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EXPEDIENTE

Palavra do
presidente
EMATER–MG, na sua cami- futuras um mundo melhor do que aquele
nhada ao longo dos seus 55 que recebemos, no que tange à preserva-
Foto capa: José Olímpio anos de existência, vivenciou ção de recursos naturais.
os mais diferentes momentos Buscar a participação da sociedade na
Empresa de Assistência Técnica e da história do desenvolvimento de Minas discussão de objetivos e caminhos para o
Extensão Rural do Estado Gerais e do Brasil, sempre sintonizada com crescimento faz com que cada um dos
de Minas Gerais
as mudanças ocorridas no mundo. Pas- seus membros seja, de fato, protagonistas
Vinculada à Secretaria de Estado de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento sou, no seu nascedouro, pela política de da sua própria história de desenvolvimen-
introdução da agricultura mineira na utili- to, se sinta dono, tenha orgulho do que
Presidente:
José Silva Soares
zação do crédito rural, o que fez com faz e cuide para que as mudanças de rumo,
extrema competência, quando inclusive quando necessárias, sejam somente estra-
Diretor Administrativo e Financeiro:
Vicente José Gamarano
inaugurou sua saga de ser referência na- tégias na busca dos objetivos participati-
cional naquilo que faz. No momento vamente definidos.
Diretor de Promoção e em que o Brasil optou pelo caminho de Vamos com a marca forte EMATER-
Articulação Institucional:
Fernando José Aguiar Mendes desbravamento da fronteira agrícola, com MG, mas dentro de um projeto transfor-
foco no produto e na produção, com ob- mador, construindo a Extensão Rural de
Diretor Técnico:
Marcos Antônio Fabri jetivos explícitos de dar escala ao agrone- um novo tempo, consoante com os an-
gócio e conquistar os mercados internaci- seios e visão de uma nova organização da
Conselho Editorial:
Eugênio Paccelli Loureiro Vasconcelos onais, lá estava a nossa EMATER–MG, sociedade, focada em resultados para a
Flávio Antônio mais uma vez cumprindo o seu papel. melhoria da vida da sociedade mineira e
Harildo Norberto Ferreira Poderíamos listar outros momentos objetivando tornar Minas no melhor Es-
José Fernando das Neves Domingues importantes, nos quais tivemos que revi- tado para se viver.
Márcio Stoduto de Melo sar nossa missão e ajustar nosso foco para
Maria de Fátima Singulano
Maria Helena Martins Chaves Alves termos competência e competitividade e
Marisa Liliane Vasconcelos continuarmos no mercado. Hoje um
Assessoria de Relações novo desafio se coloca à nossa frente. As
Públicas e Imprensa: soluções de balcão não atendem mais às
Harildo Norberto Ferreira expectativas e demandas dos clientes. E
RG 2.731 SJPMG isto nos leva a refletir sobre uma nova
Redatores: EMATER-MG, que, sem perder sua his-
Ângela Barbosa tória na extensão rural, sem abrir mão da
Edna de Souza marca que a identifica no mercado, passa
Harildo Norberto Ferreira
Fernanda Vasques (estagiária) a atuar como uma Promotora de Desen-
Projeto Gráfico: volvimento, identificando, alavancando,
Roberto Caio provocando, inovando, coordenando e exe-
Márcia Rezende cutando, junto com parceiros, empreita-
Artes Gráficas: das que levem às pessoas e organizações
Divisão de Recursos Materiais possibilidades de criar novas oportuni-
DIREM/EMATER-MG dades para crescerem. Mas estamos fa-
Tiragem: 13.000 exemplares lando de um crescimento que promova
A reprodução dos artigos, total ou parcial, o desenvolvimento social e econômico
pode ser feita desde que citada a fonte de todas as pessoas envolvidas, o desen- José Silva Soares
volvimento com justiça social. Um cres-
cimento que tenha componentes de pla-
nejamento que busquem a longevidade
deles, ou seja, o desenvolvimento susten-
tável, lembrando sempre que a sustenta-
bilidade, dentre muitos pressupostos, pas-
sa pelo respeito e cuidado com o meio
ambiente, para devolvermos às gerações

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 3


Unincor e EMATER-MG impulsionam
desenvolvimento do Sul de Minas
No dia 17 de junho, a UNINCOR colas, sustentabilidade ambiental, O presidente da EMATER–MG,
(Universidade Vale do Rio Verde) e organização de agricultura fami- José Silva , considerou o acontecimen-
a Fundação Comunitária Tricordia- liar, planejamento e gestão social to um ato histórico: “Hoje, com essa
na de Educação (FCTE) assinaram e políticas públicas operacionali- parceria, escrevemos uma página na
um convênio de cooperação técni- zadas pela EMATER–MG. história. A EMATER–MG se ade-
ca, científica e tecnológica com a Segundo o reitor da UNINCOR, quou ao momento trabalhando não só
EMATER–MG, com duração de professor Adair Ribeiro, este tra- com tecnologia, mas com atuação na
cinco anos, no salão nobre do cam- balho conjunto, além de possibi- área ambiental, social, político-insti-
pus de Três Corações. litar o crescimento da região de tucional e no campo tecnológico. Ou
O convênio tem o objetivo de Três Corações, oferece aos alunos seja, ela trabalha com o desenvolvi-
buscar articulações que envolvam a oportunidade de conhecer e mento sustentável economicamente
cadeias produtivas do agronegócio transformar a realidade do homem viável, socialmente justo e ambiental-
mineiro, atividades rurais não agrí- do campo. mente correto”.

Concurso Qualidade do Café . . . .06

Artesanato é destaque em Cipotânea . . . .07


sumário

Queijos tradicionais de Minas com mais qualidade . . . .08

Estabilidade e economia conseguidas com produção de mudas . . . .10

Produção de açúcar mascavo tem tradição de mais de 40 anos . . . .12

Tanques comunitários de refrigeração são a


saída para pequenos produtores . . . .14

UNINCOR – Uma história de compromisso social


com a comunidade . . . .16
Irapé: Reassentamento Coletivo . . . .20
Suinocultura avança com sustentabilidade . . . .22

Chegou a vez do Gergelim no Triângulo . . . .24

O sabor da culinária mineira que gera emprego e renda . . . .26


Com recuperação e preservação ambiental a água pode voltar . . . .28
Mais de meio século de representatividade
. . . .30

4 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


Unidades Regionais da EMATER-MG
Alfenas - fone: (35)3292-1170 - Fax: (35)3292-5144 - E-mail: Juiz de Fora - fone: (32)3224-5389- Fax: (32)3224-3306 - E-mail:
uregi.alfenas@ematermg.ligbr.com.br Almenara - fone: (33)3721-1152- Fax: uregi.juizfora@ematermg.ligbr.com.br Lavras - fone: (35)3821-0010 - Fax:
(33)3721-2378 - E-mail: uregi.almenara@ematermg.ligbr.com.br Araçuai - (35)3821-3784 - E-mail:uregi.lavras@ematermg.ligbr.com.br Manhuaçu -
fone: (33)3731-1514 - Fax: (33)3731-1801 - E-mail: uregi.aracuai@ematermg. fone/Fax: (33)3331-2060 - E-mail: uregi.manhuacu@ematermg.ligbr.com.br
ligbr.com.br Araguari - fone: (34)3241-2450- Fax: (34)3242-8990 - E-mail: Montes Claros - fone/Fax: (38)3223-2130 - E-mail: uregi.monclaro@
uregi.araguari@ematermg.ligbr.com.br Bambuí - fone: (37)3431-1137 - E- ematermg.ligbr.com.br Muriaé - fone: (32)3722-5799 - Fax: (32)3722-8373 -
mail: uregi.bambui@ematermg.ligbr.com.br Barbacena - fone: (32)3331- E-mail: uregi.muriae@ematermg.ligbr.com.br Passos - fone: (35)3522-1166
0655- Fax: (32)3331-5901 - E-mail: uregi.barbacena@ematermg.ligbr.com.br - Fax: (35)3522-4194 - E-mail: uregi.passos@ematermg.ligbr.com.br Patos
Belo Horizonte - fone: (31)3349-8347- Fax: (31)3349-8244 - E-mail: de Minas - fone: (34)3823-1551- Fax: (34)3823-1539 - E-mail:
emurbhle@emater.mg.gov.br Belo Horizonte - fone: (31)3349-8345- Fax: uregi.patminas@ematermg.ligbr.com.br Pirapora - fone/Fax: (38)3741-
(31)3349-8121 - E-mail: emurbhoe@emater.mg.gov.br Capelinha - fone/Fax: 3502 - E-mail: uregi.pirapora@ematermg.ligbr.com.br Ponte Nova - fone/
(33)3516-2028 - E-mail: uregi.capelinha@ematermg.ligbr.com.br Cataguases Fax: (31)3817-1556 - E-mail: uregi.pontenova@ematermg.ligbr.com.br
- fone: (32)3421-7374 - Fax: (32)3421-5972 - E-mail: uregi.cataguas@ematermg. Pouso Alegre - fone: (35)3422-3777- Fax: (35)3422-8985 - E-mail:
ligbr.com.br Caxambu - fone/Fax: (35)3341-4772 - E-mail: uregi.caxambu@ uregi.poualegre@ematermg.ligbr.com.br Salinas - fone: (38)3841-1280 -
ematermg.ligbr.com.br Curvelo - fone: (38)3721-5757- Fax: (38)3721-6579 - E- Fax: (38)3841-1304 - E-mail: uregi.salinas@ematermg.ligbr.com.br São
mail: uregi.curvelo@ematermg.ligbr.com.br Diamantina - fone: (38)3531- Francisco - fone: (38)3631-1797- Fax: (38)3631-1386 - E-mail:
1006- Fax: (38)3531-2277 - E-mail: uregi.diamanti@ematermg.ligbr.com.br uregi.sfrancisc@ematermg.ligbr.com.br São João Del Rei - fone:
Divinópolis - fone/Fax: (37)3222-7816- E-mail: uregi.divinopol@ (32)3372-1035 - Fax: (32)3372-1227 - E-mail: uregi.sjdelrei@ematermg.
ematermg.ligbr.com.br Governador Valadares - fone/Fax: (33)3271-7288 - ligbr.com.br Sete Lagoas - fone/Fax: (31)3774-7070 - E-mail:
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Guaxupé - fone/Fax: (35)3551-5671 - E-mail: uregi.guaxupe@ematermg. Uberaba - fone: (34)3338-6618- Fax: (34)3338-6634 - E-mail:
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ematermg.ligbr.com.br Itajubá - fone/Fax: (35)3623-2576 - E-mail: 1752- Fax: (34)3214-2641 - E-mail: uregi.uberland@ematermg.ligbr.com.br
uregi.itajuba@ematermg.ligbr.com.br Janaúba - fone: (38)3821-1589 - Fax: Unaí - fone: (38)3676-1764 - E-mail: uregi.unai@ematermg.ligbr.com.br
(38)3821-1450 - E-mail: uregi.janauba@ematermg.ligbr.com.br Januária - Viçosa - fone: (31)3891-3155 - E-mail: uregi.vicosa@ematermg.ligbr.
fone/Fax: (38)3621-1019 - E-mail: uregi.januaria@ematermg.ligbr.com.br com.br

