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Histórias de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS
ORGANIZADO POR MARA REGINA VEIT

Histórias
de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

BELO HORIZONTE - 2003


Copyright © 2003, SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por
qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

Este trabalho é resultado de uma parceria entre o SEBRAE/NA, SEBRAE/MG, SEBRAE/RJ, PUC-Rio, IBMEC-RJ

Coordenação Geral
Mara Regina Veit
Coordenação e Concepção do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

Supervisão
Cezar Kirszenblatt
Daniela Almeida Teixeira
Renata Barbosa de Araújo

Apoio
Carlos Magno Almeida Santos
Dennis de Castro Barros
Izabela Andrade Lima
Ludmila Pereira de Araújo
Murilo de Aquino Terra
Rosana Carla de Figueiredo
Sandro Servino
Sílvia Penna Chaves Lobato
Túlio César Cruz Portugal

Produção Editorial do Livro


Núcleo de Comunicação do Sebrae/MG

Produção Gráfica do Livro


Perfil Publicidade

Desenvolvimento do Site
Daniela Almeida Teixeira
bhs.com.br

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


SEBRAE
Armando Monteiro Neto, Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Silvano Gianni, Diretor-Presidente
Paulo Tarciso Okamotto, Diretor Administrativo-Financeiro
Luiz Carlos Barboza, Diretor Técnico

SEBRAE-MG
Luiz Carlos Dias Oliveira, Presidente do Conselho Deliberativo
Stalin Amorim Duarte, Diretor Superintendente
Luiz Márcio Haddad Pereira Santos, Diretor de Desenvolvimento e Administração
Sebastião Costa da Silva, Diretor de Comercialização e Articulação Regional

SEBRAE-RJ
Paulo Alcântara Gomes, Presidente do Conselho Deliberativo
Paulo Maurício Castelo Branco, Diretor Superintendente
Evandro Peçanha Alves, Diretor Técnico
Celina Vargas do Amaral Peixoto, Diretora Técnica
O projeto
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi criado para que histórias emocionantes de
empreendedores, que fizeram a diferença em sua comunidade, em suas empresas, em suas
instituições, possam ser conhecidas, disseminadas e potencializadas na construção de novos
horizontes empresariais.

O método
O livro Histórias de Sucesso foi concebido com o intuito de utilizar o método de estudo de
caso para estruturar as experiências do Sebrae, e também contribuir para a gestão do
conhecimento nas organizações, estimulando a produtividade e capacidade de inovação, de
modo a gerar empresas mais inteligentes e competitivas.

A Internet
A concepção do Projeto Estudo de Casos para o Portal Sebrae www.sebrae.com.br pretende
divulgar e ampliar o conhecimento das ações do Sebrae e facilitar para as instituições e
profissionais que atuam na rede de ensino, bem como instrutores, consultores e instituições
parceiras que integram a Rede Sebrae, um conteúdo didaticamente estruturado sobre
pequenas empresas, para ser utilizado nos cursos de graduação, pós-graduação, programas de
treinamento e consultoria realizado com alunos, empreendedores e empresários em todo o
País.

O Site dos Casos de Sucesso do Sebrae, foi concebido tendo como referência os modelos
utilizados por Babson College e Harvard Business School , com o diferencial de apresentar
vídeos, fotografias, artigos de jornal e fórum de discussão aos clientes cadastrados no site,
complementando o conteúdo didático de cada estudo de caso. O site também contempla um
manual de orientação para professores e alunos que indica como utilizar e aplicar um estudo
de caso em sala de aula para fins didáticos, além de possuir o espaço favoritos pessoais onde
os clientes poderão salvar, dentro do site do Sebrae, os casos de sucesso de seu maior
interesse

A Gestão do Conhecimento
A partir das 80 experiências empreendedoras de todo o país, contempladas na primeira etapa
do projeto – 2002/2003, serão inseridos em 2004 outros casos de estudo, estruturados na
mesma metodologia, compondo um significativo banco de dados sobre pequenas empresas.

