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O Constitucionalismo da Guiné-Bissau

ANTÓNIO E. DUARTE SILVA 1

1. Apresentação - território e população

A REPÚBLICA da Guiné-Bissau situa-se na costa ocidental da Áfri-


ca, dispondo de 36.125 km2 de superfície (embora reduzida a 28.000 km2
permanentemente emersos), dividida em duas partes: a zona continental (cerca
de 34.500 km2) e o arquipélago dos Bijagós (abarcando 18 ilhas). As frontei-
ras terrestres são, a norte, o Senegal, a sul e leste, a Guiné-Conakry. A vegetação
é do tipo savana e floresta tropical; o clima, apesar das influências marítimas e
do deserto do Sahel, é predominantemente tropical, subdivido em período das
chuvas (de Junho a Novembro), e período da seca.
A população ronda um milhão de habitantes, formando um mo-
saico de etnias: predominam os Balantas (32,2 %), os Fulas (21,9 %), os
Manjacos (17,8%) e os Mandigas (15,2%), que representam 60% do total da
população, distribuída por 40 grupos étnicos. As religiões predominantes são o
animismo e o islamismo (os católicos são cerca de 5%).
A Guiné assistiu à formação de vários impérios: no séc. IV, o Impé-
rio Gana; no séc. XI, os Almorávidas; no séc. XIII formou-se o Império Mali ou

1 Tribunal Constitucional, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (Lisboa)


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Mandinga; no séc. XVII deu-se a invasão dos Fulas. Os portugueses chegaram


aos Rios da Guiné do Cabo Verde em meados do séc. XV, mas a actividade
comercial restringiu-se aos rios e portos de “tratos e resgates” e a colónia da Gui-
né Portuguesa só ficou delimitada, após a Conferência de Berlim, mediante o
Acordo Luso-Francês de 1886, enquanto a “ocupação efectiva” e a soberania
portuguesa só se impuseram em 1915.
Os movimentos nacionalistas datam de meados da década de 1950
e a fase da luta armada de libertação nacional consolidou-se a partir de 1963.
Independente desde1973-1974, a República da Guiné-Bissau é um dos dez
países mais pobres do mundo.
A língua oficial é o português, o crioulo a língua franca. A capital é
Bissau, com cerca de um terço da população total do país, e centro de atracção
urbana para uma população predominantemente agrícola e analfabeta.

2. A Constituição de 1973
A primeira Constituição da Guiné-Bissau foi aprovada em 24 de
Setembro de 1973 por uma Assembleia Nacional Popular (ANP), reunida
no Boé oriental. A ANP fora progressivamente formada no decurso da luta de
libertação nacional contra a dominação portuguesa, conduzida pelo Partido
Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e destinava-se
a concretizar a proclamação unilateral da independência. Era composta por
120 deputados escolhidos segundo o processo organizado num extenso documen-
to, intitulado Bases para a criação da 1 Assembléia Nacional Popular na
Guiné, aprovado pelo Comité Executivo da Luta do PAIGC, em Dezembro
de 1971. As eleições, em dois graus, realizaram-se entre Agosto e Outubro
de 1972.
Em 23 e 24 de Setembro de 1973, a reunião da ANP começou
por aprovar a Proclamação do Estado da Guiné-Bissau (através da qual
realizava a declaração unilateral de independência) e o texto da Constituição
do Boé; depois, conforme as disposições constitucionais, elegeu o Conselho de
Estado (CE) e o Conselho dos Comissários de Estado e aprovou alguns diplomas
complementares sob a forma de lei, nomeadamente a Lei n.° 1/73, segundo
a qual a “legislação portuguesa em vigor à data da Proclamação do Estado
soberano mantém a sua vigência em tudo o que não for contrário à soberania
nacional, à Constituição da República, às suas leis ordinárias e aos princípios
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e objectivos do PAIGC”. Reconhecida sucessivamente por elevado número de


