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Estruturação, Institucionalização e Implementação do SNC

Dezembro | 2011

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Estruturação, Institucionalização e Implementação do

Sistema Nacional de Cultura


Dezembro | 2011

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Ministério da Cultura
Conselho Nacional de Política Cultural
Secretaria de Articulação Institucional – SAI

Estruturação, Institucionalização e Implementação do

Sistema Nacional de Cultura


Dezembro | 2011

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governo federal representações regionais
presidenta da república são paulo
Dilma Vana Rousseff Valério da Costa Bemfica

ministra da cultura rio de janeiro e espírito santo


Ana de Hollanda André Diniz da Silva

secretário executivo minas gerais


Vitor Ortiz Cesária Alice Macedo

secretário de articulação institucional nordeste


João Roberto Peixe Fábio Henrique Lima de Almeida

secretária do audiovisual bahia


Ana Paula Santana Monica Trigo

secretária de cidadania cultural sul


Márcia Helena Gonçalves Rollemberg Margarete Costa Moraes

secretário de políticas culturais norte


Sérgio Mamberti Delson Luis Cruz

SECRETÁRIA DA IDENTIDADE E DIVERSIDADE CULTURAL


SECRETÁRIA DA ECONOMIA CRIATIVA (em estruturação) secretaria de articulação institucional
Cláudia Sousa Leitão
secretário de articulação institucional
secretário de fomento e incentivo à cultura João Roberto Peixe
Henilton Parente de Menezes
chefe de gabinete
conselho nacional de política Oswaldo Gomes dos Reis Júnior
cultural (cnpc) | gestão 2010-2011
diretor do sistema nacional de cultura e
programas integrados
instituições vinculadas Bernardo Novais da Mata Machado

instituto do patrimônio histórico coordenador geral de articulação intersetorial,


e artístico nacional (iphan) relações federativas e mobilização social
Luiz Fernando de Almeida Mauricio Dantas

instituto brasileiro de museus (ibram) coordenadora geral de instâncias de


José do Nascimento Júnior articulação, pactuação e deliberação do snc
Maria Helena Costa Signorelli
agência nacional do cinema (ancine)
Manoel Rangel coordenadora geral de instrumentos de gestão
do snc
fundação casa de rui barbosa (fcrb) Ângela Maria Menezes de Andrade
Wanderley Guilherme dos Santos
coordenador geral de institucionalização e
fundação cultural palmares (fcp) monitoramento do snc
Eloi Ferreira de Araujo Marcelo Veloso
fundação nacional de artes (funarte) equipe de coordenação geral de
Antonio Grassi institucionalização e monitoramento do snc
fundação biblioteca nacional (fbn) Sergio Pinto
Galeno de Amorim Júnior Yane Marcelle Pereira Silva
Regina Almeida
Valana Ramos Cunha
Bruno Pereira
Este documento foi elaborado pelo Grupo de Trabalho do
Sistema Nacional de Cultura, instituído pelo Ministério
da Cultura e aprovado, por unanimidade, pelo Plenário do
Conselho Nacional de Política Cultural na reunião dos dias 25
e 26 de agosto de 2009, com a inclusão dos pontos propostos
pela Comissão Temática constituída pelo CNPC.

grupo de trabalho
do sistema nacional de cultura
coordenação
João Roberto Peixe

ministério da cultura
Adélia Zimbrão
Bernardo Novais da Mata Machado
Cristiano Borges Lopes
Lia Calabre
Marcelo Veiga
Maria Beatriz Salles
Maria Cláudia Cabral

secretaria de relações institucionais


da presidência da república
Juliana Carneiro
Paula Ravaneli

consultores do sistema nacional de cultura


Albino Rubim
Alexandre Barbalho
Humberto Cunha
Isaura Botelho
José Márcio Barros
Leonardo Costa
Maria Helena Cunha

fórum de secretários e dirigentes


estaduais de cultura
Daniel Sant´Ana

fórum dos secretários e dirigentes


de cultura das capitais
Jandira Feghali
Mário Olímpio

grupo de trabalho dos sistemas setoriais


sistema nacional de patrimônio
Weber Sutti

sistema brasileiro de museus


Margarete Moraes

sistema nacional de bibliotecas públicas


Ilce Cavalcanti
Este documento foi produzido no âmbito do Convênio/MinC nº 702106

– SNC, entre o Ministério da Cultura e o SESC-SP.

serviço social do comércio

administração regional
no estado de são paulo

presidente do conselho regional


Abram Szajman

diretor do departamento regional


Danilo Santos de Miranda

superintendentes
técnico-social
Joel Naimayer Padula

comunicação social
Ivan Paulo Giannini

administração
Luiz D. M. Galina

assessor técnico de planejamento


Sérgio José Battistelli

coordenação do convênio para o fortalecimento


do sistema nacional de cultura
Marta Raquel Colabone

equipe sesc
Francisco Liberalino Pereira
Hélcio José P. Magalhães
Jackson Andrade de Matos
José Augusto Pawula Marques
José Olimpio Zangarine
Luciano Bueno Quirino
Marcos Gomes dos Santos
Marilu Donadelli
Mauricio Trindade da Silva
Roberto Pera
Sidênia Freire Pereira
Thaís Helena Franco S. Leite

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Apresentação

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o pleno exercício dos direitos De 2003 até hoje, o SNC avançou. Mas também
culturais enfrentou recuos, provocados, na maioria das
vezes, pelas incertezas sobre a melhor forma
de organizar as novas atribuições do poder pú-
blico na área da cultura. Essas dúvidas estão
No mundo todo, o debate sobre as relações en- sendo sanadas por este documento, publicado
tre Estado e Cultura tem sido prejudicado pelo pelo Ministério da Cultura, fruto do trabalho
confronto de ideias, que ora defendem um dis- de um grupo de especialistas que se debruçou
tanciamento do poder público das questões detalhadamente sobre cada um dos aspectos
culturais - consideradas matéria de interesse que envolvem o SNC.
exclusivo da sociedade e dos cidadãos - e ora
propõem a presença forte do Estado no mun- A importância histórica deste documento,
do da cultura - tratada como instrumento para aprovado pelo Conselho Nacional de Política
que projetos políticos de variados matizes Cultural em agosto de 2009, por si só justifica
conquistem hegemonia ideológica. sua publicação. Nossa expectativa é que, além
de registro para a história, se torne uma fer-
Esse embate no Brasil, por parte de alguns ramenta de pesquisa e trabalho nas mãos de
teóricos, desconhece a existência de uma via gestores, conselheiros de cultura e da socieda-
alternativa às ideias de cunho ou liberal ou de, tendo em vista a implantação plena e com-
autoritário, caminho que vem se consolidan- partilhada do Sistema Nacional de Cultura.
do desde a Constituição de 1988. E que pode-
ria ser chamado de “política cultural demo-
crática”, cujo fundamento está nas palavras
que abrem o Artigo 215: “O Estado garantirá a Ana de Hollanda
todos o pleno exercício dos direitos culturais”. Ministra de Estado da Cultura
A partir desse dispositivo, a cultura, à seme-
lhança de outras políticas públicas – particu-
larmente as sociais –, passou a ser conside-
rada um direito dos cidadãos. Ou seja, uma
obrigação do poder público.

Essa nova disposição constitucional, combi-


nada com a ampliação do conceito de cultu-
ra – todos os modos de viver, fazer e criar dos
diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, também observado pela Constitui-
ção de 1988 –, passou a exigir a construção de
um aparato institucional bem mais robusto
do que o existente até então na área da polí-
tica cultural. Foi com essa compreensão que,
em 2003, o governo Lula propôs a organização
do Sistema Nacional de Cultura (SNC). Visa
institucionalizar e fortalecer a gestão pública
da cultura, com base num modelo que reúne
a sociedade civil e os entes federativos da Re-
pública – União, estados, municípios e Distri-
to Federal – com seus respectivos sistemas de
cultura, organizados de forma autônoma e em
regime de colaboração.

À semelhança de outros sistemas de políticas


públicas, o SNC é uma articulação entre Esta-
do e sociedade que pretende dar organicida-
de, racionalidade e estabilidade às políticas
públicas de cultura – definidas como políticas
de Estado. A finalidade principal é garantir a
todos os brasileiros o efetivo exercício de seus
direitos culturais.

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a importância estratégica do e municípios, de órgãos gestores da cultura;
sistema nacional de cultura constituição de conselhos de política cultu-
ral democráticos; realização de conferências
com ampla participação dos diversos segmen-
tos culturais e sociais; elaboração de planos
Após os inúmeros avanços ocorridos nos úl- de cultura com participação da sociedade e
timos anos no campo da cultura e da gestão já aprovados ou em processo de aprovação
cultural em nosso país, os maiores desafios pelos legislativos; criação de sistemas de fi-
que hoje se apresentam são, de um lado, as- nanciamento com fundos específicos para a
segurar a continuidade das políticas públicas cultura, de sistemas de informações e indi-
de cultura como políticas de Estado, com um cadores culturais; de programas de forma-
nível cada vez mais elevado de participação ção nos diversos campos da cultura e de sis-
e controle social. E, de outro, viabilizar estru- temas setoriais, articulando várias áreas da
turas organizacionais e recursos financeiros e gestão cultural.
humanos, em todos os níveis de governo, com-
patíveis com a importância da cultura para o Por outro lado, verifica-se que, apesar da exis-
desenvolvimento do país. tência e funcionamento dos diversos com-
ponentes dos sistemas nacional, estaduais e
O Sistema Nacional de Cultura é, sem dúvida, o municipais, de forma geral não há, ainda, uma
instrumento mais eficaz para responder a es- visão e atuação “sistêmica”. Em que as partes
ses desafios, através de uma gestão articulada se vejam como integrantes de um conjunto
e compartilhada entre Estado e sociedade. Seja maior e atuem de forma integrada, a partir de
integrando os três níveis de governo para uma uma concepção comum de política cultural e
atuação pactuada, planejada e complementar, uma efetiva interação e complementaridade,
seja democratizando os processos decisórios capaz de provocar verdadeira sinergia no pro-
intra e intergovernos. Mas, principalmente, cesso, potencializando os resultados das ações
garantindo a participação da sociedade de for- empreendidas e dos recursos disponibilizados.
ma permanente e institucionalizada.
No plano nacional, o passo mais importante,
Esses desafios não são fáceis de serem supe- no campo político e institucional, é a apro-
rados. E essa concepção de gestão se confron- vação pelo Congresso da PEC nº 416/2005,
ta com a cultura política tradicional, que é na forma do substitutivo que contou com
da descontinuidade administrativa com as a unanimidade da Comissão Especial da
mudanças de governo; da competição intra e Câmara dos Deputados. Essa emenda cons-
intergovernos; e da resistência política à ins- titucional é fundamental para garantir ju-
titucionalização da participação social, apesar ridicamente a implementação do Sistema
de assegurada na Constituição. Nacional de Cultura, com definição da sua
natureza, objetivos, princípios, estrutura e
O Ministério da Cultura, com a participação componentes. O passo seguinte será a apro-
de outros órgãos do Governo Federal, de re- vação do projeto de lei que regulamentará
presentantes dos demais entes federados, da seu funcionamento.
sociedade civil e de consultores convidados, a
partir dos conhecimentos e das experiências Temos certeza que vamos vencer esses desa-
acumuladas nos últimos anos, nos três níveis fios e construir um Sistema Nacional de Cul-
de governo, desenvolveu esta proposta de con- tura consistente e flexível na sua estrutura.
cepção do Sistema Nacional de Cultura. E após Será profundamente democrático, capaz de
sua aprovação pelo Conselho Nacional de Polí- promover grande mudança qualitativa na
tica Cultural, aprofundou sua discussão com a gestão pública da cultura, em todos os níveis
realização de seminários em todo o país, bus- de governo. E criar as condições para a cultura
cando construir uma estratégia comum para deixar de ser um componente periférico para
implementação dos sistemas municipais, es- ocupar definitivamente seu espaço como um
taduais e Nacional de Cultura. dos vetores do processo de desenvolvimento
do país.
Um dado muito positivo é que a constru-
ção do Sistema Nacional de Cultura, embora
com estágios bastante diferenciados, já está João Roberto Peixe
em pleno andamento em todo Brasil. Esse Secretário de Articulação Institucional
processo ocorre com a criação, por estados

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a autonomia dos direitos Mas e os direitos culturais? Quais são eles?
culturais e o sistema Como e por que nascem, de que forma evo-
luem e como podem ser classificados? Buscam
nacional de cultura afirmar as liberdades em relação ao Estado
(como os direitos civis), no Estado (como os
direitos políticos) ou através do Estado (como
Incluída no programa de governo do ex-presi- os direitos sociais)? Referem-se às liberdades
dente Lula, ainda em 2002, a ideia do Sistema individuais ou de coletividades?
Nacional de Cultura (SNC), bem como sua im-
plantação, já em curso, tem hoje uma própria Não é o caso, nessa introdução, de entrar em
história. O documento que agora se publica, detalhes que já estão contidos no interior des-
concluído em 2009, representa um marco di- se livro. Basta dizer que a origem dos direitos
visório entre dois períodos. No primeiro, entre culturais coincide no tempo com o nascimen-
2002 e 2009, a doutrina que fundamentava o to dos Direitos Humanos, particularmente
SNC compreendia a política cultural no âmbi- com sua primeira geração, a dos direitos civis,
to dos direitos sociais. No segundo período, a que resultam da luta contra o absolutismo
base teórica passou a assentar-se sobre os di- (século XVIII) e pela afirmação da liberdade
reitos culturais, entendidos como um conjun- dos indivíduos perante o Estado. É nesse con-
to autônomo de direitos, embora integrante texto, no qual os súditos se tornam cidadãos,
(junto com os direitos civis, econômicos, po- que surge o direito autoral, notadamente na
líticos e sociais) do conjunto maior denomi- França revolucionária, que consagra o direito
nado Direitos Humanos. Essa mudança não moral e material dos autores sobre suas obras,
é simplesmente doutrinária, pois tem conse- direitos antes monopolizados por editores ou
quências práticas importantes, como se pode delegados a estes pela própria Coroa, como no
constatar a seguir. caso da Inglaterra.

Tendo como referência a tipologia histórica No entanto, o direito autoral não pode ser ca-
proposta por Norberto Bobbio na obra A Era racterizado exclusivamente como um direito
dos Direitos (Rio de Janeiro: Campus, 1992), civil, porque ele tem, desde sua origem, um
tem-se que os Direitos Humanos podem ser forte componente econômico e social. Embora
classificados em três tipos (ou gerações), que todas as legislações nacionais que se segui-
correspondem a três períodos da história ram estabeleçam um prazo no qual o autor e
nos quais variaram as relações entre o Esta- seus herdeiros são os únicos beneficiários da
do e a sociedade: propriedade da obra, findo esse prazo ela cai
em domínio público. Ou seja, torna-se coleti-
“Como todos sabem, o desenvolvimento dos va, o que significa que a função social da pro-
direitos do homem passou por três fases: num priedade intelectual foi reconhecida desde o
primeiro momento afirmaram-se os direitos nascedouro do direito autoral. Há também no
de liberdade, isto é, todos aqueles direitos que direito autoral um componente político, já que
tendem a limitar o poder do Estado e a reservar a luta dos autores esteve sempre relacionada
para o indivíduo, ou para grupos particulares, à liberdade de criação e expressão do pensa-
uma esfera de liberdade em relação ao Estado; mento, que é parte integrante e fundamental
num segundo momento foram propugnados das liberdades civis e políticas.
os direitos políticos, os quais – concebendo a
liberdade não apenas negativamente, como O direito de acesso aos bens da cultura, rei-
não-impedimento, mas positivamente, como vindicado já no século XIX pelo movimento
autonomia –, tiveram como consequência a operário, tem uma natureza eminentemente
participação cada vez mais ampla dos mem- social e para ser exercido exige a presença ati-
bros de uma comunidade no poder político va do Estado, como é o caso, entre outros, da
(liberdade no Estado); finalmente, foram pro- universalização da educação pública. O direito
clamados os direitos sociais, que expressam o à identidade cultural, por sua vez, tem um for-
amadurecimento de novas exigências – pode- te componente civil – “sou como desejo ser” –,
mos dizer de novos valores –, como os do bem- mas possui também uma face política, que se
-estar e da igualdade (não apenas formal) e torna nítida quando um grupo sociocultural
que poderíamos chamar de liberdade através reivindica ser incluído no rol dos bens do pa-
ou por meio do Estado” (grifos nossos) trimônio cultural de um povo ou nação. Tem,
também, uma dimensão social, que se eviden-
cia no momento em que o poder público toma

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a iniciativa de proteger modos de viver e de
criar de minorias oprimidas, marginalizadas
ou ameaçadas de extinção. Em suma, os di-
reitos culturais têm características mistas; são
simultaneamente civis, políticos, econômicos
e sociais; subvertem as classificações rígidas e
adquirem estatuto próprio; e necessitam, para
efetivar-se, da ação compartilhada de indiví-
duos, comunidades e Estado.

Essa constatação leva a concluir que são múlti-


plas e complexas as ações que envolvem a im-
plantação de um Sistema Nacional de Cultura.
Não se trata de colocar uma “camisa de força”
na cultura, como pensam críticos isolados, mas
de fortalecer a política pública de cultura. De
fato, a criatividade humana é livre e dinâmica,
como demonstra a existência mesma da His-
tória, e não cabe ao Estado dirigir seus passos.
No entanto, há atribuições que o Estado, obje-
tivamente, tem de cumprir: (1) assegurar que a
liberdade de criar não sofra impedimentos; (2)
garantir aos criadores as condições materiais
para criar e usufruir dos benefícios resultantes
das obras que produzem; (3), universalizar o
acesso de todos os cidadãos aos bens da cultu-
ra; (4) proteger e promover as identidades e a
diversidade cultural; e (5) estimular o intercâm-
bio cultural nacional e internacional.

Em termos gerais, cabe-lhe cumprir a função


que a Constituição lhe atribui, qual seja a de
“garantir a todos o pleno exercício dos direitos
culturais” (art. 215).

Para tanto, a política cultural, entendida como


política pública, precisa ser planejada, estru-
turada, institucionalizada, aberta à participa-
ção da sociedade nas suas decisões e, sobre-
tudo, dotada de recursos públicos, materiais e
humanos. Essa é a proposta do Sistema Nacio-
nal de Cultura.

Bernardo Novais da Mata Machado


Diretor do Sistema Nacional de Cultura e
Programas Integrados da Secretaria de
Articulação Institucional (SAI/MinC)

16
17
18
Sumário

19
Esta publicação está dividida em duas partes. Na
primeira, é apresentado o documento básico do
Sistema Nacional de Cultura – SNC, aprovado em
agosto de 2009 pelo Conselho Nacional de Polí-
tica Cultural – CNPC. Na segunda, são relatados
acontecimentos posteriores à aprovação do do-
cumento e arrolados os instrumentos legais que
deram prosseguimento ao processo de imple-
mentação do SNC.

De agosto de 2009 até a presente data, alguns


trechos do documento básico ficaram desatua-
lizados, mas esta edição manteve o texto inte-
gral, tal como foi aprovado pelo CNPC. Para que
as informações não ficassem defasadas, foram
acrescentadas notas dos editores que atualizam
os dados. Essas notas estão assinaladas, em pé de
página, pelas letras “N.E.” (Nota do Editor).

20
Introdução 25

1 A política nacional de cultura 29

1.1 o papel do estado na gestão pública da cultura 30


1.2 os direitos culturais como plataforma de sustentação
da política nacional de cultura 30
1.3 concepção tridimensional da cultura como
fundamento da política nacional de cultura 33
1.3.1 a dimensão simbólica da cultura 33

1.3.2 a dimensão cidadã da cultura 34

1.3.3 a dimensão econômica da cultura 35

2 Sistema nacional de cultura 39

2.1 histórico 40

2.2 conceito do sistema nacional de cultura 40

2.3 princípios do sistema nacional de cultura 41

2.4. objetivos do sistema nacional de cultura 42

2.4.1 objetivo geral 42

2.4.2 objetivos específicos 42

2.5 estrutura do sistema nacional de cultura 42

2.5.1 elementos constitutivos do sistema 44

2.5.1.1 Órgãos Gestores dos Sistemas de Cultura 46

2.5.1.2 Conselhos de Política Cultural 46

2.5.1.3 Conferências de Cultura 47

2.5.1.4 Sistemas de Financiamento à Cultura 48

2.5.1.5 Planos de Cultura 48

2.5.1.6 Sistemas Setoriais de Cultura 48

2.5.1.7 Comissões Intergestores Tripartite e Bipartites 49

2.5.1.8 Sistemas de Informações e Indicadores Culturais 49

2.5.1.9 Programa Nacional de Formação na Área da Cultura 50

2.6 interrelações entre os elementos do sistema 50

2.6.1 instâncias de articulação, pactuação e deliberação


do sistema nacional de cultura 50

2.6.1.1 Conferências Nacional, Estaduais, Distrital e Municipais


de Cultura 50

21
2.6.1.2 Conselhos Nacional, Estaduais, Distrital e Municipais
de Política Cultural 51

2.6.1.3 Conselhos Setoriais Nacionais, Estaduais, Distrital e Municipais 53

2.6.1.4 Comissões Nacional, Estaduais, Distrital e Municipais de


Fomento e Incentivo à Cultura 54

2.6.1.5 Comissão Intergestores Tripartite 54

2.6.1.6 Comissões Intergestores Bipartites 55

2.7 instrumentos de gestão do sistema nacional de cultura 56

2.7.1 plano nacional de cultura 56

2.7.2 orçamento da cultura 56

2.7.3 sistema nacional de informações e indicadores culturais 57

2.7.4 relatório anual de gestão 57

2.8 recursos financeiros do sistema nacional de cultura 57

2.8.1 política de financiamento público da cultura 57

2.8.1.1 Fontes de Financiamento do SNC 58

2.8.1.2 Mecanismos de Financiamento das Políticas Públicas de Cultura 58

2.8.1.3 Critérios de Partilha e de Transferência de Recursos da União


para Estados e Municípios no SNC 59

2.8.2 recursos do orçamento 60

2.8.2.1 Orçamento Público da Cultura no Brasil 60

2.8.2.2 Orçamento da Cultura do Governo Federal 62

2.9 política nacional de formação na área da cultura 63

2.9.1 linhas básicas da política nacional de formação


na área da cultura 63

2.9.2 mapeamento e avaliação das instituições formadoras


em política e gestão culturais no brasil 63

2.9.2.1 Mapeamento e Avaliação das Instituições Formadoras 63

2.9.2.2 Criação da Rede de Instituições de Formação na Área da Cultura 63

2.9.3 programa de formação na área da cultura 63

2.9.3.1 Formação e Qualificação em Política e Gestão Culturais 64

2.10 estratégia de institucionalização e implementação do snc 64

2.10.1 o processo de implementação do snc 64

2.10.2 estratégia comum para institucionalização


e implementação do snc 65

2.10.3 programa de fortalecimento institucional e


gestão cultural 66

2.10.4 institucionalização do sistema nacional de cultura 67

22
2.10.4.1 Acordo de Cooperação Federativa 67

2.10.4.2 PEC Nº 416/2005, que Institui o Sistema Nacional de Cultura 77

2.10.4.3 PEC Nº 150/2003, para Destinação de Recursos à Cultura 79

2.10.4.4 PEC Nº 236/2008, para Inserção da Cultura no Rol dos Direitos


Sociais no Art. 6º da Constituição Federal 80

2.10.4.5 Projeto de Lei Nº 6.835, que Institui o Plano Nacional de Cultura 81

2.10.4.6 Projeto de Lei que Institui o Programa de Fomento


e Incentivo à Cultura – PROFIC 81

2.10.4.7 Projeto de Lei de Regulamentação do Sistema Nacional de Cultura 84

2.10.4.8 Decreto Nº 5.520, de 24 de Agosto de 2005, que Institui


o Sistema Federal de Cultura e Dispõe sobre a Composição e
Funcionamento do Conselho Nacional de Política Cultural 84

2.10.4.9 Projetos de Lei de Criação ou Reestruturação dos


Sistemas de Cultura, dos Conselhos de Política Cultural,
dos Fundos e Planos de Cultura dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios 85

3 Desdobramentos 87
3.1 relatório do deputado paulo rubem santiago (pdt-pe) e
substitutivo aprovado, em 14/04/2010, pela comissão
especial destinada a proferir parecer à proposta de
emenda à constituição nº 416-a, de 2005. 89

I relatório 89

II voto do relator 92

substitutivo à proposta de emenda à constituição nº 416-a, de 2005 97

3.2 substitutivo aprovado, em 23/09/2009, pela comissão


especial destinada a proferir parecer à proposta de
emenda à constituição nº 150, de 2003, apensada à
proposta de emenda à constituição nº 324-a, de 2001. 98

3.3 capítulo III do PL 6.722/2010, que institui o programa


nacional de fomento e incentivo à cultura - procultura,
na forma do substitutivo aprovado, em 08/12/2010, pela
comissão de educação e cultura da câmara dos deputados 99

3.4 orientações e procedimentos para assinatura


do acordo de cooperação federativa do
sistema nacional de cultura 100

4 Referências Bibliográficas 103

23
24
Introdução

25
ências sistêmicas de outras áreas da gestão
pública no Brasil, buscando extrair delas os
pontos comuns com a gestão da área cultural
e, ainda, as estratégias utilizadas, os resulta-
sistema nacional de cultura dos positivos e as dificuldades encontradas no
processo de suas implementações.

Um dos grandes desafios a ser enfrentado na O sucesso do Sistema Nacional de Cultura,


gestão de políticas públicas culturais diz res- além da definição clara do seu marco teórico-
peito às relações intergovernamentais, que é -conceitual e jurídico-legal, e da concepção de
o de organizar e equilibrar o direito à fruição uma arquitetura que incorpore a diversidade
e produção da cultura, pelos cidadãos, com o e complexidade da área cultural, depende do
modelo tripartite de federalismo, instituído fortalecimento institucional da gestão cul-
pela Constituição Brasileira de 1988, num con- tural no país com a qualificação, nos planos
texto de desigualdades inter e intraestaduais. federal, estadual e municipal, dos gestores pú-
Os entes federados são dotados de autonomia blicos e dos conselheiros de cultura, que são os
administrativa e fiscal, com compartilhamen- responsáveis por sua implementação.
to de poderes nos seus respectivos territórios.
Essa autonomia pressupõe repartição de com- Com esta visão, o Ministério da Cultura (MinC)
petências para o exercício e desenvolvimento constituiu três Grupos de Trabalho com o de-
de sua atividade normativa: cabem à União as safio de construir uma proposta ampla para a
matérias e questões de interesse geral, nacio- constituição e implementação do SNC. Uma
nal; aos estados, as matérias e assuntos de in- proposta que pense e conceba, de forma in-
teresse regional; e aos municípios, os assuntos tegrada, a estrutura do sistema e a política
de interesse local. de formação na área da cultura, e que, a par-
tir dessa concepção, defina as estratégias e as
Assim como a área da Saúde e da Assistên- ações necessárias para sua implementação.
cia Social, que possuem arranjos muito com-
plexos de atuação, envolvendo as três esferas Estes grupos instituídos pelo MinC, por meio
federativas e a sociedade, a Cultura precisa da Secretaria de Articulação Institucional, ten-
organizar sistemicamente suas políticas e re- do à frente a Coordenação Geral de Relações
cursos, por meio de articulação e pactuação Federativas e Sociedade, trabalham de forma
das relações intergovernamentais, com ins- conjunta e contam, além dos membros inte-
tâncias de participação da sociedade, de for- grantes do MinC e de outros órgãos do Governo
ma a dar um formato político-administrativo Federal, com a participação de representantes
mais estável e resistente às alternâncias de dos demais entes federados, da sociedade civil
poder. A organização sistêmica, portanto, é e de consultores convidados. Portanto, desde a
uma aposta para assegurar continuidade das sua origem, esta proposta já está sendo cons-
políticas públicas da Cultura – definidas como truída dentro da lógica do SNC.
políticas de Estado –, que tem por finalidade
última/basal garantir a efetivação dos direitos Este documento é o resultado do trabalho do
culturais constitucionais dos brasileiros. primeiro Grupo, intitulado “Arquitetura e Mar-
co Legal do Sistema Nacional de Cultura”. Os
Neste sentido, o Ministério da Cultura vem outros dois: “Formação em Gestão de Políticas
atuando desde o ano de 2003, sendo essa pro- Públicas de Cultura” e “Mapeamento: Formação
posta a síntese do conhecimento acumulado e Qualificação em Política e Gestão Culturais no
no processo de debates ocorridos ao longo dos Brasil” apresentarão suas propostas nos meses
últimos anos em todos os fóruns e instâncias seguintes,1 consolidando, então, a proposta de
culturais do país e das experiências já viven- construção do Sistema Nacional de Cultura.
ciadas nas três esferas de Governo (federal,
estadual e municipal) e da sociedade civil, na O documento inicia apresentando os fun-
implementação dos elementos componentes damentos da Política Nacional de Cultura, a
dos sistemas de cultura. partir da qual se estrutura o Sistema Nacio-
nal de Cultura e, a seguir, o conceito, princí-
Essa proposta, também, incorpora as experi- pios, objetivos, estrutura, interrelações entre

1 As respectivas propostas já foram devidamente concluídas e apresentadas ao Ministério da Cultura. (N.E.)

26
os elementos constitutivos, instrumentos de A realização das conferências Municipais,
gestão, recursos financeiros, política de for- Estaduais e Distrital ao longo de 2009 e, em
mação, estratégia de implementação e insti- março de 2010, da 2ª Conferência Nacional de
tucionalização do Sistema. Cultura, possibilita que haja um grande deba-
te e a mobilização da sociedade para impulsio-
Seguindo a agenda prevista, a partir deste do- nar a aprovação desses instrumentos legais, e,
cumento o debate foi ampliado para outras principalmente, para implementar, além do
instâncias do Ministério da Cultura e do Go- Nacional, os sistemas estaduais e municipais
verno Federal, para o Fórum de Secretários e de Cultura. E, especialmente, promover a cria-
Dirigentes Estaduais de Cultura, para o Fórum ção ou reestruturação dos conselhos de Políti-
dos Secretários e Dirigentes de Cultura das Ca- ca Cultural, com a sua democratização e cons-
pitais, e apresentado, já incorporando as novas tituição como peças centrais nesse processo,
contribuições, ao Conselho Nacional de Polí- pois são os elementos que darão legitimidade
tica Cultural, na reunião realizada nos dias 16 e garantirão a participação e o controle social
e 17 de junho deste ano. A Comissão Temática nos sistemas de cultura.
constituída pelo CNPC apresentou relatório
na reunião de 25 e 26 de agosto, tendo o Plená- A estratégia para garantir institucionalmen-
rio, por unanimidade, aprovado o documento te as bases legais e assegurar politicamente a
com a inclusão dos pontos propostos pela Co- implementação do Sistema Nacional de Cul-
missão. Com a aprovação do Conselho Nacio- tura deve ter como elemento central a sensi-
nal de Política Cultural, seguindo a concepção bilização e mobilização de todos os atores da
adotada e a estratégia definida, serão elabora- cena cultural – artistas, produtores, empresá-
dos os instrumentos legais para encaminha- rios, instituições culturais, gestores públicos e
mento às respectivas instâncias de deliberação sociedade civil – para, numa atuação conjun-
e execução. ta, divulgar e fortalecer o Sistema Nacional de
Cultura. E, articulando-se com os parlamenta-
É importante ressaltar que já está em tramita- res das bancadas da cultura, acelerar a trami-
ção no Congresso Nacional a Proposta de Emen- tação e aprovação desses projetos de lei e pro-
da Constitucional nº 416/2005, que institui o postas de emenda constitucional.
Sistema Nacional de Cultura, bem como outras
propostas de emenda constitucional e projetos
de lei diretamente relacionados com o SNC, tais
como a PEC nº 150/2003, que destina recursos à
cultura com vinculação orçamentária; a PEC nº
236/2008, que propõe a inserção da cultura no
rol dos direitos sociais no Art. 6º da Constituição
Federal; o Projeto de Lei nº 6.8352, que Institui o
Plano Nacional de Cultura e estará sendo enca-
minhado pelo MinC, nos próximos dias, o Pro-
jeto de Lei que institui o Programa de Fomento
e Incentivo à Cultura – PROFIC.3 Também, já foi
elaborada pelo MinC e será encaminhada ao
relator da Comissão Especial uma proposta de
substitutivo à PEC nº 416/2005.4

Essa pauta fortalece a necessidade da institucio-


nalização e implementação do Sistema Nacional
de Cultura como o meio de articulação das ins-
tâncias governamentais dos três entes federa-
dos, com ampla participação da sociedade, para,
de forma racional e organizada, implementar as
políticas públicas de cultura, assegurando, como
já afirmado, a sua continuidade como políticas
de Estado.

2 O projeto foi aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado em Lei 12.343, de 2 de dezembro de 2010, pelo Presidente da República.
3 Foi encaminhado ao Congresso Nacional com nova denominação: Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura – ProCultura. (N.E.)
4 A proposta foi encaminhada ao relator da Comissão Especial, deputado Paulo Rubem Santiago, e aprovada na forma apresentada na página 114. (N.E.)

