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PROJUDI - Recurso: 0028160-70.2017.8.16.0017 - Ref. mov. 19.

1 - Assinado digitalmente por Nilson Mizuta:1983


24/04/2019: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Nilson Mizuta - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
5ª CÂMARA CÍVEL - PROJUDI
RUA MAUÁ, 920 - ALTO DA GLORIA - Curitiba/PR - CEP: 80.030-901

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Autos nº. 0028160-70.2017.8.16.0017

Conflito de competência n° 0028160-70.2017.8.16.0017


Vara Cível de Sarandi
Suscitante(s): Juiz de Direito da Vara Cível do Foro Regional de Sarandi da Comarca da Região
Metropolitana de Maringá
Suscitado(s): Juiz de Direito da 5ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de
Maringá
Relator: Desembargador Nilson Mizuta

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE RESCISÃO


CONTRATUAL, RESTITUIÇÃO DE QUANTIA PAGA E PERDAS E DANOS.
PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA, QUE FOI ACOLHIDA PELO JUÍZO DA
COMARCA DE MARINGÁ. PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL.
AJUIZAMENTO NA COMARCA DE MARINGÁ. SITUAÇÃO DO IMÓVEL.
SARANDI. APLICAÇÃO DAS REGRAS DO CONSUMIDOR. FACILITAÇÃO DA
DEFESA. ART. 101, INCISO I, CDC.

1. “A jurisprudência desta Corte é no sentido de que "a facilitação da defesa dos


direitos do consumidor em juízo possibilita que este proponha ação em seu próprio
domicílio" (REsp 1.084.036/MG, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJ 17.3.09 (...)” (STJ,
AgRg no REsp 1432968/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 27/03/2014, DJe 01/04/2014)”.

CONFLITO PROCEDENTE.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Conflito de Competência nº 0028160-70.2017.8.16.0017,


do Foro Regional da Comarca de Sarandi, Vara Cível, em que são: suscitante Juízo Cível do Foro Regional da
Comarca de Sarandi – Dr. Márcio Augusto Matias Perroni, e suscitado: Juízo da 5ª Vara Cível do Foro
Central da Comarca da Região Metropolitana de Maringá – Dr. Fábio Bergamin Capela e Interessados:
SELMA ALVES VILAS BOAS E OUTRO ECOINGÁ LTDA. E OUTROS.
PROJUDI - Recurso: 0028160-70.2017.8.16.0017 - Ref. mov. 19.1 - Assinado digitalmente por Nilson Mizuta:1983
24/04/2019: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Nilson Mizuta - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
RELATÓRIO

Selma Alves Vilas Boas e Odair da Silva ajuizaram a ação de rescisão contratual, restituição de quantia paga e
perdas e danos contra Ecoingá Ltda., Milton Carlos Brito Júnior e Paulo Eduardo Avanço dos Reis. Os autores
celebraram um contrato de promessa de compra e venda, em 25 de abril de 2014, para a aquisição de um lote

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de terras no empreendimento denominado ECOVALLEY, sob nº 07, Quadra nº 29, com área de 302,09m²,
registrado na Matrícula nº 19.843. Fizeram constar que a ré entregaria o loteamento com toda a infraestrutura,
que não foi cumprido.

Os autores encaminharam notificação extrajudicial, recebida em 6 de setembro de 2017, em que constou o


interesse dos autores em efetuar o distrato contratual, mas não obtiveram resposta. O valor do lote
correspondia a R$ 118.000,00, pagamento divididos em 150 parcelas, acrescidas de juros e correção monetária
com aplicação da TABELA PRICE, com juros compensatórios de 12,68% a.a., que totalizava a quantia de R$
228.330,00. Afirmam que já efetuaram o pagamento de 32 parcelas, no valor total de R$ 58.843,51. O valor da
parcela previsto inicialmente no contrato era de R$ 786,00, mas atualmente passou para R$ 1.520,00 e, em
abril de 2018 será reajustada para R$ 1.761,70.

Defendem: a) a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, Decreto Lei nº 58/37 e Lei nº 6.766/79; b) a
desconsideração da pessoa dos sócios; c) a rescisão do contrato por culpa da ré, que violou princípios básicos
do CDC, como a falta de informação adequada e clara sobre o produto; d) a indevida atualização das parcelas;
e) a exigência de cobrança de taxa de administração de seguro; f) a não entrega da infraestrutura na forma e
prazo estabelecidos no contrato.; g) a não aplicação da Tabela Price; h) a cobrança indevida de juros na forma
capitalizada; i) cobrança de juros sem expressa convenção; j) a garantia de alienação fiduciária do imóvel, sem
anuência dos autores; k) falta de boa-fé contratual.