Estados e por várias organizações internacionais, admitida como membro da
OUA em 20 de Novembro de 1973, o processo de independência da República
da Guiné-Bissau completou-se com o reconhecimento de jure pelo Estado por-
tuguês em 10 de Setembro de 1974 (na sequência do Acordo de Argel, de 26
de Agosto) e a admissão, por unanimidade e aclamação, como 138.° membro
da ONU, em 17 de Setembro de 1974, dia da abertura da XXIX sessão da
Assembleia Geral.
A Constituição do Boé apresentava alguns traços originais: por um
lado, criando o novo Estado com vestes constitucionais não foi uma mera técni-
ca de descolonização, antes a consequência e o resultado da “evolução certa, po-
lítica e jurídica” (como pretendera Amílcar Cabral) de uma luta de libertação
nacional ampla e duradoura; por outro, embora apresentando-se como o esta-
tuto de um Estado-Nação, aberto à modernidade, combinava os (dominantes)
modelos europeus, liberais e socialistas, com soluções próprias da sua história
(sobretudo na óptica do PAIGC e da sua divisa “Unidade e Luta”).
Tratava-se, no fundo, de uma Constituição outorgada pelo PAIGC
e de uma etapa na sua estratégia de descolonização. Era relativamente curta
(58 artigos), subdividida em quatro Capítulos: “Dos fundamentos e objec-
tivos” (arts. 1.° a 10.°); “Dos direitos, liberdades e deveres fundamentais”
(arts. 11.° a 22.°); “Da organização do Poder político” (arts. 23.° a 56.°); e,
por fim, “Da Revisão Constitucional”. Marcada pelo anticolonialismo e pela
natureza binacional do PAIGC, proclamava também o princípio da Unidade
Guiné-Cabo Verde, assumindo como objectivos a libertação total da Guiné
e de Cabo Verde e a sua “unificação num Estado, de acordo com a vontade
popular” (art. 3.°).
Os princípios constitucionais (nomeadamente o princípio da he-
gemonia do PAIGC sobre o Estado e o princípio da “democracia nacional
revolucionária”) derivavam do constitucionalismo soviético e reflectiam-se, so-
bretudo, em três domínios: antes de mais, no estatuto do PAIGC enquanto
partido único, adepto do “centralismo democrático” e definido como força polí-
tica dirigente da sociedade e do Estado; depois, numa concepção funcional dos
direitos fundamentais; em terceiro lugar, numa organização do poder político
assente na concentração e unidade do “poder de Estado”.
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3. “O Movimento Reajustado!” e a ruptura de 1980


Em 10 de Novembro de 1980, a ANP aprovou o texto de uma nova
Constituição, igualmente preparada pelo PAIGC, que procurava materializar
os objectivos inscritos no chamado “Programa Maior” do PAIGC, nomeada-
mente quanto ao reforço da “unidade interna e da construção da Unidade
Guiné-Cabo Verde”. Por isso mesmo, o texto desta nova Constituição guineense
era, na essência, comum ao texto da nova Constituição da República de Cabo
Verde, cuja aprovação e promulgação ocorrera em 5 de Setembro. Em comple-
mento, no mesmo dia 10 de Novembro, a ANP aprovou uma Lei de Trânsito
Constitucional, prevendo, além do mais, que a recém-aprovada Constituição
só entraria em vigor no dia 1 de Janeiro de 1981.
Porém, quer esta nova Constituição, quer a Lei de Trânsito Cons-
titucional, não chegaram sequer a ser publicadas no Boletim Oficial. Com
efeito, logo em 14 de Novembro de 1980, eclodiu um golpe militar - dito “Mo-
vimento Reajustador” -, do qual resultou uma ruptura constitucional.
Assim, o Conselho da Revolução emitiu uma Lei Constitucional
n.° 1/80, de 15 de Novembro, através da qual destituía das suas funções o
Presidente do Conselho de Estado, Luís Cabral (art. 1.°), dissolvia a ANP e o
Conselho de Estado (art. 2.°), extinguia o Conselho dos Comissários de Estado
(art. 3.°) e assumia todos os poderes atribuídos a esses órgãos (art. 4.°). A orga-
nização constitucional revolucionária completou-se em 29 de Janeiro de 1981,
com a Lei Constitucional n.° 1/81, regulando o estatuto do próprio Conselho
da Revolução, a Lei Constitucional n.° 2/81, sobre a criação do Governo Pro-
visório, e a Decisão n.° 4/81, contendo o estatuto do Governo Provisório.
O carácter transitório desde regime constitucional foi reafirmado no
Congresso Extraordinário do PAIGC, em Novembro de 1981, ao recomen-
dar, em conclusão, “aos organismos estatais competentes que realizem os estudos
necessários à revisão constitucional que se impõe”. Mas só em Fevereiro de 1983
o Conselho da Revolução criou uma Comissão para a Revisão Constitucional
e a Lei Eleitoral.

4. A Constituição de 1984
No início de 1984, o PAIGC promoveu uma série de iniciativas
com vista à realização de eleições para os Conselhos Regionais e a ANP e à pre-
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paração da nova Constituição Política. Finalmente, a ANP reuniu em Maio