27
1
28
A Política Nacional
de Cultura

29
1.1 o papel do estado na desafios do mundo contemporâneo. Políticas
gestão pública da cultura que reconheçam, protejam, valorizem e pro-
movam a diversidade das expressões culturais
presentes em seus territórios; que democrati-
zem os processos decisórios e o acesso aos bens
O primeiro ponto a se considerar na formula- e serviços culturais; que trabalhem a cultura
ção de uma política nacional de cultura é uma como um importante vetor do desenvolvimen-
definição clara do papel do Estado na gestão to sustentável; que intensifiquem as trocas, os
pública da cultura. Qual sua função e espaço de intercâmbios e os diálogos interculturais; que
atuação? Como pode atuar respeitando a liber- promovam a paz.
dade de criação, mas garantindo os direitos cul-
turais e a preservação do patrimônio cultural, A atuação democrática do Estado na gestão pú-
fomentando a produção e fortalecendo a eco- blica da cultura não se constitui numa ameaça
nomia da cultura? à liberdade. Ao contrário, assegura os meios
para o desenvolvimento da cultura como di-
A resposta a estas questões tem como pon- reito de todos os cidadãos com plena liberdade
to central o entendimento da cultura como de expressão e criação. O importante é que a
um direito fundamental do ser humano e, ao gestão seja transparente e assegure a partici-
mesmo tempo, um importante vetor de de- pação e o controle social. Cabe, então, ao Esta-
senvolvimento econômico e de inclusão so- do Brasileiro assumir suas responsabilidades
cial. Assim, deve ser tratada pelo Estado como e, com a participação da sociedade, construir
uma área estratégica para o desenvolvimento os instrumentos de gestão e implementar as
do país. Portanto, sem dirigismo e interferên- políticas públicas de cultura que respondam a
cia no processo criativo, ao Estado cabe, com esses desafios.
a participação da sociedade, assumir plena-
mente seu papel no planejamento e fomen-
to das atividades culturais, na preservação e 1.2 os direitos culturais
valorização do patrimônio cultural material
como plataforma de
e imaterial do país e no estabelecimento de
marcos regulatórios para a economia da cul- sustentação da política
tura, sempre considerando em primeiro plano nacional de cultura
o interesse público e o respeito à diversidade
cultural. Papel este já expresso nos Artigos 215
e 216 da Constituição Federal.
A seção que trata da Cultura na Constituição
A atuação do Estado no campo da cultura não Federal (CF) tem início com o artigo 215, onde
substitui o papel do setor privado, com o qual se lê que o “Estado garantirá a todos o pleno
deve, sempre que possível, atuar em parceria e exercício dos direitos culturais”. Embora cla-
buscar a complementaridade das ações, evitan- ramente citados, em nenhum momento esses
do superposições e desperdícios. No entanto, direitos são listados. Essa lacuna, contudo, não
ao Estado cabe assumir papéis e responsabili- é só da Constituição Brasileira. A própria Unes-
dades intransferíveis como, por exemplo, o de co reconhece a necessidade de identificar com
garantir a preservação do patrimônio cultural e maior clareza quais são esses direitos, que se
o acesso universal aos bens e serviços culturais encontram dispersos nos inúmeros instrumen-
ou o de proteger e promover a sobrevivência e tos normativos – declarações, recomendações e
desenvolvimento de expressões culturais tradi- convenções – das Nações Unidas.
cionais, o que dificilmente seria assumido pelo
setor privado. Uma consulta aos documentos da ONU/Unes-
co5 permite propor, de antemão, a seguinte lis-
Cada vez mais a cultura ocupa um papel central ta de direitos culturais: direito à identidade e à
no processo de desenvolvimento, exigindo dos diversidade cultural, direito à participação na
governos o planejamento e a implementação vida cultural, direito autoral e direito/dever de
de políticas públicas que respondam aos novos cooperação cultural internacional.

5 Foram consultados os seguintes documentos: Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948); Convenção Universal sobre Direito de Autor (1952); Convenção
sobre a Proteção dos Bens Culturais em caso de Conflito Armado (1954); Pacto sobre os Direitos Econômicos Sociais e Culturais (1966); Pacto dos Direitos Civis e Políticos
(1966); Declaração dos Princípios da Cooperação Cultural Internacional (1966); Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (1972); Recomen-
dação sobre a Participação dos Povos na Vida Cultural (1976); Recomendação sobre o Status do Artista (1980); Declaração do México sobre Políticas Culturais (1982);

30
O direito à identidade e à diversidade cultural, po cuja identidade expressa, e reconhecendo
que nasce durante o século XVIII no âmbito que as tradições evoluem e se transformam,
dos Estados nacionais, é elevado ao plano in- a Recomendação insiste, basicamente, na ne-
ternacional após a Segunda Guerra Mundial, cessidade dos Estados-membros apoiarem
quando ocorreram verdadeiros saques ao pa- a investigação e o registro dessas manifes-
trimônio cultural de países ocupados. Em 1954, tações. Não obstante, temendo que a cultura
a Unesco proclama a Convenção sobre a Pro- popular venha a perder seu vigor sob a influ-
teção dos Bens Culturais em caso de Conflito ência da indústria cultural, recomenda-se aos
Armado, documento em que os Estados-mem- Estados que incentivem a salvaguarda dessas
bros se comprometem a respeitar os bens cul- tradições “não só dentro das coletividades das
turais situados nos territórios dos países ad- quais procedem, mas também fora delas”.
versários, assim como a proteger seu próprio
patrimônio em caso de guerra. Finalmente, cabe citar a Convenção sobre a
Proteção e a Promoção da Diversidade das
O movimento ecológico, que ganhou ímpeto a Expressões Culturais, aprovada pela Unesco
partir da década de 1970, também contribuiu em 2005 e já ratificada pelo Brasil. Esse docu-
para a elevação desse direito ao plano mundial. mento chama a atenção para a necessidade de
Em 1972 a Unesco aprova a Convenção sobre “integrar a cultura como elemento estratégico
a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e nas políticas nacionais e internacionais de de-
Natural, na qual se considera serem a deterio- senvolvimento”. Temendo que no contexto da
ração e o desaparecimento de um bem natural liberalização comercial possam ocorrer “dese-
ou cultural “um empobrecimento nefasto do quilíbrios entre países ricos e países pobres”,
patrimônio de todos os povos do mundo”. a Convenção reafirma o direito soberano dos
Estados de “implantar as políticas e medidas
O vínculo entre patrimônio cultural e ambien- que eles julgarem apropriadas para a proteção
tal é reforçado na Declaração Universal sobre a e a promoção da diversidade das expressões
Diversidade Cultural (2001), em que se defende culturais em seu território”.
o princípio de que a diversidade cultural, para
o gênero humano, é tão necessária quanto à O direito à livre participação na vida cultural
diversidade biológica para a natureza e, por foi proclamado no Artigo 27 da Declaração:
isso, “deve ser reconhecida e consolidada em “Toda pessoa tem o direito de participar li-
beneficio das gerações presentes e futuras”. vremente da vida cultural da comunidade,
de gozar das artes e de aproveitar-se dos pro-
Situação específica é a dos países onde exis- gressos científicos e dos benefícios que deles
tem minorias étnicas, religiosas ou linguís- resultam”. Analisando documentos posterio-
ticas. Nesse caso, o artigo 27 do Pacto dos res, pode-se subdividir o direito à participa-
Direitos Civis e Políticos (1966) assegura aos ção na vida cultural em quatro categorias: di-
membros desses grupos o direito a ter “sua reito à livre criação, livre fruição (claramente
própria vida cultural, professar e praticar sua expresso no enunciado principal), livre difu-
própria religião e usar sua própria língua”. são e livre participação nas decisões de polí-
Em 1992, a ONU aprofunda esses princípios tica cultural.
na Declaração sobre os Direitos das Pessoas
Pertencentes às Minorias Nacionais, Étnicas, A Recomendação sobre o Status do Artista
Religiosas e Lingüísticas, na qual se formula a (1980), que trata da liberdade de criação, con-
obrigação dos Estados-membros de proteger voca expressamente os Estados-membros da
a identidade cultural das minorias existentes ONU a “ajudar a criar e sustentar não apenas
em seus territórios. um clima de encorajamento à liberdade de ex-
pressão artística, mas também as condições
Ainda sobre o direito à identidade e à diver- materiais que facilitam o aparecimento de ta-
sidade, cabe destacar a Recomendação so- lentos criativos”.
bre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e
Popular (1989). Considerando que a cultura No que diz respeito à difusão, o Pacto Interna-
popular deve ser protegida por e para o gru- cional dos Direitos Civis e Políticos (1966) as-

5 Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular (1989); Informe da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento (1996); Declaração Universal
sobre a Diversidade Cultural (2001); Convenção sobre a proteção e a promoção da Diversidade das Expressões Culturais (2005). Cabe registrar que no Brasil os tratados
ou convenções internacionais sobre direitos humanos, quando ratificados pelo Congresso Nacional, equivalem a emendas constitucionais.

A Política Nacional de Cultura 31


segura a todas as pessoas “a liberdade de pro- de todo o mundo e contou com a participação
curar, receber e difundir informações e ideias de autoridades de diversas cidades brasileiras.
de qualquer natureza, independentemente de Define princípios, estabelece compromissos
considerações de fronteiras, verbalmente ou e faz recomendações aos governos locais, aos
por escrito, em forma impressa ou artística, ou governos de estados e nações, e às organiza-
qualquer outro meio de sua escolha”. Excetu- ções internacionais referentes aos direitos
am-se os casos que envolvem a reputação das humanos, à diversidade cultural, à sustentabi-
demais pessoas e as manifestações contrá- lidade, à democracia participativa e à criação
rias aos princípios fundamentais dos direitos de condições para a paz.
humanos, tais como a propaganda a favor da
guerra e a apologia ao ódio nacional, racial ou Uma análise da Constituição Brasileira, feita a
religioso (artigos 19 e 20). partir dessa proposta de lista dos direitos cul-
turais, permite constatar que todos, de alguma
A Declaração do México sobre as Políticas forma, estão ali referidos: o direito à identida-
Culturais (1982) postula a ampla participação de e à diversidade cultural (Art. 215, Art. 216 e
dos indivíduos e da sociedade no processo de Art. 231); o direito à livre criação (Art. 5º, IV e
“tomada de decisões que concernem à vida Art. 220, caput), à livre fruição ou acesso (art.
cultural”. Para tanto, recomenda “multiplicar 215, caput), à livre difusão (Art. 215, caput) e à
as ocasiões de diálogo entre a população e os livre participação nas decisões de política cul-
organismos culturais”, particularmente por tural (art. 216, parágrafo 1º); o direito autoral
meio da descentralização geográfica e admi- (art. 5º, XXVII, XXVIII e XXIX) e à cooperação
nistrativa da política cultural. cultural internacional (Art. 4º, II, III, IV, V, VI,
VII, IX e parágrafo único). Isso posto, constata-
O direito autoral reconhece a propriedade -se que no que tange à Cultura, a Constituição
sobre a criação intelectual e artística como a Brasileira é explícita e avançada. Sobre essa
mais legítima e a mais pessoal das proprieda- base é possível construir o Sistema Nacional
des, pois as obras são compreendidas não ape- de Cultura, mesmo porque a própria Consti-
nas em sua dimensão material, mas também tuição Federal estabelece o princípio da coope-
moral-, isto é, como emanações da persona- ração entre os entes federados (União, estados,
lidade do autor. Em 1948 o direito autoral foi municípios e Distrito Federal), que têm com-
internacionalmente reconhecido pela Decla- petências comuns sobre várias políticas públi-
ração Universal dos Direitos do Homem (Arti- cas (incluindo a cultural), desde que mantidas
go 27) e, mais tarde, na Convenção Universal as respectivas autonomias e a atribuição da
sobre Direito de Autor (1952). União para estabelecer normas gerais.

O direito/dever de cooperação cultural inter-


nacional foi proclamado na Declaração de
Princípios da Cooperação Cultural Internacio-
nal (1966): “A cooperação cultural é um direi-
to e um dever de todos os povos e de todas as
nações, que devem compartilhar o seu saber e
os seus conhecimentos”, diz seu Artigo 5o. Essa
Declaração considera o intercâmbio cultural
essencial à atividade criadora, à busca da ver-
dade e ao cabal desenvolvimento da pessoa
humana. Afirma que todas as culturas têm
“uma dignidade e um valor que devem ser
respeitados” e que é através da influência que
exercem umas sobre as outras que se constitui
o patrimônio comum da humanidade.

Ainda no plano internacional, é importante


destacar a Agenda 21 da Cultura, documen-
to aprovado em maio de 2004, em Barcelona,
pelo IV Fórum das Autoridades Locais pela In-
clusão Social de Porto Alegre, no âmbito do I
Fórum Universal das Culturas. O documento
foi formulado por cidades e governos locais

32
1.3 concepção tridimensional
da cultura como
fundamento da política
nacional de cultura

Tridimensionalidade da
Cultura

Simbólica Cidadã
Cultura
Econômica

Todas as políticas, programas, projetos e ações 1.3.1 a dimensão simbólica da cultura


desenvolvidas pelo Ministério da Cultura
(Minc), a partir do ano de 2003, têm sido nor- Essa concepção fundamenta-se na ideia de
teados por uma concepção que compreende a que a capacidade de simbolizar é própria dos
cultura em três dimensões: a simbólica, a ci- seres humanos e se expressa por meio das lín-
dadã e a econômica. Essas três dimensões, que guas, crenças, rituais, práticas, relações de pa-
incorporam visões distintas e complementa- rentesco, trabalho e poder, entre outras. Toda
res sobre a atuação do Estado na área cultural, ação humana é socialmente construída por
inspiram-se nos direitos culturais e buscam meio de símbolos que, entrelaçados, formam
responder aos novos desafios da cultura no redes de significados que variam conforme os
mundo contemporâneo. contextos sociais e históricos. Nessa perspecti-
va, também chamada antropológica, a cultura
No início da sua gestão à frente do Minis- humana é o conjunto de modos de viver, que
tério da Cultura, quando perguntado sobre variam de tal forma que só é possível falar em
os critérios que iriam pautar a política cul- culturas no plural.
tural do governo, o ministro Gilberto Gil
respondeu: “a abrangência”. Esse critério, A dimensão simbólica está claramente ex-
que a princípio parecia vago, foi seguido à pressa na CF/88, que inclui entre os bens de
risca e sua definição mais precisa acabou se natureza material e imaterial que constituem
delineando na concepção tridimensional da o patrimônio cultural brasileiro, todos os
cultura, que se consolidou como a principal “modos de viver, fazer e criar” dos “diferentes
marca da política cultural implantada no grupos formadores da sociedade brasileira”
país, nos últimos anos. (Artigo 216).

Agora, essa concepção, através do Sistema Ao adotar essa dimensão ampla do conceito,
Nacional de Cultura e do Plano Nacional de o Ministério da Cultura instituiu uma política
Cultura, passa a ser adotada como política de cultural que enfatiza, além das artes consoli-
Estado e se constituir num elemento central dadas, toda a gama de expressões que carac-
da Política Nacional de Cultura. terizam a diversidade cultural do país. Os pro-
gramas Cultura Viva e Mais Cultura traduzem
bem essa perspectiva ampliada. Entretanto,

A Política Nacional de Cultura 33


até mesmo no âmbito exclusivo das artes, a os padrões de coesão, desintegração e conflito
adoção da dimensão simbólica permite am- entre os povos e nações.9 Diante dessa realida-
pliar a ação pública e abranger todos os cam- de, o caminho para manter a paz passa pelo
pos da produção cultural: o popular, o erudito estabelecimento de diálogos interculturais,
e o massivo. Artes populares, artes eruditas e tendo como ponto de partida as diferentes
indústrias criativas são colocadas num mes- concepções de dignidade humana, presentes
mo patamar de importância, merecendo igual em todas as culturas.10 Nessa direção, a diver-
atenção do Estado. Também é superada a tra- sidade cultural do Brasil, aliada a sua tradição
dicional separação entre políticas de fomento diplomática de defesa da paz, tem transfor-
à cultura (geralmente destinadas às artes) e de mado o país num ator relevante no complexo
proteção do patrimônio cultural, pois ambas se cenário das relações internacionais.
referem à produção simbólica da sociedade.
1.3.2 a dimensão cidadã da cultura
Ao adotar essa dimensão, a política cultural
supera também as fronteiras entre as polí- A compreensão de que os direitos culturais fa-
ticas públicas, atravessando-as transversal- zem parte dos Direitos Humanos e que devem
mente. Nesse sentido é estratégica a relação se constituir numa plataforma de sustentação
da política cultural com as políticas de edu- das políticas culturais é algo recente, embora
cação, comunicação social, meio ambiente e eles estejam, desde 1948, inscritos na Declara-
turismo, além das políticas de ciência e tec- ção Universal dos Direitos do Homem.
nologia, esporte e lazer, saúde e segurança
pública, entre outras. A atuação do MinC para tornar efetivo o exer-
cício desses direitos se expressa em várias
A dimensão simbólica coincide também com ações. No que tange ao direito autoral, há uma
os argumentos que no plano internacional discussão aberta com a sociedade para repen-
defendem a necessidade de se considerar sar a legislação e recuperar o papel do setor
os fatores culturais nos planos e projetos de público na supervisão, regulação e promoção
desenvolvimento. Essas posições enfatizam da gestão coletiva desse direito; na mediação
que o crescimento econômico, “divorciado de e arbitragem de conflitos, bem como na prote-
seu contexto humano e cultural, não é mais ção das obras que caem em domínio público,
que um crescimento sem alma.”7 Foram esses consideradas parte integrante do patrimônio
argumentos que levaram o PNUD a formu- cultural brasileiro.
lar o conceito de desenvolvimento humano,
que avalia o desempenho dos países por uma O direito à participação na vida cultural é as-
gama de critérios que vão “da liberdade po- segurado por inúmeras iniciativas. A liberdade
lítica, econômica e social às oportunidades para criar, fruir e difundir a cultura é garanti-
individuais de saúde, educação, produção, da não apenas no sentido negativo, isto é, pela
criatividade, dignidade pessoal e respeito aos não ingerência estatal na vida criativa da so-
direitos humanos”.8 ciedade, mas também no sentido positivo, via
dotação das condições materiais para que os
É certo que alguns desses valores vêm sen- indivíduos e grupos tenham os meios neces-
do questionados como próprios do mundo sários à produção, difusão e acesso aos bens da
ocidental, ou seja, não teriam validade uni- cultura. Isso inclui, além da lei federal de in-
versal. Essas críticas têm natureza cultural, centivo (renúncia fiscal e fundo), o programa
como, por exemplo, as que se fazem à dou- Mais Cultura (especificamente voltado para as
trina dos direitos humanos, acusada de es- populações pobres), o programa Cultura Viva
tar assentada em pressupostos tipicamente e todos os editais que viabilizam projetos de
ocidentais. Esses posicionamentos colocam setores e segmentos da cultura. O estímulo à
em evidência a realidade pós-Guerra Fria, na participação nas decisões de política cultural
qual as culturas e as identidades culturais, e foi claramente assumido na instituição das
não mais as ideologias, é que têm moldado câmaras setoriais e na reestruturação do Con-

7 CUÉLLAR, Javier Perez de (org.). Nossa Diversidade Criadora; relatório da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Campinas, São Paulo: Papirus; Brasília:
Unesco, 1997, p.21.
8 Idem Ibidem, p. 11.
9 HUNTINGTON, Samuel. O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.
10 SANTOS, Boaventura de Souza. Por uma concepção multicultural de direitos humanos. In: FELDMAN-BIANCO, Bela & CAPINHA, Aranha (orgs), Identidades: estudos de
cultura e poder. São Paulo: Hucitec, 2000, p. 30.

34
selho Nacional de Política Cultural, que am- processo sistêmico que envolve as fases de
pliou a representação da sociedade civil nesse produção, distribuição e consumo. Adotar essa
colegiado. A efetiva implantação do Sistema perspectiva se justifica na medida em que é
Nacional de Cultura, que prevê a criação e a ar- possível constatar que a cultura vem progres-
ticulação de conselhos paritários e democrati- sivamente se transformando num dos seg-
camente eleitos, nas diversas instâncias fede- mentos mais dinâmicos da economia e fator
rativas, é mais um passo no sentido da maior de desenvolvimento econômico e social. Além
participação da sociedade na vida cultural. disso, num quadro de crescente estandardi-
zação mundial de marcas, bens e serviços, os
A garantia do direito à identidade e à diversi- produtos culturais, que têm entre suas carac-
dade cultural manifesta-se, particularmente, terísticas a singularidade, a unicidade e a ra-
no cumprimento do dispositivo constitucio- ridade, tendem a ser valorizados, pois quanto
nal que instituiu uma proteção especial para mais raro um produto, maior o seu preço. Isso
as culturas indígenas, populares e afro-brasi- vale também para os sítios de valor histórico,
leiras, bem como em iniciativas voltadas para artístico e paisagístico e para o patrimônio
a cultura cigana e LGBT. Também merecem cultural em geral, que são fortes atrativos para
registro as ações do IPHAN na proteção do o turismo e o entretenimento.
patrimônio material e imaterial do Brasil e a
criação do Instituto Brasileiro de Museus. O sistema de produção cultural tem caracterís-
ticas distintas conforme a natureza do produto.
O direito à participação na vida cultural deve A produção audiovisual difere da produção de
ser assegurado igualmente às pessoas com de- artes cênicas, que difere das artes visuais, que
ficiência, que devem ter garantidas condições difere do design, que difere da arquitetura, que
de acessibilidade e oportunidades de desen- difere da literatura, que difere da cultura popu-
volver e utilizar seu potencial criativo, artísti- lar - e assim por diante. Esse fato coloca um de-
co e intelectual. safio para as políticas de fomento à cultura, que
são mais eficientes quando atuam de acordo
A cooperação cultural entre os países da Améri- com as especificidades de cada cadeia produti-
ca Latina foi reforçada com a criação, pelos po- va, buscando superar os gargalos e fomentar as
deres Executivo, Legislativo e Judiciário, da TV potencialidades. A proposta de alteração da Lei
Brasil e o intercâmbio com a França, tradicional de Incentivo à Cultura apresentada pelo MinC
parceira do país, foi retomado e incrementado. vai nesse sentido, pois cria fundos setoriais para
as distintas cadeias produtivas. Os editais que
Enfim, a promoção da cidadania cultural não instituem prêmios para segmentos específicos,
se dá apenas no acesso e inclusão social por como as culturas indígenas e populares, vão na
meio da cultura. Engloba os direitos culturais mesma direção, criando o que o ministro Gilber-
como um todo. to Gil, na sua perspectiva abrangente, chamou
de “cesta” de variados mecanismos de fomento.
1.3.3 a dimensão econômica da cultura
Ainda no aspecto econômico cabe situar o pa-
Sob o ponto de vista econômico, a cultura pode pel da cultura naquilo que hoje é chamado de
ser compreendida de três formas: (1) como sis- nova economia ou economia do conhecimento,
tema de produção, materializado em cadeias cujos setores dinâmicos são o financeiro, a
produtivas; (2) como elemento estratégico da indústria de computadores e softwares, as te-
nova economia (ou economia do conhecimen- lecomunicações, a biotecnologia e a indústria
to); e (3) como um conjunto de valores e práti- das comunicações. Nessa economia, a ciência,
cas que têm como referência a identidade e a a tecnologia “e a capacidade de simbolizar
diversidade cultural dos povos, possibilitando exercem papel cada vez maior”11 e por isso a
compatibilizar modernização e desenvolvi- cultura e a educação têm nela um papel estra-
mento humano. tégico. Na política do MinC ressaltam os in-
vestimentos na chamada “cultura digital”, em
No primeiro sentido, o bem cultural, como especial o Programa Cultura Viva, que propõe
qualquer outra mercadoria, está sujeito a um a criação de uma rede de Pontos de Cultura es-
palhados por todo o país e interligados eletro-
nicamente. A adoção do software livre indica

11 GIDDENS, Anthony. Globalização, desigualdade e estado do investimento social. In: UNESCO. Informe Mundial sobre a Cultura: diversidade cultural, conflito e plura-
lismo. São Paulo: Moderna; Paris: Unesco, 2004, p. 64-71.

A Política Nacional de Cultura 35


que a cultura digital que se pretende instituir
tem um corte horizontal e colaborativo, abrin-
do espaço para a autonomia e a criatividade
dos sujeitos. O objetivo é construir um conhe-
cimento que seja compartilhado e não apro-
priado por poucos.

No terceiro sentido, da cultura como fator de


humanização do desenvolvimento econômi-
co, associado à proteção da identidade e da di-
versidade cultural dos povos, cabe referência
à participação do MinC na disputa em que se
defrontam duas posições: a primeira sustenta
que o bem cultural é uma mercadoria como
outra qualquer, sujeita, portanto, unicamente
às regras do mercado (competitividade e lu-
cratividade); a segunda entende que os bens
culturais são portadores de idéias, valores e
sentidos e destinam-se a ampliar a consci-
ência sobre o ser e o estar no mundo. Assim
considerados, é inadmissível submetê-los uni-
camente ao jogo do mercado, pois os valores
que eles carregam envolvem a identidade e a
diversidade cultural dos povos. Essa questão
foi objeto de debate na reunião que aprovou
a Convenção sobre a Proteção e a Promoção da
Diversidade das Expressões Culturais, na qual
a presença brasileira foi decisiva para a preva-
lência da segunda posição.

36
A Política Nacional de Cultura 37
38
2
2 Sistema Nacional
de Cultura

39
2.1 histórico favoráveis ao SNC. Ações paralelas no âmbito
do MinC, como a criação dos Colegiados Se-
toriais (Música, Teatro, Dança, Artes Visuais,
A idéia de criar o Sistema Nacional de Cul- Circo e Livro e Leitura) e a reestruturação ad-
tura (SNC) já estava no programa de gover- ministrativa do Ministério reforçaram aque-
no da coalizão que venceu as eleições para a les passos. No Congresso Nacional, a aprova-
presidência da República em 2002. Naquela ção da Emenda Constitucional nº 48/2005,
época a preocupação, que em parte ainda que cria o Plano Nacional de Cultura, bem
permanece, era dar maior centralidade e ins- como a apresentação das emendas, ainda em
titucionalidade à política cultural e retirá-la tramitação: a nº 416/2005, que cria o Sistema
da situação em que se encontrava: estrutura Nacional de Cultura; a nº 150/2003, que vin-
administrativa precária, orçamentos insufi- cula a receita orçamentária da União, estados
cientes, baixa capilaridade no tecido político e municípios ao desenvolvimento cultural; e
e social do país e pequena participação nas a nº 236/2008, que insere a cultura no rol dos
principais decisões de governo. direitos sociais, completam o quadro.

A inspiração para o SNC veio dos resultados Visando consolidar esse processo, o Ministé-
alcançados por outros sistemas de articula- rio da Cultura (MinC) constituiu três Grupos
ção de políticas públicas instituídos no Brasil, de Trabalho para propor os novos caminhos
particularmente o Sistema Único de Saúde do SNC. O primeiro ficou responsável pela
(SUS). A experiência do SUS mostrou que o elaboração da proposta referente à estrutura-
estabelecimento de princípios e diretrizes co- ção do sistema e os outros dois pela formula-
muns, a divisão de atribuições e responsabi- ção de propostas relativas à formação na área
lidades entre os entes da Federação, a monta- da cultura.
gem de um esquema de repasse de recursos
e a criação de instâncias de controle social
asseguram maior efetividade e continuidade 2.2 conceito do sistema
das políticas públicas.
nacional de cultura
De lá para cá, muitos passos foram dados: a
assinatura pela União, estados e municípios
do Protocolo de Intenções, visando criar as Sistema, na definição de Edgar Morin, é um
condições institucionais para a implantação conjunto de partes interligadas que intera-
do SNC; a realização das Conferências de Cul- gem entre si. O sistema é sempre maior – ou
tura (municipais, intermunicipais, estaduais menor – que a soma de suas partes, pois tem
e nacional12), que mobilizaram o setor em certas qualidades que não se encontram nos
todo o país; a criação do Sistema Federal de elementos concebidos de forma isolada14.
Cultura; a reorganização do Conselho Nacio-
nal de Política Cultural e o ciclo das Oficinas
do Sistema Nacional de Cultura; a elaboração
do Plano Nacional de Cultura e o seu debate
público, com Seminários realizados em todos
os estados e Distrito Federal13; a implemen-
tação de programas e projetos do Governo
Federal, em especial o Programa Mais Cul-
tura, em parceria com estados e municípios;
a redefinição, no plano nacional, da política
de financiamento público da cultura com a
apresentação e debate da nova legislação
que institui o Programa Nacional de Fomen-
to e Incentivo à Cultura – PROCULTURA. To-
das essas iniciativas criaram expectativas

12 A 1ª Conferência Nacional de Cultura, realizada em 2005, definiu como uma das prioridades a estruturação e implantação do Sistema Nacional de Cultura.
13 Nos Seminários do Plano Nacional de Cultura, realizados em 2008, a Oficina do Sistema Nacional de Cultura foi a que contou com maior número de participantes,
demonstrando o interesse pelo tema, em todo o país.
14 MORIN, Edgar. Por uma reforma do pensamento. In: PENA-VEGA, Alfredo & ALMEIDA, Elimar Pinheiro de (orgs). Edgar Morin e a crise da modernidade. Rio de Janeiro:
Garamond, 1969, p. 21-34.

40
Sistema Nacional de Cultura

Política Nacional de Cultura


Modelo de Gestão Compartilhada

Elementos Leis, Normas e


Constitutivos Procedimentos

Com base nesse conceito, para definir o Sis- São princípios do SNC:
tema Nacional de Cultura é necessário, pri-
meiramente, dizer quais são as partes que o • diversidade das expressões culturais;
compõem, como elas interagem e quais pro-
priedades lhe são peculiares. Considerando • universalização do acesso aos bens
todo o debate ocorrido nos últimos anos, nos e serviços culturais;
mais diversos fóruns e as experiências acu-
muladas na área da cultura e em outras áreas • fomento à produção, difusão e circulação de
da gestão pública no Brasil, conclui-se que, em conhecimento e bens culturais;
relação à sua composição, o SNC reúne a socie-
dade civil e os entes federativos da República • cooperação entre os entes federados, os
Brasileira – União, estados, municípios e Dis- agentes públicos e privados atuantes na área
trito Federal – com suas respectivas políticas cultural;
e instituições culturais, incluindo os subsiste-
mas setoriais já existentes e outros que pode- • integração e interação na execução das
rão vir a ser criados: de museus, bibliotecas, ar- políticas, programas, projetos e ações
quivos, do patrimônio cultural, de informação desenvolvidas;
e indicadores culturais, de financiamento da
cultura, etc. As leis, normas e procedimentos • complementaridade nos papéis
pactuados definem como interagem suas par- dos agentes culturais;
tes e a Política Nacional de Cultura e o Mo-
delo de Gestão Compartilhada constituem-se • transversalidade das políticas culturais;
nas propriedades específicas que caracteri-
zam o Sistema. • autonomia dos entes federados e das
instituições da sociedade civil;

2.3 princípios do sistema • transparência e compartilhamento das


nacional de cultura informações;

• democratização dos processos decisórios com


participação e controle social;
Os princípios sintetizam os fundamentos do
Sistema Nacional de Cultura – SNC e norteiam • descentralização articulada e pactuada da
todas as suas ações, devendo ser assumidos por gestão, dos recursos e das ações.15
todos que a ele se integrem. Os princípios orien-
tam a conduta dos entes federados e da socie-
dade civil nas suas relações como parceiros e
responsáveis pelo funcionamento do SNC.

15 Na forma aprovada pela Comissão Especial da PEC 416/2005, apresentada na página 97, foi acrescido mais um princípio ao SNC: “ampliação progressiva dos recursos
contidos nos orçamentos públicos para a cultura”. (N.E.)

Sistema Nacional de Cultura 41


Ampliação
Progressiva dos Diversidade
Recursos

Descentralização Universalização

Princípios
Democratização Fomento

Transparência do SNC Cooperação

Integração e
Autonomia Interação

Transversalidade Complementaridade

2.4 objetivos do sistema e circulação de bens e serviços culturais,


nacional de cultura viabilizando a cooperação técnica entre estes.

• Criar instrumentos de gestão para


acompanhamento e avaliação das políticas
2.4.1 objetivo geral públicas de cultura desenvolvidas no âmbito
do Sistema Nacional de Cultura.
Formular e implantar políticas públicas de cultu-
ra, democráticas e permanentes, pactuadas en- • Estabelecer parcerias entre os setores público
tre os entes da federação e a sociedade civil, pro- e privado nas áreas de gestão e de promoção
movendo o desenvolvimento – humano, social e da cultura.
econômico – com pleno exercício dos direitos cul-
turais e acesso aos bens e serviços culturais.
2.5 estrutura do sistema
2.4.2 objetivos específicos nacional de cultura
• estabelecer um processo democrático de
participação na gestão das políticas e dos
recursos públicos na área cultural. O Sistema Nacional de Cultura é um modelo
de gestão e promoção conjunta de políticas
• Articular e implementar políticas públicas públicas de cultura, pactuadas entre os en-
que promovam a interação da cultura com as tes da federação e a sociedade civil, que tem
demais áreas sociais, destacando seu papel como órgão gestor e coordenador o Ministério
estratégico no processo de desenvolvimento. da Cultura em âmbito nacional, as secretarias
estaduais/distrital e municipais de cultura ou
• Promover o intercâmbio entre os entes equivalentes em seu âmbito de atuação, confi-
federados para a formação, capacitação gurando, desse modo, a direção em cada esfe-

42
ra de governo. Trata-se, portanto, de um novo eficácia, equidade e efetividade na aplicação
paradigma de gestão pública da cultura no dos recursos públicos. O SNC é integrado pelos
Brasil, que tem como essência a coordenação sistemas municipais, estaduais e distrital de
e cooperação intergovernamental com vis- cultura, e pelos sistemas setoriais que foram
tas à obtenção de economicidade, eficiência, e serão criados.

