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Mineração

Mining

Classificação de pilhas de
estéril na mineração de ferro
Mine dump classification in the iron ore mining
Giani Aparecida Santana Aragão Resumo
MSc, Pimenta de Ávila Consultoria Ltda.,
Nova Lima/MG, Brasil O artigo apresenta uma proposta canadense de classificação de pilhas de estéril
giani.aragao@pimentadeavila.com.br do ponto de vista da sua estabilidade física. O método baseia-se na avaliação pondera-
da e semiquantitativa de fatores-chave que podem afetar a estabilidade. Seu resultado
permite atribuir uma determinada classe à pilha de acordo com o potencial de insta-
Waldyr Lopes de Oliveira Filho bilidade. Essas classes definem um nível de esforço recomendado para investigação,
PhD, Universidade Federal de Ouro Preto, projeto, construção e monitoramento da pilha. Para a verificação da eficácia do siste-
Ouro Preto/MG, Brasil ma de classificação, foi realizado um estudo de caso diante da realidade da mineração
waldyr@em.ufop.br de ferro, na cidade de Nova Lima, Minas Gerais. A execução desse trabalho envolveu
uma pesquisa documental e um posterior trabalho de campo, a fim de se aplicar, as
informações coletadas sobre as pilhas no sistema de classificação.
O trabalho mostra, também, inovações introduzidas pelos autores sobre o uso
do sistema de classificação como meio de atestar a qualidade do manejo das pilhas e
de identificar condicionantes de um projeto. O sistema de classificação mostrou que se
trata de uma ferramenta muito útil, tanto no planejamento, como também na avalia-
ção de todas as fases da vida de uma pilha.

Palavras-chave: Pilha de estéril, classificação, estabilidade, mineração de ferro.

Abstract
In this paper a Canadian proposal for waste dumps classification according to
their physical stability is presented. The method is based on a semi-quantitative eva-
luation of key factors affecting the stability of a waste dump, and the result allows
assigning a certain class of dump according to their instability potential. These classes
define a recommended level of effort for investigation, design, construction and mo-
nitoring of the dumps. To check the effectiveness of the classification a case study was
carried out in face of the iron ore mining reality, in Nova Lima City, Minas Gerais
State. The implementation of this work involved a documentation search followed by
field work and analyses in order to apply the collected information about the dumps
in the classification.
The work also shows innovations introduced by the Authors about the use of the
classification system as a means of assessing the quality of the dumps management
and also makes it possible to identify main aspects of a project. The proposed classifi-
cation system showed that it is a very useful tool for both planning and evaluation of
all stages of a waste dump life.

Keywords: Waste Dump, classification, stability, iron ore mining.


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Classificação de pilhas de estéril na mineração de ferro

1. Introdução

A extração de bens minerais faz sur- de possibilidades para a utilização futura resolvida por uma classificação de pilhas.
gir uma quantidade expressiva de materiais desses depósitos. Essa situação faz com Até o presente momento, não exis-
de pouco ou nenhum valor econômico, que seja necessário um esforço maior de te, entre nós, uma classificação de pilha
como o minério futuro e o estéril. O ma- planejamento das atividades de projeto, de estéril com relação ao seu potencial de
nejo do minério futuro responde a uma construção, operação e reabilitação das perigo/dano, algo mais comum de se ver
estratégia de negócio: tal minério pode estruturas finais geradas pela movimenta- quando o assunto é barragem. No estado
ser aproveitado e, ainda, dar um retorno ção dos estéreis. de Minas Gerais, por exemplo, existe
financeiro. Já a remoção de estéril da área No Brasil, o planejamento e o projeto uma Deliberação Normativa COPAM
de lavra e a sua disposição final represen- de uma pilha estão sujeitos a aprovações (62/2002 alterada para 87/2005) espe-
tam apenas custos no desenvolvimento de legais, apesar de se exigir muito pouco cífica para barragens, que as classifica
uma mina com implicações, não só de or- sobre investigação e projeto. A norma segundo o potencial de dano ambiental.
dem econômica, mas, também, no que diz ABNT NBR 13029 (2006) especifica os O presente trabalho procura con-
respeito à segurança e ao meio ambiente. requisitos mínimos para a elaboração e a tribuir para preenchimento dessa lacuna
Atualmente o manejo criterioso de apresentação de projeto para disposição ao trazer os resultados de uma pesquisa
estéril impõe-se devido a diversos fatores. de estéril. que teve como objetivo avaliar um siste-
Entre esses fatores destacam-se o signi- Dada a diversidade das pilhas em ma de classificação de pilhas de estéril
ficativo aumento no volume de material termos locacionais, porte, tipos de estéril, com vistas a sua utilização em gerencia-
movimentado nas operações mineiras, clima, etc., existe uma carência de orien- mento de riscos, planejamento, projeto,
a maior escassez de áreas adequadas à tação dos profissionais que lidam com construção e monitoramento dessas
disposição, especialmente em empreen- esses empreendimentos. É preciso que estruturas. Espera-se que o assunto possa
dimentos mais antigos, a maior exigência eles estabeleçam um nível adequado de despertar uma discussão de um critério
dos órgãos fiscalizadores, principalmente detalhamento dos estudos dessas estrutu- de classificação a ser adotado para as
nos aspectos ambientais, e o amplo leque ras. Essa dificuldade pode ser, em parte, pilhas no Brasil.