Parceria da EMATER-MG com o CENEP


fortalece o Projeto Gestar
No município de Frutal, o Projeto Gestar no Triân- monia com a preservação e o resgate ambiental”.
gulo Mineiro foi implantado durante seminário realiza- A área de abrangência do projeto é a Bacia Hidro-
do no mês de julho. O Gestar é um projeto do Ministé- gráfica do Rio Grande, composta por 22 municípios no
rio de Meio Ambiente, por meio da Secretaria de Políti- Triângulo Mineiro, com ações em todos eles, no prazo
cas para o Desenvolvimento Sustentável – SDS/MMA, de 36 meses. Para viabilizar a sua execução, o CENEP
tendo como executor no Estado o Centro Nacional estabeleceu parcerias e vai contar, também, com recur-
de Educação Profissional em Cooperativismo, Ges- sos de vários ministérios como Agricultura, Desenvolvi-
tão Ambiental e Turismo (CENEP) e um dos parceiros mento Agrário, Ciência e Tecnologia e Turismo, além
a EMATER-MG. de apoios da Organização das Cooperativas Brasi-
O objetivo do Gestar é contribuir para o desen- leiras – OCB/SESCOOP e SEBRAE/MG.
volvimento de programas e projetos de desenvolvi- O Governo do Estado de Minas Gerais está prio-
mento rural sustentável, por meio da gestão ambi- rizando o projeto com a participação das Secretari-
ental e territorial, melhorando a qualidade de vida as de Estado da Agricultura, do Meio Ambiente, da
da população rural, integrando políticas governa- Ciência e Tecnologia, do Turismo e da Educação e
mentais mediante processos participativos que en- suas instituições vinculadas, como a EMATER-MG,
volvam diretamente as comunidades em seus espa- a RURALMINAS, a COPASA e a CEMIG. O pro-
ços territoriais. jeto também está recebendo recursos de convênios
De acordo com a coordenadora do Projeto no Tri- internacionais como a GREEN CROSS INTER-
ângulo Mineiro, Sheila Paiva de Andrade, “a estraté- NATIONAL, a FUNDAÇÃO INTERNACIO-
gia do projeto é a organização dos assentamentos NAL CARREFOUR e outros. A Universidade Fe-
humanos pelo associativismo e cooperativismo, cri- deral de Minas Gerais - UFMG também apoiará o
ando condições para que as comunidades desenvol- Projeto GESTAR, disponibilizando recursos huma-
vam uma capacidade de auto-gestão, sempre em har- nos e tecnológicos.

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 5


Concurso Qualidade
do Café
Edna de Souza
Arquivo EMATER-MG (foto)
Manhuaçu>>

café brasileiro de qualidade


está fazendo a diferença em
números de mercado. Pelos
dados da Associação Brasilei-
ra da Indústria do Café (Abic), pelo me-
nos 9% das l4,2 milhões de sacas de café
que serão consumidas no País neste ano
têm grãos especiais. A estimativa é de que
este mercado já movimente pelo menos
R$ 400 milhões. Um mercado consolida-
do e em crescente ascensão.
Em Minas Gerais o café é cultivado
em aproximadamente 150 mil proprieda-
des rurais de 680 municípios, gerando 4,6
milhões de empregos diretos e indiretos.
O Estado, considerado maior produtor de O café da Zona da Mata se destaca pela qualidade
café do Brasil tem um parque cafeeiro de
aproximadamente três bilhões de pés plan- os agricultores familiares. O concurso pro- trar ações que agreguem valor ao produ-
tados em 1,1 milhão de hectare. Segundo move atividades técnicas para preparar to e melhorem a qualidade do café pro-
dados da CONAB na safra 2004/2005 os cafeicultores para a produção de café duzido, permitindo uma maior competiti-
serão produzidos 18,1 milhões de sacas, de qualidade, buscando maior inserção no vidade do produto tanto no mercado in-
que representam cerca de 50% da pro- mercado. Nesse contexto, são realizados terno quanto externo, gerando postos de
dução nacional. dias de campo, demonstrações técnicas, trabalho e renda. Com o slogan: Cafés e
As principais regiões produtoras: o Sul palestras sobre mercado e demonstração Competitividade Minas é a Referência, o con-
de Minas, Alto Paranaíba e Zona da Mata de provas do café para classificação. curso tem a promoção da Secretaria de
respondem por 52,9%, 18,7%, 28,4%, A região de Manhuaçu, maior pólo Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por
respectivamente. A EMATER-MG atua produtor de café e uma das maiores con- meio da EMATER-MG e da Universida-
prestando assistência técnica aos produ- centrações de agricultores familiares em de Federal de Lavras e é parte integrante
tores, realizando eventos que visam trans- café do País (mais de 95% têm menos de do AGROMINAS-CAFÉ,
ferir e difundir tecnologias para a melho- 100 ha) responde por mais de 65% da O pré-lançamento foi realizado em
ria da qualidade e da rentabilidade da ca- produção de café da Zona da Mata mi- Alfenas, durante a abertura do Circuito
feicultura, tais como o Circuito Mineiro neira. A região é composta por 18 muni- Sul Mineiro de Cafeicultura, dia 29 de
de Cafeicultura, com a realização, neste cípios e o café é a principal atividade eco- julho. Os Ministérios do Desenvolvimen-
ano, de 51 etapas no Estado. Serão 26 nômica, com mais de 12 mil famílias as- to Agrário e da Agricultura, Pecuária e
etapas no Sul de Minas, 12 nas Matas de sistidas, com produção de 1,9 milhão de Abastecimento, Faemg, Fiemg Fetaemg,
Minas, sete nas Chapadas de Minas e seis sacas (60kg) e produtividade de cerca de Ocemg e Banco do Brasil são alguns dos
no Cerrado Mineiro; além do Concurso 20 sacas por hectare. parceiros nesse evento.
Estadual de Qualidade de Cafés de Mi- O gerente regional da EMATER-MG Para o presidente José Silva, “a cafei-
nas Gerais. no município, Bernardino Cangussu, diz que cultura representa um dos principais pro-
Realizado desde 2002, em nível de “é significativo o aumento dos chamados dutos da cadeia produtiva e a realização
região, o Concurso de Qualidade do Café cafés de grifes encontrados no mercado. de eventos, tais como o Concurso Esta-
da Agricultura Familiar da região de Ma- São diversas variedades de cafés especiais, dual de Qualidade de Cafés de Minas
nhuaçu – o primeiro concurso do País, considerados tipo exportação”. Gerais, são ações que vão possibilitar ao
realizado exclusivamente nesse segmento O Concurso Estadual de Qualidade Estado maior poder de negociação e co-
– objetiva melhorar a qualidade do pro- de Cafés implantado este ano em toda mercialização de produtos processados
duto com uma metodologia educativa para Minas Gerais, tem o objetivo de concen- com valor agregado”.