Sociedade Civil

Sistema
Nacional de
Cultura
Sistemas
Sistemas
Estaduais e
Municipais de
Distrital de
Cultura
Cultura

A análise procedida por Humberto Cunha Fi- serão expressos em normativos infralegais,
lho (2009), acerca das possibilidades de con- posto que possibilitam mais agilidade para
figuração jurídico-política do SNC, indica que os ajustes e/ou repactuações necessários, em
a arquitetura mais apropriada para a organi- conformidade com as prioridades definidas.
zação sistêmica da Cultura, em razão de sua Um aspecto importante do caráter dinâmico é
complexidade, seria uma que combinasse o permitir que no processo sejam consideradas
estável com o dinâmico. Caberia estruturar as especificidades da administração pública
um sistema misto, no qual haveria um núcleo de cada ente da federação e as características
estático, instituído por uma legislação (PEC da diversidade da área cultural, possibilitan-
e/ou lei) e uma dimensão dinâmica, que se- do, desta forma, maior flexibilidade na imple-
ria disciplinada por pactuações formalizadas mentação do Sistema Nacional de Cultura.
pelas devidas instâncias de negociação, com
período de tempo determinado, decorrentes Dentro desta concepção, o Acordo de Coope-
das necessidades impostas pela organização ração Federativa, a ser pactuado entre União
e implementação das políticas culturais nos e os estados e municípios, prevê que nos Pla-
entes federados. nos de Trabalho essas particularidades locais
sejam consideradas. Estabelece um período
Seguindo essa orientação, a proposta apre- de transição (até o final de 2011) para a criação
sentada é de um sistema misto, com seus ele- dos principais elementos do Sistema ou a rea-
mentos constitutivos, as interrelações entre dequação dos que já existem, nas respectivas
eles por meio de suas instâncias de articula- esferas governamentais.
ção, pactuação e deliberação e com seus ins-
trumentos de gestão. Desse modo, a estrutura No que se refere à legislação, a opção é por
constitui-se de um núcleo estático, formado uma Emenda Constitucional, através de subs-
por elementos considerados pilares da cons- titutivo à PEC nº 416/2005, e um Projeto de Lei
tituição do sistema, e um dinâmico, onde se Ordinária que regulamente o Sistema, defi-
estabelecem os processos de negociação e nindo o seu perfil, constituição, funcionamen-
pactuação, que serão realizados nas instâncias to, mecanismos de interrelação entre os seus
criadas com este fim, para a gestão do SNC e componentes e instâncias de articulação, pac-
implementação das políticas culturais e que tuação e deliberação.

Sistema Nacional de Cultura 43


2.5.1 elementos constitutivos • Sistemas de Financiamento à Cultura.
do sistema
• Sistemas Setoriais de Cultura
(quando pertinente).
Nessa arquitetura mista, os elementos consti-
tutivos do Sistema Nacional de Cultura, que de- • Comissões Intergestores
vem ser instituídos nos entes federados, são: Tripartite e Bipartites.

• Órgãos Gestores da Cultura. • Sistemas de Informações


e Indicadores Culturais.
• Conselhos de Política Cultural.
• Programa Nacional de Formação
• Conferências de Cultura. na Área da Cultura.

• Planos de Cultura.

Órgão Gestor da
Cultura
Conferência de Conselho de Política
Cultura Cultural

Plano de Elementos Sistema


de Financiamento
Cultura
Constitutivos à Cultura

dos Sistemas
Sistemas Setoriais
de Cultura Comissão
de Cultura intergestores

Sistema Programa
de Informações e de Formação na Área
Indicadores Culturais da Cultura

44
Ministério da
Cultura
Conferência Conselho
Nacional de Nacional de Política
Cultura Cultural

Plano Sistema Nacional


Nacional de
Cultura
Sistema de Financiamento
à Cultura
Nacional de
Cultura
Sistemas Comissão
Nacionais Setoriais intergestores
de Cultura Tripartite

Sistema Nacional Programa Nacional


de Informações e de Formação na Área
Indicadores Culturais da Cultura

Secretaria
Estadual de
Cultura
Conferência Conselho
Estadual de Estadual de Política
Cultura Cultural

Plano Sistema Estadual


Estadual de
Cultura
Sistema de Financiamento
à Cultura
Estadual de
Cultura
Sistemas Comissão
Estaduais Setoriais intergestores
de Cultura Bipartite

Sistema Estadual Programa Estadual


de Informações e de Formação na Área
Indicadores Culturais da Cultura

Secretaria
Municipal de
Cultura

Conferência Conselho
Municipal de Municipal de Política
Cultura Cultural

Plano
Sistema Sistema Municipal
Municipal de
Cultura
Municipal de de Financiamento
à Cultura
Cultura
Sistemas Programa Municipal
Municipais Setoriais de Formação na Área
de Cultura da Cultura

Sistema Municipal
de Informações e
Indicadores Culturais

Sistema Nacional de Cultura 45


2.5.1.1 Órgãos Gestores dos Sistemas de Cultura em regimento próprio, aprovadas pelo respec-
tivo conselho, sendo assegurada aos entes fe-
Os órgãos gestores dos sistemas de cultura derados plena autonomia na definição da or-
são organismos da administração pública res- ganização interna dos seus conselhos.
ponsáveis pelas políticas da área, respeitando
os limites de cada âmbito de atuação dos en- Os conselhos devem se estruturar internamen-
tes federativos. Assim, o Sistema Nacional de te para o seu bom funcionamento, bem como
Cultura tem o Ministério da Cultura como seu criar canais para estreitar a sua relação com a
órgão gestor e coordenador, nos sistemas es- sociedade. Partindo das experiências dos con-
taduais/Distrital são as secretarias estaduais/ selhos já constituídos e visando maior coerên-
Distrital ou equivalentes e nos sistemas mu- cia com a racionalidade pretendida pelo SNC,
nicipais, as gestoras e coordenadoras são as considerando o porte e a complexidade da área
secretarias municipais ou equivalentes. cultural no estado ou município, recomenda-se
que essa organização tenha como referência a
2.5.1.2 Conselhos de Política Cultural constituição dos seguintes órgãos e instâncias:

Os Conselhos de Política Cultural são instân- • Plenário (órgão máximo e soberano


cias colegiadas permanentes, de caráter con- do Conselho).
sultivo e deliberativo, integrantes da estrutu-
ra básica do órgão da Administração Pública • Colegiados e/ou Fóruns Setoriais, Temáticos e
responsável pela política cultural, em cada es- Territoriais (de caráter permanente).
fera de governo, tendo na sua composição, no
mínimo, 50% de representantes da Sociedade • Câmaras Técnicas e/ou Comissões Temáticas
Civil, eleitos democraticamente, conforme de- (de caráter permanente).
liberado na I Conferência Nacional de Cultura
e no Plenário do Conselho Nacional de Política • Grupos de Trabalho (de caráter temporário).
Cultural, relativo à proposta do Plano Nacional
de Cultura. Sua principal finalidade é atuar na • Comissões de Fomento e Incentivo à Cultura
formulação de estratégias e no controle da (de caráter permanente).
execução das políticas públicas de Cultura.
É importante ressaltar que essas formas de
Para o mandato dos conselheiros que repre- organização acima são apresentadas apenas
sentam a sociedade civil, é recomendável que como referências, sendo assegurada aos entes
não coincida com o mandato dos governantes federados plena autonomia na definição da
do Poder Executivo e que não seja superior a organização interna dos seus conselhos.
dois anos, podendo ser renovável, uma vez,
por igual período. É recomendável que, na medida em que os
conselhos estaduais e municipais de política
As competências essenciais dos Conselhos cultural forem se organizando em colegiados/
são: propor e aprovar, a partir das orientações fóruns setoriais, temáticos e/ou territoriais, os
aprovadas nas conferências, as diretrizes ge- representantes da sociedade civil nesses co-
rais dos planos de cultura no âmbito das res- legiados/fóruns sejam oriundos dos sistemas
pectivas esferas de atuação; acompanhar a federativos de cultura (estaduais/distrital e
execução dos respectivos planos de cultura; municipais), e que o critério regional seja con-
apreciar e aprovar as diretrizes dos fundos siderado na sua composição:
de cultura no âmbito das relativas esferas de
competência; manifestar-se sobre a aplicação É recomendável, também, que na represen-
de recursos provenientes de transferências tação da sociedade civil sejam contempladas
entre os entes da federação, em especial os as diversas áreas artísticas e culturais, con-
repasses de fundos federais; fiscalizar a apli- siderando as dimensões simbólica, cidadã e
cação dos recursos recebidos em decorrência econômica da cultura, bem como o critério
das transferências federativas; acompanhar regional na sua composição. No setor públi-
o cumprimento das diretrizes e instrumentos co, é recomendável assegurar a presença de
de financiamento da cultura. representantes de outras áreas, em especial,
Educação, Comunicação, Ciência e Tecnologia,
Os conselhos Nacional, Distrital, estaduais e Planejamento, Desenvolvimento Econômico,
municipais de Política Cultural terão sua orga- Meio Ambiente, Turismo, Esporte, Saúde, Di-
nização e normas de funcionamento definidas reitos Humanos e Segurança.

46
CNC
Sistema Nacional
de Cultura
Colegiados Setoriais
do CNPC CNPC

Instâncias Colegiadas
dos Sistemas Setoriais

CEPC CMPC
Colegiados/Fóruns Colegiados/Fóruns
Setoriais Setoriais

Sistemas Estaduais Sistemas Municipais


de Cultura de Cultura

• Na escolha/eleição da representação da • Conferência Nacional – em conferências


sociedade civil nos colegiados setoriais, estaduais e Distrital.
integrantes do Conselho Nacional de
Política Cultural, sejam considerados • Conferências Estaduais e Distrital – em
os colegiados/fóruns dos respectivos conferências municipais e intermunicipais.
segmentos que fazem parte dos conselhos
estaduais de Política Cultural; • Conferências Municipais
ou Intermunicipais – em pré-conferências
• Na escolha/eleição da representação da municipais ou através da inscrição aberta aos
sociedade civil nos colegiados/fóruns munícipes que tenham interesse pela área.
setoriais, integrantes dos conselhos estaduais
de Política Cultural, sejam considerados os • Pré-Conferências Setoriais – em colegiados e
colegiados/fóruns dos respectivos segmentos fóruns setoriais.
que fazem parte dos conselhos municipais de
Política Cultural. Caberá ao Poder Executivo, no âmbito das
respectivas esferas de atuação, proceder à
2.5.1.3 Conferências de Cultura convocação das conferências de política cul-
tural. O Ministério da Cultura coordenará e
As conferências de Cultura são espaços de par- convocará as conferências nacionais de Cul-
ticipação social onde ocorre a articulação entre tura, a serem realizadas, pelo menos a cada
Estado e sociedade civil para analisar a conjun- quatro anos, definindo o período para realiza-
tura da área cultural e propor diretrizes para a ção das conferências municipais e estaduais
formulação de políticas públicas de Cultura, que que a antecederão. Quando o Poder Executivo
conformarão os planos de cultura, nos seus res- não efetuar a convocação, esta poderá ser fei-
pectivos âmbitos. A representação da sociedade ta, pela ordem, pelo Poder Legislativo ou pelo
civil será, no mínimo, paritária em relação ao po- Poder Judiciário.
der público e seus delegados serão eleitos:

Sistema Nacional de Cultura 47


2.5.1.4 Sistemas de Financiamento à Cultura so avança politicamente, ganha estabilidade
jurídica e tem assegurada a sua continuidade
Os sistemas de Financiamento à Cultura são enquanto política de Estado.
constituídos pelo conjunto de mecanismos de
financiamento público da cultura, que devem 2.5.1.6 Sistemas Setoriais de Cultura
ser diversificados e articulados.
A configuração em sistemas setoriais bus-
No Sistema Nacional de Cultura, os fundos de ca atender a complexidade da área cultural,
fomento à cultura têm um papel central. No que demanda diversos formatos de organi-
entanto, outros mecanismos devem ser im- zação compatíveis com as especificidades de
plementados e, especialmente, fortalecidos os seus objetos/conteúdos. Os sistemas setoriais
orçamentos destinados aos órgãos gestores da existentes (museus, bibliotecas), os que estão
cultura. A aprovação da PEC nº 150/2005 pelo sendo estruturados (patrimônio) e os que ve-
Congresso Nacional é fundamental para se as- nham a ser criados, devem fazer parte do SNC,
segurar um patamar mínimo de recursos para conformando subsistemas que deverão se “co-
a cultura, nos três níveis de governo. nectar” à arquitetura federativa, à medida que
os sistemas Estaduais, Distrital e municipais
Os fundos têm por objetivo proporcionar re- de Cultura (subsistema federativo) forem sen-
cursos e meios para financiar a execução de do instituídos.
programas, projetos ou ações culturais. Seu
papel como principal instância de financia- Essas interconexões precisam ser estabeleci-
mento da política pública nas três esferas de das principalmente por meio das instâncias
governo deve ser reforçado. colegiadas desses subsistemas, que têm par-
ticipação da sociedade civil. Os representan-
Os recursos dos fundos de cultura destina- tes, no âmbito nacional, devem ser escolhidos
dos a programas, projetos e ações culturais a entre os representantes desses colegiados do
serem implementados (de forma descentra- subsistema setorial, no nível estadual. E a
lizada, em regime de colaboração e cofinan- mesma lógica se aplicará na instância cole-
ciamento) pelos estados, Distrito Federal e giada do subsistema setorial estadual. Isto é,
municípios serão a estes transferidos, fundo os representantes serão escolhidos democra-
a fundo, conforme critérios, valores e parâ- ticamente entre os que compõem esse tipo
metros estabelecidos pelas instâncias apro- de espaço, na esfera municipal, nos casos em
priadas para a respectiva política. que houver.

O Fundo Nacional de Cultura (FNC) está sendo Para estreitar as conexões entre os subsis-
reestruturado para atender as necessidades e temas setoriais, seus colegiados e o SNC,
objetivos da Política Nacional de Cultura, por deve ser criada uma rede de representação,
meio do Programa Nacional de Fomento e In- na qual todas essas instâncias setoriais te-
centivo à Cultura  – PROFIC, constituindo-se nham assento nos respectivos conselhos de
num passo fundamental no processo de im- Política Cultural.
plementação do Sistema Nacional de Cultura.
Além disso, e considerando como a mais im-
2.5.1.5 Planos de Cultura portante medida de articulação entre os sub-
sistemas e o SNC, deve ser assegurada a for-
Os planos de cultura, elaborados pelos conse- malização/inserção na legislação que institui e
lhos de política cultural, a partir das diretrizes organiza todos esses subsistemas, que as políti-
definidas nas conferências de cultura, têm por cas culturais setoriais devem seguir as diretri-
finalidade o planejamento e implementação zes gerais advindas da Conferência Nacional e
de políticas públicas de longo prazo para a do CNPC, consolidadas nos planos de cultura.
proteção e promoção da diversidade cultural
brasileira. Com horizonte de dez anos, os pla-
nos darão consistência ao Sistema Nacional
de Cultura e constituem-se num instrumento
fundamental no processo de institucionaliza-
ção das políticas públicas de cultura no país.
Com a aprovação dos planos de Cultura mu-
nicipais, estaduais e Nacional pelo Poder Le-
gislativo, nas respectivas esferas, esse proces-

48
CNC
Sistema Nacional
de Cultura
Instância Colegiada
do Sistema Setorial CNPC
Nacional

Instância Colegiada Instância Colegiada


do Sistema Setorial do Sistema Setorial
Estadual Municipal

Sistema Estadual Sistema Municipal


de Cultura de Cultura

2.5.1.7 Comissões Intergestores ponível ao público. Além disso, o SNIIC pos-


Tripartite e Bipartites sibilitará zoneamentos culturais para conhe-
cimento da diversidade cultural brasileira e
As comissões intergestores Tripartite – CIT transparência dos investimentos públicos no
(organizada no âmbito nacional) e intergesto- setor cultural.
res Bipartite – CIB (organizada no âmbito de
cada estado) são instâncias de negociação e Esse processo de construção de estatísticas do
pactuação para implementação do SNC e para setor cultural foi impulsionado, em 2003, pelo
acordos relativos aos aspectos operacionais Ministério da Cultura, que celebrou parcerias
de sua gestão. A CIT e as CIB, de caráter per- com o IBGE e com o IPEA para desenvolver
manente, devem funcionar como órgãos de uma base consistente e contínua de informa-
assessoramento técnico ao Conselho Nacional ções relacionadas ao setor cultural. Elaborar
de Política Cultural e aos conselhos estaduais indicadores culturais que contribuam tanto
de Política Cultural, respectivamente. para a gestão das políticas públicas da área,
quanto para fomentar estudos e pesquisas
2.5.1.8 Sistemas de Informações nesse campo.
e Indicadores Culturais
Vários estados e municípios também já cria-
Informações claras, confiáveis e atualizadas ram seus sistemas de informações, sem entre-
sobre o campo da Cultura são fundamentais tanto estabelecerem uma base de dados co-
para subsidiar o planejamento e a tomada de mum e uma estruturação da sua arquitetura
decisão referentes às políticas públicas cultu- que possibilitasse a comunicação entre eles.
rais. Por isso, o Ministério da Cultura, por meio Cabe ao Ministério da Cultura, no processo de
da Secretaria de Políticas Culturais, está de- implementação do SNC, coordenar um proces-
senvolvendo o Sistema Nacional de Informa- so de reestruturação desses sistemas locais a
ções e Indicadores Culturais (SNIIC), que tem partir de um modelo nacional, construído con-
por finalidade integrar os cadastros culturais juntamente com os estados e municípios que
e os indicadores a serem coletados pelos mu- já constituíram seus sistemas. E, em seguida,
nicípios, os estados e o Governo Federal, para disseminar esse sistema para os demais esta-
gerar informações e estatísticas da realidade dos e municípios.
cultural brasileira.
2.5.1.9 Programa Nacional de Formação na Área
O sistema de informações é constituído de da Cultura
bancos de dados referentes a bens, serviços,
infraestrutura, investimentos, produção, aces- A formação de pessoal em política e gestão
so, consumo, agentes, programas, instituições culturais é estratégica para a implementação
e gestão cultural, entre outros, e estará dis- e gestão do Sistema Nacional de Cultura, pois

Sistema Nacional de Cultura 49


trata-se de uma área que se ressente de pro- tuação e deliberação:
fissionais com conhecimento e capacitação no
campo da gestão de políticas públicas. O Pro- • Conferências Nacional, Estaduais, Distrital e
grama Nacional de Formação na Área da Cul- Municipais de Cultura.
tura visa exatamente estimular e fomentar
a qualificação nas áreas consideradas vitais • Conselhos Nacional, Estaduais, Distrital e
para o funcionamento do Sistema, capacitan- Municipais de Política Cultural.
do gestores públicos e do setor privado e con-
selheiros de cultura, que são os responsáveis • Conselhos Setoriais Nacionais, Estaduais,
por sua implementação. Distrital e Municipais.

• Comissões Nacional, Estaduais, Distrital e


2.6 interrelações entre os Municipais de Fomento e Incentivo à Cultura.
elementos do sistema
• Comissão Intergestores Tripartite.

• Comissões Intergestores Bipartites.


2.6.1 instâncias de articulação,
pactuação e deliberação do 2.6.1.1 Conferências Nacional, Estaduais,
sistema nacional de cultura Distrital e Municipais de Cultura

conferência nacional de cultura


Entre os elementos constitutivos do SNC há os
que têm papéis específicos de articulação, pac- Constitui-se numa instância de participa-

Sistema Nacional de Cultura


CNC

Colegiados Setoriais CIT


do CNPC CNPC Pactuação de Critérios:
Partilha e Transferência
Elaboração do PNC
MinC
Instâncias Colegiadas
dos Sistemas Setoriais
PROCULTURA CIB
CNIC

CEPC CMPC
Colegiados/Fóruns Colegiados/Fóruns
Setoriais Setoriais

Sistemas Estaduais Sistemas Municipais


de Cultura de Cultura

ção social, onde ocorre articulação entre Es-


tado (governos federal, distrital, estaduais e da Cultura convocar e coordenar a Conferên-
municipais) e sociedade civil (organizações cia Nacional de Cultura, que se reunirá a cada
culturais e segmentos sociais) para analisar quatro anos. A representação da sociedade
a conjuntura da área cultural no país e pro- civil precisa ser, no mínimo, paritária, em re-
por diretrizes para a formulação de políticas lação ao poder público e seus delegados de-
públicas de Cultura. Além disso, é de respon- vem ser eleitos em Conferências Estaduais e
sabilidade da Conferência, de acordo com o na Conferência Distrital.
Art. 11, do Decreto nº 5.520, de 24 de agosto de
2005, “analisar, aprovar moções, proposições conferências estaduais de cultura
e avaliar a execução das metas concernentes
ao Plano Nacional de Cultura e às respectivas São espaços de participação social, onde ocor-
revisões ou adequações”. Cabe ao Ministério re articulação entre Estado (governo distrital,

50
estaduais e municipais) e sociedade civil (or- básica do Ministério da Cultura, composto por
ganizações culturais e segmentos sociais) para representantes do governo e da sociedade ci-
análise da conjuntura da área cultural nos es- vil. Tem como principal atribuição atuar, com
tados/Distrito Federal e proposição de diretri- base nas diretrizes propostas pela Conferência
zes para a formulação de políticas públicas de Nacional de Cultura, na proposição, acompa-
Cultura e para o Plano Distrital/Estadual de nhamento da execução, fiscalização e avalia-
Cultura. São também instâncias preparatórias ção das políticas públicas de cultura, consoli-
das demandas e propostas a serem levadas à dadas no Plano Nacional de Cultura.
Conferência Nacional de Cultura, contribuin-
do para o Plano Nacional de Cultura. Por isso, O Decreto 5.520, de 24 de agosto de 2005, re-
sua convocação deverá ocorrer em sintonia organizou o Conselho Nacional de Política
com o calendário da Plenária Nacional. A re- Cultural de forma a ter uma composição pari-
presentação da sociedade civil será, no míni- tária: Estado (Poder Público federal, estadual/
mo, paritária, em relação ao poder público e, distrital e municipal), setores artístico-cultu-
no caso das Conferências Estaduais, seus dele- rais e sociedade, para ser um espaço institu-
gados serão eleitos em Conferências Munici- cionalizado de participação da sociedade civil
pais e Intermunicipais. no campo da Cultura. O Artigo 5º  do Decreto
dispõe que o CNPC “tem por finalidade pro-
conferências municipais por a formulação de políticas públicas, com
ou intermunicipais de cultura vistas a promover a articulação e o debate
dos diferentes níveis de governo e a socieda-
São espaços abertos para ampla participação de civil organizada, para o desenvolvimento
social, nos quais ocorre articulação entre Esta- e o fomento das atividades culturais no ter-
do (governos municipais) e sociedade civil (or- ritório nacional”. Os integrantes do CNPC que
ganizações culturais e segmentos sociais) para representam a sociedade civil têm mandato
analisar a conjuntura da área cultural no âmbi- de dois anos, renovável, uma vez, por igual
to municipal e propor diretrizes para a formu- período.
lação de políticas públicas de Cultura e para o
Plano Municipal de Cultura, além de contribuir Em razão da arquitetura a ser adotada no
para o Plano Estadual e Nacional de Cultura. SNC não é pertinente a existência do Sistema
São também instâncias preparatórias das de- Federal de Cultura – SFC. Por isso, haverá ne-
mandas e propostas a serem levadas às confe- cessidade de nova legislação para o Conselho
rências Estadual e Nacional de Cultura. Por isso, Nacional de Política Cultural, uma vez que
sua convocação deverá ocorrer em sintonia os dois assuntos estão no mesmo decreto (nº
com o calendário da Plenária Estadual e Nacio- 5.520, de 24 de agosto de 2005). O suporte jurí-
nal. Nelas também serão eleitos os delegados dico mais apropriado para configurar o CNPC
de cultura que participarão das conferências e dispor sobre o seu funcionamento é uma lei,
estaduais. A representação da sociedade civil principalmente porque esse tipo de legislação
será, no mínimo, paritária, em relação ao poder guarda maior segurança política e jurídica, ga-
público e os seus delegados serão escolhidos rantindo sua continuidade. Há outros órgãos
democraticamente em pré-conferências muni- colegiados da Cultura que foram estabeleci-
cipais ou por meio da inscrição aberta aos mu- dos por este instrumento legislativo e que te-
nícipes que tenham interesse pela área. rão que se reportar ao CNPC para deliberação
de algumas ações, evitando, desse modo, pos-
A organização e normas de funcionamento síveis conflitos de natureza jurídica.
das conferências (Nacional, Distrital, estadu-
ais e municipais/intermunicipais) serão defi- Nesse processo de mudança é importante
nidas em regimento próprio, aprovadas pelo que se faça uma revisão da composição do
respectivo conselho (Nacional, Distrital, esta- Conselho, de modo a garantir assento para o
duais e municipais). Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes
Municipais de Órgãos de Cultura das Capitais
2.6.1.2 Conselhos Nacional, Estaduais, Distrital e dos Estados do Brasil16. Além disso, algumas
Municipais de Política Cultural competências devem ser inseridas, como as
relacionadas à deliberação sobre as principais
conselho nacional de política cultural pactuações da Comissão Intergestores Tripar-
tite – CIT (vide item 2.6.1.6) e à aprovação de
Órgão colegiado, de caráter permanente, con- diretrizes gerais para as políticas setoriais de
sultivo e deliberativo, integrante da estrutura cultura, oriundas de conselhos/fóruns/comi-

Sistema Nacional de Cultura 51


tês etc. dos sistemas setoriais (subsistemas do É central, também, inserir no leque de compe-
SNC) existentes e dos que serão criados. tências questões relacionadas à efetivação do
SNC. Em especial, no que tange tanto à des-
É recomendável que na representação da so- centralização de programas, projetos e ações e
ciedade civil sejam contempladas as diver- dos meios necessários à sua execução, quanto
sas áreas artísticas e culturais, considerando à participação social, relacionada ao controle e
as dimensões simbólica, cidadã e econômi- fiscalização. E para isso, cabe ao CNPC aprovar
ca da cultura, bem como o critério regional critérios de partilha e de transferência de re-
na sua composição. No setor público é reco- cursos para estados, Distrito Federal e municí-
mendável assegurar e ampliar a presença de pios, negociados e pactuados na CIT. Critérios
representantes dos demais entes federados que devem ser públicos, dando transparência
(estados e municípios) e de outras áreas do ao processo.
Governo Federal, em especial, Educação, Co-
municação, Ciência e Tecnologia, Planeja- Outras atribuições a serem incorporadas no
mento, Desenvolvimento Econômico, Meio documento são as de apreciar e aprovar a pro-
Ambiente, Turismo, Esporte, Saúde, Direitos posta orçamentária da área da Cultura e um
Humanos e Segurança. plano/programa nacional de formação de re-
cursos humanos para a gestão das políticas
A competência de aprovar as diretrizes gerais públicas culturais.
das políticas culturais setoriais é fundamen-
tal para que haja articulação entre o CNPC e E, por último, manter o que já é incumbência
as outras instâncias colegiadas – Comissão do CNPC: aprovação das diretrizes gerais do
Nacional de Incentivo à Cultura – CNIC e Co- Plano Nacional de Cultura; acompanhamento
missão do Fundo Nacional de Cultura – CFNC – e fiscalização da execução do Plano Nacional
do Programa de Fomento e Incentivo à Cultura de Cultura; acompanhamento e fiscalização
– PROFIC, Comitê Gestor do Sistema Brasileiro da aplicação dos recursos do Fundo Nacional
de Museus (Artigo 57, da Lei nº 11.904, de 14 de de Cultura; apoio aos acordos e pactos entre os
janeiro de 2009), do Sistema Nacional de Bi- entes federados para implementação do SNC;
bliotecas Públicas – SNBP (Decreto nº 520, de estabelecimento de orientações, diretrizes, de-
13 de maio de 1992) e outras que venham a ser liberações normativas e moções pertinentes
criadas. Ou seja, é vital, para o funcionamento aos objetivos e atribuições do SNC; estabelecer
do Sistema, e a sua pretendida racionalidade, cooperação com os movimentos sociais, orga-
estabelecer que todas essas instâncias devem nizações não-governamentais e o setor em-
seguir as diretrizes deliberadas no CNPC e que presarial; incentivo à participação democráti-
constam no Plano Nacional de Cultura. ca na gestão das políticas e dos investimentos
públicos na área cultural; entre outras.
Ainda serão necessários ajustes nas compe-
tências atuais do CNPC relativas ao SFC, uma conselhos estaduais/distrital
vez que este será “substituído” pelo SNC. Pre- de política cultural
cisa ser reforçado no texto também o papel
de atuação na formulação de estratégias e no Instância colegiada de caráter permanente,
acompanhamento e fiscalização das políticas consultivo e deliberativo, vinculada ao Poder
públicas de Cultura. O Inciso III, relativo às Executivo, com sua estrutura pertencente ao ór-
diretrizes gerais para aplicação dos recursos gão da Administração Pública responsável pela
do Fundo Nacional de Cultura, não pode ser área da Cultura (que deverá dar apoio adminis-
somente no que concerne à distribuição re- trativo e garantir dotação orçamentária para
gional e modalidades do fazer cultural, pois seu funcionamento), composto por, no mínimo,
é limitado. O CNPC deve também estabelecer 50% de membros da sociedade civil. Sua finali-
as diretrizes de uso dos recursos do FNC em dade é a de atuar na formulação de estratégias
função das políticas culturais definidas no e no controle da execução das políticas públicas
PNC e seus desdobramentos em programas e culturais no âmbito estadual/distrital.
projetos, para a Comissão do Fundo Nacional
de Cultura – CNFC e a Comissão Nacional de Os conselhos estaduais/Distrital de Cultura
Incentivo à Cultura – CNIC. terão suas competências definidas em le-

16 O Fórum Nacional dos Secretários da Cultura das Capitais precisará ser ampliado para os outros municípios ou será necessário estimular a criação de outra instância de
gestores municipais de cultura que possa representá-los, tanto nos Conselhos quanto na Comissão Intergestores Tripartite e Comissões Intergestores Bipartites.

