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Documento Básico Do SNC PDF
Documento Básico Do SNC PDF
Dezembro | 2011
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Estruturação, Institucionalização e Implementação do
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Ministério da Cultura
Conselho Nacional de Política Cultural
Secretaria de Articulação Institucional – SAI
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governo federal representações regionais
presidenta da república são paulo
Dilma Vana Rousseff Valério da Costa Bemfica
grupo de trabalho
do sistema nacional de cultura
coordenação
João Roberto Peixe
ministério da cultura
Adélia Zimbrão
Bernardo Novais da Mata Machado
Cristiano Borges Lopes
Lia Calabre
Marcelo Veiga
Maria Beatriz Salles
Maria Cláudia Cabral
administração regional
no estado de são paulo
superintendentes
técnico-social
Joel Naimayer Padula
comunicação social
Ivan Paulo Giannini
administração
Luiz D. M. Galina
equipe sesc
Francisco Liberalino Pereira
Hélcio José P. Magalhães
Jackson Andrade de Matos
José Augusto Pawula Marques
José Olimpio Zangarine
Luciano Bueno Quirino
Marcos Gomes dos Santos
Marilu Donadelli
Mauricio Trindade da Silva
Roberto Pera
Sidênia Freire Pereira
Thaís Helena Franco S. Leite
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Apresentação
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o pleno exercício dos direitos De 2003 até hoje, o SNC avançou. Mas também
culturais enfrentou recuos, provocados, na maioria das
vezes, pelas incertezas sobre a melhor forma
de organizar as novas atribuições do poder pú-
blico na área da cultura. Essas dúvidas estão
No mundo todo, o debate sobre as relações en- sendo sanadas por este documento, publicado
tre Estado e Cultura tem sido prejudicado pelo pelo Ministério da Cultura, fruto do trabalho
confronto de ideias, que ora defendem um dis- de um grupo de especialistas que se debruçou
tanciamento do poder público das questões detalhadamente sobre cada um dos aspectos
culturais - consideradas matéria de interesse que envolvem o SNC.
exclusivo da sociedade e dos cidadãos - e ora
propõem a presença forte do Estado no mun- A importância histórica deste documento,
do da cultura - tratada como instrumento para aprovado pelo Conselho Nacional de Política
que projetos políticos de variados matizes Cultural em agosto de 2009, por si só justifica
conquistem hegemonia ideológica. sua publicação. Nossa expectativa é que, além
de registro para a história, se torne uma fer-
Esse embate no Brasil, por parte de alguns ramenta de pesquisa e trabalho nas mãos de
teóricos, desconhece a existência de uma via gestores, conselheiros de cultura e da socieda-
alternativa às ideias de cunho ou liberal ou de, tendo em vista a implantação plena e com-
autoritário, caminho que vem se consolidan- partilhada do Sistema Nacional de Cultura.
do desde a Constituição de 1988. E que pode-
ria ser chamado de “política cultural demo-
crática”, cujo fundamento está nas palavras
que abrem o Artigo 215: “O Estado garantirá a Ana de Hollanda
todos o pleno exercício dos direitos culturais”. Ministra de Estado da Cultura
A partir desse dispositivo, a cultura, à seme-
lhança de outras políticas públicas – particu-
larmente as sociais –, passou a ser conside-
rada um direito dos cidadãos. Ou seja, uma
obrigação do poder público.
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a importância estratégica do e municípios, de órgãos gestores da cultura;
sistema nacional de cultura constituição de conselhos de política cultu-
ral democráticos; realização de conferências
com ampla participação dos diversos segmen-
tos culturais e sociais; elaboração de planos
Após os inúmeros avanços ocorridos nos úl- de cultura com participação da sociedade e
timos anos no campo da cultura e da gestão já aprovados ou em processo de aprovação
cultural em nosso país, os maiores desafios pelos legislativos; criação de sistemas de fi-
que hoje se apresentam são, de um lado, as- nanciamento com fundos específicos para a
segurar a continuidade das políticas públicas cultura, de sistemas de informações e indi-
de cultura como políticas de Estado, com um cadores culturais; de programas de forma-
nível cada vez mais elevado de participação ção nos diversos campos da cultura e de sis-
e controle social. E, de outro, viabilizar estru- temas setoriais, articulando várias áreas da
turas organizacionais e recursos financeiros e gestão cultural.
humanos, em todos os níveis de governo, com-
patíveis com a importância da cultura para o Por outro lado, verifica-se que, apesar da exis-
desenvolvimento do país. tência e funcionamento dos diversos com-
ponentes dos sistemas nacional, estaduais e
O Sistema Nacional de Cultura é, sem dúvida, o municipais, de forma geral não há, ainda, uma
instrumento mais eficaz para responder a es- visão e atuação “sistêmica”. Em que as partes
ses desafios, através de uma gestão articulada se vejam como integrantes de um conjunto
e compartilhada entre Estado e sociedade. Seja maior e atuem de forma integrada, a partir de
integrando os três níveis de governo para uma uma concepção comum de política cultural e
atuação pactuada, planejada e complementar, uma efetiva interação e complementaridade,
seja democratizando os processos decisórios capaz de provocar verdadeira sinergia no pro-
intra e intergovernos. Mas, principalmente, cesso, potencializando os resultados das ações
garantindo a participação da sociedade de for- empreendidas e dos recursos disponibilizados.
ma permanente e institucionalizada.
No plano nacional, o passo mais importante,
Esses desafios não são fáceis de serem supe- no campo político e institucional, é a apro-
rados. E essa concepção de gestão se confron- vação pelo Congresso da PEC nº 416/2005,
ta com a cultura política tradicional, que é na forma do substitutivo que contou com
da descontinuidade administrativa com as a unanimidade da Comissão Especial da
mudanças de governo; da competição intra e Câmara dos Deputados. Essa emenda cons-
intergovernos; e da resistência política à ins- titucional é fundamental para garantir ju-
titucionalização da participação social, apesar ridicamente a implementação do Sistema
de assegurada na Constituição. Nacional de Cultura, com definição da sua
natureza, objetivos, princípios, estrutura e
O Ministério da Cultura, com a participação componentes. O passo seguinte será a apro-
de outros órgãos do Governo Federal, de re- vação do projeto de lei que regulamentará
presentantes dos demais entes federados, da seu funcionamento.
sociedade civil e de consultores convidados, a
partir dos conhecimentos e das experiências Temos certeza que vamos vencer esses desa-
acumuladas nos últimos anos, nos três níveis fios e construir um Sistema Nacional de Cul-
de governo, desenvolveu esta proposta de con- tura consistente e flexível na sua estrutura.
cepção do Sistema Nacional de Cultura. E após Será profundamente democrático, capaz de
sua aprovação pelo Conselho Nacional de Polí- promover grande mudança qualitativa na
tica Cultural, aprofundou sua discussão com a gestão pública da cultura, em todos os níveis
realização de seminários em todo o país, bus- de governo. E criar as condições para a cultura
cando construir uma estratégia comum para deixar de ser um componente periférico para
implementação dos sistemas municipais, es- ocupar definitivamente seu espaço como um
taduais e Nacional de Cultura. dos vetores do processo de desenvolvimento
do país.
Um dado muito positivo é que a constru-
ção do Sistema Nacional de Cultura, embora
com estágios bastante diferenciados, já está João Roberto Peixe
em pleno andamento em todo Brasil. Esse Secretário de Articulação Institucional
processo ocorre com a criação, por estados
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a autonomia dos direitos Mas e os direitos culturais? Quais são eles?
culturais e o sistema Como e por que nascem, de que forma evo-
luem e como podem ser classificados? Buscam
nacional de cultura afirmar as liberdades em relação ao Estado
(como os direitos civis), no Estado (como os
direitos políticos) ou através do Estado (como
Incluída no programa de governo do ex-presi- os direitos sociais)? Referem-se às liberdades
dente Lula, ainda em 2002, a ideia do Sistema individuais ou de coletividades?
Nacional de Cultura (SNC), bem como sua im-
plantação, já em curso, tem hoje uma própria Não é o caso, nessa introdução, de entrar em
história. O documento que agora se publica, detalhes que já estão contidos no interior des-
concluído em 2009, representa um marco di- se livro. Basta dizer que a origem dos direitos
visório entre dois períodos. No primeiro, entre culturais coincide no tempo com o nascimen-
2002 e 2009, a doutrina que fundamentava o to dos Direitos Humanos, particularmente
SNC compreendia a política cultural no âmbi- com sua primeira geração, a dos direitos civis,
to dos direitos sociais. No segundo período, a que resultam da luta contra o absolutismo
base teórica passou a assentar-se sobre os di- (século XVIII) e pela afirmação da liberdade
reitos culturais, entendidos como um conjun- dos indivíduos perante o Estado. É nesse con-
to autônomo de direitos, embora integrante texto, no qual os súditos se tornam cidadãos,
(junto com os direitos civis, econômicos, po- que surge o direito autoral, notadamente na
líticos e sociais) do conjunto maior denomi- França revolucionária, que consagra o direito
nado Direitos Humanos. Essa mudança não moral e material dos autores sobre suas obras,
é simplesmente doutrinária, pois tem conse- direitos antes monopolizados por editores ou
quências práticas importantes, como se pode delegados a estes pela própria Coroa, como no
constatar a seguir. caso da Inglaterra.
Tendo como referência a tipologia histórica No entanto, o direito autoral não pode ser ca-
proposta por Norberto Bobbio na obra A Era racterizado exclusivamente como um direito
dos Direitos (Rio de Janeiro: Campus, 1992), civil, porque ele tem, desde sua origem, um
tem-se que os Direitos Humanos podem ser forte componente econômico e social. Embora
classificados em três tipos (ou gerações), que todas as legislações nacionais que se segui-
correspondem a três períodos da história ram estabeleçam um prazo no qual o autor e
nos quais variaram as relações entre o Esta- seus herdeiros são os únicos beneficiários da
do e a sociedade: propriedade da obra, findo esse prazo ela cai
em domínio público. Ou seja, torna-se coleti-
“Como todos sabem, o desenvolvimento dos va, o que significa que a função social da pro-
direitos do homem passou por três fases: num priedade intelectual foi reconhecida desde o
primeiro momento afirmaram-se os direitos nascedouro do direito autoral. Há também no
de liberdade, isto é, todos aqueles direitos que direito autoral um componente político, já que
tendem a limitar o poder do Estado e a reservar a luta dos autores esteve sempre relacionada
para o indivíduo, ou para grupos particulares, à liberdade de criação e expressão do pensa-
uma esfera de liberdade em relação ao Estado; mento, que é parte integrante e fundamental
num segundo momento foram propugnados das liberdades civis e políticas.
os direitos políticos, os quais – concebendo a
liberdade não apenas negativamente, como O direito de acesso aos bens da cultura, rei-
não-impedimento, mas positivamente, como vindicado já no século XIX pelo movimento
autonomia –, tiveram como consequência a operário, tem uma natureza eminentemente
participação cada vez mais ampla dos mem- social e para ser exercido exige a presença ati-
bros de uma comunidade no poder político va do Estado, como é o caso, entre outros, da
(liberdade no Estado); finalmente, foram pro- universalização da educação pública. O direito
clamados os direitos sociais, que expressam o à identidade cultural, por sua vez, tem um for-
amadurecimento de novas exigências – pode- te componente civil – “sou como desejo ser” –,
mos dizer de novos valores –, como os do bem- mas possui também uma face política, que se
-estar e da igualdade (não apenas formal) e torna nítida quando um grupo sociocultural
que poderíamos chamar de liberdade através reivindica ser incluído no rol dos bens do pa-
ou por meio do Estado” (grifos nossos) trimônio cultural de um povo ou nação. Tem,
também, uma dimensão social, que se eviden-
cia no momento em que o poder público toma
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a iniciativa de proteger modos de viver e de
criar de minorias oprimidas, marginalizadas
ou ameaçadas de extinção. Em suma, os di-
reitos culturais têm características mistas; são
simultaneamente civis, políticos, econômicos
e sociais; subvertem as classificações rígidas e
adquirem estatuto próprio; e necessitam, para
efetivar-se, da ação compartilhada de indiví-
duos, comunidades e Estado.
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Sumário
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Esta publicação está dividida em duas partes. Na
primeira, é apresentado o documento básico do
Sistema Nacional de Cultura – SNC, aprovado em
agosto de 2009 pelo Conselho Nacional de Polí-
tica Cultural – CNPC. Na segunda, são relatados
acontecimentos posteriores à aprovação do do-
cumento e arrolados os instrumentos legais que
deram prosseguimento ao processo de imple-
mentação do SNC.
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Introdução 25
2.1 histórico 40
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2.6.1.2 Conselhos Nacional, Estaduais, Distrital e Municipais
de Política Cultural 51
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2.10.4.1 Acordo de Cooperação Federativa 67
3 Desdobramentos 87
3.1 relatório do deputado paulo rubem santiago (pdt-pe) e
substitutivo aprovado, em 14/04/2010, pela comissão
especial destinada a proferir parecer à proposta de
emenda à constituição nº 416-a, de 2005. 89
I relatório 89
II voto do relator 92
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Introdução
25
ências sistêmicas de outras áreas da gestão
pública no Brasil, buscando extrair delas os
pontos comuns com a gestão da área cultural
e, ainda, as estratégias utilizadas, os resulta-
sistema nacional de cultura dos positivos e as dificuldades encontradas no
processo de suas implementações.
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os elementos constitutivos, instrumentos de A realização das conferências Municipais,
gestão, recursos financeiros, política de for- Estaduais e Distrital ao longo de 2009 e, em
mação, estratégia de implementação e insti- março de 2010, da 2ª Conferência Nacional de
tucionalização do Sistema. Cultura, possibilita que haja um grande deba-
te e a mobilização da sociedade para impulsio-
Seguindo a agenda prevista, a partir deste do- nar a aprovação desses instrumentos legais, e,
cumento o debate foi ampliado para outras principalmente, para implementar, além do
instâncias do Ministério da Cultura e do Go- Nacional, os sistemas estaduais e municipais
verno Federal, para o Fórum de Secretários e de Cultura. E, especialmente, promover a cria-
Dirigentes Estaduais de Cultura, para o Fórum ção ou reestruturação dos conselhos de Políti-
dos Secretários e Dirigentes de Cultura das Ca- ca Cultural, com a sua democratização e cons-
pitais, e apresentado, já incorporando as novas tituição como peças centrais nesse processo,
contribuições, ao Conselho Nacional de Polí- pois são os elementos que darão legitimidade
tica Cultural, na reunião realizada nos dias 16 e garantirão a participação e o controle social
e 17 de junho deste ano. A Comissão Temática nos sistemas de cultura.
constituída pelo CNPC apresentou relatório
na reunião de 25 e 26 de agosto, tendo o Plená- A estratégia para garantir institucionalmen-
rio, por unanimidade, aprovado o documento te as bases legais e assegurar politicamente a
com a inclusão dos pontos propostos pela Co- implementação do Sistema Nacional de Cul-
missão. Com a aprovação do Conselho Nacio- tura deve ter como elemento central a sensi-
nal de Política Cultural, seguindo a concepção bilização e mobilização de todos os atores da
adotada e a estratégia definida, serão elabora- cena cultural – artistas, produtores, empresá-
dos os instrumentos legais para encaminha- rios, instituições culturais, gestores públicos e
mento às respectivas instâncias de deliberação sociedade civil – para, numa atuação conjun-
e execução. ta, divulgar e fortalecer o Sistema Nacional de
Cultura. E, articulando-se com os parlamenta-
É importante ressaltar que já está em tramita- res das bancadas da cultura, acelerar a trami-
ção no Congresso Nacional a Proposta de Emen- tação e aprovação desses projetos de lei e pro-
da Constitucional nº 416/2005, que institui o postas de emenda constitucional.
Sistema Nacional de Cultura, bem como outras
propostas de emenda constitucional e projetos
de lei diretamente relacionados com o SNC, tais
como a PEC nº 150/2003, que destina recursos à
cultura com vinculação orçamentária; a PEC nº
236/2008, que propõe a inserção da cultura no
rol dos direitos sociais no Art. 6º da Constituição
Federal; o Projeto de Lei nº 6.8352, que Institui o
Plano Nacional de Cultura e estará sendo enca-
minhado pelo MinC, nos próximos dias, o Pro-
jeto de Lei que institui o Programa de Fomento
e Incentivo à Cultura – PROFIC.3 Também, já foi
elaborada pelo MinC e será encaminhada ao
relator da Comissão Especial uma proposta de
substitutivo à PEC nº 416/2005.4
2 O projeto foi aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado em Lei 12.343, de 2 de dezembro de 2010, pelo Presidente da República.
3 Foi encaminhado ao Congresso Nacional com nova denominação: Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura – ProCultura. (N.E.)