Defendem, ainda: a) a aplicação de cláusula penal, com a condenação dos réus nas perdas e danos; b) o
reconhecimento e declaração de nulidade de cláusulas contratuais; c) a devolução da quantia paga, acrescida
de juros e correção monetária; d) a retenção razoável de 10% sobre o valor pago; e) devolução dos gastos com
a rescisão e IPTU; f) pagamento de reparação por danos morais. Pugna pela averbação da presente demanda
na matrícula do imóvel, com a total procedência dos pedidos.

O MM Juiz a quo, Dr. Fábio Bergamin Capela, deferiu o pedido de averbação e determinou a inversão do
ônus da prova (PROVA 7.1).

Os réus apresentaram contestação arguindo, em preliminar, a incompetência absoluta do juízo de Maringá,


uma vez que o imóvel está localizado na Comarca de Sarandi/PR, pugnando pela extinção do feito. Arguiu a
ilegitimidade passiva ad causam, por impossibilidade do pedido de desconsideração da personalidade jurídica.
Ainda, pugna pelo indeferimento da justiça gratuita. No mérito, afirmam que o loteamento foi entregue com
toda a infraestrutura prevista e já se encontra povoado com inúmeras residências. Alegam que os autores não
querem mais continuar pagando o imóvel. O preço foi devidamente contratado. Impugnam as alegações e
pugnam pela total improcedência dos pedidos (PROJUDI 45.1).

O MM Juiz a quo, Dr. Fábio Bergamin Capela, ACOLHEU a preliminar de incompetência territorial,
PROJUDI - Recurso: 0028160-70.2017.8.16.0017 - Ref. mov. 19.1 - Assinado digitalmente por Nilson Mizuta:1983
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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
determinando a remessa dos autos ao Juízo Cível da Comarca de Sarandi/PR (PROVA 70.1).

Recebidos os autos, o MM Juiz de Direito da Comarca de Sarandi, Dr. Márcio Augusto Matias Perroni,
suscitou o conflito de competência, com fundamento no Código de Defesa do Consumidor (PROJUDI 83.1).

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VOTO

A presente dúvida foi suscitada pelo MM Juiz da Comarca de Sarandi/PR, Dr.Márcio Augusto Matias Perroni,
na ação de rescisão contratual, restituição de quantia paga e perdas e danos contra Ecoingá Ltda. e outros, para
a resolução do contrato de promessa de compra e venda, celebrado em 25 de abril de 2014, para a aquisição de
um lote de terras no empreendimento denominado ECOVALLEY, nº 07, Quadra nº 29, com área de 302,09m²,
registrado na Matrícula nº 19.843, localizado na cidade de Sarandi/PR.

Os autores ajuizaram a demanda perante o Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Maringá,
distribuído à 5ª Vara Cível.

Durante o trâmite do feito, o MM Juiz a quo, Dr. Fábio Bergamin Capela, ACOLHEU a preliminar de
incompetência territorial, determinando a remessa dos autos ao Juízo Cível da do Foro Regional da Comarca
de Sarandi/PR, por causa da situação do imóvel, que se encontra localizado na cidade de Sarandi/PR (PROVA
70.1).

O MM Juiz suscitante, porém, fundamenta que, tratando-se de ação de rescisão contratual, de natureza
pessoal, a competência para processar e julgar o feito é o do foro do domicílio do consumidor,
independentemente da situação do imóvel.

A demanda está amparada em direito pessoal, considerando que a causa de pedir em análise decorre da relação
obrigacional que vincula as partes, o contrato de promessa de compra e venda de imóvel.

O contrato de Promessa de Compra e venda foi celebrado na cidade de MARINGÁ/PR, em 25 de abril de


2014, e na cláusula de eleição de foro as partes elegeram “o foro desta Comarca da situação do lote”. Note-se
que o contrato foi celebrado na cidade de MARINGÁ. Foi eleito o foro DESTA COMARCA, o que leva a
entender que as partes elegeram o foro de Maringá. O fato de constar “situação do lote”, gera certa dúvida,
uma vez que a cidade de Sarandi fica a, aproximadamente, 9 km de Maringá.

Note-se, ainda, que a relação é típica de consumo, conforme previsto nos artigos 2º e 3º, ambos do Código de
Defesa do Consumidor. Os autores são consumidores, pois adquiriram o imóvel na condição de destinatários
finais da empresa da empresa ré, que comercializou o empreendimento imobiliário. O contrato também é
típico contrato de adesão, conforme instrumento (PROJUDI 1.11 a 1.13), já que as condições vêm
pré-estabelecidas, havendo a assinatura no final do contrato.