52
gislação específica, que deverá dispor, entre para as políticas culturais estabelecidas pe-
outros, sobre os seguintes itens: apreciação las conferências Nacional, Estadual e Muni-
e aprovação do Plano Estadual/Distrital de cipal de Cultura; acompanhamento e fiscali-
Cultura, que deve ser elaborado em conso- zação sobre a execução do Plano Municipal
nância com o Plano Nacional de Cultura e de Cultura; estabelecimento de diretrizes
com as diretrizes para as políticas culturais para aplicação dos recursos do Fundo Mu-
estabelecidas pelas conferências Nacional nicipal de Cultura, também em consonância
e Estadual de Cultura; acompanhamento e com o Plano Municipal de Cultura e com as
fiscalização sobre a execução do Plano Esta- diretrizes estabelecidas pelas Conferências
dual/Distrital de Cultura; estabelecimento Nacional, Estadual e Municipal de Cultura;
de diretrizes para aplicação dos recursos do acompanhamento e fiscalização da aplica-
Fundo Estadual/Distrital de Cultura, tam- ção dos recursos do Fundo Municipal de Cul-
bém em consonância com o Plano Estadual tura, do Fundo Estadual e do Fundo Nacional
de Cultura e com as diretrizes estabelecidas (repassados ao governo municipal).
pelas conferências Nacional e Estadual de
Cultura; acompanhamento e fiscalização da É recomendável que na representação da so-
aplicação dos recursos do Fundo Estadual de ciedade civil sejam contempladas as diver-
Cultura e do Fundo Nacional (repassado ao sas áreas artísticas e culturais, considerando
governo estadual); e aprovação de critérios as dimensões simbólica, cidadã e econômi-
de partilha e de transferência de recursos ca da cultura, bem como o critério regional
estaduais aos municípios. na sua composição. No setor público é re-
comendável assegurar a presença de repre-
É recomendável que na representação da so- sentantes de outras áreas, em especial Edu-
ciedade civil sejam contempladas as diver- cação, Comunicação, Ciência e Tecnologia,
sas áreas artísticas e culturais, considerando Planejamento, Desenvolvimento Econômico,
as dimensões simbólica, cidadã e econômica Meio Ambiente, Turismo, Esporte, Saúde, Di-
da cultura, bem como o critério regional na reitos Humanos e Segurança.
sua composição. No setor público é recomen-
dável assegurar a presença de representan- 2.6.1.3 Conselhos Setoriais Nacionais,
tes de outras áreas, em especial, Educação, Estaduais, Distrital e Municipais
Comunicação, Ciência e Tecnologia, Plane-
jamento, Desenvolvimento Econômico, Meio Os conselhos setoriais ou equivalentes são as
Ambiente, Turismo, Esporte, Saúde, Direitos instâncias colegiadas dos subsistemas seto-
Humanos e Segurança. riais, que contam em sua composição com re-
presentantes da sociedade civil. Esses espaços
conselhos municipais de formulação das políticas específicas, como
de política cultural patrimônio, bibliotecas, museus e outras áre-
as que demandam estruturação singular,
Instância colegiada de caráter permanente, progressivamente devem se organizar de for-
consultivo e deliberativo, vinculada ao Poder ma federativa, em consonância à construção
Executivo, com sua estrutura pertencente ao dos Sistemas de Cultura Estaduais/Distrital
órgão da Administração Pública Municipal e Municipais (subsistema federativo). Para
responsável pela área da Cultura (que deve- que não haja fragmentação ou superposição
rá dar apoio administrativo e garantir dota- das ações culturais referentes a esses setores,
ção orçamentária para seu funcionamento), esses conselhos devem estar articulados com
composto por, no mínimo, 50% de membros os conselhos dos Sistemas Nacional, Estadu-
da sociedade civil. Sua finalidade é a de atu- ais, Distrital e Municipais, respectivamente,
ar na formulação de estratégias e no contro- com a finalidade de propor diretrizes para
le da execução das políticas públicas cultu- elaboração das políticas próprias referentes
rais, na esfera municipal. às suas áreas e subsidiar as definições de es-
tratégias de sua implementação.
Os conselhos municipais de Cultura terão
suas competências definidas em legislação As interrelações entre os conselhos setoriais ou
específica, que deverão dispor, entre outros, equivalentes, e os conselhos do subsistema fe-
sobre os seguintes itens: apreciação e apro- derativo, devem ser estabelecidas por meio da
vação do Plano Municipal de Cultura, que garantia de assento de uma instância na outra.
deve ser elaborado em consonância com o
Plano Estadual de Cultura e com as diretrizes 2.6.1.4 Comissões Nacional, Estaduais,

Sistema Nacional de Cultura 53


Distrital e Municipais de Fomento nente – de negociação e pactuação das ações
e Incentivo à Cultura governamentais, no que tange aos aspectos
operacionais da gestão do sistema descentra-
As comissões de fomento e incentivo à Cul- lizado e participativo. Deve ser organizada no
tura têm a responsabilidade de analisar e deli- âmbito federal e composta paritariamente
berar sobre as propostas culturais que buscam por representantes dos três níveis de gover-
obter apoio do Estado por meio dos fundos de no, considerando-se as regiões do país: Minis-
cultura e/ou pelo mecanismo de incentivos fis- tério da Cultura, órgãos de representação do
cais. São órgãos colegiados do Poder Executivo conjunto dos Secretários e Dirigentes Estadu-
nas unidades da federação que têm legislação ais de Cultura e órgãos de representação do
específica para este fim. A composição desse conjunto dos secretários e dirigentes munici-
tipo de instância, em geral, é feita por repre- pais de Cultura.
sentantes do governo da área cultural, de en-
tidades representativas dos setores artístico e A CIT deve assistir o Ministério da Cultura na
cultural, e do empresariado do setor. elaboração de propostas para implantação
e operacionalização do SNC, submetendo-se
A Comissão Nacional de Incentivo à Cultura – ao poder deliberativo e fiscalizador do CNPC.
CNIC – é o órgão do Ministério da Cultura que Nesse sentido, uma das atribuições essenciais
têm essa incumbência: a de analisar e emitir é a de definir e pactuar mecanismos e critérios
parecer aprovando ou não projetos culturais transparentes de partilha e transferência de
que poderão se beneficiar dos mecanismos recursos do FNC para os fundos estaduais, do
de incentivos fiscais constantes na Lei Fede- Distrito Federal e municipais, para cofinancia-
ral de Incentivo à Cultura. No entanto, o MinC mento das políticas culturais, e submetê-los
pôs em debate e consulta pública projeto de ao CNPC para análise e aprovação.
lei que institui o Programa de Fomento e In-
centivo à Cultura  –  PROFIC,17 que modifica Entre outras responsabilidades, a CIT deve man-
tanto o formato quanto o papel desse cole- ter contato permanente com as CIB para a troca
giado. Serão criados, no âmbito da CNIC, co- de informações sobre o processo de descentra-
mitês gestores setoriais com participação da lização; pactuar estratégias para implantação
sociedade civil. Suas principais competências e operacionalização do sistema; estabelecer
serão: (1) definir normas e critérios, com base acordos sobre encaminhamentos de questões
nas diretrizes estabelecidas pelo CNPC, para operacionais referentes à implantação de ações,
utilização dos recursos do PROFIC,18 de acor- programas e projetos que compõem o SNC; atu-
do com um plano de ação bienal, e em con- ar como fórum de pactuação de instrumentos,
sonância com o Plano Nacional de Cultura; parâmetros, mecanismos de implementação e
(2)  aprovar a programação orçamentária e regulamentação do sistema; e promover a arti-
financeira dos recursos do PROFIC19 e avaliar culação entre as três esferas de governo, de for-
a sua execução; (3) aprovar seu regimento in- ma a otimizar a operacionalização das ações21.
terno e elaborar relatórios anuais avaliativos
para o CNPC sobre a execução orçamentária e As pactuações apreciadas e aprovadas pelo
financeira dos recursos do PROFIC.20 CNPC, que representam o compromisso dos
gestores de assumir a corresponsabilidade em
2.6.1.5 Comissão Intergestores Tripartite relação à gestão do sistema, deverão ser regula-
mentadas em instrumentos como: resoluções,
É um espaço de articulação entre os gestores normas operacionais e outros instrumentos.
federal, estaduais e municipais para viabili-
zar a implementação do SNC, constituindo-se
como principal instância – de caráter perma-

17 O Projeto de Lei foi encaminhado ao Congresso Nacional com uma nova denominação: Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura – Pro Cultura. (N.E.)
18 O Projeto de Lei foi encaminhado ao Congresso Nacional com nova denominação: Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura – Pro Cultura. (N.E.)
19 Idem. (N.E.)
20 Idem ibidem. (N.E.)

54
Sistema Nacional
de Cultura

Governos
Governo
Estaduais e
Federal Comissão
Intergestores
Distrital
Tripartite

Governos
Municipais

2.6.1.6 Comissões Intergestores Bipartites dos aos conselhos municipais, CIT e CNPC,
para conhecimento.
É um espaço de articulação entre o gestor
estadual e os gestores municipais para via- Deve ter como competências, entre outras, es-
bilizar a implementação do Sistema Esta- tabelecer acordos sobre encaminhamentos de
dual de Cultura – SEC, que integra o SNC. De questões operacionais referentes à implantação
caráter permanente, é a instância de inter- de ações, programas e projetos que compõem o
locução de gestores para negociação e pac- Sistema Estadual de Cultura; atuar como fórum
tuação das ações governamentais no que de pactuação de instrumentos, parâmetros, me-
tange aos aspectos operacionais da gestão canismos de implementação e regulamentação
do sistema. Deve ser organizada no âmbi- complementar à legislação vigente, nos aspec-
to estadual e composta paritariamente por tos comuns à atuação das duas esferas de go-
representantes dos dois níveis de governo, verno; pactuar medidas para aperfeiçoamento
considerando-se critérios regionais: Secre- da organização e do funcionamento do sistema
taria Estadual de Cultura ou equivalente e no âmbito regional; pactuar a distribuição/par-
órgãos de representação do conjunto dos tilha de recursos estaduais e federais destinados
secretários e dirigentes municipais de Cul- ao cofinanciamento das políticas culturais, com
tura. Suas definições e propostas deverão base nos critérios pactuados na CIT e aprovados
ser referendadas ou aprovadas pelo respec- no CNPC; pactuar critérios, estratégias e proce-
tivo Conselho Estadual, submetendo-se ao dimentos de repasse de recursos estaduais para
seu poder deliberativo e fiscalizador. Por- o cofinanciamento de programas e projetos da
tanto, a CIB deverá observar em suas pactu- Cultura para municípios; estabelecer interlocu-
ações as deliberações do Conselho Estadual ção permanente com a CIT e com as demais CIB
de Cultura, legislação vigente pertinente e para aperfeiçoamento do processo de descentra-
orientações emanadas da CIT e do CNPC. Os
acordos aprovados devem ser encaminha-

21 A definição das competências levou em consideração as experiências de outros sistemas de políticas públicas.

Sistema Nacional de Cultura 55


Sistema Nacional
de Cultura

Sistema Estadual
de Cultura
Governo Comissão Governos
Intergestores
Estadual Bipartite
Municipais

lização, implantação e implementação do SNC; desenvolvimento da cultura e sua estrutura


observar em suas pactuações as orientações comporta, em especial, os objetivos gerais e
emanadas da CIT; estabelecer acordos relacio- específicos; as diretrizes e prioridades delibe-
nados aos programas e projetos do SEC a serem radas; as ações e estratégias correspondentes
implantados pelo estado e municípios; e pactuar para sua implementação; as metas estabele-
consórcios públicos. cidas; os resultados e impactos esperados; os
recursos materiais, humanos e financeiros
disponíveis e necessários; os mecanismos e
2.7 instrumentos de gestão fontes de financiamento; a estruturação e pro-
do sistema nacional gramação da rede de equipamentos culturais;
os indicadores de monitoramento e avaliação
de cultura e o espaço temporal de execução.

2.7.2 orçamento da cultura


Os principais instrumentos de gestão do SNC,
nos três níveis governamentais, que se carac- O financiamento da Política Nacional de Cul-
terizam como ferramentas de planejamento tura é detalhado no processo de planejamen-
técnico e financeiro, são: Planos de Cultura; to, por meio do Orçamento plurianual e anual,
Orçamento; Sistema de Informações e Indica- que expressa a projeção das receitas e autoriza
dores Culturais e Relatório Anual de Gestão. os limites de gastos nos projetos e atividades
propostos pelo órgão gestor e aprovados pelos
2.7.1 plano nacional de cultura conselhos, com base na legislação, nos princí-
pios e instrumentos orçamentários e na insti-
O Plano Nacional de Cultura, de duração dece- tuição de fundos de Cultura. Os instrumentos
nal conforme determina o § 3º do Art. 215 da de planejamento orçamentário, na adminis-
Constituição Federal, é um instrumento de tração pública, se desdobram no Plano Pluria-
planejamento estratégico que organiza, regu- nual (PPA), na Lei de Diretrizes Orçamentárias
la e norteia a execução da Política Nacional de (LDO) e na Lei Orçamentária Anual (LDO). O
Cultura na perspectiva do SNC. PPA expressa o planejamento das ações gover-
namentais de médio prazo e envolve quatro
A elaboração dos planos de Cultura é de res- exercícios financeiros, tendo vigência do se-
ponsabilidade do órgão gestor da política, que gundo ano de um mandato até o primeiro ano
o submete à aprovação do Conselho de Políti- do mandato seguinte. A LDO define as priori-
ca Cultural, reafirmando o princípio democrá- dades, metas e estabelece estimativas de recei-
tico e participativo. ta e limites de despesa a cada ano, orientando
a elaboração da Lei Orçamentária Anual. A
O Plano deve apresentar um diagnóstico do LOA explicita as prioridades e as possibilida-
des de gasto em rubricas de receita e despesa

56
para o ano respectivo, identificando os benefí- sultados ou dos produtos, obtidos em função
cios tributários, financeiros e creditícios. das metas prioritárias, estabelecidas no Pla-
no Nacional de Cultura consolidado em um
Para efetivamente expressarem o conteúdo Plano de Ação Anual; bem como da aplica-
do Plano Nacional de Cultura e do Sistema ção dos recursos em cada esfera de governo
Nacional de Cultura, tais instrumentos de em cada exercício anual, sendo elaboradas
planejamento público deverão contemplar a pelos gestores e submetidos aos conselhos
apresentação dos programas e das ações, em de Política Cultural.
coerência com os planos de Cultura a serem
implementadas pelos entes federados em re- O Relatório Anual de Gestão destina-se a
gime de cofinanciamento e de cooperação. sintetizar e divulgar informações sobre os
resultados obtidos e sobre a probidade dos
Além disso, o orçamento da Cultura deverá gestores do SNC às instâncias formais do
ser inserido na proposta de Lei Orçamentá- SNC, ao Poder Legislativo, ao Ministério Pú-
ria, sendo os recursos destinados às despe- blico e à sociedade. Sua elaboração compete
sas correntes e de capital relacionadas aos ao respectivo gestor do SNC, mas deve ser
serviços, programas, projetos e ações gover- obrigatoriamente referendado pelos respec-
namentais e não governamentais alocados tivos conselhos.
nos fundos de Cultura (constituídos como
unidades orçamentárias) e aqueles voltados
às atividades meio, alocados no orçamento 2.8 recursos financeiros
do órgão gestor dessa política na referida es-
do sistema nacional
fera de governo.
de cultura
2.7.3 sistema nacional de informações
e indicadores culturais
2.8.1 política de financiamento
público da cultura
O sistema de informações sobre cultura no
Brasil tem a finalidade de ser fonte de dados
e indicadores para a formulação e reformu- A política de financiamento público da cultu-
lação de políticas em diferentes esferas da ra, hoje, está estruturada através de três ins-
gestão pública. trumentos: (1) no orçamento do Ministério
da Cultura e suas instituições vinculadas; (2)
A gestão da informação a partir dos dados na Lei nº 8.313/1991 (Lei Rouanet), que institui
e análises qualitativas e quantitativas for- o Programa Nacional de Incentivo à Cultura
necidos pelo Sistema de Indicadores e Infor- (Pronac), que por sua vez estabelece três me-
mações Culturais tem como um de seus ob- canismos destinados ao fomento e incentivo
jetivos produzir condições para as operações a projetos culturais, quais sejam, o Fundo Na-
de gestão, monitoramento e avaliação das cional de Cultura (FNC), a renúncia fiscal (me-
políticas implementadas pelo SNC. cenato) e os Fundos de Investimento nas Artes
(Ficarts); e (3) na Lei nº 11.437, que estabelece
A estruturação desse sistema, além de ter dois mecanismos destinados ao financiamen-
como requisito a definição de estratégias to de programas e projetos voltados para o de-
referentes à produção, armazenamento, or- senvolvimento das atividades audiovisuais: o
ganização, classificação e disseminação de Fundo Setorial do Audiovisual e os Fundos de
dados, deverá incorporar no seu desenho in- Financiamento da Indústria Cinematográfica
terfaces com outros sistemas de informações Nacional – Funcines.
gerenciais, que serão suporte para a gestão, o
monitoramento e a avaliação de programas, O orçamento do Ministério da Cultura corres-
projetos e ações culturais, conformando uma ponde a 0,44% do Orçamento Geral da União,
rede de sistemas. o que equivale ao montante de R$ 523 milhões,
no ano de 2005. Os recursos investidos através
2.7.4 relatório anual de gestão da Lei Rouanet, por sua vez, corresponderam
ao montante de R$ 691 milhões no ano de
Os Relatórios Anuais de Gestão – nacional, dis- 2005, superiores, portanto, ao próprio orça-
trital, estaduais e municipais – deverão ava- mento do Ministério da Cultura.
liar o cumprimento das realizações, dos re-

Sistema Nacional de Cultura 57


Para o fortalecimento da lógica sistêmica, fun- tição de recursos, supondo o necessário esta-
damental é o fortalecimento do FNC enquanto belecimento de transferências (obrigatórias e
instrumento republicano e federalista de dis- voluntárias), fundamentadas, por sua vez, na
tribuição de recursos orçamentários. pactuação quanto à repartição de competên-
cias e atribuições entre os entes federados das
2.8.1.1 Fontes de Financiamento do SNC políticas públicas de cultura; a massificação
da disponibilização de editais públicos de se-
A lógica sistêmica induz, necessariamente, à leção de projetos culturais nas três esferas de
conclusão pela existência de fontes de financia- governo; e o aperfeiçoamento dos mecanis-
mento robustas, consistentes e permanentes. Ou mos de renúncia fiscal e dos fundos e investi-
seja, para que se girem as engrenagens de um mento privado nas artes.
sistema de políticas públicas, faz-se necessário
a garantia de recursos mínimos, essenciais ao 2.8.1.2 Mecanismos de Financiamento das
funcionamento das estruturas que o compõem. Políticas Públicas de Cultura

Tanto a Organização das Nações Unidas para a A instituição efetiva do SNC, não só através da
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) quanto implantação das estruturas que o compõem
a “Agenda 21 da Cultura”, aprovada na cidade de nas três esferas, mas como no estabelecimen-
Barcelona, no dia 8 de maio de 2004, durante o to das correlações e vínculos entre as mesmas
IV Fórum de Autoridades Locais de Porto Alegre e na repartição das atribuições e competên-
para a Inclusão Social, no marco do Fórum Uni- cias, enseja a discussão acerca da repartição
versal das Culturas, recomendam aos governos dos recursos entre os entes federados.
de estados e nações, que assegurem, no mínimo,
1% do orçamento nacional para a cultura. O Orçamento do MinC e de suas instituições
vinculadas deve ser severamente incremen-
Nesse sentido, no Brasil urge a necessidade tado, como acima descrito, no sentido de
pela tramitação e aprovação da Proposta de conferir densidade e “musculatura” aos seus
Emenda à Constituição (PEC) nº 150/2003, programas e projetos. Os mecanismos de re-
que propõe a destinação de 2% da arreca- núncia fiscal (mecenato) e dos fundos de in-
dação da União, 1,5% da arrecadação dos vestimento nas artes devem ser mantidos e
estados e 1% da arrecadação dos municí- aperfeiçoados, conforme proposta de reforma
pios para a área da cultura, visando assegu- da Lei Rouanet mediante a instituição do Pro-
rar, por meio do mecanismo da vinculação grama Federal de Fomento e Incentivo à Cul-
constitucional de receitas, o montante mí- tura (Profic).
nimo necessário para os investimentos em
cultura e, por conseguinte, ao funcionamen- É no FNC, contudo, que deve residir o principal
to do SNC. mecanismo de financiamento do SNC e, por con-
seguinte, das políticas públicas de cultura. A pro-
É importante ressaltar que o §1º do Artigo 1º posta de projeto de lei que visa instituir o Profic22
dessa PEC determina que dos 2,0% destinados prevê o fortalecimento do FNC por meio da cria-
à União, 1% fique com o Governo Federal e 1% ção de seus Fundos Setoriais, da gestão paritária
sejam repassados aos outros entes federados, dos mesmos e do aporte de recursos dos fundos
sendo 0,5% aos estados e ao Distrito Federal e de investimentos regionais ao FNC.
0,5% aos municípios, viabilizando, desta for-
ma, o processo de repasses fundo a fundo, me- Por outro lado, o estabelecimento de critérios
canismo fundamental do SNC. de repartição de receitas que atenda ao princí-
pio federativo é o ponto nodal que deve norte-
Contudo, não se trata apenas de assegurar ar a gestão das receitas do FNC. A experiência
ou ampliar o montante necessário ao fun- de outros sistemas de políticas públicas induz
cionamento e cumprimento dos objetivos ao raciocínio que aponta para a distribuição
das estruturas sistêmicas do SNC. “O padrão mediante transferências, vinculadas (obriga-
de investimento, financiamento e fomento à tórias) ou voluntárias. As primeiras, por sua
cultura deve ser composto por múltiplos me- vez, devem se estabelecer segundo critérios
canismos”22. Ademais, as óticas republicana e que levem em consideração indicadores diver-
federalista, princípios fundantes do SNC, im- sos, que possam contribuir para a formulação
põem o estabelecimento de formas de repar- de um “índice” unificado que aponte para a

22 BRASIL. Ministério da Cultura. Programa cultural para o desenvolvimento da cultura. 2 ed. Brasília: 2007. p. 31.

58
correta e justa distribuição de receitas entre É preciso analisar se o ranking dos municípios
as regiões, estados e municípios. em gestão cultural, feito com base no IGMC,
é suficiente para ser utilizado como ponto de
2.8.1.3 Critérios de Partilha e de Transferência partida para um escalonamento/categoriza-
de Recursos da União para Estados e ção da situação em gestão e “desenvolvimento
Municípios no SNC cultural” dos municípios, no território nacio-
nal. O IGMC pode ser combinado com outros
É de responsabilidade da Comissão Inter- indicadores culturais, de modo a se construir
gestores Tripartite – CIT negociar e pactuar um “Índice de Desenvolvimento das Polí-
critérios de partilha e de transferência de ticas Culturais”, que expresse a situação do
recursos para estados, Distrito Federal e mu- setor cultural no país. Como a Cultura é uma
nicípios e submetê-los à aprovação do Con- dimensão do desenvolvimento, é fundamen-
selho Nacional de Política Cultural – CNPC. tal considerar na elaboração desse novo indi-
E cabe às Comissões Intergestores Bipartites cador os índices educacionais, sociais, econô-
– CIBs, com concordância dos respectivos micos, demográficos e territoriais.
conselhos estaduais/distrital, acordar sobre
os critérios que regularão a descentralização O “Índice de Desenvolvimento das Políticas
dos recursos dos estados/Distrito Federal Culturais” vai permitir classificar os muni-
para os municípios, tendo como base os es- cípios e estados em graus de complexidade
tabelecidos pela CIT. de suas respectivas políticas culturais, possi-
bilitando o estabelecimento dos critérios de
A CIT, com assessoria técnica do Ministério da Cul- partilha dos recursos financeiros. Sugere-se
tura (órgão da Administração Pública Federal res- a criação de uma escala que possa ser repre-
ponsável pela coordenação do SNC), vai analisar sentativa da diversidade e das singularida-
quais indicadores são pertinentes para embasar des culturais dos municípios e estados. Será
a elaboração de critérios para partilha e transfe- necessário definir qual é o mínimo aceitável
rência de recursos no processo de descentraliza- (piso da escala23) num município para carac-
ção das políticas culturais. Esses critérios preci- terizá-lo como tendo uma política cultural.
sam se pautar em indicadores que informem a Com base nessa graduação de complexidade
situação do setor cultural no país. É essencial, é que serão feitos os aportes de recursos aos
para que o processo de partilha de recursos seja estados e municípios que aderirem/habilita-
transparente e essa se dê de forma mais equitati- rem-se ao SNC. Os aportes precisam ser dis-
va, a elaboração de critérios públicos, construídos tribuídos em percentuais de acordo com os
com base na utilização de indicadores, que além tipos e necessidades das políticas desenvolvi-
de considerar o campo específico cultural, combi- das pelos estados e municípios (patrimônio,
nem informações sociais, econômicas, demográ- bibliotecas, teatro, “cultura popular”, digital
ficas, diversidades regionais e outros. etc.). As modalidades de classificação (por
exemplo: gestão 1, gestão 2, gestão 3, etc.) é
A Secretaria de Estudos Regionais e Urbanos que vão estabelecer quanto de recurso será
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada transferido para os entes federados que aten-
(IPEA), num trabalho demandado pela Secre- derem às condicionalidades.
taria de Políticas Culturais, do Ministério da
Cultura, elaborou o primeiro índice estatístico A tabela a seguir é ilustrativa da ideia de par-
na área cultural, o Índice de Gestão Munici- tilha de recursos:
pal em Cultura (IGMC). O estudo foi feito com
base nos dados apurados na Pesquisa de Infor- Supondo que muitos municípios não têm
mações Básicas Municipais (Munic), de 2006. políticas culturais (plano municipal de cul-
O índice possibilitou a criação de um ranking tura), serão classificados na Gestão 0. O que
dos municípios brasileiros em gestão cultural, se quer é que esses municípios cheguem,
a partir da análise de três tópicos principais: pelo menos, na Gestão 1. Para isso, o SNC
Fortalecimento Institucional e Gestão Demo- fará o aporte x% piso básico, condicionado
crática; Infraestrutura e Recursos Humanos; e ao cumprimento do Plano Municipal de Cul-
Ações Culturais. tura, demonstrado pelo Relatório de Gestão.

22 O Projeto de Lei foi encaminhado ao Congresso Nacional com uma nova denominação: Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura – ProCultura. (NE)
23 Definir um piso básico financeiro para atender ao município que é considerado como o que faz o básico necessário para o setor da cultura (ações básicas considera-
das como um mínimo admissível para a cultura) - o município, atendendo a esse básico, recebe o piso por meio de repasse automático.

Sistema Nacional de Cultura 59


Conforme o grau de complexidade (modali- A CIT e as CIB vão disciplinar os procedimen-
dade de classificação) há aportes específicos tos de repasse de recursos financeiros para
para as políticas setoriais da cultura, que te- cofinanciamento das políticas culturais, que
rão uma graduação também em função do respeitarão os níveis de gestão, as demais
“tamanho/quantidade/conteúdo” do setor condições e os mecanismos que forem esta-
no ente federado. belecidos. A transferência dos recursos fundo-
-a-fundo ocorrerá somente quando houver o

Aporte X% Aporte X% Aporte X% Aporte X%


Graus de Complexidade Outros
Piso Básico Patrimônio Biblioteca Cultura Popular
das Políticas Culturais

Gestão 0 Valor - - - -

Gestão 1 Valor 1 - Valor 1 Valor 1 -

Gestão 2 Valor 2 Valor 2 Valor 2 - -

Gestão 3 Valor 3 Valor 3 Valor 3 Valor 3 -

cumprimento das condicionalidades acorda- cerca de metade dos recursos. No entanto há


das, isto é, cada ente, município, Distrito Fede- um crescimento significativo, nos últimos
ral e estado, deverá manter sua adesão ao SNC, anos, dos investimentos das esferas federal
cumprindo as exigências pactuadas. e estadual, notadamente da última, o que le-
vou a uma diminuição percentual da esfera
2.8.2 recursos do orçamento municipal, embora esta continue crescendo
em valores nominais. O mais significativo
2.8.2.1 Orçamento Público da Cultura no Brasil é que vem ocorrendo um crescimento nas
três esferas.
A despesa total com cultura no Brasil, cons-
tante da publicação do IBGE, de 2007, “Estudos 2.8.2.2 Orçamento da Cultura do Governo Federal
e Pesquisas – Informação Demográfica e So-
cioeconômica nº 22 – Sistema de Informações O Ministério da Cultura vem, desde 2003, en-
e Indicadores Culturais 2003-2005”, segundo gendrando esforços para aumentar a sua dota-
as esferas de governo no período citado, distri- ção orçamentária. A meta é alcançar o piso de
bui-se conforme a seguinte tabela: 1% do orçamento federal, tal como recomenda
a Unesco, que realizou diversos estudos sobre
Constata-se que, no Brasil, a esfera muni- o impacto positivo que os investimentos em
cipal é a que mais investe na cultura, com políticas culturais exercem sobre as popula-

DESPESA TOTAL COM CULTURA, SEGUNDO AS ESFERAS DE GOVERNO - BRASIL - 2003-2005

DESPESA TOTAL COM CULTURA

ESFERAS DE
2003 2004 2005
GOVERNO
Valor absoluto Participação Valor absoluto Participação Valor absoluto Participação
(1 000 R$) das esferas (%) (1 000 R$) das esferas (%) (1 000 R$) das esferas (%)

TOTAL 2.358 264 100,0 2.581.670 100,0 3.129.414 100,0

Federal 338.746 14, 4 395.926 15, 3 523 338 16,7

Estadual 746.851 31, 7 836.716 32, 4 1.127.768 36,0

Municipal 1.272.667 54,0 1.349.028 52, 3 1.478.308 47,2

Fontes: Ministério da Fazenda, Secretaria do Tesouro Nacional, Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal – SIAFI; Execução orçamentária
dos estados (1995-2006). Brasília, DF: Ministério da Fazenda, Secretaria do Tesouro Nacional, [200-]. Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/estados_
municipios/download/exec_orc_estados.xls>. Acesso em: 2007; Finanças do Brasil: dados contábeis dos municípios 2003-2005. Brasília, DF: Ministério da Fazenda,
Secretaria do Tesouro Nacional, v. 49-51, 2004-2006. Disponível em: <http://www.tesouro. fazenda.gov.br/estados_municipios/index.asp>. Acesso em: 2007;
IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais, Estatísticas Econômicas das Administrações Públicas 2003-2004; Perfil dos municípios brasileiros:
cultura 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. Acompanha 1 CD-ROM. Acima do título: Pesquisa de Informações Básicas Municipais.

60
ORÇAMENTO DA CULTURA SEGUNDO ESFERAS DE GOVERNO
PERÍODO 2003 A 2005 / FONTE IBGE
VALORES (R$)
1.600.000.000,00
1.400.000.000,00
1.200.000.000,00
FEDERAL
1.000.000.000,00
ESTADUAL
800.000.000,00

600.000.000,00 MUNICIPAL

400.000.000,00

200.000.000,00

0,00

ORÇAMENTO DA CULTURA SEGUNDO ESFERAS DE GOVERNO


PERÍODO 2003 A 2005 / FONTE IBGE
VALORES (R$)
1.600.000.000,00
1.400.000.000,00
1.200.000.000,00
1.000.000.000,00 FEDERAL

800.000.000,00 ESTADUAL
600.000.000,00
MUNICIPAL
400.000.000,00

200.000.000,00

0,00 2003 2004 2005

Sistema Nacional de Cultura 61


ORÇAMENTO DA CULTURA SEGUNDO ESFERAS DE GOVERNO
ANO 2005 / FONTE IBGE

Federal
17%

Municipal
47%
Estadual
36%

ções menos favorecidas. 2.9.1 linhas básicas da política


nacional de formação na área
A evolução percentual do orçamento do MinC da cultura
em relação às receitas de impostos federais.
No período 2003-2008, houve avanços na des-
tinação de recursos para as iniciativas cultu- Uma das maiores carências detectadas em pes-
rais, ainda que a relação percentual esteja quisas das políticas culturais brasileiras tem
abaixo do patamar orientado pela Unesco. sido a ausência de políticas de formação de pes-
Constatou-se variação de 0,35%, em 2003, para soal em política e gestão culturais. Tal constata-
0,52%, em 2008, uma evolução comparativa da ção aparece como extremamente problemática
ordem de 49% nesse intervalo temporal.  em uma circunstância contemporânea em que
cada vez mais a cultura adquire centralidade,
inclusive porque assume uma dimensão trans-
2.9 política nacional versal que a faz interagir e ter interfaces com
de formação na área os mais diversos campos sociais, perpassando
praticamente toda a sociedade.
da cultura
ORÇAMENTO DO MINISTÉRIO Da CULTURA

0,60 0,52
0,49
0,50 0,44
0,42
% do Orçamento Federal

0,37
0,40 0,35
Fonte: Leis Orçamentárias Anuais
investido no MinC

0,30

0,20

0,10

0,00
2003 2004 2005 2006 2007 2008

62
Não por acaso, a necessidade de políticas 1 Realizar um primeiro diagnóstico da
para este tipo de formação tem sido uma formação e aprimoramento em política e
reivindicação persistente em todas as confe- gestão culturais no Brasil.
rências de cultura realizadas recentemente
no país, sejam elas municipais, estaduais 2 Propor meios para efetuação de uma rede
e nacional. nacional de instituições de formação na
área da cultura, a começar pelas organizações
Nessa perspectiva, torna-se necessária a voltadas à qualificação em políticas e
constituição e implementação de uma Políti- gestão culturais.
ca Nacional de Formação na Área da Cultura
como parte substantiva do Sistema Nacional 2.9.2.2 Criação da Rede de Instituições de
de Cultura. Formação na Área da Cultura

Assim, com o objetivo de capacitar, atuali- Um dos principais objetivos do mapeamento é


zar e contribuir para a profissionalização de servir de subsídio para a constituição de uma
gestores culturais de instituições públicas, rede brasileira de instituições de formação na
privadas e do terceiro setor - de forma a me- área da cultura, parte integrante do Sistema
lhor qualificar a formulação de políticas e a Nacional de Cultura. Com o mapeamento será
gestão de programas, projetos e serviços cul- possível conhecer aprofundadamente a rea-
turais oferecidos à população - o Ministério lidade da formação no país; detectar as prin-
da Cultura propõe uma política de formação cipais instituições envolvidas na formação,
na área cultural que estimule o desenvol- desde cursos livres, técnicos e de aperfeiçoa-
vimento de processos formativos. Isso me- mento a cursos superiores e de pós-graduação;
diante estratégias flexíveis e de excelência visualizar as áreas temáticas e os territórios
teórico-metodológica, formuladas a partir que deveriam ser priorizados em termos de
das necessidades e demandas específicas e qualificação; e definir no âmbito do SNC as
em diálogo com as instâncias organizadoras potenciais entidades parceiras que poderão
locais. A amplitude pretendida leva a que compor a Rede de Instituições de Formação na
essa política se desenvolva mediante a par- Área da Cultura.
ceria das diversas instituições promotoras
de formação nos diversos níveis e setores 2.9.3 programa de formação
culturais e artísticos do país, o que requer a na área da cultura
realização de um amplo mapeamento e ava-
liação dessas instituições.
O Programa de Formação na Área da Cultu-
2.9.2 mapeamento e avaliação ra tem como meta estimular e fomentar, de
das instituições formadoras forma gradual e ao longo do tempo, a quali-
em política e gestão culturais ficação em todas aquelas áreas que são vi-
no brasil tais para o funcionamento de um complexo
sistema cultural, em diferentes níveis de for-
mação, e que envolvem as áreas: (1) Criação,
2.9.2.1 Mapeamento e Avaliação das inovação e invenção; (2) Difusão, divulgação
Instituições Formadoras e transmissão; (3) Circulação, cooperação, in-
tercâmbios, trocas; (4) Análise, crítica, estudo,
Para a construção da Política Nacional de For- investigação, reflexão, pesquisa; (5) Fruição,
mação na Área da Cultura, é indispensável consumo e públicos; (6) Conservação e pre-
realizar um diagnóstico rigoroso da situação servação; (7) Organização, gestão, legislação e
da formação em cultura. O mapeamento parte produção da cultura.
do pressuposto de que a formação e a quali-
ficação do pessoal na área da cultura - e em 2.9.3.1 Formação e Qualificação em Política e
especial na área da elaboração de políticas e Gestão Culturais
de gestão culturais - são exigências vitais da
contemporaneidade e do atual patamar das A formação de gestores culturais é concebida
políticas culturais nacionais, estaduais e mu- como um programa dinâmico e contínuo, de
nicipais. Para alcançar essa sintonia fina com forma articulada e coerente com o processo de
as configurações da atualidade, definiu-se implantação do Sistema Nacional de Cultura,
como objetivos: entendido como um processo de pactuação en-
tre os entes federativos e a sociedade civil. Que

Sistema Nacional de Cultura 63


encontra no arcabouço jurídico e institucional • Difusão, divulgação e critica da cultura.
sua sustentação, mas se desdobra como proces-
so de construção de convergências. • Pesquisa e produção de informações culturais.