desse ano, para concluir o chamado “retorno à legalidade constitucional”,
tendo, primeiro, ouvido uma mensagem do Presidente do Conselho da Revolu-
ção (CR) e Secretário-Geral do PAIGC, João Bernardo Vieira (“Nino”) - que
lhe comunicou a extinção do CR -, e em 16 de Maio aprovou por unanimidade
a nova Constituição (promulgada na mesma data, pela Presidente da ANP);
finalmente, elegeu os membros do novo Conselho de Estado (CE) e o Presidente
do CE, João Bernardo Vieira (“Nino”).
A fonte principal desta Constituição de 16 de Maio de 1984 é a
anterior (falhada) Constituição de 10 de Novembro de 1980, que ela reproduz
quase ipsis verbis. As alterações mais significativas são: a invocação no Preâm-
bulo do papel do Movimento Reajustador de 14 de Novembro, a eliminação
de todas as referências à Unidade Guiné-Cabo Verde, algumas modificações
no estatuto do CE e do Presidente do CE, a eliminação do cargo de Primeiro-
Ministro - reforçando, ainda mais, o cargo de Presidente do CE -, alterações
menores nas normas respeitantes ao poder local e, também, o acrescento de
limites materiais de revisão.
Assim, como já acontecera com tal Constituição de 10 de Novem-
bro de 1980, as fontes fundamentais desta Constituição de 1984 foram três:
a anterior Constituição do Boé, a Constituição cubana de 1976 e a Consti-
tuição portuguesa. O princípio político-constitucional nuclear continuou a ser
a hegemonia do PAIGC, alcandorado “a força política dirigente da sociedade
e do Estado”, a quem cabia, designadamente, “estabelecer as bases gerais do
programa político, económico, social, cultural, de defesa e segurança a realizar
pelo Estado”, bem como seleccionar os candidatos a conselheiro regional e a
deputado (art. 4.°).
A organização do poder político (cujo Título III tinha, à maneira so-
viética, por epígrafe Dos Órgãos do Poder de Estado) é, praticamente, idêntica
à das anteriores Constituições. As modificações mais significativas são, quanto à
Constituição de 1973, a substituição do Conselho dos Comissários de Estado por
um Governo e, quanto à Constituição de 1980, o alargamento das atribuições
do Presidente do CE, adoptando o figurino cubano.
Segundo o art. 46.° os órgãos “representativos do povo” eram os
Conselhos Regionais e a ANP, dos quais “emanavam” os poderes dos demais ór-
gãos do Estado. Os membros dos Conselhos Regionais eram eleitos por sufrágio
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directo e os membros da ANP eram eleitos pêlos Conselhos Regionais, embora a


“selecção” de uns e outros coubesse ao PAIGC. A ANP era, constitucionalmen-
te, “o órgão supremo do poder de Estado” (art. 48.°), dispondo de vasta com-
petência política e legislativa, mas, de facto, a sua acção foi sempre irrisória,
qualitativa e quantitativamente.
O Conselho de Estado (CE), composto por 15 membros, eleitos pêlos
deputados e perante eles responsável, substituía teoricamente a ANP “entre as
sessões legislativas” (art. 62.°). Destacado, de direito e de facto, era o Presi-
dente do CE, simultaneamente Chefe de Estado e do Governo e Comandante
Supremo das Forças Armadas, cujos poderes eram ainda alargados por dispor
de exclusiva competência para nomear e exonerar os membros do Governo, os
juizes do Supremo Tribunal de Justiça, o Procurador-Geral da República e os
Embaixadores (arts. 65.° e 67.°).
O Governo era o órgão executivo e administrativo, conduzindo a
sua política segundo a orientação definida pela ANP e pelo CE. Não corres-
pondia, pois, a um executivo no sentido ocidental, antes se assemelhando aos
órgãos superiores administrativos de tipo soviético e não detinha competência
legislativa própria. Era constituído pelo Chefe de Estado e pêlos Vice-Presiden-
tes do CE, pêlos Ministros e Secretários de Estado e pelo Governador do Banco
(art. 70.°), reunia em Conselho de Ministros, sendo politicamente responsável
perante a ANP e o CE (art. 74.°).
Em resumo - como no demais constitucionalismo africano então
subsistente -, tratava-se de um regime presidencialista, autoritário e de partido
único, fundado numa dominação de tipo carismático.

5. A transição constitucional de 1991/1995


A abertura à iniciativa económica privada começou em 1983 com a
aprovação de um Programa de Estabilização Económica e reforçou-se, após a
realização do IVCongresso do PAIGC, em 1986, com a adopção de uma política
de liberalização comercial e um Programa de Ajustamento Estrutural, negocia-
do com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.
Após algumas tergiversações, a III Reunião do Comité Central do
PAIGC aprovou em Outubro de 1990 vários documentos que formulavam
um programa de transição política, a realizar em dois anos, tendo nomeada-
mente como objectivos a efectivação de uma revisão constitucional destinada
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a instaurar a separação de poderes, o pluripartidarismo, a eleição directa do


