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CONTRIBUIÇÃO PARA A CONSULTA PÚBLICA 10/2018 DA

ANEEL QUE VERSA SOBRE O APRIMORAMENTO DAS


REGRAS APLICÁVEIS À MICRO E MINIGERAÇÃO
DISTRIBUÍDA

JULHO de 2018
Sumário

A. Prólogo: Fontes renováveis, SIM! Subsídios renováveis, NÃO! ................................................ 3


B. Contribuições Específicas .......................................................................................................... 6
C. Síntese ..................................................................................................................................... 10

2
A. Prólogo: Fontes renováveis, SIM! Subsídios renováveis, NÃO!

Nos últimos meses estamos assistindo um crescimento exponencial de usuários que investem
em geração fotovoltaica, seja no próprio telhado das suas casas ou por meio de outros
arranjos como o autoconsumo remoto e o uso compartilhado. O tema tem sido conversa
frequente nas rodas de amigos e ciclos familiares. A figura 1 ilustra o crescimento exponencial
da geração distribuída - GD. Grande parte dessa expansão vem da combinação da consciência
ambiental das pessoas e do atrativo retorno do capital investido. Porém, como é possível a
obtenção de uma taxa interna de retorno da ordem de 20% ao ano - ou seja, um retorno em 5
anos, conforme apregoado por diversos fornecedores dos sistemas fotovoltaicos - para um
investimento de baixo risco, num momento em que a taxa Selic está a 6,5% ao ano? Será fruto
exclusivamente do ganho de escala, de tecnologia e de eficiência na produção e instalação das
placas fotovoltaicas? Lamentavelmente, a resposta é não! Há o que os economistas chamam
de "subsídio cruzado implícito" para dinamizar essa performance.

70.000

60.000

50.000

40.000
UC

30.000

20.000

10.000

0
ago/16

ago/17
fev/16

fev/17

fev/18
abr/16

abr/17

abr/18
out/16

out/17
dez/15

dez/16

dez/17
jun/16

jun/17

jun/18

Figura 1 - Crescimento exponencial de usuários do SCEE (Unidades Consumidoras - UC)

Antes de colocar luz sobre tais fatos é importante realizar uma análise da regulamentação que
criou as bases para esse ciclo de expansão: Resolução Normativa n. 482/12 da Agência
Nacional de Energia Elétrica - ANEEL. O motor de viabilização da mini e microgeração foi a
criação, nessa regulamentação, do Sistema de Compensação de Energia Elétrica - SCEE. Em
breves palavras, durante o dia, as placas fotovoltaicas geram energia suficiente para atender o
consumo próprio e, ainda, um excedente que é injetado nas redes elétricas das distribuidoras.
Durante a noite, quando não há sol, o fluxo se inverte e os consumidores usam a energia
elétrica vinda das redes para seu conforto. No final no mês há um encontro de contas entre a
energia injetada durante o dia e a consumida durante a noite. O consumidor só paga pela
diferença e, em não havendo, pelo consumo mínimo. Caso exista mais energia injetada do que
consumida, o usuário fica com o crédito que pode ser usado em até 60 meses.

3
Mas como se caracteriza o subsídio cruzado implícito? A tarifa de energia elétrica é composta
por quatro componentes principais, fora os tributos do Estado: geração, transmissão,
distribuição e encargos. As três primeiras componentes remuneram e custeiam os respectivos
serviços, enquanto que os encargos são utilizados para bancar outros subsídios tarifários como
a Tarifa Social de Energia Elétrica aos consumidores de baixa renda, os subsídios às fontes
alternativas e outras sete rubricas1. Dessa forma, quando a energia injetada pela mini e
microgeração nas redes elétricas é integralmente compensada para uso posterior, é como se o
sistema estivesse adquirindo-a ao valor integral da tarifa de fornecimento de energia elétrica,
ou seja, em torno de R$ 500/MWh, enquanto que a componente exclusivamente de geração
está na ordem de R$ 230/MWh. O subsídio só não é maior, pois os usuários do SCEE pagam o
consumo mínimo da ordem de R$ 50 ao mês, ou seja uma pequena fração do que seria a
tarifação adequada, baseada na Tarifa do Uso do Sistema de Distribuição.

Foi pertinente ver a própria ANEEL indagar-se sobre a razoabilidade da atual regulamentação,
conforme menção na Consulta Pública n. 10/2018: "para evitar que se chegue em uma
realidade em que a GD [Geração Distribuída] seja excessivamente benéfica a quem instala, e,
ao mesmo tempo, prejudicial às distribuidoras e posteriormente aos demais consumidores, a
questão a ser atacada é um possível desalinhamento da forma de compensação vigente em
relação à atual realidade da GD".