Tendo em vista a importância do respeito à • Cooperação e intercâmbio cultural.


diversidade das realidades e dos contextos so-
cioculturais e a heterogeneidade das institui- • Logística e processos técnico-artísticos.
ções e atores envolvidos na gestão da cultura,
a criação de um programa de formação de for-
muladores de políticas públicas e de gestores 2.10 estratégia de
culturais deve se dar como uma estrutura su-
institucionalização e
ficientemente aberta e flexível. Que respeite
princípios gerais, mas que seja capaz de tradu- implementação do snc
zir e responder às diferentes realidades e con-
figurações de pactuação.
2.10.1 o processo de implementação
Considerando a gestão como o manejo de com- do snc
petências complexas transversais que, para
além da dimensão política e institucional e
das ferramentas de gerência, requer uma fami- Na implementação e funcionamento do Siste-
liaridade com a cultura, em sua diversidade e ma Nacional de Cultura, os procedimentos a
estratégias de criação, a implementação e de- serem adotados são aqueles afetos a qualquer
senvolvimento de um programa de formação política pública24:
de gestores culturais deverá contemplar con-
teúdos e metodologias capazes de permitir a 1 incluir na agenda governamental o tema da
compreensão da cultura em sua dimensão sim- política, ou seja, dar-lhe prioridade;
bólica e identitária, sua centralidade para a ci-
dadania e para o desenvolvimento social e eco- 2 elaborar a política, que consiste em
nômico; a compreensão das políticas públicas identificar e delimitar as alternativas para
de cultura como resposta a realidades objetivas sua implantação, avaliando os custos e efeitos
de bases locais e regionais; a compreensão da de cada uma e estabelecendo prioridades;
economia da cultura e dos modelos de finan-
ciamento público; a compreensão e apropria- 3 formular a política, que inclui selecionar e
ção de ferramentas de gestão de políticas e pro- especificar a alternativa considerada mais
gramas; a compreensão de que o planejamento conveniente, seguida da declaração pública
estratégico é o momento de reflexão política e da decisão tomada, definindo seus objetivos
de correção de rumos, não se reduzindo a uma e seu marco jurídico, administrativo e
ferramenta de gestão. financeiro

Desta forma, a Política Nacional de Formação 4 implantar a política, isto é, planejar


na Área da Cultura priorizará, num primeiro e organizar o aparelho administrativo
momento, a formação para a organização, le- (recursos humanos, financeiros, materiais e
gislação e gestão da cultura. E em seus desdo- tecnológicos)
bramentos futuros, deverá se expandir para a
construção de outras competências interliga- 5 executar a política, ou seja, colocá-la
das nas áreas da:  em prática

• Criação e inovação artística. 6 acompanhar a execução da política, a fim de


identificar problemas e introduzir correções
• Proteção e promoção da memória e do
patrimônio cultural. 7 avaliar a política

• Formação de público, educação 8 controle social, que acompanha todas as


e consumo cultural. fases, e

24 SARAVIA, Enrique. Introdução à Teoria da Política Pública. In: SARAVIA, Enrique & FERRAREZI, Elisabete (orgs.) Políticas Públicas; coletânea. Brasília: ENAP, 2006, p. 21-43.
Os sete primeiros princípios são os propostos por estes autores.

64
9 prestação de contas, essencial à O processo de implementação do SNC deve
transparência da política ter como características determinantes a pro-
gressividade e a continuidade. Assim como o
No processo de implantação do Sistema Na- foram os demais sistemas, os seus componen-
cional de Cultura, ocorreram descontinuida- tes e as suas instâncias de articulação, pactu-
des que afetaram o cumprimento regular ação e deliberação, serão implementados gra-
dessas etapas. Entretanto, várias delas, no dualmente e seguindo ritmos diferentes nos
todo ou em parte, foram cumpridas. A base diversos estados e municípios do país. O mais
institucional do SNC há muito já vem sendo importante é que não haja descontinuidade
implementada, no âmbito de todas as ins- nesse processo e que, mesmo tendo particula-
tâncias federativas. Órgãos específicos para ridades locais -, o que é desejável -, os sistemas
gestão da política cultural, Conselhos de estaduais e municipais mantenham uma base
Política Cultural, Fundos de Financiamen- comum, que constitui o componente estático
to da Cultura e Sistemas Setoriais (museus, da sua estrutura e que estabelece os vínculos
bibliotecas, arquivos, informação, etc.) - fo- e conexões com os demais componentes do
ram criados; Conferências de Cultura foram SNC. Aqueles estados e municípios que avan-
realizadas e Planos de Cultura elaborados - e çarem mais rapidamente na implementação,
encontram-se em tramitação nos Legislati- além de fortalecerem o SNC, servirão de exem-
vos. No entanto, estas iniciativas não foram plo e estímulo, devendo compartilhar suas ex-
articuladas dentro de uma estratégia co- periências com os demais.
mum, especialmente no que trata da inter-
relação entre os componentes do Sistema, Dentro desta linha, propõem-se, como estra-
seja no âmbito de cada ente federado, seja tégia comum, os seguintes passos para a ins-
entre eles. titucionalização e implementação do Sistema
Nacional de Cultura:
Hoje, o grande desafio é construir essas
articulações onde elas inexistem, a exem- 1 Consolidação, partir deste documento, de uma
plo dos subsistemas setoriais com o SNC, proposta de estruturação do SNC, pactuada
e reestruturar as instâncias pré-existen- entre os três entes federados – por intermédio
tes, especialmente os conselhos constitu- do Ministério da Cultura e dos Fóruns de Se-
ídos em outro contexto político e que não cretários Estaduais e dos Secretários das Capi-
atendem aos critérios previstos no Siste- tais – a ser submetida à analise e aprovação do
ma, especialmente no que tange ao prin- Conselho Nacional de Política Cultural.
cípio da democratização.
2 Retomada do processo de institucionaliza-
2.10.2 estratégia comum para ção com a assinatura do Acordo de
institucionalização e Cooperação Federativa, entre os entes
implementação do snc federados, para implementação do Sistema
Nacional de Cultura.

É necessário definir a concepção, a estrutura 3 Promoção do fortalecimento institucional


e os meios de institucionalização do Sistema do Sistema Nacional de Cultura através
Nacional de Cultura, programando sua imple- da capacitação dos gestores públicos e
mentação a partir de uma estratégia comum, conselheiros de cultura, com a realização dos
definida e assumida conjuntamente pelos Seminários do SNC e dos cursos de formação
agentes públicos e privados comprometidos em Gestão Cultural.
com este modelo de gestão. Nesse momento,
implantar o SNC representa a grande oportu- 4 Implementação do Sistema Nacional de
nidade de institucionalizar a política nacional Informações e Indicadores Culturais, numa
de cultura como política de Estado, asseguran- ação articulada do MinC com os estados
do sua continuidade. Apesar de complexa e e municípios.
difícil, essa é uma tarefa possível, pois, além
da vontade política dos governantes e da so- 5 Elaboração, a partir da estrutura pactuada
ciedade, ela tem amparo legal, já que é um entre os entes federados e aprovada pelo
dispositivo da Constituição Federal a União Conselho Nacional de Política Cultural,
estabelecer normas gerais em matéria de po- de substitutivo à Proposta de Emenda
líticas públicas compartilhadas entre os entes Constitucional nº 416/2005, que institui
da federação.

Sistema Nacional de Cultura 65


o SNC, encaminhando-a ao relator da gestores públicos e sociedade civil, por meio
Comissão Especial do Congresso que aprecia de seus Fóruns, entidades e instituições, para,
a matéria. numa ação conjunta e articulada nacionalmen-
te, fortalecer o SNC, e, através da atuação junto
6 Elaboração e encaminhamento ao Congresso às bancadas parlamentares, acelerar a tramita-
do projeto de lei que regulamenta o ção e aprovação, pelo Congresso, assembléias
SNC, definindo o seu perfil, constituição, legislativas e câmaras de vereadores, de todas
funcionamento, mecanismos de interrelação essas propostas.
entre os seus componentes e instâncias de
articulação, pactuação e deliberação. 2.10.3 programa de fortalecimento
institucional e gestão cultural
7 Substituição do Decreto nº 5.520, de 24 de
Agosto de 2005, que institui o Sistema Federal
de Cultura e dispõe sobre a composição e Durante os anos de 2009 e 2010 deverá ser
funcionamento do Conselho Nacional de desenvolvido um conjunto de ações pelo Mi-
Política Cultural, compatibilizando-o com a nistério da Cultura, em parceria com os es-
estrutura proposta para o Sistema Nacional de tados e municípios, tendo por objetivo o for-
Cultura. talecimento institucional e a capacitação da
gestão cultural:
8 Articulação no Congresso para aprovação
da Proposta de Emenda Constitucional nº • Estruturação do Sistema Nacional de Cultura.
150/2003, para destinação de recursos à
cultura. • Implementação dos sistemas estaduais,
Distrital e municipais de Cultura.
9 Articulação no Congresso para aprovação
da Proposta de Emenda Constitucional nº • Realização de seminários do Sistema
236/2008, para inserção da cultura no rol dos Nacional de Cultura.
direitos sociais no Art. 6º da Constituição.
• Realização de cursos de formação em Gestão
10 Compatibilização do substitutivo do Projeto de Políticas Públicas de Cultura.
de Lei Nº 6.835 que Institui o Plano Nacional
de Cultura com a estrutura proposta para • Fortalecimento dos conselhos
o SNC e articulação no Congresso para sua de Política Cultural.
aprovação.
• Realização das conferências municipais,
11 Compatibilização do Projeto de Lei que estaduais e Nacional de Cultura.
institui o Programa de Fomento e Incentivo
à Cultura – Profic – com a proposta para o • Lançamento do Índice de Gestão Municipal
Sistema Nacional de Cultura e articulação no em Cultura (MinC/IPEA).
Congresso para sua aprovação.
• Lançamento do Selo “Município Mais Cultura”.
12 Elaboração e aprovação de projetos de lei de
Criação ou Reestruturação dos Sistemas de
Cultura, dos Conselhos de Política Cultural, 2.10.4 institucionalização do sistema
dos fundos e planos de Cultura dos estados, nacional de cultura
do Distrito Federal e dos municípios.

Muitas dessas ações serão desenvolvidas de Apesar do entendimento de que o Sistema


forma simultânea, com a implementação Nacional de Cultura já está juridicamente
de determinados componentes e instân- instituído pela Constituição, é imprescindí-
cias, podendo até ocorrer antes da respec- vel o seu reforço com a explicitação do seu
tiva institucionalização, com a existência e perfil, princípios, constituição e forma de
funcionamento informal tornando-se um funcionamento por meio de diversos instru-
elemento de pressão para seu reconheci- mentos legais: emenda constitucional, lei
mento legal. complementar ou ordinária, decretos e porta-
rias do Poder Executivo. Para tanto, definidos
A estratégia deverá ter como elemento central o conceito e a estrutura do Sistema Nacional
a mobilização de artistas, produtores culturais,

66
de Cultura, deve-se elaborar imediatamente legal, (QUALIFICAÇÃO DO REPRESENTANTE) e o
os diversos instrumentos legais para sua de- ESTADO DE , (QUALIFICAÇÃO DO
vida aprovação e implementação pelos Pode- ESTADO) representado pelo seu representante
res Legislativo e Executivo. legal (QUALIFICAÇÃO DO REPRESENTANTE)
firmam o presente Acordo de Cooperação Fede-
A institucionalização do SNC deverá ter como rativa, que irá reger-se pelas disposições da Lei
instrumento legal de maior força jurídica e nº 8.666/93 em especial o Artigo 116, da Lei nº
política a sua inserção na Constituição, por 8.313/91 e demais disposições legais pertinen-
meio de emenda constitucional. Nesse sen- tes, no que couber, tendo como justas e acorda-
tido é fundamental a aprovação da PEC Nº das as seguintes cláusulas e condições:
416/2005. Por sua natureza, de abordagem
geral e muito sintética, é necessário além da cláusula primeira – do objeto
emenda constitucional, ser também aprova-
da uma lei complementar ou ordinária que O presente Acordo de Cooperação Federati-
defina a estrutura e detalhe o funcionamento va tem por objeto estabelecer as condições
do Sistema. Com a garantia jurídico-política e orientar a instrumentalização necessária
assegurada com a aprovação da PEC, o me- para o desenvolvimento do Sistema Nacional
lhor caminho é o da lei ordinária, de mais fá- de Cultura – SNC – com implementação coor-
cil e rápida aprovação no Congresso. A seguir, denada e/ou conjunta de programas, projetos
os decretos e portarias normatizando e deta- e ações no âmbito da competência do Estado.
lhando os procedimentos.
cláusula segunda – do sistema
Esse processo institucional deve iniciar-se nacional de cultura
imediatamente com a assinatura do Acordo
de Cooperação Federativa, que já define os O Sistema Nacional de Cultura (SNC) se cons-
compromissos dos entes federados para a titui num instrumento de articulação, gestão,
construção do SNC. informação, formação, fomento e promoção
de políticas públicas de cultura com participação
2.10.4.1 Acordo de Cooperação Federativa e controle da sociedade civil, envolvendo todos
os entes federados. Tem como objetivo formular
O Acordo de Cooperação Federativa dá conti- e implantar políticas públicas de cultura, demo-
nuidade ao protocolo de intenções cuja vigên- cráticas e permanentes, pactuadas entre os en-
cia esgotou-se no final de 2006. Firmado entre tes da federação e a sociedade civil, promovendo
a União, por intermédio do Ministério da Cul- o desenvolvimento – humano, social e econômi-
tura – MinC e os estados, o Distrito Federal e co – com pleno exercício dos direitos culturais e
os municípios, tem por objeto estabelecer as amplo acesso a bens e a serviços culturais.
condições e orientar a instrumentalização ne-
cessária para o desenvolvimento do SNC, com Parágrafo Primeiro. Constitui a estrutura do
implementação coordenada e/ou conjunta de SNC, nas respectivas esferas de governo, ór-
programas, projetos e ações, em especial o Pro- gãos gestores da cultura, conselhos de política
grama Mais Cultura. cultural, conferências de cultura, sistemas de
financiamento, em especial, fundos de fomen-
2.10.4.1.1 Minuta do Acordo de Cooperação to à cultura, planos de cultura, sistemas seto-
Federativa com os Estados e Distrito Federal riais de cultura, comissões intergestores, siste-
mas de informações e indicadores culturais e
acordo de cooperação federativa que programas de formação na área da cultura.
entre si firmam a união, por intermé-
dio do ministério da cultura – minc e o Parágrafo Segundo. Os Órgãos Gestores de-
estado de , visando ao vem apresentar periodicamente relatórios de
desenvolvimento do sistema nacional gestão para avaliação nas instâncias de con-
de cultura. trole social do SNC.

A UNIÃO, por intermédio do MINISTÉRIO DA Parágrafo Terceiro. As diretrizes de gestão cultu-


CULTURA – MinC, inscrito no CNPJ/MF sob o n° ral serão definidas por meio das respectivas Con-
01.264.142/0002-00, situado na Esplanada dos ferências e Conselhos de Política Cultural, com-
Ministérios, Bloco “B”, Brasília – Distrito Federal, postos por no mínimo, 50% de representantes da
neste ato representado pelo seu representante sociedade civil, eleitos democraticamente.

Sistema Nacional de Cultura 67


cláusula terceira – dos princípios interação da cultura com as demais áreas
do snc: sociais, destacando seu papel estratégico no
processo de desenvolvimento;
O Sistema Nacional de Cultura – SNC rege-se
pelos seguintes princípios: d Promover o intercâmbio entre os entes
federados para a formação, capacitação
a diversidade das expressões culturais; e circulação de bens e serviços culturais,
viabilizando a cooperação técnica entre estes;
b universalização do acesso aos bens
e serviços culturais; e Criar instrumentos de gestão para acom-
panhamento e avaliação das políticas
c fomento à produção, difusão e circulação de públicas de cultura desenvolvidas no âmbito
conhecimento e bens culturais; do SNC;

d cooperação entre os entes federados, os f Estabelecer parcerias entre os setores público


agentes públicos e privados atuantes na área e privado nas áreas de gestão e de promoção
cultural; da cultura;

e integração e interação na execução cláusula quinta


das políticas, programas, projetos e – dos compromissos pactuados
ações desenvolvidas;
Para o alcance dos objetivos propostos, os
f complementaridade nos papeis dos partícipes, no âmbito de suas competências,
agentes culturais; comprometem-se a promover as condições
institucionais voltadas para:
g transversalidade das políticas culturais;
a Implantação dos sistemas setoriais de Cultu-
h autonomia dos entes federados e das ra, com vistas à articulação e integração das
instituições da sociedade civil; diversas áreas da cultura brasileira, atenden-
do sempre aos princípios de participação e
i transparência e compartilhamento controle social;
das informações;
b Elaboração e efetivação dos planos de cultura
j democratização dos processos decisórios com nas respectivas esferas de competência;
participação e controle social;
c Realização de conferências de cultura no
k descentralização articulada e pactuada da âmbito de suas competências, para for-
gestão, dos recursos e das ações.25 talecimento do processo participativo de
discussão de políticas públicas de cultura,
cláusula quarta – dos objetivos do snc: conforme cláusula sétima deste Acordo
de Cooperação;
O SNC, atendendo às diretrizes previstas no
Plano Nacional de Cultura, tem por objetivos: d Fortalecimento, integração e otimização dos
mecanismos de financiamento específicos
a Articular os entes federados visando para cultura, nas suas esferas administrativas;
o desenvolvimento de políticas, programas,
projetos e ações conjuntas no campo e Criação, instalação, implementação e/ou
da cultura. fortalecimento de um processo participativo
de formulação de políticas públicas de
b Estabelecer um processo democrático de cultura, estimulando a criação de Fóruns,
participação na gestão das políticas e dos Colegiados e Conselhos de Política Cultural,
recursos públicos na área cultural; que atuarão de forma integrada;

c Promover a articulação e implementação f Criação e implantação, ou manutenção de


de políticas públicas que promovam a

25 Para compatibilizar com a forma aprovada pela Comissão Especial da PEC nº 416/2005, apresentada na página 97, foi acrescida a alínea “l”, ficando com a seguinte
redação: “l) ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos públicos para a cultura”. (N.E.)

68
órgão específico de gestão da política cultural Nacional de Cultura;
em sua esfera administrativa;
i Implantar e coordenar o Sistema Nacional de
g Criação e implementação de comissões Informações e Indicadores Culturais;
intergestores para operacionalização do
Sistema Nacional de Cultura; j Criar e implementar o Programa Nacional
de Formação na Área da Cultura e articular,
h Implantação e publicização do Sistema em âmbito nacional, a formação de uma
Nacional de Informações e Indicadores rede de instituições de formação na área
Culturais, conforme cláusula décima deste da cultura;
acordo de cooperação;
k Criar o Sistema Nacional de Financiamento
i Integração de programas e projetos de à Cultura, aprimorando, articulando e
capacitação e aprimoramento de setores e fortalecendo os diversos mecanismos de
instituições culturais específicos; e financiamento da cultura, em especial, o Fundo
Nacional da Cultura, no âmbito da União;
j Fomento ao fluxo de projetos em
circuitos culturais; l Compartilhar recursos para a execução
de programas, projetos e ações culturais,
Parágrafo Único. Os resultados devem ser no âmbito do SNC, nos termos da Portaria
concretizados durante a vigência deste acordo Interministerial MP/MF/CGU nº127/08;
de cooperação.
m Acompanhar a execução de programas e
cláusula sexta – das obrigações projetos culturais, no âmbito do SNC;
dos partícipes
n Fomentar e regulamentar a constituição de
São obrigações dos partícipes: sistemas setoriais nacionais de cultura;

I – Ao Ministério da Cultura incumbe: o Fomentar, no que couber, a integração/


consorciamento de Estados e de Municípios
a Coordenar e desenvolver o Sistema Nacional para a promoção de metas culturais;
de Cultura – SNC;
p Designar, formalmente, responsável pelo
b Criar condições de natureza legal, acompanhamento dos compromissos
administrativa, participativa e orçamentária decorrentes do pactuado neste Acordo e em
para o desenvolvimento do Sistema Nacional seus Planos de Trabalhos.
de Cultura;
II – Ao ESTADO incumbe:
c Apoiar a criação, a implementação e o
desenvolvimento dos Sistemas Estaduais, a Criar, coordenar e desenvolver o Sistema
Municipais e Distrital de Cultura; Estadual de Cultura – SEC;

d Elaborar, em conjunto com a sociedade, b Integrar-se ao Sistema Nacional de Cultura;


institucionalizar e implementar o Plano
Nacional de Cultura; c Criar condições de natureza legal,
administrativa, participativa e orçamentária
e Manter ativo e fortalecer o Conselho Nacional para sua integração ao Sistema Nacional
de Política Cultural; de Cultura;

f Realizar, pelo menos a cada quatro anos, as d Criar e implementar a Comissão Intergestores
Conferências Nacionais de Cultura; Bipartite para operacionalização do Sistema
Estadual de Cultura;
g Apoiar a realização das conferências
estaduais, municipais e distrital de Cultura; e Apoiar a criação, a implementação e o desenvol-
vimento dos Sistemas Municipais de Cultura;
h Criar e implementar a Comissão Intergestores
Tripartite para operacionalização do Sistema

Sistema Nacional de Cultura 69


f Elaborar, em conjunto com a sociedade, de Cooperação, consideradas as obrigações de
institucionalizar e implementar o Plano cada partícipe, serão detalhados em Plano de
Estadual de Cultura; Trabalho, parte integrante deste instrumento, e
dos quais constará o rol de atividades, o crono-
g Criar e implantar ou reestruturar o Conselho grama de execução e metas a serem atingidas.
Estadual de Política Cultural, garantindo
o funcionamento e a composição de, no Parágrafo Segundo. A elaboração dos Planos
mínimo, 50% de representantes da Sociedade de Trabalho deverá ser realizada em comum
Civil, eleitos democraticamente; acordo entre as partes, a partir da publicação
deste Acordo de Cooperação no Diário Oficial
h Criar e implantar, manter ou reestruturar da União.
o Sistema Estadual de Financiamento
à Cultura, em especial o Fundo Estadual de cláusula sétima – da implementação
Cultura, garantindo recursos para o de programas
seu funcionamento;
A implementação coordenada e/ou conjunta
i Apoiar a realização das Conferências de programas, projetos e ações, negociada en-
Municipais de Cultura e realizar as tre as partes, será formalizada em instrumen-
Conferências Estaduais de Cultura, tos específicos, os quais serão parte integrante
previamente às Conferências Nacionais, deste, independente de transcrição.
seguindo o calendário estabelecido pelo
Ministério da Cultura; cláusula oitava – das conferências

j Apoiar a realização e participar das As Conferências de Cultura deverão ser con-


Conferências Nacionais de Cultura; vocadas pelo Poder Executivo, no âmbito das
respectivas esferas de atuação, com a finali-
k Compartilhar recursos para a execução de dade de definir as diretrizes e prioridades dos
programas, de projetos e de ações culturais no planos de cultura.
âmbito do SNC;
Parágrafo Único. O Ministério da Cultura co-
l Compartilhar informações por meio ordenará e convocará as Conferências Nacio-
do Sistema Nacional de Informações e nais de Cultura, a serem realizadas, pelo me-
Indicadores Culturais disponibilizado nos a cada quatro anos, definindo o período
pela União; para realização das Conferências Municipais e
Estaduais, que a antecederão.
m Criar e implementar o Programa Estadual de
Formação na Área da Cultura, articulado com cláusula nona – dos conselhos
o Programa Nacional de Formação na Área
da Cultura; Os Conselhos de Política Cultural constituem
espaços de pactuação de políticas públicas de
n Implantar e regulamentar as normas cultura, devendo apresentar, pelo menos, as
específicas locais dos sistemas setoriais seguintes competências:
de cultura;
a Elaborar e aprovar os planos de cultura
o Fomentar a participação social por meio da a partir das orientações aprovadas nas
criação de Fóruns Estaduais de Cultura. conferências, no âmbito das respectivas
esferas de atuação;
p Promover a integração com Municípios e
a União, para a promoção de metas b Acompanhar a execução dos respectivos
culturais conjuntas, inclusive por meio de planos de cultura;
consórcios públicos;
c Apreciar e aprovar as diretrizes dos Fundos de
q Designar, formalmente, responsável pelo acom- Cultura no âmbito das respectivas esferas
panhamento dos compromissos decorrentes de competência;
deste Acordo e de seus Planos de Trabalho.
d Fiscalizar a aplicação dos recursos recebidos
Parágrafo Primeiro. Os compromissos a serem em decorrência das transferências entre os
desenvolvidos em decorrência deste Acordo

70
entes da federação; b Atuar na interlocução com o Governo Federal
e demais entes da Federação no sentido de
e Acompanhar o cumprimento das diretrizes e desenvolver o Sistema Nacional de Cultura;
instrumentos de financiamento da cultura.
c Coordenar o processo de realização das
Parágrafo Único. Os Conselhos de Política conferências estaduais de cultura;
Cultural terão caráter deliberativo e consul-
tivo e serão compostos por no mínimo 50% d Fornecer e atualizar as informações
de representantes da sociedade civil, elei- solicitadas para o Sistema Nacional de
tos democraticamente. Informações e Indicadores Culturais;

cláusula décima – do sistema nacional e Participar das atividades e ações executadas


de informações e indicadores culturais pelo Ministério da Cultura, relativas ao Sistema
Nacional de Cultura, quando for solicitado.
O Sistema Nacional de Informações e Indica-
dores Culturais será constituído de bancos de cláusula décima segunda
dados, disponibilizados ao público, referen- – da divulgação
tes a bens, aos serviços, à infraestrutura, aos
investimentos, à produção, ao acesso, ao con- os partícipes deverão dar, de forma pública e
sumo, aos agentes, aos programas, às institui- impessoal, ampla divulgação das ações e dos
ções, à gestão cultural, entre outras. resultados alcançados em decorrência deste
Acordo de Cooperação, de modo a manter a
Parágrafo Primeiro. Caberá ao Ministério da sociedade informada e integrada ao Sistema
Cultura desenvolver, implantar e manter o Sis- Nacional de Cultura.
tema Nacional de Informações e Indicadores
Culturais, responsabilizando-se pelo gerencia- Parágrafo Único. Utilizar e respeitar os pa-
mento do sistema informatizado e pela publi- drões de identidade visual do SNC, de progra-
cização das informações. mas, de projetos e de ações desenvolvidas em
conjunto, aplicando as regras vigentes duran-
Parágrafo Segundo. Caberá ao Estado desig- te os períodos eleitorais.
nar responsável pela alimentação das infor-
mações no Sistema Nacional de Informações cláusula décima terceira – da vigência,
e Indicadores Culturais, conforme orientação modificação ou prorrogação
do Ministério da Cultura.
O prazo de vigência do presente Acordo de Co-
cláusula décima primeira operação é da data de sua celebração até 31 de
– do acompanhamento dezembro de 2011, podendo ser modificado, a
qualquer tempo, ou prorrogado, subseqüente-
Cada partícipe designará pessoa ou órgão res- mente, mediante termos aditivos.
ponsável para o acompanhamento deste Acordo
de Cooperação, o qual terá incumbência de dar Parágrafo Primeiro. Eventuais dúvidas ou
cumprimento às obrigações pactuadas, detalha- controvérsias decorrentes da aplicação deste
das em metas descritas no Plano de Trabalho e Acordo ou de seus anexos deverão ser dirimi-
encaminhamento dos assuntos pertinentes. das entre as partes.

Parágrafo Único O Estado encaminhará ao cláusula décima quarta – da rescisão


Ministério da Cultura, no prazo de 30 dias
após a publicação do instrumento, a indi- O presente instrumento poderá ser denun-
cação do responsável, preferencialmente o ciado ou rescindido pelos partícipes a qual-
dirigente do órgão específico de gestão da quer momento, ficando as partes responsá-
política cultural no âmbito estadual, que será veis pelas obrigações assumidas durante o
responsável por: tempo de vigência.

a Desenvolver os compromissos pactuados no cláusula décima quinta – do foro


Plano de Trabalho para alcance dos objetivos
do Sistema Nacional de Cultura; O Foro para dirimir litígios na execução deste
Acordo de Cooperação é o da Justiça Federal,
Seção de Brasília, Distrito Federal.

Sistema Nacional de Cultura 71


E por estarem de pleno acordo, firmam o pre- de cultura
sente Acordo de Cooperação em três vias de
igual teor e forma, perante as testemunhas O Sistema Nacional de Cultura (SNC) se cons-
abaixo qualificadas: titui num instrumento de articulação, gestão,
informação, formação, fomento e promoção
, de de de políticas públicas de cultura com participa-
ção e controle da sociedade civil, envolvendo
todos os entes federados. Tem como objetivo
Representante do Ministério da Cultura formular e implantar políticas públicas de cul-
tura, democráticas e permanentes, pactuadas
entre os entes da federação e a sociedade civil,
Representante do Estado de promovendo o desenvolvimento – humano,
social e econômico – com pleno exercício dos
Testemunhas: direitos culturais e amplo acesso a bens e a
serviços culturais.

Nome / RG Parágrafo Primeiro. Constitui a estrutura do


SNC, nas respectivas esferas de governo, órgãos
gestores da cultura, conselhos de política cultu-
Nome / RG ral, conferências de cultura, sistemas de finan-
ciamento, em especial, fundos de fomento à
cultura, planos de cultura, sistemas setoriais de
2.10.4.1.2 Minuta do Acordo de Cooperação cultura, comissões intergestores, sistemas de in-
Federativa com os Municípios formações e indicadores culturais e programas
de formação na área da cultura.
acordo de cooperação federativa que en-
tre si firmam a união, por intermédio do Parágrafo Segundo. Os Órgãos Gestores devem
ministério da cultura – minc e o município apresentar periodicamente relatórios de gestão
de , visando ao desenvolvimen- para avaliação nas instâncias de controle social
to do sistema nacional de cultura. do SNC.

A UNIÃO, por intermédio do MINISTÉRIO DA Parágrafo Terceiro. As diretrizes de ges-


CULTURA – MinC, inscrito no CNPJ/MF sob o n° tão cultural serão definidas por meio das
01.264.142/0002-00, situado na Esplanada dos respectivas Conferências e Conselhos de
Ministérios, Bloco “B”, Brasília – Distrito Federal, Política Cultural, compostos por no míni-
neste ato representado pelo seu representante mo, 50% de representantes da sociedade
legal, (QUALIFICAÇÃO DO REPRESENTANTE) e o civil,eleitos democraticamente.
MUNICÍPIO DE , (QUALIFICAÇÃO DO
MUNICÍPIO) representado pelo seu represen- cláusula terceira – dos princípios do snc:
tante legal (QUALIFICAÇÃO DO REPRESENTAN-
TE) firmam o presente Acordo de Cooperação o Sistema Nacional de Cultura – SNC – rege-se
Federativa, que irá reger-se pelas disposições da pelos seguintes princípios:
Lei nº 8.666/93 em especial o artigo 116, da Lei nº
8.313/91 e demais disposições legais pertinentes, a diversidade das expressões culturais;
no que couber, tendo como justas e acordadas as
seguintes cláusulas e condições: b universalização do acesso aos bens e
serviços culturais;
cláusula primeira – do objeto
c fomento à produção, difusão e circulação de
O presente Acordo de Cooperação Federativa conhecimento e bens culturais;
tem por objeto estabelecer as condições e orien-
tar a instrumentalização necessária para o de- d cooperação entre os entes federados, os
senvolvimento do Sistema Nacional de Cultura agentes públicos e privados atuantes na
– SNC – com implementação coordenada e/ou área cultural;
conjunta de programas, projetos e ações, no âm-
bito da competência do Município. e integração e interação na execução
das políticas, programas, projetos e
cláusula segunda – do sistema nacional ações desenvolvidas;

72
f complementaridade nos papéis dos institucionais voltadas para:
agentes culturais;
a Implantação dos Sistemas setoriais de
g transversalidade das políticas culturais; Cultura, com vistas à articulação e integração
das diversas áreas da cultura brasileira,
h autonomia dos entes federados e das atendendo sempre aos princípios de
instituições da sociedade civil; participação e controle social;

i transparência e compartilhamento das b Elaboração e efetivação dos planos de cultura


informações; nas respectivas esferas de competência;

j democratização dos processos decisórios c Realização de conferências de cultura


com participação e controle social; no âmbito de suas competências, para
fortalecimento do processo participativo
k descentralização articulada e pactuada da de discussão de políticas públicas de
gestão, dos recursos e das ações.26 cultura, conforme cláusula sétima deste
Acordo de Cooperação;
cláusula quarta – dos objetivosdo snc:
d Fortalecimento, integração e otimização dos
o SNC, atendendo às diretrizes previstas no mecanismos de financiamento específicos
Plano Nacional de Cultura, tem por objetivos: para cultura, nas suas esferas administrativas;

a Articular os entes federados visando o e Criação, instalação, implementação e/


desenvolvimento de políticas, programas, ou fortalecimento de um processo
projetos e ações conjuntas no campo da cultura. participativo de formulação de políticas
públicas de cultura, estimulando PROFIC a
b Estabelecer um processo democrático de criação de Fóruns, Colegiados e Conselhos
participação na gestão das políticas e dos de Política Cultural, que atuarão de PROFIC
recursos públicos na área cultural; forma integrada;

c Promover a articulação e implementação de f Criação e implantação, ou manutenção


políticas públicas que promovam a interação de órgão específico de gestão da política
da cultura com as demais áreas sociais, cultural em sua esfera administrativa;
destacando seu papel estratégico no processo
de desenvolvimento; g Criação e implementação de comissões
intergestores para operacionalização do
d Promover o intercâmbio entre os entes Sistema Nacional de Cultura;
federados para a formação, capacitação
e circulação de bens e serviços culturais, h Implantação e publicização do Sistema
viabilizando a cooperação técnica entre estes; Nacional de Informações e Indicadores
Culturais, conforme cláusula décima deste
e Criar instrumentos de gestão para acompan- acordo de cooperação;
hamento e avaliação das políticas públicas de
cultura desenvolvidas no âmbito do SNC; i Integração de programas e projetos de
capacitação e aprimoramento de setores e
f Estabelecer parcerias entre os setores público instituições culturais específicos; e
e privado nas áreas de gestão e de promoção
da cultura; j Fomento ao fluxo de projetos em
circuitos culturais;
cláusula quinta
– dos compromissos pactuados Parágrafo Único. Os resultados devem ser
concretizados durante a vigência deste acordo
Para o alcance dos objetivos propostos, os de cooperação.
partícipes, no âmbito de suas competências,
comprometem-se a promover as condições cláusula sexta – das obrigações

26 Para compatibilizar com a forma aprovada pela Comissão Especial da PEC nº 416/2005, apresentada na página 97, foi acrescida a alínea “l”, ficando com a seguinte
redação: “l) ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos públicos para a cultura”. (N.E.)