2. Sistema de classificação de pilhas de estéril

Um sistema de classificação propor- das as fases da vida de uma pilha, desde 100 pontos). Essa observação é apontada
ciona, em geral, a identificação básica de o seu planejamento. Ela propicia realizar no estudo de caso (item 3).
um produto, estrutura ou processo, que, classificações preliminares dos possíveis Com a pontuação alcançada, a pilha
no caso de uma pilha de estéreis, poderia, locais para disposição do estéril, tornando é, então, classificada em uma das quatro
por exemplo, informar sobre o seu tipo e possíveis comparações entre esses locais, categorias de estabilidade conforme a
a sua configuração. Essas informações quanto ao potencial de instabilidade, e es- Tabela 2. Essas categorias ou classes de-
facilitam a comunicação e o entendimento tabelecendo o nível de esforço de investiga- finem um nível de esforço recomendado
entre profissionais interessados em projeto ção, projeto, construção e monitoramento para investigação, projeto e construção
e construção. Além disso, a classificação necessários para cada local de acordo com da pilha, ou seja, a qualidade do manejo
pode fornecer informações adicionais a cada classe encontrada. de estéril. Quanto maior a classe, maior o
que permitam prever o provável compor- O sistema de Classificação consta de nível de esforço recomendado. É bom que
tamento interno da pilha (poro pressões, duas partes principais, a saber: Avaliação se esclareça, que ao ser colocada numa
nível de água, etc) e identificar problemas de Estabilidade e Classificação de Pilha. categoria, por exemplo, classe III ou IV,
potenciais (condicionantes). Um complemento à Classificação é o que não significa que a pilha vai romper ou
Nesse trabalho, avalia-se um sistema aqui se denomina Verificação de Enqua- está com uma estabilidade precária e,
de classificação de pilhas desenvolvido dramento de Classe. sim, qual o potencial de perigo ou dano
para o governo canadense com base na A Avaliação de Estabilidade da pilha associado, traduzindo a qualidade de
estabilidade física de uma pilha de estéril trata-se de uma metodologia semiquanti- manejo desejado àquela classe em que ela
(BC Mine Waste Rock Pile Research tativa para avaliar o potencial de instabili- foi classificada.
Committee, 1991). Na elaboração desse dade de pilhas com base em fatores-chave. A Verificação de Enquadramento
sistema, foram enviados questionários A Tabela 1 lista esses fatores, sendo as três da Classe é uma etapa complementar
a diversos profissionais e empresas de primeiras colunas referentes ao sistema de dentro do sistema de classificação, onde é
consultoria, indagando sobre fatores que classificação propriamente dito, compre- analisado se o manejo de estéril previsto
influenciavam a estabilidade das pilhas endendo a descrição, o grau ou intensidade ou realizado é compatível com a classi-
e sua importância. As informações ob- de cada um e a ponderação sugerida. As ficação, ou seja, avalia-se se uma pilha,
tidas foram tratadas de modo a se obter outras colunas subsequentes apresentam por exemplo, classe III, está sendo tratada
um consenso e daí surgiu o sistema de exemplo de classificação dentro de um es- como tal, ou como uma classe diferente.
classificação baseado numa pontuação tudo de caso, que será discutido no item 3. Essa etapa não existe na proposta original
ponderada daqueles pontos-chave e numa É importante ressaltar que a ativi- da classificação, mas se julgou necessária
categorização do potencial de ruptura das dade de classificar segundo a Tabela 1 para responder à questão sobre a qualida-
pilhas em classes. permite, também, identificar aspectos de da gestão do manejo de estéreis da pilha
Esse sistema de classificação é uma relevantes da pilha naqueles fatores onde classificada. Ela será também apresentada
ferramenta que pode ser utilizada em to- a pontuação alcançada é máxima (200 ou no estudo de caso a seguir.
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Giani Aparecida Santana Aragão, MSc et al.

