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Abordagem territorial como estratégia de

fortalecimento da agricultura familiar –


Território Vales do Curu Aracatiaçu
(CE)

Jorge Luis de Sales Farias


Agricultura Familiar
Abordagem Territorial
No início do século XXI, ocorreu a realização de estudos sobre territórios
deprimidos no Brasil, desenvolvidos por meio do convênio firmado entre o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A abordagem territorial é reconhecida como uma importante estratégia de
implementação de ações institucionais em áreas identificadas pelo baixo poder
aquisitivo da população e o alto nível de exclusão social.
O Território dos Vales do Curu e Aracatiaçu (CE) foi selecionado para a
realização de abordagem para o desenvolvimento local, como forma de atenuar o
baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a pobreza rural.
Território dos Vales do Curu e Aracatiaçu

Figura: Território dos Vales do Curu e Aracatiaçu – Adaptado IPECE


Território dos Vales do Curu e Aracatiaçu
O Território do Vales do Curu e Aracatiaçu é constituído por 18
municípios, localizado na porção noroeste do Estado do Ceará,
abrangendo uma área de 12.143 km2.
A população total é de 570.908 habitantes, com 45,4% da população habitando a área rural, com 30.701
agricultores familiares. Apresenta o IDH médio de 0,63.
Caracteriza-se por ser uma região que congrega três sistemas ecológicos distintos: sistema ecológico de sertão,
de serra e de litoral.
Fase I – 2003 a 2005
A atuação da Embrapa Caprinos e Ovinos ocorreu de forma conjunta com o
Programa Fome Zero financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, iniciando em novembro de 2003.

Projeto “Ações de capacitação de produtores familiares visando a difusão e a


transferência de tecnologia de sistemas de produção de caprinos, contribuindo para
o desenvolvimento sustentável da Bacia do Curu e do Território dos Inhamuns,
Ceará”.

Selecionados os municípios que apresentaram a caprinocultura como atividade


priorizada pelo estudo do PNUD e que possuíam condições socioeconômicas
consideradas compatíveis com ações a serem executadas.

Foram escolhidos quatro municípios que estão inseridos no sistema ecológico do


bioma Caatinga de Apuiarés, General Sampaio, Pentecoste e Tejuçuoca.
Fase I - 2003 a2005
A atuação da Embrapa contemplou as Comunidades Carrapato (Pentecoste), Vila
soares (Apuiarés), Cajazeiras (General Sampaio) e Riacho das Pedras (Tejuçuoca)
com Unidades Técnicas de Referência (URT) em cada comunidade, formando uma
rede de referência.

O roteiro de implantação da rede considerou os requisitos relacionados com a


participação em grupo organizado, localização da propriedade em circuitos de fácil
comunicação, pré-disposição para o trabalho de disponibilização de conhecimentos e
liderança local.

Foram selecionadas as tecnologias mais adequadas ao perfil dos agricultores para as


capacitações que possibilitassem a melhoria do desempenho animal nas unidades
familiares.
Fase II – 2005 a 2007
Ao final do projeto Embrapa Caprinos e Ovino/Fome Zero em 2005, surgiu a
necessidade de ampliar a escala das ações no território, verificou-se a
existência de lacunas na abordagem para o desenvolvimento local, entre elas
destacava a ausência de capacitação para técnicos locais.

Projeto “Capacitação de produtores familiares visando à difusão e


transferência de tecnologias de sistema de produção de caprinos na Bacia do
Curu e do Território dos Inhamuns-Ceará” que teve duração de dois anos,
cujas ações foram financiadas pelo Banco do Nordeste do Brasil.

Objetivo central do Projeto tinha como propósito a qualificação de técnicos e


produtores familiares de territórios rurais do semiárido nordestino no uso de
tecnologias de produção e de gestão, em caprinos, contribuindo para sua
especialização e inserção social e econômica
Fase III – 2007 a 2011

Surge a necessidade de integrar as unidades familiares na produção de carne de


caprinos e ovinos com as unidades de beneficiamento de carne implantadas no
Território e, bem como, a necessidade de estudos sobre indicadores de impactos
socioeconômicos nas unidades familiares das tecnologias adotadas.

Projeto “Integração das Unidades Demonstrativas de carne e leite de caprinos e


ovinos e seus derivados no Estado do Ceará”, pelo edital do Macroprograma 4 da
Embrapa.