6 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


Artesanato é destaque
em Cipotânea
principais objetivos incrementar e me-
Fernanda Vasques
Cipotânea >>

lhorar a qualidade dos produtos, agre-


Alexandre Soares (foto)
gando valor ao artesanato.
Segundo o extensionista, a parceria
da EMATER–MG com a Embrapa é
muito importante para aumentar a va-
município de Cipotânea pos- riedade de palha: “As sementes selecio-
sui uma extensão territorial nadas no banco de genética da Embra-
de 150 km2 e uma popula- pa visam obter diversos tons de colora-
ção de, aproximadamente, ção de palha, variando do claro ao cre-
6.500 habitantes. Mais de 70% desta po- me, lilás, roxo e palhas listradas. Além
pulação vive em comunidades rurais, ex- disso, é feita uma avaliação de sua tex-
plorando suas atividades em sistema fami- tura”, explica o extensionista.
liar. O artesanato em palha de milho, que De acordo com a responsável pelo
tem gerado renda e emprego é destaque projeto de pesquisa da Embrapa, Déa
no cenário nacional e internacional. Martins Netto, “a idéia surgiu da Agên-
Resultado de uma parceria da EMATER– cia de Promoção à Exportação – APEX,
MG com o Prorenda RURAL, Prefeitu- do Ministério de Desenvolvimento Agrá-
ra Municipal e Central Mãos de Minas, a rio (MDA), que, junto às comunidades
atividade recebeu grande impulso com a rurais detectou a necessidade de me-
organização dos artesãos, por meio da As- lhorar a qualidade da palha para arte-
sociação dos Artesãos de Cipotânea, cria- sanato. A proposta é melhorar a maté-
da há dois anos, que conta com 70 famí- ria-prima e, assim, estimular o artesa-
lias associadas. Hoje o artesanato em pa- nato mineiro, com perspectivas para ex-
lha de milho é a principal fonte de renda portação”.
de, pelo menos, 30% da população do No trabalho iniciado em 2002, com o
município. plantio do primeiro experimento, avalia-
De acordo com o extensionista da ram-se as potencialidades de cada cultivar.
EMATER–MG, Wanderly Fernandes de Numa outra etapa, além do comprimento,
Carvalho, “são produzidas 52 mil peças/ da largura, da cor e da textura da palha,
mês só em Cipotânea. Esse volume de pro- pretende-se avaliar os efeitos da aduba-
dução gera uma receita anual de R$ 3 mi- ção na qualidade final do produto. Para
lhões, consolidando o artesanato como Wanderly Fernandes, a feira e exposição
uma das principais atividades econômicas”. em Porto Seguro (Bahia), a Feira Nacional
Com o aumento da demanda por pa- de Artesanato em Belo Horizonte, a Feira
lha de milho, o município passou a ter Internacional da grift fair em São Paulo, além
déficit na produção e teve seu preço one- do envio de amostras de produtos para a
rado em 200% por quilo com relação feira internacional em Bolonha, na Itália,
ao milho. Enquanto a palha custa R$ são alguns exemplos de como o artesana-
1,00/kg, o milho custa R$ 0,35/kg. Por to é representativo no município e tem ga-
isso, “a EMATER–MG está desenvol- rantido lugar de destaque no cenário na-
vendo trabalhos para aumentar a oferta cional e internacional. “Essas amostras fo-
da matéria-prima”, salienta Wanderly. ram responsáveis pela visita de um repre-
Neste sentido, ações como a implanta- sentante da Comércio Alternativo da Itália
ção de unidades de observação com cul- em Cipotânea, para conhecer o trabalho
tivares de milho para avaliar a qualidade das artesãs. As artesãs percebem que são
da palha e a capacidade de rendimento), capazes de conseguir um preço digno, fa-
o concurso municipal de produtividade zendo nascer na consciência de cada uma a
de milho e a parceria da EMATER–MG autovalorização e a necessidade de se orga-
com a Embrapa Milho/Sorgo têm como nizarem”, finaliza o extensionista.

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 7


Lassance >>

Queijos tradicionais de
Minas com mais qualidade
As primeiras etapas da coleta de da- Benefícios
Ângela Barbosa dos foram realizadas nas regiões do Serro
José Olímpio (foto) Em Minas Gerais existem cerca de 27
e de Araxá. Com o resultado dessa pes-
mil produtores na atividade, com uma pro-

I
quisa, os extensionistas da EMATER–
dução anual de 70 mil toneladas/ano. Des-
MG dessas regiões vão direcionar ações
dentificar a qualidade do queijo mi- para a melhoria do padrão de qualida- ses, 10.773 são produtores das quatro re-
nas artesanal”, observando se está de do queijo. Desde 1998, a SEAPA, giões caracterizadas que produzem, anual-
em condição de ser consumido com por meio da EMATER–MG, em par- mente, 33.570 mil toneladas de queijo em
segurança, é o objetivo da pesquisa ceria com diversas entidades, desenvol- 46 municípios, gerando 26.870 empregos
que a Universidade Federal de Viçosa ve o Programa de Apoio aos Queijos diretos. A coordenadora Técnica Estadual
(UFV) está desenvolvendo em parceria Tradicionais de Fabricação Artesanal de da EMATER–MG, Marinalva Martins
com a EMATER–MG nas regiões ca- Minas Gerais nas regiões caracteriza- Soares e a extensionista Sandra Pereira,
racterizadas como produtoras de queijo das. As finalidades são adequar as insta- que, junto com técnicos da EMATER–
minas artesanal: Serro, Araxá, Alto Paranaí- lações, desenvolver boas práticas de MG de Araxá acompanharam a coleta de
ba e Canastra. As amostras dos produtos: fabricação, obter o controle sanitário do dados. Marinalva Martins fala sobre o Pro-
leite, água, do pingo (soro do queijo) e rebanho e o tratamento da água para grama no Estado:
do próprio queijo, são coletadas com o cumprir a Lei Estadual 14.185, de 31
apoio dos técnicos da EMATER–MG, e de janeiro de 2002, que dispõe sobre o Revista da EMATER–MG – Quais
as análises feitas nos laboratórios da UFV processo de produção do queijo minas as dificuldades para o desenvolvimen-
e da própria região. A pesquisa integra o artesanal. A lei determina o limite máxi- to do Programa?
Programa de Apoio aos Queijos Tradici- mo de presença de bactérias e outros mi- Marinalva Soares – A produção do
onais de Fabricação Artesanal de Minas croorganismos nocivos à saúde humana queijo minas artesanal, secular nestas re-
Gerais, da Secretaria de Agricultura, Pe- e também o padrão físico-químico do giões que mantêm a tradição tecnológica
cuária e Abastecimento (SEAPA) em par- queijo (acidez, formato e tempo de ma- de produção, repassada de geração em
ceria com a FERT – Cooperação Fran- turação) e outras características organo- geração, vem enfrentando algumas difi-
cesa. lépticas (cor, sabor e odor). culdades. O maior desafio dos agriculto-

8 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


res familiares é a falta de recursos finan-
Prêmio por projeto para a melhoria
ceiros para cumprirem a legislação vigen- da qualidade do queijo
te, que exige instalações adequadas para a
produção, como: queijarias, cobertura e O Projeto Identidade e Qualidade lecer a identidade do queijo produzi-
calçamento de currais. Adequando-se às do Queijo da Região de Pratinha, tradi- do na região, desenvolver o selo de
exigências da lei, os produtores terão con- cional região produtora de queijo mi- identidade, qualidade e registro (paten-
dições de produzir um queijo com selo nas artesanal em Minas Gerais, no Alto te) do produto, adequar as instalações
de denominação e origem, auferindo mais Paranaíba, foi um dos dez projetos ven- e desenvolver boas práticas de fabrica-
lucros na comercialização. Também pas- cedores do IX Prêmio Banco Real/ ção (higiene na ordenha), além de ob-
saram a incorporar à produção as boas UniSol – Universidade Solidária. A ce- ter o controle sanitário do rebanho para
práticas de processamento, com técnicas rimônia de entrega do prêmio foi reali- cumprir a Lei Estadual 14.185, de 31
modernas de manejo sanitário do reba- zada em junho passado, no Teatro Ga- de janeiro de 2002, que dispõe sobre o
nho e da ordenha, sem mudança da re- zeta, em São Paulo–SP. Cada projeto processo de produção do queijo minas
ceita e da técnica de fabricação. Outra recebeu R$ 20 mil para o desenvolvi- Artesanal.
dificuldade é a falta de organização dos mento de suas ações. “Queremos com isso gerar uma
produtores que produzem e comercia- Coordenado pela professora Ana identidade com qualidade para o quei-
lizam isoladamente. Organizados em as- Cláudia Chesca, do curso de Nutrição da jo minas artesanal produzido na região
sociações ou cooperativas, eles terão Universidade de Uberaba - UNIUBE, e de Pratinha, agregar valor ao produto
maior poder de negociação. pelo extensionista Gustavo Laterza de e possibilitar a ampliação do mercado
Revista da EMATER–MG – Qual Deus, da EMATER–MG, o projeto é consumidor de acordo com a legisla-
o diferencial dos queijos das regiões o resultado da integração da ação so- ção”, explica Gustavo Laterza.
caracterizadas? cial extensionista da UNIUBE com As ações serão desenvolvidas em
Marinalva Soares – O relevo mon- a EMATER–MG. Os objetivos são várias etapas, incluindo curso de capa-
tanhoso, com pastagens naturais, as tem- promover o desenvolvimento susten- citação para gerenciamento da produ-
peraturas mais baixas e a tradição das fa- tável da região e fortalecer a capaci- ção, com a participação de professores
mílias produtoras determinam a fabrica- dade produtora de queijo minas arte- e alunos da UNIUBE, explica o exten-
ção desses queijos com aroma, cor, sabor sanal dos agricultores familiares. sionista: “Entre outras ações, vamos tra-
e consistência singulares. Nessas regiões A coordenadora técnica da EMATER– balhar para a sensibilização dos agri-
predominam microorganismos (bactérias) MG, Marinalva Olívia Martins Soares, cultores familiares (apresentação e ex-
que dão características especiais aos quei- valoriza a iniciativa do extensionista La- plicação da legislação), o levantamento
jos. terza em buscar parcerias “que vão pos- do potencial produtivo da região, a ca-
Revista da EMATER–MG – O sibilitar a inclusão dos agricultores fa- racterização físico-química do queijo
que determina um queijo minas ar- miliares na produção do queijo minas produzido, a caracterização e a implan-
tesanal de boa qualidade? artesanal com qualidade e segurança ali- tação das condições higiênico-sanitári-
Marinalva Soares – A utilização da mentar, colocando-os no mercado com as de produção, a determinação e fixa-
matéria-prima de qualidade, isto é, isenta competitividade”. ção dos aspectos de qualidade deseja-
de qualquer contaminação, com a utiliza- O Projeto de Identidade e Quali- da no produto final, o desenvolvimen-
ção adequada de práticas de fabricação e dade do Queijo Minas Artesanal da to de embalagens adequadas, o regis-
instalações onde o queijo é processado e Região de Pratinha busca resgatar as- tro do selo de identidade e qualidade,
maturado. pectos históricos da produção, estabe- abrangendo a ampliação do mercado”.