Pontuação

Pontua-
Fatores-chave Pilhas (exemplo)

ção
que afetam a Faixa de Condições ou Descrições
estabilidade Grota Capão Grota
Fria da Serra 0
<50m 0
Altura 50m - 100m 50
da 50 200 200
Pilha 100m - 200m 100

Configuração da Pilha
>200m 200
Pequeno <1 x 106 m3/banco 0
Volume
da Médio 1 - 50 x 106 m3/banco 50 0 50 50
Pilha
Grande >50 x 106 m3/banco 100
Inclina- Suave <26º 0
ção
Moderado 26º - 35º 50 0 0 0
do
Talude Íngreme >35º 100
Suave <10º 0
Inclinação Moderada 10º - 25º 50
0 0 0
de Fundação Íngreme 25º - 32º 100
Extrema >32º 200
- Talude côncavo em planta ou seção;
- Aterros em vale ou transversais a um vale, pé de talude em
Confinado contato com a parede oposta do vale; 0
-Ravinas em forma de dente de serra suavisando a inclunação
de fundação.
- Bancos ou terraços naturais nos taludes;
Grau
- Taludes com inclinação uniforme, limitados por topografia
de Moderadamente 50 50 50
natural diversificada; 50
Confinamento confinado
-Empilhamento de estéreis em encostas, em vales abertos, ou
transversais a vales.
- Talude convexo em planta ou seção;
Sem - Aterros de encosta ou aterros de crista sem confinamento na
100
Confinamento base;
- Sem rafinas ou bancos para auxiliar a construção.
- Materiais de Fundação tão ou mais resistentes que os da pilha;
Competente - Não sujeita a efeitos adversos da poropressão; 0
- Sem estruturas geológicas desfavoráveis.
- Intermediária entre competente e fraca;
- Ganho de resistência do solo com adensamento;
Intermediária 100
Tipos - Dissipação do excesso de propressões com o controle da taxa de
de carregamento. 100 100 100
Fundação
- Capacidade de suporte limitada, solos moles;
- Sujeita a excessos de poropressão devido ao carregamento;
- Condições adversas de água subterrânea, surgências ou
Fraca 200
infiltrações;
.Baixa resistência ao cisalhamento, com alto potencial de
liquefação.
- Resistente, durável
Alta 0
- Menos que 10% de finos
Qualidade
- Moderadamente resistente, durabilidade variável;
do material Moderada 100 100 100 200
- 10 a 25% de finos
da pilha
- Predominância de rochas fracas de baixa durabilidade
Pobre 200
- Mais que 25% de finos, material de cobertura (capeamento)
- Bancos ou camadas não muito espessos (<25m de espessura),
plataformas largas;
Favorável - Disposição ao longo das curvas de nível 0
- Construção ascendente
- Wrap-arounds ou terraços
Método de
- Bancos ou bancadas moderadamente espessas (25m - 50m); 0 0 0
construção Misto 100
- Métodos mistos de construção
- Bancos ou camadas muito espessas (>50m), plataforma estreita
(aterro na forma de pontões)
Dsfavorável 200
- Disposição abaixo da linha de queda do talude;
- Construção descendente
- Baixas pressões piezométricas, nenhuma surgência na fundação;
- Improvável desenvolvimento de superfície freática no interior da
pilha;
Favorável 0
- Precipitação limitada;
- Infiltração mínima dentro da pilha;
- Nenhuma camada de neve ou gelo na pilha ou fundação
- Pressões piezométricas moderadas, algumas infiltrações na
Condições fundação;
piezométricas - Desenvolvimento limitado da superfície freática na pilha; 100 100 200
e climáticas Intermediária - Precipitação moderada; 100
- Alta infiltração no interior da pilha;
- Lentes ou camadas descontínuas denve ou gelo na pilha ou na
fundação;
- Altas pressões piezométricas, surgências na fundação;
- Alta precipitação;
Desfavorável 200
- Significativo potencial de desenvolvimento de superfície freática ou
lençol suspenso no interior da pilha.
- < 25m3/banco por metro linear de crista por dia; 0
Baixa - Taxa de avanço da crista <0.1 m por dia.
Taxa de - 25 - 200 m3/banco por metro linear de crista por dia;
Moderada 100 0 0 0
Tabela 1 decomposição - Taxa de avanço da crista de 0.1 m - 1.0 m por dia.
- > 200 m3/banco por metro linear de crista por dia;
Pontuação de Estabilidade Alta
- Taxa de avanço da crista > 1.0 m por dia.
200
de Pilhas de Estéril e exemplo Baixa Zona de risco sísmico 0 e 1 (escala Richter) 0
de aplicação (modificado BC Mine Sismicidade Moderada Zona de risco sísmico 2 e 3 50 0 0 0.
Waste Rock Pile Research Committee, Alta Zona de risco sísmico 4 ou maior 100