Além da questão do excesso de subsídios, destacamos outras máculas: a falta de transparência


na própria quantificação dos subsídios, bem como a inobservância integral da legislação
pertinente2, em especial ao Artigo 35º da Lei 9.074/95. Em nossa opinião, o atual mecanismo
do SCEE não atende ao pressuposto de transparência, pois não há informação oficial alguma
sobre o valor do benefício tarifário líquido oferecido aos seus optantes à prejuízo de outros.

Não obstante, nos últimos anos estamos assistindo uma redução consistente dos custos das
fontes renováveis. A primeira política pública estruturada de incentivos às fontes renováveis
foi o Programa de Incentivos às Fontes Alternativas - PROINFA, criado por meio da Lei
10.438/02. Atualmente o preço dessa primeira tranche de incentivos está na ordem de R$
390/MWh. Nesses últimos 15 anos, de fato, por efeito da competição, de ganhos de escala e
tecnológicos, assistimos esses preços caírem continuamente e chegando no último leilão
regulado de aquisição a R$ 118/MWh e R$ 68/MWh para a fonte solar e eólica,
respectivamente. A figura 2 ilustra esse desempenho. Ou seja, as políticas públicas de
incentivos às fontes renováveis foram bem sucedidas e, por isso, poderíamos declarar: "missão
cumprida e fim dos subsídios!".

1
Mais detalhes, ver Consulta Pública 45/2018 do MME.
2
Cabe lembrar, ainda, que os subsídios às fontes alternativas, a subvenção dos custos de geração em sistemas isolados ou mes-
mos os descontos tarifários para determinadas classes de consumidores estão disciplinados de forma transparente e incontestável
no âmbito legal e infralegal.

4
Início do PROINFA
385 (Lei 10.438/02)

1º Leilão de Fontes
Alternativas

2º Leilão de Fontes
253
259 Alternativas

214 188

168
ACR
Alternativas 118
20º Leilão de
Eólica Energia Nova
68
Solar 27º Leilão de
Energia Nova

2004 2007 2010 2014 2017 2018

Figura 2 - Preço da Energia Elétrica (R$/MWh em moeda constante de abril/2018)

Entretanto, alguns argumentam que ainda não é hora, especialmente para a mini e
microgeração, haja vista os supostos benefícios que elas trariam às redes elétricas. Estudos
técnicos por simulações computacionais e experimentais em campo, via projetos de pesquisa e
desenvolvimento, apontam que a geração distribuída pode reduzir e/ou aumentar as perdas
técnicas a depender de sua localização e do volume e, ainda, indicam que sua massificação
provocará investimentos em reforços e controles das redes elétricas. Por isso, quedam os
principais bastiões para a manutenção desses subsídios cruzados. O formato atual do sistema
de compensação de energia elétrica por regulamentação apenas da ANEEL representa claro e
inequívoco subsídio cruzado sem incontestável embasamento.

Por isso, dentre as alternativas para o aprimoramento do SCEE, conforme item 28 da Nota
Técnica n. 62/2018-SRD/SCG/SRM/SRG/SGT/SMA/ANEEL, aquela que afasta subsídios cruzados
implícitos é a opção 5, ou seja, a compensação se dará somente ao custo de oportunidade da
geração de energia que, inclusive, pode adicionar a componente do ESS, haja vista ser, de fato,
custo de geração. Dessa forma, a tarifação binômia deverá ser implementada aos usuários do
SCEE em Baixa Tensão, considerando que sua vedação foi extinta pelo Decreto 8.828/16.

Isto posto, nossa expectativa para a revisão da REN 482/12 é a de que: (i) reconheça os
resultados obtidos pelas políticas de incentivos às fontes alternativas; por isso (ii) ocorra o
mais breve possível e não necessariamente somente ao final de 2019; e consequentemente
(iii) suprima os subsídios cruzados implícitos que, agora, só se justificam para viabilizar
modelos de negócios de pequena escala de fontes renováveis e, pior, orientados
essencialmente para consumidores de maior renda3.