Presidente da República e a instauração das liberdades de imprensa e sindical.
Logo em Janeiro de 1991, o II Congresso Extraordinário do PAIGC ratificou
as mudanças previstas na Plataforma Programática de Transição, aditando-
lhe a necessidade de despartidarização das Forças de Defesa e de Segurança e
propugnando um sistema de governo semipresidencial. Pela primeira vez, as
resoluções do Congresso foram adoptadas por voto secreto e com pública diver-
gência de opiniões.
Neste contexto, e sempre sob a égide do PAIGC, foram aprovadas
duas significativas leis de revisão constitucional, uma em Maio e outra em
Dezembro.
A Lei Constitucional n.° 1/91, de 9 de Maio, era a primeira altera-
ção da Constituição de 1984 e foi aprovada pela Ia reunião extraordinária da
IV Legislatura da ANP (ainda exclusivamente monopartidária). Correspon-
deu a uma ampla e significativa revisão constitucional, nos domínios ideológi-
co, político e económico, nomeadamente:
salteração substancial do Preâmbulo e de muita terminologia me-
diante uma técnica de redacção neutra, própria do constitucionalismo europeu;
substituição integral do art. 4.°, com instituição do pluripartidarismo e supres-
são da identificação PAIGC-Estado;
sadopção dos princípios da democracia representativa e Estado de
direito;
senunciação de novos direitos fundamentais, particularmente a li-
berdade de imprensa, a liberdade sindical e o direito à greve;
stransição para a economia de mercado.
Já a revisão constitucional aprovada pela Lei n.° 2/91, de 4 de
Dezembro, é menos relevante e “meramente pontual”: além de prosseguir no
caminho da separação entre Estado e Partido, visou criar o cargo de Primeiro-
Ministro (mas livremente nomeado e demitido pelo Presidente do CE, que,
aliás, também continuava a chefiar o Governo).
Em Agosto de 1992, foi celebrado um acordo entre o PAIGC e os
partidos políticos entretanto legalizados, criando a chamada Comissão Multi-
partidária de Transição, à qual incumbia em especial a análise e apresentação
de propostas sobre a revisão constitucional e a regulação e organização do pro-
cesso eleitoral. O respectivo projecto de revisão constitucional foi apresentado à
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ANP e, apesar de não aprovado na totalidade, concretizou-se na Lei Constitu-


cional n.° 1/93, de 26 de Fevereiro, que, como veremos, introduziu profundas
alterações na Constituição, sobretudo quanto aos direitos fundamentais e à
organização do poder político.
Posteriormente, em Dezembro de 1995, através da Lei Constitu-
cional n.° 1/95, a ANP procedeu à alteração global do Capítulo (sobrante) da
Constituição de 16 de Maio de 1984 relativo ao “Poder Local” (arts. 105.°
a 118.°), criando um estatuto assente em autarquias locais (a saber, os mu-
nicípios, as secções autárquicas e as juntas locais), entendidas como pessoas
colectivas territoriais, dotadas de órgãos representativos e de autonomia admi-
nistrativa e financeira.
Finalmente, a Lei Constitucional n.° 1/96, de 27 de Novembro,
reviu o art. 13.°, n.° 2, relativo ao sistema monetário e ao papel do Banco
Central, permitindo a adesão ao franco da Comunidade Financeira Africana
(CFA) e a integração da Guiné-Bissau na área da UMOA/UEMOA.

6. Estrutura da antiga Constituição de 1984, na


redacção das revisões de 1991 a 1996
Ainda que formalmente continue a identificar-se como Constitui-
ção da República da Guiné-Bissau, de 16 de Maio de 1984 (na redacção
que lhe foi dada pelas sucessivas Leis Constitucionais n.° 1/91, n.° 2/91, n.°
1/93, n.° 1/95 e n.° 1/96) pode dizer-se que estas revisões, respeitando embora
as regras constitucionais estabelecidas, formularam diversa constituição mate-
rial, consumando uma transição constitucional, na qual o momento charneira
foi a revisão de 1993.
Mesmo a própria sistematização apresenta algumas alterações signi-
ficativas, passando a assentar em cinco Títulos: Título I - Princípios funda-
mentais (Da natureza e fundamentos do Estado), composto pêlos arts 1.° a
23.°; Título II - Dos Direitos, Liberdades, Garantias e Deveres Fundamen-
tais, do art. 24.° ao art. 58.°; Título III - Organização do Poder Político
(arts. 59.° a 125.°), subdividido em: Cap. I – Dos Princípios Gerais; Cap. II
- Do Presidente da República; Cap. III - Do Conselho de Estado; Cap. IV - Da
Assembleia Nacional Popular; Cap. V - Do Governo; Cap. VI - Do Poder Lo-
cal; Cap. VII - Do Poder Judicial; Título IV - Garantia e Revisão da Cons-
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tituição, subdividido em Cap. I - Da Fiscalização da Constitucionalidade das


