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Brasil
Recursos Hídricos
(SINGREH). O lançamento deste documento adquire um signi-
ficado especial neste ano em que se comemora os 10 anos da
promulgação da Lei n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997 – a Lei
Nacional das Águas do Brasil.
Ministério do
Meio Ambiente
GEO Brasil
Recursos Hídricos
Componente da Série de Relatórios sobre o Estado e Perspectivas do
Meio Ambiente no Brasil
Resumo Executivo
República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente
Cláudio Langone
Secretário-Executivo
Ricardo Sanchez-Sosa
Diretor Regional para América Latina e Caribe
Cristina Montenegro
Coordenadora do Escritório do Brasil
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE PARA O MEIO AMBIENTE
GEO Brasil
Recursos Hídricos
Componente da Série de Relatórios sobre o Estado e Perspectivas do
Meio Ambiente no Brasil
Resumo Executivo
Projeto Gráfico:
TDA - Desenho & Arte Ltda.
www.tdabrasil.com.br
Isenção de responsabilidade.
O conteúdo desta publicação não reflete, necessariamente, as opiniões ou políticas
do PNUMA e do Governo Brasileiro.
ISBN: 000-00-00000-00-0
Coordenação Geral:
O Relatório sobre Desenvolvimento Humano Dificilmente haverá um eixo que demonstre com
(PNUD, 2006), ao ao estabelecer um paralelo entre as maior nitidez os impasses, os riscos e os ganhos dessa
oito Metas do Milênio aprovadas em 2000 e as neces- trajetória do que o uso dos recursos hídricos, sujeito
sidades de água e saneamento, mostrou cabalmente ao paradoxo de vivermos num planeta com 70,8% de
a indissociabilidade entre o cumprimento daquelas sua superfície coberta de água e termos disponíveis
metas e o trato adequado dos recursos hídricos. Lem- para consumo apenas 0,3% dos escassos 2,2% de
bra, sobre a meta de erradicar a pobreza extrema e a água doce existente.
fome, que uma em cada cinco pessoas nos países em
desenvolvimento não tem acesso à água de boa qua- Cabe a nós, brasileiros, uma tarefa expressiva.
lidade, as famílias mais carentes pagam até dez vezes Ocupando quase metade da área da América do Sul, o
mais pela água do que as famílias ricas e a crescente Brasil detém 60% da bacia amazônica, que escoa cerca
transferência de água da agricultura para a indústria de 1/5 do volume de água doce do mundo. Este é um
ameaça aumentar a pobreza rural. diferencial importante em tempos de escassez planetária
de água e traz consigo a responsabilidade de gestão es-
Estima-se, segundo essas avaliações, que até o ano tratégica desse patrimônio. E também responsabilidades
2025 o número de pessoas que vivem em países sub- de liderança e protagonismo no encaminhamento global
metidos a grande pressão sobre os recursos hídricos da problemática dos recursos hídricos.
passará dos cerca de 700 milhões atuais para mais
de três bilhões. Mais de 1,4 bilhões de pessoas vivem Dentro do próprio país vivemos o paradoxo de ter,
atualmente em bacias hidrográficas onde a utilização de um lado, a exuberante disponibilidade hídrica na
de água excede os níveis mínimos de reposição, con- Amazônia e, de outro lado, áreas críticas de indispo-
duzindo assim à dissecação dos rios e ao esgotamento nibilidade. A solução para enfrentar esses extremos
das águas subterrâneas. A insegurança da água e as passa pela integração dos instrumentos de atuação
alterações climáticas ameaçam aumentar, até 2080, pública, a articulação de todas as políticas de governo
de setenta e cinco para 125 milhões, o número de ligadas a essa matéria, o aperfeiçoamento dos meca-
pessoas subnutridas em todo o mundo. nismos de participação social na tomada de decisão,
na implementação de ações, na fiscalização e na ava- de um certo travamento do avanço sócio-ambiental nos
liação permanentes de todo o processo. processos produtivos, em prejuízo da prevalência do in-
teresse público na gestão dos recursos hídricos. Por outro
A gestão dos recursos hídricos no Brasil realizou lado, há a consciência de que vivenciamos um momen-
um salto de qualidade nos primeiros anos da década to importante da caminhada em direção aos cenários
de 1980, quando começou a prevalecer o enfoque de sustentáveis desejados para o país e para o planeta.
triplo direcionamento: inserção em um quadro de sus-
tentabilidade ambiental, social e econômica; a busca A construção de instrumentos de planejamento
de um marco regulatório e de espaços institucionais estratégico – entre os quais se inclui este GEO Brasil:
compatíveis; e a formulação de conceitos apropriados Recursos Hídricos - faz parte do esforço que busca
para descrever e operar os novos arranjos políticos e alcançar a situação de sustentabilidade que esses
pactos sociais correspondentes à progressiva capilari- cenários contemplam. É preciso aceitar, com cora-
zação da visão integrada, compartilhada e participati- gem e determinação, as tarefas que este relatório nos
va das políticas públicas. coloca. Uma delas, talvez a maior, diz respeito aos
compromissos que estão implícitos nesta publicação,
O Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recur- para além das escolhas técnicas. Trata-se do esforço
sos Hídricos – SINGREH (Constituição Federal de 1988 de mobilizar e capacitar a sociedade brasileira para
e Lei n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997) é um marco que ela assuma a sua cidadania com responsabilidade
dessa fase. Hoje ele articula os esforços multissetoriais sócio-ambiental. Esta é a sustentabilidade real, a que
para sua plena implementação e é um protagonista im- dá amparo e razão de ser às nossas esperanças.
portante, juntamente com o Sistema Nacional do Meio
Ambiente - SISNAMA, da mudança de compreensão da O Ministério do Meio Ambiente sente-se gratifi-
política sócio-ambiental, que é o cerne da atuação do cado, nas pessoas de sua titular e dos seus dirigentes,
Ministério do Meio Ambiente no atual governo, benefi- por ter integrado - juntamente com a Agência Nacio-
ciado pelos avanços alcançados em gestões anteriores nal de Águas e o Programa das Nações Unidas para
da Pasta e pela atuação dos segmentos ambientalistas e o Meio Ambiente – PNUMA, instituição internacional
sócio-ambientalistas brasileiros. que nos é muito cara – a parceria que gerou este do-
cumento, retrato honesto das nossas potencialidades,
As dificuldades a superar ainda são enormes e há dos obstáculos a superar e das alternativas de futuro
deficiências estruturais a serem corrigidas, a exemplo que podemos alcançar.
Marina Silva
Ministra de Estado do Meio Ambiente
Apresentação
O Brasil é, reconhecidamente, donatário de um A emergência da questão ambiental a partir dos
dos patrimônios hídricos mais importantes do pla- anos 70, a difusão dos princípios do desenvolvimento
neta. A magnitude desse patrimônio dá também a sustentável nos 80 e 90, a constatação do escassea-
medida da responsabilidade dos brasileiros quanto a mento progressivo do recurso água em escala plane-
sua conservação e uso sustentável, em nosso próprio tária, levaram o Brasil a realizar uma revisão completa
benefício, do equilíbrio ecológico planetário e da so- das estratégias e do aparelho governamental voltados
brevivência da humanidade. para a gestão integrada dos recursos hídricos.
Desde a década de 1930, no impulso de desen- São marcos dessa mudança fundamental: a inserção
volvimento industrial e de urbanização acelerada na Constituição Federal de 1988, dentre as competên-
daquele período, o Brasil tem buscado – a partir da cias da União, da obrigação de instituir-se um sistema
decretação do Código de Águas, de 1934, e da cria- nacional de gerenciamento de recursos hídricos; a re-
ção de uma agência federal, o Departamento Nacio- gulamentação e a institucionalização do próprio Siste-
nal de Águas e Energia Elétrica - DNAEE, encarre- ma Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
gada da sua aplicação – adotar modelos adequados – SINGREH, com seu arranjo administrativo, e seus ins-
de gestão racional dos seus recursos hídricos, con- trumentos de gestão (Lei 9.433/97); a criação da Agên-
dicionados, naturalmente, ao nível de desenvolvi- cia Nacional de Águas, entidade federal de implemen-
mento tecnológico prevalecente, à cultura político- tação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de
institucional, às prioridades sociais e aos padrões de coordenação do SINGREH e o lançamento, em 2006,
sustentabilidade internacionalmente aceitos nessa do Plano Nacional de Recursos Hídricos – que além de
área em cada época. atender ao compromisso internacional do Brasil com
as Metas do Milênio, com o estabelecimento de ações
O modelo praticado durante mais de sessenta e programas até o ano 2020, representa um importante
anos tornou-se claramente insuficiente diante do instrumento de governança.
estilo e do ritmo oscilante de desenvolvimento na-
cional nas últimas décadas do século passado, do A Agência Nacional de Águas, por seus dirigen-
descompasso entre a intensidade do uso recurso tes, sente-se amplamente recompensada do esforço
água e o volume do investimento em sua conserva- empregado na produção deste GEO BRASIL Recursos
ção, da ampliação de problemas antigos e do surgi- Hídricos, resultado de uma parceria bem sucedida
mento de novos problemas ambientais, antes pouco que envolveu a própria Agência, o Ministério do Meio
percebidos socialmente ou negligenciados em face Ambiente e o Programa das Nações Unidas para o
da abundância de recursos naturais pelo País. De Meio Ambiente – PNUMA.
qualquer modo, esse modelo centralizador e de es-
cassa participação social, plantou as bases da or- Este documento - especialmente oportuno ao se co-
ganização do Estado para a gestão dos recursos hí- memorar o 10º aniversário da Lei 9.433/97 - amplia a vi-
dricos, propiciou o desenvolvimento de uma massa sibilidade internacional da gestão dos recursos hídricos
crítica de profissionais de alta qualidade, consoli- no Brasil e, com suas análises e propostas, certamente
dou estruturas de capacitação e desenvolvimento contribuirá para a plena implantação do Sistema Nacio-
tecnológico e gerou um acervo de conhecimentos e nal de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, tornan-
de informações fundamentais para o planejamento do-o mais descentralizado e participativo, portanto mais
estratégico do setor. transparente, democrático e socialmente eficaz.
José Machado
Diretor-Presidente da Agência Nacional de Águas
Foto: Zig Koch/Ecotrópica
Apresentação
Um aspecto marcante do nosso tempo é a cres- tucionais necessárias para avançar na administração
cente pressão sobre ecossistemas como florestas, efetiva de seus recursos naturais.
áreas úmidas e solos, responsável por desencadear
mudanças amplas e sem precedentes nos sistemas de O foco na gestão de recursos hídricos - talvez o
suporte à vida da Terra. recurso mais vital e estratégico para um futuro susten-
tável – reflete a importância do tema, a magnitude dos
Soluções inovadoras são necessárias para de- recursos existentes e a complexidade da gestão destes
safios complexos. Uma das principais respostas do recursos num país como Brasil – seja pelo seu tamanho
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente continental, seja pelo fato de ser possuidor de um dos
(PNUMA) para tais desafios é o processo GEO (Global maiores patrimônios hídricos disponíveis no mundo.