Esta obra tem sido construída com participação e dedicação de vários profissionais, técnicos
do Sebrae, consultores e professores da academia de diversas instituições, com o objetivo de
oportunizar aos leitores estudar histórias reais e transferir este conteúdo para a gestão do
conhecimento de seus atuais e futuros empreendimentos.

Mara Regina Veit


Gerente de Atendimento e Tecnologia do Sebrae/MG, Coordenadora do Sebrae da Prioridade
Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso 2002/2003, Concepção do Projeto Desenvolvendo
Estudo de Casos e Organizadora do Livro Histórias de Sucesso – Experiências Empreendedoras.
Pedagoga, Pós-graduada:Treinamento Empresarial/PUCRS, Administração/ UFRGS, MBA/ Marketing-
FGV/Ohio, Mestranda Administração/FUMEC-MG, autora do livro Consultoria Interna - Use a rede de
inteligência que existe em sua empresa. Ed. Casa Qualidade - 1998.
FLORESTANIA,
UM NOVO CONCEITO
ACRE

INTRODUÇÃO

E m meio à Amazônia brasileira, uma comunidade vinha dando


exemplo de que era possível explorar a floresta sem danificar o meio
ambiente. No coração do Acre, moradores e produtores do Projeto de
Assentamento Agroextrativista Chico Mendes, no município de Xapuri,
tiveram no manejo comunitário a estratégia para valorizar a atividade
extrativista e desestimular a transformação da floresta em pastagens e agri-
cultura. No Brasil, foi o primeiro projeto de manejo florestal comunitário
a obter a Certificação Internacional FSC de Bom Manejo Florestal.
O manejo florestal comunitário fez parte do projeto do Pólo de
Indústrias Florestais de Xapuri, iniciado, em 1996, e que visava promo-
ver e apoiar empreendimentos sustentáveis baseados no uso racional
dos recursos florestais, gerando emprego e renda para a comunidade.

Glauco Gomes de Almeida, Coordenador da Assessoria de Comunicação do Sebrae Acre,


elaborou o estudo de caso sob a orientação de Daniela Abrantes Ferreira Serpa, baseado no
curso Desenvolvendo Casos de Sucesso, realizado pelo Sebrae, Ibmec-RJ e PUC-Rio, integrando
as atividades da Prioridade Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso no Sistema
Sebrae.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


ALUNOS EM AULA DE SEGURANÇA NO TRABALHO

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

MESTRE MARCENEIRO ITALIANO EM ATIVIDADE NA OFICINA


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OS DESAFIOS DOS POVOS DA FLORESTA

P or décadas, no estado do Acre, chegaram trabalhadores de diversas


regiões do Brasil para atuar na extração do látex da seringa. Diferen-
temente do sudeste asiático, a seringueira na Amazônia era nativa e
c rescia espontaneamente entre outras espécies de árvores, não havendo
monoculturas. Com isso, os seringueiros sempre tiveram de percorrer
longos caminhos a pé na floresta, morando com suas famílias em locais
muito distantes da área urbana. Muitos nunca chegaram a conhecer a
cidade e possuíam pouco ou nenhum grau de instrução. Além disso,
viam-se obrigados a vender todo o produto do trabalho aos patrões, os
seringalistas donos das propriedades.
Nos anos 60 e 70, o estado do Acre atraiu colonos, pecuaristas e
empresas madeireiras, em virtude do projeto do Governo Federal (Plano
de Integração Nacional) para a ocupação da região amazônica. Máquinas
e equipamentos foram introduzidos na floresta para a derrubada
desordenada de árvores em busca da madeira, causando danos sem
precedentes. Imensas áreas e pastagens eram abertas com o fogo,
privando os habitantes da sua fonte de subsistência. Grupos de produtores
e extrativistas, liderados pelo ambientalista Chico Mendes (assassinado
em sua residência em Xapuri em 1988), organizaram um movimento
de resistência e se opuseram, por meio de barreiras humanas, sem o
uso da violência aos chamados “empates”. Combatiam um modelo
econômico que negligenciava as peculiaridades regionais e que não
promovia o desenvolvimento sustentável, trazendo sérias implicações
sociais. O clima na região tornou-se tenso, mas os extrativistas
conseguiram a transformação de milhares de hectares em reservas para
a extração do látex e outros produtos florestais.
Os projetos de assentamento permitiram uma certa autonomia aos
seringueiros. Em uma economia essencialmente de subsistência, os
produtos extraídos da floresta passaram a ser comercializados diretamente
aos intermediários da cidade que, por sua vez, vendiam aos grandes
compradores de outras praças.