Leis (art. 126.°) e Cap. II - Da Revisão Constitucional (arts. 127.° a 131.°);
e, finalmente, Título V - Das Disposições Finais e Transitórias (arts. 132.°
e 133.°, impostos pela radical transformação da organização do poder político
operada em 1993).
Destacam-se os seguintes princípios fundamentais:definição da
Guiné-Bissau como República soberana, laica, democrática e unitária (cfr.,
sobretudo, arts. 1.°, 6.° e 7.°), defensora dos princípios gerais do Direito Inter-
nacional e da Unidade Africana (art. 18.°):
adopção da democracia representativa (sob a fórmula “estado de
democracia constitucionalmente instituída” - arts. 2.° e 3.°) e do pluriparti-
darismo (art. 4.°);
reconhecimento do princípio do Estado de direito (art. 8.°);
ensaio de um Estado social, articulado com uma economia de mer-
cado (arts. 11.° a 13.°).
Quanto aos direitos e deveres, é aprofundado o catálogo dos direi-
tos, liberdades e garantias fundamentais (reconhecidos quer à pessoa, quer ao
cidadão, quer ao trabalhador), e tentou-se um previdente sistema de protecção
e garantia das liberdades fundamentais reconhecidas. Provenientes dos valores
da luta da libertação, mantiveram-se as ideias da “formação do homem”, li-
gando-a ao “trabalho produtivo” e à educação (art. 16.°), e da promoção da
identidade cultural, das conquistas do povo e da dignidade nacional (arts.
17.° e 19.°). São também reconhecidos vários direitos económicos, culturais e
sociais, mas, realisticamente, o art. 58.° imputa ao Estado a tarefa de criação
das condições necessárias à sua realização conforme as condições “de desenvol-
vimento do país”.
A organização do poder político vai basear-se no princípio da sepa-
ração e interdependência dos órgãos de soberania e estes passaram a pertencer
à família da democracia representativa: Presidente da República, Assembleia
Nacional Popular, Governo e Tribunais.
O Presidente da República (PR) é a chave do sistema de governo:
está definido como “o Chefe de Estado, símbolo da Unidade, garante da Inde-
pendência Nacional e da Constituição e Comandante Supremo das Forças Ar-
madas” (art. 62.°). Tendo de comprovar a sua cidadania guineense de origem,
bem como ser filho “de pais guineenses de origem” (art. 63.°, n.° 2), é eleito
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por sufrágio universal, directo e por maioria absoluta para um mandato de 5


anos (arts. 63.° a 66.°). As sua atribuições são amplas (arts. 68.° a 70.°), dis-
pondo de poderes institucionais, de poderes de direcção política e de poderes de
controlo, que se desdobram numa competência, seja quanto aos outros órgãos,
seja para prática de actos próprios, de convocação, dissolução, nomeação, posse e
exoneração (desde a ANP, ao Governo, às autoridades judiciais, aos militares e
aos embaixadores). Está prevista a eventual responsabilidade por crimes come-
tidos no exercício das suas funções (art. 72.°) e dispõe de um Conselho de Esta-
do, composto por membros designados por inerência, nomeação ou cooptação,
enquanto “órgão político de consulta” (art. 73.°). Nas eleições presidenciais
de 1994, na 1.ª volta concorreram 8 candidatos, não tendo havido maioria
absoluta, e na 2.ª volta o candidato do PAIGC e ex-Presidente do CE, “Nino”
Vieira, foi eleito com escassa maioria (cerca de 15.000 votos) sobre o candidato
Kumba Yalá.
Nos termos do artigo 76.°, a ANP “é o supremo órgão legislati-
vo e de fiscalização política, representativo de todos os cidadãos guineenses”.
Os deputados são eleitos por sufrágio directo e por representação proporcional
para um mandato de quatro anos. A ANP dispõe, essencialmente, de poderes
legislativos e de fiscalização política (arts. 85.° a 87.°), reunindo-se, em sessão
ordinária, quatro vezes por ano (art. 89.°). Nas eleições legislativas de 13 de
Julho de 1994, para um total de 100 mandatos, o PAIGC obteve 38% de vo-
tos e a maioria absoluta de 62 mandatos, e da restante dezena de partidos ou
coligações concorrentes, a RGB-BF (Resistência da Guiné-Bissau - Movimento
BaFatá, de pendor democrata-cristão) obteve 19, o PRS (Partido da Renova-
ção Social, de pendor populista) obteve 12, a UM (União para a Mudança,
coligação social-democrata) 6 e a FLING (com base étnica nos Manjacos) 1
deputado.
O Governo é o órgão permanente de condução política e de coorde-
nação da administração pública (art. 96.°), constituído pelo Primeiro-Minis-
tro, Ministros e Secretários de Estado; o Primeiro-Ministro é o Chefe do Gover-
no, nomeado pelo PR, a quem propõe o restante ministério (arts. 97.° e 98.°);
o Governo é duplamente responsável perante o PR e a ANP (art. 103.°); dispõe
de poderes de direcção política, poderes legislativos (próprios ou, nos termos do
art. 92.°, delegados) e poderes administrativos (art. 100.°)
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Com um PR dotado de vastos poderes institucionais e de direcção