Produtor de Serra do Salitre recebe primeiro certificado


O produtor rural Vanderlino dos Vanderlino, que produz uma média lhoria das instalações, com o objetivo
Reis Moreira, da comunidade de Ca- diária de 55 kg de queijo, é o primeiro pro- de desenvolver boas práticas de fa-
tulé, no município de Serra do Sali- dutor mineiro a ser cadastrado no Progra- bricação: controle sanitário, adequação
tre, recebeu no dia 20 de abril último, ma Queijo Minas Artesanal, instituído pela do processamento, do manejo e da or-
do Instituto Mineiro de Agropecuá- Secretaria de Agricultura, com base no denha do rebanho.
ria – IMA, o certificado de cadastro Decreto-lei 14.987, de 14 de janeiro de Segundo o coordenador técnico de
como produtor de queijo minas arte- 2004, que concede prazo de três anos ao bovinocultura da EMATER–MG, El-
sanal da microrregião do Alto Parana- setor do queijo artesanal para se organizar mer Ferreira de Almeida, “aproxima-
íba. A solenidade contou com a pre- em Minas Gerais e garantir o reconheci- damente 50 produtores nas regiões ca-
sença do presidente da EMATER– mento nacional do produto. Ele investiu racterizadas estão terminando o pro-
MG, José Silva Soares, representan- R$ 30 mil na adequação de sua produção. cesso de levantamento e reforma das
do o secretário da Agricultura, do di- O produtor recebeu acompanhamen- queijarias para receberem o certifica-
retor-geral do IMA, Altino Rodrigues to e orientação técnica do extensionista do”. Um deles é João José de Melo,
Neto, extensionistas e produtores da Wilson Rosa, da EMATER–MG, respon- também de Serra do Salitre, que pro-
região. sável por orientar e acompanhar a me- duz 40 quilos de queijo/dia .

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 9


Estabilidade e eco
com produç
Dona Euzébia >>

o ritmo da atividade no município segue feitura, UFV e Cooperativa de Produtores


Edna de Souza
estabilizado. e Comerciantes de Mudas é importante
Pedro Giovanio (fotos)
De uma população rural de cerca de na sustentação aos produtores para acesso
800 habitantes, segundo levantamento do às tecnologias e produção de qualidade.

M
extensionista da EMATER–MG em Dona Bons resultados
unicípio de agricultura tradi- Euzébia, Marco Aurélio Salgado Pires, mais
cional, Dona Euzébia, loca- de 270 famílias de agricultores familiares Há 14 anos na atividade, o produtor
lizado na Zona da Mata, foi recebem assistência técnica da EMATER– Antônio de Roma Venâncio trabalha com
aos poucos se transforman- MG na produção de mudas e outras 270 produção de mudas num sistema tipica-
do em importante pólo produtor de mudas. se dedicam à comercialização do setor. A mente familiar. Com o filho, Paulo Ro-
Depois de passarem por muitas crises nos previsão de plantio para até 2005 chega a berto, e o irmão, Sebastião Manoel, ele
vários ramos da atividade agrícola, princi- 10 milhões de mudas, tendo em 2003 al- trabalha em parceria no Sítio Veraneio, re-
palmente na cafeicultura e na cultura do cançado 2,8 milhões de mudas cítricas e cebendo apenas a terra e as mudas. To-
fumo, os produtores rurais do município dois milhões de plantas ornamentais, pro- das as despesas oriundas da atividade são
conseguiram colocar Dona Euzébia em 1º duzidas praticamente com recursos dos por conta própria. Na comercialização, o
lugar no Estado em produção de mudas produtores. proprietário fica com 20% do total arreca-
cítricas, produzindo também mudas de São mudas de mais de 200 variedades dado.
outras frutíferas, além de plantas ornamen- de plantas. Só de citros são 28 espécies, Utilizando irrigação por aspersão, An-
tais e florestais. como: laranjas-da-baía, baianinha, serra- tônio produz 42 mil mudas. São 16 meses
A cafeicultura era a atividade principal d’água, pera rio, seleta e tangerinas ponkan para produção, da semeadura à comercia-
há mais de 30 anos. Posteriormente, veio a e murcote, mexericas (laranja-cravo) cra- lização. Comercializando o viveiro comple-
cultura do fumo, que se apresentava como vo e rio e limão tahiti e galego. Dentre as to, o produtor consegue preço de até R$
alternativa à do café. Depois de seu declí- variedades frutíferas, Dona Euzébia pro- 1,70 por muda. No varejo sai a R$ 2,00.
nio, com a entrada das multinacionais no duz um pouco de tudo. Assim, o consumi- O processo de propagação é através de
mercado, veio a cultura da cana-de-açúcar. dor poderá encontrar mudas de acerola, enxertia e o porta-enxerto é o limão-cra-
Produtores com áreas pequenas, apesar do cupuaçu, camu-camu, sapoti, entre outras. vo, utilizado para se conseguir bons sabo-
uso incipiente de tecnologia, foram os pio- Com as espécies florestais e ornamentais res. Ao atingir o diâmetro de um lápis (0,7
neiros no ramo. Mas, o que impulsionou a também não é diferente, são mudas de açaí, cm mais ou menos), enxertam-se as varie-
economia do município foi a produção areca, moreira, nolina, estrelizia, eugênia, dades de frutas cítricas que se deseja pro-
com tecnologia e amplitude de espécies. pau-brasil, palmeira imperial, sibipiruna e duzir. Quando as mudas chegam a ter de
Hoje a atividade gera cerca de 600 em- mogno. Uma produção importante para a quatro a sete folhas, são transportadas para
pregos diretos e 500 indiretos. E não obs- arrecadação municipal, em torno de R$ 16 o terreno, plantadas com espaçamento
tante o desaquecimento da economia na- milhões anuais. A parceria para apoio à ati- mínimo entre as plantas de 25 centímetros
cional e o aumento do desemprego no País, vidade envolvendo EMATER–MG, Pre- e entre as fileiras de 80 centímetros.
“Tudo isso para se conservar a carac-
terística de sabor e produtividade da plan-
ta-mãe, além de precocidade na produ-
ção”, explica o extensionista Marco Auré-
lio Pires. Não se recomenda utilizar semen-
tes ou mudas das plantas adultas para no-
vos plantios. Os tratos culturais são como
os de qualquer outra cultura, como análise

