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A rápida transição da fecundidade na América Latina

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

A taxa de fecundidade total (TFT) da América Latina e Caribe (ALC) caiu de cerca de 6 filhos antes
de 1965, para 2 filhos no quinquênio 2015-20. Ou seja, passou de uma das maiores taxas do
mundo para um fecundidade abaixo do nível de reposição, em pouco mais de 50 anos. No
mesmo período, a transição da fecundidade no Brasil foi ainda mais rápida e profunda, pois
passou de mais de 6 filhos antes de 1965 para 1,7 filho por mulher no quinquênio 2015-20.

As transições da fecundidade na ALC e na Ásia são bem próximas. No caso da Europa, América
do Norte e Oceania a transição começou ainda no século XIX e ocorreu de maneira lenta. A
Oceania mantém taxas de fecundidade acima do nível de reposição, enquanto a América do
Norte e a Europa ficaram abaixo do nível de reposição na década de 1970. Já o continente
africano, que sempre teve taxas de fecundidade mais altas, começou a transição mais tarde e
segue um ritmo mais lento, estando no atual quinquênio com taxa acima de 4 filhos por mulher.

Para avaliar a situação da fecundidade na ALC, a demógrafa Suzana Cavenaghi, da ENCE/IBGE,


apresentou o trabalho “Reproductive health and rights: looking for the means to realize fertility
preferences” no seminário organizado pela Divisão de População da ONU, nos dias 01 e 02 de
novembro de 2018, em Nova Iorque, como parte do processo de revisão e avaliação do
Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD) e
sua contribuição para a continuação da Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento
Sustentável.
Segundo a autora, mesmo com a fecundidade abaixo do nível de reposição, em cada país um ou
mais das seguintes situações se aplicam para grandes proporções de mulheres 1) ter mais filhos
do que eles gostariam; 2) ter menos filhos do que gostariam; 3) ter filhos mais cedo do que
gostariam e/ou 4) ter filhos mais tarde do que gostariam.

Estas situações ocorrem apesar dos acordos assinados há quase 25 anos pelos países na CIPD do
Cairo, em 1994, visando conceder acesso universal à saúde e aos direitos reprodutivos. Os países
concordaram em dar aos casais os meios para implementar as preferências reprodutivas.

O gráfico abaixo mostra que nos 7 países em destaque (e com disponibilidade de dados) o nível
da fecundidade indesejada é alto em todos os países com destaque para o meio rural. El Salvador
é uma exceção e mesmo apresentando um TFT mais alta do que os demais países, apresentou
um nível de fecundidade indesejada mais baixo.

A apresentação aborda diversos outros aspectos da transição da fecundidade na ALC, e em sua


conclusão destaca a necessidade de uma educação sexual efetiva e a oferta universal de
métodos contraceptivos (e conceptivos) para que a população possa atingir suas preferências
reprodutivas e evitar a gravidez indesejada (por falta ou por excesso). O importante é que os
direitos sexuais e reprodutivos, assim como o Programa de Ação da CIPD do Cairo, sejam
respeitados em todos os níveis.

Referência:
Suzana Cavenaghi. Reproductive health and rights: looking for the means to realize fertility
preferences, Ence/Ibge, UN Population Division, 01 e 02 de novembro de 2018
https://www.un.org/en/development/desa/population/events/expert-
group/28/index.shtml?orgwork

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