política e, ademais, controlando ele próprio o PAIGC - que então beneficiava
de maioria absoluta na ANP e podia formar governos homogéneos -, o regime
político posterior às eleições legislativas e presidenciais de 1994 (apesar das ga-
rantias do pluralismo político e de expressão, da existência de partidos políticos
e dos direitos da oposição democrática e apesar, ainda, de o sistema de governo
se configurar com um equilibrado sistema semipresidencial) funcionou sempre
sob um inequívoco pendor ou dimensão presidencialista, permitindo a concen-
tração do poder no PR, general João Bernardo Vieira (“Nino”).
Entretanto, em Março de 1998, a Comissão Eventual para a Re-
visão Constitucional e Elaboração da Lei Eleitoral, anteriormente criada no
seio na ANP, apresentara o seu Anteprojecto para a Revisão da Constituição
novas eleições legislativas deveriam realizar-se até Julho de 1998 e as eleições
presidenciais ocorreriam em 1999.

7. A guerra e as vicissitudes constitucionais


Em 7 de Junho de 1998 - na sequência de extensa crise social,
política e militar, agudizada por acusações de tráfico de armas, envolvendo
dirigentes políticos e oficiais das Forças Armadas - rebentou em Bissau uma
rebelião militar liderada pelo ex-Chefe do Estado-Maior General das Forças
Armadas, brigadeiro Ansumane Mane.
Após várias tentativas de mediação e de cessar-fogo, interrompidas
por recomeços e agravamentos das hostilidades, as duas partes em conflito (ou
seja, “o Governo da Guiné-Bissau”, de um lado, e “a auto-proclamada Junta
Militar”, de outro), vieram a assinar, em 1 de Novembro de 1998, na presença
de vários Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO (reunida na Nigéria), o
chamado Acordo de Abuja, constante de cinco pontos, prevendo:
cláusulas de âmbito militar (a saber, a reafirmação do acordo de
cessar-fogo celebrado em 26 de Agosto; a retirada total das forças militares
estrangeiras; a instalação de uma força militar de interposição, destinada a
garantir a segurança no território);
cláusulas de âmbito político (a saber, a formação de um governo de
unidade nacional; a organização de eleições legislativas e presidenciais até fim
de Março de 1999).
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Apesar de, em rigor, a Constituição não estar formalmente suspen-


sa (mas sim, excepcionalmente, “sob estado de necessidade”), este Acordo de
Abuja condiciona ou limita a respectiva aplicação, tendo um duplo (e circular)
alcance: por um lado, traduz uma ruptura institucional, mas, por outro, esgo-
tar-se-á com o retomo ao funcionamento normal das instituições e, portanto,
realizadas as eleições, permitirá “a reaquisição de plena força jurídica da Cons-
tituição” (Jorge Miranda).
Saliente-se que a ANP continuou a funcionar, desenvolvendo esfor-
ços para obtenção da paz. Perante a eclosão da rebelião militar, uma reunião
alargada da Comissão Permanente aprovou, em 9 de Junho, um Memorando
de Mediação, enviado no dia seguinte ao PR, exigindo o imediato cessar-fogo
e a abertura de negociações. Em Julho e Outubro, através da sua Comissão Per-
manente, a ANP apresentou propostas de solução pacífica do conflito. Muito
significativa foi a reunião extraordinária de 27 de Novembro, onde aprovou,
por 69 votos e 9 abstenções, uma resolução decidindo “retirar a confiança polí-
tica” ao PR e exigindo a “retirada imediata e incondicional” das tropas senega-
lesas e da Guiné-Conacri. Ora, como a 1 de Julho expirara o seu mandato, tem
de entender-se - e assim foi sustentado de várias formas e por vários meios - que
a ANP se mantinha em funções por aplicação do princípio da prorrogação,
como princípio geral de direito público.
Em 20 de Fevereiro de 1999 - após complexas negociações, realiza-
das sob esporádicos mas graves combates -, foi finalmente empossado o previsto
Governo de Unidade Nacional, chefiado por Francisco Fadul. Por outro lado,
apesar de variadas confirmações quanto às prometidas eleições, começaram a
surgir divergências sobre a sua data e condicionalismos, até que, finalmente, o
PR, através do decreto presidencial de 3 de Maio, acabou por marcar as eleições
presidenciais e legislativas, a realizar, conjuntamente, em 28 de Novembro
desse ano de 1999.
Porém, logo em 7 de Maio, reacendeu-se vigorosamente a “guerra
de Bissau” e o PR (“Nino” Vieira) acabou por refugiar-se na Embaixada de
Portugal, aceitando, “após onze meses de conflito político-militar”, subscrever
a sua “rendição incondicional”. Dada a vacatura presidencial, assumiu as suas
funções - nos termos do art. 71.°, n.° 2, da Constituição, interpretado extensi-
vamente (pois limitava-se a prever o “caso de morte ou impedimento definiti-
vo” do PR) - o Presidente da ANP, Malan.
As Constituições dos Países de Língua Portuguesa Comentadas 489

