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DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO

4. Introdução histórica
A unificação europeia assentou na livre vontade dos Estados, e no livre
consentimento destes.
As circunstâncias que conduziram ao processo de integração são:
1) Necessidade de assegurar a paz duradoura entre os países da Europa
Ocidental;
2) Necessidade de estabelecer laços de coesão entre os países da Europa
Ocidental;
3) Necessidade de sobrevivência económica.
A Europa viveu durante séculos na balança de poderes, que assentava na
ideia de alianças entre Estados nacionais e na hierarquia de potências. A
Europa baseada na balança de poderes era geradora de conflitos e esta
situação tinha de ser alterada; reconhecendo a igualdade entre estados, esta
ideia passava pelos Estados aceitarem restrições à sua liberdade de acção.
Era preciso estabelecer a paz e organizar em novos modelos os Estados da
Europa, fazendo com que os Estados aceitassem restrições à sua liberdade de
acção e foi aqui que assentou o processo de integração.
Em 1947, em Haia, Churchill profere um discurso, dando a ideia de que era
necessário criar instituições capazes de organizar em novas bases o Estado
Europeu, havendo um denominador comum: estas organizações (a criar)
deveriam intensificar os laços de coesão entre os Estados da Europa
Ocidental. A influência deste discurso levou a que no congresso de Haia se
formem duas correntes:
1) Corrente Federalista: a ideia era a criação dos Estados Unidos da
Europa, os estados continuavam a ser soberanos, tinha que haver
unanimidade da decisão;
2) Corrente pragmática: queria uma Europa unida com uma cooperação
entre os Estados soberanos.
Os esforços de reconstrução da Europa realizaram-se em duas frentes: da
cooperação e da integração, funcionando as duas em simultâneo.
Como característica importante das organizações de integração das
Comunidades Europeias, os Estados ao participarem nestas organizações há
determinadas competências que cabem às organizações, o que vai restringir a
liberdade de acção dos Estados.
Havia a ideia que as organizações deviam começar pelo terreno económico,
esta opção económica foi desenvolvida em dois modelos distintos:
1) Através de uma simples área de comércio livre1 ; [5]

2) Através de um mercado comum2 . [6]

5. Tratado da União Europeia


Devido às grandes alterações no panorama político que colmatou em 1989
com a queda do Muro de Berlim, houve necessidade de alterar os tratados até
aí existentes.
Procedem-se a uma revisão dos tratados e convocou-se duas conferências
inter-governamentais para rever os tratados, sobre a União Política e sobre a
1[5]
Modelo perfilhado pela Inglaterra através da EFTA.

2[6]
Modelo perfilhado pelos Estados comunitários e que a Comunidade Europeia é o seu exemplo.
União Económica que decorreram entre 1991 e 1992, que deram origem ao
Tratado da União Europeia3 . Este tratado tem uma estrutura tripartida:
[7]

- Pilar económico (vertente económica), constituído pelas comunidades,


destacando-se dentro desta a União Económica e Monetária como
objectivo das comunidades.
- Duas políticas inter-governamentais (vertente política, que são os pilares
políticos:
 Política Externa e Segurança Comum;
 Cooperação nos domínios da Justiça e dos Assuntos Internos.

6. Criação das comunidades


No seguimento do congresso de Haia, em 9 de Maio de 1950, Chuman,
ministro dos negócios estrangeiros, por sugestão se Jean Monet, propôs à RFA
a gestão conjunta das produções do carvão e do aço estabelecendo uma
estrutura organizativa que os outros Estados europeus pudessem participar 4 ,[8]

havendo assim um controlo bilateral de duas matérias-primas para qualquer


guerra; o acordo iniciou-se com a França e a Alemanha, ao qual se juntaram a
Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Itália. Foi lançado deste modo as bases para
a criação da CECA, visavam resolver três questões:
1) Questão económica;
2) Questão política;
3) Unificação da Europa.
Assim surgiu o tratado de Paris a 18 de Abril de 1951, que entrou em vigor a
25 de Julho de 1952.
O que caracterizou a CECA que desde logo a distinguiu das outras
organizações, foi que os Estados ao criarem esta organização e a transferirem
certas competências, que eram competências estatais para estas
organizações, a partir desse momento, não podem mais exercer essas
competências livremente, eles auto-limitaram-se. Criaram estas organizações e
dotaram-na de órgãos com poderes efectivos: poder de criar legislação própria;
produção legislativa autónoma, isto é, produção de legislação
independentemente dos Estados.
Na conferência de Mecina, foi criada a comissão Spack que foi encarregue
de estudar novos projectos. Esta comissão apresentou um novo projecto com a
criação de duas novas comunidades: para a economia em geral CEE; outra
para o sector da energia atómica CEEA ou EURATOM. Foram assinados dois
tratados que criaram as duas novas comunidades, Tratado de Roma em 25 de
Março de 1957, que entrou em vigor a 14 de Janeiro de 1958.
Os três tratados comunitários (CECA, EURATOM, CEE) foram ao longo do
tempo alvo de alterações que decorreram não só das adesões dos novos
Estados, como ainda de revisão gerais dos tratados como o Acto Único
Europeu (1987), o Tratado da União Europeia (1998/1993) e o Tratado de
Amesterdão (1997/1999). Para além destas alterações houve algumas
alterações introduzidas pelos tratados de adesão. Outras alterações
estabelecem uma estrutura orgânica comum às três comunidades; em 1957 o
Parlamento Europeu e o Tribunal passaram a ser comuns às três comunidades;