3
Os investimentos em sistemas de microgeração estão na ordem de R$ 20 mil.

5
B. Contribuições Específicas

A ANEEL, por meio da Nota Técnica n. 62/2018-SRD/SCG/SRM/SRG/SGT/SMA, apresentou um


rol de perguntas para essa Consulta Pública n. 10/2018 objetivando coletar contribuições para
a abertura de uma Audiência Pública que trará a Análise de Impacto Regulatório que, por sua
vez, será atividade que antecederá a proposta de aprimoramento da REN 482/12
propriamente dita. Algumas perguntas são direcionadas para segmentos específicos. Por isso,
apresentamos nossas contribuições para aquelas que são atinentes e de interesse do
segmento de distribuição.

Questão Posicionamento
Estimativa4 de + 0,1% de aumento para cada 50 mil UC beneficiadas pelo SCEE
ou + 0,1% para cada 400 MW instalados, por efeito de queda de mercado.
Destaca-se que parte desse incremento ocorre anualmente, nos reajustes
tarifários, em função da cláusula de neutralidade dos encargos setoriais. Por
sua vez, a perda de receita da componente Tusd-Fio B somente é repassada às
Aumento ou Decréscimo anual real da
1.10 tarifas processos revisionais, ou seja a cada 4 ou 5 anos, conforme o contrato
tarifa de energia elétrica
de concessão da distribuidora. Nesse intermédio, o prejuízo fica com a própria
distribuidora. Por fim, a componente Tusd-Fio A é recomposta a cada reajuste
ou somente na revisão, conforme o tipo de contrato de concessão (no primei-
ro caso para os prorrogados nas condições da Lei 12.783, enquanto que o
segundo caso para as demais).
80 milhões de consumidores de BT. Desse potencial pode-se excluir os merca-
Mercado potencial para geração
1.13 dos nas áreas de elevada complexidade social com elevadas perdas não
remota
técnicas e índices de inadimplência.
Taxa de crescimento anual do mercado
1.14
potencial 300% ao ano, desde a alteração dada pela REN 687.
A valoração da energia evitada deve ser feita pelo custo de geração ou preço
médio de compra pela distribuidora, eventualmente acrescido do ESS. Por
isso, destacamos que a alternativa 5, do item 28 da NT 62/2018, para a com-
Valoração da energia evitada pela pensação é a mais adequada, juntamente com a tarifação binômia na BT. Com
o termino do encargo da CDE e conta ACR cobrados na componente tarifária
1.15 micro ou minigeração distribuída.
de energia, poderá ser adotada a própria TE como forma de valoração da
energia produzida pela mini e micro geração.
Conceitualmente, em um modelo de análise de benefícios da GD, essa valora-
ção da energia evitada deve ser ponderada pelos impactos da sobrecontrata-
ção para os demais consumidores e as distribuidoras.
Estudos apontam que a redução de perdas técnicas é decrescente com a
penetração da mini e microgeração. Num cenário de massificação as perdas
Redução das perdas técnicas na distri-
aumentarão. Existem situações, principalmente na geração remota, com
1.16 buição em virtude da instalação de
crescimento de perdas ou a necessidade de investimentos de reforço da rede.
micro ou minigeração
De todo modo, haverá a necessidade de reconfiguração das topologias das
redes.
Não há o que ser falar em regra geral. Estudos iniciais apontam que, em
diversas situações, não haverá a redução do uso, principalmente nas redes em
Redução do uso da Rede Básica em
que o maior carregamento e, consequentemente, a necessidade de expansão
1.18 virtude da instalação de micro ou
ocorre após às 18h, no início do crepúsculo. Vale lembrar que estamos tra-
minigeração
tando de fontes intermitentes que não estarão disponíveis de forma perma-
nente e que o uso da rede básica é contratado pela demanda máxima

4
A Estimativa considerou: (i) os dados disponibilizados no SISGD da ANEEL; (ii) o dimensionamento das instalações para tornar
seus usuários autosuficientes; (iii) fator de capacidade das fontes de 0,2; (iii) TUSD-G de R$ 4,5/kW; (iii) TA de 500 R$/MWh; (iv) TE
de 230 R$/MWh; e (v) custo de disponibilidade trifásico.