Com orientação do técnico Marco


Aurélio (D) Antônio Venâncio
utiliza a irrigação por aspersão

10 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


nomia conseguidas
ão de mudas
de solo, utilização de calcário e outros insu-
mos. Antes, a produção de mudas era o
que se chamava de “fundo de quintal”, to-
dos se sentiam habilitados e a produção
era de péssima qualidade.
Antônio Venâncio diz que há cerca de
10 anos a EMATER–MG começou a atu-
ar mais incisivamente com orientação e
muita vigilância. “Depois das exigências dos
técnicos, as mudas de baixa qualidade eram
eliminadas, e passamos a utilizar somente
as mudas boas”. Considerado o melhor
produtor da região, Antônio não comenta
sobre lucros, mas dá para ver que está sa-
tisfeito com a rentabilidade do negócio. In-
veste parte do que ganha na produção e
hoje tem casa no distrito, transporte pró-
prio para o trabalho e adquiriu um sítio de
“Plantas ornamentais têm comércio o ano inteiro, diferente de citros
dois hectares na comunidade Graminha,
que tem época certa para o arranquio” (Marco Aurélio)
que pretende passar para o filho. “Mas ele
não é exceção”, explica Marco Aurélio, acres-
centando que “existem muitos outros nes- melhor do que mudas cítricas, que tem épo- beneficiar os produtores rurais que traba-
sa mesma condição, vivendo exclusivamente ca certa para a venda, como explica o ex- lham na produção de mudas. Outro fator
da produção de mudas”. tensionista da EMATER–MG. “Com ci- incentivador para o produtor de mudas
tros, as vendas são em espaço reduzido de foi a criação da Cooperativa de Produto-
Resultados tempo. Muitas vezes acontece de os valo- res e Comerciantes de Mudas de Dona
Com mão-de-obra exclusivamente fami- res estarem em alta, às vezes, em baixa. Já Euzébia. Em uma loja, no centro da ci-
liar, o produtor Unilson Áreas e sua família com as plantas ornamentais, o comércio é dade, são disponibilizados os insumos
sobrevivem das vendas de mudas ornamen- certo o ano inteiro, pode-se vender a qual- com preços competitivos e facilidades de
tais, numa pequena propriedade arrenda- quer hora”, acrescenta. pagamento aos 150 cooperados. No iní-
da. Na Floricultura São Manoel, eles culti- cio eram 10 cooperados, que cotizaram
vam cerca de 15 mil mudas/ano entre vá-
Incentivo
R$ 400,00 cada um para a instalação da
rias espécies como azaléia, cróton, exora, A Prefeitura de Dona Euzébia é uma loja, onde funciona também a Coopera-
cruzia, palmeira fênix, mussaenda, agave, parceira importante dos produtores que tiva, aberta a toda a municipalidade.
espirradeira, alamanda, fícus, podocarpo e investem na produção de mudas. Segun- Em parceria com a EMATER–MG
eugênia, entre outras. Só de buganvília fo- do o prefeito Luiz Fernando Ribeiro, e o IMA, a Prefeitura realiza diversos
ram cinco mil mudas neste ano. “como os produtores de mudas investem eventos e campanha de valorização da
Diferente das frutas que têm tempo normalmente na própria cidade, o desem- atividade, reconhecendo seu papel social
certo para a comercialização, a planta or- prego aqui é quase zero, já que cerca de e econômico para o município. Uma cam-
namental pode ser cultivada e vendida o 90% da atividade econômica do municí- panha realizada nas escolas da cidade re-
ano inteiro. De acordo com a época e a pio gira em torno da produção de mudas. sultou na escolha do slogan “Berço do
concorrência, pode chegar a um preço de Vejo Dona Euzébia como uma cidade pri- Verde – Fonte de Vida”, justificando a
mercado muito bom, por isso Unilson está vilegiada por ter esta opção de emprego e condição de cidade maior produtora de
sempre reinvestindo, principalmente em renda”. mudas do Estado. De Dona Euzébia sai
espécies que têm maior circulação no co- Com a intermediação da Prefeitura jun- mudas para todo o País. “Hoje, estamos
mércio. Desde os oito anos de idade, há to ao Ministério de Desenvolvimento Agrá- voltados para a exportação. Aqui, em
cerca de 22 anos, ele trabalhava com mu- rio – MDA, por meio do Banco da Terra, qualquer fundo de quintal, existe uma
das cítricas. Com a floricultura, começou foi possível adquirir uma fazenda de 1.200 microempresa para o comércio de mu-
há cinco anos. hectares, que foi dividida em 94 glebas de das. Todo o trabalho com mudas dá um
Comercializar plantas ornamentais é aproximadamente 12 ha cada uma, para bom resultado”, afirma o prefeito.

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 11


Produção de
tem tradi
47 engenhos, e saíam do município, toda
semana, de cinco a seis caminhões com
rapadura para comercializar em todas as
regiões do Estado e fora dele”, segundo
“O processo de vapor de caldeira instalado
no engenho proporcionou mais economia e
informações do prefeito José Américo
alta produtividade” Luciano Alves (esq) e Ferraz. “Aqueles que conseguiram se
Walmir Teixeira (dir) modernizar e melhorar os engenhos se
voltaram para a produção de açúcar mas-
Itamarati de Minas >>

cavo e, hoje, estão conseguindo melho-


res mercados, com maior rentabilidade”,
explica.
Ao contrário do açúcar branco, trata- Para facilitar e baratear custos do pro-
Edna de Souza do quimicamente e isento de sais mine- cesso, tanto de comercialização quanto de
Pedro Giovanio (fotos) rais e vitaminas, o açúcar mascavo, sem compra conjunta de insumos, os produ-
adição de aditivos químicos e agrotóxi- tores se uniram e criaram em 1989 a As-
cos, é obtido pela evaporação do caldo sociação dos Produtores Rurais de Itama-
de cana, mantendo seus nutrientes origi- rati de Minas, atualmente com 280 associa-

T
nais altamente preservados, um adoçan- dos. O apoio e a assistência da EMATER–
radição, clima, qualidade do te natural que tem em sua composição MG no processo de produção e associati-
solo e potencial de inserção no sacarose, frutose, glicose, potássio, cál- vismo são fundamentais, assim como a
mercado são fatores positivos cio, magnésio, fósforo, sódio, ferro, man- parceria da Prefeitura em toda a parte
que incentivam as famílias ru- ganês, zinco, flúor, vitaminas A, B1,B2, logística (transporte e mão-de-obra para
rais em Itamarati de Minas a produzirem B5, C, D2, D6 e E. a entrega de insumos).
açúcar mascavo. A localização do muni- Itamarati de Minas, um dos municípi-
os que fazem parte da Unidade Regional
Produção e exportação
cípio, na Zona da Mata mineira, próximo
de grandes centros consumidores como da EMATER–MG em Cataguases, é um O produtor Luciano Alves de Moura
Juiz de Fora, Belo Horizonte, Rio de Ja- dos maiores produtores de açúcar mas- se destaca na produção de açúcar masca-
neiro e São Paulo, é outro ponto funda- cavo da região, mantendo por mais de 40 vo com uso de tecnologias inovadoras,
mental e abre um leque de oportunidades anos uma tradição da agroindústria arte- diferente dos engenhos tradicionais da re-
para o incremento da comercialização, sanal e familiar com a produção de cana- gião. Em 2001 ele iniciou no engenho o
possibilitando maior geração de emprego de-açúcar. Inicialmente, os produtores do processo de vapor de caldeira, que pro-
e renda na região. município se destacaram na produção da porcionou mais economia e alta produti-
Com população rural de aproximada- rapadura, porém muitos deles, sem con- vidade, já que o processo é automatizado,
mente mil habitantes (um quarto da po- dições de investir em
pulação urbana), Itamarati de Minas tem tecnologia, acabaram
um PIB agropecuário de mais de R$1,5 saindo do mercado.
milhão, com produção diversificada em “No passado, eram
horticultura, café e lavouras tradicionais
(arroz, feijão e milho), sendo a bovinocul-
tura de leite a base da economia do muni- “Quem conseguiu
cípio, com um plantel de 700 matrizes e se modernizar e
produção de 136.500 litros/leite/mês. Mas melhorar os en-
é na agroindústria que está a sua maior genhos, se volta-
capacidade para gerar emprego, renda e, ram para a pro-
conseqüentemente, benefícios sociais (são dução de açúcar
120 empregos diretos e indiretos, distribu- mascavo conse-
ídos nas oito unidades produtivas de açú- guindo melhores
car mascavo). A produção gira em torno mercados” (pre-
de 1.700 toneladas por ano, em área de feito José
275 ha de plantio de cana-de-açúcar. Américo)

12 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


açúcar mascavo
ção de mais de 40 anos
com tudo controlado, exigindo baixo con- O processo de produção do mascavo que sua atividade de agroindústria gera
sumo de lenha nos fornos. O processo é começa na esmagação da cana, explica o cerca de 40 empregos, diretos e indiretos.
diferente do funcionamento tradicional, extensionista da EMATER–MG em Ita- Como o investimento é muito alto, e a
que exige 100% de material de combus- marati, Walmir Teixeira Simões. Depois maioria dos produtores não consegue ter
tão para alimentar a caldeira, com siste- da cana moída para extrair o caldo, 100% seu próprio engenho, Luciano passou a
ma de fogo direto, sem controle, consu- do bagaço que sobra é utilizado como receber também a matéria-prima de pro-
mindo lenha e bagaço em larga escala. Pelo material de combustão para alimentar a dutores que têm pequena área de plantio
sistema de vapor de caldeira há um regis- caldeira, que gera o vapor que alimenta e que não possuem equipamentos.
tro de controle, o que proporciona me- os tachos (de limpeza do caldo e evapo- A comercialização é feita pela Pró-
nor consumo de material para combus- ração). O ponto se consegue tirando-se a Vida Alimentos, empresa distribuidora de
tão. Devido à constância do vapor (ele massa com 126ºC. Na finalização do pro- produtos naturais, de Juiz de Fora, res-
utiliza dois turnos de trabalho, com funci- cesso, quando o açúcar atinge o ponto de ponsável também pelo acondicionamen-
onamento de 16 horas para aproveitar o cristalização, é colocado na esfriadeira (co- to e embalagem do produto, com cota-
calor), a economia gira em torno de 25% nhecido como gamelão), e inicia-se o pro- ção em torno de R$1,00 a R$1,20 o quilo,
do custo do produto, além de redução de cesso de bateção até a cristalização final preço médio para atacadistas. Só no ano
mão-de-obra. A produção média é de do produto. passado a empresa exportou mais de 60
2.500kg por dia (dois turnos de oito ho- Segundo Luciano, a média é de uma toneladas de açúcar mascavo para a Es-
ras), com a safra no período de abril a tonelada de cana para a produção de 100 lovênia, país do Leste europeu, além de
novembro. kg de açúcar. O produtor informa ainda comercializar para todo o Brasil.