Environmental Outlook). Trata-se de uma abordagem
abrangente e integrada de análise, registro e avaliação Outra característica inédita deste trabalho é que
das condições ambientais relacionadas a determina- ele vai além da análise do estado, da disponibilidade
do espaço geográfico ou tema, que permite operar e qualidade dos recursos hídricos, e inclui a constru-
nas mais variadas escalas, da municipal à global. ção de cenários que projetam as perspectivas futuras
para o ano 2020. O relatório aprofunda a análise das
Um aspecto central do GEO é o apoio a toma- questões de planejamento e instrumentos de gestão
dores de decisão ao redor do mundo, por meio do em uso no país; além disso, trata dos aspectos de
fornecimento da melhor, mais atualizada e confiável gestão participativa e instrumentos econômicos de
informação disponível, capaz de fomentar a elabora- maneira a oferecer recomendações para torná-los
ção de políticas públicas integradas e sustentáveis. O ferramentas cada vez mais efetivas na construção de
processo GEO, além de estar em constante evolução, políticas voltadas à conservação e manejo sustentável
é também uma plataforma adaptável e versátil, que das águas no Brasil.
pode ser aplicada às necessidades específicas de cada
unidade geográfica considerada. Este relatório considera efetivamente a importân-
cia da água em seu espectro mais amplo e como in-
O Brasil tem adotado o processo GEO, associando- sumo para inúmeras atividades econômicas, variando
se ao seu desenvolvimento, e utilizando seus resultados de suporte vital para a vasta biodiversidade do país
para construir uma base de conhecimento e capacida- até seu uso para melhorar a qualidade de vida e per-
de de gestão ambiental sustentável. É o que evidencia mitir o desenvolvimento em todos os níveis.
este novo informe, o GEOBrasil, que foi produzido pelo
Ministério do Meio Ambiente do Brasil, pela Agência Além de ser o primeiro país latino-americano a
Nacional de Água (ANA) e por um conjunto expressivo elaborar seu Plano Nacional de Recursos Hídricos, o
de instituições e especialistas brasileiros em parceria Brasil possui hoje instituições ambientais maduras e
com o escritório brasileiro do PNUMA e com o apoio uma capacidade instalada à altura dos desafios en-
técnico da Divisão de Avaliações e Alerta Antecipado frentados. Isso coloca o país em condições de avançar
do PNUMA (DEWA-LAC). sistematicamente no cumprimento das Metas do De-
senvolvimento do Milênio, particularmente aquelas
Este é o primeiro de uma série de relatórios temáti- fundamentais para o combate à pobreza e a amplia-
cos sobre o estado e as perspectivas do meio ambiente ção do acesso à água potável e ao saneamento.
no Brasil. Esta série dá seqüência e atualiza o trabalho
iniciado com o GEO Brasil I, lançado na Conferência A água não é somente um recurso crítico em ter-
Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável reali- mos de segurança humana e ambiental, mas oferece
zada em Johannesburgo, em 2002. também grandes oportunidades para novos avanços
em termos de desenvolvimento sustentável. Assim,
A opção de dar continuidade ao processo GEO na como no caso dos demais temas que serão abordados
forma de uma série de relatórios sobre o Brasil, com pela série GEO Brasil e consolidados no relatório GEO
foco em gestão ambiental, reconhece não apenas a Brasil II, espera-se, com este relatório, oferecer os sub-
diversidade e a extensão do país, mas também que o sídios para que o Brasil possa alcançar plenamente
Brasil reúne as condições políticas, técnicas e insti- suas necessidades de desenvolvimento sustentável.
Achim Steiner
Diretor Executivo do PNUMA
Foto: Arquivo TDA
Sumário
Apresentações 9
Introdução 17
II – Pressão e Impactos 29
III – Respostas 33
III.1 – Perspectiva histórica 33
III.2 – Mudança de paradigma: o SINGREH 37
IV – Cenários 52
V – Recomendações 55
Listas
Gráficos
1. Distribuição da água doce superficial no mundo 20
2. Distribuição da água doce superficial no continente americano 20
3. Superfície (1.000 km2) 22
4. População (mil habitantes) 22
5. Densidade demográfica (hab./km2) 22
6. Taxa de urbanização (%) 22
7. Vazões médias 23
8. Vazões específicas 23
9. Disponibilidades hídricas com permanência de 95% 23
10. Disponibilidades hídricas específicas, com permanência de 95% 23
11. Reservas subterrâneas explotáveis (m3/s) 23
12. Reservas subterrâneas explotáveis específicas (l/s/km2) 23
13. Retirada total de água (m3/s) 24
14. Retirada total de água – porcentagem da disponibilidade com 95% de garantia 24
15. Retirada total de água – porcentagem da vazão média 24
16. Retirada total de água por área (l/s km2) 24
17. Retirada total de água por habitante (l/hab./dia) 25
18. Distribuição dos usos da água nas regiões 26
19. Cobertura de serviços de saneamento básico nas áreas urbanas das regiões hidrográficas brasileiras 27
20. Carga de DBO5 (t DBO5/dia) 29
21. Vazões outorgadas por finalidade de uso 42
22. Investimentos em esgotamento sanitário até 2020 para alcance da meta de universalização
dos serviços por região hidrográfica 54
Mapa
1. As 12 regiões hidrográficas e a divisão político administrativa do Brasil 21
Boxes
1. Bacia Amazônica 30
2. Redes Hidrometereológia Nacional 44
3. Bases Territoriais e o “Mapa de Gestão” dos Recursos Hídricos 51
Tabelas
1. Fontes da matriz de geração de energia elétrica do Brasil 34
2. Investimentos em sistemas de água e esgotos até 2020, para alcance da meta de universalização
dos serviços por região hidrográfica (em milhões de reais) 53
Figuras
1. Estrutura geral do SINGREH 38
2. Níveis de agregação de informações do PNRH. (A) Brasil, (B) Divisão Hidrográfica Nacional e (C) 56
unidades de planejamento 41
Quadro
1. Instrumentos de gestão de recursos hídricos nas Unidades Federadas 45
Foto: Arquivo TDA
Introdução
O Brasil detém parte significativa dos recursos hídri- Hídricos se propõe a contribuir, dentro das possibilida-
cos do planeta, o que lhe confere uma responsabilidade des abertas pela metodologia GEO, para uma avaliação
especial no que diz respeito à conservação e adequado abrangente e integrada dos conceitos e fundamentos, do
manejo de tal patrimônio. aparato institucional e legal, bem como dos instrumentos
de gestão das águas que hoje integram o Sistema Nacional
Neste sentido, o País tem participado ativamente dos de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SINGREH).
mais importantes fóruns e iniciativas internacionais que
tratam dos recursos hídricos, tais como a universalização Este Resumo Executivo é parte integrante da publica-
do acesso à água, a conservação e gestão dos recursos ção GEO Brasil Recursos Hídricos e traz uma síntese das
frente aos problemas ambientais que os afetam, a impor- informações e conclusões apresentadas na versão com-
tância econômica e, principalmente, o papel desses recur- pleta, que, por sua vez, está disponível na página web
sos nas políticas de desenvolvimento. da Agência Nacional de Águas (www.ana.gov.br); por se
tratar de um material destinado a um público mais amplo
Além disso, o Brasil é signatário das mais importan- e não especializado, este Resumo apresenta, em alguns
tes convenções e declarações internacionais que tratam de seus capítulos, linguagem didática e exemplos adicio-
direta ou indiretamente da questão dos recursos hídricos, nais que não constam da versão completa.
dentre as quais a Declaração do Milênio, a Agenda 21, a
Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Bioló- Este volume da Série GEO Brasil sistematiza e apre-
gica, a Convenção de Ramsar, a Convenção-Quadro das senta um conjunto de informações e recomendações
Nações Unidas sobre Mudanças do Clima e a Conven- fundamentais para a formulação e implementação de
ção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. políticas públicas voltadas para o cumprimento das me-
tas estabelecidas em termos de acesso sustentável, con-
Em âmbito sul-americano, o Brasil tem buscado con- servação e gestão dos recursos hídricos do País, visando
tribuir para uma análise mais ampla dos problemas e de- aprimorar a governabilidade do sistema e a efetividade
safios da gestão dos recursos hídricos, visando uma efetiva de sua gestão.
articulação e integração em benefício mútuo dos países.
Entre outras funções, o GEO Brasil Recursos Hídricos
Tais compromissos se inserem nos princípios adota- terá o papel de oferecer insumos para as ações e políticas
dos pelo Brasil na sua Política Nacional de Recursos Hí- necessárias ao cumprimento das metas relativas às águas
dricos, que contempla o Sistema Nacional de Gerencia- dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, acordados
mento de Recursos Hídricos (SINGREH) e um conjunto por 189 países na Cúpula do Milênio das Nações Unidas,
de estratégias e instrumentos inovadores desenvolvidos ocorrida em setembro de 2000.
e adotados pelo País na última década, que oferecem à
sociedade e aos gestores públicos o estado da arte em Neste cenário, os recursos hídricos têm papel funda-
termos de gestão integrada e participativa dos recursos mental no desenvolvimento socioeconômico, de modo
hídricos nacionais. Insere-se nesse contexto o Plano Na- geral, e na busca do cumprimento de quatro dos oito
cional de Recursos Hídricos, aprovado em 2006. Objetivos da Cúpula do Milênio, de modo particular:
Objetivo 4 – reduzir a mortalidade infantil; Objetivo 5
Por sua vez, o Programa das Nações Unidas para o – melhorar a saúde materna; Objetivo 6 – combater o
Meio Ambiente – PNUMA conduz, desde 1995, um am- HIV/AIDS, a malária e outras doenças; e, Objetivo 7/
bicioso projeto global de avaliações ambientais denomi- Meta 10 – reduzir pela metade, até 2015, a proporção da
nado GEO (Global Environment Outlook) que enfocam população sem acesso permanente e sustentável a água
diversos escopos geográficos e temáticos. No Brasil, esse potável e esgotamento sanitário.
processo vem se organizando no âmbito do Sistema Na-
cional de Informações sobre o Meio Ambiente (SINIMA) Ao se constituir em uma referência sobre a questão
sob a forma de uma Série Temática que busca disponibi- dos recursos hídricos, o GEO Brasil Recursos Hídricos
lizar informações consistentes e análises integradas que certamente contribuirá para que o País possa aperfeiçoar
permitam o contínuo aperfeiçoamento dos processos de as políticas e instrumentos existentes, permitindo uma
gestão ambiental no País. gestão mais sustentável dos recursos hídricos e contri-
buindo para iniciativas regionais e globais que garantam
O GEO Brasil Recursos Hídricos vem se somar a esse a proteção desses recursos, tanto na esfera das agências
esforço, sendo o primeiro número da Série GEO Brasil. do Sistema das Nações Unidas, como no âmbito das re-
Ao longo de suas 264 páginas, o GEO Brasil Recursos lações bilaterais com outros países.
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
O Programa das Nações Unidas para o Meio Am- • Qual é o impacto disto? (impacto) - análise do
biente – PNUMA conduz, desde 1995, um projeto de efeito imediato e mediato, no ambiente e na qua-
avaliações ambientais integradas denominado GEO lidade das vidas humanas, decorrentes das pres-
(Global Environment Outlook). O processo GEO pode sões – mudanças em indicadores qualitativos e
ser aplicado a diferentes espaços geográficos, sejam quantitativos;
eles definidos por limites naturais - bioma, ecorregião, • Quais são as políticas adotadas para solucionar
continente etc. - ou determinados pela sociedade hu- os problemas ambientais? (respostas) - análise
mana – cidades, estados, países e regiões. das intervenções humanas - políticas, ações, pro-
Cientificamente embasado, o GEO adota o enfo- gramas, respostas adaptativas etc. - adotadas atu-
que estado-pressão-impacto-resposta (EPIR) seguido almente frente aos problemas enfrentados, suas
da projeção de cenários futuros e de propostas e re- causas e conseqüências;
comendações. Os componentes são interativos e, ao • O que acontecerá no futuro se não atuarmos
mesmo tempo, refletem a dinâmica das relações entre hoje? (cenários futuros) - projeção de possíveis
os ambientes naturais e a sociedade humana. futuros frente à realidade atual observada e aos
Com base nesta análise integrada da realidade é impactos decorrentes da mesma; e
que se efetua a etapa subseqüente do processo GEO: • O que fazer para reverter os problemas atuais?
a projeção de cenários, para definir e embasar deci- (propostas e recomendações) - propostas e reco-
sões de gestão ambiental e a formulação de políticas. mendações para que se atinja o futuro desejável.
O processo de desenvolvimento de cenários en-
volve a seleção do espaço temporal, a definição dos A etapa de conclusão de um ciclo do processo
temas, variáveis e indicadores a serem considerados, GEO compreende a construção de propostas e reco-
as análises das relações de causa-efeito e a constru- mendações que deverão obedecer aos princípios de
ção de modelos matemáticos e/ou narrativos. exeqüibilidade técnico-científica, política, econômica
Assim, perguntas orientam cada um dos compo- e sócio-cultural, e que buscam contribuir ao processo
nentes do processo de análise: de tomada de decisão.
É importante destacar que o processo GEO está
• O que está ocorrendo com o meio ambiente? sob contínuo monitoramento, avaliação e aper-
(estado) – analisa o estado do meio ambiente, feiçoamento. Assim, ao longo de sua década de apli-
abordando a situação qualitativa e quantitativa cação, foi aperfeiçoado e adaptado às diferentes reali-
atualmente observada em um espaço geográfico dades, escalas de análise e disponibilidade de dados
definido ou em um setor; e informações. A cada ciclo de aplicação o processo
• Por que está ocorrendo? (pressão) - análise dos fatores GEO acumula lições aprendidas e reforça a criação
antrópicos que alteram as condições naturais e equili- de capacidades para a gestão sustentável dos recursos
bradas do meio ambiente no espaço e no tempo; naturais e do desenvolvimento.