Coordenação Técnica do Projeto: Luiz Fernando Duarte Maia e Solange Chalub Teixeira

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


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No ano da morte de Chico Mendes, foi criada a Cooperativa Agroex-


trativista – CAEX, formada por 24 associações de pequenos produtores
rurais. Era uma tentativa de ganhar força na comercialização dos dois
principais produtos extraídos da floresta: a castanha e a borracha.
Na área urbana, surgiam as primeiras marcenarias que aproveitavam
a abundância de matéria-prima local na produção de móveis. As madeiras
tradicionalmente mais utilizadas eram a cerejeira, o cedro e o mogno
que, por também terem a preferência dos madeireiros para comercialização,
seus preços ficavam cada vez mais altos. Essas empresas eram essencial-
mente familiares e informais, e geridas de forma empírica. Os processos
produtivos eram quase que exclusivamente artesanais com aplicação
mínima de tecnologia. Não eram estabelecidos padrões de qualidade, e
os produtos visavam atender apenas às encomendas do mercado local.
Distante 185 quilômetros da capital Rio Branco, com uma estrada
de difícil acesso, principalmente no período chuvoso, o isolamento era
inevitável. O mercado de trabalho restrito obrigava os jovens de Xapuri
a seguir o ofício dos pais: o de extrativista e de produtor rural, o que os
obrigava a permanecer em locais distantes e sem acesso às escolas. As
entidades assistenciais, principalmente ligadas à Igreja Católica, sempre
desempenharam um importante papel com as populações, ajudando a
sociedade civil a se organizar e buscar fontes alternativas de renda,
contribuindo com a inclusão social.
Na década de 90, a pavimentação da estrada para a capital e
municípios vizinhos rompeu o isolamento, mas as atividades econômicas
eram as mesmas e ainda insuficientes para promover o crescimento
econômico do município.
Xapuri, em toda sua história, sempre teve a economia pautada no
extrativismo.
A indústria extrativista da madeira, o maior recurso natural do Acre ,
gerava poucas vantagens às populações residentes. Um metro cúbico da
madeira, em tora, valia US$ 20, enquanto que, após um beneficiamento
simples, passava a ser comercializado a US$ 100.
Para aproveitar a vocação do município e todo esse potencial
econômico, era necessário mudar.