1991; Aragão, 2008) Pontuação máxima possível de estabilidade da pilha: 1.800 350 600 800

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Classificação de pilhas de estéril na mineração de ferro

Classificação Classificação
Potencial Nível de Esforço Recomendado Faixa de
da estabi- Pilhas
de Ruptura para Investigação, Projeto e Construção pontuação
lidade Exemplo

- Reconhecimento básico do local, documentação de


referência;
- Programa mínimo de ensaios de laboratório;
I Desprezível - Rotina de checagem de estabilidade, possivelmente <300
usando ábacos;
- Restrições mínimas na construção;
- Monitoramento apenas visual.

- Investigação completa do local;


- Poços de inspeção, amostragem pode ser obrigatória;
- Programa limitado de ensaios de laboratório;
II Baixo - Estabilidade pode ou não influenciar o projeto; 300 - 600 Grota Fria
- Análise básicas de estabilidade obrigatória;
- Certas restrições na construção;
- Monitoramento visual e de instrumentos de rotina.

- Investigação detalhada do local;


- Poços de inspeção obrigatórios, ou outras
investigações de superfície podem ser obrigatórias;
- Programa detalhado de ensaios de laboratório,
incluindo propriedades-índice, resistência ao
cisalhamento e durabilidade provavelmente
obrigatórios;
Capão
- Estabilidade influencia e pode controlar o projeto;
da Serra
- Análise de estabilidade detalhada, possivelmente 600 -
III Moderado
estudos paramétricos, obrigatórios; 1200
- Projeto básico pode ser obrigatório para aprovação/
Grota 0
permissão;
- Restrições moderadas na construção (ex. taxa de
carregamento limitada, espessuras das camadas, qualidade
do material, drenagem superficial adequada, etc.);
- Monitoramento detalhado de instrumentação para
confirmar projeto, documentar performance e estabelecer
limites de carregamento.

- Investigação detalhada do local em etapas;


- Poços de inspeção e possíveis trincheiras, obrigatórios ;
- Sondagens e outras possíveis investigações subsuperficiais
provavelmente obrigatória;
- Amostragem indeformada provavelmente obrigatória;
- Programa detalhado de ensaios, incluindo propriedades-
índice, resistência ao cisalhamento e durabilidade
provavelmente obrigatórios;
- Considerações sobre estabilidade essesnciais;
- Análises de estabilidade detalhadas, possivelmente incluindo
IV Alto >200
estudos paramétricos e avaliações completas de alternativas
provavelmente obrigatórias;
- Projeto básico possivelmente obrigatório para aprovação/
permissão;
- Restrições severas na construção (ex. taxas limite de Tabela 2
carregamento, espessuras das camadas, qualidade do Classificação da estabilidade
material, drenagem superficial, etc.);
- Monitoramento detalhado de instrumentação para da pilha e nível de esforço recomendado
confirmar projeto, documentar performance e estabelecer (modificado BC Mine Waste Rock Pile
limites de carregamento.
Research Committee, 1991).