Bacai Sanha, o qual, em 14 de Maio, procedeu ao juramento


como PR interino perante uma heterogénea assembleia de autoridades mili-
tares e civis triunfantes, deputados, comunicação social, escasso corpo diplo-
mático e alguma multidão que se reuniu num edifício com visíveis sinais de
destruição. No seu discurso, além do mais, confirmou a realização de eleições
legislativas e presidenciais na data marcada de 28 de Novembro.
Mas o contexto político-constitucional era bastante complexo. Caíra
(por via militar) uma das partes que subscrevera o Acordo de Abuja, texto que
efectivamente vinha regulando mais ou menos o retomo à ordem constitucio-
nal; além disso, o novo PR não só seria interino como decorria de um mandato
já em prorrogação (acrescendo que o n.° 3 do art. 71.° da Constituição impu-
nha que o novo PR fosse eleito “no prazo de 60 dias” e o mandato presidencial
normal terminaria, nos termos constitucionais, a 29 de Setembro, enquanto,
como vimos, as eleições presidenciais, embora afastando-se do Acordo de Abu-
ja, estavam marcadas para 28 de Novembro). E aconteceu que, mesmo antes
da posse do novo PR, já se negociava um “pacto” que resumisse a nova relação
de forças, sobretudo quanto ao estatuto do PR interino e quanto aos poderes
efectivos da Junta Militar triunfante, nomeadamente do seu Presidente.
De facto, a 21 de Maio - tendo formalmente em conta não só a
situação decorrente da “capitulação” do ex-PR, como a necessidade de regres-
sar à “normalidade constitucional, em condições de estabilidade político-ins-
titucional” e, ainda, considerando “os princípios gerais de direito público que
norteiam o Estado da Guiné-Bissau, especialmente a Constituição”, bem como
“a imperiosa necessidade de continuidade do Estado e de regulamentação do
processo de transição” -, o PR interino, o Comandante Supremo da Junta Mi-
litar, a ANP, o Governo de Unidade Nacional e os partidos políticos subscreve-
ram um Pacto de Transição Política, subdivido em 5 títulos, com 17 artigos.
Nele se enunciava “o quadro legal para a condução do País à normalidade
constitucional”, concedendo-se um poder crucial ao designado Comandante
Supremo da Junta Militar, brigadeiro Ansumane Mane. Como aspectos mais
importantes, salientam-se:
reafirmação do “engajamento” ao Acordo de Abuja, às instituições
da República e aos compromissos internacionais;
definição do estatuto quer do PR interino, quer do Comandante
Supremo da Junta Militar, quer do Governo de Unidade Nacional;
490 Fernando A. A. Mourão, Walter C. Porto, Thelmer M. Mantovanini

o exercício de algumas competências do PR dependia de autorização


expressa do Comandante da Junta Militar;
o Governo de Transição passava a estar também dependente do Co-
mandante da Junta Militar;
o Supremo Tribunal de Justiça era depositário do Pacto e a “juris-
dição competente para dirimir qualquer conflito que venha a suscitar a sua
interpretação ou aplicação”;
reafirmavam-se as atribuições e competência da ANP decorrentes
da Constituição e confirmava-se o termo da sua legislatura “com a proclama-
ção dos resultados eleitorais de 28 de Novembro de 1999”.
Esta (nova) situação de excepção inseriu-se, assim, na escalada de
modificações de uma Constituição muito intermitente e aleatoriamente sobre-
vivente, acumulando agora uma derrogação expressa da organização do poder
político com a vicissitude da suspensão (parcial) da Constituição. Para mais, a
ANP ia debatendo o “código” eleitoral e mesmo a adopção de uma nova Consti-
tuição; em Junho de 1999, fazia publicar uma Lei Constitucional compilan-
do os trabalhos constituintes. Em 7 de Julho, prosseguindo o processo de revisão
constitucional, regulou por maioria qualificada, as condições de elegibilidade
ou designação dos mais importantes cargos constitucionais (com incidência nas
próximas eleições), passando a exigir a comprovação da dupla ascendência pa-
terna e materna (no território) guineense - o que, na conjuntura, atingia, por
exemplo, as pessoas do Comandante da Junta, do Primeiro-Ministro e do Pro-
curador-Geral da República. O ponto tornou-se obviamente polémico e, em 2
de Outubro, a ANP teve de rever a referida exigência (note-se que esta revisão
constitucional, preparada em 1999 pela ANP, nunca foi promulgada).
Em meados de Novembro, surgiu uma proposta para instituciona-
lizar a Junta Militar, através de um documento intitulado Magna Carta, mas
quer esta tentativa, quer outras alternativas para manter a Junta Militar em
funções na nova ordem constitucional, foram aparentemente derrotadas.