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CORAGEM, CRIATIVIDADE E RESPEITO À NATUREZA


FAZEM A FORÇA DE UM POVO

E m resposta ao movimento organizado dos seringueiros e à


reivindicação pela posse das terras de extrativismo, o Governo Federal
instituiu, por meio da Lei nº 7.804, de 18 de julho de 1989, e o Decreto
nº 98.897, de 30 de janeiro de 1990, a criação de reservas florestais em
âmbito nacional.
Das reservas florestais criadas no Acre, o Projeto de Assentamento
A g roextrativista Chico Mendes, com quase um milhão de hectare s
(970.570 ha), vinha beneficiando principalmente as populações dos
municípios de Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia e Xapuri, na região
do Alto Acre.
Em Xapuri, a área de assentamento de 24 mil hectares abrigava 75
famílias assentadas – aproximadamente 300 pessoas. A base da economia
era a castanha e a borracha e, em 1996, os moradores começaram a
discutir a implantação do manejo florestal para a extração da madeira.
No mesmo ano, começava a ser operacionalizado pelo Sebrae o
PRODER – Programa de Emprego e Renda, que, utilizando a metodologia
MAMPLA (Metodologia de Autodiagnóstico Municipal), contribuiu para
a mobilização e a organização da sociedade civil local. A metodologia,
baseada em ferramentas de planejamento estratégico, previa a participação
de representantes da sociedade local. Técnicos do Sebrae mobilizaram
líderes de associações, empresários, professores, representantes da
igreja e do poder público municipal e estadual, entre outros, para
compor o Fórum de Desenvolvimento Municipal. O objetivo era elaborar
o Plano Estratégico de Desenvolvimento de Xapuri, abrangendo 14 setores
do município: primário, secundário, terciário, educação, saúde, segurança
pública, saneamento, energia, administração e infra-estrutura
municipal, recursos culturais e população. A principal estratégia para a
elaboração do documento era mobilizar a comunidade para pensar,
organizar e decidir seu próprio desenvolvimento.
A iniciativa ganhava força, à medida que as reuniões e seus
resultados se propagavam na comunidade. Os integrantes do Fórum
interagiam com amigos, parentes e vizinhos, discutindo os problemas
e reivindicações da coletividade que iam desde a recuperação de

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ramais e transporte para o escoamento da produção, disponibilização


de assistência técnica aos produtores rurais e extrativistas, abertura de
escolas rurais, ampliação da rede de distribuição de energia elétrica,
ampliação de mercados para a produção local até a capacitação de
produtores e empresários locais. Identificados os organismos responsáveis
pela execução das ações propostas, o Fórum iniciou um longo processo
de articulação por intermédio das associações, cooperativas, Igreja
Católica, Sebrae e poder público.
A Prefeitura fez uso do documento para nortear o planejamento
das ações da administração pública municipal para os anos seguintes.
Entre as ações prioritárias idealizadas pela comunidade estavam a criação
de um pólo moveleiro e de uma escola profissionalizante para jovens.
A princípio, em um entendimento entre o prefeito e representantes da
Igreja Católica local, o sonho da escola de marcenaria seria concretizado
nas dependências da própria igreja. Mas, e o pólo moveleiro?
Tendo como parceiros o Governo do Estado Acre, a Igreja Católica
e parlamentares, a Prefeitura buscou fontes alternativas de recursos
necessários para a elaboração do projeto e a viabilização do pólo, que
passou a incorporar a oficina-escola de marcenaria. A SUFRAMA financiou
a construção dos galpões e, em contrapartida, a Prefeitura cedeu os
terrenos e providenciou toda a infra-estrutura do local: ruas, urbani-
zação, rede de água e de distribuição de energia elétrica. Faltava pouco.
“Nós nos organizamos, fomos buscar parcerias na Itália e
conseguimos a doação de todos os equipamentos para a oficina-
escola de marcenaria”, relatou Júlio Barbosa, Prefeito de Xapuri.
A solidariedade internacional incluiu, ainda, a criação da
Associazone Brianza-Amazzonia, uma organização de cooperação
sem fins lucrativos, e a ida de voluntários a Xapuri para prestar apoio
técnico na oficina-escola. A viagem à Itália culminou ainda no acordo
com a Pirelli para a compra de parte da produção de borracha dos seringais
de Xapuri a ser utilizada na fabricação de pneus no Brasil. Pouco
tempo depois, foi disponibilizado, no mercado, o pneu modelo Xapuri,
utilizado em caminhões. Outra parceria importante para o projeto foi a
WWF, uma ONG de atuação mundial na preservação do meio ambiente.
Em uma iniciativa pioneira na Amazônia brasileira, o projeto
evoluiu para Pólo de Indústrias Florestais de Xapuri – Piflor-Xapuri,
visando à implementação do conceito de desenvolvimento sustentável

