a 2,63 g/cm3 (NBR 9776/87);
Massa unitária no estado solto igual a 1,58 kg/dm3 (NBR 7251/82);
Teor de argilas em torrões igual a 0,1% (NBR 7218/87);
Teor de materiais pulverulentos igual a 0,75% (NBR 7219/87);
1o. Encontro Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto pré-moldado. 3
Teor de matéria orgânica é menor que 300 partes por milhão (NBR 7220/87).
1,90
1,85
1,80
1,75
1,70
1,65
1,60
1,55
1,50
0 10 20 30 40 50 60 70
Areia (%)
Figura 1 - Massa unitária das composições de agregados.
45% pedrisco, cuja massa unitária é máxima e, portanto, apresenta menor índice de
vazios.
2.3 Aditivos
Os aditivos superplastificantes atuam como redutores de água, ocasionando um
aumento de resistência mecânica e durabilidade, atuam como plastificante, melhorando a
trabalhabilidade (mistura, lançamento, adensamento e acabamento) para um mesmo
consumo de água e ainda reduzem a segregação. Segundo Metha e Monteiro (1994) os
aditivos superplastificantes são capazes de reduzir o conteúdo de água de três a quatro
vezes em relação aos aditivos plastificantes, sem que haja retardamento no tempo de
pega.
O mecanismo de ação de um aditivo à base de policarboxilato, utilizado nesta
pesquisa, produz o efeito de dispersão das partículas de cimento pela repulsão
eletrostática e também um efeito estérico, devido a sua constituição de longas cadeias
laterais, melhorando ainda mais a capacidade de dispersão das partículas de cimento se
distanciarem entre si.
A escolha do superplastificante é importante na confecção dos concretos, pois nem
todos os tipos e marcas reagem da mesma forma com um determinado cimento. Deve-se
estudar a compatibilidade entre uma determinada marca de superplastificante diretamente
através das características reológicas de uma pasta ou concreto, em relação ao cimento e
superplastificante.
Para reduzir a quantidade de água e manter a trabalhabilidade, o aditivo escolhido foi
o superplastificante Glenium 51, à base de éter carboxílico modificado, cuja eficiência e
compatibilidade com os dois tipos de cimentos utilizados foi verificada através do ensaio
de miniabatimento, ou ensaio de Kantro.
O abatimento foi medido aos 10 min, 30 min, 40 min e 60 min e os resultados são
apresentados nos gráficos da Figura 3. A variação dos teores do superplastificante foi
feita de acordo com o recomendado pelos fabricantes. Quanto maior o teor de aditivo,
maior a área de espalhamento e menor a perda de trabalhabilidade com o tempo. No
caso do cimento CP V ARI Plus com teor de 0,5% isso é bem visível. Aos 60 min de
ensaio, quase não houve espalhamento.
300 300
0,5%
250 0,7% 250
0,8%
Área (cm )
200 200
Área (cm )
2
1,0%
2
150 150
0,4%
100 (a) 100 0,5%
0,6%
50 50 0,7%
0,8%
0 0 (b)
10 20 30 40 50 60 10 20 30 40 50 60
Tempo (minutos) Tempo (minutos)
Figura 3 - Consistência das pastas com CP V ARI Plus (a) e CP V ARI RS (b).
que o tempo mínimo para o superplastificante começar a fazer efeito é de 5 min e sua
eficiência é maior quando adicionado diretamente na pasta de cimento, e não diluído em
água como normalmente é feito. Assim, verifica-se a compatibilidade do uso conjunto dos
cimentos utilizados, sílica ativa e superplastificante.
Após a mistura dos materiais: cimento, água, sílica em pasta, aditivo, areia e
pedrisco, realizou-se a moldagem dos corpos-de-prova cilíndricos de dimensões 5 cm x
10 cm para os ensaios de compressão axial, tração por compressão diametral e
penetração de cloretos e de 10 cm x 20 cm, para o ensaio de resistência à penetração de
cloretos.
Depois de 24 h, os corpos-de-prova foram desmoldados e colocados na câmara
úmida, com 95% ± 2% de umidade relativa a 23oC, permanecendo até a data de ensaio.
4 Metodologia
Os ensaios de resistência à compressão simples foram realizados segundo a NBR
5739/80 nos concretos de idades: 1, 3, 7, 28, 63 e 91 dias. Antes da realização do ensaio,
os corpos-de-prova foram retificados para obter uma distribuição uniforme da carga. Outra
propriedade mecânica analisada foi a resistência à tração por compressão diametral (NBR
7222/94) nos concretos à idade de 28 dias.