18
Resumo Executivo
1
Os quatro maiores paíeses são Rússia, Canadá, China e Estados Unidos
2
Fonte: Shiklomanov, 1988
19
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
Brasil
12% do Total
África
9%
Brasil
28% do Total
América Central
6%
Em termos de distribuição per capita, a vazão mé- te disponível ao longo de todo o ano, o que faz com
dia de água no Brasil é de aproximadamente 33 mil que a estimativa de disponibilidade hídrica efetiva no
metros cúbicos por habitante por ano (m3/hab/ano); Brasil seja menor: cerca de 92 mil m3/s. Mesmo assim,
este volume é 19 vezes superior ao piso estabelecido tal volume de recursos hídricos é suficiente para aten-
pela ONU, de 1.700 m3/hab/ano, abaixo do qual um der cerca de 57 vezes a demanda atual do País, e po-
país é considerado em situação de estresse hídrico. deria abastecer uma população de até 32 bilhões de
Nem toda a vazão média dos rios está efetivamen- pessoas, quase cinco vezes a população mundial3.
3
Tal número foi calculado a partir de um consumo médio de 250 litros por habitante por dia.
20
Resumo Executivo
RR
AP
AM
MA CE
PA RN
PB
PI
PE
AC AL
TO SE
RO
BA
MT
DF
GO
MG
ES
MS
SP RJ
PR
SC
RS
RH Amazônica RH Parnaíba
RH Atlântico Leste RH São Francisco
RH Atlântico Nordeste Ocidental RH Tocantins–Araguaia
RH Atlântico Nordeste Oriental RH Uruguai
RH Atlântico Sudeste RH Paraguai
RH Atlântico Sul RH Paraná
21
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
A maior região hidrográfica é a Amazônica, com Apesar da baixa densidade, a região Amazônica
3.870 km², enquanto a mais povoada é a do rio Para- apresenta uma taxa de urbanização de 67%, estando
ná, com população de quase 55 milhões de pessoas. próxima da média nacional, que é de 81% de urbaniza-
Pelo critério de densidade demográfica, contudo, a re- ção - um efeito da migração campo-cidade e do proces-
gião que apresenta maior índice é a Atlântico Sudeste, so de industrialização registrado nos últimos 60 anos.
com 118 habitantes por km²; no extremo oposto está Os gráficos a seguir demonstram as características
a região Amazônica, com apenas 2 hab/km². de cada região hidrográfica:
Amazônica Amazônica
Tocantins - Araguaia Tocantins - Araguaia
A. Nord. Ocidental A. Nord. Ocidental
Parnaíba Parnaíba
A. Nord. Oriental A. Nord. Oriental
São Francisco São Francisco
Atlântico Leste Atlântico Leste
Atlântico Sudeste Atlântico Sudeste
Atlântico Sul Atlântico Sul
Uruguai Uruguai
Paraná Paraná
Paraguai Paraguai
0 1.000 2.000 3.000 4.000 0 20 40 60 80 100 120
Amazônica Amazônica
Tocantins - Araguaia Tocantins - Araguaia
A. Nord. Ocidental A. Nord. Ocidental
Parnaíba Parnaíba
A. Nord. Oriental A. Nord. Oriental
São Francisco São Francisco
Atlântico Leste Atlântico Leste
Atlântico Sudeste Atlântico Sudeste
Atlântico Sul Atlântico Sul
Uruguai Uruguai
Paraná Paraná
Paraguai Paraguai
0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 0% 20% 40% 60% 80% 100%
Em termos de disponibilidade hídrica superfi- gião Parnaíba, com 753 m³/s. No caso das reservas
cial, mais uma vez se destaca a região hidrográfica subterrâneas explotáveis específicas, a região com
Amazônica, com vazão média de quase 132 mil maior disponibilidade hídrica é Uruguai, com 1,85
m³/s; em contraste, aparece com menor vazão a re- l/s/km2.
22
Resumo Executivo
Gráfico 7: Vazões médias (1.000 m3/s) Gráfico 10: Disponibilidades hídricas específicas5 (m3/s)
Amazônica Amazônica
Tocantins - Araguaia Tocantins - Araguaia
A. Nord. Ocidental A. Nord. Ocidental
Parnaíba Parnaíba
A. Nord. Oriental A. Nord. Oriental
São Francisco São Francisco
Atlântico Leste Atlântico Leste
Atlântico Sudeste Atlântico Sudeste
Atlântico Sul Atlântico Sul
Uruguai Uruguai
Paraná Paraná
Paraguai Paraguai
0 20 40 60 80 100 120 140 0 2 4 6 8 10
Gráfico 8: Vazões específicas (l/s/km2) Gráfico 11: Reservas subterrâneas explotáveis (m3/s)
Amazônica
Amazônica Tocantins - Araguaia
Tocantins - Araguaia A. Nord. Ocidental
A. Nord. Ocidental Parnaíba
Parnaíba A. Nord. Oriental
A. Nord. Oriental São Francisco
São Francisco Atlântico Leste
Atlântico Leste Atlântico Sudeste
Atlântico Sudeste Atlântico Sul
Atlântico Sul Uruguai
Uruguai Paraná
Paraná Paraguai
Paraguai 0 500 1000 1500 2000
0 10 20 30 40
Gráfico 9: Disponibilidades hídricas 4 (m3/s) Gráfico 12: Reservas subterrâneas explotáveis específicas
(l/s/km2)
Amazônica Amazônica
Tocantins - Araguaia Tocantins - Araguaia
A. Nord. Ocidental A. Nord. Ocidental
Parnaíba Parnaíba
A. Nord. Oriental A. Nord. Oriental
São Francisco São Francisco
Atlântico Leste Atlântico Leste
Atlântico Sudeste Atlântico Sudeste
Atlântico Sul Atlântico Sul
Uruguai Uruguai
Paraná Paraná
Paraguai Paraguai
0 10.000 20.000 30.000 40.000 0 0,5 1,0 1,5 2,0
4
Com garantia de 95% do tempo
5
Com garantia de 95% do tempo
23
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
Gráfico 13: Retirada total de água (m3/s) Gráfico 15: Retirada total de água (% da vazão média)
Amazônica Amazônica
Tocantins - Araguaia Tocantins - Araguaia
A. Nord. Ocidental A. Nord. Ocidental
Parnaíba Parnaíba
A. Nord. Oriental A. Nord. Oriental
São Francisco São Francisco
Atlântico Leste Atlântico Leste
Atlântico Sudeste Atlântico Sudeste
Atlântico Sul Atlântico Sul
Uruguai Uruguai
Paraná Paraná
Paraguai Paraguai
0 100 200 300 400 500 0% 5% 10% 15% 20% 25%
Amazônica Amazônica
Tocantins - Araguaia Tocantins - Araguaia
A. Nord. Ocidental A. Nord. Ocidental
Parnaíba Parnaíba
A. Nord. Oriental A. Nord. Oriental
São Francisco São Francisco
Atlântico Leste Atlântico Leste
Atlântico Sudeste Atlântico Sudeste
Atlântico Sul Atlântico Sul
Uruguai Uruguai
Paraná Paraná
Paraguai Paraguai
0% 100% 200% 300% 400% 500% 600% 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
24
Resumo Executivo
Gráfico 17: Retirada total de água por habitante (l/hab/dia) econômico do agro-negócio no Brasil (ver Pressão e
Impactos). Em segundo lugar aparece o consumo hu-
Amazônica mano urbano, com 27%, ficando o uso industrial em
Tocantins - Araguaia terceiro, com 18% do total.
A. Nord. Ocidental
Parnaíba
Na distribuição do uso pelas regiões, a do Paraná
A. Nord. Oriental (que consome mais) supera as demais em todos os
São Francisco
tipos de uso, com exceção da irrigação, onde se des-
Atlântico Leste
Atlântico Sudeste tacam as regiões do Atlântico Sul e do Uruguai, espe-
Atlântico Sul cialmente devido ao arroz irrigado por inundação. A
Uruguai
Paraná região do Atlântico Sudeste apresenta usos relevantes
Paraguai no abastecimento humano urbano e industrial, devido
0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 a suas grandes metrópoles. Atlântico Sudeste e Para-
ná, por sinal, são as únicas regiões em que a indústria
baseada no uso da água prepondera sobre as demais
A distribuição do uso da água por tipo de deman- atividades econômicas, com a irrigação apresentando
da indica que, na média nacional, o consumo huma- intensidade próxima. A região do Atlântico Nordeste
no (urbano e rural) equivale a pouco menos de 1/3 do Ocidental apresenta um considerável uso humano,
total, enquanto o consumo para atividades produtivas indicando um menor nível das atividades econômicas
(irrigação, industrial e criação animal) responde pelo usuárias de água. Por sua vez, a região do Paraguai é
restante. O maior consumo brasileiro está na irriga- a única em que a atividade de criação animal se so-
ção, que utiliza 46% do total de recursos hídricos bressai em relação aos demais, indicando a força da
retirados; a cifra é coerente com o destacado papel agropecuária local.
25
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
100%
2% 3% 2%
5% 5%
7%
12%
11%
17%
90%
27%
29% 23%
24% 80%
11% 46%
33%
70%
5%
60%
47%
26%
64% 60%
16% 71%
29%
33%
8%
39% 50%
2%
8% 22%
6% 3% 86% 40%
7% 2%
7% 9%
4% 3%
30%
2%
4% 4%
10%
50% 46%
18% 10%
14% 3%
1%
15%
0%
Amazônica
Tocantins - Araguaia
A. Nord. Ocidental
Parnaíba
A. Nord. Oriental
São Francisco
Atlântico Leste
Atlântico Sudeste
Atlântico Sul
Uruguai
Paraná
Paraguai
26
Resumo Executivo
O significativo consumo humano urbano na mé- esgotos, entretanto, não atinge o mesmo patamar, fi-
dia nacional está relacionado à alta taxa de urbaniza- cando em 54% dos domicílios na média brasileira.
ção e ao percentual de cobertura do abastecimento As regiões com maiores coberturas - Paraná e Atlânti-
de água - que atinge 89% na média nacional e supe- co Sudeste - não atingem o índice de 70%, enquanto
ra os 90% nas regiões mais urbanizadas do Paraná, no outro extremo, a região do Paranaíba, oferece 4%
São Francisco, Uruguai e Atlântico Sul. A coleta de de coleta de esgoto.
Gráfico 19: Cobertura de serviços de saneamento básico nas áreas urbanas das regiões hidrográficas brasileiras
Amazônica
Tocantins–Araguaia
A. Nord. Ocidental
Parnaíba
A. Nord. Oriental
São Francisco
Atlântico Leste
Atlântico Sudeste
Atlântico Sul
Uruguai
Paraná
Paraguai
O Brasil encontra-se em situação bastante favorá- Atlântico Leste, Parnaíba e São Francisco. Na porção
vel em relação ao seu patrimônio hídrico, que poderá semi-árida dessas regiões, onde o fenômeno da seca
se tornar uma grande vantagem competitiva interna- tem repercussões mais graves, a água é um fator críti-
cional caso venha a ser bem gerenciado. co para as populações locais. A presença dos açudes
Apesar da grande disponibilidade, a distribuição para o armazenamento de água e regularização das
dos recursos hídricos no Brasil é bastante desigual vazões dos rios intermitentes é fundamental e estraté-
em termos geográficos e populacionais. Embora a gica para o abastecimento humano, dessedentação de
Amazônia possua 74% da disponibilidade de água, a animais, irrigação e demais usos.
Bacia Hidrográfica Amazônica é habitada por menos Quanto ao uso, a maior parte dos recursos hídri-
de 5% da população brasileira, o que explica a baixa cos empregados no Brasil vão para atividades pro-
média de utilização do recurso. dutivas, com destaque para a irrigação. Por causa da
Oferta e consumo apresentam relativo equilíbrio boa oferta desse recurso no Centro-Oeste, por exem-
nas demais regiões com exceção da região Nordes- plo, a região transformou-se em importante frontei-
te, que apresenta um quadro de insuficiência quan- ra agrícola do País. Nas regiões Sudeste e Sul, onde
titativa no semi-árido. Essa insuficiência se faz sentir se encontram as maiores concentrações urbanas e
especialmente na região hidrográfica do Atlântico industriais brasileiras, as deficiências encontradas
Nordeste Oriental, única considerada em situação são, sobretudo, de qualidade das águas, como de-
crítica quanto ao balanço hídrico. Em algumas bacias monstrado no capítulo Pressão e Impactos a seguir.
da região Atlântico Nordeste Oriental são registradas Essa questão está relacionada, entre outros fatores,
disponibilidades menores que 500 m3/hab/ano, o que ao perfil do saneamento básico; assim como muitos
indica um quadro de escassez.6 Destacam-se ainda, países, o Brasil está mais próximo de atingir a meta
na condição de regiões com pouca disponibilidade de universalização do abastecimento de água que da
relativa, algumas bacias das regiões hidrográficas coleta de esgotos.