3[7]
Tratado de Maastricht.

4[8]
Declaração de Chuman.
em 1965, realiza-se o tratado de fusão dos executivos, estabelecendo uma
Comissão e um Conselho únicos.

7. Dimensão económica e política, da CECA até à União Europeia


O objecto da Comunidade Económica Europeia era estabelecer um mercado
comum extensivo aos diversos sectores da vida. Pretendia-se que as
mercadorias circulassem livremente entre os Estados. O mercado comum
assentava em quatro ideias:
1. Criação de uma União Aduaneira (pressupõe uma livre circulação de
mercadorias);
2. Livre circulação dos factores de produção: pessoas (trabalhadores),
bens, serviços e capitais (reconhecimento das quatro liberdades básicas
de circulação);
3. Existência de regras de concorrência (política comum de concorrência);
4. Conjunto de políticas comuns a todos os Estados.
O Tratado da Comunidade Europeia no art. 23º, define a União Aduaneira,
abrange a totalidade do comércio de mercadorias, proibição entre os Estados-
membros de direitos aduaneiros ou encargos equivalentes, adopção de uma
pauta aduaneira comum nas relações com terceiros. A União Aduaneira
implica, para além da livre circulação de mercadorias originárias (art. 23º TCE),
a proibição de obstáculos de natureza quantitativa ou de natureza pautal.
Pressupõe ainda uma protecção ao comércio exterior comum (pauta aduaneira
comum).
Um mercado comum pressupõe uma política comum de concorrência. A
existência de um mercado comum leva à obrigação de definição de regras
comuns de concorrência, que possibilitam aos operadores económicos dos
Estados-membros possam competir em igualdade de circunstâncias.
São proibidas três práticas:
1) Acordos entre empresas (art. 81º TCE);
2) Uso abusivo de uma posição dominante (art. 82º TCE);
3) Auxílio do Estado às empresas (art. 87º TCE).
Tem-se então uma União Aduaneira, um mercado comum e uma união
económica5 . [9]

Com o Acto Único Europeu que introduziu alterações nos tratados


originários, visava eliminar os obstáculos ainda existentes à livre circulação 6 .
[10]

Havia a ideia de que era preciso harmonizar as lesões dos Estados através
de directivas, vincula o Estado-membro quanto a um resultado que tem de ser
alcançado.
Havia, a ideia de concretizar, de pôr em marcha o mercado comum, agora
designado de mercado interno:
 Alterações ao conteúdo institucional (que vão no sentido de agilizar o
processo de tomada de decisões a nível do Conselho através do recurso
à regra da maioria). Os tratados deixaram de recorrer de forma
sistemática aos acordos de Luxemburgo, ou seja, à votação por
unanimidade, à possibilidade de vetarem uma decisão.

5[9]
Esta surge em 1988.

6[10]
Objectivo de concretizar o mercado interno.
 Consagra uma série de novas políticas comuns (política de
acompanhamento, nomeadamente nas áreas da investigação científica,
ambiente, política social, política regional).
Foi com o Acto Único Europeu que surgiu o conceito de coesão económica e
social7 . [11]

O mercado comum caracteriza-se por uma livre circulação de mercadorias e


livre circulação dos outros factores de produção.