4 A proposta foi encaminhada ao relator da Comissão Especial, deputado Paulo Rubem Santiago, e aprovada na forma apresentada na página 114. (N.E.)
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A Política Nacional
de Cultura
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1.1 o papel do estado na desafios do mundo contemporâneo. Políticas
gestão pública da cultura que reconheçam, protejam, valorizem e pro-
movam a diversidade das expressões culturais
presentes em seus territórios; que democrati-
zem os processos decisórios e o acesso aos bens
O primeiro ponto a se considerar na formula- e serviços culturais; que trabalhem a cultura
ção de uma política nacional de cultura é uma como um importante vetor do desenvolvimen-
definição clara do papel do Estado na gestão to sustentável; que intensifiquem as trocas, os
pública da cultura. Qual sua função e espaço de intercâmbios e os diálogos interculturais; que
atuação? Como pode atuar respeitando a liber- promovam a paz.
dade de criação, mas garantindo os direitos cul-
turais e a preservação do patrimônio cultural, A atuação democrática do Estado na gestão pú-
fomentando a produção e fortalecendo a eco- blica da cultura não se constitui numa ameaça
nomia da cultura? à liberdade. Ao contrário, assegura os meios
para o desenvolvimento da cultura como di-
A resposta a estas questões tem como pon- reito de todos os cidadãos com plena liberdade
to central o entendimento da cultura como de expressão e criação. O importante é que a
um direito fundamental do ser humano e, ao gestão seja transparente e assegure a partici-
mesmo tempo, um importante vetor de de- pação e o controle social. Cabe, então, ao Esta-
senvolvimento econômico e de inclusão so- do Brasileiro assumir suas responsabilidades
cial. Assim, deve ser tratada pelo Estado como e, com a participação da sociedade, construir
uma área estratégica para o desenvolvimento os instrumentos de gestão e implementar as
do país. Portanto, sem dirigismo e interferên- políticas públicas de cultura que respondam a
cia no processo criativo, ao Estado cabe, com esses desafios.
a participação da sociedade, assumir plena-
mente seu papel no planejamento e fomen-
to das atividades culturais, na preservação e 1.2 os direitos culturais
valorização do patrimônio cultural material
como plataforma de
e imaterial do país e no estabelecimento de
marcos regulatórios para a economia da cul- sustentação da política
tura, sempre considerando em primeiro plano nacional de cultura
o interesse público e o respeito à diversidade
cultural. Papel este já expresso nos Artigos 215
e 216 da Constituição Federal.
A seção que trata da Cultura na Constituição
A atuação do Estado no campo da cultura não Federal (CF) tem início com o artigo 215, onde
substitui o papel do setor privado, com o qual se lê que o “Estado garantirá a todos o pleno
deve, sempre que possível, atuar em parceria e exercício dos direitos culturais”. Embora cla-
buscar a complementaridade das ações, evitan- ramente citados, em nenhum momento esses
do superposições e desperdícios. No entanto, direitos são listados. Essa lacuna, contudo, não
ao Estado cabe assumir papéis e responsabili- é só da Constituição Brasileira. A própria Unes-
dades intransferíveis como, por exemplo, o de co reconhece a necessidade de identificar com
garantir a preservação do patrimônio cultural e maior clareza quais são esses direitos, que se
o acesso universal aos bens e serviços culturais encontram dispersos nos inúmeros instrumen-
ou o de proteger e promover a sobrevivência e tos normativos – declarações, recomendações e
desenvolvimento de expressões culturais tradi- convenções – das Nações Unidas.
cionais, o que dificilmente seria assumido pelo
setor privado. Uma consulta aos documentos da ONU/Unes-
co5 permite propor, de antemão, a seguinte lis-
Cada vez mais a cultura ocupa um papel central ta de direitos culturais: direito à identidade e à
no processo de desenvolvimento, exigindo dos diversidade cultural, direito à participação na
governos o planejamento e a implementação vida cultural, direito autoral e direito/dever de
de políticas públicas que respondam aos novos cooperação cultural internacional.
5 Foram consultados os seguintes documentos: Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948); Convenção Universal sobre Direito de Autor (1952); Convenção
sobre a Proteção dos Bens Culturais em caso de Conflito Armado (1954); Pacto sobre os Direitos Econômicos Sociais e Culturais (1966); Pacto dos Direitos Civis e Políticos
(1966); Declaração dos Princípios da Cooperação Cultural Internacional (1966); Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (1972); Recomen-
dação sobre a Participação dos Povos na Vida Cultural (1976); Recomendação sobre o Status do Artista (1980); Declaração do México sobre Políticas Culturais (1982);
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O direito à identidade e à diversidade cultural, po cuja identidade expressa, e reconhecendo
que nasce durante o século XVIII no âmbito que as tradições evoluem e se transformam,
dos Estados nacionais, é elevado ao plano in- a Recomendação insiste, basicamente, na ne-
ternacional após a Segunda Guerra Mundial, cessidade dos Estados-membros apoiarem
quando ocorreram verdadeiros saques ao pa- a investigação e o registro dessas manifes-
trimônio cultural de países ocupados. Em 1954, tações. Não obstante, temendo que a cultura
a Unesco proclama a Convenção sobre a Pro- popular venha a perder seu vigor sob a influ-
teção dos Bens Culturais em caso de Conflito ência da indústria cultural, recomenda-se aos
Armado, documento em que os Estados-mem- Estados que incentivem a salvaguarda dessas
bros se comprometem a respeitar os bens cul- tradições “não só dentro das coletividades das
turais situados nos territórios dos países ad- quais procedem, mas também fora delas”.
versários, assim como a proteger seu próprio
patrimônio em caso de guerra. Finalmente, cabe citar a Convenção sobre a
Proteção e a Promoção da Diversidade das
O movimento ecológico, que ganhou ímpeto a Expressões Culturais, aprovada pela Unesco
partir da década de 1970, também contribuiu em 2005 e já ratificada pelo Brasil. Esse docu-
para a elevação desse direito ao plano mundial. mento chama a atenção para a necessidade de
Em 1972 a Unesco aprova a Convenção sobre “integrar a cultura como elemento estratégico
a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e nas políticas nacionais e internacionais de de-
Natural, na qual se considera serem a deterio- senvolvimento”. Temendo que no contexto da
ração e o desaparecimento de um bem natural liberalização comercial possam ocorrer “dese-
ou cultural “um empobrecimento nefasto do quilíbrios entre países ricos e países pobres”,
patrimônio de todos os povos do mundo”. a Convenção reafirma o direito soberano dos
Estados de “implantar as políticas e medidas
O vínculo entre patrimônio cultural e ambien- que eles julgarem apropriadas para a proteção
tal é reforçado na Declaração Universal sobre a e a promoção da diversidade das expressões
Diversidade Cultural (2001), em que se defende culturais em seu território”.
o princípio de que a diversidade cultural, para
o gênero humano, é tão necessária quanto à O direito à livre participação na vida cultural
diversidade biológica para a natureza e, por foi proclamado no Artigo 27 da Declaração:
isso, “deve ser reconhecida e consolidada em “Toda pessoa tem o direito de participar li-
beneficio das gerações presentes e futuras”. vremente da vida cultural da comunidade,
de gozar das artes e de aproveitar-se dos pro-
Situação específica é a dos países onde exis- gressos científicos e dos benefícios que deles
tem minorias étnicas, religiosas ou linguís- resultam”. Analisando documentos posterio-
ticas. Nesse caso, o artigo 27 do Pacto dos res, pode-se subdividir o direito à participa-
Direitos Civis e Políticos (1966) assegura aos ção na vida cultural em quatro categorias: di-
membros desses grupos o direito a ter “sua reito à livre criação, livre fruição (claramente
própria vida cultural, professar e praticar sua expresso no enunciado principal), livre difu-
própria religião e usar sua própria língua”. são e livre participação nas decisões de polí-
Em 1992, a ONU aprofunda esses princípios tica cultural.
na Declaração sobre os Direitos das Pessoas
Pertencentes às Minorias Nacionais, Étnicas, A Recomendação sobre o Status do Artista
Religiosas e Lingüísticas, na qual se formula a (1980), que trata da liberdade de criação, con-
obrigação dos Estados-membros de proteger voca expressamente os Estados-membros da
a identidade cultural das minorias existentes ONU a “ajudar a criar e sustentar não apenas
em seus territórios. um clima de encorajamento à liberdade de ex-
pressão artística, mas também as condições
Ainda sobre o direito à identidade e à diver- materiais que facilitam o aparecimento de ta-
sidade, cabe destacar a Recomendação so- lentos criativos”.
bre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e
Popular (1989). Considerando que a cultura No que diz respeito à difusão, o Pacto Interna-
popular deve ser protegida por e para o gru- cional dos Direitos Civis e Políticos (1966) as-
5 Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular (1989); Informe da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento (1996); Declaração Universal
sobre a Diversidade Cultural (2001); Convenção sobre a proteção e a promoção da Diversidade das Expressões Culturais (2005). Cabe registrar que no Brasil os tratados
ou convenções internacionais sobre direitos humanos, quando ratificados pelo Congresso Nacional, equivalem a emendas constitucionais.
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1.3 concepção tridimensional
da cultura como
fundamento da política
nacional de cultura
Tridimensionalidade da
Cultura
Simbólica Cidadã
Cultura
Econômica
Agora, essa concepção, através do Sistema Ao adotar essa dimensão ampla do conceito,
Nacional de Cultura e do Plano Nacional de o Ministério da Cultura instituiu uma política
Cultura, passa a ser adotada como política de cultural que enfatiza, além das artes consoli-
Estado e se constituir num elemento central dadas, toda a gama de expressões que carac-
da Política Nacional de Cultura. terizam a diversidade cultural do país. Os pro-
gramas Cultura Viva e Mais Cultura traduzem
bem essa perspectiva ampliada. Entretanto,
7 CUÉLLAR, Javier Perez de (org.). Nossa Diversidade Criadora; relatório da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Campinas, São Paulo: Papirus; Brasília:
Unesco, 1997, p.21.
8 Idem Ibidem, p. 11.
9 HUNTINGTON, Samuel. O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.
10 SANTOS, Boaventura de Souza. Por uma concepção multicultural de direitos humanos. In: FELDMAN-BIANCO, Bela & CAPINHA, Aranha (orgs), Identidades: estudos de
cultura e poder. São Paulo: Hucitec, 2000, p. 30.
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selho Nacional de Política Cultural, que am- processo sistêmico que envolve as fases de
pliou a representação da sociedade civil nesse produção, distribuição e consumo. Adotar essa
colegiado. A efetiva implantação do Sistema perspectiva se justifica na medida em que é
Nacional de Cultura, que prevê a criação e a ar- possível constatar que a cultura vem progres-
ticulação de conselhos paritários e democrati- sivamente se transformando num dos seg-
camente eleitos, nas diversas instâncias fede- mentos mais dinâmicos da economia e fator
rativas, é mais um passo no sentido da maior de desenvolvimento econômico e social. Além
participação da sociedade na vida cultural. disso, num quadro de crescente estandardi-
zação mundial de marcas, bens e serviços, os
A garantia do direito à identidade e à diversi- produtos culturais, que têm entre suas carac-
dade cultural manifesta-se, particularmente, terísticas a singularidade, a unicidade e a ra-
no cumprimento do dispositivo constitucio- ridade, tendem a ser valorizados, pois quanto
nal que instituiu uma proteção especial para mais raro um produto, maior o seu preço. Isso
as culturas indígenas, populares e afro-brasi- vale também para os sítios de valor histórico,
leiras, bem como em iniciativas voltadas para artístico e paisagístico e para o patrimônio
a cultura cigana e LGBT. Também merecem cultural em geral, que são fortes atrativos para
registro as ações do IPHAN na proteção do o turismo e o entretenimento.
patrimônio material e imaterial do Brasil e a
criação do Instituto Brasileiro de Museus. O sistema de produção cultural tem caracterís-
ticas distintas conforme a natureza do produto.
O direito à participação na vida cultural deve A produção audiovisual difere da produção de
ser assegurado igualmente às pessoas com de- artes cênicas, que difere das artes visuais, que
ficiência, que devem ter garantidas condições difere do design, que difere da arquitetura, que
de acessibilidade e oportunidades de desen- difere da literatura, que difere da cultura popu-
volver e utilizar seu potencial criativo, artísti- lar - e assim por diante. Esse fato coloca um de-
co e intelectual. safio para as políticas de fomento à cultura, que
são mais eficientes quando atuam de acordo
A cooperação cultural entre os países da Améri- com as especificidades de cada cadeia produti-
ca Latina foi reforçada com a criação, pelos po- va, buscando superar os gargalos e fomentar as
deres Executivo, Legislativo e Judiciário, da TV potencialidades. A proposta de alteração da Lei
Brasil e o intercâmbio com a França, tradicional de Incentivo à Cultura apresentada pelo MinC
parceira do país, foi retomado e incrementado. vai nesse sentido, pois cria fundos setoriais para
as distintas cadeias produtivas. Os editais que
Enfim, a promoção da cidadania cultural não instituem prêmios para segmentos específicos,
se dá apenas no acesso e inclusão social por como as culturas indígenas e populares, vão na
meio da cultura. Engloba os direitos culturais mesma direção, criando o que o ministro Gilber-
como um todo. to Gil, na sua perspectiva abrangente, chamou
de “cesta” de variados mecanismos de fomento.
1.3.3 a dimensão econômica da cultura
Ainda no aspecto econômico cabe situar o pa-
Sob o ponto de vista econômico, a cultura pode pel da cultura naquilo que hoje é chamado de
ser compreendida de três formas: (1) como sis- nova economia ou economia do conhecimento,
tema de produção, materializado em cadeias cujos setores dinâmicos são o financeiro, a
produtivas; (2) como elemento estratégico da indústria de computadores e softwares, as te-
nova economia (ou economia do conhecimen- lecomunicações, a biotecnologia e a indústria
to); e (3) como um conjunto de valores e práti- das comunicações. Nessa economia, a ciência,
cas que têm como referência a identidade e a a tecnologia “e a capacidade de simbolizar
diversidade cultural dos povos, possibilitando exercem papel cada vez maior”11 e por isso a
compatibilizar modernização e desenvolvi- cultura e a educação têm nela um papel estra-
mento humano. tégico. Na política do MinC ressaltam os in-
vestimentos na chamada “cultura digital”, em
No primeiro sentido, o bem cultural, como especial o Programa Cultura Viva, que propõe
qualquer outra mercadoria, está sujeito a um a criação de uma rede de Pontos de Cultura es-
palhados por todo o país e interligados eletro-
nicamente. A adoção do software livre indica
11 GIDDENS, Anthony. Globalização, desigualdade e estado do investimento social. In: UNESCO. Informe Mundial sobre a Cultura: diversidade cultural, conflito e plura-
lismo. São Paulo: Moderna; Paris: Unesco, 2004, p. 64-71.
36
A Política Nacional de Cultura 37
38
2
2 Sistema Nacional
de Cultura
39
2.1 histórico favoráveis ao SNC. Ações paralelas no âmbito
do MinC, como a criação dos Colegiados Se-
toriais (Música, Teatro, Dança, Artes Visuais,
A idéia de criar o Sistema Nacional de Cul- Circo e Livro e Leitura) e a reestruturação ad-
tura (SNC) já estava no programa de gover- ministrativa do Ministério reforçaram aque-
no da coalizão que venceu as eleições para a les passos. No Congresso Nacional, a aprova-
presidência da República em 2002. Naquela ção da Emenda Constitucional nº 48/2005,
época a preocupação, que em parte ainda que cria o Plano Nacional de Cultura, bem
permanece, era dar maior centralidade e ins- como a apresentação das emendas, ainda em
titucionalidade à política cultural e retirá-la tramitação: a nº 416/2005, que cria o Sistema
da situação em que se encontrava: estrutura Nacional de Cultura; a nº 150/2003, que vin-
administrativa precária, orçamentos insufi- cula a receita orçamentária da União, estados
cientes, baixa capilaridade no tecido político e municípios ao desenvolvimento cultural; e
e social do país e pequena participação nas a nº 236/2008, que insere a cultura no rol dos
principais decisões de governo. direitos sociais, completam o quadro.