O ensaio para a determinação da resistência à penetração de cloretos dos concretos
foi realizado conforme a recomendação da ASTM C1202/97 nas idades de 7 e 28 dias.
Este ensaio baseia-se no princípio eletroquímico onde a amostra de concreto é colocada
entre duas células eletroquímicas e uma diferença de potencial de 60 V é aplicada no
período de 6 horas. Neste tempo são registradas as intensidades de corrente que se
desenvolvem através da amostra e, conseqüentemente, a carga passante, indicando o
risco de penetração dos íons cloreto. Na Tabela 4 é apresentado o risco de penetração
dos íons cloreto, baseando-se na carga passante, calculada a partir dos valores de
corrente obtidos no ensaio.
5 Resultados
Os resultados médios de resistência à compressão axial simples de cada concreto
estudado estão apresentados nas Figuras 4.
130 130
Resistência à compressão
(a) (b)
Resistência à compressão
120 120
110 110
100 100
90 90
(MPa)
(MPa)
80 80
70 SFS 10% 70
60 SFS 5%
SFS 5% 60
50 50 SFS 10%
40 Sem sílica
40 Sem sílica
30
20 30
20
0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 70 77 84 91
0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 70 77 84 91
Idade (dias) Idade (dias)
Figura 4 - Resistência à compressão dos concretos (a) com CP V ARI Plus e (b) com CP V ARI RS.
Carga passante
Carga passante
4000 4000
Idade 7 dias 3000 Idade 7 dias
3000
(C)
(C)
S
S
S
S
SF
SF
SF
SF
%
5%
5%
10
10
Concretos Concretos
Figura 5 - Carga passante dos concretos (a) com CP V ARI Plus e (b) com CP V ARI RS.
Tabela 6 - Frente de penetração dos íons cloreto dos concretos após ciclos de secagem e molhagem em
solução de 3,5% de NaCl.
Frente de penetração (mm)
Cimento Concretos
4 ciclos 8 ciclos 20 ciclos 60 ciclos
Referência 3,6 4,3 6,5 12,4
CP V ARI
Plus 5% SFS 2,7 3,0 5,2 10,1
10% SFS 2,1 2,2 3,9 6,0
Referência 3,1 4,4 6,3 10,6
CP V ARI
RS 5% SFS 2,5 3,1 4,9 8,6
10% SFS 2,0 2,8 3,4 5,4
Pela Tabela 6 verifica-se que a profundidade de penetração dos íons cloretos após 60 ciclos
foi muito pequena, atingindo uma profundidade de penetração máxima de 12,4 mm para o
concreto com CP V ARI Plus e sem sílica. Na Figura 6 são mostradas as frentes de penetração
dos íons cloretos após 60 ciclos.
1o. Encontro Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto pré-moldado. 9
Figura 6 - Corpos-de-prova fraturados após a aspersão de nitrato de prata: sem sílica, com 5% de SFS,
10% de SFS.
6 Conclusão
Como pôde ser visto, a seleção dos materiais é de extrema importância na confecção
dos concretos, principalmente a busca da sinergia entre os materiais a serem utilizados.
Cada material evidencia melhor uma propriedade, assim, a finalidade da obra e o meio
ambiente ao qual ela será inserida devem estar bem claros durante a fase de projeto.
Destaca-se a necessidade de analisar os materiais encontráveis na região a fim de
minimizar custos, especialmente rejeitos de outros setores que possam ser empregados
na construção civil, como é o caso da sílica ativa, frente a nova ordem de
desenvolvimento sustentável para preservação do meio ambiente.
O emprego do CP V ARI RS, cimento composto com 30% de escória de alto forno, e
a utilização da sílica de Fe-Si ou silício metálico no teor de 10% em substituição
volumétrica ao cimento melhoraram o desempenho dos concretos, quando submetidos a
ambientes marinhos. Atingiram as expectativas desejadas sendo adequados a serem
utilizados em ambientes que contenham grande quantidade de íons cloretos. Embora as
propriedades desses concretos tenham sido menores, quando comparadas aos concretos
com CP V ARI Plus, verificou-se maior durabilidade, demonstrando claramente que a
resistência mecânica não é fator determinante na qualidade do concreto em consideração
à durabilidade.
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