Governo lança Plano de Safra da agricultura


familiar e homenageia produtora mineira
Em junho passado, o presiden- Almenara, Hector Carlos Bar-
te Luiz Inácio Lula da Silva lan- reto Leal, Marco Aurélio Sera-
çou o Plano de Safra para Agri- fim e Olga Soares Novais. A fa-
cultura Familiar 2004/2005, no mília tem uma renda anual em
Palácio do Planalto, com a presen- torno de R$8.000,00 com a pro-
ça de ministros, técnicos do setor dução e processamento da man-
agrícola e produtores rurais. O pre- dioca. Outras atividades na pro-
sidente da EMATER-MG José priedade são bovinocultura de
Silva junto com o Diretor do De- leite, avicultura e suinocultura,
partamento de Assistência Técni- que lhe garante cerca de R$
ca e Extensão Rural, Argileu Mar- 3.000,00/ano.
tins da Silva, participou do evento O Governo Federal anun-
em companhia da produtora mi- ciou recursos de R$ 7 bilhões
neira assistida pela Empresa, Eu- para a agricultura familiar em
zébia Evangelista Lopes, de Alme- Presidente José Silva (E), Diretor Argileu Martins (D) ladeando a 2004/2005, disponíveis desde
produtora Euzébia Evangelista e seu esposo
nara, que foi homenageada pelo julho, um volume recorde na
Ministério do Desenvolvimento Agrário e processamento de farinha. Na proprieda- história do País. O montante permitirá
Banco do Brasil como a produtora que de, que ela arrenda da avó, são duas uni- elevar em 40% (de 970.000 para
realizou o contrato de número um milhão dades de produção de farinha, com uma 1.400.000) o número de contratos do Pro-
do PRONAF – Programa Nacional de For- produção de 36 toneladas por safra. Prin- grama Nacional de Fortalecimento da
talecimento da Agricultura Familiar. cipal produto da agricultura familiar na Agricultura Familiar (Pronaf). Segundo
Dona Euzébia é agricultora familiar e região, a mandioca é de cultura fácil, adap- José Silva, para desenvolver um projeto
vive com o marido e três filhos na Co- tável ao clima do Vale do Jequitinhonha e nacional de crescimento sustentável “é
munidade Boa Sorte, em Almenara, no que, do total da produção, após processa- preciso considerar o enorme potencial da
Vale do Jequitinhonha. Seu contrato foi da, propicia um rendimento de 25% em agricultura familiar, não só pela sua ex-
para recursos do Pronaf C, custeio de R$ farinha. Dona Euzébnia recebe assistência pressão econômica, mas também por sua
2.500,00 para a produção de mandioca e dos extensionistas da EMATER-MG em dimensão social, cultural e ambiental”.
Tanques comunitários
saída para pequ
a instalação. A qualidade e a quantidade
Cataguases >>

Edna de Souza
Pedro Giovanio (fotos) também influenciam no cálculo do preço
do leite resfriado, como informa Noel.
“Fizemos um trabalho de conscientização
no município e mostramos que a qualida-
de é fator primordial para se consegui-
leite transportado em latões, re- rem bons preços, e que, sozinhos, os pro-
colhido em caminhão e entre- dutores teriam pouco poder de barganha,
gue às cooperativas é um cená- já que a quantidade também influencia,
rio que passa a pertencer ao pas- proporcionando maiores ganhos”, acres-
sado. A nova legislação sanitária sobre a centa.
produção, identidade e qualidade do leite, Segundo o gerente, o leite é resfriado
definida na Instrução Normativa Nº 51 logo após a ordenha a 4°C para impedir a
do Ministério da Agricultura, Pecuária e multiplicação de bactérias, mas os tanques
Abastecimento/Secretaria de Defesa comunitários têm que estar estrategica-
Agropecuária (MAPA/SDA), que visa à me- mente posicionados para facilitar a entre-
lhoria da qualidade do leite e seus deriva- ga do leite, já que esse não pode ultrapas-
dos, determina aos produtores rurais utili- sar o tempo de entrega que é de duas
zarem os tanques de expansão para a refri- horas, como determina a Norma. Como
geração do leite a ser entregue aos laticínios o leite precisa estar dentro dos padrões
para o processamento. exigidos, os testes são realizados antes de
A Instrução Normativa altera signifi- ser colocado nos tanques. A parceria
cativamente o processo de produção de EMATER–MG, Prefeitura Municipal e
leite no País, com o objetivo de atingir es- Cooperativa dos Produtores de Leite de
ses resultados. Essa Norma será implanta- Leopoldina – LAC propiciou mais segu-
da de maneira gradual. De acordo com as rança aos produtores. A EMATER–MG
regiões, o prazo vai de 2005 a 2007. Mi- atua na mobilização, organização e assis-
nas Gerais, na região Sudeste, deverá estar tência técnica, a LAC intermediou a aqui-
Na recepção do leite, testes de
totalmente adaptada até 1º de julho de 2005. sição dos tanques, e a Prefeitura Munici- acidez e teor de gordura
Para se adequar a essa Norma, sem pal contribuiu com terreno e materiais para
recursos para investimentos e aquisição construção de infra-estruturas.
dos tanques de resfriamento, que cus-
Organização para vencer
Base da economia do município, em desafios
tam em média de R$ 12 mil a R$ 20 mil, Cataguases a bovinocultura de leite tem um
os pequenos produtores passaram a se plantel que chega a quase 8 mil matrizes, A médica veterinária Maristela Vidigal
organizar e criaram associações para a com produção em torno de 594 mil litros Carneiro, secretária Municipal de Agricul-
compra conjunta dos equipamentos. Em por mês, uma média de 74 litros/produ- tura e Meio Ambiente de Cataguases, afir-
Cataguases, na Zona da Mata, a equipe tor/dia. Dos 270 produtores, 213 partici- ma que, no município, “o nível de organi-
da EMATER–MG trabalha com mais pam das três associações existentes: Cata- zação em associações já está próximo do
de 80% dos produtores organizados, guarino, Glória e Sereno. Produzem uma ideal. Indiretamente, a Prefeitura incentiva
como informa o gerente da Unidade média diária de 56 litros de leite por asso- a formação de associações, já que todos
Regional em Cataguases, Noel de Aqui- ciado e usam os 23 tanques de resfriamen- os programas voltados para a agricultura
no Campos. “Individualmente, a compra to, com capacidade de recepção de 19 mil são desenvolvidos junto com os técnicos
e manutenção desses tanques se torna- litros por dia. Em 2003 o volume comer- da EMATER–MG que utilizam a organi-
ram inviáveis, já que em muitas regiões cializado de leite no município foi de 4,2 zação como metodologia de trabalho. A
existem produtores que não chegam a milhões de litros, com uma arrecadação Associação dos Produtores Rurais de Ca-
tirar 20 litros de leite por dia”. O tanque de cerca de R$ 2 milhões por ano. Com o taguarino foi a primeira a ser criada e é a
de expansão comunitário foi uma das for- sistema de resfriamento e granelização do que tem o melhor nível de organização”.
mas encontradas pelos produtores de leite leite, os produtores obtiveram um ganho Para o presidente da Associação dos
para permanecerem na atividade e con- adicional médio de R$ 2 mil por produ- Produtores Rurais da comunidade de Ca-
tornarem os altos custos empregados para tor/ano. taguarino, Marcelino Justino Neto, a cria-

14 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


de refrigeração são a
enos produtores
ção da associação, em 2001, já foi em fun- exposto ao sol, em latões, à beira da estra- caminhonete e dois caminhões, com o
ção da granelização e comercialização do da, e até mesmo pela melhoria no trato objetivo de baratear os custos.
leite. “Era preciso se organizar para ad- dos animais, com orientação técnica que O presidente Marcos Aurélio Pimen-
quirir os tanques, conseguir qualidade, quan- recebemos da EMATER–MG”. Hoje, 40 tel, eleito desde a inauguração da coopera-
tidade e bons preços na comercialização e minutos após a ordenha, o leite já está na tiva, informa que, com o terreno doado
até para as compras conjuntas”. No prin- Associação, no tanque de resfriamento. “E pela Prefeitura, os 170 cooperados decidi-
cípio eram 12 produtores faturando em os produtores ganham também na troca ram pela construção da sede, com projeto
apenas um nome. Hoje, com a associação, de informações durante as reuniões men- elaborado pela EMATER–MG, e os três
os 82 associados são contabilizados como sais que a Associação promove”, acrescenta tanques de expansão (6 mil litros, 5.300
um só fornecedor. “Isso facilitou até mes- Marcos Antônio. litros e 4 mil litros) foram financiados pelo
mo para aquele que traz pequena quanti- Em Leopoldina, um dos municípios Banco do Brasil. Da arrecadação da ven-
dade. Ele recebe o mesmo valor que qual- que fazem parte da Unidade Regional da da do leite (8 mil litros a R$ 0,43), são reti-
quer outro. Com uma quantidade maior, EMATER–MG em Cataguases, 600 pro- rados os custos operacionais, o valor para
até o frete foi reduzido em torno de 70%”, dutores contabilizam um plantel de 21 mil a quitação do financiamento e o rateio do
informa Marcelino. matrizes, com produção de 63 mil litros saldo entre os cooperados.
Ele conta que a associação, com sede de leite/dia. São oito associações, totalizan- Logo na recepção do leite são reali-
quase pronta, adquiriu um afiador de na- do 350 associados com 13 tanques de ex- zados os testes de acidez (teste do aliza-
valha para picadeira, um misturador de pansão coletivos, produzindo 17 mil litros/ rol) e teor de gordura. “O produtor, hoje,
ração e sal mineral, além de possuir uma dia de leite resfriado. não precisa mais se levantar “com as ga-
farmácia, para uso dos associados, que Algumas associações já estavam orga- linhas”, afirma Marcos Pimentel. A re-
contribuem, cada um, com R$5,00 men- nizadas no município antes mesmo da pu- cepção do leite nos tanques pode ser feita
sais para custeio da entidade. Para os pou- blicação da Instrução Normativa, como a qualquer hora, e o produtor tem a alter-
cos produtores que não quiseram se asso- informa o extensionista da EMATER– nativa, inclusive, de fazer até duas orde-
ciar e necessitam usar os tanques, existe a MG, Osvaldo Pinto Nogueira. Existem nhas por dia, já que o leite pode perma-
alternativa de comprar ou alugar cotas dos associações, como no caso do distrito Ri- necer no tanque por um período de 48
associados. Os tanques foram adquiridos beiro Junqueira (a primeira a adquirir os horas, até a entrega na cooperativa ou no
pelos produtores que se cotizaram, descon- tanques), que possuem até frota de veícu- laticínio. Na hora da comercialização, dois
tando o valor mensal das parcelas do valor los para prestação de serviços. A Coope- requisitos são importantes, segundo o ex-
a ser recebido pelo volume de leite de cada rativa de Leite dos Produtores da Comu- tensionista Osvaldo Nogueira: além do
um. No total, a média diária de produção nidade de Ribeiro Junqueira – COOPE- preço, é preciso verificar a garantia de li-
na Associação de Cataguarino chega a mais RIBJU foi criada em 1999, e os seus asso- quidez da empresa, em seguida, avaliar se
de 5 mil litros de leite, tendo os associados ciados se cotizaram e compraram uma tem tradição no mercado.
conseguido, no mês de abril, um repasse
de R$ 0,47 por litro da Cooperativa dos
Produtores de Leite de Leopoldina – LAC,
receptora da maioria do leite da região.
Benefícios
A partir da organização e do associati-
vismo, foram muitos os benefícios. Além
de diminuir custos com a realização de Secretária
compra conjunta, houve ganho na hora da Maristela
Vidigal (C),
comercialização por oferecerem maior
Noel de Aquino
quantidade de leite. Os produtores ganha- (E), Marcelino
ram também em socialização. “Os benefí- Justino (D) em
cios da organização são muitos”, diz o pro- reunião da
dutor rural e secretário da Associação, Associação dos
Marcos Antônio Henriques Teixeira. “Além Produtores
da geração de emprego e renda, o desta- Rurais de
que é a qualidade do leite, que antes ficava Cataguarino