A inspiração para o SNC veio dos resultados Visando consolidar esse processo, o Ministé-
alcançados por outros sistemas de articula- rio da Cultura (MinC) constituiu três Grupos
ção de políticas públicas instituídos no Brasil, de Trabalho para propor os novos caminhos
particularmente o Sistema Único de Saúde do SNC. O primeiro ficou responsável pela
(SUS). A experiência do SUS mostrou que o elaboração da proposta referente à estrutura-
estabelecimento de princípios e diretrizes co- ção do sistema e os outros dois pela formula-
muns, a divisão de atribuições e responsabi- ção de propostas relativas à formação na área
lidades entre os entes da Federação, a monta- da cultura.
gem de um esquema de repasse de recursos
e a criação de instâncias de controle social
asseguram maior efetividade e continuidade 2.2 conceito do sistema
das políticas públicas.
nacional de cultura
De lá para cá, muitos passos foram dados: a
assinatura pela União, estados e municípios
do Protocolo de Intenções, visando criar as Sistema, na definição de Edgar Morin, é um
condições institucionais para a implantação conjunto de partes interligadas que intera-
do SNC; a realização das Conferências de Cul- gem entre si. O sistema é sempre maior – ou
tura (municipais, intermunicipais, estaduais menor – que a soma de suas partes, pois tem
e nacional12), que mobilizaram o setor em certas qualidades que não se encontram nos
todo o país; a criação do Sistema Federal de elementos concebidos de forma isolada14.
Cultura; a reorganização do Conselho Nacio-
nal de Política Cultural e o ciclo das Oficinas
do Sistema Nacional de Cultura; a elaboração
do Plano Nacional de Cultura e o seu debate
público, com Seminários realizados em todos
os estados e Distrito Federal13; a implemen-
tação de programas e projetos do Governo
Federal, em especial o Programa Mais Cul-
tura, em parceria com estados e municípios;
a redefinição, no plano nacional, da política
de financiamento público da cultura com a
apresentação e debate da nova legislação
que institui o Programa Nacional de Fomen-
to e Incentivo à Cultura – PROCULTURA. To-
das essas iniciativas criaram expectativas
12 A 1ª Conferência Nacional de Cultura, realizada em 2005, definiu como uma das prioridades a estruturação e implantação do Sistema Nacional de Cultura.
13 Nos Seminários do Plano Nacional de Cultura, realizados em 2008, a Oficina do Sistema Nacional de Cultura foi a que contou com maior número de participantes,
demonstrando o interesse pelo tema, em todo o país.
14 MORIN, Edgar. Por uma reforma do pensamento. In: PENA-VEGA, Alfredo & ALMEIDA, Elimar Pinheiro de (orgs). Edgar Morin e a crise da modernidade. Rio de Janeiro:
Garamond, 1969, p. 21-34.
40
Sistema Nacional de Cultura
Com base nesse conceito, para definir o Sis- São princípios do SNC:
tema Nacional de Cultura é necessário, pri-
meiramente, dizer quais são as partes que o • diversidade das expressões culturais;
compõem, como elas interagem e quais pro-
priedades lhe são peculiares. Considerando • universalização do acesso aos bens
todo o debate ocorrido nos últimos anos, nos e serviços culturais;
mais diversos fóruns e as experiências acu-
muladas na área da cultura e em outras áreas • fomento à produção, difusão e circulação de
da gestão pública no Brasil, conclui-se que, em conhecimento e bens culturais;
relação à sua composição, o SNC reúne a socie-
dade civil e os entes federativos da República • cooperação entre os entes federados, os
Brasileira – União, estados, municípios e Dis- agentes públicos e privados atuantes na área
trito Federal – com suas respectivas políticas cultural;
e instituições culturais, incluindo os subsiste-
mas setoriais já existentes e outros que pode- • integração e interação na execução das
rão vir a ser criados: de museus, bibliotecas, ar- políticas, programas, projetos e ações
quivos, do patrimônio cultural, de informação desenvolvidas;
e indicadores culturais, de financiamento da
cultura, etc. As leis, normas e procedimentos • complementaridade nos papéis
pactuados definem como interagem suas par- dos agentes culturais;
tes e a Política Nacional de Cultura e o Mo-
delo de Gestão Compartilhada constituem-se • transversalidade das políticas culturais;
nas propriedades específicas que caracteri-
zam o Sistema. • autonomia dos entes federados e das
instituições da sociedade civil;
15 Na forma aprovada pela Comissão Especial da PEC 416/2005, apresentada na página 97, foi acrescido mais um princípio ao SNC: “ampliação progressiva dos recursos
contidos nos orçamentos públicos para a cultura”. (N.E.)
Descentralização Universalização
Princípios
Democratização Fomento
Integração e
Autonomia Interação
Transversalidade Complementaridade
42
ra de governo. Trata-se, portanto, de um novo eficácia, equidade e efetividade na aplicação
paradigma de gestão pública da cultura no dos recursos públicos. O SNC é integrado pelos
Brasil, que tem como essência a coordenação sistemas municipais, estaduais e distrital de
e cooperação intergovernamental com vis- cultura, e pelos sistemas setoriais que foram
tas à obtenção de economicidade, eficiência, e serão criados.
Sociedade Civil
Sistema
Nacional de
Cultura
Sistemas
Sistemas
Estaduais e
Municipais de
Distrital de
Cultura
Cultura
A análise procedida por Humberto Cunha Fi- serão expressos em normativos infralegais,
lho (2009), acerca das possibilidades de con- posto que possibilitam mais agilidade para
figuração jurídico-política do SNC, indica que os ajustes e/ou repactuações necessários, em
a arquitetura mais apropriada para a organi- conformidade com as prioridades definidas.
zação sistêmica da Cultura, em razão de sua Um aspecto importante do caráter dinâmico é
complexidade, seria uma que combinasse o permitir que no processo sejam consideradas
estável com o dinâmico. Caberia estruturar as especificidades da administração pública
um sistema misto, no qual haveria um núcleo de cada ente da federação e as características
estático, instituído por uma legislação (PEC da diversidade da área cultural, possibilitan-
e/ou lei) e uma dimensão dinâmica, que se- do, desta forma, maior flexibilidade na imple-
ria disciplinada por pactuações formalizadas mentação do Sistema Nacional de Cultura.
pelas devidas instâncias de negociação, com
período de tempo determinado, decorrentes Dentro desta concepção, o Acordo de Coope-
das necessidades impostas pela organização ração Federativa, a ser pactuado entre União
e implementação das políticas culturais nos e os estados e municípios, prevê que nos Pla-
entes federados. nos de Trabalho essas particularidades locais
sejam consideradas. Estabelece um período
Seguindo essa orientação, a proposta apre- de transição (até o final de 2011) para a criação
sentada é de um sistema misto, com seus ele- dos principais elementos do Sistema ou a rea-
mentos constitutivos, as interrelações entre dequação dos que já existem, nas respectivas
eles por meio de suas instâncias de articula- esferas governamentais.
ção, pactuação e deliberação e com seus ins-
trumentos de gestão. Desse modo, a estrutura No que se refere à legislação, a opção é por
constitui-se de um núcleo estático, formado uma Emenda Constitucional, através de subs-
por elementos considerados pilares da cons- titutivo à PEC nº 416/2005, e um Projeto de Lei
tituição do sistema, e um dinâmico, onde se Ordinária que regulamente o Sistema, defi-
estabelecem os processos de negociação e nindo o seu perfil, constituição, funcionamen-
pactuação, que serão realizados nas instâncias to, mecanismos de interrelação entre os seus
criadas com este fim, para a gestão do SNC e componentes e instâncias de articulação, pac-
implementação das políticas culturais e que tuação e deliberação.
• Planos de Cultura.
Órgão Gestor da
Cultura
Conferência de Conselho de Política
Cultura Cultural
dos Sistemas
Sistemas Setoriais
de Cultura Comissão
de Cultura intergestores
Sistema Programa
de Informações e de Formação na Área
Indicadores Culturais da Cultura
44
Ministério da
Cultura
Conferência Conselho
Nacional de Nacional de Política
Cultura Cultural
Secretaria
Estadual de
Cultura
Conferência Conselho
Estadual de Estadual de Política
Cultura Cultural
Secretaria
Municipal de
Cultura
Conferência Conselho
Municipal de Municipal de Política
Cultura Cultural
Plano
Sistema Sistema Municipal
Municipal de
Cultura
Municipal de de Financiamento
à Cultura
Cultura
Sistemas Programa Municipal
Municipais Setoriais de Formação na Área
de Cultura da Cultura
Sistema Municipal
de Informações e
Indicadores Culturais
46
CNC
Sistema Nacional
de Cultura
Colegiados Setoriais
do CNPC CNPC
Instâncias Colegiadas
dos Sistemas Setoriais
CEPC CMPC
Colegiados/Fóruns Colegiados/Fóruns
Setoriais Setoriais
O Fundo Nacional de Cultura (FNC) está sendo Para estreitar as conexões entre os subsis-
reestruturado para atender as necessidades e temas setoriais, seus colegiados e o SNC,
objetivos da Política Nacional de Cultura, por deve ser criada uma rede de representação,
meio do Programa Nacional de Fomento e In- na qual todas essas instâncias setoriais te-
centivo à Cultura – PROFIC, constituindo-se nham assento nos respectivos conselhos de
num passo fundamental no processo de im- Política Cultural.
plementação do Sistema Nacional de Cultura.
Além disso, e considerando como a mais im-
2.5.1.5 Planos de Cultura portante medida de articulação entre os sub-
sistemas e o SNC, deve ser assegurada a for-
Os planos de cultura, elaborados pelos conse- malização/inserção na legislação que institui e
lhos de política cultural, a partir das diretrizes organiza todos esses subsistemas, que as políti-
definidas nas conferências de cultura, têm por cas culturais setoriais devem seguir as diretri-
finalidade o planejamento e implementação zes gerais advindas da Conferência Nacional e
de políticas públicas de longo prazo para a do CNPC, consolidadas nos planos de cultura.
proteção e promoção da diversidade cultural
brasileira. Com horizonte de dez anos, os pla-
nos darão consistência ao Sistema Nacional
de Cultura e constituem-se num instrumento
fundamental no processo de institucionaliza-
ção das políticas públicas de cultura no país.
Com a aprovação dos planos de Cultura mu-
nicipais, estaduais e Nacional pelo Poder Le-
gislativo, nas respectivas esferas, esse proces-
48
CNC
Sistema Nacional
de Cultura
Instância Colegiada
do Sistema Setorial CNPC
Nacional
CEPC CMPC
Colegiados/Fóruns Colegiados/Fóruns
Setoriais Setoriais
50
estaduais e municipais) e sociedade civil (or- básica do Ministério da Cultura, composto por
ganizações culturais e segmentos sociais) para representantes do governo e da sociedade ci-
análise da conjuntura da área cultural nos es- vil. Tem como principal atribuição atuar, com
tados/Distrito Federal e proposição de diretri- base nas diretrizes propostas pela Conferência
zes para a formulação de políticas públicas de Nacional de Cultura, na proposição, acompa-
Cultura e para o Plano Distrital/Estadual de nhamento da execução, fiscalização e avalia-
Cultura. São também instâncias preparatórias ção das políticas públicas de cultura, consoli-
das demandas e propostas a serem levadas à dadas no Plano Nacional de Cultura.
Conferência Nacional de Cultura, contribuin-
do para o Plano Nacional de Cultura. Por isso, O Decreto 5.520, de 24 de agosto de 2005, re-
sua convocação deverá ocorrer em sintonia organizou o Conselho Nacional de Política
com o calendário da Plenária Nacional. A re- Cultural de forma a ter uma composição pari-
presentação da sociedade civil será, no míni- tária: Estado (Poder Público federal, estadual/
mo, paritária, em relação ao poder público e, distrital e municipal), setores artístico-cultu-
no caso das Conferências Estaduais, seus dele- rais e sociedade, para ser um espaço institu-
gados serão eleitos em Conferências Munici- cionalizado de participação da sociedade civil
pais e Intermunicipais. no campo da Cultura. O Artigo 5º do Decreto
dispõe que o CNPC “tem por finalidade pro-
conferências municipais por a formulação de políticas públicas, com
ou intermunicipais de cultura vistas a promover a articulação e o debate
dos diferentes níveis de governo e a socieda-
São espaços abertos para ampla participação de civil organizada, para o desenvolvimento
social, nos quais ocorre articulação entre Esta- e o fomento das atividades culturais no ter-
do (governos municipais) e sociedade civil (or- ritório nacional”. Os integrantes do CNPC que
ganizações culturais e segmentos sociais) para representam a sociedade civil têm mandato
analisar a conjuntura da área cultural no âmbi- de dois anos, renovável, uma vez, por igual
to municipal e propor diretrizes para a formu- período.
lação de políticas públicas de Cultura e para o
Plano Municipal de Cultura, além de contribuir Em razão da arquitetura a ser adotada no
para o Plano Estadual e Nacional de Cultura. SNC não é pertinente a existência do Sistema
São também instâncias preparatórias das de- Federal de Cultura – SFC. Por isso, haverá ne-
mandas e propostas a serem levadas às confe- cessidade de nova legislação para o Conselho
rências Estadual e Nacional de Cultura. Por isso, Nacional de Política Cultural, uma vez que
sua convocação deverá ocorrer em sintonia os dois assuntos estão no mesmo decreto (nº
com o calendário da Plenária Estadual e Nacio- 5.520, de 24 de agosto de 2005). O suporte jurí-
nal. Nelas também serão eleitos os delegados dico mais apropriado para configurar o CNPC
de cultura que participarão das conferências e dispor sobre o seu funcionamento é uma lei,
estaduais. A representação da sociedade civil principalmente porque esse tipo de legislação
será, no mínimo, paritária, em relação ao poder guarda maior segurança política e jurídica, ga-
público e os seus delegados serão escolhidos rantindo sua continuidade. Há outros órgãos
democraticamente em pré-conferências muni- colegiados da Cultura que foram estabeleci-
cipais ou por meio da inscrição aberta aos mu- dos por este instrumento legislativo e que te-
nícipes que tenham interesse pela área. rão que se reportar ao CNPC para deliberação
de algumas ações, evitando, desse modo, pos-
A organização e normas de funcionamento síveis conflitos de natureza jurídica.
das conferências (Nacional, Distrital, estadu-
ais e municipais/intermunicipais) serão defi- Nesse processo de mudança é importante
nidas em regimento próprio, aprovadas pelo que se faça uma revisão da composição do
respectivo conselho (Nacional, Distrital, esta- Conselho, de modo a garantir assento para o
duais e municipais). Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes
Municipais de Órgãos de Cultura das Capitais
2.6.1.2 Conselhos Nacional, Estaduais, Distrital e dos Estados do Brasil16. Além disso, algumas
Municipais de Política Cultural competências devem ser inseridas, como as
relacionadas à deliberação sobre as principais
conselho nacional de política cultural pactuações da Comissão Intergestores Tripar-
tite – CIT (vide item 2.6.1.6) e à aprovação de
Órgão colegiado, de caráter permanente, con- diretrizes gerais para as políticas setoriais de
sultivo e deliberativo, integrante da estrutura cultura, oriundas de conselhos/fóruns/comi-
16 O Fórum Nacional dos Secretários da Cultura das Capitais precisará ser ampliado para os outros municípios ou será necessário estimular a criação de outra instância de
gestores municipais de cultura que possa representá-los, tanto nos Conselhos quanto na Comissão Intergestores Tripartite e Comissões Intergestores Bipartites.
52
gislação específica, que deverá dispor, entre para as políticas culturais estabelecidas pe-
outros, sobre os seguintes itens: apreciação las conferências Nacional, Estadual e Muni-
e aprovação do Plano Estadual/Distrital de cipal de Cultura; acompanhamento e fiscali-
Cultura, que deve ser elaborado em conso- zação sobre a execução do Plano Municipal
nância com o Plano Nacional de Cultura e de Cultura; estabelecimento de diretrizes
com as diretrizes para as políticas culturais para aplicação dos recursos do Fundo Mu-
estabelecidas pelas conferências Nacional nicipal de Cultura, também em consonância
e Estadual de Cultura; acompanhamento e com o Plano Municipal de Cultura e com as
fiscalização sobre a execução do Plano Esta- diretrizes estabelecidas pelas Conferências
dual/Distrital de Cultura; estabelecimento Nacional, Estadual e Municipal de Cultura;
de diretrizes para aplicação dos recursos do acompanhamento e fiscalização da aplica-
Fundo Estadual/Distrital de Cultura, tam- ção dos recursos do Fundo Municipal de Cul-
bém em consonância com o Plano Estadual tura, do Fundo Estadual e do Fundo Nacional
de Cultura e com as diretrizes estabelecidas (repassados ao governo municipal).
pelas conferências Nacional e Estadual de
Cultura; acompanhamento e fiscalização da É recomendável que na representação da so-
aplicação dos recursos do Fundo Estadual de ciedade civil sejam contempladas as diver-
Cultura e do Fundo Nacional (repassado ao sas áreas artísticas e culturais, considerando
governo estadual); e aprovação de critérios as dimensões simbólica, cidadã e econômi-
de partilha e de transferência de recursos ca da cultura, bem como o critério regional
estaduais aos municípios. na sua composição. No setor público é re-
comendável assegurar a presença de repre-
É recomendável que na representação da so- sentantes de outras áreas, em especial Edu-
ciedade civil sejam contempladas as diver- cação, Comunicação, Ciência e Tecnologia,
sas áreas artísticas e culturais, considerando Planejamento, Desenvolvimento Econômico,
as dimensões simbólica, cidadã e econômica Meio Ambiente, Turismo, Esporte, Saúde, Di-
da cultura, bem como o critério regional na reitos Humanos e Segurança.
sua composição. No setor público é recomen-
dável assegurar a presença de representan- 2.6.1.3 Conselhos Setoriais Nacionais,
tes de outras áreas, em especial, Educação, Estaduais, Distrital e Municipais
Comunicação, Ciência e Tecnologia, Plane-
jamento, Desenvolvimento Econômico, Meio Os conselhos setoriais ou equivalentes são as
Ambiente, Turismo, Esporte, Saúde, Direitos instâncias colegiadas dos subsistemas seto-
Humanos e Segurança. riais, que contam em sua composição com re-
presentantes da sociedade civil. Esses espaços
conselhos municipais de formulação das políticas específicas, como
de política cultural patrimônio, bibliotecas, museus e outras áre-
as que demandam estruturação singular,
Instância colegiada de caráter permanente, progressivamente devem se organizar de for-
consultivo e deliberativo, vinculada ao Poder ma federativa, em consonância à construção
Executivo, com sua estrutura pertencente ao dos Sistemas de Cultura Estaduais/Distrital
órgão da Administração Pública Municipal e Municipais (subsistema federativo). Para
responsável pela área da Cultura (que deve- que não haja fragmentação ou superposição
rá dar apoio administrativo e garantir dota- das ações culturais referentes a esses setores,
ção orçamentária para seu funcionamento), esses conselhos devem estar articulados com
composto por, no mínimo, 50% de membros os conselhos dos Sistemas Nacional, Estadu-
da sociedade civil. Sua finalidade é a de atu- ais, Distrital e Municipais, respectivamente,
ar na formulação de estratégias e no contro- com a finalidade de propor diretrizes para
le da execução das políticas públicas cultu- elaboração das políticas próprias referentes
rais, na esfera municipal. às suas áreas e subsidiar as definições de es-
tratégias de sua implementação.