6
Entendemos que os cenários estudados no AIR se mostram em descompasso
com a difusão que vem sendo observada na Geração Distribuída no Brasil,
com gravíssimo risco de imediata criação de um mercado privilegiado pelo
não pagamento dos custos associados a utilização do sistema de distribuição e
encargos setoriais.
A revisão da REN nº 482/2012 deve ser priorizada, não sendo possível traba-
lhar com uma previsão de alterações regulatórias apenas a partir de 2020 ou
Os cenários propostos para a AIR são ainda com a adoção de períodos de transição.
2 suficientes? Outras alternativas devem Do ponto de vista geral faltou a análise de endereçamento adequado dos
ser adicionadas ao estudo? Quais? incentivos para a micro e mini geração. Nosso entendimento é que essas
políticas e suas externalidades devem ser objeto de debate da CDE. Dessa
forma, a discussão seria mais transparente à sociedade, evitando a manuten-
ção de um subsídio cruzado implícito que, inclusive, concorre com outros
dispositivos legais, entre eles o artigo 35º da Lei 9.074. Vale destacar também
os efeitos distributivos das isenções tributárias. Por fim, ratificamos que a
alternativa 5, do item 28 da NT 62/2018, para a compensação é a mais ade-
quada, juntamente com a tarifação binômia na BT.
Um aspecto não considerado na AIR diz respeito aos impactos na operação do
sistema de distribuição. Avaliações realizadas por algumas distribuidoras
registram a necessidade de investimentos no controle de tensão da rede de
distribuição que pode variar além dos limites regulatórios vigentes. Assim,
além de eventuais impactos negativos nas perdas de energia, deve-se consi-
derar a necessidade de eventuais investimentos no controle de tensão e
recondutoramente, inclusive. Com relação aos benefícios que podem ser
obtidos com a GD é importante destacar que a análise da ANEEL deve se
limitar aos impactos no setor elétrico. Impactos externos somente devem ser
considerados quando devidamente previstos na legislação e, como dito ante-
Além dos impactos apresentados na
riormente, deveriam ser discutido no âmbito da CDE. Outro ponto que deve
seção de Análise, deveriam ser consi-
ser observado é a garantia no suprimento de energia para fins de expansão da
3 derados outros custos ou benefícios da
geração. Enquanto a expansão do parque gerador for feita através do ACR
geração distribuída? Quais? Como
pode correr um sinal econômico oposto a real necessidade de energia pela
modelá-los e quantificá-los?
redução da carga das distribuidoras. Só haveria segurança se a expansão da
geração fosse baseada em lastro.

Os estudos de sinais locacionais são objeto de P&D cooperado em produção


pelo iABRADEE, juntamente com universidades e consultorias, e serão divul-
gados oportunamente.

Ao não considerar o valor dos tributos no custo da energia, a ANEEL está


subestimando o retorno dos investimentos. Para uma análise mais precisa
pode ser considerada uma alíquota média dos tributos incidentes.
Na hipótese de a AIR indicar a necessi-
Cabe ressaltar, inicialmente, que discordamos de qualquer regra de transição
dade de atuação da Agência em duas
para redução dos subsídios cruzados. A saída desse procedimento de com-
fases (uma válida para os primeiros
pensação sobre toda a tarifa de fornecimento deve ser simétrica ao de sua
anos e uma outra regra a ser aplicada
entrada, ou seja, imediata . Trata-se de uma distorção a ser o quanto antes
4 depois de determinado período), quais
corrigida. A REN 786 afastou, corretamente, a possibilidade de que fontes
ações a ANEEL precisaria tomar no
existentes se qualificassem ao SCEE. Não houve transição, apenas a manuten-
sentido de dar maior segurança regula-
ção da condição para aqueles que tinham se beneficiado dessa elisão tarifária
tória aos micro e minigeradores que se
até a data da mencionada REN.
instalarem durante a primeira fase?
A compensação remota deve convergir para a mesma regulação comercial e
tarifária aplicada ao ACL. A compensação local mediante a adequada tarifa-
ção, via a TUSD.
A regra como está posta hoje tem melhor aderência para os sistemas de
compensação local. Mesmo assim a unidade consumidora utiliza o sistema de
distribuição como uma espécie de bateria do seu sistema de GD, ou seja,
A compensação local (na própria
acumula o excedente gerado pela GD em forma de crédito e em outro mo-
unidade consumidora onde a energia é
mento em que a GD não está disponível é abastecido parcial ou completa-
gerada) tem características e impactos
mente pelo sistema elétrico. Isso caracteriza o uso do sistema e, portanto essa
6 diferentes da geração remota (auto-
parcela deve ser adequadamente remunerada. A considerar também que em
consumo remoto, geração comparti-
casos de elevada penetração de GD, a compensação remota traz impactos
lhada). Como devem ser tratadas essas
negativos para a rede de distribuição, devido a não coincidência da carga com
particularidades? Justifique.
a geração (casos de geração fotovoltaica), com violações de tensão e aumento
de perdas.
Na condição de geração remota, o uso dos sistemas fica ainda mais evidencia-
do e a compensação deveria ser somente sobre a TUSD.
Além disso, para sistemas menores de GD como microgeradores (menores
que 75 kW) e pequenos minigeradores (entre 75 kW e 2.500 kW), a classifica-