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baseado na industrialização de produtos florestais. Com isso, além do


pólo moveleiro, que contava com instalações de escritórios, sala de
aula, três prédios de 350 m2 para a instalação de marcenarias, estufa
para secagem de madeira e serraria móvel, incorporou uma usina de
beneficiamento de castanha, uma indústria de beneficiamento de
borracha, que já estavam em funcionamento, e a reserva florestal Projeto
de Assentamento Agroextrativista Chico Mendes.
Na outra ponta da cadeia produtiva, buscando aliar os processos de
extrativismo com a preservação ambiental, o Projeto de Assentamento
Agroextrativista Chico Mendes (PAE-CM), gerido pela AMPPAE-CM –
Associação dos Moradores e Produtores do PAE-CM, implantou o manejo
de madeira, complementando as tradicionais coletas de castanha e
borracha. Após estudar e testar várias metodologias de manejo os
seringueiros definiram, em sua própria linguagem, a melhor forma de
disseminar e pôr em prática o manejo florestal. Os próprios seringueiro s
faziam o inventário das espécies de árvores existentes em suas
propriedades, classificando-as quanto ao tamanho. Seguindo o sistema
adotado, somente as árvores “mãe” foram cortadas. “Mães” eram árvore s
com diâmetro mínimo de 80 centímetros que já tinham uma “filha”
produzindo sementes e duas “netas”. Assim, a própria natureza se
encarregava do reflorestamento. No início de 2002, este projeto obteve
a certificação internacional FSC-Forest Stewardship Council de Bom
Manejo Florestal, tornando-se o primeiro projeto de manejo florestal
comunitário certificado do Brasil. Os resultados obtidos com o manejo
sustentável em Xapuri tinham atraído ambientalistas e autoridades no
assunto do mundo inteiro . Só no ano de implantação, receberam a visita
de líderes comunitários de 35 países.
“Em média, nas áreas sem manejo, 20% das árvores são cortadas.
No sistema que implantamos aqui com os produtores da associação,
só tiramos 3% das árvores. Não há devastação da flore s t a ” ,
orgulhava-se Nilson Teixeira Mendes, seringueiro, Presidente da
AMPPAE-CM e primo de Chico Mendes.
Seu irmão Antônio Teixeira Mendes, o Duda, que também já foi
presidente da associação, completa:
“Aqui estão assentadas nove famílias. Outras famílias da reserva
estão interessadas em implantar nosso sistema de manejo. Antes,
não acreditavam e contávamos apenas com o apoio do Governo do
Estado do Acre.”
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Com a certificação, o metro cúbico da madeira teve uma valorização


de 20% no preço de venda.
Completava-se o ciclo. Realizava-se o sonho que poderia ser o
início de uma era de desenvolvimento para Xapuri.
Durante o ano de 2001, o Fórum de Desenvolvimento Municipal e
os parceiros reuniram-se e elaboraram, além do planejamento estratégico,
um plano operacional para o Centro de Formação e Apoio à Produção
do Pólo de Indústrias Florestais de Xapuri.
Nesse processo, foi definida a missão do Piflor-Xapuri:
“Promover e apoiar os empreendimentos sustentáveis baseados no
uso múltiplo dos recursos florestais, por meio do aprimoramento de
competências, de habilidades e do fortalecimento da atitude
empreendedora.”
Essa estratégia permitiu a valorização da atividade extrativista, da
conservação florestal e da melhoria da qualidade de vida de suas
populações, tendo como diretrizes: sustentabilidade, verticalização das
cadeias produtivas do extrativismo, gestão e conhecimento.
Sua gestão, inicialmente, ficou a cargo da Prefeitura Municipal de
Xapuri e do Governo do Estado do Acre, devendo constituir-se em
personalidade jurídica própria, com um conselho de gestão e tornar-se
auto-sustentável.
Em uma visão ampliada da escola de marcenaria, o Piflor-Xapuri,
em parceria com o Sebrae, o SENAI, a Fundação de Tecnologia do
Acre – FUNTAC e a Associazone Brianza-Amazzonia, passou não só
a promover a capacitação profissional para a atividade de marcenaria
como também a estimular o empreendedorismo e as novas vocações
empresariais no setor, aumentando as perspectivas de ampliação e
geração de trabalho e renda. A oficina-escola foi instituída como uma
empresa e, ao mesmo tempo, como um laboratório de produção,
capacitação e comercialização, funcionando ainda como uma incubadora.
A estruturação dos cursos baseou-se no conceito de sustenta-
bilidade socioambiental da cadeia produtiva, proporcionando elementos
importantes para a construção de uma conscientização sobre o uso dos
recursos naturais, o respeito ao saber tradicional das comunidades, a
incorporação de novos conhecimentos, de novas tecnologias, e a eficiência
e segurança nos processos de cada etapa envolvida.
O fomento à criação de microempresas e de pequenas empresas
de base florestal, caracterizadas pela inovação de processos, aquisição
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de matérias-primas com certificação de origem, conteúdo tecnológico