Os conselhos municipais de Cultura terão
suas competências definidas em legislação As interrelações entre os conselhos setoriais ou
específica, que deverão dispor, entre outros, equivalentes, e os conselhos do subsistema fe-
sobre os seguintes itens: apreciação e apro- derativo, devem ser estabelecidas por meio da
vação do Plano Municipal de Cultura, que garantia de assento de uma instância na outra.
deve ser elaborado em consonância com o
Plano Estadual de Cultura e com as diretrizes 2.6.1.4 Comissões Nacional, Estaduais,
17 O Projeto de Lei foi encaminhado ao Congresso Nacional com uma nova denominação: Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura – Pro Cultura. (N.E.)
18 O Projeto de Lei foi encaminhado ao Congresso Nacional com nova denominação: Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura – Pro Cultura. (N.E.)
19 Idem. (N.E.)
20 Idem ibidem. (N.E.)
54
Sistema Nacional
de Cultura
Governos
Governo
Estaduais e
Federal Comissão
Intergestores
Distrital
Tripartite
Governos
Municipais
2.6.1.6 Comissões Intergestores Bipartites dos aos conselhos municipais, CIT e CNPC,
para conhecimento.
É um espaço de articulação entre o gestor
estadual e os gestores municipais para via- Deve ter como competências, entre outras, es-
bilizar a implementação do Sistema Esta- tabelecer acordos sobre encaminhamentos de
dual de Cultura – SEC, que integra o SNC. De questões operacionais referentes à implantação
caráter permanente, é a instância de inter- de ações, programas e projetos que compõem o
locução de gestores para negociação e pac- Sistema Estadual de Cultura; atuar como fórum
tuação das ações governamentais no que de pactuação de instrumentos, parâmetros, me-
tange aos aspectos operacionais da gestão canismos de implementação e regulamentação
do sistema. Deve ser organizada no âmbi- complementar à legislação vigente, nos aspec-
to estadual e composta paritariamente por tos comuns à atuação das duas esferas de go-
representantes dos dois níveis de governo, verno; pactuar medidas para aperfeiçoamento
considerando-se critérios regionais: Secre- da organização e do funcionamento do sistema
taria Estadual de Cultura ou equivalente e no âmbito regional; pactuar a distribuição/par-
órgãos de representação do conjunto dos tilha de recursos estaduais e federais destinados
secretários e dirigentes municipais de Cul- ao cofinanciamento das políticas culturais, com
tura. Suas definições e propostas deverão base nos critérios pactuados na CIT e aprovados
ser referendadas ou aprovadas pelo respec- no CNPC; pactuar critérios, estratégias e proce-
tivo Conselho Estadual, submetendo-se ao dimentos de repasse de recursos estaduais para
seu poder deliberativo e fiscalizador. Por- o cofinanciamento de programas e projetos da
tanto, a CIB deverá observar em suas pactu- Cultura para municípios; estabelecer interlocu-
ações as deliberações do Conselho Estadual ção permanente com a CIT e com as demais CIB
de Cultura, legislação vigente pertinente e para aperfeiçoamento do processo de descentra-
orientações emanadas da CIT e do CNPC. Os
acordos aprovados devem ser encaminha-
21 A definição das competências levou em consideração as experiências de outros sistemas de políticas públicas.
Sistema Estadual
de Cultura
Governo Comissão Governos
Intergestores
Estadual Bipartite
Municipais
56
para o ano respectivo, identificando os benefí- sultados ou dos produtos, obtidos em função
cios tributários, financeiros e creditícios. das metas prioritárias, estabelecidas no Pla-
no Nacional de Cultura consolidado em um
Para efetivamente expressarem o conteúdo Plano de Ação Anual; bem como da aplica-
do Plano Nacional de Cultura e do Sistema ção dos recursos em cada esfera de governo
Nacional de Cultura, tais instrumentos de em cada exercício anual, sendo elaboradas
planejamento público deverão contemplar a pelos gestores e submetidos aos conselhos
apresentação dos programas e das ações, em de Política Cultural.
coerência com os planos de Cultura a serem
implementadas pelos entes federados em re- O Relatório Anual de Gestão destina-se a
gime de cofinanciamento e de cooperação. sintetizar e divulgar informações sobre os
resultados obtidos e sobre a probidade dos
Além disso, o orçamento da Cultura deverá gestores do SNC às instâncias formais do
ser inserido na proposta de Lei Orçamentá- SNC, ao Poder Legislativo, ao Ministério Pú-
ria, sendo os recursos destinados às despe- blico e à sociedade. Sua elaboração compete
sas correntes e de capital relacionadas aos ao respectivo gestor do SNC, mas deve ser
serviços, programas, projetos e ações gover- obrigatoriamente referendado pelos respec-
namentais e não governamentais alocados tivos conselhos.
nos fundos de Cultura (constituídos como
unidades orçamentárias) e aqueles voltados
às atividades meio, alocados no orçamento 2.8 recursos financeiros
do órgão gestor dessa política na referida es-
do sistema nacional
fera de governo.
de cultura
2.7.3 sistema nacional de informações
e indicadores culturais
2.8.1 política de financiamento
público da cultura
O sistema de informações sobre cultura no
Brasil tem a finalidade de ser fonte de dados
e indicadores para a formulação e reformu- A política de financiamento público da cultu-
lação de políticas em diferentes esferas da ra, hoje, está estruturada através de três ins-
gestão pública. trumentos: (1) no orçamento do Ministério
da Cultura e suas instituições vinculadas; (2)
A gestão da informação a partir dos dados na Lei nº 8.313/1991 (Lei Rouanet), que institui
e análises qualitativas e quantitativas for- o Programa Nacional de Incentivo à Cultura
necidos pelo Sistema de Indicadores e Infor- (Pronac), que por sua vez estabelece três me-
mações Culturais tem como um de seus ob- canismos destinados ao fomento e incentivo
jetivos produzir condições para as operações a projetos culturais, quais sejam, o Fundo Na-
de gestão, monitoramento e avaliação das cional de Cultura (FNC), a renúncia fiscal (me-
políticas implementadas pelo SNC. cenato) e os Fundos de Investimento nas Artes
(Ficarts); e (3) na Lei nº 11.437, que estabelece
A estruturação desse sistema, além de ter dois mecanismos destinados ao financiamen-
como requisito a definição de estratégias to de programas e projetos voltados para o de-
referentes à produção, armazenamento, or- senvolvimento das atividades audiovisuais: o
ganização, classificação e disseminação de Fundo Setorial do Audiovisual e os Fundos de
dados, deverá incorporar no seu desenho in- Financiamento da Indústria Cinematográfica
terfaces com outros sistemas de informações Nacional – Funcines.
gerenciais, que serão suporte para a gestão, o
monitoramento e a avaliação de programas, O orçamento do Ministério da Cultura corres-
projetos e ações culturais, conformando uma ponde a 0,44% do Orçamento Geral da União,
rede de sistemas. o que equivale ao montante de R$ 523 milhões,
no ano de 2005. Os recursos investidos através
2.7.4 relatório anual de gestão da Lei Rouanet, por sua vez, corresponderam
ao montante de R$ 691 milhões no ano de
Os Relatórios Anuais de Gestão – nacional, dis- 2005, superiores, portanto, ao próprio orça-
trital, estaduais e municipais – deverão ava- mento do Ministério da Cultura.
liar o cumprimento das realizações, dos re-
Tanto a Organização das Nações Unidas para a A instituição efetiva do SNC, não só através da
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) quanto implantação das estruturas que o compõem
a “Agenda 21 da Cultura”, aprovada na cidade de nas três esferas, mas como no estabelecimen-
Barcelona, no dia 8 de maio de 2004, durante o to das correlações e vínculos entre as mesmas
IV Fórum de Autoridades Locais de Porto Alegre e na repartição das atribuições e competên-
para a Inclusão Social, no marco do Fórum Uni- cias, enseja a discussão acerca da repartição
versal das Culturas, recomendam aos governos dos recursos entre os entes federados.
de estados e nações, que assegurem, no mínimo,
1% do orçamento nacional para a cultura. O Orçamento do MinC e de suas instituições
vinculadas deve ser severamente incremen-
Nesse sentido, no Brasil urge a necessidade tado, como acima descrito, no sentido de
pela tramitação e aprovação da Proposta de conferir densidade e “musculatura” aos seus
Emenda à Constituição (PEC) nº 150/2003, programas e projetos. Os mecanismos de re-
que propõe a destinação de 2% da arreca- núncia fiscal (mecenato) e dos fundos de in-
dação da União, 1,5% da arrecadação dos vestimento nas artes devem ser mantidos e
estados e 1% da arrecadação dos municí- aperfeiçoados, conforme proposta de reforma
pios para a área da cultura, visando assegu- da Lei Rouanet mediante a instituição do Pro-
rar, por meio do mecanismo da vinculação grama Federal de Fomento e Incentivo à Cul-
constitucional de receitas, o montante mí- tura (Profic).
nimo necessário para os investimentos em
cultura e, por conseguinte, ao funcionamen- É no FNC, contudo, que deve residir o principal
to do SNC. mecanismo de financiamento do SNC e, por con-
seguinte, das políticas públicas de cultura. A pro-
É importante ressaltar que o §1º do Artigo 1º posta de projeto de lei que visa instituir o Profic22
dessa PEC determina que dos 2,0% destinados prevê o fortalecimento do FNC por meio da cria-
à União, 1% fique com o Governo Federal e 1% ção de seus Fundos Setoriais, da gestão paritária
sejam repassados aos outros entes federados, dos mesmos e do aporte de recursos dos fundos
sendo 0,5% aos estados e ao Distrito Federal e de investimentos regionais ao FNC.
0,5% aos municípios, viabilizando, desta for-
ma, o processo de repasses fundo a fundo, me- Por outro lado, o estabelecimento de critérios
canismo fundamental do SNC. de repartição de receitas que atenda ao princí-
pio federativo é o ponto nodal que deve norte-
Contudo, não se trata apenas de assegurar ar a gestão das receitas do FNC. A experiência
ou ampliar o montante necessário ao fun- de outros sistemas de políticas públicas induz
cionamento e cumprimento dos objetivos ao raciocínio que aponta para a distribuição
das estruturas sistêmicas do SNC. “O padrão mediante transferências, vinculadas (obriga-
de investimento, financiamento e fomento à tórias) ou voluntárias. As primeiras, por sua
cultura deve ser composto por múltiplos me- vez, devem se estabelecer segundo critérios
canismos”22. Ademais, as óticas republicana e que levem em consideração indicadores diver-
federalista, princípios fundantes do SNC, im- sos, que possam contribuir para a formulação
põem o estabelecimento de formas de repar- de um “índice” unificado que aponte para a
22 BRASIL. Ministério da Cultura. Programa cultural para o desenvolvimento da cultura. 2 ed. Brasília: 2007. p. 31.
58
correta e justa distribuição de receitas entre É preciso analisar se o ranking dos municípios
as regiões, estados e municípios. em gestão cultural, feito com base no IGMC,
é suficiente para ser utilizado como ponto de
2.8.1.3 Critérios de Partilha e de Transferência partida para um escalonamento/categoriza-
de Recursos da União para Estados e ção da situação em gestão e “desenvolvimento
Municípios no SNC cultural” dos municípios, no território nacio-
nal. O IGMC pode ser combinado com outros
É de responsabilidade da Comissão Inter- indicadores culturais, de modo a se construir
gestores Tripartite – CIT negociar e pactuar um “Índice de Desenvolvimento das Polí-
critérios de partilha e de transferência de ticas Culturais”, que expresse a situação do
recursos para estados, Distrito Federal e mu- setor cultural no país. Como a Cultura é uma
nicípios e submetê-los à aprovação do Con- dimensão do desenvolvimento, é fundamen-
selho Nacional de Política Cultural – CNPC. tal considerar na elaboração desse novo indi-
E cabe às Comissões Intergestores Bipartites cador os índices educacionais, sociais, econô-
– CIBs, com concordância dos respectivos micos, demográficos e territoriais.
conselhos estaduais/distrital, acordar sobre
os critérios que regularão a descentralização O “Índice de Desenvolvimento das Políticas
dos recursos dos estados/Distrito Federal Culturais” vai permitir classificar os muni-
para os municípios, tendo como base os es- cípios e estados em graus de complexidade
tabelecidos pela CIT. de suas respectivas políticas culturais, possi-
bilitando o estabelecimento dos critérios de
A CIT, com assessoria técnica do Ministério da Cul- partilha dos recursos financeiros. Sugere-se
tura (órgão da Administração Pública Federal res- a criação de uma escala que possa ser repre-
ponsável pela coordenação do SNC), vai analisar sentativa da diversidade e das singularida-
quais indicadores são pertinentes para embasar des culturais dos municípios e estados. Será
a elaboração de critérios para partilha e transfe- necessário definir qual é o mínimo aceitável
rência de recursos no processo de descentraliza- (piso da escala23) num município para carac-
ção das políticas culturais. Esses critérios preci- terizá-lo como tendo uma política cultural.
sam se pautar em indicadores que informem a Com base nessa graduação de complexidade
situação do setor cultural no país. É essencial, é que serão feitos os aportes de recursos aos
para que o processo de partilha de recursos seja estados e municípios que aderirem/habilita-
transparente e essa se dê de forma mais equitati- rem-se ao SNC. Os aportes precisam ser dis-
va, a elaboração de critérios públicos, construídos tribuídos em percentuais de acordo com os
com base na utilização de indicadores, que além tipos e necessidades das políticas desenvolvi-
de considerar o campo específico cultural, combi- das pelos estados e municípios (patrimônio,
nem informações sociais, econômicas, demográ- bibliotecas, teatro, “cultura popular”, digital
ficas, diversidades regionais e outros. etc.). As modalidades de classificação (por
exemplo: gestão 1, gestão 2, gestão 3, etc.) é
A Secretaria de Estudos Regionais e Urbanos que vão estabelecer quanto de recurso será
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada transferido para os entes federados que aten-
(IPEA), num trabalho demandado pela Secre- derem às condicionalidades.
taria de Políticas Culturais, do Ministério da
Cultura, elaborou o primeiro índice estatístico A tabela a seguir é ilustrativa da ideia de par-
na área cultural, o Índice de Gestão Munici- tilha de recursos:
pal em Cultura (IGMC). O estudo foi feito com
base nos dados apurados na Pesquisa de Infor- Supondo que muitos municípios não têm
mações Básicas Municipais (Munic), de 2006. políticas culturais (plano municipal de cul-
O índice possibilitou a criação de um ranking tura), serão classificados na Gestão 0. O que
dos municípios brasileiros em gestão cultural, se quer é que esses municípios cheguem,
a partir da análise de três tópicos principais: pelo menos, na Gestão 1. Para isso, o SNC
Fortalecimento Institucional e Gestão Demo- fará o aporte x% piso básico, condicionado
crática; Infraestrutura e Recursos Humanos; e ao cumprimento do Plano Municipal de Cul-
Ações Culturais. tura, demonstrado pelo Relatório de Gestão.
