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Agrupamento de Escolas André de Gouveia de Évora

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Escola Sede: Escola Secundária André de Gouveia

Ficha Informativa

Mitos e Símbolos em Mensagem

A unidade do poema é construída a partir de valores simbólicos que integram o passado


histórico transfigurado em mito e a invenção de um futuro. Os heróis míticos figuram sucessivamente:
a formação e a consolidação da nacionalidade; as descobertas e a expansão imperial; a esperança de
um novo império. Em cada uma das partes, que concorrem para a totalidade, se pode encontrar figuras
dominantes: Nun’Álvares, o Infante, D. Sebastião. Todavia, o que ressalta desse conjunto é que não
são os factos ou feitos gloriosos, empíricos, que criam o destino, mas o processo de mitificação que
lhes confere vida espiritual faz que concorram para uma conjunção de atitudes e valores.
Segundo Pessoa, o mito cria condições necessárias para que se possa dar concretização a uma
ideia. Daí o aproveitamento por parte do autor do mito do sebastianismo e do mito do Quinto Império.
Várias são as figuras humanas usadas por Pessoa como símbolos. A História é para ele uma
sucessão de símbolos e não uma sucessão de factos. A diferença entre símbolo e facto é que este não
se repete, enquanto aquele se repete, adquirindo novos valores, novas dimensões. Desta forma, ele
pretende mostrar-nos que o passado glorioso de Portugal não é um passado estático. É um passado
dinâmico, que interfere no presente e que permite construir o futuro.
Viriato – símbolo do heroísmo, do espírito de independência da raça lusitana.
D. Sebastião- trata-se de umas das personagens símbolo mais importantes da obra. Louco,
temerário esteve na origem do desastre de Alcácer –Quibir, mas foi também a sua louca temeridade
que serviu de exemplo aos vindouros. Louco é para pessoa o inspirado, o poeta, aquele que está para
além do comum da sociedade. «Sem a loucura que é o homem / mais que a besta sadia, / Cadáver
adiado que procria? »
D. Dinis- Simboliza a importância do sonho e da poesia na construção do mundo. Viu mais
longe, mais largo.
Mar- O espaço físico percorrido pelos portugueses adquire um significado simbólico na obra.
O que aqui está em causa não é o elemento material, mas o que ele representa, ao nível da conquista
humana em direção ao Conhecimento. O mar aponta para um dinamismo próprio- o das
transformações.
Pelo movimento das suas águas, ele possibilita a imagem de transitoriedade, indicando
realidades distintas. O vaivém das águas conduz à imagem da vida e da morte. O mar é, pois, um espaço
iniciático, pois trata-se do local onde o ser humano iniciou o seu percurso, visando obter uma
transformação quer no seu próprio interior, quer ao nível das experiências, entretanto adquiridas e
que lhe proporcionaram atingir uma outra dimensão na escala da sabedoria humana.
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O homem tem de vencer muitos perigos, necessitando de grande coragem. Para se prosseguir
nesta aventura é preciso vencer o medo e os obstáculos que o mar oferece. O mar foi um mistério a
desvendar. O mar contém o reflexo do céu e nele se espelha a divindade.
Terra- aparece como uma projeção do céu e representa o seu principio passivo pois funciona
como recetáculo da vontade de Deus. Mas a terra é também um espaço de recompensa; é o porto de
abrigo que espera os portugueses.
Símbolo passivo e feminino, simboliza a função maternal.
A Ilha - metonimicamente associada à terra, a ilha concentra, porém, de forma enfática, alguns
dos seus aspetos simbólicos.
Pelo seu difícil acesso, ela representa um centro espiritual e primordial. Com efeito, é
necessária sabedoria e passar por algumas provações (é o caso dos navegadores portugueses) para a
alcançar. Local paradisíaco, onde impera a paz. Surge como uma recompensa, como uma conquista,
como um prémio merecido, após as tormentas. A ilha significa a promessa de felicidade na terra.
Campo - "Os Campos" é o título atribuído por Fernando Pessoa a primeira parte dos poemas
incluídos em "Brasão". Este espaço adquire aqui a mesma simbologia da terra, enquanto princípio
passivo, que permite a ação. Encontramos igualmente, neste contexto, a ligação do campo à
dominante feminina, ou seja, trata-se de um espaço de vida, associado à fecundidade e ao alimento -
a obra realizada pelo povo português é, também, sinónimo de vida.