6
Segundo classificação da ONU, a situação de escassez se configura nos casos em que a vazão é inferior a 1.000 m3/ha/ano.
27
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
7
Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
28
Resumo Executivo
Amazônica
Tocantins - Araguaia
A. Nord. Ocidental
Parnaíba
A. Nord. Oriental
São Francisco
Atlântico Leste
Atlântico Sudeste
Atlântico Sul
Uruguai
Paraná
Paraguai
0 500 1.000 1.500 2.000 2.500
8
Isto significa que, para oxidar a matéria orgânica presente nos esgotos, são necessários, diariamente, 6.392 toneladas de oxi-
gênio presente nos corpos d’ água brasileiros.
29
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
Recursos Hídricos na Bacia do Alto Paraguai O Cerrado possui relevo plano que facilita a expansão
e no Pantanal de novas fronteiras agrícolas, em especial de cultu-
A bacia do Alto Paraguai abriga a maior área úmida ras mecanizadas como soja e milho. Estes cultivos se
continental do Planeta, caracterizada pelo represamen- apóiam na larga utilização das reservas hídricas regio-
to e pelo grande tempo de retenção das águas. O bio- nais; por ocasião das estiagens sazonais, essa sobre-
ma, com biodiversidade singular, é considerado frágil exploração tem resultado em conflitos de uso com o
e bastante dependente das alterações nos fluxos e na abastecimento público de água nas cidades da região.
qualidade das águas afluentes à planície pantaneira. Por outro lado, quando ocorrem chuvas intensas, sur-
A região oferece grande potencial paisagístico e turís- gem problemas de assoreamento e contaminação por
tico, mas sua economia está baseada na agropecuária agro-químicos, agravados pela retirada sistemática da
extensiva, principalmente a cultura de grãos e a pecu- vegetação ciliar. Há ainda problemas de poluição ur-
ária de corte (mais de 30 milhões de cabeças), o que bana, especialmente em cidades localizadas em di-
determina a demanda sobre os recursos hídricos. Os visores de águas e nascentes; como a região está a
principais problemas apontados são o impacto da ex- montante dos principais rios brasileiros, os problemas
pansão da fronteira agrícola no planalto nas nascentes mencionados podem impactar outras regiões do País.
dos rios que formam a bacia do Alto Paraguai, da po-
luição doméstica e o garimpo, a remoção da vegetação Recursos Hídricos no Semi-Árido Brasileiro
ciliar e a pisoteamento das margens pelo gado e as alte- Com precipitação anual média na casa dos 900
rações na dinâmica quali-quantitativa das águas sobre mm, chegando próxima a 400 mm em alguns casos, o
os ecossistemas pantaneiros. Futuros projetos de infra- semi-árido brasileiro apresenta uma rede hidrográfica
estrutura como diques, um pólo siderúrgico e obras com rios intermitentes no interior, que assumem corpo
para a Hidrovia do Alto Paraguai exigirão uma gestão e volume já próximos de seu deságüe no litoral. São li-
mais aprofundada dos recursos hídricos da região. mitadas as possibilidades de extração de águas subterrâ-
neas, bem como armazenamento em açudes e reserva-
Recursos Hídricos nos Cerrados do Brasil Central tórios, neste caso pela elevada evaporação, que supera
A área do bioma Cerrado, que ocupa grande parte os 2.000 mm anuais. A exceção é o rio São Francisco,
do planalto central do território brasileiro, é caracte- com uma bacia de contribuição de 638.000 km²; o São
rizada por apresentar precipitação média de 1.660 Francisco atravessa toda a região e atinge uma vazão da
mm anuais, sujeita a variações sazonais importantes ordem de 1.850 m³/s, permitindo múltiplos usos, como
(período pronunciado de chuvas intensas e estiagens irrigação e geração de energia. Apesar das adversidades,
severas, com 4 a 5 meses de duração) o que gera re- persiste uma população de quase 48 milhões de habi-
lativa baixa na disponibilidade de recursos hídricos. tantes na região, 1/3 dos quais espalhados na zona rural.
30
Resumo Executivo
Os problemas dos recursos hídricos no semi-árido brasi- já citadas e recorrentes na malha urbana do país. Essas
leiro exigem o gerenciamento da oferta, insuficiente para regiões apresentam, todavia, algumas peculiaridades,
imprimir dinâmica à economia regional, bem como da como o elevado fluxo sazonal nos finais de semana e
demanda dispersa, que dificulta o ordenamento dos ser- períodos de férias, que multiplica em até 20 vezes a
viços públicos como o saneamento básico. população residente; tal sazonalidade implica em al-
ternância de ociosidade e sobrecarga no sistema. As
Recursos Hídricos no Litoral e Zona da Mata do repercussões são conhecidas: perda de potencial turís-
Nordeste Brasileiro tico, cheias urbanas e insuficiências no atendimento a
A situação do semi-árido leva, em primeiro lugar, à serviços de abastecimento de água (colapso freqüente
migração da população da zona rural para as grandes nas temporadas), coleta e tratamento dos esgotos do-
regiões metropolitanas do próprio Nordeste, resultando mésticos (línguas negras e odor nas praias), coleta e
em sérios problemas ambientais urbanos, associados à disposição de resíduos sólidos, dentre outros.
concentração de pobreza em favelas e ocupações ir-
regulares, notadamente em áreas de risco, tais como Recursos Hídricos afetados por Atividades Agropecuá-
alagados, encostas, várzeas e margens de rios e cór- rias Extensivas e em Áreas Intensivas em Agro-negócios
regos. As disponibilidades hídricas ficam comprometi- Graças às características hidrometeorológicas fa-
das pela poluição urbana e industrial, bem como por voráveis e solos férteis, os estados do Sul e Sudeste
cheias periódicas, amplificadas pela impermeabiliza- contam com uma agricultura dinâmica, moderna e
ção crescente do solo urbano. Tal quadro compromete diversificada: grãos, em geral (soja, milho e trigo),
a balneabilidade de certas praias e impacta no poten- café, cana-de-açúcar, algodão e fruticultura. O fator
cial turístico do litoral nordestino, uma alternativa im- determinante dos problemas de recursos hídricos
portante para o desenvolvimento da região. observados na zona rural do Sul e Sudeste é o esgo-
tamento das fronteiras de expansão agrícola dessas
Recursos Hídricos em Aglomerados Urbanos e Regiões regiões. Predominam os impactos de plantios até a
Metropolitanas beira dos cursos d’água, com remoção quase comple-
As regiões Sul e Sudeste contam com boas disponi- ta da cobertura vegetal, inclusive da mata de preser-
bilidades de água, razoavelmente bem distribuídas ao vação ciliar. Há elevada mecanização, uso intensivo
longo do ano. Apesar disso, enfrentam problemas de- de agro-químicos (pesticidas e fertilizantes) e colhei-
correntes das características do processo de rápida ur- tas sazonais sucessivas, sem que sejam considerados
banização do Brasil. Estima-se que as cidades brasileiras devidamente os impactos ambientais, que incluem:
aumentaram sua população em 110 milhões de pessoas perdas anuais de até 15 toneladas por hectare das
nos últimos 60 anos, sendo que a metade dos moradores camadas superficiais dos solos, com o conseqüente
urbanos está concentrada em apenas 23 regiões metro- assoreamento dos cursos d’água; poluição das águas
politanas; estes aglomerados urbanos tendem a manter por agro-químicos e dejetos de animais in natura. O
seus impactos sobre os recursos hídricos mesmo no resultado é a elevação dos custos do aproveitamento
atual cenário, de redução da taxa anual de crescimento dos recursos hídricos, para abastecimento doméstico
urbano do País. As pressões caracterizam-se pela sobre- ou insumo industrial.
posição de problemas como poluição doméstica e in-
dustrial; ocupação irregular de encostas, alagados, vár- Gerenciamento de Águas Subterrâneas
zeas e beiras de rios; e enchentes em cidades de grande Estima-se que o Brasil possua uma disponibilidade
e médio porte. O resultado é o comprometimento dos hídrica subterrânea explotável da ordem de 4.000 m3/s,
mananciais de abastecimento, com escassez de disponi- alimentando a existência de mais de 400 mil poços
bilidade hídrica em qualidade adequada. que suprem diversas finalidades como abastecimen-
to público, irrigação, indústria e lazer. Mais de 15%
Recursos Hídricos na Zona Costeira do Sul dos domicílios brasileiros utilizam exclusivamente
e do Sudeste água subterrânea para seu suprimento, permitindo
Os problemas da zona costeira do Sul e do Sudeste o atendimento de comunidades pobres ou distantes
reproduzem as deficiências de infra-estrutura sanitária das redes de abastecimento público em geral, sendo
31
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
estratégica para as comunidades rurais do semi-árido e contextos próprios, não permite identificar todas as
nordestino. Na porção Centro-Sul do Brasil localiza- situações críticas, pressões e impactos que ocorrem.
se o Sistema Aqüífero Guarani, uma das maiores re- Esta constatação permite concluir que a divisão
servas de água doce do planeta; o aqüífero extrapola apresentada, em regiões hidrográficas, embora consi-
as fronteiras nacionais e alcança parte dos territórios ga retratar espacialmente a variabilidade hidrológica
do Paraguai, Uruguai e Argentina. A qualidade das do país, não é suficiente para o enfrentamento dos
águas subterrâneas tem sido comprometida signifi- problemas de gestão de recursos hídricos, dadas as
cativamente em alguns aqüíferos pelas atividades an- suas extensas dimensões geográficas e a diversidade
trópicas nas últimas décadas; há também carência de de situações específicas e desafios que encerram.
estudos sistemáticos sobre os aqüíferos em contextos Sendo assim, estão sendo traçados outros recortes
regionais e sobre a qualidade química e microbioló- espaciais para unidades de planejamento e para a
gica de suas águas. gestão dos recursos hídricos, inclusive, com variações
O panorama geral descrito anteriormente indica geográficas que contemplem, para além das variáveis
que existem grandes contrastes entre as regiões, em hidrológicas, a tipologia dos problemas a enfrentar,
termos de balanços hídricos, tipos de usos de água e os aspectos ambientais, a dinâmica socioeconômica
problemas constatados. Vale observar, porém, que a e fatores de cunho político e institucional, todos inter-
divisão do País em extensas regiões hidrográficas que venientes sobre a gestão dos recursos hídricos. Estes
agregam várias bacias e sub-bacias, com características temas serão tratados no capítulo Respostas, a seguir.
32
Resumo Executivo
33
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
Capacidade Instalada.