22 O Projeto de Lei foi encaminhado ao Congresso Nacional com uma nova denominação: Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura – ProCultura. (NE)
23 Definir um piso básico financeiro para atender ao município que é considerado como o que faz o básico necessário para o setor da cultura (ações básicas considera-
das como um mínimo admissível para a cultura) - o município, atendendo a esse básico, recebe o piso por meio de repasse automático.
Gestão 0 Valor - - - -
ESFERAS DE
2003 2004 2005
GOVERNO
Valor absoluto Participação Valor absoluto Participação Valor absoluto Participação
(1 000 R$) das esferas (%) (1 000 R$) das esferas (%) (1 000 R$) das esferas (%)
Fontes: Ministério da Fazenda, Secretaria do Tesouro Nacional, Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal – SIAFI; Execução orçamentária
dos estados (1995-2006). Brasília, DF: Ministério da Fazenda, Secretaria do Tesouro Nacional, [200-]. Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/estados_
municipios/download/exec_orc_estados.xls>. Acesso em: 2007; Finanças do Brasil: dados contábeis dos municípios 2003-2005. Brasília, DF: Ministério da Fazenda,
Secretaria do Tesouro Nacional, v. 49-51, 2004-2006. Disponível em: <http://www.tesouro. fazenda.gov.br/estados_municipios/index.asp>. Acesso em: 2007;
IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais, Estatísticas Econômicas das Administrações Públicas 2003-2004; Perfil dos municípios brasileiros:
cultura 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. Acompanha 1 CD-ROM. Acima do título: Pesquisa de Informações Básicas Municipais.
60
ORÇAMENTO DA CULTURA SEGUNDO ESFERAS DE GOVERNO
PERÍODO 2003 A 2005 / FONTE IBGE
VALORES (R$)
1.600.000.000,00
1.400.000.000,00
1.200.000.000,00
FEDERAL
1.000.000.000,00
ESTADUAL
800.000.000,00
600.000.000,00 MUNICIPAL
400.000.000,00
200.000.000,00
0,00
800.000.000,00 ESTADUAL
600.000.000,00
MUNICIPAL
400.000.000,00
200.000.000,00
Federal
17%
Municipal
47%
Estadual
36%
0,60 0,52
0,49
0,50 0,44
0,42
% do Orçamento Federal
0,37
0,40 0,35
Fonte: Leis Orçamentárias Anuais
investido no MinC
0,30
0,20
0,10
0,00
2003 2004 2005 2006 2007 2008
62
Não por acaso, a necessidade de políticas 1 Realizar um primeiro diagnóstico da
para este tipo de formação tem sido uma formação e aprimoramento em política e
reivindicação persistente em todas as confe- gestão culturais no Brasil.
rências de cultura realizadas recentemente
no país, sejam elas municipais, estaduais 2 Propor meios para efetuação de uma rede
e nacional. nacional de instituições de formação na
área da cultura, a começar pelas organizações
Nessa perspectiva, torna-se necessária a voltadas à qualificação em políticas e
constituição e implementação de uma Políti- gestão culturais.
ca Nacional de Formação na Área da Cultura
como parte substantiva do Sistema Nacional 2.9.2.2 Criação da Rede de Instituições de
de Cultura. Formação na Área da Cultura
24 SARAVIA, Enrique. Introdução à Teoria da Política Pública. In: SARAVIA, Enrique & FERRAREZI, Elisabete (orgs.) Políticas Públicas; coletânea. Brasília: ENAP, 2006, p. 21-43.
Os sete primeiros princípios são os propostos por estes autores.
64
9 prestação de contas, essencial à O processo de implementação do SNC deve
transparência da política ter como características determinantes a pro-
gressividade e a continuidade. Assim como o
No processo de implantação do Sistema Na- foram os demais sistemas, os seus componen-
cional de Cultura, ocorreram descontinuida- tes e as suas instâncias de articulação, pactu-
des que afetaram o cumprimento regular ação e deliberação, serão implementados gra-
dessas etapas. Entretanto, várias delas, no dualmente e seguindo ritmos diferentes nos
todo ou em parte, foram cumpridas. A base diversos estados e municípios do país. O mais
institucional do SNC há muito já vem sendo importante é que não haja descontinuidade
implementada, no âmbito de todas as ins- nesse processo e que, mesmo tendo particula-
tâncias federativas. Órgãos específicos para ridades locais -, o que é desejável -, os sistemas
gestão da política cultural, Conselhos de estaduais e municipais mantenham uma base
Política Cultural, Fundos de Financiamen- comum, que constitui o componente estático
to da Cultura e Sistemas Setoriais (museus, da sua estrutura e que estabelece os vínculos
bibliotecas, arquivos, informação, etc.) - fo- e conexões com os demais componentes do
ram criados; Conferências de Cultura foram SNC. Aqueles estados e municípios que avan-
realizadas e Planos de Cultura elaborados - e çarem mais rapidamente na implementação,
encontram-se em tramitação nos Legislati- além de fortalecerem o SNC, servirão de exem-
vos. No entanto, estas iniciativas não foram plo e estímulo, devendo compartilhar suas ex-
articuladas dentro de uma estratégia co- periências com os demais.
mum, especialmente no que trata da inter-
relação entre os componentes do Sistema, Dentro desta linha, propõem-se, como estra-
seja no âmbito de cada ente federado, seja tégia comum, os seguintes passos para a ins-
entre eles. titucionalização e implementação do Sistema
Nacional de Cultura:
Hoje, o grande desafio é construir essas
articulações onde elas inexistem, a exem- 1 Consolidação, partir deste documento, de uma
plo dos subsistemas setoriais com o SNC, proposta de estruturação do SNC, pactuada
e reestruturar as instâncias pré-existen- entre os três entes federados – por intermédio
tes, especialmente os conselhos constitu- do Ministério da Cultura e dos Fóruns de Se-
ídos em outro contexto político e que não cretários Estaduais e dos Secretários das Capi-
atendem aos critérios previstos no Siste- tais – a ser submetida à analise e aprovação do
ma, especialmente no que tange ao prin- Conselho Nacional de Política Cultural.
cípio da democratização.
2 Retomada do processo de institucionaliza-
2.10.2 estratégia comum para ção com a assinatura do Acordo de
institucionalização e Cooperação Federativa, entre os entes
implementação do snc federados, para implementação do Sistema
Nacional de Cultura.
66
de Cultura, deve-se elaborar imediatamente legal, (QUALIFICAÇÃO DO REPRESENTANTE) e o
os diversos instrumentos legais para sua de- ESTADO DE , (QUALIFICAÇÃO DO
vida aprovação e implementação pelos Pode- ESTADO) representado pelo seu representante
res Legislativo e Executivo. legal (QUALIFICAÇÃO DO REPRESENTANTE)
firmam o presente Acordo de Cooperação Fede-
A institucionalização do SNC deverá ter como rativa, que irá reger-se pelas disposições da Lei
instrumento legal de maior força jurídica e nº 8.666/93 em especial o Artigo 116, da Lei nº
política a sua inserção na Constituição, por 8.313/91 e demais disposições legais pertinen-
meio de emenda constitucional. Nesse sen- tes, no que couber, tendo como justas e acorda-
tido é fundamental a aprovação da PEC Nº das as seguintes cláusulas e condições:
416/2005. Por sua natureza, de abordagem
geral e muito sintética, é necessário além da cláusula primeira – do objeto
emenda constitucional, ser também aprova-
da uma lei complementar ou ordinária que O presente Acordo de Cooperação Federati-
defina a estrutura e detalhe o funcionamento va tem por objeto estabelecer as condições
do Sistema. Com a garantia jurídico-política e orientar a instrumentalização necessária
assegurada com a aprovação da PEC, o me- para o desenvolvimento do Sistema Nacional
lhor caminho é o da lei ordinária, de mais fá- de Cultura – SNC – com implementação coor-
cil e rápida aprovação no Congresso. A seguir, denada e/ou conjunta de programas, projetos
os decretos e portarias normatizando e deta- e ações no âmbito da competência do Estado.
lhando os procedimentos.
cláusula segunda – do sistema
Esse processo institucional deve iniciar-se nacional de cultura
imediatamente com a assinatura do Acordo
de Cooperação Federativa, que já define os O Sistema Nacional de Cultura (SNC) se cons-
compromissos dos entes federados para a titui num instrumento de articulação, gestão,
construção do SNC. informação, formação, fomento e promoção
de políticas públicas de cultura com participação
2.10.4.1 Acordo de Cooperação Federativa e controle da sociedade civil, envolvendo todos
os entes federados. Tem como objetivo formular
O Acordo de Cooperação Federativa dá conti- e implantar políticas públicas de cultura, demo-
nuidade ao protocolo de intenções cuja vigên- cráticas e permanentes, pactuadas entre os en-
cia esgotou-se no final de 2006. Firmado entre tes da federação e a sociedade civil, promovendo
a União, por intermédio do Ministério da Cul- o desenvolvimento – humano, social e econômi-
tura – MinC e os estados, o Distrito Federal e co – com pleno exercício dos direitos culturais e
os municípios, tem por objeto estabelecer as amplo acesso a bens e a serviços culturais.
condições e orientar a instrumentalização ne-
cessária para o desenvolvimento do SNC, com Parágrafo Primeiro. Constitui a estrutura do
implementação coordenada e/ou conjunta de SNC, nas respectivas esferas de governo, ór-
programas, projetos e ações, em especial o Pro- gãos gestores da cultura, conselhos de política
grama Mais Cultura. cultural, conferências de cultura, sistemas de
financiamento, em especial, fundos de fomen-
2.10.4.1.1 Minuta do Acordo de Cooperação to à cultura, planos de cultura, sistemas seto-
Federativa com os Estados e Distrito Federal riais de cultura, comissões intergestores, siste-
mas de informações e indicadores culturais e
acordo de cooperação federativa que programas de formação na área da cultura.
entre si firmam a união, por intermé-
dio do ministério da cultura – minc e o Parágrafo Segundo. Os Órgãos Gestores de-
estado de , visando ao vem apresentar periodicamente relatórios de
desenvolvimento do sistema nacional gestão para avaliação nas instâncias de con-
de cultura. trole social do SNC.
25 Para compatibilizar com a forma aprovada pela Comissão Especial da PEC nº 416/2005, apresentada na página 97, foi acrescida a alínea “l”, ficando com a seguinte
redação: “l) ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos públicos para a cultura”. (N.E.)
68
órgão específico de gestão da política cultural Nacional de Cultura;
em sua esfera administrativa;
i Implantar e coordenar o Sistema Nacional de
g Criação e implementação de comissões Informações e Indicadores Culturais;
intergestores para operacionalização do
Sistema Nacional de Cultura; j Criar e implementar o Programa Nacional
de Formação na Área da Cultura e articular,
h Implantação e publicização do Sistema em âmbito nacional, a formação de uma
Nacional de Informações e Indicadores rede de instituições de formação na área
Culturais, conforme cláusula décima deste da cultura;
acordo de cooperação;
k Criar o Sistema Nacional de Financiamento
i Integração de programas e projetos de à Cultura, aprimorando, articulando e
capacitação e aprimoramento de setores e fortalecendo os diversos mecanismos de
instituições culturais específicos; e financiamento da cultura, em especial, o Fundo
Nacional da Cultura, no âmbito da União;
j Fomento ao fluxo de projetos em
circuitos culturais; l Compartilhar recursos para a execução
de programas, projetos e ações culturais,
Parágrafo Único. Os resultados devem ser no âmbito do SNC, nos termos da Portaria
concretizados durante a vigência deste acordo Interministerial MP/MF/CGU nº127/08;
de cooperação.
m Acompanhar a execução de programas e
cláusula sexta – das obrigações projetos culturais, no âmbito do SNC;
dos partícipes
n Fomentar e regulamentar a constituição de
São obrigações dos partícipes: sistemas setoriais nacionais de cultura;
f Realizar, pelo menos a cada quatro anos, as d Criar e implementar a Comissão Intergestores
Conferências Nacionais de Cultura; Bipartite para operacionalização do Sistema
Estadual de Cultura;
g Apoiar a realização das conferências
estaduais, municipais e distrital de Cultura; e Apoiar a criação, a implementação e o desenvol-
vimento dos Sistemas Municipais de Cultura;
h Criar e implementar a Comissão Intergestores
Tripartite para operacionalização do Sistema
70
entes da federação; b Atuar na interlocução com o Governo Federal
e demais entes da Federação no sentido de
e Acompanhar o cumprimento das diretrizes e desenvolver o Sistema Nacional de Cultura;
instrumentos de financiamento da cultura.
c Coordenar o processo de realização das
Parágrafo Único. Os Conselhos de Política conferências estaduais de cultura;
Cultural terão caráter deliberativo e consul-
tivo e serão compostos por no mínimo 50% d Fornecer e atualizar as informações
de representantes da sociedade civil, elei- solicitadas para o Sistema Nacional de
tos democraticamente. Informações e Indicadores Culturais;
72
f complementaridade nos papéis dos institucionais voltadas para:
agentes culturais;
a Implantação dos Sistemas setoriais de
g transversalidade das políticas culturais; Cultura, com vistas à articulação e integração
das diversas áreas da cultura brasileira,
h autonomia dos entes federados e das atendendo sempre aos princípios de
instituições da sociedade civil; participação e controle social;
26 Para compatibilizar com a forma aprovada pela Comissão Especial da PEC nº 416/2005, apresentada na página 97, foi acrescida a alínea “l”, ficando com a seguinte
redação: “l) ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos públicos para a cultura”. (N.E.)
74
Sistema Nacional de Informações e Indica- odo para realização das Conferências Muni-
dores Culturais disponibilizado pela União; cipais e Estaduais, que a antecederão.
Parágrafo Único. Utilizar e respeitar os pa- A partir da estrutura pactuada entre os entes
drões de identidade visual do SNC, de pro- federados e aprovada pelo Conselho Nacional
gramas, de projetos e de ações desenvolvidas de Política Cultural, foi elaborado um substi-
em conjunto, aplicando as regras vigentes tutivo à Proposta de Emenda Constitucional
durante os períodos eleitorais. nº 416/2005, que institui o Sistema Nacional
76
de Cultura, a ser encaminhada ao relator da Justificação
Comissão Especial do Congresso Nacional que
aprecia a matéria. A cultura é hoje concebida, em todo o mundo,
como base de qualquer tipo de desenvolvi-
proposta original da emenda à mento, inclusive o econômico. No Brasil, tem
constituição nº 416, de 2005 ocupado posição no centro do debate político
e inspirado iniciativas no sentido de se orga-
(Do Sr. Paulo Pimenta e outros) nizar políticas públicas de cultura no País. A
Acrescenta o art. 216-A a Constituição para Constituição de 1988, em seu art. 215, garante
instituir o Sistema Nacional de Cultura. a todos os brasileiros o pleno exercício dos
direitos culturais e o acesso às fontes da cul-
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Se- tura nacional. Assim, tratar a cultura na sua
nado Federal, nos termos do art. 60 da Consti- dimensão mais ampla, como instrumento de
tuição Federal, promulgam a seguinte emen- construção da identidade de um povo, como
da ao texto constitucional: condição de vida, como exercício de cidada-
nia, é uma responsabilidade de Estado que o
Art. 1º. É acrescentado o art. 216-A a Constitui- Brasil precisa assumir.
ção Federal, com a seguinte redação:
As políticas públicas na área cultural têm
“Art. o 216-A. O Sistema Nacional de Cultura, grande desafio pela complexidade e diver-
organizado em regime de colaboração, de for- sidade dos temas a serem tratados. Não
ma horizontal, aberta, descentralizada e parti- basta apenas garantir a fruição dos bens
cipativa, compreende: culturais. Cabe às políticas estatais, nos
seus diversos níveis, criar condições para
I o Ministério da Cultura; a organização de um sistema de gestão
da cultura, assumindo um papel indutor e
II o Conselho Nacional da Cultura; estabelecendo elementos que ampliem o
acesso aos bens culturais. Isso significa de-
III os sistemas de cultura dos Estados, do Distrito bater a qualidade de nosso meio ambiente
Federal e dos Municípios, organizados de cultural no âmbito das cidades como um
forma autônoma e em regime de colaboração, ponto fundamental no contexto da discus-
nos termos da lei; são entre o local e o global.
Uma das formas de fazê-lo é propor um me- IV cooperação entre os entes federados, os
canismo de aperfeiçoamento da gestão do agentes públicos e privados atuantes
setor cultural, por meio da criação de um na área cultural;
Sistema Nacional de Cultura, nos termos da
presente iniciativa. Contamos, para tanto, V integração e interação na execução das políti-
com o apoio dos nobres Pares. cas, programas, projetos e ações desenvolvidas;
27 A proposta foi encaminhada ao relator da Comissão Especial, deputado Paulo Rubem Santiago, e aprovada na forma apresentada na página 97. (N.E.)