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 15


UNINCOR – Uma hist
social com
Três Corações >>

sido nossa base para expansão, de nos Exemplo desta parceria para servi-
Harildo Ferreira
estabelecermos onde haja uma função ços de extensão é o convênio recente-
Alexandre Soares (fotos)
social a desempenhar”, explica o reitor mente assinado com a EMATER–MG,
Adair Ribeiro, reafirmando o compro- de cooperação técnica e científica. O
misso com o caráter comunitário da objetivo é buscar articulações para tra-
Unincor. Segundo o professor Adair, balhos de sustentabilidade ambiental,

U
ma universidade comunitária, “apenas a Unincor e a PUC–Minas fo- organização rural, planejamento rural
voltada para as demandas da ram recentemente avaliadas pela Asso- participativo, treinamento e extensão ru-
sociedade mineira e, mais espe- ciação Brasileira de Universidades Co- ral. “Nossos cursos de Agronomia e Ve-
cificamente, para a comunida- munitárias como instituições que efeti- terinária certamente são um suporte im-
de do Sul de Minas, onde está instalada. vamente levam à prática este caráter”. portante para a agropecuária na região,
Este é o principal traço de um perfil ins- Além da expansão geográfica, a Unin- nossa principal base econômica. Com o
titucional e pedagógico da Universidade cor abre novas frentes de conhecimen- convênio firmado com a EMATER–
Vale do Rio Verde – Unincor, de Três to, um processo também orientado para MG, possibilitamos aos nossos alunos o
Corações, com um corpo discente de 10 atendimento de demandas e realidades conhecimento da realidade econômica e
mil alunos, em diferentes áreas do co- sociais, conforme afirma a pró-reitora social dos produtores rurais, abrindo
nhecimento. A Unincor faz parte da his- de Graduação e Assuntos Acadêmicos, perspectivas para um relacionamento
tória e tradição cultural da região Sul de professora Joana Beatriz Barros Perei- não apenas no campo técnico, mas so-
Minas, fundada inicialmente como colé- ra. Com interface direta com a econo- bretudo na formação humana voltada
gio, em 1965. Transformada em univer- mia agrícola regional, a Universidade para a responsabilidade social”, explica a
sidade em 1998, a Unincor vive um pro- criou os cursos de Medicina Veterinária professora Joana Beatriz.
cesso vigoroso de expansão, com a insta- e Agronomia, ambos em Três Corações. A Universidade tem hoje 25 solicita-
lação de campus em Belo Horizonte, Pará As primeiras turmas destes cursos se for- ções de abertura de novos campus, infor-
de Minas, Caxambu, Betim e São Gon- mam em 2005, mas já desenvolvem tra- ma o reitor Adair Ribeiro. O último, em
çalo do Sapucaí. balhos de extensão em parcerias, com processo de instalação, é a unidade de
“Estes novos campus, em pleno fun- resultados que vêm abrindo novas pers- Pará de Minas, uma região de economia
cionamento, são frutos primeiramente de pectivas para os produtores rurais da também agrícola e que por isso deve ini-
uma demanda dessas regiões. Esta tem região. ciar suas operações com o curso de Agro-

Fazenda Patrimônio em reforma para abrigar a reitoria Reitor Adair Ribeiro: Universidade sintonizada com as
demandas sociais

16 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


ória de compromisso
a comunidade
nomia. O diretor de Promoção e Articula- Ações de extensão tônio Carvalho Júnior é um dos partici-
ção Institucional da EMATER–MG, Fer- atendem demandas sociais pantes do serviço de extensão da Unin-
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
nando José Mendes Aguiar, esteve presente cor. Com orientação do professor Antô-
ao lançamento do campus da Unincor em As ações de extensão da Unincor são nio Carlos de Andrade Junqueira, coor-
Pará de Minas, representando a Diretoria realizadas por todas as áreas de conheci- denador do curso de Veterinária, e do pro-
Executiva da Empresa, em junho passado, mento da Universidade. As ações extensi- fessor de Fisiologia e Fisiopatologia Hum-
e ressaltou a importância de uma faculda- onistas de cursos como Odontologia, Pe- berto Brandão, Custódio presta assistên-
de de Ciências Agrárias para a região, “um dagogia, Medicina Veterinária, Agronomia cia técnica ao produtor rural Sanderson
pólo importante do agronegócio mineiro e Psicologia, entre outros, sempre em par- Amadeu. Com 115 ovelhas da raça Santa
que, certamente, terá vigoroso impulso de ceria com outras instituições municipais e Inês, com cerca de 70 matrizes, Sander-
desenvolvimento tecnológico e científico sobretudo com o Poder Público de Três son tem uma certa tradição na atividade,
com a presença da Unincor”. Corações, fortalecem as ações sociais e “mas a conduzia de forma equivocada,
Apesar das dificuldades que escolas su- resultam em melhorias da qualidade de sem nenhuma orientação técnica, e aca-
periores enfrentam hoje no País, cerca de vida da população. bava perdendo dinheiro com o trabalho”,
três mil alunos têm bolsas de estudo na De acordo com o reitor Adair Ribei- conta.
Unincor, que mantém cursos desde o ro, a Unincor “investe para estas ações de Antes dos serviços de extensão da
ensino fundamental até doutorado (em extensão cerca de R$ 600 mil por mês Unincor, Sanderson, com um rebanho de
Odontologia e Educação). “Nossa histó- em serviços comunitários”. A instituição, 120 ovelhas, chegou a perder “até 67%
ria de integração com a comunidade vem afirma o reitor, mantém até alguns cur- das ovelhas nascidas na propriedade”. Este
desde os tempos em que a instituição era sos deficitários, “mas que são importan- ano, com a assistência do professor Antô-
apenas colégio. É este compromisso com tes para a sociedade”. Além deste atendi- nio Carlos e do aluno Custódio Carvalho,
a comunidade, com um diálogo perma- mento, o objetivo é propiciar oportunida- “a perda com mortalidade é zero”. San-
nente, que orienta nosso enfoque de pes- des de trabalho de campo para os alunos, derson está animado com as possibilida-
quisas e de extensão, buscando resultados “contribuindo para sua formação acadê- des da ovinocultura conduzida com tec-
concretos para o desenvolvimento regio- mica e, ao mesmo tempo, consolidando nologias, gerenciamento e manejo corre-
nal”, afirma o pró-reitor de Pesquisa e uma formação profissional e humana to do rebanho:
Extensão da Unincor, professor Natana- voltada para a responsabilidade social”. “Meus objetivos são chegar a 500
el Átila Aleva. O aluno de Veterinária Custódio An- matrizes e avançar a exploração para ou-

Pró-reitores Joana Beatriz e Natanael Átila Professores Nelson Delú, Emerson Nogueira, Vivianne Silvestre e o gerente
da Fazenda Patrimônio, Rui Fonseca