7
ção como sistemas de GD fica tecnicamente mais adequada, visto que nesse
montante os impactos da conexão destes geradores nos sistemas de distribui-
ção típicos brasileiros são passíveis de soluções técnicas e economicamente
viáveis. Já os minigeradores maiores do que 2,5 MW são na grande maioria
dos casos incompatíveis tecnicamente com os sistemas de distribuição de
média tensão (SDMT). Uma única regra para um leque tão grande de potência
instalada (entre 75kW e 5.000kW) acaba não sendo tecnicamente adequada.
Por uma questão de isonomia regulatória, a capacidade máxima admitida
para minigeradores deveria ser de 2,5 MW, em sintonia com o art.12 da REN
414/2010 Aneel, no qual é definido que, a priori, a tensão de fornecimento
para a unidade consumidora com capacidade instalada superior a 2.500 kW
será em tensão primária de distribuição igual ou superior a 69 kV.

Atualmente, a ANEEL monitora a


evolução da micro e minigeração
distribuída (por meio do SISGD) e a
quantidade de energia compensada
Os sistemas disponíveis são satisfatórios e aprimoramentos poderão ser
(via Sistema de Acompanhamento de
tratados no SIASE. O principal indicador pendente de acompanhamento e de
Informações de Mercado para Regula-
publicação pela ANEEL é o efeito do subsídio cruzado implícito. Além disso
7 ção Econômica - SAMP). Como aprimo-
existe perda de receita das distribuidoras da parcela referente ao transporte
rar esse monitoramento? Quais outros
até que haja uma revisão tarifária. As externalidades deveriam ser estimadas
dados (payback dos sistemas, número
pelos Ministérios de Minas e Energia e/ou Meio Ambiente.
de reclamações, redução de mercado
das distribuidoras, gases de efeito
estufa, etc.) precisariam ser monitora-
dos? Como?
As especificidades das tecnologias e a
evolução do mercado de GD têm
As questões de política energética devem, conforme mencionado anterior-
indicado que o sistema de compensa-
8 mente, ser tratadas no âmbito da CDE. O que deve ser observado para o
ção deva ser aplicado somente a fontes
correto crescimento é a adequada tarifação.
renováveis. Quais aspectos corrobo-
ram ou contrapõem essa afirmação?
Garantir a tarifação adequada minimizaria esse tipo de comportamento
arrivista estimulado pela atual regulamentação que foi potencializado com a
ampliação de volume elegível pela REN 786, deslocando artificialmente a
atratividade da outorga da PIE. Ademais, a questão da elisão tributária é
malefício à sociedade. Uma ação eficaz seria a homologação do arranjo pela
No caso da geração compartilhada, ANEEL.
como garantir que os arranjos (consór- Um caso recorrente é de um empreendedor que opta por um modelo de
9
cio e cooperativa) não se configurem compensação de energia ao invés de um modelo de comercialização (Produ-
como comercialização? tor Independente). Tal incentivo se deve ao fato de que é compensada a
“tarifa cheia” de energia (todas as componentes), ao passo em que o Produtor
Independente tem sua receita somente da venda de energia. Caso os créditos
da energia compensada remotamente possam abater apenas a tarifa de
energia, tal discrepância seria mitigada.

Como permitir uma maior dissemina- Há, em nosso entendimento, um desvio de objetivo nessa indagação. Não há
ção da micro ou minigeração distribuí- motivo para incentivar um ou outro modelo de negócio em GD pelo Regula-
10 da localizada junto a condomínios dor. Eles devem competir a princípio, sem necessidade de subsídios ou estí-
comerciais ou residenciais para com- mulos. O formulador de políticas que pode eventualmente se empenhar dessa
pensação local? avaliação.

Como identificar a tentativa de divisão


de centrais de geração em unidades de
menor porte para enquadramento nos
limites da REN nº 482/2012? Seria
11 possível a inserção de critérios objeti-
vos de identificação no texto da regu-
lamentação, sem permitir o mau uso
da norma por agentes mal intenciona-
dos? Quais critérios? Ver resposta ao quesito 9.