78
de financiamento à cultura, planos de cultura, “Art. 216-a A União aplicará anualmente nunca
sistemas setoriais de cultura, comissões inter- menos de dois por cento, os Estados e o Distrito
gestores, sistemas de informações e indicado- Federal, um e meio por cento, e os Municípios,
res culturais e programas de formação na área um por cento, da receita resultante de impostos,
da cultura, em regime de colaboração, organi- compreendida a proveniente de transferências,
zados e regulamentados em leis específicas na preservação do patrimônio cultural brasilei-
pelos entes federados. ro e na produção e difusão da cultura nacional.
§ 3º Os conselhos de política cultural, nas res- § 1º Dos recursos a que se refere o Caput, a
pectivas esferas de governo, devem ter na sua União destinará vinte e cinco por cento aos Es-
composição, no mínimo, 50% (cinquenta por tados e ao Distrito Federal, e vinte e cinco por
cento) de representantes da Sociedade Civil, cento aos Municípios.
eleitos democraticamente.
§ 2º Os critérios de rateio dos recursos destina-
§ 4º As interrelações entre os órgãos gestores, dos aos Estados, ao Distrito Federal, e aos Mu-
sistemas setoriais, instâncias colegiadas e ins- nicípios serão definidos em lei complementar,
trumentos de gestão do Sistema Nacional de observada a contrapartida de cada Ente.
Cultura serão regulamentadas em lei específica.
Art. 2º Esta Emenda entra em vigor na data de
§ 5º Os sistemas de cultura dos Estados, do Dis- sua publicação.
trito Federal e dos Municípios, serão organiza-
dos por leis próprias, de forma autônoma; Justificação
Art. 1º. O art. 6º da Constituição Federal passa Deputado José Fernando Aparecido
a vigorar com a seguinte redação: De Oliveira
“Art 6º. São direitos sociais a educação, a cul- 2.10.4.5 Projeto de Lei Nº 6.835 que Institui o
tura, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, Plano Nacional de Cultura 28
a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos Compatibilizar o texto do substitutivo do
desamparados, na forma desta Constitui- Projeto de Lei Nº 6.835 com essa proposta
ção.” (NR) do Sistema Nacional de Cultura, enrique-
cendo o Plano com uma melhor definição
Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em do perfil, constituição, funcionamento,
vigor na data de sua publicação. mecanismos de interrelação entre os com-
ponentes e instâncias de articulação, pac-
Justificação tuação e deliberação do SNC. Deve destacar
o modelo de gestão compartilhada e acres-
Ao listar os direitos sociais no seu artigo 6º, centar na relação dos novos elementos
constitutivos do SNC: a Comissão Interges-
80
tores Tripartite – CIT, no plano nacional e passando o mesmo a ter a seguinte redação:
as Comissões Intergestores Bipartite – CIB,
nos Estados. IX a necessidade de formação, capacitação e
aperfeiçoamento de recursos humanos para a
2.10.4.6 Projeto de Lei que Institui o Programa gestão, produção e a difusão cultural;
de Fomento e Incentivo à Cultura –
PROFIC 29 alteração 3
As alterações propostas ao Projeto de Lei que O Inciso I do Art. 5º do PL PROFIC dispõe que
institui o Programa Nacional de Fomento e compete à Comissão Nacional de Incentivo à
Incentivo à Cultura – PROFIC, relacionadas Cultura – CNIC, definir diretrizes, normas e
a seguir, têm por objetivo sua compatibili- critérios para utilização dos recursos do PRO-
zação com a proposta do Sistema Nacional FIC (inclusive do Fundo Nacional de Cultu-
de Cultura. ra, posto que este integra o PROFIC, conforme
Art. 2o do PL). Isso cria um conflito de papéis
Estas alterações foram acordadas em reu- com o Conselho Nacional de Política Cultural,
nião realizada no dia 05 de maio de 2009, que no Inciso III, do Art. 7o do Decreto nº 5.520,
entre a Secretaria de Fomento e Incentivo de 24 de agosto de 2005, tem a seguinte compe-
à Cultura – SEFIC e a Secretaria de Articu- tência: “estabelecer as diretrizes gerais para
lação Institucional – SAI. aplicação dos recursos do Fundo Nacional de
Cultura, no que concerne à sua distribuição
alteração 1 regional e ao peso relativo dos setores e mo-
dalidades do fazer cultural, descritos no art.
Sendo o Programa Nacional de Fomento e In- 3o da Lei no 8.313, de 23 de dezembro de 1991”.
centivo à Cultura – PROFIC o principal instru-
mento de financiamento das políticas públicas Para compatibilizar as competências do
de cultura, a nível nacional, incluindo no seu CNPC e da CNIC são alterados os Arts. 4º e
âmbito o Fundo Nacional de Cultura, mecanis- 5o do PL, que passam a ter a seguinte redação:
mo central de transferência de recursos para
os demais entes federados dentro do Sistema Art. 4º O PROFIC observará as diretrizes
Nacional de Cultura, no seu Art. 1º deve se ex- estabelecidas pelo Conselho Nacional de
plicitar que o PROFIC é parte integrante do SNC. Política Cultural e as normas e critérios de-
finidos pela Comissão Nacional de Incentivo
Ainda no Art. 1º, por sua importância, é acres- à Cultura – CNIC, órgão colegiado do Minis-
cido referência à Agenda 21 da Cultura, fican- tério da Cultura, com composição paritária
do o mesmo com a seguinte redação: entre governo e sociedade civil, presidida
pelo Ministro da Cultura e composta por pelo
Art. 1o Fica instituído o Programa Nacional de menos um representante de cada um dos
Fomento e Incentivo à Cultura – PROFIC, inte- comitês gestores dos fundos setoriais, todos
grado ao Sistema Nacional de Cultura, com a escolhidos dentre os representantes da socie-
finalidade de mobilizar recursos e aplicá-los em dade civil.
incentivos a projetos culturais que concretizem
os princípios da Constituição, em especial os Parágrafo único. Ficam criados, no âmbito
dos arts. 215 e 216, em cumprimento às diretri- da CNIC, comitês gestores setoriais com par-
zes do Plano Nacional de Cultura, da Agenda 21 ticipação da sociedade civil, cuja composição,
da Cultura, aprovada no Fórum Universal das funcionamento e competências serão defini-
Culturas, em Barcelona, e da Convenção sobre dos em regulamento.
a proteção e promoção da diversidade das ex-
pressões culturais, da Unesco, da qual o Brasil é Art. 5o Compete à CNIC:
país signatário.
I definir normas e critérios, com base nas
alteração 2 diretrizes estabelecidas pelo CNPC, para
utilização dos recursos do PROFIC, de
No Art.3º, no inciso IX do Parágrafo Único, é acordo com um plano de ação bienal, e em
incluída a capacitação para a gestão cultural,
28 O projeto foi aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado em Lei 12.343, de 02 de dezembro de 2010, pelo Presidente da República.
29 O Projeto de Lei foi encaminhado ao Congresso Nacional com uma nova denominação: Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura – Pro Cultura, com um
capítulo que trata especificamente do financiamento do Sistema Nacional de Cultura, apresentado na página 99. (N.E.)
82
re o § 2o não poderá ser superior a três por é a desconcentração na aplicação dos recursos
cento dos recursos disponibilizados para públicos. A melhor solução é não estabelecer
o financiamento. na lei o percentual de contrapartidas para os
fundos estaduais e municipais quando das
§ 5o Para o financiamento de que trata o inciso transferências do FNC, suprimindo este pará-
II, serão fixadas taxas de remuneração que, grafo e, assim, possibilitar a utilização de per-
no mínimo, preservem o valor originalmen- centuais variáveis e, em casos especiais, até
te concedido. não se exigir contrapartida.
28 O Projeto de Lei foi elaborado e aguarda parecer final da Consultoria Jurídica do Ministério da Cultura. (N.E.)
84
res Bipartite, instância fundamental para a
operacionalização dos Sistemas Estaduais de
Cultura e base para a formação das Comissões
Intergestores Tripartite, no plano nacional.
87
Seguindo a estratégia de institucionalização tivos, deliberativos e fiscalizadores), tendo, no
e implementação definida no documento bá- mínimo, 50% de representantes da sociedade
sico do Sistema Nacional de Cultura, após sua civil eleitos democraticamente pelos respec-
aprovação pelo Conselho Nacional de Política tivos segmentos, planos e fundos de cultura,
Cultural, a discussão foi aprofundada em 26 comissões intergestores, sistemas setoriais
seminários realizados de julho a dezembro de e programas de formação na área da cultura,
2009, em 24 dos 26 estados brasileiros. Con- na União, estados, municípios e no Distrito
taram com a participação de 4.577 gestores e Federal, garantindo ampla participação da
conselheiros de cultura de 2.323 municípios, sociedade civil e realizando periodicamente
quando se pactuou uma estratégia comum as conferências de cultura e, especialmente,
para a implantação dos sistemas municipais, a aprovação pelo Congresso Nacional da PEC
estaduais e nacional de cultura. Essa estra- nº 416/2005 que institui o Sistema Nacional
tégia está consubstanciada no Acordo de Co- de Cultura; da PEC nº 150/2003, que designa
operação Federativa do SNC, que vem sendo recursos financeiros à cultura com vinculação
firmado pela União, com os estados e municí- orçamentária; e da PEC nº 049/2007, que inse-
pios, e que estabelece as responsabilidades de re a cultura no rol dos direitos sociais da Cons-
cada ente da Federação na efetiva implanta- tituição Federal, bem como dos projetos de lei
ção do Sistema. que instituem o Plano Nacional de Cultura e
o Programa de Fomento e Incentivo à Cultura
Durante os seminários, os estados e municí- – Pro Cultura – e do que regulamenta o fun-
pios foram estimulados a convocar e realizar cionamento do Sistema Nacional de Cultura”.
as respectivas conferências, etapas constituin-
tes da II Conferência Nacional de Cultura, rea- No que toca à formação, foram concluídas as
lizada em março de 2010. A etapa municipal propostas dos dois grupos de Trabalho do SNC
mobilizou, de forma expressiva e inédita, 3.216 voltados para essa questão. O Programa de
municípios, o que representa quase 60% das Formação de Gestores Culturais, elaborado por
cidades brasileiras, e, a etapa estadual, todos um dos grupos, estabeleceu as matrizes curri-
os 26 estados e o Distrito Federal, o que repre- culares básicas e necessárias ao desempenho
senta um salto quantitativo e qualitativo sem qualificado da função pública na área da cul-
precedentes em relação à primeira edição re- tura. O Programa foi detalhado em um Plano
alizada em 2005. A etapa nacional, realizada de Curso que foi aplicado experimentalmente
de 11 a 14 de março de 2010, em Brasília, con- no Estado da Bahia, de outubro de 2009 a abril
solidou esse processo definindo 32 propostas de 2010. O outro grupo apresentou o mapea-
prioritárias para as políticas públicas de cul- mento das instituições públicas e privadas
tura do país, além de 95 prioridades setoriais, que promovem no país cursos de formação
sendo cinco para cada um dos 19 segmentos cultural, a partir do qual deverá ser constituí-
que realizaram Pré-Conferências Setoriais. da uma rede de agentes capazes de reaplicar o
curso em todas as unidades da Federação, res-
A II Conferência Nacional de Cultura consti- peitando as realidades locais e regionais, bem
tuiu-se num momento importantíssimo, tan- como a diversidade cultural do Brasil.
to para aprofundar o debate como para o for-
talecimento político do Sistema Nacional de Quanto à institucionalização, várias iniciati-
Cultura. Dos 883 delegados credenciados, 851 vas aconteceram, nos níveis municipal, esta-
votaram por meio de cédulas nas propostas dual e nacional.
prioritárias. Das 32 aprovadas, 20 delas fazem
referência explícita ou implícita ao Sistema As cidades de Foz do Iguaçu e Joinvile recen-
Nacional de Cultura. Além desse fato, a impor- temente aprovaram, nas suas Câmaras de
tância do Sistema Nacional de Cultura fica de- Vereadores, as leis dos respectivos sistemas
finitivamente explicitada quando a proposta municipais de Cultura. As cidades do Recife
que trata da sua institucionalização e imple- e de Campo Grande já têm seus planos mu-
mentação foi a mais votada dentre as 32 pro- nicipais de Cultura como leis aprovadas por
postas prioritárias, obtendo 754 votos (88,6% suas Câmaras de Vereadores. Muitas cidades
do total). já têm constituídos todos os componentes do
sistema, embora ainda não tenham a lei que
Ela propõe “consolidar, institucionalizar e institui o Sistema Municipal de Cultura. Os
implementar o Sistema Nacional de Cultura estados da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Santa
(SNC), constituído de órgãos específicos de Catarina, Acre e Roraima estão elaborando os
cultura, conselhos de política cultural (consul- Projetos de Lei de criação dos seus sistemas
88
para enviá-los para aprovação das respectivas só terá acesso aos recursos do FNC o estado ou
assembléias legislativas. município que tiver o que chamamos “CPF da
Cultura: Conselho, Plano e Fundo”.
No Congresso Nacional, o fato mais importan-
te foi o andamento da tramitação da Proposta Essas ações representam, sem dúvida, um sig-
de Emenda Constitucional nº 416/2005, de au- nificativo avanço no processo de constituição
toria do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que do Sistema Nacional de Cultura. Mas por sua
institui o Sistema Nacional de Cultura. Criada complexidade e abrangência, é importante
no mês de abril de 2009, a Comissão Especial compreender que sua implementação só será
responsável pela apreciação da matéria foi efetivada plenamente a longo prazo.
instalada em 10 de fevereiro de 2010, tendo
como presidente o deputado Maurício Rands A seguir, complementando este documento,
(PT-PE) e como relator o deputado Paulo Ru- estão relacionadas as versões atualizadas das
bem Santiago (PDT-PE). Foi elaborada, a partir propostas de emendas à Constituição e proje-
da proposta do SNC aprovada pelo Conselho tos de lei relacionadas ao Sistema Nacional de
Nacional de Política Cultural, a proposta de Cultura e as orientações e procedimentos para
substitutivo à PEC nº 416/2005, encaminhada assinatura do Acordo de Cooperação Federati-
ao relator. A Comissão Especial realizou Audi- va do SNC.
ências Públicas nos estados de Pernambuco,
Santa Catarina, Ceará e na Câmara dos Depu-
tados, em Brasília. Um grande passo foi dado 3.1 relatório do deputado
no dia 14 de abril, quando a Comissão Espe-
paulo rubem santiago
cial aprovou, por unanimidade, o Substitutivo
apresentado pelo relator, deputado Paulo Ru- (pdt-pe) e substitutivo
bem Santiago. A PEC nº 416/2005 agora aguar- aprovado, em 14/04/2010,
da votação em dois turnos nos plenários da
Câmara e do Senado. Também já foi elaborada
pela comissão especial
a proposta do projeto de lei que regulamenta destinada a proferir
o Sistema Nacional de Cultura, a ser encami-
parecer à proposta de
nhada ao Congresso Nacional.
emenda à constituição
O Projeto de Lei nº 6.835/2006, que institui o nº 416-a, de 2005.
Plano Nacional de Cultura, principal instru-
mento de gestão do Sistema Nacional de Cul-
tura, já foi aprovado na Câmara dos Deputados Acrescenta o art. 216-A à Constituição
e encontra-se em processo final de aprovação para instituir o Sistema Nacional de Cultura.
no Senado.