8. Restauração e impasse constitucional

Enfim, as eleições realizaram-se em 28 de Novembro de 1999, como


previsto, sob a coordenação da Comissão Nacional de Eleições, com fiscalização
As Constituições dos Países de Língua Portuguesa Comentadas 491

internacional e substancial apoio técnico e financeiro da ONU, da União


Europeia, de vários países e outras instâncias internacionais.
Nas legislativas, concorreram candidatos de 13 partidos políticos
aos 102 mandatos, tendo os três partidos mais votados obtido, respectivamente,
os seguintes lugares: 38 (o PRS), 29 (a RGB-MF) e 24 (o PAIGC), repartindo-
se os demais onze mandatos por cinco partidos (com 1 a 3 deputados eleitos)
A 1.a volta das presidenciais concorreram 12 candidatos; na 2 a.
volta, em 16 de Janeiro de 2000, o candidato Kumba Yalá (presidente do PRS,
partido político que nas legislativas obtivera a maioria relativa) venceu com
69%, enquanto o candidato do PAIGC, ex-presidente da ANP e então PR
interino, Malam Bacai Sanha, obteve 27% dos votos validamente expressos.
A nova ANP tomou posse a 28 de Janeiro de 2000, o PR a 17 de
Fevereiro e o Governo a 19 de Fevereiro.
Assim se concluía, formalmente, o regresso à democracia constitu-
cional. Em 23 de Fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU - que acom-
panhava especialmente a situação na Guiné-Bissau desde as declarações do seu
Presidente, de 6 e 30 de Novembro de 1998 e, em 21 de Dezembro, aprovara,
a propósito, a Resolução 1216 (1998), confirmada e desenvolvida pela Resolu-
ção 1233(1999), de 6 de Abril – felicitou o regresso ao governo constitucional
e instigou os doadores a concederem as suas ajudas “o mais depressa possível”.
Mas, logo no Relatório emitido a 24 de Março, o representante
permanente do Secretário-Geral no território dava nota que, apesar de a Cons-
tituição ter sido recentemente estabelecida, se mantinha o papel activo das
forças militares na cena política. Dada a generalizada convicção da premência
de uma nova ordem constitucional, a ANP retomou os trabalhos constituintes
e, com o apoio da ONU, promoveu mesmo um seminário alargado com a
participação de deputados, representantes de partidos políticos, dirigentes da
sociedade civil e constitucionalistas.
A Comissão Técnica criada pela ANP prosseguiu os seus trabalhos e,
em Agosto de 2000, antes das férias parlamentares, a ANP aprovou o respectivo
projecto de Constituição. Porém, a situação política continuava difícil e flutu-
ante, com várias tentativas de golpe de Estado e sucessivos conflitos institucio-
nais entre todos os órgãos, nomeadamente entre o PR, as instâncias judiciais e
a ANP. A partir de Setembro agravou-se também o conflito com a subsistente
492 Fernando A. A. Mourão, Walter C. Porto, Thelmer M. Mantovanini

Junta Militar, o qual, em Dezembro, culminaria dramaticamente na morte do


brigadeiro Ansumane Mane.
Em 5 de Abril de 2001, a ANP, “reunida em sessão plenária, ao
abrigo dos arts. 127.° e 129.°, ambos da Constituição” aprovou e decretou
“como lei fundamental” o novo texto constitucional, com 303 artigos, prevendo
precisamente o art. 303.° que a Constituição entraria em vigor “a partir do dia
5 de Julho de 2001”.
Todavia, em 23 de Maio, o PR comunicou a ANP a sua recusa de
promulgação, discordando, em especial, dos processos de nomeação das chefias
militares e embaixadores e da omissão do direito de presidir ao Conselho de
Ministros.
O impasse constitucional arrastou-se e intensificaram-se as tensões
entre os vários poderes e órgãos do Estado. Neste clima de instabilidade cres-
cente, ouvidas a ANP e o Conselho de Estado, em 15 de Novembro de 2002, o
PR demitiu o Governo e dissolveu a ANP, anunciando a convocação de eleições
legislativas antecipadas.

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