A presença de cláusulas por adesão e o poder econômico da construtora e incorporadora permitem aferir a
posição vulnerável dos contratantes, que se subsumem às condições impostas na avença, em uma típica
PROJUDI - Recurso: 0028160-70.2017.8.16.0017 - Ref. mov. 19.1 - Assinado digitalmente por Nilson Mizuta:1983
24/04/2019: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Nilson Mizuta - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
relação de consumo. No presente caso, o MM Juiz da Comarca de Maringá deferiu o pedido de inversão do
ônus probatório, não deixando dúvidas sobre a aplicação das regras consumeristas ao caso.

E, submetendo-se o contrato firmado à incidência das disposições consumeristas, prevalece o disposto na


legislação especial. Nesse sentido, prevê o inciso I, do art. 101, do Código de Defesa do Consumidor:

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“Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem
prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes
normas:

I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

Ademais, ressalte-se que os contratantes e autores da demanda residem na rua Aurélio Quaglia, nº 89, Jardim
Monte Rei, CEP:87.083-660, na cidade de Maringá, Estado do Paraná. Assim, a mudança de competência para
a Comarca de Sarandi acarretaria dificuldade de acesso ao Poder Judiciário e, por consequência, prejuízo à
defesa dos direitos do consumidor.

Nesse sentido, é o entendimento majoritário do Superior Tribunal de Justiça:

“2 AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA


TERRITORIAL. BRASIL TELECOM S/A. CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. APLICAÇÃO DO
CDC. FACILITAÇÃO DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR. AÇÃO QUE PODE SER PROPOSTA NO
DOMICÍLIO DO AUTOR. 1.- Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor ao contrato em análise, uma vez
que, acobertado pela relação societária, há clara relação de consumo na espécie. Precedente. 2.- A
jurisprudência desta Corte é no sentido de que "a facilitação da defesa dos direitos do consumidor em juízo
possibilita que este proponha ação em seu próprio domicílio" (REsp 1.084.036/MG, Rel. Min. NANCY
ANDRIGHI, DJ 17.3.09 (...)” (STJ, AgRg no REsp 1432968/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 27/03/2014, DJe 01/04/2014).

“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CONTRATO BANCÁRIO. FINANCIAMENTO COM GARANTIA DE


ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. FORO CONTRATUAL. AÇÃO PROPOSTA PELO CONSUMIDOR. RENÚNCIA
AO FORO DO DOMICÍLIO. POSSIBILIDADE. (...) 2. Se a autoria do feito pertence ao consumidor, contudo,
permite-se a escolha do foro de eleição contratual, considerando que a norma protetiva, erigida em seu
benefício, não o obriga quando puder deduzir sem prejuízo a defesa dos seus interesses fora do seu domicílio.
3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 3ª Vara Cível de Porto Alegre – RS”
(STJ, CC 107.441/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
22/06/2011, DJe 01/08/2011).

“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FORO DE ELEIÇÃO. RELAÇÃO DE


CONSUMO. HIPOSSUFICIENTE. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. 1. Em se tratando de relação
de consumo e tendo em vista o princípio da facilitação da defesa do hipossuficiente, não prevalece o foro
contratual de eleição quando estiver distante daquele em que reside o consumidor em razão da dificuldade
PROJUDI - Recurso: 0028160-70.2017.8.16.0017 - Ref. mov. 19.1 - Assinado digitalmente por Nilson Mizuta:1983
24/04/2019: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Nilson Mizuta - 5ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
que este terá para acompanhar o processo. 2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito
da 1ª Vara da Comarca de Itararé/SP, o suscitado”(CC 41.728/PR, Rel. Ministro FERNANDO
GONÇALVES, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/05/2005, DJ 18/05/2005, p. 158).

Do exposto, voto no sentido de julgar procedente o presente Conflito


Negativo de Competência, declarando a competência da 5ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região

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Metropolitana de Maringá, para processar e julgar a demanda.

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 5ª Câmara Cível do


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar pelo (a) Procedência do
recurso de Juiz de Direito da Vara Cível do Foro Regional de Sarandi da Comarca da Região
Metropolitana de Maringá.

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargador Nilson Mizuta


(relator), com voto, e dele participaram Desembargador Carlos Mansur Arida, Desembargador Leonel
Cunha, Desembargador Luiz Mateus De Lima e Juiz Subst. 2ºgrau Luciano Campos De Albuquerque.

23 de abril de 2019

Desembargador Nilson Mizuta

Juiz (a) relator (a)

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