Objetivo geral avaliar os impactos das ações de transferência de tecnologias


possibilitando identificar os instrumentos para a inserção e o fortalecimento das
unidades familiares produtoras de caprinos e ovinos no Estado do Ceará.
Fase III – 2007 a 2011

Sensibilização dos parceiros locais


- Agricultores familiares que eram parceiros e tinham suas propriedades como
unidades técnicas de referência, que haviam sido implantadas por projetos anteriores.
- Instituições locais - Secretarias de agricultura dos municípios e ONG's

Formação de comitê gestor


Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Pentecoste,
Prefeitura municipal de Pentecoste, Tejuçuoca e Apuiarés, Associação de Criadores
de Caprinos e Ovinos de Tejuçuoca (ACRIA), Agência de Desenvolvimento
Econômico Local (ADEL), Banco Nordeste do Brasil (BNB) e Embrapa Caprinos e
Ovinos.
Fase III – 2007 a 2011

Diagnóstico local

Fóruns municipais e territoriais


Ações empreendidas pelos atores locais, que utilizaram de encontros entre
agricultores e instituições como estratégia para exercitarem o diálogo por meio do
intercâmbio de conhecimentos e das necessidades tecnológicas para a produção de
carne de caprinos e ovinos.

A Embrapa Caprinos e Ovinos atuar de forma conjunta com as ações das


instituições locais participando de forma mais efetiva no arranjo local contribuindo
com tecnologias e conhecimentos para e com os agricultores familiares.
Fase III – 2007 a 2011

Capacitação

A partir da organização da demanda, foi iniciado o processo de capacitação


continuada, por meio de palestras, dias de campos, cursos e visitas técnicas.

Um dos primeiros temas escolhido para as capacitações foi sobre a produção de


alimentos para a reserva estratégica em épocas secas, sendo esta uma importante
estratégia de convivência com o semiárido.
Fase III – 2007 a 2011

Capacitação

O processo de capacitação não ficou restrito apenas aos técnicos e aos agricultores
familiares, mas a jovens, filhos de agricultores familiares, que participavam da
escola de formação em agroecologia localizada no município de Pentecoste, que
funcionava com o apoio da ADEL.

Para isso foram capacitados em temas sobre práticas agroecológicas para a


convivência com o Semiárido brasileiro, relacionados ao manejo agroflorestal,
tendo como exemplo o sistema agrossilvipastoril.
Fase III – 2007 a 2011
Resultados

Articulação institucional que culminou com a formação do comitê gestor, que


acoplado aos processos locais de instrumentos metodológicos e de apoio aos
agricultores familiares, resultou na reestruturação da abordagem para o
desenvolvimento local

Identificação e qualificação das demandas para que estas atendessem às


expectativas das comunidades envolvidas, convergindo em ações planejadas de
forma participativa entre todos os atores envolvidos.

Ampliação na capacidade inovadora, resultando em uma reengenharia social com


um novo modelo de abordagem, reconhecendo que um projeto territorial, deve ser
um processo simultâneo de valorização local, com mobilização social, formação de
capital social e democratização da informação.
Fase III – 2007 a 2011
Resultados
Resultados

Ressalta-se ainda, o fato dos agricultores familiares deixaram de ser meros


receptores e passaram a ser sujeitos do processo, pois as discussões e a adoção de
tecnologias devem contar com a participação dos agricultores, por serem eles os
reais promotores do seu desenvolvimento (ZOBY et al., 2003).

O fortalecimento das unidades familiares, por meio das redes sociais constituídas
por agricultores familiares produtores de caprinos e ovinos, por meio de
associações que priorizaram a produção de carne de pequenos ruminantes para a
geração de renda e inclusão social.

Aprimoramento do capital social por meio de capacitações para técnicos e


agricultores familiares em técnicas relativas a produção animal, manejo da
Caatinga, beneficiamento de produtos de origem animal, cooperativismo e planos
de negócio, possibilitou que os atores locais promovessem a inclusão social e
produtiva.
Fase III – 2007 a 2011
Resultados

“Deixei de criar vacas, passei a criar ovelhas, o risco é menor”


Gilberto Soares, Apuiarés, em visita técnica realizada por técnicos de Cabo Verde,
em 2009.

“As cabras do projeto fome zero mudaram minha vida, ajudou a educar os meus
filhos e não permitiu que eu voltasse a Fortaleza”.
Francisco Julião, um dos beneficiários do Projeto Embrapa Caprinos e
Ovinos/MDS Fome Zero - Pentecoste, quando entrevistado por pesquisadores da
Universidade Estadual do Ceará, em 2011.
Obrigado!

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