Tipo %
N° de usinas (kW)
34
Resumo Executivo
Apesar da predominância do uso das águas para a controle social. Sob essas condições, pode-se prever
geração de eletricidade, tal opção gera benefícios in- maiores incentivos à investimentos privados, notada-
clusive para outros setores usuários, como a formação mente em função da melhor regulamentação do setor
de recursos humanos capacitados, produção de co- e garantias asseguradas mediante contratos de con-
nhecimentos científicos e tecnológicos (especialmente cessão, acrescidas de estudos de viabilidade técnica,
a sistematização de dados e informações hidrológicas econômica e financeira.
sobre as principais bacias brasileiras) e a regulação de
caudais e níveis de grandes rios, decorrente da insta- Irrigação
lação dos reservatórios das hidrelétricas. Em 1979 é instituída a Política Nacional de Irriga-
ção, através da Lei nº 6.662, que serve de base para
Saneamento o Programa Nacional de Irrigação e para o Programa
No setor de saneamento, estimava-se, em 1967, de Irrigação do Nordeste. As iniciativas, tanto gover-
que 45% da população urbana brasileira era atendida namentais como privadas, que já haviam permitido a
por sistema de abastecimento de água, enquanto ape- duplicação da área de agricultura irrigada na década
nas 24% possuía acesso à rede coletora de esgotos. de 1960, resultam em nova duplicação nos anos 1980,
Numa tentativa de reverter esse quadro, o governo quando a área irrigada atinge cerca de 1.600.000 ha –
federal institui em 1970 o Plano Nacional de Sanea- um total ainda modesto para as necessidades do País.
mento (PLANASA), responsável por mudanças signifi- Nessa primeira fase, as ações ocorrem de modo
cativas na prestação dos serviços de saneamento. desarticulado, sem logística produtiva e de transpor-
O Plano destina recursos para o setor e fortale- te, bem como sem assistência técnica e políticas de
ce as companhias estaduais públicas de saneamento; comercialização da produção irrigada. Tais avanços
tais empresas passam a conviver com entidades mu- só ocorrerão mais tarde, num contexto de forte parti-
nicipais que antes se encarregavam do abastecimento cipação privada, voltada ao abastecimento interno e à
de água e coleta de esgoto, por meio de contratos de exportação de produtos agrícolas.
concessão, o que faz surgir uma questão de titularida-
de sobre a prestação desse tipo de serviço que persiste Navegação Interior
até os dias de hoje. Embora seja o meio de transporte de menor custo
Entre outras conquistas, o PLANASA possibilita o operacional, o setor da navegação interior é, entre os
domínio sobre sistemas integrados em algumas regi- vários setores, o que menos se desenvolve. Isso ocorre
ões metropolitanas; o planejamento do uso de manan- parte em função de algumas condições geográficas e
ciais em escala regional, com o controle da qualidade topográficas desfavoráveis, parte pela forte concorrên-
da água; a cobrança dos serviços prestados com base cia imposta pela rápida expansão da malha rodoviária
em critérios normalizados; e o desenvolvimento de que se verifica durante boa parte do século XX. Há
tecnologias de controle de perdas. Apesar dos avan- também ocorrências de falta de articulação interse-
ços do Plano e do aumento da cobertura (89% dos torial, como a construção de barragens em cursos de
domicílios com abastecimento de água e 54% com água navegáveis sem a correspondente implantação
coleta de esgoto), o Brasil ainda apresenta um passi- de estruturas de transposição dos desníveis.
vo ambiental relacionado a esgotos domésticos sem A implantação de obras se faz lentamente e concen-
coleta e sem tratamento. Com o esgotamento da ca- trada em algumas hidrovias, como é o caso da Tietê-Pa-
pacidade de investimento do PLANASA, no final dos raná, iniciada nos anos 1970 e concluída somente no
anos 1980, o país permanece sem um marco institu- final dos anos 1990, e da Taquari-Jacuí, no Rio Grande
cional e financeiro para o saneamento até janeiro de do Sul; esta hidrovia respondeu, na década passada,
2007, quando é sancionada a Lei Federal nº 11.445 por grande parte do volume de cargas transportadas em
com o objetivo de revigorar o setor. A nova lei dispõe todo o sistema de hidrovias interiores do país.
sobre os serviços de saneamento básico, formas de
regulação e de prestação regionalizada desses servi- Gestão por Bacias Hidrográficas
ços, exigências de planejamento, aspectos técnicos, Ao longo do século XX, a administração federal
econômicos e sociais, além de estabelecer formas de brasileira experimenta vários modelos de gestão de re-
35
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
cursos hídricos, entre opções centralizadoras ou des- potencialmente poluidoras, além de áreas de espe-
centralizadas, estatizantes ou liberais, nacionalistas cial interesse ambiental. Os instrumentos adotados
ou abertas aos investimentos estrangeiros, segundo o pelo setor ambiental têm a natureza de “Comando
contexto político de cada época. Nestes movimentos e Controle” e são baseados na capacidade do Esta-
fica claro a necessidade de articulação institucional, do de definir limites de emissão e fiscalizar o seu
intersetorial e nas três instâncias federativas – União, cumprimento.
Estados e Municípios -, como resposta às restrições Nesse contexto, o uso dos recursos hídricos pas-
institucionais e legais, bem como de financiamento, sa a ser submetido a controles crescentes: em 1986,
para o setor de recursos hídricos. por exemplo, o Conselho Nacional de Meio Ambiente
Em 1978 surge a primeira experiência de supe- (CONAMA) adota a exigência de estudos de impacto
ração do tradicional enfoque setorial, focada no uso ambiental para novas hidrelétricas, além de estabe-
das bacias hidrográficas como unidade de gestão: a lecer uma minuciosa classificação das águas doces,
criação do Comitê Executivo de Estudos Integrados de salinas e salobras do País e definir limites para subs-
Bacias Hidrográficas (CEEIBH), constituído conjunta- tâncias nos corpos de água, determinando critérios de
mente pelos Ministérios de Minas e Energia e do Inte- qualidade para o recurso.
rior. Mais de dez comitês de rios federais são criados, O Brasil apresentava então um retrospecto bem
responsáveis pela “classificação dos cursos de água sucedido em várias frentes:
da União, o estudo integrado e o acompanhamento • Expansão de sistemas de abastecimento de água
da utilização racional dos recursos hídricos das ba- tratada (embora o mesmo não tenha ocorrido nas
cias hidrográficas dos rios federais, o aproveitamento áreas mais pobres e em relação aos sistemas de tra-
múltiplo dos cursos de água e a mitigação de conse- tamento de esgotos domésticos, pela falta de inves-
qüências nocivas à ecologia da região”. timentos);
Apesar da proposta inovadora, esses comitês ti- • Sucesso do setor de hidroeletricidade no atendi-
nham participação exclusiva de técnicos do Estado, mento da demanda de expansão urbana e do seg-
praticamente sem inserção de Municípios e da socie- mento industrial;
dade civil organizada. Enfrentaram ainda a falta de • Alguma expansão de áreas irrigadas no país, em
embasamento legal e de recursos financeiros, que le- particular, no semi-árido;
varam à sua posterior paralisação, permanecendo em • Redução da poluição industrial, propiciada pelos
funcionamento apenas o Comitê do rio São Francisco instrumentos do licenciamento ambiental e fiscali-
(CEEIVASF). Mas a iniciativa tem o mérito de mostrar a zação, restrita aos agentes privados.
consistência do conceito de bacia hidrográfica como
unidade de planejamento e gestão, o que viria a ser Por outro lado, constatavam-se os limites dos ins-
retomado em modelos posteriores. trumentos e capacidades setoriais para promover isola-
Sob a mesma perspectiva de abordagem territorial damente novos avanços. Alguns dos principais proble-
é estruturada no País, nos anos 1980, a área de meio mas relacionados aos recursos hídricos exigem novos
ambiente, com enfoque de proteção e disciplina- paradigmas de planejamento e de gestão, notadamen-
mento das atividades produtivas com impacto sobre te, a busca da sustentabilidade pela via de abordagens
os recursos naturais. Em 1981 é aprovada a Política integradas, com soluções multidisciplinares.
Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938), que cria
o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e III.2 – Mudança de Paradigma: o SINGREH
lança as bases para a busca do desenvolvimento sus- O ano de 1988 marca um momento de especial
tentável; a Política institui instrumentos como o Estu- importância para o processo de redemocratização do
do de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatório País, com a promulgação, pelo Congresso Nacional, de
de Impacto Ambiental (RIMA). uma nova Constituição, em vigor até os dias de hoje.
A nova legislação também cria, no âmbito fede- Questões como a redistribuição de atribuições entre
ral e dos Estados, órgãos e instituições dedicadas à União, Estados e Municípios, a descentralização e o
gestão do meio ambiente, responsáveis pelo licen- fomento à iniciativa privada foram tratados na nova
ciamento e fiscalização de atividades produtivas Carta, na busca da retomada do desenvolvimento.
36
Resumo Executivo
A nova Constituição estabelece princípios e dire- água como bem de domínio público; (ii) água como
trizes que têm forte repercussão sobre a gestão dos re- recurso limitado, dotado de valor econômico; (iii)
cursos hídricos, bem como sobre a proteção ambien- prioridade para consumo humano e dessedentação
tal no Brasil, que ganha inclusive um capítulo próprio de animais; (iv) uso múltiplo das águas; (v) bacia hi-
no texto constitucional. Nele, fica consagrado que o drográfica como unidade de planejamento e gestão; e
meio ambiente é um bem de uso comum do povo e (vi) gestão descentralizada e participativa.
essencial à qualidade de vida, e que cabe tanto ao Quanto aos seus objetivos, a Lei propõe: (i) assegu-
Poder Público, quanto aos particulares, defendê-lo e rar à atual e às futuras gerações a necessária disponibi-
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. lidade de água, nos padrões de qualidade adequados;
As águas não recebem na Constituição de 1988 uma (ii) utilização racional e integrada dos recursos hídri-
menção específica, mas estão presentes em diversos ar- cos; e (iii) prevenção de eventos hidrológicos críticos.
tigos, revelando um enfoque de uso mais econômico Em termos de diretrizes gerais de ação, está previs-
desses recursos. Entre as mudanças, destacam-se: to: (i) gestão sistemática da quantidade e qualidade; (ii)
• Altera-se a dominialidade das águas, colocando-as adequação às diversidades regionais (físicas, bióticas,
exclusivamente no âmbito da União e dos Estados, econômicas, sociais e culturais); (iii) integração com a
ficando excluído o domínio dos Municípios; gestão ambiental; (iv) articulação com o planejamento
• É extinto o domínio das águas particulares, admiti- regional e com a gestão do uso do solo; e (v) integração
do no Código de Águas até então vigente. As águas com sistemas estuarinos e zonas costeiras.
se tornam assim exclusivamente públicas; Para colocar em prática tais princípios e garantir a
• Passa a ser competência da União legislar sobre águas descentralização e a participação social, o SINGREH é
e sobre energia elétrica, bem como instituir sistema dotado de um conjunto de instâncias decisórias com-
nacional de gerenciamento de recursos hídricos. posto de um colegiado deliberativo superior, formado
pelo Conselho Nacional dos Recursos Hídricos e seus
A partir dos princípios e obrigações estabelecidos na correspondentes nos estados, os Conselhos Estaduais
Constituição de 1988, é instituída em 1997 a Política Na- de Recursos Hídricos; colegiados regionais deliberati-
cional dos Recursos Hídricos e criado o Sistema Nacional vos a serem instalados nas unidades de planejamento
de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SINGREH), e gestão, os Comitês de Bacias Hidrográficas de Rios
por meio da promulgação da Lei Nacional nº. 9.433/97. Federais e os Comitês de Bacias Hidrográficas de Rios
A Lei nº 9.433/97 está em sintonia com os conceitos Estaduais; e instâncias executivas das decisões dos
derivados das conferências internacionais sobre meio colegiados regionais, as Agências de Água de âmbito
ambiente e recursos hídricos, como a Conferência de federal e estadual.
Mar Del Plata e o Terceiro Fórum Mundial da Água. Os componentes se propõem a operar de maneira
A Lei estabelece os seguintes fundamentos: (i) articulada, conforme a figura a seguir:
Canal de Irrigação/PB – Foto: Arquivo TDA
37
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
Conselho
Nacional de Âmbito federal
Recursos
Hídricos - CNRH Estrutura Federal conforme
Lei Federal n0 9.433/97 e Lei
n0 9.984/00 da ANA; a SRH
exerce os papéis de
formuladora de políticas a
Ministério do Meio Ambiente serem aprovadas pelo
CNRH e de sua secretaria
executiva; a ANA é a
Secretaria de Agência entidade operacional do
Recursos Nacional de sistema, responsável por
Hídricos - SRH Águas - ANA sua implantação
Âmbito federal
Comitês de
compartilhado com
Bacias Agências de estados
Hidrográficas Água
de Rios Federais Estrutura da bacia
hidrográfica conforme Lei
Federal n0 9.433/97
Conselho
Âmbitos estaduais
Estadual de
Recursos Estruturas estaduais
Hídricos - CERH variáveis em cada estado,
conforme as leis
respectivas; a autarquia ou
empresa paraestatal de
Secretaria Estadual com Atribuições em recursos hídricos é uma
Recursos Hídricos tendência observada na
Região Nordeste, a ser
Autarquia ou confirmada no restante do
Órgão Estadual Empresa Paraestatal país, de entidade
Gestor de Recursos de Gestão de operacional do sistema,
Hídricos Recursos Hídricos responsável pela sua
implantação, no todo ou em
parte, a exemplo da ANA,
no âmbito federal
Comitês de
Agências de
Bacias Hidrográficas
Água
de Rios Estaduais
38
Resumo Executivo
próprios conselheiros e se reúnem, em média, uma As competências básicas da ANA são: (i) encargos
vez ao mês, para tratar de assuntos pertinentes às suas indelegáveis de emissão de outorgas de direitos de
atribuições. uso da água; (ii) fiscalização dos usos e usuários de
recursos hídricos; e, (iii) cobrança pelo Uso da Água,
Comitês de Bacia Hidrográfica podendo delegar tarefas operacionais às agências de
Os Comitês de Bacia são instâncias deliberativas água de bacias hidrográficas.
regionais, instaladas nas unidades de planejamento
e gestão (as bacias hidrográficas); funcionam como Agências de Água de Bacias Hidrográficas
espaço de articulação entre as diversas partes in- São instâncias executivas responsáveis pela im-
teressadas no uso e proteção dos recursos hídricos plementação das decisões dos respectivos Comitês de
locais. Os Comitês podem ter um total de membros Bacia. Apresentam perfil variável, segundo diferentes
variável, desde que respeitada a proporcionalidade alternativas institucionais atualmente em curso:
entre os setores: • Empresa pública de economia mista (modelo ado-
• Até 40% de representantes dos Poderes Públicos; tado no Estado do Ceará);
• Até 40% de representantes de setores usuários das • Autarquia pública regional (Estado do Rio Grande
águas; do Sul);
• Pelos menos 20% de representantes da sociedade • Fundação de direito privado (Estado de São Paulo);
civil.