As Quinas - são o símbolo das chagas de Cristo, o Deus feito homem, o Filho eleito. Cristo é a
imagem do sofrimento, para atingir a redenção dos pecados humanos, isto é, é Aquele que eleva o seu
lado espiritual a uma dimensão que supera a condição humana, lutando por um Destino que se situa
para além da Compreensão dos homens e dos seus desejos vãos"'. No terceiro bloco da primeira parte,
intitulado "As Quinas", encontramos os poemas 'D. Duarte, Rei de Portugal', "D. Fernando, infante de
Portugal", "D. Pedro, Regente de Portugal", "D. João, Infante de Portugal" e "D. Sebastião, Rei de
Portugal". Todas estas figuras históricas são apresentadas como seres cumpridores de um desejo de
Deus, realizado através das suas próprias vidas. Elas unificam a "febre do Além' e são parcelas da
essência divina depositada na alma humana.
O Castelo- "O dos Castelos" é o título do primeiro poema da obra Mensagem. A simbologia do
castelo prende-se com a da casa, refúgio onde se realizam os desejos humanos. Pela proteção que
oferecem e por se situarem num local elevado, são um espaço de intimidade e de espiritualidade.
Ligam-se, por este facto, à transcendência Jerusalém celeste, cidade da Perfeição, é representada por
alguns pintores como um castelo, no cimo de uma montanha). Nesta obra, o castelo remete,
igualmente, para a própria fundação da nacionalidade (ligando-se ao símbolo do brasão). Assim, as
figuras históricas portuguesas têm um papel importante, não só ao nível da construção do país, como
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em relação à construção de uma obra divina, cujos indícios são dados aos homens através da ação dos
portugueses.
Coroa - Símbolo de perfeição e poder
O Timbre - "O Timbre" é o título do quinto bloco de poemas que constitui a primeira parte da
obra e que refere o Infante D. Henrique, D. João II e Afonso de Albuquerque.
Este elemento é o símbolo do poder e da posse legitima. Liga-se também à ideia de segredo.
O timbre é, pois, um sinal, uma marca, dada por Deus, que assegura ao ser humano a ascensão a
mundos superiores, através do conhecimento (o Infante D. Henrique surge como um ser marcado por
esse destino superior - ele "Tem aos pés o mar e as mortas eras" e é " O único imperador que tem
devera / 0 globo mundo em sua mão'). O poder é aquilo que une o ser humano a Deus, porque esse
poder é um reflexo da vontade divina.

O Grifo- simboliza a união de duas naturezas: a humana e a divina. Pela sua forma de leão, liga-
se à terra; pelas suas características de águia e pelo seu poder de ascensão, remete para o céu. É neste
sentido que este animal se associa à própria natureza de Cristo, que também apresenta esta dupla
união com a terra e o céu. A sua simbologia aponta para a construção de uma obra de carácter divino
realizada pelos humanos.
O Infante D. Henrique simboliza a sabedoria que permite a criação (ele é a cabeça do grifo); D.
João II e Afonso de Albuquerque (as asas do grifo) significam a conquista de um estádio além-humano,
pela sua dimensão espiritual e pelo conhecimento de que são detentores. As asas traduzem uma
dissociação em relação ao elemento terrestre e a união à força e inteligência puras, enquanto
emanações divinas.
A Nau- simboliza a viagem interior, as provações, o caminho a percorrer em direção ao
heroísmo. Está ligada à iniciação, que pressupõe a morte, para se dar lugar a um novo ser. Com efeito,
o indivíduo inicia uma nova fase da sua existência, na qual procura uma comunhão com o sagrado. Na
obra Mensagem, as naus portuguesas conduziram à aquisição do conhecimento de novos mundos e
de novas gentes, elevando os navegadores à condição de heróis. É esse estádio que Fernando Pessoa
deseja para os portugueses do século XX.

A Noite - 'Noite" é o título do primeiro poema incluído no bloco "Os Tempos" (na terceira parte
da obra). A noite é o símbolo da morte, da ausência de manifestações.

A noite implica a hipótese de renascimento, a reconquista de um espaço espiritual perdido, a


hipótese de ação dos portugueses, depois de um período de inação.
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Manhã- a simbologia da manhã encontra-se no penúltimo poema da Mensagem, no poema


intitulado "Antemanhã". Neste texto, é o Mostrengo que interpela os portugueses, no sentido de os
fazer acordar do seu sono letárgico, de modo a poderem reconquistar a glória perdida. Este período
do dia significa a harmonia entre os seres humanos. É um tempo de luz, de vida, de promessa e de
felicidade.
Nevoeiro (O Encoberto)- a simbologia do Encoberto (D. Sebastião) liga-se à do nevoeiro (aliás,
o titulo do último poema da obra Mensagem). A este associa-se a indefinição, a indiferenciação das
formas e, simultaneamente, a hipótese de revelação de novas realidades.
É esta promessa de uma nova existência que determina o valor simbólico do nevoeiro,
associado à esperança e à regeneração.
O Graal - de origem celta e anterior ao cristianismo, o Graal simboliza o dom da vida e a
espiritualidade. Na literatura medieval, aparece igualmente associado a Cristo, que morreu para salvar
a humanidade e cuja representação é o cálice utilizado na celebração da santa eucaristia, em que o
vinho simboliza o sangue derramado por Cristo, para salvação dos pecados humanos. A demanda do
Santo Graal, por outro lado, exigia pureza e persistência da parte daquele que a empreendia. Esta
procura corresponde, fundamentalmente, a um amadurecimento interior progressivo, com vista à
obtenção de um estado de perfeição cada vez maior, pois só a transformação do ser humano material
num ser espiritual lhe poderá proporcionar a visão do cálice sagrado.

Espada –é um símbolo de virtude e de bravura militar. O seu poder representa dois aspetos :
um construtivo, outro destrutivo. Destruindo o mal, a espada ajuda a estabelecer a ordem e a paz. Na
Mensagem a espada adquire mesmo um poder divino. É por seu intermédio que o herói cumpre a sua
missão, que é a vontade de Deus.

Padrão - para assinalar a descoberta e a conquista de um território usou-se um padrão. O


padrão, contudo, indica apenas uma pequena parte da realização. Simboliza o que se conseguiu fazer.

Cruz- símbolo de Cristo crucificado, a Segunda pessoa da santíssima Trindade. A cruz tem uma
orientação horizontal que simboliza a ciência e a sua visão dos problemas humanos, e uma orientação
vertical que simboliza a religião a mística.

Monstro- símbolo do guardião do tesouro, simboliza e as dificuldades, os obstáculos, os medos


que se tem que ultrapassar para se atingir o heroísmo.

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