Sistema Nacional de Cultura 73


dos partícipes n Fomentar e regulamentar a constituição de
sistemas setoriais nacionais de cultura;
São obrigações dos partícipes:
o Fomentar, no que couber, a integração/
I – Ao Ministério da Cultura incumbe: consorciamento de Estados e de Municípios
para a promoção de metas culturais;
a Coordenar e desenvolver o Sistema Nacional
de Cultura – SNC; p Designar formalmente responsável pelo
acompanhamento dos compromissos
b Criar condições de natureza legal, administra- decorrentes do pactuado neste Acordo e em
tiva, participativa e orçamentária para desen- seus Planos de Trabalhos.
volvimento do Sistema Nacional de Cultura;
II – Ao Município incumbe:
c Apoiar a criação, a implementação e o
desenvolvimento dos Sistemas Estaduais, a Criar, coordenar e desenvolver o Sistema
Municipais e Distrital de Cultura; Municipal de Cultura – SMC;

d Elaborar, em conjunto com a sociedade, b Integrar-se ao Sistema Nacional de Cultura;


institucionalizar e implementar o Plano
Nacional de Cultura; c Criar condições de natureza legal, adminis-
trativa, participativa e orçamentária para sua
e Manter ativo e fortalecer o Conselho Nacional integração ao Sistema Nacional de Cultura;
de Política Cultural;
d Integrar-se ao Sistema Estadual de Cultura;
f Realizar, pelo menos a cada quatro anos, as
Conferências Nacionais de Cultura; e Apoiar a criação e implementação da Comissão
Intergestores Bipartite para operacionalização
g Apoiar a realização das conferências do Sistema Estadual de Cultura;
estaduais, municipais e distrital de Cultura;
f Elaborar, em conjunto com a sociedade,
h Criar e implementar a Comissão institucionalizar e implementar o Plano
Intergestores Tripartite para Municipal de Cultura;
operacionalização do Sistema Nacional
de Cultura; g Criar e implantar ou reestruturar o Conselho
Municipal de Política Cultural, garantindo
i Implantar e coordenar o Sistema Nacional de o funcionamento e a composição de, no
Informações e Indicadores Culturais; mínimo, 50% de representantes da Sociedade
Civil, eleitos democraticamente;
j Criar e implementar o Programa Nacional de
Formação na Área da Cultura e articular, em h Criar e implantar, manter ou reestruturar
âmbito nacional, a formação de uma rede de o Sistema Municipal de Financiamento à
instituições de formação na área da cultura; Cultura, em especial o Fundo Municipal
de Cultura, garantindo recursos para o
k Criar o Sistema Nacional de Financiamento seu funcionamento;
à Cultura, aprimorando, articulando e
fortalecendo os diversos mecanismos de i Realizar as Conferências Municipais de
financiamento da cultura, em especial o Fundo Cultura, previamente às Conferências
Nacional da Cultura, no âmbito da União; Estaduais e Nacionais, seguindo o calendário
estabelecido pelo Ministério da Cultura;
l Compartilhar recursos para a execução
de programas, projetos e ações culturais, j Apoiar a realização e participar das
no âmbito do SNC, nos termos da Portaria Conferências Estaduais e Nacionais de Cultura;
Interministerial MP/MF/CGU nº127/08;
k Compartilhar recursos para a execução de
m Acompanhar a execução de programas e programas, de projetos e de ações culturais
projetos culturais, no âmbito do SNC; no âmbito do SNC;

l Compartilhar informações por meio do

74
Sistema Nacional de Informações e Indica- odo para realização das Conferências Muni-
dores Culturais disponibilizado pela União; cipais e Estaduais, que a antecederão.

m Apoiar e participar do Programa Estadual cláusula nona – dos conselhos


de Formação na Área da Cultura;
Os Conselhos de Política Cultural constituem
n Implantar e regulamentar as normas específi- espaços de pactuação de políticas públicas
cas locais dos sistemas setoriais de cultura; de cultura, devendo apresentar, pelo menos,
as seguintes competências:
o Fomentar a participação social por meio da
criação de Fóruns Municipais de Cultura. a Elaborar e aprovar os planos de cultura
a partir das orientações aprovadas nas
p Promover a integração com outros conferências, no âmbito das respectivas
Municípios, com o Estado e a União, para esferas de atuação;
a promoção de metas culturais conjuntas,
inclusive por meio de consórcios públicos; b Acompanhar a execução dos respectivos
planos de cultura;
q Designar formalmente responsável pelo
acompanhamento dos compromissos c Apreciar e aprovar as diretrizes dos Fundos
decorrentes deste Acordo e de seus Planos de Cultura no âmbito das respectivas
de Trabalho. esferas de competência;

Parágrafo Primeiro. Os compromissos a serem d Fiscalizar a aplicação dos recursos recebidos


desenvolvidos em decorrência deste Acordo em decorrência das transferências entre os
de Cooperação, consideradas as obrigações de entes da Federação;
cada participe, serão detalhados em Plano de
Trabalho, parte integrante deste instrumento, e e Acompanhar o cumprimento das
dos quais constará o rol de atividades, o crono- diretrizes e instrumentos de financiamento
grama de execução e metas a serem atingidas. da cultura.

Parágrafo Segundo. A elaboração dos Pla- Parágrafo Único. Os Conselhos de Política


nosde Trabalho deverá ser realizada em Cultural terão caráter deliberativo e consul-
comum acordo entre as partes, a partir da tivo e serão compostos por, no mínimo, 50%
publicação deste Acordo de Cooperação no de representantes da sociedade civil, elei-
Diário Oficial da União. tos democraticamente.

cláusula sétima – da implementação cláusula décima – do sistema nacional


de programas de informações e indicadores culturais

A implementação coordenada e/ou conjunta O Sistema Nacional de Informações e Indi-


de programas, projetos e ações, negociada en- cadores Culturais será constituído de bancos
tre as partes, será formalizada em instrumen- de dados, disponibilizados ao público, refe-
tos específicos, os quais serão parte integrante rentes a bens, aos serviços, à infraestrutura,
deste, independentemente de transcrição. aos investimentos, à produção, ao acesso, ao
consumo, aos agentes, aos programas, às ins-
cláusula oitava – das conferências tituições, à gestão cultural, entre outras.

As Conferências de Cultura deverão ser con- Parágrafo Primeiro. Caberá ao Ministério


vocadas pelo Poder Executivo, no âmbito das da Cultura desenvolver, implantar e manter
respectivas esferas de atuação, com a fina- o Sistema Nacional de Informações e Indi-
lidade de definir as diretrizes e prioridades cadores Culturais, responsabilizando-se pelo
dos planos de cultura. gerenciamento do sistema informatizado e
pela publicização das informações.
Parágrafo Único. O Ministério da Cultura
coordenará e convocará as Conferências Na- Parágrafo Segundo. Caberá ao Município
cionais de Cultura, a serem realizadas, pelo designar responsável pela alimentação das
menos a cada quatro anos, definindo o perí- informações no Sistema Nacional de Infor-

Sistema Nacional de Cultura 75


mações e Indicadores Culturais, conforme cláusula décima terceira – da vigência,
orientação do Ministério da Cultura. modificação ou prorrogação

cláusula décima primeira O prazo de vigência do presente Acordo de


– do acompanhamento Cooperação é da data de sua celebração até 31
de dezembro de 2011, podendo ser modifica-
Cada partícipe designará pessoa ou órgão do, a qualquer tempo, ou prorrogado, subse-
responsável para o acompanhamento deste qüentemente, mediante termos aditivos.
Acordo de Cooperação, o qual terá incum-
bência de dar cumprimento às obrigações Parágrafo Primeiro. Eventuais dúvidas ou
pactuadas, detalhadas em metas descritas controvérsias decorrentes da aplicação deste
no Plano de Trabalho e encaminhamento dos Acordo ou de seus anexos deverão ser dirimi-
assuntos pertinentes. das entre as partes.

Parágrafo Único O Município encaminhará cláusula décima quarta – da rescisão


ao Ministério da Cultura, no prazo de 30 dias
após a publicação do instrumento, a indica- O presente instrumento poderá ser denuncia-
ção do responsável, preferencialmente o di- do ou rescindido pelos partícipes a qualquer
rigente do órgão específico de gestão da po- momento, ficando as partes responsáveis pe-
lítica cultural no âmbito municipal, que será las obrigações assumidas durante o tempo
responsável por: de vigência.

a Desenvolver os compromissos pactuados no cláusula décima quinta – do foro


Plano de Trabalho para alcance dos objetivos
do Sistema Nacional de Cultura; O Foro para dirimir litígios na execução deste
Acordo de Cooperação é o da Justiça Federal,
b Atuar na interlocução com o Governo Seção de Brasília, Distrito Federal.
Federal e demais entes da Federação no
sentido de desenvolver o Sistema Nacional E por estarem de pleno acordo, firmam o pre-
de Cultura; sente Acordo de Cooperação em três vias de
igual teor e forma, perante as testemunhas
c Coordenar o processo de realização das abaixo qualificadas:
conferências municipais de cultura;
, de de
d Fornecer e atualizar as informações
solicitadas para o Sistema Nacional de
Informações e Indicadores Culturais; Representante do Ministério da Cultura

e Participar das atividades e ações


executadas pelo Ministério da Cultura, Representante do Município de
relativas ao Sistema Nacional de Cultura,
quando for solicitado. Testemunhas:

cláusula décima segunda – da


divulgação Nome / RG

Os partícipes deverão dar, de forma pública e


impessoal, ampla divulgação das ações e dos Nome / RG
resultados alcançados em decorrência deste
Acordo de Cooperação, de modo a manter a
sociedade informada e integrada ao Sistema 2.10.4.2 PEC Nº 416/2005, que Institui o Sistema
Nacional de Cultura. Nacional de Cultura

Parágrafo Único. Utilizar e respeitar os pa- A partir da estrutura pactuada entre os entes
drões de identidade visual do SNC, de pro- federados e aprovada pelo Conselho Nacional
gramas, de projetos e de ações desenvolvidas de Política Cultural, foi elaborado um substi-
em conjunto, aplicando as regras vigentes tutivo à Proposta de Emenda Constitucional
durante os períodos eleitorais. nº 416/2005, que institui o Sistema Nacional

76
de Cultura, a ser encaminhada ao relator da Justificação
Comissão Especial do Congresso Nacional que
aprecia a matéria. A cultura é hoje concebida, em todo o mundo,
como base de qualquer tipo de desenvolvi-
proposta original da emenda à mento, inclusive o econômico. No Brasil, tem
constituição nº 416, de 2005 ocupado posição no centro do debate político
e inspirado iniciativas no sentido de se orga-
(Do Sr. Paulo Pimenta e outros) nizar políticas públicas de cultura no País. A
Acrescenta o art. 216-A a Constituição para Constituição de 1988, em seu art. 215, garante
instituir o Sistema Nacional de Cultura. a todos os brasileiros o pleno exercício dos
direitos culturais e o acesso às fontes da cul-
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Se- tura nacional. Assim, tratar a cultura na sua
nado Federal, nos termos do art. 60 da Consti- dimensão mais ampla, como instrumento de
tuição Federal, promulgam a seguinte emen- construção da identidade de um povo, como
da ao texto constitucional: condição de vida, como exercício de cidada-
nia, é uma responsabilidade de Estado que o
Art. 1º. É acrescentado o art. 216-A a Constitui- Brasil precisa assumir.
ção Federal, com a seguinte redação:
As políticas públicas na área cultural têm
“Art. o 216-A. O Sistema Nacional de Cultura, grande desafio pela complexidade e diver-
organizado em regime de colaboração, de for- sidade dos temas a serem tratados. Não
ma horizontal, aberta, descentralizada e parti- basta apenas garantir a fruição dos bens
cipativa, compreende: culturais. Cabe às políticas estatais, nos
seus diversos níveis, criar condições para
I o Ministério da Cultura; a organização de um sistema de gestão
da cultura, assumindo um papel indutor e
II o Conselho Nacional da Cultura; estabelecendo elementos que ampliem o
acesso aos bens culturais. Isso significa de-
III os sistemas de cultura dos Estados, do Distrito bater a qualidade de nosso meio ambiente
Federal e dos Municípios, organizados de cultural no âmbito das cidades como um
forma autônoma e em regime de colaboração, ponto fundamental no contexto da discus-
nos termos da lei; são entre o local e o global.

IV as instituições públicas e privadas que As políticas públicas locais têm um papel


planejam, promovem, fomentam, estimulam, central na ecologia cultural, na qual a cidade
financiam, desenvolvem e executam é o território do diálogo entre os diferentes e
atividades culturais no território nacional, do respeito à pluralidade cultural. Da mesma
conforme a lei; forma que se busca a universalização da ofer-
ta de educação, é preciso que se trabalhe pelo
V os subsistemas complementares ao Sistema acesso irrestrito aos bens culturais.
Nacional de Cultura como o Sistema de
Museus, Sistema de Bibliotecas, Sistema de Um sistema universalizador de gestão da
Arquivos, Sistema de Informações Culturais, cultura deve acolher, como elementos-cha-
Sistema de Fomento e Incentivo à Cultura, ve, a criação dos conselhos de cultura, dos
regulamentados em lei específica. fundos de cultura e das formas de partici-
pação democrática e descentralizada dos
Parágrafo único. O Sistema Nacional de Cul- produtores culturais e das comunidades em
tura estará articulado como os demais siste- geral, além da atuação autônoma e articu-
mas nacionais ou políticas setoriais, em espe- lada das três esferas de governo. Com isso,
cial, da Educação, da Ciência e Tecnologia, do estabelecem-se as bases para implantar os
Turismo, do Esporte, da Saúde, da Comunica- componentes das políticas culturais: forma-
ção, dos Direitos Humanos e do Meio Ambien- ção, criação, produção, distribuição, consu-
te, conforme legislação específica sobre a ma- mo, conservação e fomento.
téria.” (NR)
A partir desses elementos centrais, é possível
Art. 2.º. Esta Emenda entra em vigor na data pensar as políticas culturais como estratégias
de sua publicação. voltadas para o desenvolvimento cultural e
econômico do País, para a garantia do direito

Sistema Nacional de Cultura 77


de acesso aos bens culturais como prerrogati- Art. 1º. É acrescentado o art. 216-A a Consti-
va  essencial da população na construção da tuição Federal, com a seguinte redação:
cidadania e para a defesa da diversidade cul-
tural e das identidades culturais locais frente “Art. 216-A. O Sistema Nacional de Cultura,
à globalização. organizado em regime de colaboração, de
forma horizontal, aberta, descentralizada e
Esta iniciativa vem complementar outras participativa, institui um processo de gestão
ações em tramitação nesta Casa com o e promoção conjunta de políticas públicas de
objetivo de consolidar uma política cultu- cultura, democráticas e permanentes, pactu-
ral para o País. Uma delas é a Proposta de adas entre os entes da federação e a socieda-
Emenda à Constituição nº 306, de 2000, do de, tendo por objetivo promover o desenvol-
Deputado Gilmar Machado e outros, que vimento – humano, social e econômico – com
institui o Plano Nacional de Cultura, apro- pleno exercício dos direitos culturais.
vada pelo Congresso em 2005. Outra ini-
ciativa no mesmo sentido é a Proposta de § 1º O Sistema Nacional de Cultura funda-
Emenda à Constituição nº 150, de 2003, do menta-se na política nacional de cultura e
Deputado Paulo Rocha e outros, que insti- nas suas diretrizes, estabelecidas no Plano
tui a vinculação de receita para a cultura, Nacional de Cultura, e rege-se pelos seguin-
colocando em debate a questão do papel tes princípios:
do Estado como fomentador das atividades
culturais e da previsão orçamentária para a I diversidade das expressões culturais;
efetivação das políticas públicas de cultura.
II universalização do acesso aos bens
De fato, para que sejam efetivas as políti- e serviços culturais;
cas públicas de cultura no Brasil, é preciso
que o Legislativo atue no sentido de conso- III fomento à produção, difusão e circulação de
lidá-las. conhecimento e bens culturais;

Uma das formas de fazê-lo é propor um me- IV cooperação entre os entes federados, os
canismo de aperfeiçoamento da gestão do agentes públicos e privados atuantes
setor cultural, por meio da criação de um na área cultural;
Sistema Nacional de Cultura, nos termos da
presente iniciativa. Contamos, para tanto, V integração e interação na execução das políti-
com o apoio dos nobres Pares. cas, programas, projetos e ações desenvolvidas;

Sala das Sessões, em de de 2005. VI complementaridade nos papéis


Deputado Paulo Pimenta dos agentes culturais;

texto da proposta de substitutivo da VII transversalidade das políticas culturais;


pec nº 416/2005, que institui o sistema
nacional de cultura:27 VIII autonomia dos entes federados e das
instituições da sociedade civil;
proposta de emenda à constituição
nº 416, de 2005 IX transparência e compartilhamento
das informações;
(Do Sr. Paulo Pimenta e outros)
Acrescenta o art. 216-A a Constituição para X democratização dos processos decisórios com
instituir o Sistema Nacional de Cultura. participação e controle social;

As Mesas da Câmara dos Deputados e do XI descentralização articulada e pactuada da


Senado Federal, nos termos do art. 60 da gestão, dos recursos e das ações.
Constituição Federal, promulgam a seguinte
emenda ao texto constitucional: § 2º Constitui a estrutura do Sistema Nacional
de Cultura, nas respectivas esferas de governo,
órgãos gestores da cultura, conselhos de polí-
tica cultural, conferências de cultura, sistemas

27 A proposta foi encaminhada ao relator da Comissão Especial, deputado Paulo Rubem Santiago, e aprovada na forma apresentada na página 97. (N.E.)

78
de financiamento à cultura, planos de cultura, “Art. 216-a A União aplicará anualmente nunca
sistemas setoriais de cultura, comissões inter- menos de dois por cento, os Estados e o Distrito
gestores, sistemas de informações e indicado- Federal, um e meio por cento, e os Municípios,
res culturais e programas de formação na área um por cento, da receita resultante de impostos,
da cultura, em regime de colaboração, organi- compreendida a proveniente de transferências,
zados e regulamentados em leis específicas na preservação do patrimônio cultural brasilei-
pelos entes federados. ro e na produção e difusão da cultura nacional.

§ 3º Os conselhos de política cultural, nas res- § 1º Dos recursos a que se refere o Caput, a
pectivas esferas de governo, devem ter na sua União destinará vinte e cinco por cento aos Es-
composição, no mínimo, 50% (cinquenta por tados e ao Distrito Federal, e vinte e cinco por
cento) de representantes da Sociedade Civil, cento aos Municípios.
eleitos democraticamente.
§ 2º Os critérios de rateio dos recursos destina-
§ 4º As interrelações entre os órgãos gestores, dos aos Estados, ao Distrito Federal, e aos Mu-
sistemas setoriais, instâncias colegiadas e ins- nicípios serão definidos em lei complementar,
trumentos de gestão do Sistema Nacional de observada a contrapartida de cada Ente.
Cultura serão regulamentadas em lei específica.
Art. 2º Esta Emenda entra em vigor na data de
§ 5º Os sistemas de cultura dos Estados, do Dis- sua publicação.
trito Federal e dos Municípios, serão organiza-
dos por leis próprias, de forma autônoma; Justificação

§ 6º O Sistema Nacional de Cultura estará A exemplo do que já ocorre nas áreas de


articulado com os demais sistemas nacionais educação e saúde, a valorização da cultura
ou políticas setoriais, em especial, da Educa- nacional depende de um decisivo e continu-
ção, da Comunicação, da Ciência e Tecnolo- ado apoio governamental. Esta é também a
gia, do Planejamento, do Desenvolvimento regra no resto do mundo, ou, pelo menos, nos
Econômico, do Meio Ambiente, do Turismo, países em que a cultura é considerada como
do Esporte, da Saúde, dos Direitos Humanos e um valor a ser preservado e promovido
da Segurança, conforme legislação específica
sobre a matéria. No nosso caso, em particular, o financia-
mento do Estado tem outra importante
Art. 2.º. Esta Emenda entra em vigor na data função, qual seja a se equalizar o acesso e
de sua publicação. democratizar os benefícios dos produtos
culturais, disseminando-os entre os seg-
2.10.4.3 PEC Nº 150/2003, para Destinação de mentos excluídos da sociedade.
Recursos à Cultura
Estas manifestações não podem ser intei-
proposta de emenda à constituição ramente privatizadas, e as pessoas de bai-
no 150, de 2003 xa renda ou da periferia não podem ser
simplesmente excluídas. Nem se pode ad-
(Do Srs. Paulo Rocha, Gilmar Machado, Zezeu mitir que a cultura seja apenas um aces-
Ribeiro, Fátima Bezerra e outros) sório. A cultura tem que ser entendida
Acrescenta o art. 216-A a Constituição Federal, como espaço de realização da cidadania,
para destinação de recursos à cultura da superação da exclusão social e como
fato econômico, capaz de atrair divisas
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Se- para o país e, internamente, gerar empre-
nado Federal, nos termos do § 3º do art. 60 da go e renda.
Constituição Federal, promulgam a seguinte
Emenda ao texto constitucional: Assim compreendida, a cultura se impõe,
desde logo, no âmbito dos deveres estatais. É
Art. 1º É acrescentado o art. 216-A a Constitui- um espaço onde o Estado deve intervir. Mas
ção Federal, com a seguinte redação: não segundo a velha cartilha estatizante,
mas como um formulador de políticas pú-
blicas e estimulador da produção cultural.

Sistema Nacional de Cultura 79


A opção para o atendimento a esta neces- nossa Carta Magna deixou uma lacuna que
sidade reside na vinculação de receitas – será preenchida pela presente proposta de
apenas tributárias, apenas de impostos – Emenda Constitucional.
aplicando parte delas e transferindo outra
para os demais Entes, possibilitando, in- Quando nosso legislador constitucional re-
clusive, a adoção de programas nacionais, conhece como direitos sociais a educação,
sob a forma de participação conjunta. a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a se-
gurança, a previdência social, a proteção à
Por estas razões, espero o amplo e decidido maternidade e à infância e a assistência aos
apoio de meus Pares. desamparados, está deixando de fora desse
rol magnífico de direitos sociais a cultura,
Sala das Comissões, em de de 2003. um bem material e imaterial que a todos
pertence como direito social natural.
Deputado Paulo Rocha
PT/PA De fato, cultura, na sua acepção antropoló-
Deputado Gilmar Machado gica, como aqui tratada, é uma dimensão
PT/MG humana essencial, da qual decorrem todos
Deputado Zezeu Ribeiro aqueles outros direitos sociais listados atu-
PT/BA almente na Constituição Federal. Assim,
Deputada Fátima Bezerra não é demais lembrar que a cultura está na
PT/RN base da educação, da saúde, do trabalho, da
moradia, do lazer, da segurança, da previ-
dência social, da proteção à maternidade e
2.10.4.4 PEC Nº 236/2008, para Inserção da à infância e da assistência aos desampara-
Cultura no Rol dos Direitos Sociais no dos, posto que cultura é o esteio da huma-
Art. 6º da Constituição Federal nização – o nosso modo singular de pensar
e de fazer.
proposta de emenda à constituição
nº 236, de 2008 Estamos convencidos de que a PEC ora
apresentada irá restabelecer a completude
(Do Sr. JOSÉ FERNANDO APARECIDO DE que faltava ao artigo 6º do texto constitucional.
OLIVEIRA E OUTROS)
Dá nova redação ao art. 6º, sobre direitos Desse modo, esperamos merecer o apoio
sociais, da Constituição Federal. dos nossos nobres colegas no Congresso
Nacional, no sentido de aprovar a propos-
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Se- ta legislativa ora encetada junto à Câmara
nado Federal, nos termos do art. 60 da Consti- dos Deputados.
tuição Federal, promulgam a seguinte Emen-
da ao texto constitucional: Sala das Sessões, em 13 de março de 2008.

Art. 1º. O art. 6º da Constituição Federal passa Deputado José Fernando Aparecido
a vigorar com a seguinte redação: De Oliveira

“Art 6º. São direitos sociais a educação, a cul- 2.10.4.5 Projeto de Lei Nº 6.835 que Institui o
tura, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, Plano Nacional de Cultura 28
a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos Compatibilizar o texto do substitutivo do
desamparados, na forma desta Constitui- Projeto de Lei Nº 6.835 com essa proposta
ção.” (NR) do Sistema Nacional de Cultura, enrique-
cendo o Plano com uma melhor definição
Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em do perfil, constituição, funcionamento,
vigor na data de sua publicação. mecanismos de interrelação entre os com-
ponentes e instâncias de articulação, pac-
Justificação tuação e deliberação do SNC. Deve destacar
o modelo de gestão compartilhada e acres-
Ao listar os direitos sociais no seu artigo 6º, centar na relação dos novos elementos
constitutivos do SNC: a Comissão Interges-

80
tores Tripartite – CIT, no plano nacional e passando o mesmo a ter a seguinte redação:
as Comissões Intergestores Bipartite – CIB,
nos Estados. IX   a necessidade de formação, capacitação e
aperfeiçoamento de recursos humanos para a
2.10.4.6 Projeto de Lei que Institui o Programa gestão, produção e a difusão cultural;
de Fomento e Incentivo à Cultura –
PROFIC 29 alteração 3

As alterações propostas ao Projeto de Lei que O Inciso I do Art. 5º do PL PROFIC dispõe que
institui o Programa Nacional de Fomento e compete à Comissão Nacional de Incentivo à
Incentivo à Cultura – PROFIC, relacionadas Cultura  –  CNIC, definir diretrizes, normas e
a seguir, têm por objetivo sua compatibili- critérios para utilização dos recursos do PRO-
zação com a proposta do Sistema Nacional FIC (inclusive do Fundo Nacional de Cultu-
de Cultura. ra, posto que este integra o PROFIC, conforme
Art.  2o  do PL). Isso cria um conflito de papéis
Estas alterações foram acordadas em reu- com o Conselho Nacional de Política Cultural,
nião realizada no dia 05 de maio de 2009, que no Inciso III, do Art. 7o  do Decreto nº 5.520,
entre a Secretaria de Fomento e Incentivo de 24 de agosto de 2005, tem a seguinte compe-
à Cultura – SEFIC e a Secretaria de Articu- tência: “estabelecer as diretrizes gerais para
lação Institucional – SAI. aplicação dos recursos do Fundo Nacional de
Cultura, no que concerne à sua distribuição
alteração 1 regional e ao peso relativo dos setores e mo-
dalidades do fazer cultural, descritos no art.
Sendo o Programa Nacional de Fomento e In- 3o da Lei no 8.313, de 23 de dezembro de 1991”.
centivo à Cultura – PROFIC o principal instru-
mento de financiamento das políticas públicas Para compatibilizar as competências do
de cultura, a nível nacional, incluindo no seu CNPC e da CNIC são alterados os Arts.  4º e
âmbito o Fundo Nacional de Cultura, mecanis- 5o do PL, que passam a ter a seguinte redação:
mo central de transferência de recursos para
os demais entes federados dentro do Sistema Art.  4º    O PROFIC observará as diretrizes
Nacional de Cultura, no seu Art. 1º deve se ex- estabelecidas pelo Conselho Nacional de
plicitar que o PROFIC é parte integrante do SNC. Política Cultural e as normas e critérios de-
finidos pela Comissão Nacional de Incentivo
Ainda no Art. 1º, por sua importância, é acres- à Cultura – CNIC, órgão colegiado do Minis-
cido referência à Agenda 21 da Cultura, fican- tério da Cultura, com composição paritária
do o mesmo com a seguinte redação: entre governo e sociedade civil, presidida
pelo Ministro da Cultura e composta por pelo
Art. 1o  Fica instituído o Programa Nacional de menos um representante de cada um dos
Fomento e Incentivo à Cultura – PROFIC, inte- comitês gestores dos fundos setoriais, todos
grado ao Sistema Nacional de Cultura, com a escolhidos dentre os representantes da socie-
finalidade de mobilizar recursos e aplicá-los em dade civil.
incentivos a projetos culturais que concretizem
os princípios da Constituição, em especial os Parágrafo  único.    Ficam criados, no âmbito
dos arts. 215 e 216, em cumprimento às diretri- da CNIC, comitês gestores setoriais com par-
zes do Plano Nacional de Cultura, da Agenda 21 ticipação da sociedade civil, cuja composição,
da Cultura, aprovada no Fórum Universal das funcionamento e competências serão defini-
Culturas, em Barcelona, e da Convenção sobre dos em regulamento.
a proteção e promoção da diversidade das ex-
pressões culturais, da Unesco, da qual o Brasil é Art. 5o  Compete à CNIC:
país signatário.
I definir normas e critérios, com base nas
alteração 2 diretrizes estabelecidas pelo CNPC, para
utilização dos recursos do PROFIC, de
No Art.3º, no inciso IX do Parágrafo Único, é acordo com um plano de ação bienal, e em
incluída a capacitação para a gestão cultural,

28 O projeto foi aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado em Lei 12.343, de 02 de dezembro de 2010, pelo Presidente da República.

29 O Projeto de Lei foi encaminhado ao Congresso Nacional com uma nova denominação: Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura – Pro Cultura, com um
capítulo que trata especificamente do financiamento do Sistema Nacional de Cultura, apresentado na página 99. (N.E.)