Além disso, podem ser:
As competências básicas do Comitê são: (i) • Organização social autônoma (OS), entidades civis
arbitrar conflitos de uso de recursos hídricos; (ii) de direito privado, com maior flexibilidade geren-
aprovar e acompanhar a execução do Plano de Re- cial e operacional;
cursos Hídricos da bacia hidrográfica; (iii) propor • Organização da sociedade civil de interesse públi-
aos Conselhos Nacional e Estadual os usos insig- co (OSCIP), entidades de direito privado, passíveis
nificantes a serem isentos da obrigatoriedade de de credenciamento frente ao setor público para a
outorga pelo direito de uso da água; e (iv) propor oferta de serviços não-exclusivos.
valores e estabelecer mecanismos para a cobrança
pelo uso da água. Suas competências básicas incluem: (i) atuar como
secretaria executiva do respectivo comitê; (ii) manter
Agência Nacional de Águas (ANA) cadastro de usuários e balanço atualizado das dispo-
Criada a partir da Lei nº 9.984, de 2000, a Agência nibilidades hídricas; (iii) efetuar, mediante delegação
Nacional de Águas (ANA) é uma agência executiva e do outorgante, a cobrança pelo uso da água; (iv) ela-
regulatória, uma autarquia em regime especial dotada borar o Plano de Recursos Hídricos, para aprovação
de autonomia gerencial e financeira, estabilidade de do respectivo comitê de bacia; (v) promover estudos e
quadros dirigentes e independência decisória (como analisar planos, projetos e obras a serem financiados
órgão permanente de Estado). à conta da cobrança pelo uso da água.
A ANA foi criada para impulsionar a Política Na-
cional dos Recursos Hídricos, surgindo como res- Instrumentos de Gestão
posta institucional ao reconhecimento da complexi- Além da estrutura institucional, a Política Nacio-
dade e dificuldades inerentes à implementação do nal de Recursos Hídricos estabelece um conjunto de
SINGREH que, apesar do marco legal favorável, não cinco instrumentos principais de gestão, desenhados
gerou num primeiro momento a resposta esperada para dotar as agências do sistema e demais interessa-
por parte da sociedade e atores envolvidos. Assim, dos dos meios efetivos para se atingir as metas pro-
procurou-se, com a criação da ANA, dar maior di- postas. São eles:
nâmica aos Comitês de Bacia e apoiar a efetiva im- • Os planos de recursos hídricos, formulados em três
plementação do novo conjunto de instrumentos de níveis - para o País (Plano Nacional), para as Unida-
gestão disponível a partir da nova política para os des da Federação (Planos Estaduais) e para as bacias
recursos hídricos. hidrográficas;
39
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
• O enquadramento dos corpos d’água em classes Cabe à Secretaria de Recursos Hídricos do Minis-
segundo os seus usos preponderantes, sinalizando tério do Meio Ambiente coordenar a elaboração do
objetivos de qualidade a serem alcançados quando Plano Nacional de Recursos Hídricos, ficando a ANA
da implantação dos planos de bacia; responsável pela implantação, monitoramento e ava-
• A outorga pelo direito de uso da água, como instru- liação do Plano. No âmbito dos Estados, os planos esta-
mento de regulação pública (estatal) de uso, tornada duais de recursos hídricos devem ser elaborados pelas
compatível com os objetivos socialmente estabele- Secretarias responsáveis pela gestão das águas, ficando
cidos nos planos e respectivos enquadramentos; os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos encarre-
• A cobrança pelo direito de uso de recursos hídricos, gados da sua aprovação. Os planos de recursos hídri-
sinalizando que a água tem valor econômico e que cos de bacias hidrográficas serão elaborados por suas
sua disponibilidade corresponde a um preço social Agências de Água e, então, submetidos à apreciação e
(público); e aprovação por seus respectivos Comitês de Bacias.
• Um sistema de informações sobre recursos hídricos, O Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH)
onde estão reunidos, consistidos e disponíveis da- em vigor foi aprovado pelo Conselho Nacional de
dos de oferta (disponibilidades), de demandas (ca- Recursos Hídricos em 30 de janeiro de 2006, após
dastros de usuários) e sistemas de apoio à decisão. processo de planejamento participativo feito em
conjunto com os sistemas estaduais de gerencia-
Planos de Recursos Hídricos mento de recursos hídricos. As bases conceituais
São planos diretores que visam fundamentar e para a sua construção pautaram-se pelos funda-
orientar a implementação da Política e o gerencia- mentos, objetivos e diretrizes de ação previstos pela
mento dos recursos hídricos. Devem contemplar pers- Lei nº 9.433/97. Entre outras contribuições, o PNRH
pectivas de longo prazo, com horizonte de planeja- propõe uma desagregação das 12 Regiões Hidro-
mento compatível com o período de implantação de gráficas em 56 unidades de planejamento, a fim de
seus programas e projetos. Além disso, devem incluir cumprir melhor seus três objetivos – a melhoria das
disponibilidades hídricas, a redução dos conflitos
um diagnóstico da situação, análises da ocupação do
de uso da água e a percepção da conservação da
solo e evolução das atividades produtivas, um balan-
água como valor socioambiental relevante. O Plano
ço das disponibilidades e demandas futuras por recur-
também traça cenários para os recursos hídricos na-
sos hídricos, prioridades e diretrizes para a outorga e
cionais até 2020, por meio de metodologia de pros-
a cobrança pelo uso de recursos hídricos, entre outros
pectiva exploratória.
aspectos.
40
Resumo Executivo
Figura 2: Níveis de agregação de informações do PNRH: (A) Brasil, (B) Divisão Hidrográfica Nacional e (C) 56 unidades
de planejamento
RH Amazônica RH Paraguai
RH Atlântico Leste RH Paraná
RH Atlântico Nordeste Ocidental RH Parnaíba
RH Atlântico Nordeste Oriental RH São Francisco
RH Atlântico Sudeste RH Tocantins–Araguaia
RH Atlântico Sul RH Uruguai
Na esfera dos Estados, oito das 27 Unidades da Fede- Recursos Hídricos ou Conselhos Estaduais, mediante
ração já elaboraram seus Planos Estaduais e outros cinco proposta apresentada pela Agência de Bacia Hidro-
estão em fase de elaboração. Em nível de bacia hidro- gráfica ao respectivo Comitê.
gráfica, foram identificados 75 estudos de planejamento O CONAMA estabeleceu, em resolução, onze
de recursos hídricos, de rios de domínio da União e dos classes de usos preponderantes para os recursos hídri-
estados, dos quais 65 encontram-se concluídos; a maioria cos: cinco para águas doces, três para salobras e três
é anterior à criação dos Comitês de Bacia, não tendo sido, para as salinas; as categorias incluem desde “abaste-
portanto, acompanhados e validados pelos atores regio- cimento para uso humano” até “aqüicultura e ativida-
nais envolvidos, como estabelece a Lei nº 9.433/97. des de pesca” e “navegação”.
Enquadramento dos Corpos de Água
O enquadramento dos corpos de água segundo Outorga dos Direitos de Uso de Recursos Hídricos
os usos do recurso, uma das etapas do planejamento A outorga é um ato administrativo pelo qual
estratégico das bacias hidrográficas, está em uso no a autoridade outorgante concede ao outorgado o
País desde a década de 1980; o instrumento visa es- direito de uso do recurso hídrico, seja para con-
tabelecer metas de qualidade a serem atendidas num sumo final, seja como insumo de processo pro-
determinado período e asseguradas mediante a im- dutivo, por prazo determinado e de acordo com
plementação dos planos de bacia. as condições expressas no ato. É um instrumento
A lógica do enquadramento é assegurar às águas de competência da União, que tem como objeti-
qualidade compatível com os usos mais exigentes a vos assegurar o controle quantitativo e qualitativo
que forem destinadas, bem como diminuir os custos dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos
de combate à poluição mediante ações preventivas. de acesso a esse tipo de recurso. Para preservar o
O enquadramento deverá ser desenvolvido em con- princípio dos usos múltiplos, a outorga dos direi-
formidade com os diversos Planos de Recursos Hí- tos de uso de recursos hídricos será estabelecida
dricos e ser estabelecido pelo Conselho Nacional de conforme as prioridades definidas nos planos de
41
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
recursos hídricos e de acordo com os respectivos que até dezembro de 2004 mais de 95 mil outorgas já
enquadramentos. haviam sido emitidas no Brasil, sendo o maior número
A competência para emissão das outorgas em águas destinado ao consumo humano, e as maiores vazões
de domínio da União é da ANA, que poderá delegá-la a outorgadas para a atividade da agricultura irrigada, que
Estados e ao Distrito Federal. Estudos da ANA indicam representa 60% das outorgas para captação.
1.200
Vazões outorgadas por finalidade (m³/s)
1.000
800
600
400
200
0
Abastecimento
Dessedentação
Irrigação
Indústria
Aqüicultura
lazer
Outros
Não Informado
Lançamento
Fonte: ANA (2005)
Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos dos Estados, diretamente por intermédio do órgão gestor
Prevista desde o Código de Águas de 1934, a co- dos recursos hídricos (ANA e entidades estaduais cor-
brança pelo uso da água passou a ser aplicada como relatas), ou indiretamente mediante o apoio da agência
instrumento de gestão com a Lei n0 9.433/97. Seu ob- de bacia ou da entidade delegatária dessa função, nesse
jetivo é reconhecer a água como bem econômico e caso mediante a celebração de um Contrato de Gestão.
dar ao usuário uma indicação de seu real valor, em Considerada o instrumento de maior grau de com-
função da quantidade e da qualidade existente e do plexidade em sua implementação, a cobrança pelo
uso a que se destina. Além disso, visa incentivar a ra- uso da água foi implementada até o momento nos Es-
cionalização do uso da água, além de obter recursos tados do Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo; no âmbito
financeiros para o financiamento de estudos, progra- das águas de domínio da União, a cobrança começou
mas, projetos e obras incluídos nos planos de recursos a ser implantada na bacia do rio Paraíba do Sul, na
hídricos, como também para as despesas de implan- região Sudeste, em março de 2003; a segunda expe-
tação e custeio administrativo dos órgãos e entidades riência está sendo realizada na bacia delineada pelo
que integram o Sistema Nacional de Gerenciamento conjunto dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ),
de Recursos Hídricos. A Lei prevê que a cobrança seja no Estado de São Paulo.
sempre associada à outorga e que os recursos oriun-
dos da cobrança sejam aplicados prioritariamente na Sistema Nacional de Informações sobre Recursos
bacia hidrográfica em que forem gerados. Hídricos
A competência para realizar a cobrança é do deten- O Sistema Nacional de Informações sobre Re-
tor do domínio do recurso hídrico, ou seja, da União ou cursos Hídricos - SNIRH é um instrumento de co-
42
Resumo Executivo
leta, tratamento, armazenamento e recuperação de de Informações sobre Recursos Hídricos que está con-
informações sobre recursos hídricos e fatores inter- solidando, numa única plataforma, os acervos de da-
venientes em sua gestão. Esse conjunto de informa- dos sobre recursos hídricos de vários órgãos públicos.