8. Evolução em termos monetários e políticos


O sistema monetário europeu revelou-se uma experiência bem sucedida
porque conseguiu uma substancial redução das variações cambiárias no
interior da comunidade. Para além disso estabeleceu ainda a criação do ECU
que é uma verdadeira unidade monetária e que de simples instrumento de
conta evolui para uma unidade monetária (o ECU não é uma moeda, é uma
cabaz de moedas).
O sistema monetário europeu teve uma crise na década de 1990 que levou à
sua falência, levou à queda deste sistema.
A União Económica e Monetária tem objectivos políticos.
Em 1988 houve a tomada de decisão de criar um novo grupo de trabalho
para estudar os meios para caracterizar a União. Jacques Delors apresentou
um relatório para o projecto da União Económica e Monetária um ano depois
para a principal base das disposições que existem hoje nos tratados relativas à
União Económica e Monetária.
Este relatório previa o estabelecimento de uma União Económica e
Monetária em três fases, de forma a atingir o objectivo da moeda única.
1ª Fase:
Tem início em 1990 até 31 de Dezembro de 1993, e teve como principal
objectivo a liberalização total de capitais no interior da comunidade.
2ª Fase:
Tem início em Janeiro de 1994 a 1999, cujo objectivo era a de assegurar a
convergência das políticas económicas dos diversos Estados.
Em Maio de 1998 o Conselho (chefes de Estado e de Governo) determinou
quais os países e deliberou quais os Estados passariam em 1 de Janeiro de
1999 à 3ª fase.
3ª Fase:
Teve início a 1 de Janeiro de 1999 e é marcada pela fixação das taxas de
conversão fixas e irreversíveis entre as moedas nacionais, entre os Estados
participantes nesta 3ª fase e pela instituição do Sistema Europeu de Bancos
Centrais.
A União Económica e Monetária foi a via que os Estados encontram em
Maastricht para aprofundar o processo de integração e garantir a sua
irreversibilidade. Tem claros objectivos políticos e foi um processo de
integração bastante polémico pois foi estabelecido rigorosos critérios
económicos e financeiros, foi privilegiado o rigor financeiro e a luta contra a
inflação. Foram privilegiados os critérios de origem financeira em deterimento
dos de origem real (por ex. o nível de vida).

9. Política externa e segurança comum (PESC)


7[11]
Política de coesão económica e social permite eliminar as disparidades entres as diversas regiões e que conduziu
à duplicação dos fundos estruturais.
Na década de 70 começou a surgir a cooperação a nível político entre os
Estados, e o objectivo desta cooperação era o da afirmação duma política
externa comum aos diversos Estados-membros. No entanto estas práticas de
cooperação política tinham lugar fora do quadro estabelecido nos tratados,
eram meras práticas sem órgãos próprios para o efeito e o respeito pela regra
da unanimidade.
Esta prática eram simples acordos inter-governamentais instituídos nos
tratados pelo Acto Único Europeu e que foram reforçados com a Política
Externa e Segurança Comum no Tratado da União Europeia.
Com o Tratado da União Europeia reforçou-se a vertente da política externa.
O art. 11º TUE, consagra a Política Externa e Segurança Comum e no art. 29º
TUE a Cooperação Policial e Judiciária em Matéria Penal.
Estas duas políticas são políticas inter-governamentais o que é diferente de
políticas comuns porque o seu modo de funcionamento é diferente, a regra de
deliberação, a sua iniciativa, as regras de financiamento, são diferentes de
todas as políticas comuns:
 Financiamento, são financiadas pelos orçamentos de Estado;
 Regra de deliberação, é a unanimidade;
 Iniciativa, não compete à Comissão8 ; [12]

 Quem decide não é o Conselho.

10. Aprofundamento do projecto comunitário


O grande objectivo do Acto Único Europeu era concretizar o mercado
comum. A Comunidade pressupõe a existência de políticas comuns.
O Acto Único Europeu deu impulso aos tratados e veio concretizar o
mercado comum.
Designa-se Acto Único Europeu porque com um único acto se procedeu à
revisão dos três tratados: CECA, EURATOM, CEE; e porque num único
instrumento são tratadas as questões relativas às comunidades europeias e à
cooperação política europeia que até aqui corria à margem do quadro das
comunidades.
O grande objectivo do Tratado da União Europeia foi impulsionar no domínio
económico9 e dotar as comunidades de objectivos políticos através do reforço
[13]

e aperfeiçoamento dos mecanismos das relações externas 10 . [14]

O princípio da subsidiariedade vem determinar a quem compete o


exercício de determinada competência 11 . As decisões devem ser tomadas o
[15]

mais próximo possível do cidadão.

11. Conteúdo do Tratado de Amesterdão


O Tratado de Amesterdão é a terceira grande revisão dos tratados, mas é a
primeira do Tratado da União Europeia.

8[12]
Nas políticas comuns quem propõe é a Comissão e quem decide é o Conselho.

9[13]
Instituição de um mercado interno comum, necessidade de uma moeda única.

10[14]
Necessidade de uma política comum externa.