Autores: Deputado PAULO PIMENTA e outros
O Projeto de Lei nº 6.722/2010, que reformula Relator: Deputado PAULO RUBEM SANTIAGO
a Lei Rouanet e institui o Programa Nacional
de Fomento e Incentivo à Cultura – Pro Cultura I relatório
(antigo Profic), foi enviado, em janeiro de 2010,
ao Congresso Nacional e encontra-se em tra- A presente Proposta de Emenda à Constitui-
mitação na Câmara dos Deputados. O Pro Cul- ção, de autoria do Deputado Paulo Pimenta,
tura estabelece que a União deverá destinar, objetiva acrescentar à Constituição Federal de
no mínimo, 30 por cento de recursos do Fundo 1988 dispositivo que cria o Sistema Nacional
Nacional da Cultura, por meio de transferên- de Cultura (SNC). Segundo o autor da matéria,
cia fundo a fundo, para estados, municípios o referido Sistema deverá ser organizado em
e Distrito Federal. Será um instrumento fun- regime de colaboração, de forma horizontal,
damental para estimular a constituição dos aberta, descentralizada e participativa, de-
sistemas estaduais e municipais de Cultura, vendo compreender as seguintes instâncias
pois essa transferência está condicionada à administrativas: o Ministério da Cultura, o
existência, nos respectivos entes federados, Conselho Nacional da Cultura, os sistemas de
de plano de cultura, de fundo de cultura e de cultura dos Estados, do Distrito Federal e dos
órgão colegiado oficialmente instituído para a Municípios, as instituições públicas e priva-
gestão democrática e transparente dos recur- das que planejam, promovem, fomentam, es-
sos culturais, em que a sociedade civil tenha timulam, financiam, desenvolvem e executam
representação no mínimo paritária. Ou seja, atividades culturais no território nacional,
Desdobramentos 89
os subsistemas complementares ao Sistema prerrogativa essencial da população na cons-
Nacional de Cultura, tais como o sistema de trução da cidadania e para a defesa da diver-
museus, o sistema de bibliotecas, o sistema de sidade cultural e das identidades culturais lo-
arquivos, entre outros. cais frente a globalização (...) De fato, para que
sejam efetivas as políticas públicas de cultura
O Sistema Nacional de Cultura deverá, tam- no Brasil, é preciso que o Legislativo atue no
bém, se articular com os demais sistemas na- sentido de consolidá-las. Uma das formas de
cionais ou políticas setoriais, em especial da fazê-lo é propor um mecanismo de aperfeiço-
Educação, da Ciência e Tecnologia, do Turismo, amento da gestão do setor cultural, por meio
do Esporte, da Saúde, da Comunicação, dos Di- da criação de um Sistema Nacional de Cultu-
reitos Humanos e do Meio Ambiente. ra, nos termos da presente iniciativa”.
90
• Srª Silvana Meireles, Secretária de Ainda na esfera governamental, falou a atual
Articulação Institucional (SAI- MinC); Secretária de Articulação Institucional (SAI-
MInC), Sra. Silvana Meireles. Ela se reportou
• Srª Anita Pires, Presidente do Fórum aos resultados da II Conferência Nacional de
Nacional de Dirigentes e Secretários Cultura, realizada em Brasília-DF. Disse que as
Estaduais de Cultura ; 32 propostas consideradas fundamentais e as
31 moções aprovadas nessa Conferência abor-
• Sr. Márcio Caetano, Presidente do dam, claramente, a necessidade da aprovação
Fórum Nacional dos Secretários de do Sistema Nacional de Cultura (SNC) e que,
Cultura das Capitais; para isso, conta com a participação dos parla-
mentares. Leu, textualmente, a proposta apro-
• Srª Luciana Vieira de Azevedo, Presidente da vada sobre a institucionalização do SNC:
Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico
de Pernambuco e “Consolidar, institucionalizar e implementar o
Sistema Nacional de Cultura (SNC),constituído
• Srª Rosa Coimbra, artista e Representante do de órgãos específicos de cultura, conselhos de
Conselho Nacional de Política Nacional. política cultural (consultivos ,deliberativos e
fiscalizadores), tendo, no mínimo, 50% de repre-
O Sr. Alfredo Manevy expôs a relevância da apro- sentantes da sociedade civil eleitos democrati-
vação do SNC para que se avance no sentido de camente pelos respectivos segmentos, planos
alçar a Cultura a direito básico inerente a todo e fundos de cultura, comissões intergestores,
cidadão e um eixo prioritário de atuação do Esta- sistemas setoriais e programas de formação na
do brasileiro. Para Manevy, este é o “ano da Cul- área da cultura, na União, Estados, Municípios
tura no Congresso Nacional”, onde, além do SNC, e no Distrito Federal, garantindo ampla parti-
tramitam outras propostas importantes para a cipação da sociedade civil e realizando periodi-
consolidação de uma política pública para a área, camente as conferências de cultura e, especial-
como a reformulação da Lei Rouanet, o Plano Na- mente, a aprovação pelo Congresso Nacional
cional de Cultura e o Vale-Cultura. Ressaltou o da PEC 416/2005 que institui o Sistema Nacio-
papel do Congresso Nacional nessa tarefa: “Que- nal de Cultura, da PEC 150/2003 que designa
ro agradecer pela acolhida plural e republicana recursos financeiros à cultura com vinculação
que todas as pautas e debates com a temática da orçamentária e da PEC 049/2007, que insere a
Cultura têm tido nas duas casas do Legislativo”. cultura no rol dos direitos sociais da Constitui-
ção Federal, bem como dos projetos de lei que
Como Coordenador Geral das Relações Fede- instituem o Plano Nacional de Cultura e o Pro-
rativas e Sociedades do MinC, o Sr. João Ro- grama de Fomento e Incentivo a Cultura – Pro
berto Peixe apresentou à Comissão Especial Cultura e do que regulamenta o funcionamen-
o documento-síntese elaborado pelo Grupo to do Sistema Nacional de Cultura”.29
de Trabalho do Sistema Nacional de Cultu-
ra, instituído pelo Ministério da Cultura e Silvana Meireles ainda destacou que a federa-
aprovado, por unanimidade, pelo plenário do lização da cultura é necessária para garantir a
Conselho Nacional de Política Cultural na sua acessibilidade, pois estados e municípios têm
reunião dos dias 25 e 26.08.2009, intitulado papel fundamental no processo de democra-
“Sistema Nacional de Cultura: estrutura- tização dos bens e serviços culturais a todos
ção, institucionalização e implementação”. os brasileiros. Lembrou também que, desde
Segundo ele, esse documento aponta para a 2003, quando o MinC colocou a constituição
formulação de uma política cultural assenta- do SNC como uma de suas prioridades, essa
da em três pilares, a saber: o papel do estado temática vem sendo discutida nas três esfe-
na definição de um marco regulatório para as ras de governo e com a mobilização de toda a
atividades culturais, o exercício dos direitos sociedade civil, através da realização de con-
culturais e a tridimensionalidade da cultura ferências estaduais e municipais.
(dimensões simbólica, econômica e cidadã).
O documento prevê um sistema misto, com Por sua vez, a Secretária de Cultura de Santa Ca-
gestão intergovernamental no campo da cul- tarina e atual Presidente do Fórum Nacional de
tura entre os entes da federação – União, Es- Dirigentes e Secretários Estaduais de Cultura,
tados, Municípios e Distrito Federal. Sra. Anita Pires, reforçou a posição unânime do
Fórum pela aprovação dessa PEC, que institui
29 BRASIL. Ministério da Cultura. Conferindo os Conformes: resultados da II Conferência Nacional de Cultura. Cultura, Diversidade, Cidadania e Desenvolvimento.
Brasília: 2010. p. 08
Desdobramentos 91
o Sistema Nacional de Cultura. Segundo ela, é II voto do relator
preciso reforçar a importância da cultura como
ferramenta indispensável para o desenvolvi- Nos últimos anos, temos assistido, no âmbito
mento do País. Para tanto, disse que o Fórum de do Congresso Nacional, à constituição de co-
Secretários está elaborando uma campanha de missões especiais destinadas a analisar pro-
mobilização junto à bancada federal de cada es- postas de emenda à Constituição Federal de
tado na Câmara e do Senado Federal em prol da 1988 sobre o tema da cultura.
necessidade urgente de aprovação dessa PEC.
Tudo começou ainda no ano de 2000, quando
O Sr. Márcio Caetano, Presidente do Fórum tramitou nesta Casa a primeira delas, que ob-
Nacional dos Secretários de Cultura das Ca- jetivava tornar obrigatória a elaboração de um
pitais, ressaltou a importância do Legislativo Plano Nacional da Cultura, a exemplo do que
na redefinição do papel do Estado na formu- já existia para a área da educação. Em 2005, a
lação da política cultural, bem como o papel Emenda Constitucional nº 48 foi promulga-
das cidades na implementação do SNC. Por da e, logo no ano seguinte, apresentamos, eu e
estarmos em um ano eleitoral, considera que mais quatro Deputados, o PL nº 6.835, de 2006,
devemos colocar a cultura na pauta política de que institui o Plano Nacional de Cultura. Após
discussão dos candidatos ao Poder Executivo e a realização de várias audiências públicas em
dos postulantes ao Poder Legislativo. diferentes estados da federação, com a partici-
pação conjunta do Ministério da Cultura e de
A Srª Luciana Vieira de Azevedo, Presidente membros da Comissão de Educação e Cultura
da Fundação do Patrimônio Histórico e Artís- da Câmara dos Deputados, foi aprovado, no ano
tico de Pernambuco, teceu elogios à atuação passado, um novo substitutivo à referida propo-
do MinC no Governo Lula, pois, segundo ela, sição, apresentado pela Deputada Fátima Bezer-
o Ministério colocou a cultura em patamar ra (PT-RN).
estratégico no contexto de um novo mode-
lo de desenvolvimento para o País. Mostrou Também no ano passado, a Câmara dos De-
também que essa nova concepção de cultura putados deu uma demonstração cabal de que
tem norteado a atual gestão do governo de entende que a implementação de uma política
Pernambuco na área cultural. cultural para o País depende da necessária alo-
cação de recursos mínimos para o setor nos três
Por fim, falou a Sra. Rosa Coimbra, artista e Re- níveis da Federação – união, estados e municí-
presentante do Conselho Nacional de Política pios. A PEC que vincula recursos orçamentários
Cultural, que também ressaltou a importância para a cultura foi aprovada em Comissão Espe-
da PEC do Sistema Nacional de Cultura e so- cial e está pronta para ser votada em plenário.
licitou a urgência e o empenho do Congresso
Nacional na votação de matérias legislativas Fomos também designados pela Comissão de
de interesse da classe artística. Educação e Cultura relator do Projeto de Lei nº
5.798, de 2009, do Poder Executivo, que institui
A audiência pública contou ainda com a parti- o Programa de Cultura do Trabalhador, mais co-
cipação dos seguintes Parlamentares: Deputa- nhecido como “PL do Vale-Cultura”. Aprovamos
do Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE), Fáti- a matéria em plenário, tendo sido enviada ao
ma Bezerra (PT-RN) e Ângelo Vanhoni (PT-PR), Senado Federal para o processo de revisão. No
bem como de membros do Conselho Nacional Senado foi aprovada com duas emendas e vol-
de Política Cultural que interromperam sua tou a esta Casa, onde novamente emitimos pa-
reunião de trabalho em Brasília para presti- recer favorável às modificações sugeridas pelos
giar e participar da referia audiência. Senadores. A matéria encontra-se em fase de
tramitação final e, acreditamos que, em breve,
Todos os convidados foram unânimes ao ma- será sancionada pelo Presidente da República.
nifestar sua plena concordância com o objeto
da PEC em tramitação. Esta Relatoria agradece Complementando o rol de matérias constitu-
enfaticamente os depoimentos, contribuições cionais da cultura, eis que neste ano é constitu-
e subsídios dessa Audiência Pública, que pos- ída uma outra Comissão Especial, destinada a
sibilitaram melhor avaliar a oportunidade e proferir Parecer à PEC nº 416-A, de 2005, de au-
relevância da matéria. toria do Deputado Paulo Pimenta e outros, que
“acrescenta o art. 216-A à Constituição para
É o Relatório. instituir o Sistema Nacional de Cultura”.
92
Assim, a implantação de um Sistema Nacional de impactos dos contingenciamentos por ocasião
Cultura, juntamente com outras mudanças pro- da execução orçamentária, apesar dos esforços
postas na legislação brasileira, dará, com certeza, do atual governo de ampliar os recursos para
maior organicidade à área da cultura, ao siste- o setor. Sem a aprovação da PEC que estabele-
matizar, delegar e atribuir aos entes federados a ce vinculação orçamentária para a cultura, as
co-responsabilidade no desenvolvimento de uma demais matérias legislativas em tramitação
política cultural pensada como política de estado. nessa Casa se tornam inócuas, pois todas elas
exigem dos entes federados recursos financei-
Trabalhamos com a perspectiva de uma “cai- ros para a constituição de seus respectivos sis-
xa-de-ferramentas”, em que cada uma dessas temas e planos de cultura.
mudanças legislativas propostas, incluindo o
Sistema Nacional de Cultura, ora em discussão, Todos sabemos que o Estado não produz cultu-
constitui uma peça de uma engrenagem maior. ra, mas tem um papel relevante e imprescin-
E, para seu pleno funcionamento, essas medidas dível no fomento e incentivo às múltiplas ma-
deverão, necessariamente, vir acompanhadas nifestações de nossa rica diversidade cultural.
dos aportes financeiros indispensáveis para sua Contrariando o receituário neoliberal, não se
implementação. Razão pela qual acrescentei ao pode dispensar a atuação estatal, uma vez que
substitutivo da PEC a seguinte diretriz ao SNC: ela é de fundamental importância para corri-
“ampliação progressiva dos recursos contidos gir distorções e impasses existentes no mundo
nos orçamentos públicos para a cultura”. da cultura, que contribuem para aumentar o
fosso da desigualdade regional em nosso País.
Todas essas proposições legislativas, ante-
riormente comentadas, têm algo em comum, Nossa Carta Magna, de 1988, consagrou o prin-
pois colocam em debate o papel do Estado cípio da Cidadania Cultural, expresso no art. 215,
como fomentador das atividades culturais e caput, em que os direitos culturais são compre-
da previsão orçamentária para a efetivação endidos como direitos humanos fundamentais
das políticas públicas de cultura. Isso porque e imprescindíveis ao exercício da plena cidada-
consideramos que, sem recursos públicos or- nia. A Cultura foi elevada à categoria de direito
çamentários nas diferentes esferas de gover- humano fundamental, a exemplo da educação,
no, pouco avançaremos na constituição de um da saúde, do trabalho, da moradia e do lazer.
sistema de cultura de âmbito nacional, estadu-
al e municipal que propicie a implementação Se é dever constitucional do Estado prover os
das metas estabelecidas no Plano Nacional de meios necessários para que o acesso à cultura
Cultura, já aprovado nesta Casa Legislativa. se constitua num direito social de todo cida-
dão brasileiro, muito ainda precisa ser feito
Historicamente, os orçamentos da União, dos para a efetivação desse direito.
estados e dos municípios têm se caracteriza-
do por destinar parcos recursos ao segmento Diferentemente da Saúde, da Educação e da As-
cultural, inviabilizando, muitas vezes, que se sistência Social, a Cultura não dispõe de um sis-
cumpram os dispositivos constitucionais que tema integrado que estabeleça as atribuições
garantem o acesso às fontes da cultura nacio- dos diferentes entes federados na sua gestão.
nal a todos os brasileiros. É preciso, pois, que os
gestores públicos, sobretudo os economistas, A realidade socioeconômica do País mostra,
compreendam que não haverá a tão propala- ainda em pleno séc. XXI, uma situação de ex-
da melhoria da qualidade de vida da popula- clusão social de amplos setores da sociedade.
ção brasileira, se não se investir maciçamente Como bem afirmou o economista Marcio Po-
em cultura nos próximos anos, pois a exclusão chmann, “a sociedade brasileira convive com
social como marca de nossa sociedade é tam- diferentes formas de exclusão social, inclusi-
bém de ordem cultural, posto que muitos bra- ve a cultural, que carrega em seu conteúdo a
sileiros, em pleno século XXI, não tem acesso inacessibilidade à produção de determinados
aos bens e serviços culturais. bens culturais como uma de suas característi-
cas principais”.30
O próprio Ministério da Cultura tem sido con-
templado com menos de 1% por cento no orça- Vivemos, portanto, uma situação paradoxal:
mento da União nos últimos anos e sofrido os por força de nossa formação histórica, somos
30 POCHMANN, Marcio et al (orgs.). Atlas da exclusão social, v. 5: agenda não liberal da inclusão social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2005, p. 87.