ções permite identificar as variações sazonais, re- As informações e séries históricas transferidas para o
gionais e inter-anuais das disponibilidades hídricas SNIRH estão no banco de dados HIDRO, disponibili-
no Brasil, notadamente lacunas e deficiências que zado pela ANA ao público em geral.
afetam as possibilidades de um gerenciamento efe- O Sistema Nacional de Informações sobre Re-
tivo e eficaz de conflitos entre os usos múltiplos, cursos Hídricos é uma construção conjunta, par-
bem como dos eventos críticos (cheias, escassez e ticipativa e descentralizada, organizada em seis
degradação da qualidade das águas). Trata-se de um módulos inter-relacionados: Módulo de Tipologia
instrumento estratégico para um modelo de gestão Hídrica, Módulo de Dados Quali-quantitativos,
participativo como o SINGREH, que oferece infor- Módulo de Oferta Hídrica e Operação Hidráulica,
mações fundamentais para a aplicação dos instru- Módulo de Regulação de Usos, Módulo de Plane-
mentos de gestão e para os processos decisórios en- jamento e Gestão e Módulo Documental. Além da
volvendo as comunidades, os usuários de recursos unificação das diversas bases de dados, o novo Sis-
hídricos e o poder público. tema vai permitir a transmissão da informação, o
O Sistema de Informações Hidrológicas - SIH, controle de processos, o compartilhamento de da-
operado pelo extinto DNAEE, pré-existente ao SNIRH, dos e a integração com os sistemas estaduais, com
acumulou décadas de informações que serviram à destaque para o Cadastro Nacional de Usuários
maioria dos estudos hidrológicos realizados no País. de Recursos Hídricos (CNARH), cuja implantação
Em 2000, o SIH foi incorporado ao Sistema Nacional ocorre de forma progressiva.
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GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
Instrumentos de Gestão nos Estados e a grande maioria das leis estaduais vigentes.
Em nível estadual, com a exceção do Estado de Ro- As políticas de recursos hídricos das legislações
raima, todos os demais 25 Estados e o Distrito Federal estaduais reproduzem as instâncias decisórias e vários
já sancionaram suas respectivas legislações estaduais instrumentos de gestão previstos em âmbito federal,
relativas aos sistemas de gerenciamento de recursos embora na maioria dos casos essas medidas ainda
hídricos. Parte desse conjunto de leis foi criada antes não estejam em aplicação, principalmente por se
da Lei Nacional n0 9.433/97. Houve uma “segunda tratar de instrumentos complementares. Um levanta-
geração” de leis estaduais aprovadas posteriormente, mento das opções disponíveis em cada Estado revela
mais alinhada com a legislação nacional; de modo ge- uma grande variedade de alternativas para os gestores
ral, existe relativa similaridade entre a Lei n0 9.433/97 de recursos hídricos:
44
Resumo Executivo
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GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
Avanços na Gestão de Recursos Hídricos no Brasil construídos e aprovados pelos colegiados dos comitês
A Política Nacional de Recursos Hídricos substitui a de bacia, constituindo pactos negociados sobre o uso
abordagem pontual de gestão, adotada até 1997, por um dos recursos hídricos e sobre a priorização de ações
modelo avançado, baseado nos princípios da descentra- e investimentos necessários. Já a outorga e a cobran-
lização e da gestão integrada dos recursos hídricos; tais ça, de responsabilidade do poder público, devem ser
princípios se materializam em um arranjo institucional orientadas pelos citados instrumentos de planejamen-
amplo (expresso pelo Sistema Nacional de Gerencia- to, necessitando, para sua aplicação, de dados que
mento dos Recursos Hídricos - SINGREH) e num con- integram o Sistema de Informações.
junto de instrumentos sinérgicos, cuja aplicação busca Os instrumentos da Política, por sua vez, têm estreita
harmonizar a participação social com ações exclusivas relação com as entidades que integram o SINGREH: suas
do poder público, como a outorga e a fiscalização. diretrizes e critérios devem ser analisados, debatidos e
O SINGREH, por sua vez, traz um enfoque inova- aprovados no âmbito dos colegiados do Sistema e im-
dor à questão, deslocando o eixo das decisões para a plementados pelas entidades executivas, como a Agên-
sociedade, representada nos Comitês de Bacia e de- cia Nacional de Águas, os órgãos estaduais correlatos e
mais instâncias deliberativas. O novo paradigma per- as agências de bacia, entidades executivas que devem
mite alcançar melhores condições de governabilidade implementar decisões de seus respectivos comitês.
(no sentido do desempenho do Estado) e de governan- Além de suas características intrínsecas, o modelo
ça (na interação com a sociedade), além de oferecer está amparado num contexto favorável à sua implemen-
maior transparência, com participação social e com- tação que inclui:
partilhamento de responsabilidades, bem como maior • A existência de mecanismos legais e normativos pró-
integração e cooperação entre níveis de governo e com prios;
a sociedade civil, além da adoção de instrumentos de •Infra-estrutura administrativa instalada;
gestão baseados em incentivos econômicos. • Oferta de recursos humanos qualificados no País;
O SINGREH foi desenhado para operar de forma • Boa capacidade tecnológica (especialmente na área
integrada: tem como base principal seu Sistema de de tecnologia da informação); e
Informações, que reúne e sistematiza os dados que • Competência técnica nas áreas de planejamento es-
devem subsidiar processos de tomada de decisão, re- tratégico e operacional.
queridos para a gestão integrada dos recursos hídri-
cos. Como instrumentos de planejamento, de cunho Após uma década de aprovação da Lei nº 9433/97
político e estratégico, dispõe dos planos de recursos e da instituição do SINGREH, as avaliações indicam
hídricos nos vários níveis (da escala nacional à de que o Brasil avançou em vários aspectos relativos à
bacia) e o enquadramento dos corpos d’água, ambos implementação do Sistema, entre eles:
46
Resumo Executivo
47
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
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Resumo Executivo
de hidroeletricidade, ainda submetidos a contingen- saneamento básico (água potável e esgotamento sani-
ciamentos. tário, além da coleta de lixo); existem rios sob domí-
2. Dificuldades inerentes à cultura administrativa nio federal que têm afluentes sob a responsabilidade
estatal – de um modo geral, os Estados apresentam estadual, por terem nascente e foz em um mesmo es-
uma inércia maior frente a processos de reforma e tado; e assim por diante. Ou seja, a governabilidade e
modernização, havendo normalmente reações con- a governança relativas à gestão dos recursos hídricos
trárias às tentativas de mudanças. No caso da gestão dependem do grau de cooperação entre os diferentes
dos recursos hídricos, as reações contrárias têm sido níveis de Governo (a bacia hidrográfica constitui terri-
no sentido de (i) limitar a autonomia gerencial e finan- tório comum à União, aos Estados e aos Municípios).
ceira das agências reguladoras como a ANA, seja me- Tal cooperação, especialmente entre União e os Esta-
diante o contingenciamento orçamentário, seja pela dos, é um desafio para a implementação do SINGREH
crescente exigência da reprodução de procedimentos que exige um forte esforço de integração e coordena-
burocráticos próprios à administração pública direta; ção entre as diversas instâncias.1
e, (ii) por iguais demandas sobre entidades de direito 4. Desvios dos Conceitos e Fundamentos na Im-
privado (associações civis e fundações) que venham plementação do SINGREH – para uma adequada
a celebrar parcerias com o Estado para a gestão das implementação do SINGREH torna-se necessário
bacias, interferindo na flexibilização de seus proce- resgatar os conceitos básicos da Política de Recur-
dimentos internos de contratação de pessoal e de sos Hídricos, na interpretação da base legal vigente
licitação de bens, serviços e obras. É parte da forma- ou na aplicação prática das disposições da Lei nº
ção político-institucional brasileira de desconcentrar 9.433/97. Tal resgate deve levar em conta os prin-
decisões, sem efetivamente descentralizá-las; muitos cípios dos quatro conjuntos de instrumentos de ges-
dos passos locais só podem ser dados sob o aval de tão disponíveis na atualidade: os instrumentos de
instâncias superiores, quando deveria ser possível Comando e Controle, operados pelo Estado, que se
avançar em soluções específicas, sempre que não fos- caracterizam pelo caráter disciplinador, como a ou-
sem violados os fundamentos da Política e afetados os torga e o licenciamento; instrumentos de Gestão So-
interesses de terceiros. cial Compartilhada, que envolvem o Estado e os de-
3. Desafios relacionados à dupla dominialida- mais atores sociais, como os Comitês de Bacias; e os
de dos corpos hídricos – o Brasil é uma República Instrumentos Econômicos de Gestão, que envolvem
Federativa, composta pela união de 26 Estados, um mecanismos de preço como a Cobrança pelo Uso
Distrito Federal e 5.563 Municípios, que obedece ao da Água, sob a responsabilidade das Agências de
princípio da autonomia entre a União, os Estados e os Água. Há ainda uma quarta família, que não integra
Municípios. A Constituição estabelece as águas como formalmente o SINGREH, relativa aos mecanismos
bens públicos, de domínio da União ou dos estados de Adesão Voluntária; são iniciativas que envolvem
federados, passíveis de utilização mediante outorga a adoção de instrumentos como as normas das sé-
de direitos de uso. Não há domínio municipal dos ries ISO 9.000 e ISO 14.000, normalmente realizada
corpos hídricos. Por outro lado, serviços públicos pelos setores produtivos interessados em manter sua
que utilizam as águas possuem distintas titularidades competitividade. O que se observa é que, mesmo
(poder de conceder autorização para a prestação de nos Estados onde está mais avançada a implemen-
serviços públicos): por exemplo, a geração de ener- tação do SINGREH, os conceitos que norteiam sua
gia hidrelétrica tem a União como Poder Concedente, execução não foram suficientemente assimilados e
enquanto os municípios são titulares dos serviços de não são plenamente aplicados.
1
Como exemplo das dificuldades geradas pela dupla dominialidade dos corpos hídricos, há dois comitês instalados sobre as
bacias dos rios Piracicaba, Caivari e Jundiaí (PCJ), o primeiro estadual e o segundo federal, com uma sobreposição de mais de
90% entre os territórios de ambos, e que possuem, praticamente, os mesmo membros representantes; outro exemplo ocorre
na bacia do rio Paraíba do Sul, na qual encontram-se instalados, além do Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do rio
Paraíba do Sul (CEIVAP), nada mesnos do que cinco comitês em sub-regiões (bacias de afluentes ou trechos de rios), além de
nove consórcios intermunicipais ou associações de usuários de recursos hídricos.
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Resumo Executivo
Piranhas-Açu
Curimataú (...)
Amazônica
Goiana (...)
Parnaíba
Una / Jacuípe
Jequitinhonha/
Pardo
Mucuri/
Extremo Sul-BA
Paraguai
Itaúnas / São Mateus
Terra Seca
Tabapoana / Itapemirim
Pirapanema
Paraíba do Sul
As unidades que abrangem somente o território de uma tão que devem ser instalados em cada bacia ou região hidro-
Unidade da Federação não foram inicialmente classificadas, gráfica, mas caracteriza uma avaliação institucional sobre as
entretanto, identificou-se que algumas possuem caracte- prioridades que devem ser observadas e a consistência das
rísticas que extrapolam as escalas local e estadual. Nessas soluções a serem empregadas nas diferentes bacias e regi-
unidades, a União deve apoiar a ação dos Estados para o ões, sem prejuízo ou limitação prévia às iniciativas locais
avanço na implementação dos instrumentos de gestão. que podem, perfeitamente e de modo legítimo, avançar em
O “Mapa de Gestão” não constitui uma determinação relação às alternativas inicialmente identificadas pelo “Mapa
unilateral sobre arranjos institucionais e instrumentos de ges- de Gestão”.