3. Estudo de Caso

O sistema de classificação intro- nos complexos mineiros de Vargem A empresa, na época do estudo,
duzido anteriormente foi examinado Grande e Paraobebas, em Minas Gerais, possuía, na região, uma relação de 34
nessa pesquisa através de estudo de mais especificamente no Quadrilátero pilhas em diversas fases (projeto, ope-
caso nas pilhas de estéreis da VALE, Ferrífero. ração ou desativada).

Características gerais das pilhas

A primeira etapa do estudo de clas- relatórios de investigação de campo, etc. As pilhas analisadas possuíam
sificação das pilhas compreendeu uma Em seguida, passou-se a análise dos do- características semelhantes, sendo pla-
pesquisa documental sobre os fatores- cumentos em meio eletrônico. Ao concluir nejadas, projetadas e construídas com
chave (Tabela 1) para cada um dos 34 o trabalho, os dados foram computados e acompanhamento técnico. De um modo
empreendimentos mineiros. Iniciou-se organizados de forma estruturada em pla- geral, são estruturas de médio e grande
com os documentos em meio físico. Foram nilhas eletrônicas. Para cada mina, foi feita porte, formadas pelo método ascendente,
analisados documentos como: projetos uma planilha e, dentro dessas planilhas, o que constitui uma boa prática para a
básicos, projetos executivos, relatórios de foram colocadas as pilhas das respectivas estabilidade das estruturas. A Tabela
reuniões, relatórios de consultores, ma- minas, contendo as informações sobre as 3 mostra um resumo das informações
pas, croquis, relatórios de instrumentos, variáveis pesquisadas. coletadas.
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Trabalho de Campo

Ao finalizar a análise de todos os Grota 0 (em operação de retomada, alte- construção, e a se ter acesso a relatórios
dados, foram separadas as pilhas que amento), da mina da Mutuca. locais, resultados de instrumentação e
possuíam o maior número de informações Além do trabalho de escritório, outras informações por meio de comu-
necessárias à classificação, evitando-se realizaram-se visitas ao campo àquelas nicação pessoal. Essa atividade foi muito
inferências. As pilhas selecionadas foram estruturas de modo a se obter um co- útil para complementar e para validar
Grota Fria (desativada) e Capão da Serra nhecimento da situação real das pilhas, os dados coletados na fase de escritório
(em operação), da mina do Tamanduá, e do plano operacional, o “as built” de (pesquisa documental).

Dados Verificados %
Projeto Executivo 40
Fontes de Informações
Análise de risco - FMEA 10
Coletadas
Documentos diversos 60
Desativada 10
Situação das Pilhas Atividade 36
Projeto 16
Método Construtivo Construção Ascendente 100
Aterro em Vale 70
Aterro em Encosta 16
Tipo de Pilha
Aterro em Crista 7
Pilha 7
<100 13
Altura Geral da Pilha 100m a 200m 47
>200m 40
10m a 20m 20
Altura dos Bancos
20m 80
21º 47
Ângulo de Inclinação
21º a 23º 27
Geral dos Taludes
<21º 26
26º - 26,6º 85
Ângulos entre bancos
29ª 15

Tabela 3 Filitos, xistos, itabiritos pobres, quartzitos, cangas e rochas


Qualidade do Material 90
básicas em diversos estados de alteração
Análise das Características
das Pilhas Estudadas Monitoramento Inspeção e instrumentos 100

Classificação das Pilhas

As pilhas escolhidas foram anali- lha do Capão da Serra obteve seiscentos como classe II, com potencial de ruptura
sadas pela Tabela 1, sendo a pontuação pontos, no limiar de classificação entre baixo. A pilha da Grota 0 obteve oito-
dos fatores de cada uma das pilhas classe II e classe III, sendo conservado- centos pontos, sendo classificada como
mostrada naquela tabela (três últimas ramente classificada como classe III, classe III, com potencial de ruptura
colunas da esquerda). As pilhas foram com potencial de ruptura moderado. moderado.
classificadas dentro de uma categoria A pilha da Grota Fria obteve trezentos De acordo com a Tabela 1, é pos-
(classe) de acordo com a Tabela 2. A pi- e cinqüenta pontos, sendo classificada sível, também, observar que os aspectos