Sistema Nacional de Cultura 81


consonância com o Plano Nacional de Cultura; do a iniciativas da sociedade e transferên-
cias para fundos estaduais e municipais
II aprovar a programação orçamentária e de cultura, ficando o restante para projetos
financeira dos recursos do PROFIC e avaliar a prioritários a serem definidos pela CNIC.
sua execução; e 
alteração 5
III aprovar seu regimento interno.
O Art. 11 explicita as modalidades de aplica-
§ 1   Com a finalidade de promover a gestão
o
ção dos recursos do FNC e não faz referência
operacional integrada dos recursos do PRO- à transferências para os fundos estaduais
FIC, a CNIC poderá instituir Comitês de Coor- e municipais de cultura. Para corrigir esta
denação para os diferentes mecanismos. omissão deve ser acrescida no Inciso I mais
uma alínea, passando este artigo a ter a se-
§ 2o  Os recursos do PROFIC serão concedidos guinte redação:
a projetos culturais que resultem em bens
culturais de exibição, utilização e circulação Art. 11. Os recursos do FNC serão aplicados
públicas, vedada a sua destinação a coleções nas seguintes modalidades:
particulares ou circuitos privados que esta-
beleçam limitações de acesso. I não-reembolsáveis, na forma do
regulamento, para:
§ 3o  O disposto no parágrafo anterior não
se aplica aos financiamentos realizados pe- a apoio a programas, projetos e ações
los Ficarts. culturais;

alteração 4 b transferências para fundos estaduais e


municipais de cultura; e
O Art.10 determina que dos recursos de cada
Fundo Setorial, no mínimo, oitenta por cen- c equalização de encargos financeiros e constituição
to sejam destinados a iniciativas da socieda- de fundos de aval nas operações de crédito.
de, ficando o restante para projetos prioritá-
rios a serem definidos pela CNIC. Da forma II reembolsáveis, destinados ao estímulo da
como está redigido este artigo não prevê atividade produtiva das empresas de natu-
recursos do FNC para as iniciativas do setor reza cultural e pessoas físicas, mediante a
público, em especial dos governos estaduais concessão de empréstimos; e
e municipais. Além dos problemas imedia-
tos, inclusive para o Programa Mais Cultu- III investimento, por meio de associação a
ra, esta questão se agravará com a possível empresas e projetos culturais, com partici-
aprovação da PEC 150/2005 que no seu § 1º pação econômica nos resultados.
do Art. 1º determina que dos 2% do orçamen-
to da União destinados à cultura, 0,5% deve § 1o As transferências de que trata a alí-
ser transferido para os estados e 0,5% para nea “a” do inciso I do caput deste artigo
os municípios. Mantida esta forma não será dar-se-ão preponderantemente, por meio
possível o cumprimento desta determina- de editais de seleção pública de projetos.
ção, o que implicará, no caso da aprovação
desta PEC, em nova mudança na lei do PRO- § 2o Nos casos previstos nos incisos II e III
FIC, na medida em que esta não poderá se do caput, o Ministério da Cultura definirá
sobrepor à Constituição. com os agentes financeiros credenciados a
taxa de administração, os prazos de carên-
Para uma relação equilibrada de uso dos cia, os juros limites, as garantias exigidas
recursos do FNC, entre as iniciativas da so- e as formas de pagamento.
ciedade e do setor público, viabilizando as
transferências para os demais entes federa- § 3o Os riscos das operações previstas no
dos (imprescindíveis para a consolidação do parágrafo anterior serão assumidos, solida-
Sistema Nacional de Cultura), o Art. 10 passa riamente, pelo FNC e pelos agentes finan-
a ter a seguinte redação: ceiros credenciados, na forma que dispuser
o regulamento.
Art. 10. Do atribuído a cada Fundo Setorial,
no mínimo  oitenta por cento será destina- § 4o A taxa de administração a que se refe-

82
re o § 2o não poderá ser superior a três por é a desconcentração na aplicação dos recursos
cento dos recursos disponibilizados para públicos. A melhor solução é não estabelecer
o financiamento. na lei o percentual de contrapartidas para os
fundos estaduais e municipais quando das
§ 5o Para o financiamento de que trata o inciso transferências do FNC, suprimindo este pará-
II, serão fixadas taxas de remuneração que, grafo e, assim, possibilitar a utilização de per-
no mínimo, preservem o valor originalmen- centuais variáveis e, em casos especiais, até
te concedido. não se exigir contrapartida.

alteração 6 Para corrigir estes pontos, o Art. 15 do PL pas-


sa ter a seguinte redação:
O Art.  15.  dispõe que “a transferência de
recursos do FNC a fundos públicos de esta- Art. 15.  A transferência de recursos do FNC a
dos, municípios e Distrito Federal, para co- fundos públicos de estados, municípios e Dis-
financiamento, destinar-se-á a programas trito Federal para co-financiamento destinar-
oficialmente instituídos, de seleção públi- -se-á a programas oficialmente instituídos
ca de projetos culturais, que atendam a e seleção pública de projetos culturais, que
pelo menos uma das seguintes finalidades: atendam a pelo menos uma das seguintes
finalidades:
I defesa e valorização do patrimônio
cultural local; I defesa e valorização do patrimônio
cultural local;
II  atendimento à produção cultural em áreas
culturais com menos possibilidades de II atendimento à produção cultural em áreas
desenvolvimento com recursos próprios; culturais com menos possibilidades de
desenvolvimento com recursos próprios;
III formação de pessoal para a gestão da cultura;
III formação de pessoal para a gestão da cultura;
IV democratização do acesso a bens, serviços e
produtos culturais; ou IV  democratização do acesso a bens, serviços e
produtos culturais; ou
V valorização da diversidade cultural, étnica
e regional. V valorização da diversidade cultural, étnica
e regional.
Esta redação é muito restritiva e não abarca
o repasse fundo a fundo com a finalidade de §  1o    A transferência prevista neste artigo
execução descentralizada de políticas cultu- está condicionada a existência, nas respecti-
rais mais abrangentes, como aquelas voltadas vas unidades federadas, de órgão colegiado,
para a promoção da cidadania cultural (e que oficialmente instituído, em que a sociedade
não cabem em seleção pública de projetos). civil tenha representação no mínimo paritá-
ria, eleita democraticamente.
Também há uma correção a ser feita no §1º
deste artigo, pois ele é omisso quanto à for- § 2o  Os critérios de investimento de recursos do
ma de escolha da representação da sociedade FNC deverão considerar a participação da unida-
civil no órgão colegiado. de da federação na distribuição total de recursos
federais para a cultura, com vistas a promover o
Ainda neste Art. 15, há uma questão central equilíbrio territorial no investimento.
para o SNC que é o percentual de 20%, no mí-
nimo, previsto no seu § 3o para as contraparti- 2.10.4.7 Projeto de Lei de Regulamentação do
das dos fundos estaduais e municipais quan- Sistema Nacional de Cultura3
do das transferências do FNC. Esse percentual
é considerado muito alto, especialmente para Elaborar e encaminhar ao Congresso Nacio-
os pequenos municípios, que têm uma receita nal o Projeto de Lei que regulamente o Sis-
muito reduzida e que, geralmente, dependem, tema Nacional de Cultura, definindo o seu
quase que exclusivamente das transferências perfil, constituição, funcionamento, meca-
do FPM, o que torna inviável a sua participa- nismos de interrelação entre os seus compo-
ção neste processo. Esse fato compromete um nentes e instâncias de articulação, pactua-
dos objetivos centrais do PROFIC e do SNC, que

Sistema Nacional de Cultura 83


ção e deliberação. I Ministério da Cultura e os seus entes
vinculados, a seguir indicados:
2.10.4.8 Decreto Nº 5.520 de 24 de Agosto de
2005, que Institui o Sistema Federal de a Instituto do Patrimônio Histórico e
Cultura e Dispõe sobre a Composição e Artístico Nacional – IPHAN;
Funcionamento do Conselho Nacional
de Política Cultural b Agência Nacional de Cinema – ANCINE;

Elaborar e encaminhar para a Casa Civil o c Fundação Biblioteca Nacional – FBN;


texto substitutivo do Decreto Nº 5.520 de 24
de Agosto de 2005, compatibilizando-o com d Fundação Casa de Rui Barbosa – FCRB;
a estrutura proposta para o Sistema Nacio-
nal de Cultura. e Fundação Nacional de Artes – FUNARTE; e

Decreto nº 5.520, de 24 f f) Fundação Cultural Palmares – FCP;


de agosto de 2005.
II Conselho Nacional de Política Cultural –
Institui o Sistema Federal de Cultura – CNPC; e
SFC
e dispõe sobre a composição e o fun- III Comissão Nacional de Incentivo
cionamento do Conselho Nacional de a Cultura – CNIC.
Política Cultural – CNPC do Ministério da
Cultura, e dá outras providências. Parágrafo único. Outros órgãos poderão inte-
grar o SFC, conforme dispuser ato do Ministro
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da de Estado da Cultura.
atribuição que lhe confere o art. 84, inciso
VI, alínea “a”, da Constituição, Art. 3o Ao Ministério da Cultura, órgão central
do SFC, compete:
DECRETA:
I exercer a coordenação-geral do Sistema;
Capítulo I
II estabelecer as orientações e deliberações
Do sistema federal de cultura normativas e de gestão, consensuadas no
plenário do CNPC e nas instâncias setoriais
art. 10 Fica instituído o Sistema Federal de referidas nos §§ 3o a 6o do art. 12;
Cultura – SFC, com as seguintes finalida-
des: III emitir recomendações, resoluções e outros
pronunciamentos sobre matérias relacionadas
I integrar os órgãos, programas e ações com o SFC, observadas as diretrizes sugeridas
culturais do Governo Federal; pelo CNPC;

II contribuir para a implementação de 2.10.4.9 Projetos de Lei de Criação ou


políticas culturais democráticas e Reestruturação dos Sistemas de Cultura,
permanentes, pactuadas entre os entes da dos Conselhos de Política Cultural, dos
federação e sociedade civil; Fundos e Planos de Cultura dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios
III articular ações com vistas a estabelecer
e efetivar, no âmbito federal, o Plano O processo de institucionalização e implemen-
Nacional de Cultura; e tação dos Sistemas de Cultura deve envolver
todos os entes federados, pois sem Sistemas
IV promover iniciativas para apoiar o Municipais e Estaduais não haverá Sistema
desenvolvimento social com pleno Nacional. Daí, ser imprescindível que ele se es-
exercício dos direitos culturais e acesso às tenda a todo o País. É urgente a organização de
fontes da cultura nacional. Fóruns dos Gestores Municipais nos Estados
para estruturação das Comissões Intergesto-
Art. 2 o Integram o SFC:

28 O Projeto de Lei foi elaborado e aguarda parecer final da Consultoria Jurídica do Ministério da Cultura. (N.E.)

84
res Bipartite, instância fundamental para a
operacionalização dos Sistemas Estaduais de
Cultura e base para a formação das Comissões
Intergestores Tripartite, no plano nacional.

O Ministério da Cultura deverá apoiar esse


processo de diversas formas, seja com o for-
talecimento institucional através da capaci-
tação dos gestores públicos e conselheiros de
cultura, seja com a assessoria técnica para ela-
boração dos instrumentos legais, para o plane-
jamento e a institucionalização das políticas
públicas de cultura, ou, ainda, para a elabora-
ção e aprovação pelos legislativos locais dos
Projetos de Lei de Criação ou Reestruturação
dos Sistemas de Cultura, dos Conselhos de Po-
lítica Cultural, dos Fundos e Planos de Cultura.

Deve ser criado, através do Sistema Nacional


de Informações e Indicadores Culturais, um
banco de dados que reúna e disponibilize
as boas experiências na construção e ope-
racionalização dos Sistemas de Cultura. Um
passo muito importante já foi dado com a
criação do Índice de Gestão Municipal em Cul-
tura (IGMC), possibilitando, com a criação do
ranking dos municípios brasileiros em gestão
cultural, identificar as políticas públicas relati-
vas ao Fortalecimento Institucional e Gestão
Democrática, à Infraestrutura e Recursos Hu-
manos e às Ações Culturais.

Sistema Nacional de Cultura 85


86
3
3 Desdobramentos

87
Seguindo a estratégia de institucionalização tivos, deliberativos e fiscalizadores), tendo, no
e implementação definida no documento bá- mínimo, 50% de representantes da sociedade
sico do Sistema Nacional de Cultura, após sua civil eleitos democraticamente pelos respec-
aprovação pelo Conselho Nacional de Política tivos segmentos, planos e fundos de cultura,
Cultural, a discussão foi aprofundada em 26 comissões intergestores, sistemas setoriais
seminários realizados de julho a dezembro de e programas de formação na área da cultura,
2009, em 24 dos 26 estados brasileiros. Con- na União, estados, municípios e no Distrito
taram com a participação de 4.577 gestores e Federal, garantindo ampla participação da
conselheiros de cultura de 2.323 municípios, sociedade civil e realizando periodicamente
quando se pactuou uma estratégia comum as conferências de cultura e, especialmente,
para a implantação dos sistemas municipais, a aprovação pelo Congresso Nacional da PEC
estaduais e nacional de cultura. Essa estra- nº 416/2005 que institui o Sistema Nacional
tégia está consubstanciada no Acordo de Co- de Cultura; da PEC nº 150/2003, que designa
operação Federativa do SNC, que vem sendo recursos financeiros à cultura com vinculação
firmado pela União, com os estados e municí- orçamentária; e da PEC nº 049/2007, que inse-
pios, e que estabelece as responsabilidades de re a cultura no rol dos direitos sociais da Cons-
cada ente da Federação na efetiva implanta- tituição Federal, bem como dos projetos de lei
ção do Sistema. que instituem o Plano Nacional de Cultura e
o Programa de Fomento e Incentivo à Cultura
Durante os seminários, os estados e municí- – Pro Cultura – e do que regulamenta o fun-
pios foram estimulados a convocar e realizar cionamento do Sistema Nacional de Cultura”.
as respectivas conferências, etapas constituin-
tes da II Conferência Nacional de Cultura, rea- No que toca à formação, foram concluídas as
lizada em março de 2010. A etapa municipal propostas dos dois grupos de Trabalho do SNC
mobilizou, de forma expressiva e inédita, 3.216 voltados para essa questão. O Programa de
municípios, o que representa quase 60% das Formação de Gestores Culturais, elaborado por
cidades brasileiras, e, a etapa estadual, todos um dos grupos, estabeleceu as matrizes curri-
os 26 estados e o Distrito Federal, o que repre- culares básicas e necessárias ao desempenho
senta um salto quantitativo e qualitativo sem qualificado da função pública na área da cul-
precedentes em relação à primeira edição re- tura. O Programa foi detalhado em um Plano
alizada em 2005. A etapa nacional, realizada de Curso que foi aplicado experimentalmente
de 11 a 14 de março de 2010, em Brasília, con- no Estado da Bahia, de outubro de 2009 a abril
solidou esse processo definindo 32 propostas de 2010. O outro grupo apresentou o mapea-
prioritárias para as políticas públicas de cul- mento das instituições públicas e privadas
tura do país, além de 95 prioridades setoriais, que promovem no país cursos de formação
sendo cinco para cada um dos 19 segmentos cultural, a partir do qual deverá ser constituí-
que realizaram Pré-Conferências Setoriais. da uma rede de agentes capazes de reaplicar o
curso em todas as unidades da Federação, res-
A II Conferência Nacional de Cultura consti- peitando as realidades locais e regionais, bem
tuiu-se num momento importantíssimo, tan- como a diversidade cultural do Brasil.
to para aprofundar o debate como para o for-
talecimento político do Sistema Nacional de Quanto à institucionalização, várias iniciati-
Cultura. Dos 883 delegados credenciados, 851 vas aconteceram, nos níveis municipal, esta-
votaram por meio de cédulas nas propostas dual e nacional.
prioritárias. Das 32 aprovadas, 20 delas fazem
referência explícita ou implícita ao Sistema As cidades de Foz do Iguaçu e Joinvile recen-
Nacional de Cultura. Além desse fato, a impor- temente aprovaram, nas suas Câmaras de
tância do Sistema Nacional de Cultura fica de- Vereadores, as leis dos respectivos sistemas
finitivamente explicitada quando a proposta municipais de Cultura. As cidades do Recife
que trata da sua institucionalização e imple- e de Campo Grande já têm seus planos mu-
mentação foi a mais votada dentre as 32 pro- nicipais de Cultura como leis aprovadas por
postas prioritárias, obtendo 754 votos (88,6% suas Câmaras de Vereadores. Muitas cidades
do total). já têm constituídos todos os componentes do
sistema, embora ainda não tenham a lei que
Ela propõe “consolidar, institucionalizar e institui o Sistema Municipal de Cultura. Os
implementar o Sistema Nacional de Cultura estados da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Santa
(SNC), constituído de órgãos específicos de Catarina, Acre e Roraima estão elaborando os
cultura, conselhos de política cultural (consul- Projetos de Lei de criação dos seus sistemas

88
para enviá-los para aprovação das respectivas só terá acesso aos recursos do FNC o estado ou
assembléias legislativas. município que tiver o que chamamos “CPF da
Cultura: Conselho, Plano e Fundo”.
No Congresso Nacional, o fato mais importan-
te foi o andamento da tramitação da Proposta Essas ações representam, sem dúvida, um sig-
de Emenda Constitucional nº 416/2005, de au- nificativo avanço no processo de constituição
toria do deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que do Sistema Nacional de Cultura. Mas por sua
institui o Sistema Nacional de Cultura. Criada complexidade e abrangência, é importante
no mês de abril de 2009, a Comissão Especial compreender que sua implementação só será
responsável pela apreciação da matéria foi efetivada plenamente a longo prazo.
instalada em 10 de fevereiro de 2010, tendo
como presidente o deputado Maurício Rands A seguir, complementando este documento,
(PT-PE) e como relator o deputado Paulo Ru- estão relacionadas as versões atualizadas das
bem Santiago (PDT-PE). Foi elaborada, a partir propostas de emendas à Constituição e proje-
da proposta do SNC aprovada pelo Conselho tos de lei relacionadas ao Sistema Nacional de
Nacional de Política Cultural, a proposta de Cultura e as orientações e procedimentos para
substitutivo à PEC nº 416/2005, encaminhada assinatura do Acordo de Cooperação Federati-
ao relator. A Comissão Especial realizou Audi- va do SNC.
ências Públicas nos estados de Pernambuco,
Santa Catarina, Ceará e na Câmara dos Depu-
tados, em Brasília. Um grande passo foi dado 3.1 relatório do deputado
no dia 14 de abril, quando a Comissão Espe-
paulo rubem santiago
cial aprovou, por unanimidade, o Substitutivo
apresentado pelo relator, deputado Paulo Ru- (pdt-pe) e substitutivo
bem Santiago. A PEC nº 416/2005 agora aguar- aprovado, em 14/04/2010,
da votação em dois turnos nos plenários da
Câmara e do Senado. Também já foi elaborada
pela comissão especial
a proposta do projeto de lei que regulamenta destinada a proferir
o Sistema Nacional de Cultura, a ser encami-
parecer à proposta de
nhada ao Congresso Nacional.
emenda à constituição
O Projeto de Lei nº 6.835/2006, que institui o nº 416-a, de 2005.
Plano Nacional de Cultura, principal instru-
mento de gestão do Sistema Nacional de Cul-
tura, já foi aprovado na Câmara dos Deputados Acrescenta o art. 216-A à Constituição
e encontra-se em processo final de aprovação para instituir o Sistema Nacional de Cultura.
no Senado.
Autores: Deputado PAULO PIMENTA e outros
O Projeto de Lei nº 6.722/2010, que reformula Relator: Deputado PAULO RUBEM SANTIAGO
a Lei Rouanet e institui o Programa Nacional
de Fomento e Incentivo à Cultura – Pro Cultura I relatório
(antigo Profic), foi enviado, em janeiro de 2010,
ao Congresso Nacional e encontra-se em tra- A presente Proposta de Emenda à Constitui-
mitação na Câmara dos Deputados. O Pro Cul- ção, de autoria do Deputado Paulo Pimenta,
tura estabelece que a União deverá destinar, objetiva acrescentar à Constituição Federal de
no mínimo, 30 por cento de recursos do Fundo 1988 dispositivo que cria o Sistema Nacional
Nacional da Cultura, por meio de transferên- de Cultura (SNC). Segundo o autor da matéria,
cia fundo a fundo, para estados, municípios o referido Sistema deverá ser organizado em
e Distrito Federal. Será um instrumento fun- regime de colaboração, de forma horizontal,
damental para estimular a constituição dos aberta, descentralizada e participativa, de-
sistemas estaduais e municipais de Cultura, vendo compreender as seguintes instâncias
pois essa transferência está condicionada à administrativas: o Ministério da Cultura, o
existência, nos respectivos entes federados, Conselho Nacional da Cultura, os sistemas de
de plano de cultura, de fundo de cultura e de cultura dos Estados, do Distrito Federal e dos
órgão colegiado oficialmente instituído para a Municípios, as instituições públicas e priva-
gestão democrática e transparente dos recur- das que planejam, promovem, fomentam, es-
sos culturais, em que a sociedade civil tenha timulam, financiam, desenvolvem e executam
representação no mínimo paritária. Ou seja, atividades culturais no território nacional,

Desdobramentos 89
os subsistemas complementares ao Sistema prerrogativa essencial da população na cons-
Nacional de Cultura, tais como o sistema de trução da cidadania e para a defesa da diver-
museus, o sistema de bibliotecas, o sistema de sidade cultural e das identidades culturais lo-
arquivos, entre outros. cais frente a globalização (...) De fato, para que
sejam efetivas as políticas públicas de cultura
O Sistema Nacional de Cultura deverá, tam- no Brasil, é preciso que o Legislativo atue no
bém, se articular com os demais sistemas na- sentido de consolidá-las. Uma das formas de
cionais ou políticas setoriais, em especial da fazê-lo é propor um mecanismo de aperfeiço-
Educação, da Ciência e Tecnologia, do Turismo, amento da gestão do setor cultural, por meio
do Esporte, da Saúde, da Comunicação, dos Di- da criação de um Sistema Nacional de Cultu-
reitos Humanos e do Meio Ambiente. ra, nos termos da presente iniciativa”.

Para o autor da referida proposta, A proposição foi apresentada em 16 de junho de


2005 e encaminhada à Comissão de Constitui-
“A cultura é hoje concebida, em todo o mundo, ção e Justiça e de Cidadania (CCJC), que emitiu
como base de qualquer tipo de desenvolvimento, parecer favorável pela admissibilidade da PEC,
inclusive o econômico. No Brasil, tem ocupado contra o voto dos Deputados Nelson Trad, An-
posição no centro do debate político e inspirado tonio Carlos Biscaia, Fernando Coruja, Gerson
iniciativas no sentido de se organizar políticas Peres, Ayrton Xerez e Edson Aparecido.
públicas de cultura no País. A Constituição de
1988, em seu art. 215, garante a todos os brasi- Nos termos do art. 202, § 2º, combinado com o
leiros o pleno exercício dos direitos culturais e o art. 33, § 1º do Regimento Interno desta Casa,
acesso às fontes da cultura nacional. Assim, tra- foi criada Comissão Especial destinada a pro-
tar a cultura na sua dimensão mais ampla, como ferir parecer a esta PEC. Em 10 de fevereiro de
instrumento de construção da identidade de um 2010, instalou-se a referida Comissão, quando
povo, como condição de vida, como exercício de se deu a eleição para o cargo de Presidente e do
cidadania, é uma responsabilidade de Estado que Relator da matéria, tendo sido eleitos, respec-
o Brasil precisa assumir. As políticas públicas na tivamente, o Deputado Maurício Rands (PT-PE)
área cultural têm grande desafio pela complexi- e o Deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE)
dade e diversidade dos temas a serem tratados.
Não basta apenas garantir a fruição dos bens O prazo regimental de dez sessões ordinárias
culturais. Cabe às políticas estatais, nos seus di- para apresentação de emendas à proposta de
versos níveis, criar condições para a organização emenda constitucional foi aberto em 11 de fe-
de um sistema de gestão da cultura, assumindo vereiro passado. Esgotado esse prazo, não fo-
um papel indutor e estabelecendo elementos que ram oferecidas emendas à Comissão Especial.
ampliem o acesso aos bens culturais”.
Como Relator desta Comissão, e face ao con-
E prossegue em sua justificação: senso em torno da matéria e como forma de
agilizar os trabalhos, acertamos, com os de-
“Da mesma forma que se busca a universali- mais membros, realizar apenas uma audiên-
zação da oferta de educação, é preciso que se cia pública em que seriam convidadas auto-
trabalhe pelo acesso irrestrito aos bens cultu- ridades ligadas à estrutura organizacional do
rais. Um sistema universalizador de gestão da Ministério da Cultura (MinC) e entidades re-
cultura deve acolher, como elementos-chave, presentativas do setor cultural, a exemplo do
a criação dos conselhos de cultura, dos fun- Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes
dos de cultura e das formas de participação Estaduais de Cultura e do Fórum Nacional dos
democrática e descentralizada dos produtores Secretários de Cultura das Capitais.
culturais e das comunidades em geral, além
da atuação autônoma e articulada das três Na Audiência Pública, realizada no dia 07
esferas de governo. Com isso, estabelecem-se de abril deste ano, compareceram os se-
as bases para implantar os componentes das guintes convidados:
políticas culturais: formação, criação, pro-
dução, distribuição, consumo, conservação e • Sr. Alfredo Manevy, Secretário Executivo do
fomento. A partir desses elementos centrais, Ministério da Cultura (MinC);
é possível pensar as políticas culturais como
estratégias voltadas para o desenvolvimento • Sr. João Roberto Costa do Nascimento,
cultural e econômico do País, para a garantia Coordenador Geral de Relações
do direito de acesso aos bens culturais como Federativas e Sociedade do MinC;

90
• Srª Silvana Meireles, Secretária de Ainda na esfera governamental, falou a atual
Articulação Institucional (SAI- MinC); Secretária de Articulação Institucional (SAI-
MInC), Sra. Silvana Meireles. Ela se reportou
• Srª Anita Pires, Presidente do Fórum aos resultados da II Conferência Nacional de
Nacional de Dirigentes e Secretários Cultura, realizada em Brasília-DF. Disse que as
Estaduais de Cultura ; 32 propostas consideradas fundamentais e as
31 moções aprovadas nessa Conferência abor-
• Sr. Márcio Caetano, Presidente do dam, claramente, a necessidade da aprovação
Fórum Nacional dos Secretários de do Sistema Nacional de Cultura (SNC) e que,
Cultura das Capitais; para isso, conta com a participação dos parla-
mentares. Leu, textualmente, a proposta apro-
• Srª Luciana Vieira de Azevedo, Presidente da vada sobre a institucionalização do SNC:
Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico
de Pernambuco e “Consolidar, institucionalizar e implementar o
Sistema Nacional de Cultura (SNC),constituído
• Srª Rosa Coimbra, artista e Representante do de órgãos específicos de cultura, conselhos de
Conselho Nacional de Política Nacional. política cultural (consultivos ,deliberativos e
fiscalizadores), tendo, no mínimo, 50% de repre-
O Sr. Alfredo Manevy expôs a relevância da apro- sentantes da sociedade civil eleitos democrati-
vação do SNC para que se avance no sentido de camente pelos respectivos segmentos, planos
alçar a Cultura a direito básico inerente a todo e fundos de cultura, comissões intergestores,
cidadão e um eixo prioritário de atuação do Esta- sistemas setoriais e programas de formação na
do brasileiro. Para Manevy, este é o “ano da Cul- área da cultura, na União, Estados, Municípios
tura no Congresso Nacional”, onde, além do SNC, e no Distrito Federal, garantindo ampla parti-
tramitam outras propostas importantes para a cipação da sociedade civil e realizando periodi-
consolidação de uma política pública para a área, camente as conferências de cultura e, especial-
como a reformulação da Lei Rouanet, o Plano Na- mente, a aprovação pelo Congresso Nacional
cional de Cultura e o Vale-Cultura. Ressaltou o da PEC 416/2005 que institui o Sistema Nacio-
papel do Congresso Nacional nessa tarefa: “Que- nal de Cultura, da PEC 150/2003 que designa
ro agradecer pela acolhida plural e republicana recursos financeiros à cultura com vinculação
que todas as pautas e debates com a temática da orçamentária e da PEC 049/2007, que insere a
Cultura têm tido nas duas casas do Legislativo”. cultura no rol dos direitos sociais da Constitui-
ção Federal, bem como dos projetos de lei que
Como Coordenador Geral das Relações Fede- instituem o Plano Nacional de Cultura e o Pro-
rativas e Sociedades do MinC, o Sr. João Ro- grama de Fomento e Incentivo a Cultura – Pro
berto Peixe apresentou à Comissão Especial Cultura e do que regulamenta o funcionamen-
o documento-síntese elaborado pelo Grupo to do Sistema Nacional de Cultura”.29
de Trabalho do Sistema Nacional de Cultu-
ra, instituído pelo Ministério da Cultura e Silvana Meireles ainda destacou que a federa-
aprovado, por unanimidade, pelo plenário do lização da cultura é necessária para garantir a
Conselho Nacional de Política Cultural na sua acessibilidade, pois estados e municípios têm
reunião dos dias 25 e 26.08.2009, intitulado papel fundamental no processo de democra-
“Sistema Nacional de Cultura: estrutura- tização dos bens e serviços culturais a todos
ção, institucionalização e implementação”. os brasileiros. Lembrou também que, desde
Segundo ele, esse documento aponta para a 2003, quando o MinC colocou a constituição
formulação de uma política cultural assenta- do SNC como uma de suas prioridades, essa
da em três pilares, a saber: o papel do estado temática vem sendo discutida nas três esfe-
na definição de um marco regulatório para as ras de governo e com a mobilização de toda a
atividades culturais, o exercício dos direitos sociedade civil, através da realização de con-
culturais e a tridimensionalidade da cultura ferências estaduais e municipais.
(dimensões simbólica, econômica e cidadã).
O documento prevê um sistema misto, com Por sua vez, a Secretária de Cultura de Santa Ca-
gestão intergovernamental no campo da cul- tarina e atual Presidente do Fórum Nacional de
tura entre os entes da federação – União, Es- Dirigentes e Secretários Estaduais de Cultura,
tados, Municípios e Distrito Federal. Sra. Anita Pires, reforçou a posição unânime do
Fórum pela aprovação dessa PEC, que institui

29 BRASIL. Ministério da Cultura. Conferindo os Conformes: resultados da II Conferência Nacional de Cultura. Cultura, Diversidade, Cidadania e Desenvolvimento.
Brasília: 2010. p. 08

Desdobramentos 91
o Sistema Nacional de Cultura. Segundo ela, é II voto do relator
preciso reforçar a importância da cultura como
ferramenta indispensável para o desenvolvi- Nos últimos anos, temos assistido, no âmbito
mento do País. Para tanto, disse que o Fórum de do Congresso Nacional, à constituição de co-
Secretários está elaborando uma campanha de missões especiais destinadas a analisar pro-
mobilização junto à bancada federal de cada es- postas de emenda à Constituição Federal de
tado na Câmara e do Senado Federal em prol da 1988 sobre o tema da cultura.
necessidade urgente de aprovação dessa PEC.
Tudo começou ainda no ano de 2000, quando
O Sr. Márcio Caetano, Presidente do Fórum tramitou nesta Casa a primeira delas, que ob-
Nacional dos Secretários de Cultura das Ca- jetivava tornar obrigatória a elaboração de um
pitais, ressaltou a importância do Legislativo Plano Nacional da Cultura, a exemplo do que
na redefinição do papel do Estado na formu- já existia para a área da educação. Em 2005, a
lação da política cultural, bem como o papel Emenda Constitucional nº 48 foi promulga-
das cidades na implementação do SNC. Por da e, logo no ano seguinte, apresentamos, eu e
estarmos em um ano eleitoral, considera que mais quatro Deputados, o PL nº 6.835, de 2006,
devemos colocar a cultura na pauta política de que institui o Plano Nacional de Cultura. Após
discussão dos candidatos ao Poder Executivo e a realização de várias audiências públicas em
dos postulantes ao Poder Legislativo. diferentes estados da federação, com a partici-
pação conjunta do Ministério da Cultura e de
A Srª Luciana Vieira de Azevedo, Presidente membros da Comissão de Educação e Cultura
da Fundação do Patrimônio Histórico e Artís- da Câmara dos Deputados, foi aprovado, no ano
tico de Pernambuco, teceu elogios à atuação passado, um novo substitutivo à referida propo-
do MinC no Governo Lula, pois, segundo ela, sição, apresentado pela Deputada Fátima Bezer-
o Ministério colocou a cultura em patamar ra (PT-RN).
estratégico no contexto de um novo mode-
lo de desenvolvimento para o País. Mostrou Também no ano passado, a Câmara dos De-
também que essa nova concepção de cultura putados deu uma demonstração cabal de que
tem norteado a atual gestão do governo de entende que a implementação de uma política
Pernambuco na área cultural. cultural para o País depende da necessária alo-
cação de recursos mínimos para o setor nos três
Por fim, falou a Sra. Rosa Coimbra, artista e Re- níveis da Federação – união, estados e municí-
presentante do Conselho Nacional de Política pios. A PEC que vincula recursos orçamentários
Cultural, que também ressaltou a importância para a cultura foi aprovada em Comissão Espe-
da PEC do Sistema Nacional de Cultura e so- cial e está pronta para ser votada em plenário.
licitou a urgência e o empenho do Congresso
Nacional na votação de matérias legislativas Fomos também designados pela Comissão de
de interesse da classe artística. Educação e Cultura relator do Projeto de Lei nº
5.798, de 2009, do Poder Executivo, que institui
A audiência pública contou ainda com a parti- o Programa de Cultura do Trabalhador, mais co-
cipação dos seguintes Parlamentares: Deputa- nhecido como “PL do Vale-Cultura”. Aprovamos
do Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE), Fáti- a matéria em plenário, tendo sido enviada ao
ma Bezerra (PT-RN) e Ângelo Vanhoni (PT-PR), Senado Federal para o processo de revisão. No
bem como de membros do Conselho Nacional Senado foi aprovada com duas emendas e vol-
de Política Cultural que interromperam sua tou a esta Casa, onde novamente emitimos pa-
reunião de trabalho em Brasília para presti- recer favorável às modificações sugeridas pelos
giar e participar da referia audiência. Senadores. A matéria encontra-se em fase de
tramitação final e, acreditamos que, em breve,
Todos os convidados foram unânimes ao ma- será sancionada pelo Presidente da República.
nifestar sua plena concordância com o objeto
da PEC em tramitação. Esta Relatoria agradece Complementando o rol de matérias constitu-
enfaticamente os depoimentos, contribuições cionais da cultura, eis que neste ano é constitu-
e subsídios dessa Audiência Pública, que pos- ída uma outra Comissão Especial, destinada a
sibilitaram melhor avaliar a oportunidade e proferir Parecer à PEC nº 416-A, de 2005, de au-
relevância da matéria. toria do Deputado Paulo Pimenta e outros, que
“acrescenta o art. 216-A à Constituição para
É o Relatório. instituir o Sistema Nacional de Cultura”.