51
GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
IV – Cenários
Com relação à quantificação e qualificação das sempre presentes, independentemente do cenário es-
demandas futuras por recursos hídricos, foram utili- colhido. As invariâncias incluem:
zadas as análises prospectivas desenvolvidas para o • O crescimento de problemas de saneamento am-
Plano Nacional de Recursos Hídricos, de 2006, que biental;
foram consolidadas em cenários mundiais e nacionais • A expansão de atividades rurais, particularmente da
para o horizonte temporal de 2020, prazo coerente irrigação;
com as recomendações da metodologia GEO. • A implantação de infra-estrutura de usos múltiplos
O Plano propõe três possíveis cenários mundiais, para hidroeletricidade e transporte hidroviário,
que podem influenciar na concretização dos cená- atenta às exigências ambientais e sociais;
rios brasileiros; e três possíveis cenários para o Brasil, • A necessidade de conservação de aqüíferos estra-
segundo as condições políticas, crescimento econô- tégicos;
mico, sustentabilidade ambiental e grau de inclusão • A necessidade de ampliar conhecimentos e desen-
social que podem ou não ser alcançadas pelo País nos volver tecnologias; e,
próximos 13 anos. • Os investimentos indispensáveis em favor do manejo
Assim, em termos mundiais, o Plano trabalha com eficaz dos recursos hídricos.
os seguintes cenários, cujos títulos são auto-explica-
tivos: (i) longo ciclo de prosperidade; (ii) dinamismo É importante lembrar que a área de recursos hí-
excludente; e (iii) instabilidade e fragmentação. dricos não detém competências ou instrumentos para
atuar sobre todas as variáveis que condicionam os ce-
Para o Brasil, os cenários propostos seriam: nários prospectivos e o contexto do desenvolvimento
1. Água para Todos – cenário de maior crescimento macroeconômico.
econômico, com redução das desigualdades so- Contudo, levar em conta as “invariâncias” permi-
ciais; segundo este cenário haveria expansão das te que sejam enfrentadas as incertezas e antecipadas
atividades econômicas por todo o País, com fortes as tendências presentes nas diversas hipóteses, consti-
mas declinantes impactos sobre os recursos hídri- tuindo o que se pode denominar como uma estratégia
cos. A gestão do uso das águas seria mais eficaz, nacional consistente. Faz parte desse enfoque, adotado
com um SINGREH fortalecido e com a conseqüen- pelo Plano Nacional dos Recursos Hídricos, pensar
te redução dos conflitos pela quantidade e dos da- em atitudes pró-ativas quando as variáveis são afetas
nos em termos de qualidade das águas. à gestão das águas ou, caso contrário, assumir um viés
2. Água para Alguns – cenário de crescimento media- preventivo ou de atenuação de impactos econômicos,
no mas excludente, com maiores impactos sobre sociais e ambientais, de maneira a se evitar determina-
os recursos hídricos. Conflitos e problemas de uso das tendências, previstas em cenários indesejados.
cresceriam, com ameaças à qualidade das águas. É certo que haverá expansão no consumo de recur-
3. Água para Poucos – cenário de menor crescimen- sos hídricos, seja diretamente para o abastecimento da
to, com reflexos na menor infra-estrutura urbana e população, seja para uso econômico. Por exemplo, a
logística. Predominam as atividades econômicas previsão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
não-sustentáveis; crescem os conflitos e pode ha- tecimento é que aos atuais 62 milhões de hectares cul-
ver problemas de oferta de recursos hídricos, bem tivados no país se somarão outros 30 milhões de hec-
como o comprometimento das águas subterrâneas tares nos próximos 15 anos, cedidos somente por áreas
e o aumento de doenças endêmicas de veiculação de pastagens, graças ao desenvolvimento tecnológico
hídrica. e o aumento da produtividade da pecuária. Tal expan-
são implicará em demandas adicionais por irrigação e
A análise dos cenários prospectivos permite iden- transporte de grãos, o que terá impactos sobre a nave-
tificar alguns elementos comuns aos diversos casos. gação interior; os processos estarão relacionados e o
São as chamadas ‘invariâncias’, fatores que estão uso múltiplo das águas será uma estratégia chave.
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Resumo Executivo
Tabela 2: Investimentos em sistemas de água e esgotos até 2020 para alcance da meta de
universalização dos serviços por região hidrográfica (em milhões de reais)
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GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
Gráfico 22: Investimentos em esgotamento sanitário até 2020 para alcance da meta de universalização dos serviços
45.000
Investimentos até 2020 (milhões de reais)
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
Amazônica
Tocantins
Araguaia
Atlântico NE
Ocidental
Parnaíba
Atlântico NE
Oriental
São Francisco
Atlântico Leste
Atlântico
Sudeste
Atlântico Sul
Uruguai
Paraná
Paraguai
Regiões Hidrográficas
Para o Cenário Água para Todos, as projeções cos seja assegurada, tanto em termos de quantida-
consideraram o avanço dos sistemas de gerencia- de quanto em qualidade, será possível com a plena
mento dos recursos hídricos e, em especial, a intro- institucionalização da gestão integrada de recursos
dução da cobrança pelo uso da água, como alter- hídricos no Brasil.
nativa para indução e financiamento dos sistemas Para isso é necessário agilizar a implantação do
de esgotos. Julga-se que os maiores avanços ocorre- Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hí-
rão nas Regiões hidrográficas do Atlântico Sudeste, dricos (SINGREH); a elaboração e implementação de
Atlântico Sul, Paraná e Uruguai. Nas demais, ocor- planos de bacias; a integração com as demais políticas
rerão níveis intermediários de avanço, em especial públicas; e a participação social consistente no proces-
nas bacias com problemas mais graves e maiores so, a partir de atores sociais interessados e capacitados
capacidades de pagamento. As bacias que apresen- a atuar nas instâncias definidas pelo Sistema.
tam nível baixo de coleta e tratamento de esgotos Será fundamental ainda a adoção ampla da Co-
industriais são aquelas onde não existem indústrias brança pelo Uso da Água, entre outros instrumentos,
de grande porte. pelo seu papel estratégico como mecanismo de re-
O exame dos cenários prospectivos descritos an- gulação e racionalização do uso, bem como para a
teriormente indica a existência de uma invariância geração, a partir dos próprios usuários, dos recursos
adicional que tem papel fundamental no processo, necessários aos investimentos que possam garantir a
podendo repercutir sobre todas as demais: trata-se disponibilidade futura de recursos hídricos.
do risco de uma atuação burocrática ou ineficaz do Finalmente, tendo em vista as demandas de um
próprio SINGREH, que, nessa hipótese, teria poucas ambiente em lenta transformação, especialmente no
condições de fazer intervenções objetivas sobre os que se refere à questão climática, é preciso conduzir
corpos hídricos. Em outras palavras, independente- a implementação dos sistemas de gestão de recursos
mente do cenário que venha a se concretizar, a cons- hídricos de maneira flexível e adaptável às novas con-
trução de um futuro no qual os impactos indesejados dições dadas. Esta e outras idéias estão detalhadas no
possam ser prevenidos e a oferta de recursos hídri- capítulo seguinte, de Propostas e Recomendações.
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Resumo Executivo
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GEO Brasil | Recursos Hídricos | Componente da série de relatórios sobre o estado e perspectivas do meio ambiente no Brasil
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Resumo Executivo
de manejo e conservação de solos e água, como de recursos hídricos, considerados essenciais para
o plantio direto e em curvas de nível, barreiras de avanços sustentados nessa área;
contenção de erosão, remanejamento de estradas • Promover o desenvolvimento científico e tecno-
rurais, matas ciliares, controle de agro-químicos e lógico em recursos hídricos, bem como ações de
da disposição final de suas embalagens, com focos comunicação e educação ambiental com foco na
específicos em enclaves de agro-negócios; paralela- gestão das águas;
mente, deve ser estimulada a consolidação de “cor- • Aprofundar estudos sobre o Direito das Águas, com
redores de biodiversidade”, formados pela união, vistas ao equacionamento de possíveis conflitos ju-
via matas ciliares, de áreas de conservação e flores- diciais sobre essa matéria;
tas nativas; e, finalmente, • Explorar as sinergias entre a gestão das águas e os
• Quanto as águas subterrâneas, é preciso ampliar e vetores de modernização do Estado brasileiro;
difundir o conhecimento sobre suas dinâmicas, in- • Considerar a alternativa dos comitês de integração
cluindo áreas de recarga, riscos de contaminação, (ou federação de comitês), aplicável em bacias hi-
interfaces com a gestão do uso do solo e potencial drográficas de grande extensão territorial, com vis-
sustentável de explotação, com a correspondente tas a maior capilaridade e representação social do
adaptação dos instrumentos de gestão às especifi- sistema de gestão;
cidades das águas subterrâneas e sua efetiva intera- • Estímulo às políticas de efetiva descentralização da
ção nos contextos institucional e de financiamento gestão de recursos hídricos, inclusive mediante a
da Política Nacional de Recursos Hídricos. divisão mais equilibrada de encargos entre os seg-
mentos do Poder Público, dos usuários e da socie-
Finalmente, foram sistematizados os pontos levan- dade civil, segundo capacidades locais instaladas e
tados ao longo da publicação, resultando em propos- o potencial de respostas da União;
tas voltadas à promoção de novos avanços na gestão • Aplicar, sempre que possível, o princípio da subsi-
integrada dos recursos hídricos no Brasil: diariedade, zelando para que os problemas sejam
• Aproveitamento sustentado e racional das vanta- resolvidos no âmbito mais próximo à sua origem,
gens comparativas que as disponibilidades hídricas sendo alçados a instâncias superiores somente em
oferecem ao país; casos de impossibilidade de um equacionamento
• Realização de estudos estratégicos sobre o contexto local adequado;
nacional de desenvolvimento e a importância a ser
conferida aos recursos hídricos; Um exame das propostas e recomendações do
• Contemplar diversas escalas espaciais de análise GEO Brasil Recursos Hídricos permite concluir que
com o objetivo de integrar o planejamento dos recur- o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos
sos hídricos com o planejamento macroeconômico; Hídricos, estabelecido pela Lei Nacional nº. 9.433/97
• Fortalecer as articulações inter-setoriais para a ges- e complementado pela Lei nº. 9984/00, que cria
tão dos recursos hídricos, com uma inserção mais a Agência Nacional de Águas, em conjunto com o
substantiva dos municípios junto ao SINGREH e aos Plano Nacional de Recursos Hídricos, aprovado em
sistemas estaduais de gestão; 2006, reúnem os fundamentos necessários para per-
• Inserir o tema dos recursos hídricos nos planos e mitir que o Brasil atinja, no longo prazo, a gestão sus-
programas dos usuários das águas, aproveitando tentável dos seus recursos hídricos.
sua maior capacidade de inversão financeira; Para que isso ocorra, contudo, é necessário que a Po-
• Priorizar a implementação dos instrumentos de ges- lítica Nacional de Recursos Hídricos e seus instrumentos
tão do SINGREH, com maior foco em resultados, sejam plenamente implementados levando em conta as
incluindo o desenvolvimento de indicadores de particularidades regionais, o que implica superar com
sustentabilidade e uma permanente sistemática de êxito a necessidade de articulação institucional entre os
avaliação para fins de mensuração dos avanços ob- vários atores interessados e assegurar fontes de financia-
tidos pela União e nos estados; mento viáveis para impulsionar o processo.
• Por intermédio da ANA, incentivar os Estados a O êxito do Plano Nacional de Recursos Hídrico
estruturarem e fortalecerem seus órgãos gestores será diretamente proporcional à sua capacidade
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Resumo Executivo
http://www.suapesquisa.
Equatorial, tropical, tropical de altitude, tropical atlântico ou tropical úmido,
Climas do Brasil: subtropical e semi-árido
com/clima/cwwlima-
brasil.gif
Área total:
8.514.876,599 km2
Porcentagem da 47%
IBGE (2000)
América Latina:
Amazônia 4.196.943 km2 49,29% do Brasil
Cerrados 2.036.448 km2 23,92% do Brasil
Mata Atlântica 1.110.182 km2 13,04% do Brasil
Biomas brasileiros: Caatinga 844.453 km2 9,92% do Brasil
IBGE (2006)
Pampa 176.496 km2 2,07% do Brasil
Pantanal 150.355 km2 1,76% do Brasil
Regiões político-administrativas:
Produto Interno
R$ 1,9 trilhão em 2005
Bruto (PIB): http://www.brasil.gov.br/
pais/indicadores/cat_eco/
Superávit: US$ 44,7 bilhões em 2005
categoria
Taxa de
11,2% entre pessoas com 15 anos de idade ou mais em 2004
analfabetismo:
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Impresso sobre papel Reciclato.
Capa 240 g/m2 e Miolo 90 g/m2
GEO-Brasil
Brasil
Recursos Hídricos
(SINGREH). O lançamento deste documento adquire um signi-
ficado especial neste ano em que se comemora os 10 anos da
promulgação da Lei n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997 – a Lei
Nacional das Águas do Brasil.
Ministério do
Meio Ambiente