11[15]
Em princípio é dos Estados mas pode ser das comunidades.
Este tratado não revendo as disposições relativas à União Económica e
Monetária completando o Tratado de Maastricht vem dotar a União de maior
democracia e eficácia fazendo uma revisão nas instituições e adoptando a
Europa ao pós-comunismo.
A conferência inter-governamental que originou o Tratado de Amesterdão
iniciou-se em Março de 1996 e em cumprimento do art. N, n.º 2 do TUE. As
negociações terminaram em Junho de 197 e foi assinado em Outubro de 1997,
entrou em vigor em Maio de 1999.
Em primeiro lugar fez-se a revisão de todas as disposições, fez-se a revisão
de todos os tratados, depois, fizeram-se as alterações formais eliminando as
disposições caducadas e remunerando o conjunto de disposições alteradas.
Este tratado limitava-se a fazer a revisão dos tratados. Tem aspectos positivos:
 Manteve-se a estrutura em três pilares do Tratado da União Europeia,
mas ao manter-se, convém salientar a comunitarização da matéria civil
da Cooperação nos domínios da Justiça e dos Assuntos Internos.
 A Política Externa e Segurança Comum não foi comunitarizada, mas
introduziram-lhe algumas alterações para ficar mais próxima das políticas
comunitárias, mantendo-se o mesmo conteúdo.
 Aumentou-se o número de casos em que se decide por maioria
(reforçou-se a regra da maioria).
 No pilar comunitário, os Estados introduziram alterações no sentido de
dotar a comunidade de objectivos sociais.
 Reforçou-se os direitos fundamentais da União Europeia (art. 6º - 49º
TUE), um Estado para aderir tem que respeitar os princípios do art. 6º
TUE.
 Existência dum procedimento que permite constatar a existência de
violações graves e persistentes dos direitos presentes no art. 6º TUE
pelos Estados-membros e poder ser retirado o direito de voto no seio do
Conselho (art. 7º TUE).
A principal crítica é a de que não ter aproveitado esta ocasião para fazer a
reforma das instituições comunitárias, com vista aos próximos alagamentos.
O tratado de Amesterdão avança no domínio social, enquanto que noutros
domínios o avanço foi escasso. Ou outro avanço neste tratado foi a cooperação
reforçada.

12. Cooperação reforçada


É um mecanismo que permite a alguns Estados avançarem em deterimento
de outros. Traduz-se numa aceitação de uma construção diferenciada na
Europa. Esta ideia de diferenciação já se encontra noutros domínios,
nomeadamente, na União Económica e Monetária.
A cooperação reforçada põe em causa a uniformidade e a unidade da
aplicação do direito comunitário.
Permite que um número de Estados, não inferior a oito (art. 43º/1-d TUE e
11º TCE) avançar quer no pilar comunitário quer no terceiro pilar relativo à
cooperação policial e judiciária em matéria penal desenvolvendo acções
conjuntas sem que os outros Estados participem.
É um mecanismo de cariz subsidiário, porque só é possível accionar este
mecanismo, quando não seja possível actuar no âmbito dos processos
comunitários. Foi instituído para desbloquear situações de impasse; este
mecanismo está aberto a todos os Estados, podendo participar desde o início
ou juntarem-se a estes posteriormente (art. 43º/1-g TUE).
As cláusulas gerais do art. 43º TUE, vêm juntar-se as cláusulas do art. 11º
TCE, se é uma cooperação reforçada a desenvolver no âmbito do pilar
comunitário ou juntar-se as cláusulas do art. 40º TUE, se é uma política
reforçada no âmbito do terceiro pilar.
Os Estados têm em primeiro lugar que obter autorização por parte do
Conselho, que deliberar por maioria qualificada (62 votos dos 87). O Conselho
vai decidir com base numa proposta apresentada pela Comissão e após
parecer dos Parlamento Europeu (parecer obrigatório, mas não vinculado). A
Comissão detém o monopólio exclusivo da iniciativa neste domínio. Os Estados
têm que solicitar à Comissão um pedido para a instituição da cooperação
reforçada. A Comissão pode apenas apresentar a proposta ao Conselho, caso
a Comissão não apresente essa proposta os Estados são informados das
razões que a levaram a isso (art. 11º TCE).
Os Estados que não participem desde o início da cooperação reforçada e
que o queiram fazer mais tarde, podem-no fazer, notificado a sua intenção ao
Conselho e à comissão (art. 11º/3 TCE) é a técnica de spill-over.
Durante a implementação da cooperação reforçada e durante o
desenvolvimento das políticas da cooperação reforçada, só tomam parte nas
votações os Estados que participem nessa cooperação reforçada.

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