8
Não há indícios de que a expansão das redes de distribuição será mais eficien-
te, mas pelo contrário, a massificação imputa necessidade de reforços nos
circuitos onde ocorre a significativa injeção. Há inversões de fluxo de energia
nas redes e os recondutoramentos em trechos finais de alimentadores rurais
para atender a GD. As redes com maior carregamento durante a noite não
Os modelos de autoconsumo remoto perceberão alívios para postergação de investimentos. O efeito "curva do
e de geração compartilhada têm pato" ilustra o fenômeno que inclusive é um desafio para o planejamento e a
12
permitido a expansão eficiente do operação do sistema de distribuição. Deve-se observar que a viabilidade da
sistema de distribuição? tarifação locacional é relevante para a utilização mais eficientes das redes
elétricas. Uma contribuição complementar seria o estabelecimento do limite
máximo de 2,5 MW objetivando convergir com o regramento da REN 414.
Lembre-se também que a alta concentração de geração fotovoltaica, em
determinadas regiões, pode trazer problemas para o despacho eletroenergé-
tico, aspecto ilustrado pela chamada “curva do pato”.
São incompatíveis e não isonômicos. O PIE arca com os custos da construção
da sua rede de conexão, enquanto o minigerador paga sua parcela da partici-
pação financeira, definida pela Res. 482. Além disso, o PIE é responsável pela
manutenção e operação de sua rede e tem as perdas do sistema de conexão
atribuídas a ele. Por outro lado, a conexão do minigerador todo ônus é da
distribuidora. O Ofício Circular 010/2017-SRD/ANEEL, de 22/03/2017 deter-
minou que nos casos em que centrais geradoras passassem a ser classificadas
Quais são os custos para conexão de como minigeração, as instalações de interesse restrito não deveriam ser
minigeração para compensação remo- incorporadas pela distribuidora. Dessa forma, houve de fato, um sinal ade-
ta (sem carga associada) na regra de quado quanto à responsabilidade dos ativos destinados única e exclusivamen-
participação financeira atualmente te à conexão de um empreendimento de geração (seja Produtor Independen-
vigente? Como esses custos de cone- te ou Minigerador). Por isso, a revisão da regulação deverá afastar a possibili-
13 xão se comparam com aqueles atribuí- dade de alteração do registro de minigerador remoto para PIE, por meio de
dos a usinas com características seme- Solicitação de Acesso, conforme previsto no Módulo 3 do Prodist, pois no
lhantes mas não enquadradas como primeiro caso há investimento da distribuidora, enquanto que no segundo, os
GD (usinas que comercializam energia custos de conexão e sua manutenção são de responsabilidade do empreen-
na Câmara de Comercialização de dedor. Ao afastar essa possibilidade de alteração de registro evita-se uma
Energia Elétrica - CCEE)? forma de elisão de custos com a rede de conexão, pois é sabido que, em
muitos casos, os custos de conexão acabam por inviabilizar empreendimentos
de geração localizados em locais muito distantes da rede elétrica existente.
Por último, deve ser observado que para um mesmo empreendimento, a
tarifa de uso de sistema paga é diferente conforme a forma de conexão
escolhida pelo empreendedor (se for minigerador, paga a demanda como se
fosse consumidor, se for Produtor Independente, paga a tarifa de uso de
sistema para geradores).
Quais são os custos médios arcados
pela distribuidora para análise de uma
Dada a diversidade de situações, os custos serão apresentados pelas distribui-
16 solicitação de acesso típica de microge-
doras que já têm maior volume dessas atividades.
ração? E de minigeração? Favor apre-
sentar dados reais

9
C. Síntese

Em síntese:

(i) reconhecer que as políticas de incentivos às fontes renováveis foram bem


sucedidas e que os recentes preços obtidos nos leilões regulados de contratação já
são competitivos;

(ii) manter a atual sistemática do SCEE é insistir num subsídio cruzado implícito, sem
embasamento em política energética específica, justificado apenas para o sustento
de um modelo de negócio de pequena escala e orientado essencialmente para
consumidores de maior renda;

(iii) revisar a REN 482 o mais breve possível é mitigar os impactos tarifários aos
demais consumidores e eliminar as perdas de receitas às distribuidoras, estancando,
assim, um sinal insustentável e equivocado dado ao mercado; e

(iv) aplicar a alternativa 5 do item 28 da NT 62/2018 da ANEEL, bem como a tarifação


binômia aos usuários do SCEE em Baixa Tensão é condição sine qua non para o
desenvolvimento sustentável, livre de subsídios injustificados, da mini e
microgeração distribuída.

10

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