92
Assim, a implantação de um Sistema Nacional de impactos dos contingenciamentos por ocasião
Cultura, juntamente com outras mudanças pro- da execução orçamentária, apesar dos esforços
postas na legislação brasileira, dará, com certeza, do atual governo de ampliar os recursos para
maior organicidade à área da cultura, ao siste- o setor. Sem a aprovação da PEC que estabele-
matizar, delegar e atribuir aos entes federados a ce vinculação orçamentária para a cultura, as
co-responsabilidade no desenvolvimento de uma demais matérias legislativas em tramitação
política cultural pensada como política de estado. nessa Casa se tornam inócuas, pois todas elas
exigem dos entes federados recursos financei-
Trabalhamos com a perspectiva de uma “cai- ros para a constituição de seus respectivos sis-
xa-de-ferramentas”, em que cada uma dessas temas e planos de cultura.
mudanças legislativas propostas, incluindo o
Sistema Nacional de Cultura, ora em discussão, Todos sabemos que o Estado não produz cultu-
constitui uma peça de uma engrenagem maior. ra, mas tem um papel relevante e imprescin-
E, para seu pleno funcionamento, essas medidas dível no fomento e incentivo às múltiplas ma-
deverão, necessariamente, vir acompanhadas nifestações de nossa rica diversidade cultural.
dos aportes financeiros indispensáveis para sua Contrariando o receituário neoliberal, não se
implementação. Razão pela qual acrescentei ao pode dispensar a atuação estatal, uma vez que
substitutivo da PEC a seguinte diretriz ao SNC: ela é de fundamental importância para corri-
“ampliação progressiva dos recursos contidos gir distorções e impasses existentes no mundo
nos orçamentos públicos para a cultura”. da cultura, que contribuem para aumentar o
fosso da desigualdade regional em nosso País.
Todas essas proposições legislativas, ante-
riormente comentadas, têm algo em comum, Nossa Carta Magna, de 1988, consagrou o prin-
pois colocam em debate o papel do Estado cípio da Cidadania Cultural, expresso no art. 215,
como fomentador das atividades culturais e caput, em que os direitos culturais são compre-
da previsão orçamentária para a efetivação endidos como direitos humanos fundamentais
das políticas públicas de cultura. Isso porque e imprescindíveis ao exercício da plena cidada-
consideramos que, sem recursos públicos or- nia. A Cultura foi elevada à categoria de direito
çamentários nas diferentes esferas de gover- humano fundamental, a exemplo da educação,
no, pouco avançaremos na constituição de um da saúde, do trabalho, da moradia e do lazer.
sistema de cultura de âmbito nacional, estadu-
al e municipal que propicie a implementação Se é dever constitucional do Estado prover os
das metas estabelecidas no Plano Nacional de meios necessários para que o acesso à cultura
Cultura, já aprovado nesta Casa Legislativa. se constitua num direito social de todo cida-
dão brasileiro, muito ainda precisa ser feito
Historicamente, os orçamentos da União, dos para a efetivação desse direito.
estados e dos municípios têm se caracteriza-
do por destinar parcos recursos ao segmento Diferentemente da Saúde, da Educação e da As-
cultural, inviabilizando, muitas vezes, que se sistência Social, a Cultura não dispõe de um sis-
cumpram os dispositivos constitucionais que tema integrado que estabeleça as atribuições
garantem o acesso às fontes da cultura nacio- dos diferentes entes federados na sua gestão.
nal a todos os brasileiros. É preciso, pois, que os
gestores públicos, sobretudo os economistas, A realidade socioeconômica do País mostra,
compreendam que não haverá a tão propala- ainda em pleno séc. XXI, uma situação de ex-
da melhoria da qualidade de vida da popula- clusão social de amplos setores da sociedade.
ção brasileira, se não se investir maciçamente Como bem afirmou o economista Marcio Po-
em cultura nos próximos anos, pois a exclusão chmann, “a sociedade brasileira convive com
social como marca de nossa sociedade é tam- diferentes formas de exclusão social, inclusi-
bém de ordem cultural, posto que muitos bra- ve a cultural, que carrega em seu conteúdo a
sileiros, em pleno século XXI, não tem acesso inacessibilidade à produção de determinados
aos bens e serviços culturais. bens culturais como uma de suas característi-
cas principais”.30
O próprio Ministério da Cultura tem sido con-
templado com menos de 1% por cento no orça- Vivemos, portanto, uma situação paradoxal:
mento da União nos últimos anos e sofrido os por força de nossa formação histórica, somos

30 POCHMANN, Marcio et al (orgs.). Atlas da exclusão social, v. 5: agenda não liberal da inclusão social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2005, p. 87.

Desdobramentos 93
um país marcado por forte diversidade cul- “A experiência do SUS mostrou que o estabeleci-
tural, mas muitos brasileiros não têm acesso mento de princípios e diretrizes comuns, a divi-
aos bens, produtos e serviços culturais. Segun- são de atribuições e responsabilidades entre os
do dados recentes do Anuário de Estatísticas entes da federação, a montagem de um esquema
Culturais31 do MinC, 90% dos municípios bra- de repasse de recursos e a criação de instâncias
sileiros não contam sequer com uma sala de de controle social asseguram maior efetividade
cinema; pouco mais de 5% dos brasileiros já vi- e continuidade das políticas públicas”.32
sitaram um museu; 10% dos 5.564 municípios
não possuem bibliotecas; a média de leitura É preciso lembrar que, em pleno século XXI, cer-
no país é de 1,8 livros por ano, o que revela o ca de 4% dos municípios brasileiros possuem
baixo índice de leitura entre os brasileiros. secretaria exclusiva de cultura, o que tem, se-
gundo os especialistas, inviabilizado a constru-
Além da baixa oferta de serviços e equipamen- ção de uma política pública de cultura em nível
tos culturais que ensejariam o exercício da nacional. Constata-se, portanto, que além da
cidadania a um maior número de brasileiros, fragilidade orçamentária inerente aos órgãos
a distribuição desses serviços se dá de forma de cultura, padecemos de outro mal: a fragili-
concentrada em alguns estados da federação, dade institucional. Quando existentes nos mu-
aumentando a desigualdade social entre as re- nicípios, as secretárias de cultura são apenas
giões do País. órgãos de promoção social de eventos e efemé-
rides, sem nenhum comprometimento maior
Todos os que participaram da Audiência Públi- com o acesso dos munícipes aos bens culturais.
ca no âmbito dessa Comissão Especial foram
unânimes em considerar necessária, oportuna Portanto, cremos que a aprovação da PEC, ao
e urgente a proposta de emenda constitucional instituir o Sistema Nacional de Cultura, leva-
que institui o Sistema Nacional de Cultura. Pos- rá forçosamente a que os Municípios tenham
to isso, desejo ressaltar, ainda, que considero a um órgão gestor da cultura e desenvolvam sua
PEC objeto deste Parecer como de suma impor- política cultural, em regime de colaboração
tância no atual contexto sociocultural brasilei- com os demais entes federados.
ro, pelos motivos a seguir arrolados:
Hoje, a cultura assume um papel central na
A aprovação da PEC possibilitará a efetiva- contemporaneidade. No Brasil, no entanto,
ção do Plano Nacional de Cultura (PNC), ora muito ainda precisa ser feito para superar a
em tramitação no Congresso Nacional (PL desigualdade no acesso às fontes da cultura
nº 6.835, de 2006). O PNC prevê uma série de nacional, ao conhecimento e à informação.
ações e metas para a construção de uma po-
lítica pública de cultura, muitas das quais ne- A PEC, ora em discussão, ao propor o Sistema
cessitando de aportes financeiros para a sua Nacional de Cultura, rompe com o paradigma
implementação. O PNC remete aos estados, neoliberal, que vê a cultura sujeita apenas às
municípios e Distrito Federal a elaboração de leis de mercado e ao marketing empresarial.
seus respectivos planos estaduais e munici- A aprovação desta emenda constitucional re-
pais, após dois anos de promulgação do Plano, presenta a retomada do papel do Estado brasi-
em nível federal. Por sua vez, o PNC é parte in- leiro na formulação de uma política pública de
tegrante do Sistema Nacional de Cultura. cultura democrática e cidadã.

A PEC contribui para a consolidação do papel Historicamente, em decorrência de nossa for-


institucional do Ministério da Cultura (MinC) mação social, predominou uma visão parna-
no âmbito do governo federal como principal siana da cultura. O mundo da cultura era re-
gestor das políticas culturais, além de propor- duto das belas-artes, da poesia e da erudição,
cionar uma gestão cultural compartilhada povoado de intelectuais, artistas e acadêmicos,
entre os entes federativos. A inspiração para sem nenhum comprometimento com a rea-
a criação do Sistema Nacional de Cultura veio lidade social do país. A cultura era vista como
de resultados alcançados por outros sistemas um mero adereço, algo supérfluo e privilégio de
de articulação de políticas públicas no país, a poucos – a “cereja do bolo”, para usar uma ex-
exemplo do Sistema Único de Saúde (SUS). pressão popular, em meio a outras ditas priori-

31 BRASIL. Ministério da Cultura. Cultura em Números: Anuário de Estatísticas Culturais. Brasília: 2009.
32 ______. Sistema Nacional de Cultura: estruturação, institucionalização e implementação. Brasília: Conselho Nacional de Política
Cultural, 2009. p. 24.

94
dades nacionais: a Educação, a Saúde, o empre- será votada em dois turnos na Câmara dos De-
go, a moradia, etc. Hoje, passou a vigorar uma putados e outros dois turnos no Senado Federal.
concepção moderna de Cultura e consentânea Dado o rito tão complexo da proposição, não pode
com os avanços da cidadania – a Cultura é um subsistir qualquer dúvida, mesmo nos espíritos
direito fundamental de todo cidadão. mais reticentes, de que a vontade da sociedade
brasileira, expressa pela maioria absoluta de seus
Dessa forma, a Cultura passou a ser encarada representantes nas duas Casas do Congresso Na-
como política de Estado, imputando ao Poder cional, foi manifestada de forma inequívoca.
Público o delineamento de ações e programas
que favoreçam o acesso de todos aos bens, Objetivando corrigir algumas distorções de
valores e expressões artísticas de nossa di- ordem técnico-legislativa e constitucional,
versidade cultural. Repito, para romper com resolvemos apresentar um substitutivo que
a lógica neoliberal que durante algum tempo contemplasse a idéia central – a instituição de
delineou a política cultural em nosso País: o um Sistema Nacional de Cultura. Muitas das
Estado não produz cultura, mas tem a obriga- sugestões apresentadas a essa Relatoria, em-
ção de criar condições mínimas para o acesso bora importantes, foram deixadas de lado, por
aos bens culturais a todos os brasileiros. não se constituírem em matéria de natureza
constitucional, devendo, oportunamente, ser
Essa mudança de paradigma deve-se, tam- apresentadas em lei ordinária que venha regu-
bém, ao papel que a cultura passou a ter nos lamentar o Sistema Nacional de Cultura, bem
últimos anos do século passado e que confi- como a composição dos conselhos de cultura
gura uma nova ordem geopolítica mundial, como órgãos indispensáveis ao funcionamen-
marcada pela globalização, em que a diver- to do referido Sistema.
sidade cultural passa a ser elemento-chave
das negociações internacionais. Para a his- O substitutivo contempla basicamente três par-
toriadora Lia Calabre, “a cultura hoje, em ter- tes. A primeira diz o que é o Sistema Nacional de
mos mundiais, é um dos elementos da pauta Cultura, que deve ser organizado em regime de
das políticas públicas”33. Prova disso é a Con- colaboração, de forma descentralizada e partici-
venção Mundial para a Proteção e a Promo- pativa, instituindo um processo de gestão e pro-
ção da Diversidade das Expressões Culturais, moção conjunta de políticas públicas de cultura,
da Unesco, de 2005, ratificada pelo governo democráticas e permanentes, pactuadas entre
brasileiro em 2006, através do Decreto-Le- os entes da federação e a sociedade, tendo por
gislativo nº 485/06. objetivo promover o desenvolvimento – huma-
no, social e econômico – com pleno exercício dos
Outros documentos internacionais, a exem- direitos culturais (art. 216-A). O Documento do
plo da AGENDA 21 DA CULTURA34, aprovada MinC aponta, de forma acertada, que:
no Fórum Universal das Culturas - Barcelona
2004, colocam a cultura como importante ele- “O Sistema Nacional de Cultura é um modelo de
mento para o desenvolvimento socioeconômi- gestão e promoção conjunta de políticas públi-
co e sugere aos governos dos estados e nações cas de cultura, pactuadas entre os entes da fe-
deração e a sociedade civil, que tem como órgão
“Estabelecer os instrumentos de intervenção gestor e coordenador o Ministério da Cultura
pública no campo cultural tendo em conta o em âmbito nacional, as secretarias estaduais/
aumento das necessidades cidadãs relaciona- distrital e municipais de cultura ou equivalen-
das com este campo, a insuficiência e recursos tes em seu âmbito de atuação, configurando
atualmente existentes e a importância da des- desse modo, a direção em cada esfera de gover-
concentração territorial nas atribuições orça- no. Trata-se, portanto, de um novo paradigma
mentárias. Também é preciso trabalhar para de gestão pública da cultura no Brasil, que tem
atribuir um mínimo de 1% do orçamento na- como essência a coordenação e cooperação in-
cional para a cultura” (Título II – Compromis- tergovernamental com vistas à obtenção de
sos – art. 50 da Agenda 21). economicidade, eficiência, eficácia, equidade e
efetividade na aplicação dos recursos públicos.
É importante lembrar que este parecer trata de
uma Proposta de Emenda à Constituição que,
uma vez aprovada nesta Comissão Especial,
33 CALABRE, Lia. 1º Seminário Políticas Culturais: um campo de estudo. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa/MinC, 2006, p. 19.

34 A AGENDA 21 DA CULTURA é um documento orientador das políticas públicas de cultura e que contribui para o desenvolvimento cultural da humanidade, tendo
sido aprovado em Barcelona no âmbito do Fórum Universal das Culturas e pelo Brasil no IV Fórum de Autoridades Locais de Porto Alegre para a Inclusão Social.

Desdobramentos 95
O SNC é integrado pelos sistemas municipais, compara em relevância à própria fundação do
estaduais e distrital de cultura, e pelos siste- Ministério da Cultura, há vinte e cinco anos. A
mas setoriais, que foram e serão criados”.35 partir dela, a Cultura contará com um sistema de
gestão compartilhada entre os entes federados.
O parágrafo 1º relaciona os princípios que sinte-
tizam os fundamentos do Sistema Nacional de Diante do exposto, e considerando o grande
Cultura e norteiam todas as suas ações, devendo mérito cultural da iniciativa legislativa em
ser assumidos por todos que a ele se integrem. apreço, votamos pela aprovação da Proposta
Os princípios devem orientar a conduta dos en- de Emenda à Constituição n° 416-A, de 2005,
tes federados e da sociedade civil nas suas rela- de autoria do Deputado Paulo Pimenta e ou-
ções como parceiros e responsáveis pelo pleno tros, na forma do Substitutivo anexo.
funcionamento do SNC. São os seguintes princí-
pios: diversidade das expressões culturais, uni- Fugindo a rigidez da linguagem técnico-jurídica
versalização do acesso aos bens e serviços cul- que nos impõe o Regimento Interno desta Casa,
turais, fomento à produção, difusão e circulação não posso deixar de transcrever, para ficar regis-
de conhecimento e bens culturais, cooperação trado nos Anais do Congresso Nacional, poema
entre os entes federados, os agentes públicos e que redigi quando da realização da audiência
privados atuantes na área cultural, integração e pública nesta Comissão. Ele diz muito da minha
interação na execução das políticas, programas, sensibilidade artística sobre a necessidade do
projetos e ações desenvolvidas, complementa- Sistema Nacional de Cultura. Deixo, assim, a lin-
ridade nos papeis dos agentes culturais, trans- guagem parlamentar e dou voz ao poeta e ho-
versalidade das políticas culturais, autonomia mem comprometido com a cultura deste País:
dos entes federados e das instituições da socie-
dade civil, transparência e compartilhamento “Um sistema de cultura
das informações, democratização dos processos Ta chegando pra valer
decisórios com participação e controle social, República federativa
descentralização articulada e pactuada da ges- Muito há pra se fazer
tão, dos recursos e das ações e ampliação pro- Gestão e financiamento
gressiva dos recursos contidos nos orçamentos Reclamam a todo o momento
públicos para a cultura. Pra cultura florescer

A segunda parte, contida no § 2º do Substitu- O sistema é ferramenta


tivo, mostra a estrutura do Sistema Nacional Por isso vai precisar
de Cultura, nas respectivas esferas de governo, De habilidades e saberes
constituído por órgãos gestores da cultura, Pra poder funcionar
conselhos de política cultural; conferências de Vencendo as oligarquias
cultura, sistemas de financiamento à cultura, Maus costumes e azias
planos de cultura, sistemas setoriais de cultu- Vamos revolucionar
ra, comissões intergestores, sistemas de infor-
mações e indicadores culturais e programas Nas pequeninas cidades
de formação na área da cultura. Nas capitais mais famosas
Nos sertões e planalto
A terceira parte do Substitutivo remete à lei Nas distâncias assombrosas
federal a regulamentação do Sistema Nacio- Com o sistema e muito mais
nal de Cultura, bem como de sua articulação Cada um será capaz
com os demais sistemas nacionais ou políticas De lutas vitoriosas
setoriais de governo (§ 3º). Estabelece também
que, como unidades autônomas da federação, Patrimônio, formação
os estados, o Distrito Federal e os municípios Fomento e mais transparência
organizarão seus respectivos sistemas de cul- Com o controle social
tura em leis próprias (§ 4º). Se vence a má influência
Mais dinheiro no orçamento
Temos plena convicção que a aprovação desta Da economia o sustento
PEC nessa Casa Legislativa constitui um momen- Se fortalece assim nossa urgência
to importante de nossa história recente. Ela se

35 BRASIL. Ministério da Cultura. Op. cit, p. 24.

96
V integração e interação na execução das
Em cada canto do país políticas, programas, projetos e ações
Efervescência e sonho desenvolvidas;
Criação e livre acesso
Vencendo o mundo enfadonho VI complementaridade nos papéis dos
Democracia no ar agentes culturais;
Comunicação exemplar
Com vocês é o que proponho” VII transversalidade das políticas culturais;

VIII autonomia dos entes federados e das


Sala da Comissão, em de abril de 2010. instituições da sociedade civil;
Deputado Paulo Rubem Santiago
Relator IX transparência e compartilhamento
das informações;

substitutivo à proposta X democratização dos processos decisórios com


de emenda à constituição participação e controle social;
nº 416-a, de 2005
XI descentralização articulada e pactuada da
Acrescenta o art. 216-A à Constituição para gestão, dos recursos e das ações.
instituir o Sistema Nacional de Cultura.
XII ampliação progressiva dos recursos contidos
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Se- nos orçamentos públicos para a cultura.
nado Federal, nos termos do art. 60 da Consti-
tuição Federal, promulgam a seguinte Emen- § 2º Constitui a estrutura do Sistema Nacional de
da ao Texto Constitucional: Cultura, nas respectivas esferas da federação:

Art. 1º. É acrescentado o art. 216-A a Constitui- I órgãos gestores da cultura;


ção Federal, com a seguinte redação:
II conselhos de política cultural;
“Art. 216-A. O Sistema Nacional de Cultura,
organizado em regime de colaboração, de for- III conferências de cultura;
ma descentralizada e participativa, institui
um processo de gestão e promoção conjunta IV comissões intergestores;
de políticas públicas de cultura, democráticas
e permanentes, pactuadas entre os entes da V planos de cultura;
federação e a sociedade, tendo por objetivo
promover o desenvolvimento – humano, so- VI sistemas de financiamento à cultura;
cial e econômico – com pleno exercício dos
direitos culturais. VII sistemas de informações e
indicadores culturais;
§ 1º – O Sistema Nacional de Cultura fundamen-
ta-se na política nacional de cultura e nas suas VIII programas de formação na área da cultura; e
diretrizes, estabelecidas no Plano Nacional de
Cultura, e rege-se pelos seguintes princípios: IX sistemas setoriais de cultura.

I diversidade das expressões culturais; § 3º – Lei federal disporá sobre a regulamenta-


ção do Sistema Nacional de Cultura, bem como
II universalização do acesso aos bens de sua articulação com os demais sistemas na-
e serviços culturais; cionais ou políticas setoriais de governo.

III fomento à produção, difusão e circulação de § 4º – Os Estados, o Distrito Federal e os Muni-


conhecimento e bens culturais; cípios organizarão seus respectivos sistemas
de cultura em leis próprias.
IV cooperação entre os entes federados, os
agentes públicos e privados atuantes na Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em
área cultural; vigor na data da sua publicação.

Desdobramentos 97
Sala da Comissão, em de abril de 2010. na produção e difusão da cultura nacional.
Deputado Paulo Rubem Santiago
Relator Art. 2° O art. 35, inciso III, passa a vigorar com a
seguinte redação:
3.2 substitutivo aprovado,
em 23/09/2009 pela comissão “Art. 35.

especial destinada a III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido


proferir parecer à proposta da receita municipal da manutenção e

de emenda à constituição desenvolvimento do ensino, nas ações e ser-


nº 150, de 2003, apensada viços públicos de saúde e na preservação do
à proposta de emenda à patrimônio cultural brasileiro e na produção e
difusão da cultura nacional.
constituição
nº 324-a, de 2001. Art. 3° O art. 160, parágrafo único, passa a vigo-
rar com a seguinte redação:

“Art. 160.
comissão especial destinada a proferir
parecer à proposta de emenda à Parágrafo único.
constituição n° 324-a, de 2001
II – ao cumprimento do disposto no art. 198,
(apenas as pec n° 427, de 2001; n° 150, de § 2° e no art. 216-A.
2003 e nº 310, de 2004)
Art. 4° O inciso IV do art. 167 passa a vigorar
com a seguinte redação:
SUBSTITUTIVO ADOTADO PELA COMISSÃO
“Art. 167.
Altera a redação da alínea e, inciso
II do art. 34, inciso III do art. 35, parágrafo IV – a vinculação de receita de impostos a ór-
único do art. 160, inciso IV do art. 167 e gão, fundo ou despesa, ressalvadas a reparti-
acrescenta o art. 216-A da Constituição ção do produto da arrecadação dos impostos a
Federal para incluir a determinação de que se referem os arts. 158 e 159, a destinação
aplicação mínima de recursos por parte da de recursos para as ações e serviços públicos
União, dos Estados, do Distrito Federal na de saúde, para manutenção e desenvolvimen-
preservação do patrimônio cultural brasileiro to do ensino, para a preservação do patrimô-
e na produção e difusão da cultura nacional. nio cultural brasileiro, a produção e difusão
da cultura e para realização de atividades da
administração tributária, como determinado,
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Se- respectivamente, pelos arts. 198, § 2°, 212, 216-
nado Federal, nos termos do art. 60 da Consti- A e 37, XXII, e a prestação de garantias às ope-
tuição Federal, promulgam a seguinte Emen- rações de crédito por antecipação de receita,
da ao Texto Constitucional: previstas no art. 165, § 8°, bem como o dispos-
to no § 4° deste artigo;”
Art. 1° O art. 34, inciso VII, alínea e, passa a vi-
gorar com a seguinte redação: Art. 5° É acrescentado o art. 216-A a Constitui-
ção Federal, com a seguinte redação:
“Art. 34.
“Art. 216-A A União aplicará, anualmente,
VII – nunca menos de dois por cento, os estados e o
Distrito Federal, um e meio por cento, e os mu-
e) aplicação do mínimo exigido da receita nicípios, um por cento, no mínimo, da receita
resultante de impostos estaduais, compreen- resultante de impostos, compreendida a pro-
dida a proveniente de transferências, na ma- veniente de transferências, na preservação do
nutenção e desenvolvimento do ensino, nas patrimônio cultural brasileiro e na produção e
ações e serviços públicos de saúde e na pre- difusão da cultura nacional.
servação do patrimônio cultural brasileiro e

98
§ 1°. Dos recursos a que se refere o caput, a União vância dos objetivos desta Lei.
destinará vinte por cento aos estados e ao Dis-
trito Federal, e trinta por cento aos municípios. § 2º Do montante geral destinado aos Estados,
cinquenta por cento será repassado aos res-
§ 2°. Os critérios de rateio dos recursos destina- pectivos Municípios.
dos aos estados, ao Distrito Federal e aos mu-
nicípios serão definidos em lei complementar, § 3º A transferência prevista neste artigo está
observada a contrapartida de cada Ente.” condicionada à existência, nos respectivos en-
tes federados, de:
Art. 6° Até a entrada em vigor da lei comple-
mentar a que se refere o § 2°, do art. 216-A, os I - fundo de cultura;
critérios de rateio dos recursos destinados aos
estados, ao Distrito Federal e aos municípios II - plano de cultura, em vigor no prazo de até
serão os mesmos aplicáveis aos fundos de par- um ano após a publicação desta lei;
ticipação dos estados e dos municípios.
III - órgão colegiado oficialmente instituído
Art. 7° Esta Emenda Constitucional entra em para a gestão democrática e transparente dos
vigor na data da sua publicação. recursos culturais, em que a sociedade civil
tenha representação no mínimo paritária,
Sala da Comissão, 23 de setembro de 2009. assegurada em sua composição a diversidade
Deputado Marcelo Almeida regional e cultural.
Presidente
Deputado Jose Fernando Aparecido de Oliveira, § 4º A gestão estadual e municipal dos
Relator. recursos oriundos de repasses do FNC de-
verá ser submetida ao órgão colegiado
previsto no § 3º, inciso III, e observar os
3.3 capítulo III do PL 6.722/2010 procedimentos de análise previstos nos
que institui o progra- arts. 7º a 10.

ma nacional de fomento § 5º Será exigida dos entes federados contra-


e incentivo à cultura - partida para as transferências previstas na
forma do caput deste artigo, observadas as
procultura, na forma do normas fixadas pela Lei de Diretrizes Orça-
substitutivo aprovado, em mentárias para as transferências voluntárias
08/12/2010, pela comissão da União a entes federados.

de educação e cultura da Art. 22. Os critérios de aporte de recursos do


câmara dos deputados FNC deverão considerar a participação da
unidade da Federação na distribuição total de
recursos federais para a cultura, com vistas a
CAPÍTULO III promover a desconcentração regional do in-
vestimento, devendo ser aplicado, no mínimo,
DO APOIO AO FINANCIAMENTO DO dez por cento em cada região do País.
SISTEMA NACIONAL DE CULTURA
Parágrafo único. O domicílio do beneficiá-
Art. 21. A União deverá destinar no mínimo rio determinará a região de enquadramen-
trinta por cento de recursos do FNC, por meio to do projeto.
de transferência direta, a fundos públicos de
Municípios, Estados e Distrito Federal. Art. 23. Com a finalidade de descentralizar a
análise de projetos culturais, a União poderá
§ 1º Os recursos previstos no caput serão desti- solicitar dos órgãos colegiados estaduais pre-
nados a políticas, programas, projetos e ações vistos no art. 21, § 3º, inciso III, subsídios à ava-
previstas no Plano Nacional de Cultura ou nos liação dos projetos culturais prevista no art. 10.
planos decenais de cultura oficialmente ins-
tituídos pelos Estados, Distrito Federal e Mu-
nicípios, e para o financiamento de projetos 3.4 orientações e procedi-
culturais escolhidos pelo respectivo ente fede-
mentos para assinatura
rado por meio de seleção pública, com obser-

Desdobramentos 99
do acordo de cooperação acordo de cooperação federativa
federativa do sistema na-
cional de cultura • Formulário de Solicitação de Integração ao
Sistema Nacional de Cultura preenchido
e assinado pelo Representante Legal
1 Acesse o blog do Sistema Nacional de (Governador ou Prefeito).
Cultura digitando: blogs.cultura.gov.br/snc/
e baixe os arquivos referentes ao Acordo de • Formulário preenchido “Informações
Cooperação Federativa. Complementares ao Acordo de Cooperação
Federativa do Sistema Nacional de Cultura”.
2 Preencha a minuta do “Acordo de Cooperação
Federativa para Desenvolvimento do Sistema • Documentos do Representante Legal
Nacional de Cultura” e os formulários (Governador ou Prefeito): RG, CPF e Ata da
“Solicitação de Integração ao Sistema posse.
Nacional de Cultura” e “Informações
Complementares ao Acordo de Cooperação • Documentos do Estado: CNPJ.
Federativa do Sistema Nacional de Cultura” e
envie para o e-mail: acordosnc@cultura.gov.br A documentação deve ser encaminhada via
correio ou entregue:
3 Aguarde a resposta do Ministério da Cultura:

• Caso a resposta seja positiva, não tendo À Secretaria de Articulação Institucional


nenhuma correção ou complementação Coordenação Geral de Institucionalização
a fazer, imprima 2 vias do Acordo e Monitoramento do Sistema Nacional de
de Cooperação Federativa e os dois Cultura
formulários (já devidamente preenchidos). Ministério da Cultura – MinC
A seguir, o governador do estado Esplanada dos Ministérios, Bloco B,
(ou prefeito do município) assina os Protocolo Geral - Térreo
documentos e rubrica todas as suas CEP 70068-900 - Brasília – DF
páginas. Anexe, então, os documentos Telefone: (61) 2024-2050
solicitados referentes ao Estado ou Horário de Atendimento: 8h às 18h.
Município e ao seu Representante Legal
(governador ou prefeito) e envie todo A documentação também poderá ser entre-
material para o Ministério da Cultura. gue nos Escritórios das Representações Regio-
nais do MinC, nos endereços abaixo:
• Caso seja exigida alguma correção ou
complementação, faça os devidos ajustes e Representação Regional de São Paulo
envie novamente para o e-mail: Endereço: Edifício CBI Esplanada - Rua For-
acordosnc@cultura.gov.br e aguarde a mosa, nº 367, 21º andar - Centro
resposta. Caso positiva, não tendo nenhuma CEP: 01049-911 - São Paulo - SP
correção a fazer, siga o procedimento já Telefone: (11) 5539-6304
definido acima. Caso contrário, faça as Fax: (11) 5549-6116
correções e envie novamente para o e-mail: Horário de Atendimento: 9h às 18h (Para
acordosnc@cultura.gov.br público externo, até 13h)
E-mail: atendimento.sp@cultura.gov.br
4 Aguarde a publicação no Diário Oficial da
União, que será comunicada via e-mail pelo Representação Regional do Rio de Janeiro e
Ministério da Cultura. do Espírito Santo
Endereço: Palácio Gustavo Capanema - Rua da
5 Até o prazo máximo de 30 dias após a data da Imprensa, nº 16, 2º andar - Centro
publicação no Diário Oficial da União, envie CEP: 20030-120 - Rio de Janeiro - RJ
para Secretaria de Articulação Institucional do Telefones: (21) 2220-6590/2220-4189
Ministério da Cultura o nome do Responsável Fax: (21) 2220-7715
pelo acompanhamento do Acordo e, em até 60 Horário de Atendimento: 9h às 18h
dias, o Plano de Trabalho. E-mail: gabinete.rj@cultura.gov.br

documentos a serem anexados ao Representação Regional de Minas Gerais

100
Endereço: Rua Rio Grande do Sul, 940 - Santo
Agostinho
CEP: 30.170-111 - Belo Horizonte - MG
Telefones: (31) 3293-5713/3055-5900
Fax: (31) 3293-8144/3055-5929
Horário de Atendimento: 9h às 18h
E-mail: acordosnc.mg@cultura.gov.br

Representação Regional do Nordeste


Endereço: Rua do Bom Jesus, 237 – Recife
Antigo
CEP: 50.030-170 - Recife - PE
Telefone: (81) 3117-8430
Fax: (81) 3117-8450
Horário de Atendimento: 9h às 18h
E-mail: nordeste@cultura.gov.br

Representação Regional do Sul


Endereço: Rua André Puente, nº 441, sala 604 -
Bairro Independência
CEP: 90.035-150 - Porto Alegre - RS
Telefones: (51) 3311-5331
Fax: (51) 3395-3423
Horário de Atendimento: 9h às 12h/14h às 18h
E-mail: regionalsul@cultura.gov.br

Representação Regional do Norte


Endereço: Avenida Governador José Malcher,
nº 563 - Bairro de Nazaré
CEP: 66.035-100 - Belém - PA
Telefone: (91) 3073-4150
Fax: (91) 3073-4154
Horário de atendimento: 8h às 12h/14h às 18h
E-mail: regionalnorte@cultura.gov.br

Escritório do Acre
Endereço: Rua Dom Bosco, nº 186, Bairro
Bosque
CEP 69.909-390 - Rio Branco - AC
Telefone: (68) 3227-9029
Horário de Atendimento: 9h às 14h
e-mail: snc.ac@cultura.gov.br

Desdobramentos 101
102
Referências
Bibliográficas

103
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Textos normativos de apoio:

PEC nº 150/2003 – Vinculação Orçamentária


para a Cultura

PEC nº 416/2005 – Sistema Nacional de Cultura

PEC nº 236/2008 – Inserção da cultura


no rol dos direitos sociais no Art. 6º da
Constituição Federal

Lei nº. 8.080, de 19 de setembro de 1990, Lei


Orgânica da Saúde (LOS)

Lei nº. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, Lei


Orgânica da Saúde (LOS)

Lei nº. 8.742, de 07 de dezembro de 1993,


Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS)
– Lei nº. 11.107, de 6 de abril de 2005, Lei de
Consórcios Públicos

Lei nº. 11.904, de 14 de janeiro de 2009 –


Estatuto de Museus

Decreto nº 520, de 13 de maio de 1992 –


Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas

Decreto nº 3.964, de 10 de outubro de 2001 –


Fundo Nacional de Saúde

Decreto nº 5.520, de 24 de agosto de 2005


– Sistema Federal de Cultura e Conselho
Nacional de Política Cultural – CNPC

Norma Operacional Básica da Assistência


Social – NOB/SUAS, 2005.

Norma Operacional Básica do SUS 01/1991

Norma Operacional Básica do SUS 01/1993

Norma Operacional Básica do SUS 01/1996

Normas Operacionais da Assistência à Saúde


01/2001

Normas Operacionais da Assistência à Saúde


01/2002

106
107
sistema nacional de cultura – snc
ministério da cultura – minc
secretaria de articulação institucional – sai

Esplanada dos Ministérios -Bloco B


CEP 70068-900 Brasília-DF
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