Itens Descrição Classe I Classe II Classe III Classe IV


Reconhecimento do Local Básico Completo Detalhado
Programa de Ensaio Mínimo Limitado Detalhado
Opcional
Poço de Inspeção Obrigatório
Obrigatório
Investigação
Amostragem Opcional
Indeformada Obrigatório
Opcional
Sondagens
Obrigatório
Análise de Estabilidade Ábacos Básica Detalhada
Projeto
Projeto Básico Obrigatório
Restrições na Construção Mínima Algumas Moderadas

Construção Visual/
Monitoramento
Tabela 4 Monitoramento Visual Instrumento
Detalhado
Rotina
Enquadramento de Classe
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Classificação de pilhas de estéril na mineração de ferro

mais relevantes de projeto (condicio- Tabela 4 - Enquadramento de Classe. para atendimento aos requisitos de es-
nantes de projeto) para as três casos No exercício de enquadramento da forço de uma pilha classe III, ou mesmo
estudados, de um modo geral, foram: pilha Grota Fria (classe II) com auxílio, classe IV, no que tange a sondagens.
altura das pilhas, tipo de fundação, qua- também, de pesquisa documental e Por fim, a pilha Grota 0 (classe III)
lidade do material da pilha e condições de visitas ao campo (itens anteriores), possuía informações também em seis
piezométricas e climáticas. constatou-se que, dos nove itens de itens, todos atendidos na classe III/IV,
Com a classe definida, passou-se avaliação, havia informações sobre seis com exceção de um, marcado em classe
à etapa de se verificar o nível de esforço deles, destacando-se que, nos quesitos superior, ou seja, acima do exigido.
empregado estava compatível com a de investigação e projeto, o realizado, O enquadramento de classe das
classe encontrada. Para a verificação para esta pilha, estava acima do neces- pilhas analisadas não foi de todo
do enquadramento da classe, foi modi- sário (nível de classe III e IV). completo, mas os resultados sugerem
ficada a apresentação da Tabela 2, de A pilha Capão da Serra (classe III) que as pilhas foram e/ou estão sendo
modo a tornar mais direta o seu uso também possuía informações em seis objeto de um manejo compatível com
nessa nova finalidade. Assim surgiu a itens, chegando a respostas satisfatórias a classificação.

4. Conclusão

O sistema de classificação de A questão de avaliação de en- as informações necessárias.


pilhas de estéril apresentado parece quadramento de classe foi introduzida O estudo realizado para o conjun-
mostrar-se uma ferramenta muito útil como complemento ao sistema original, to de todas as pilhas tornou possível,
na avaliação de todas as fases da vida de ampliando o alcance da classificação também, ter um panorama sobre o
uma pilha, atingindo um nível razoável proposta, permitindo uma constatação manejo de estéril da mineração de ferro
entre a aplicabilidade e a facilidade no ainda que conceitual sobre a qualidade no Quadrilátero Ferrífero (Tabela 3).
estudo de caso avaliado. do manejo de estéril na pilha classifi- Por fim, a classificação de pilha é
Além da classificação, verificou-se cada. um conceito novo que deve ser discuti-
que o método traz, como importante O resultado do enquadramento de do, sendo esse trabalho uma tentativa
subproduto, a identificação de aspectos classe no estudo de caso é apenas indi- de se estabelecer um procedimento
relevantes de projeto (condicionantes). cativo, pois muitos itens não possuíam normalizado.

5. Referências bibliográficas

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Coletânea de normas de


mineração e meio ambiente - NBR 13029. Rio de Janeiro, 2006. p. 2-5.
BC MINE WASTE ROCK PILE RESEARCH COMMITTEE. Mined Rock and Overburden
Piles. Investigation & Design Manual. Interim Guidelines, 1991. 128p.
ARAGÃO, G. A. S. Classificação de pilhas de estéril na mineração de ferro. Ouro Preto:
Departamento de Engenharia de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, 2008. (Dis-
sertação de Mestrado).

Artigo recebido em 02 de fevereiro de 2010. Aprovado em 12 de novembro de 2010.

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