Desdobramentos 93
um país marcado por forte diversidade cul- “A experiência do SUS mostrou que o estabeleci-
tural, mas muitos brasileiros não têm acesso mento de princípios e diretrizes comuns, a divi-
aos bens, produtos e serviços culturais. Segun- são de atribuições e responsabilidades entre os
do dados recentes do Anuário de Estatísticas entes da federação, a montagem de um esquema
Culturais31 do MinC, 90% dos municípios bra- de repasse de recursos e a criação de instâncias
sileiros não contam sequer com uma sala de de controle social asseguram maior efetividade
cinema; pouco mais de 5% dos brasileiros já vi- e continuidade das políticas públicas”.32
sitaram um museu; 10% dos 5.564 municípios
não possuem bibliotecas; a média de leitura É preciso lembrar que, em pleno século XXI, cer-
no país é de 1,8 livros por ano, o que revela o ca de 4% dos municípios brasileiros possuem
baixo índice de leitura entre os brasileiros. secretaria exclusiva de cultura, o que tem, se-
gundo os especialistas, inviabilizado a constru-
Além da baixa oferta de serviços e equipamen- ção de uma política pública de cultura em nível
tos culturais que ensejariam o exercício da nacional. Constata-se, portanto, que além da
cidadania a um maior número de brasileiros, fragilidade orçamentária inerente aos órgãos
a distribuição desses serviços se dá de forma de cultura, padecemos de outro mal: a fragili-
concentrada em alguns estados da federação, dade institucional. Quando existentes nos mu-
aumentando a desigualdade social entre as re- nicípios, as secretárias de cultura são apenas
giões do País. órgãos de promoção social de eventos e efemé-
rides, sem nenhum comprometimento maior
Todos os que participaram da Audiência Públi- com o acesso dos munícipes aos bens culturais.
ca no âmbito dessa Comissão Especial foram
unânimes em considerar necessária, oportuna Portanto, cremos que a aprovação da PEC, ao
e urgente a proposta de emenda constitucional instituir o Sistema Nacional de Cultura, leva-
que institui o Sistema Nacional de Cultura. Pos- rá forçosamente a que os Municípios tenham
to isso, desejo ressaltar, ainda, que considero a um órgão gestor da cultura e desenvolvam sua
PEC objeto deste Parecer como de suma impor- política cultural, em regime de colaboração
tância no atual contexto sociocultural brasilei- com os demais entes federados.
ro, pelos motivos a seguir arrolados:
Hoje, a cultura assume um papel central na
A aprovação da PEC possibilitará a efetiva- contemporaneidade. No Brasil, no entanto,
ção do Plano Nacional de Cultura (PNC), ora muito ainda precisa ser feito para superar a
em tramitação no Congresso Nacional (PL desigualdade no acesso às fontes da cultura
nº 6.835, de 2006). O PNC prevê uma série de nacional, ao conhecimento e à informação.
ações e metas para a construção de uma po-
lítica pública de cultura, muitas das quais ne- A PEC, ora em discussão, ao propor o Sistema
cessitando de aportes financeiros para a sua Nacional de Cultura, rompe com o paradigma
implementação. O PNC remete aos estados, neoliberal, que vê a cultura sujeita apenas às
municípios e Distrito Federal a elaboração de leis de mercado e ao marketing empresarial.
seus respectivos planos estaduais e munici- A aprovação desta emenda constitucional re-
pais, após dois anos de promulgação do Plano, presenta a retomada do papel do Estado brasi-
em nível federal. Por sua vez, o PNC é parte in- leiro na formulação de uma política pública de
tegrante do Sistema Nacional de Cultura. cultura democrática e cidadã.
31 BRASIL. Ministério da Cultura. Cultura em Números: Anuário de Estatísticas Culturais. Brasília: 2009.
32 ______. Sistema Nacional de Cultura: estruturação, institucionalização e implementação. Brasília: Conselho Nacional de Política
Cultural, 2009. p. 24.
94
dades nacionais: a Educação, a Saúde, o empre- será votada em dois turnos na Câmara dos De-
go, a moradia, etc. Hoje, passou a vigorar uma putados e outros dois turnos no Senado Federal.
concepção moderna de Cultura e consentânea Dado o rito tão complexo da proposição, não pode
com os avanços da cidadania – a Cultura é um subsistir qualquer dúvida, mesmo nos espíritos
direito fundamental de todo cidadão. mais reticentes, de que a vontade da sociedade
brasileira, expressa pela maioria absoluta de seus
Dessa forma, a Cultura passou a ser encarada representantes nas duas Casas do Congresso Na-
como política de Estado, imputando ao Poder cional, foi manifestada de forma inequívoca.
Público o delineamento de ações e programas
que favoreçam o acesso de todos aos bens, Objetivando corrigir algumas distorções de
valores e expressões artísticas de nossa di- ordem técnico-legislativa e constitucional,
versidade cultural. Repito, para romper com resolvemos apresentar um substitutivo que
a lógica neoliberal que durante algum tempo contemplasse a idéia central – a instituição de
delineou a política cultural em nosso País: o um Sistema Nacional de Cultura. Muitas das
Estado não produz cultura, mas tem a obriga- sugestões apresentadas a essa Relatoria, em-
ção de criar condições mínimas para o acesso bora importantes, foram deixadas de lado, por
aos bens culturais a todos os brasileiros. não se constituírem em matéria de natureza
constitucional, devendo, oportunamente, ser
Essa mudança de paradigma deve-se, tam- apresentadas em lei ordinária que venha regu-
bém, ao papel que a cultura passou a ter nos lamentar o Sistema Nacional de Cultura, bem
últimos anos do século passado e que confi- como a composição dos conselhos de cultura
gura uma nova ordem geopolítica mundial, como órgãos indispensáveis ao funcionamen-
marcada pela globalização, em que a diver- to do referido Sistema.
sidade cultural passa a ser elemento-chave
das negociações internacionais. Para a his- O substitutivo contempla basicamente três par-
toriadora Lia Calabre, “a cultura hoje, em ter- tes. A primeira diz o que é o Sistema Nacional de
mos mundiais, é um dos elementos da pauta Cultura, que deve ser organizado em regime de
das políticas públicas”33. Prova disso é a Con- colaboração, de forma descentralizada e partici-
venção Mundial para a Proteção e a Promo- pativa, instituindo um processo de gestão e pro-
ção da Diversidade das Expressões Culturais, moção conjunta de políticas públicas de cultura,
da Unesco, de 2005, ratificada pelo governo democráticas e permanentes, pactuadas entre
brasileiro em 2006, através do Decreto-Le- os entes da federação e a sociedade, tendo por
gislativo nº 485/06. objetivo promover o desenvolvimento – huma-
no, social e econômico – com pleno exercício dos
Outros documentos internacionais, a exem- direitos culturais (art. 216-A). O Documento do
plo da AGENDA 21 DA CULTURA34, aprovada MinC aponta, de forma acertada, que:
no Fórum Universal das Culturas - Barcelona
2004, colocam a cultura como importante ele- “O Sistema Nacional de Cultura é um modelo de
mento para o desenvolvimento socioeconômi- gestão e promoção conjunta de políticas públi-
co e sugere aos governos dos estados e nações cas de cultura, pactuadas entre os entes da fe-
deração e a sociedade civil, que tem como órgão
“Estabelecer os instrumentos de intervenção gestor e coordenador o Ministério da Cultura
pública no campo cultural tendo em conta o em âmbito nacional, as secretarias estaduais/
aumento das necessidades cidadãs relaciona- distrital e municipais de cultura ou equivalen-
das com este campo, a insuficiência e recursos tes em seu âmbito de atuação, configurando
atualmente existentes e a importância da des- desse modo, a direção em cada esfera de gover-
concentração territorial nas atribuições orça- no. Trata-se, portanto, de um novo paradigma
mentárias. Também é preciso trabalhar para de gestão pública da cultura no Brasil, que tem
atribuir um mínimo de 1% do orçamento na- como essência a coordenação e cooperação in-
cional para a cultura” (Título II – Compromis- tergovernamental com vistas à obtenção de
sos – art. 50 da Agenda 21). economicidade, eficiência, eficácia, equidade e
efetividade na aplicação dos recursos públicos.
É importante lembrar que este parecer trata de
uma Proposta de Emenda à Constituição que,
uma vez aprovada nesta Comissão Especial,
33 CALABRE, Lia. 1º Seminário Políticas Culturais: um campo de estudo. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa/MinC, 2006, p. 19.
34 A AGENDA 21 DA CULTURA é um documento orientador das políticas públicas de cultura e que contribui para o desenvolvimento cultural da humanidade, tendo
sido aprovado em Barcelona no âmbito do Fórum Universal das Culturas e pelo Brasil no IV Fórum de Autoridades Locais de Porto Alegre para a Inclusão Social.
Desdobramentos 95
O SNC é integrado pelos sistemas municipais, compara em relevância à própria fundação do
estaduais e distrital de cultura, e pelos siste- Ministério da Cultura, há vinte e cinco anos. A
mas setoriais, que foram e serão criados”.35 partir dela, a Cultura contará com um sistema de
gestão compartilhada entre os entes federados.
O parágrafo 1º relaciona os princípios que sinte-
tizam os fundamentos do Sistema Nacional de Diante do exposto, e considerando o grande
Cultura e norteiam todas as suas ações, devendo mérito cultural da iniciativa legislativa em
ser assumidos por todos que a ele se integrem. apreço, votamos pela aprovação da Proposta
Os princípios devem orientar a conduta dos en- de Emenda à Constituição n° 416-A, de 2005,
tes federados e da sociedade civil nas suas rela- de autoria do Deputado Paulo Pimenta e ou-
ções como parceiros e responsáveis pelo pleno tros, na forma do Substitutivo anexo.
funcionamento do SNC. São os seguintes princí-
pios: diversidade das expressões culturais, uni- Fugindo a rigidez da linguagem técnico-jurídica
versalização do acesso aos bens e serviços cul- que nos impõe o Regimento Interno desta Casa,
turais, fomento à produção, difusão e circulação não posso deixar de transcrever, para ficar regis-
de conhecimento e bens culturais, cooperação trado nos Anais do Congresso Nacional, poema
entre os entes federados, os agentes públicos e que redigi quando da realização da audiência
privados atuantes na área cultural, integração e pública nesta Comissão. Ele diz muito da minha
interação na execução das políticas, programas, sensibilidade artística sobre a necessidade do
projetos e ações desenvolvidas, complementa- Sistema Nacional de Cultura. Deixo, assim, a lin-
ridade nos papeis dos agentes culturais, trans- guagem parlamentar e dou voz ao poeta e ho-
versalidade das políticas culturais, autonomia mem comprometido com a cultura deste País:
dos entes federados e das instituições da socie-
dade civil, transparência e compartilhamento “Um sistema de cultura
das informações, democratização dos processos Ta chegando pra valer
decisórios com participação e controle social, República federativa
descentralização articulada e pactuada da ges- Muito há pra se fazer
tão, dos recursos e das ações e ampliação pro- Gestão e financiamento
gressiva dos recursos contidos nos orçamentos Reclamam a todo o momento
públicos para a cultura. Pra cultura florescer
96
V integração e interação na execução das
Em cada canto do país políticas, programas, projetos e ações
Efervescência e sonho desenvolvidas;
Criação e livre acesso
Vencendo o mundo enfadonho VI complementaridade nos papéis dos
Democracia no ar agentes culturais;
Comunicação exemplar
Com vocês é o que proponho” VII transversalidade das políticas culturais;
Desdobramentos 97
Sala da Comissão, em de abril de 2010. na produção e difusão da cultura nacional.
Deputado Paulo Rubem Santiago
Relator Art. 2° O art. 35, inciso III, passa a vigorar com a
seguinte redação:
3.2 substitutivo aprovado,
em 23/09/2009 pela comissão “Art. 35.
“Art. 160.
comissão especial destinada a proferir
parecer à proposta de emenda à Parágrafo único.
constituição n° 324-a, de 2001
II – ao cumprimento do disposto no art. 198,
(apenas as pec n° 427, de 2001; n° 150, de § 2° e no art. 216-A.
2003 e nº 310, de 2004)
Art. 4° O inciso IV do art. 167 passa a vigorar
com a seguinte redação:
SUBSTITUTIVO ADOTADO PELA COMISSÃO
“Art. 167.
Altera a redação da alínea e, inciso
II do art. 34, inciso III do art. 35, parágrafo IV – a vinculação de receita de impostos a ór-
único do art. 160, inciso IV do art. 167 e gão, fundo ou despesa, ressalvadas a reparti-
acrescenta o art. 216-A da Constituição ção do produto da arrecadação dos impostos a
Federal para incluir a determinação de que se referem os arts. 158 e 159, a destinação
aplicação mínima de recursos por parte da de recursos para as ações e serviços públicos
União, dos Estados, do Distrito Federal na de saúde, para manutenção e desenvolvimen-
preservação do patrimônio cultural brasileiro to do ensino, para a preservação do patrimô-
e na produção e difusão da cultura nacional. nio cultural brasileiro, a produção e difusão
da cultura e para realização de atividades da
administração tributária, como determinado,
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Se- respectivamente, pelos arts. 198, § 2°, 212, 216-
nado Federal, nos termos do art. 60 da Consti- A e 37, XXII, e a prestação de garantias às ope-
tuição Federal, promulgam a seguinte Emen- rações de crédito por antecipação de receita,
da ao Texto Constitucional: previstas no art. 165, § 8°, bem como o dispos-
to no § 4° deste artigo;”
Art. 1° O art. 34, inciso VII, alínea e, passa a vi-
gorar com a seguinte redação: Art. 5° É acrescentado o art. 216-A a Constitui-
ção Federal, com a seguinte redação:
“Art. 34.
“Art. 216-A A União aplicará, anualmente,
VII – nunca menos de dois por cento, os estados e o
Distrito Federal, um e meio por cento, e os mu-
e) aplicação do mínimo exigido da receita nicípios, um por cento, no mínimo, da receita
resultante de impostos estaduais, compreen- resultante de impostos, compreendida a pro-
dida a proveniente de transferências, na ma- veniente de transferências, na preservação do
nutenção e desenvolvimento do ensino, nas patrimônio cultural brasileiro e na produção e
ações e serviços públicos de saúde e na pre- difusão da cultura nacional.
servação do patrimônio cultural brasileiro e
98
§ 1°. Dos recursos a que se refere o caput, a União vância dos objetivos desta Lei.
destinará vinte por cento aos estados e ao Dis-
trito Federal, e trinta por cento aos municípios. § 2º Do montante geral destinado aos Estados,
cinquenta por cento será repassado aos res-
§ 2°. Os critérios de rateio dos recursos destina- pectivos Municípios.
dos aos estados, ao Distrito Federal e aos mu-
nicípios serão definidos em lei complementar, § 3º A transferência prevista neste artigo está
observada a contrapartida de cada Ente.” condicionada à existência, nos respectivos en-
tes federados, de:
Art. 6° Até a entrada em vigor da lei comple-
mentar a que se refere o § 2°, do art. 216-A, os I - fundo de cultura;
critérios de rateio dos recursos destinados aos
estados, ao Distrito Federal e aos municípios II - plano de cultura, em vigor no prazo de até
serão os mesmos aplicáveis aos fundos de par- um ano após a publicação desta lei;
ticipação dos estados e dos municípios.
III - órgão colegiado oficialmente instituído
Art. 7° Esta Emenda Constitucional entra em para a gestão democrática e transparente dos
vigor na data da sua publicação. recursos culturais, em que a sociedade civil
tenha representação no mínimo paritária,
Sala da Comissão, 23 de setembro de 2009. assegurada em sua composição a diversidade
Deputado Marcelo Almeida regional e cultural.
Presidente
Deputado Jose Fernando Aparecido de Oliveira, § 4º A gestão estadual e municipal dos
Relator. recursos oriundos de repasses do FNC de-
verá ser submetida ao órgão colegiado
previsto no § 3º, inciso III, e observar os
3.3 capítulo III do PL 6.722/2010 procedimentos de análise previstos nos
que institui o progra- arts. 7º a 10.
Desdobramentos 99
do acordo de cooperação acordo de cooperação federativa
federativa do sistema na-
cional de cultura • Formulário de Solicitação de Integração ao
Sistema Nacional de Cultura preenchido
e assinado pelo Representante Legal
1 Acesse o blog do Sistema Nacional de (Governador ou Prefeito).
Cultura digitando: blogs.cultura.gov.br/snc/
e baixe os arquivos referentes ao Acordo de • Formulário preenchido “Informações
Cooperação Federativa. Complementares ao Acordo de Cooperação
Federativa do Sistema Nacional de Cultura”.
2 Preencha a minuta do “Acordo de Cooperação
Federativa para Desenvolvimento do Sistema • Documentos do Representante Legal
Nacional de Cultura” e os formulários (Governador ou Prefeito): RG, CPF e Ata da
“Solicitação de Integração ao Sistema posse.
Nacional de Cultura” e “Informações
Complementares ao Acordo de Cooperação • Documentos do Estado: CNPJ.
Federativa do Sistema Nacional de Cultura” e
envie para o e-mail: acordosnc@cultura.gov.br A documentação deve ser encaminhada via
correio ou entregue:
3 Aguarde a resposta do Ministério da Cultura:
100
Endereço: Rua Rio Grande do Sul, 940 - Santo
Agostinho
CEP: 30.170-111 - Belo Horizonte - MG
Telefones: (31) 3293-5713/3055-5900
Fax: (31) 3293-8144/3055-5929
Horário de Atendimento: 9h às 18h
E-mail: acordosnc.mg@cultura.gov.br
Escritório do Acre
Endereço: Rua Dom Bosco, nº 186, Bairro
Bosque
CEP 69.909-390 - Rio Branco - AC
Telefone: (68) 3227-9029
Horário de Atendimento: 9h às 14h
e-mail: snc.ac@cultura.gov.br
Desdobramentos 101
102
Referências
Bibliográficas
103
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Textos normativos de apoio:
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107
sistema nacional de cultura – snc
ministério da cultura – minc
secretaria de articulação institucional – sai
108