de seus produtos e utilização de métodos adequados de gestão, vinha
constituindo-se em um importante mecanismo para a dinamização do
desenvolvimento socioeconômico local. Para atrair empreendimentos
para o pólo, foi definida uma política de incentivos que contemplava:
incentivos fiscais, concessão de uso de galpões industriais, uso da
estrutura instalada a preço de custo operacional, acesso a comunidades
extrativistas que produzem madeira certificada, além do manejo de
recursos florestais não madeireiros, tratamento diferenciado pelos parceiros
do projeto e visibilidade proporcionada por mecanismos próprios de
divulgação.
Pela abrangência das atividades do Piflor-Xapuri e pela característica
interdisciplinar de seu centro de formação, os objetivos perseguidos
eram, também, de grande amplitude: desenvolvimento, adaptação,
aquisição e difusão nas áreas de manejo e indústria florestal madeireira
em prol do desenvolvimento humano; incorporação do conhecimento
nos processos; garantia de transferência de tecnologia às populações
tradicionais e aos empresários das pequenas indústrias de móveis e
afins; criação de oportunidades de investimentos com fins produtivos;
apoio à transformação do conhecimento em novos produtos, processos
e serviços; capacitação e fixação da mão-de-obra em seus locais de
origem; disponibilização de produtos e serviços nas comunidades, por
empresas locais; e interação das microempresas e das pequenas empresas
com instituições de pesquisa e tecnologia.
O pólo moveleiro iniciou suas atividades em 2001, com o funciona-
mento de uma movelaria, com sede localizada em São Paulo e com a
oficina-escola capacitando cinco pessoas do município, orientadas por
um marceneiro-instrutor da FUNTAC, que atuariam como multiplica-
d o res. Também, participaram do processo como instrutores voluntários,
mestres marceneiros do tradicional Pólo Moveleiro de Como, Itália.
Toda a madeira utilizada no pólo, como matéria-prima, era de origem
certificada, proveniente do manejo florestal do Assentamento Agroex-
trativista Chico Mendes. A produção centrava-se em pequenos objetos
de madeira destinados ao mercado de decoração.
No ano de 2001, a Prefeitura Municipal de Xapuri concorreu ao
Prêmio Mário Covas, promovido pelo Sebrae, com o projeto Piflor-
Xapuri, recebendo o título de “Prefeitura Empreendedora”.
Em abril de 2002, o pólo moveleiro representou a Prefeitura
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Municipal de Xapuri na URBIS 2002 – Feira Internacional de Cidades,


