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CONTESTAÇÃO PREVIDENCIÁRIA

Como Procurador(a) do INSS, você recebeu a citação da autarquia na ação


previdenciária abaixo, e deverá elaborar a respectiva contestação.

Em 06/02/2019, Joana Lima ajuizou ação pelo procedimento comum contra o


INSS, perante a Justiça Federal de Cachoeira do Sul/RS, visando à concessão de
aposentadoria por invalidez ou ao restabelecimento de auxílio-doença, desde a
cessação indevida do benefício (10/11/2013), e ao pagamento de indenização por dano
moral.
A autora narrou ter sofrido acidente doméstico no dia 10/10/2013, quando caiu
da escada de seu prédio, fraturando o hálux (dedão do pé) direito. Houve prescrição
médica de analgésicos, repouso e uso de bota ortopédica inicialmente por 30 dias.
O pedido de auxílio-doença, requerido a partir do 16º dia de afastamento do
emprego, foi deferido pelo INSS pelo restante do período indicado no atestado - ou seja,
até 09/11/2013.
Antes do termo final, Joana postulou a prorrogação do benefício, ante
recomendação médica de continuidade de uso da bota ortopédica por mais 60 dias.
Designada perícia administrativa, sobreveio conclusão pela ausência de
incapacidade laborativa, pois “a segurada é secretária executiva, e suas tarefas não
exigem maiores esforços ou deslocamentos, restando claro que o simples uso de bota
ortopédica não prejudica o desempenho da atividade profissional”.
Com esse fundamento, o pedido de prorrogação restou indeferido, e o auxílio-
doença foi cessado a partir de 10/11/2013.
Cerca de dois anos depois, Joana foi promovida ao cargo de supervisora regional
de recursos humanos, cujas atribuições, de caráter dinâmico, envolviam viagens,
palestras, recrutamento de funcionários e treinamentos nos diversos municípios em que
a empresa mantém unidades.
Ao longo do tempo, Joana passou a sentir desconfortos e dores cada vez mais
intensas no pé direito, a ponto de não conseguir mais caminhar. Após diversos exames,
sobreveio diagnóstico de progressão da fratura original, com inflamação de nervos
periféricos, a exigir intervenção cirúrgica. Não foi apontada causa provável para a
ocorrência.
O procedimento operatório foi realizado em 25/04/2017, com recomendação de
repouso e fisioterapia por 6 meses.
Dessa vez, no entanto, Joana não buscou amparo previdenciário. Abalada pela
falta de sensibilidade do INSS na única vez que precisou do auxílio da autarquia
previdenciária, e já sabendo do entendimento do perito administrativo no sentido da
ausência de incapacidade laboral em razão da lesão no pé direito, optou por negociar
seu afastamento diretamente com a empresa - que lhe concedeu uma licença para
tratamento de saúde por dois meses.
Ao fim do prazo, tentou retornar ao trabalho, mas não estava suficientemente
recuperada, o que acabou culminando com a sua demissão, em 10/08/2017 - e, desde
então, está em estado depressivo.
A autora fundamentou o direito à concessão de benefício por incapacidade nos
arts. 42 e 59 da Lei nº 8.213/1991, ponderando que a perícia realizada pelo INSS, ao
conceder alta à segurada sabidamente doente, ofendeu o princípio da dignidade da
pessoa humana e o direito fundamental à cobertura previdenciária.
Acrescentou que, por aplicação do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art.
5º, XXXV, CF), e por ser manifesta a resistência do INSS à pretensão, é irrelevante a
ausência de novo requerimento administrativo, seja quando da incapacidade decorrente
do procedimento cirúrgico de 25/04/2017; seja pela superveniência da moléstia
psicológica.
Afirmou que os efeitos financeiros da concessão de aposentadoria por invalidez
ou do restabelecimento do auxílio-doença devem retroagir à data da cessação em
10/11/2013, porque todos os fatos posteriores decorreram da ilegalidade deste ato
administrativo - o que pode ser presumido pelo próprio agravamento da lesão
ortopédica.
Defendeu, ainda, que a indenização por dano moral tem amparo no art. 5º, X, da
CF, e que a conduta do INSS - ao suspender o pagamento do auxílio-doença quando a
autora ainda se encontrava incapacitada - ocasionou diversos inconvenientes em seu
cotidiano e constrangimentos no ambiente de trabalho, pois o uso da bota ortopédica
lhe retirava a elegância e a formalidade. Além disso, a falta de confiança na
Administração Pública veio a lhe custar o emprego, pois não pôde contar com a proteção
estatal quando sofreu novo infortúnio anos depois.
Ao final, a autora requereu:
- a concessão de assistência judiciária gratuita;
- a citação do INSS e a produção de todas as provas admitidas em direito;
- a integral procedência da ação, para condenar o INSS à concessão de
aposentadoria por invalidez ou ao restabelecimento do auxílio-doença, desde
10/11/2013, e ao pagamento de indenização por dano moral, bem como ao pagamento
das custas processuais e de honorários advocatícios.
Atribuiu à causa o valor de R$ 1.000,00.
Foram anexados à inicial cópia de documentos de identificação da autora,
comprovante de residência em Cachoeira do Sul/RS, declaração de hipossuficiência e
cópia da CTPS com anotação do vínculo empregatício, e indicação da alteração do
cargo em 01/01/2016, de remuneração mensal média de R$ 5.000,00, e da demissão
em 10/08/2017.
Em 07/03/2019, sobreveio despacho concedendo o benefício da assistência
judiciária gratuita e ordenando a citação.
A Agência da Previdência Social incluiu nos autos cópia do processo
administrativo e dados do CNIS/PLENUS, em que há registro de novo vínculo
empregatício, a partir de 01/09/2018 até a data atual, com informação de recolhimento
de contribuições previdenciárias pelo valor máximo do RGPS.

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