realizada em São Paulo, expondo seus produtos. A participação de
Xapuri foi o resultado de sua classificação como município vitrine de
desenvolvimento local integrado e sustentável no estado. Título obtido
com o programa PRODER Especial, operacionalizado pelo Sebrae em
parceria com o Governo do Estado do Acre.
Ainda, no mesmo ano, o Piflor-Xapuri inaugurou uma loja no centro
de Xapuri para venda de seus produtos e teve um projeto aprovado
pelo Sebrae para promover a comercialização de seus produtos. As
principais ações contempladas previam consultorias tecnológicas,
capacitação, participação em feiras e divulgação institucional e de
produtos por meio de folders, presença na internet e uma exposição
fotográfica itinerante.
O Piflor-Xapuri participou como expositor no evento internacional de
ciência, tecnologia e negócios sustentáveis, Amazontech, realizado, em
setembro de 2002, em Rio Branco, Capital do Estado do Acre. Na ocasião,
todos os pequenos objetos de madeira em exposição foram comercializados.
Apesar de toda a solução ter sido amplamente discutida na comu-
nidade local, o pólo moveleiro também enfrentou resistência por parte
dos m a rc e n e i ros locais, temendo o aumento da concorrência, pois o
suporte tecnológico e o apoio na busca de novos mercados visavam
fortalecer não só as marcenarias já instaladas no município, mas todas as
outras que viessem a se instalar, atraídas pela política de incentivos. Os
cursos e palestras sobre associativismo e cooperativismo promovidos pelo
Sebrae, em 2002, não esgotaram a questão, que continuou sendo o
desafio para o pólo e seus parceiros.

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CONCLUSÃO

O Pólo de Indústrias Florestais de Xapuri – Piflor-Xapuri foi uma


iniciativa pioneira de política pública da Prefeitura Municipal de Xapuri,
no Estado do Acre, alavancando o desenvolvimento local e sustentável
da região. O projeto, iniciado em 1996, visava à industrialização local
dos produtos do extrativismo, agregando valor e consolidando-se no
mercado nacional e internacional.
Fruto da atuação conjunta de diversas parcerias, contou com a
participação ativa da comunidade local, que, organizada, soube identificar
suas necessidades e definir o seu próprio caminho de desenvolvimento.
Além dos permanentes desafios da floresta, outros vêm surgindo em
um contexto mais complexo: o mercado.
A consciência de preservação do meio ambiente e a prioridade
para o uso de matéria-prima com certificação de origem foram o grande
diferencial do empreendimento. Ao mesmo tempo em que se promoveu
a criação de unidades de manejo florestal, incentivou-se a implantação
de empreendimentos industriais para absorver localmente a oferta dos
produtos extrativistas, proporcionando, assim, a criação de empresas e
empregos na zona urbana e a melhoria da renda e da qualidade de
vida na zona rural.
O Pólo de Indústrias Florestais de Xapuri foi a continuidade da história
de um povo de luta, que buscou alternativas ecologicamente corretas para
promover o desenvolvimento e resgatar sua florestania – a cidadania
dos povos da floresta –, em uma continuação à luta de Chico Mendes.

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PONTOS PARA DISCUSSÃO


• Xapuri deu o seu recado. Que estratégia de negócios poderia ser
adotada pelo Pólo de Indústrias Florestais de Xapuri para consolidar
sua marca e assegurar sua permanência no mercado?

• Os projetos comunitários que visam ao desenvolvimento sustentável, em


virtude de sua natureza complexa e envolvimento de vários atores,
demoram para apresentar seus primeiros resultados positivos. E de
que forma poderiam ser conduzidos para que os benefícios na
comunidade pudessem ser alcançados em curto ou médio prazo?

• Em sua opinião, qual a diferença entre estar envolvido e estar compro-


metido nos processos de cooperação na comunidade? E quais atores
conseguem obter melhores resultados: os envolvidos ou os
comprometidos?

Diretoria Executiva do Sebrae Acre (2002): Elizabeth Amélia Ramos Monteiro, Orlando
Sabino, Rosa Satiko Nakamura

Agradecimentos:
Júlio Barbosa – Prefeito de Xapuri; Luís Fernando Maia – Consultor do Sebrae/AC; Nilson Teixeira
Mendes – Presidente da AMPPAE-CM e Solange Maria Chalub Teixeira – Consultora do Sebrae/AC.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

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