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 17


Alunos participam intensamente da extensão universitária Professores Antônio Carlos de Andrade e Humberto Brandão

tras etapas da cadeia produtiva, como, por sultas até cirurgias. de integração da Universidade com a co-
exemplo, o beneficiamento de peles”, ex- Para o coordenador do curso, profes- munidade de famílias rurais do município
plica. O mercado consumidor é bom, ga- sor Antônio Carlos, uma das bases para e da região”, afirma. Assinado recente-
rante o produtor: “O que produzir de car- sustentabilidade do agronegócio na região mente, as ações estão em fase de elabora-
ne é comercializado aqui mesmo na re- é a diversificação de atividades: “Este tem ção de projetos, para atuação conjunta das
gião”. Com um ano de assistência da Unin- sido o nosso enfoque com as ações de duas instituições junto às comunidades
cor, a melhoria da ovinocultura de San- extensão da Medicina Veterinária da Unin- rurais. A expectativa, reafirma o coorde-
derson “deve contribuir para a expansão cor. A agricultura, principalmente a fami- nador, é “proporcionar aos alunos de
da atividade em Três Corações e região”, liar, precisa buscar tecnologias acessíveis, Agronomia um contato direto com a rea-
afirma o professor Humberto Brandão. diversificar-se e trabalhar com agregação lidade da agricultura familiar no municí-
São os resultados de serviços da ex- de valor à produção. Trabalhamos em pio, vivenciar seus problemas e atuar em
tensão, tanto da Unincor quanto da parceria com a EMATER–MG, pois esta parceria, em busca de soluções adequadas
EMATER–MG em Três Corações, que é a forma de levarmos tecnologias de ao desenvolvimento sustentável desta im-
vêm consolidando o desenvolvimento do baixo custo aos produtores rurais”, con- portante atividade econômica e social”.
agronegócio na região, explica o coorde- cluiu o professor. Entre as unidades de apoio pedagógi-
nador de Veterinária da Universidade, pro- co aos alunos de Agronomia, na Fazenda
fessor Antônio Carlos de Andrade. Ainda Patrimônio – uma construção centenária
para a ovinocultura, o coordenador cita o Caminhos para a que passa por reformas para se tornar a
trabalho bem-sucedido de transferência integração comunitária
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ sede da Reitoria da Universidade – estão
de embrião de ovinos, realizado pelo pro- um horto de plantas medicinais, uma horta
fessor Humberto Brandão, em parceria Estudo de concentração de nitrato em experimental, áreas experimentais de cul-
com o médico veterinário Jolmer de Sou- alface hidropônica e convencional. Obje- turas (milho e café), áreas de fruticultura
za Andrade e o produtor rural Raimundo tivo: observar os níveis de nitrato na plan- (12 espécies diferentes, com 400 plantas
Wilson Motta. Realizada no município ta. O produto vem com a adubação e, se cada), pomar e criações de bovinos. Na
mineiro de Ferros, a transferência de ingerida alta quantidade, pode afetar a Unincor também está instalado o Comitê
embrião de ovinos foi a primeira experi- saúde das pessoas, principalmente das cri- de Sub-bacias Hidrográficas do Rio Ver-
ência de Minas Gerais “e abre excelentes anças. A pesquisa é feita pelos alunos de, o primeiro a ser criado no Brasil. Em
possibilidades para a ovinocultura de lei- Murilo Resende Pereira e Júlio César função disso, a Universidade mantém con-
te, produzindo F1 de boa qualidade”, re- Merlin Gomes. vênio com o Instituto Estadual de Flores-
lata o professor Antônio Carlos. Esta é uma das muitas pesquisas em tas – IEF e deve produzir 200 mil mudas
A primeira turma de Medicina Vete- andamento pelos alunos de Agronomia da de espécies nativas para, em parceria com
rinária da Unincor forma-se em julho de Unincor, com supervisão e orientação de a EMATER–MG, promover a recom-
2005, com 106 alunos. O curso, no cam- professores, todas voltadas para o cotidi- posição de matas ciliares nas sub-bacias
pus em Três Corações, conta com um ano da comunidade de Três Corações, do Verde.
Hospital Veterinário, laboratórios, salas de onde fica o curso de Agronomia. As ações Os alunos atuam em extensão em par-
necrópsias e instalações zootécnicas. Bo- de extensão da Agronomia, revela o co- ceria com alunos do curso de Nutrição,
vinocultura de corte e leite e tecnologias ordenador do curso, professor Emerson com trabalhos voltados para a seguran-
de alimentos são alguns dos focos peda- Nogueira Dias, devem ganhar impulso a ça alimentar, atendendo escolas, creches
gógicos do curso. Uma vez por semana, partir do convênio assinado entre Unin- e postos de saúde do município de Três
às sextas-feiras, a escola assiste com ser- cor e EMATER–MG: Corações. Estas unidades práticas de
viços de extensão em seu campus os pro- “Esta parceria é um passo importante ensino também são alvo de visitas técni-
dutores rurais do município, desde con- para aprofundar ainda mais o processo cas de produtores rurais. O fundamen-

18 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


Custódio Antônio Carvalho, aluno de veterinária e o produtor Sanderson Amadeu Professores Jucélio Clemente e Sandro Barbosa pesquisando tecnologia

tal, explica o professor Nelson Dellú Fi- nomo, prestem assistência técnica aos pro- com o milheto), tornando-o de 21 para
lho, assessor de Pesquisa da Unincor, “é dutores que demandarem análise de solo. 42 cromossomos, um híbrido hexoplói-
aprofundar cada vez mais este intercâm- Para o professor Nelson Dallú, seria im- de, passando a gerar sementes:
bio entre alunos e produtores rurais, im- portante, agora, que o município estimu- “Com 21 cromossomos, o híbrido é
portante para o conhecimento da reali- lasse de alguma forma a criação um en- um bom material forrageiro, mas com
dade regional e, desta forma, estarem ap- treposto de calcário, “completando o cír- reprodução vegetativa. Com 42 cro-
tos a contribuir para as mudanças e os culo de atendimento a estas demandas da mossomos, o híbrido hexoplóide man-
processos de desenvolvimento que a re- agricultura familiar em nossa região”, tém as boas características nutritivas,
gião requer”. acrescenta. mas agora com reprodução via semen-
No final deste ano, a primeira turma te. Assim, será importante para os cria-
de agrônomos da Unincor, de 60 alunos, dores de gado de leite, pois evitará cus-
Apoio à produção estará formada. Como afirmou o coor- tos e dificuldades de transportes, por
agrícola
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ denador do curso de Agronomia, profes- exemplo, para o plantio do híbrido “es-
sor Emerson Nogueira Dias, “a agricul- téril”, que só se reproduz via colmos”,
Inaugurado recentemente, o Labora- tura familiar deve ser o nosso foco, sem, explicam os professores da Unincor.
tório de Análise de Solos da Unincor é o evidentemente, perder de vista a agricul- O professor Jucélio Abreu informa
primeiro na microrregião do Circuito das tura comercial”, a própria região reserva que a pesquisa entra agora em fase de
Águas e deve ter papel importante no pro- desafios e possibilidades para estes alu- avaliação, com testes de campo, seleção
cesso de desenvolvimento da agropecuá- nos. Afinal, o agronegócio é uma das prin- e melhorias. A expectativa, afirma o pes-
ria. Para a professora Viviane Silvestre, cipais bases econômicas do Sul de Minas, quisador, é de uma forrageira melhor
engenheira química e gerente do Labo- com importante participação dos produ-
ratório, os produtores rurais têm consci- que suas formadoras. O professor acres-
tores familiares. centa ser ainda imprevisível o tempo
ência da necessidade de análise de solo
para a condução de suas atividades, “mas para utilização da forrageira: “Deve le-
o problema tem sido as dificuldades que Tecnologias var ainda alguns anos”, avalia. A pes-
encontram para fazer estas análises”, ex- de ponta quisa foi uma demanda da EMBRA-
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

plica. PA/Gado de Leite, que vai conduzir os


Agora, informa Viviane, com o Labo- Um convênio entre Unincor e EM- próximos passos do trabalho.
ratório e a atuação em parceria firmada BRAPA/Gado de Leite, de Juiz de Fora, Esta pesquisa em biotecnologia se
com a empresa Heringer, “será possível e a Universidade Federal de Lavras/UFLA soma aos demais trabalhos conduzidos
mudar este quadro, com resultados em resultou num trabalho bem-sucedido na por pesquisadores da Unincor, nesta
redução de custos de produção, preser- área de biotecnologia, com expectativas área. Os professores Jucélio Clemente
vação ambiental e aumento de produtivi- promissoras na produção de forrageira e Sandro Barbosa explicam que o foco
dade nas principais culturas da região”. A para gado de leite. Conduzida pelos pro- da Universidade tem sido as pesquisas
expectativa é de que apenas no primeiro fessores de Biotecnologia da Unincor, com plantas medicinais. Utilizando maté-
ano de funcionamento sejam analisadas 3 Jucélio Clemente Abreu e Sandro Barbo- ria-prima produzida pela própria Univer-
mil amostras de solo. sa, biólogos, com a parceria dos pesquisa- sidade, com coordenação do curso de
Os produtores rurais devem arcar so- dores Antônio Vander Pereira, da EM- Agronomia, o objetivo da Unincor é fir-
mente com 50% dos custos da análise, e BRAPA, e Lisete Chamma Davide, da mar excelência na pesquisa e produção
a idéia, afirma o coordenador de Agro- UFLA, a pesquisa resultou na duplicação de medicamentos com estas plantas, aten-
nomia, professor Emerson Nogueira, é cromossômica do híbrido interespecífico dendo a uma das carências e demandas
que os alunos, acompanhados de um agrô- “estéril” (cruzamento do capim-elefante sociais da região.

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 19


Irapé:
Irapé >>

Reassentamento Coletivo
Atingidos pela Usina terão assistência técnica da EMATER-MG

Minas, Leme do Prado, Botumirim, Cris- las composta de um agrônomo e uma ex-
Ângela Barbosa
tália e Grão Mogol) e tem previsão de tensionista de Bem-estar Social, num to-
CEMIG (foto)
gerar 360 MW de energia, suficientes para tal de 12 profissionais. Eles já concluíram
abastecer uma cidade com aproximada- o Levantamento Socioeconômico e Cul-
mente um milhão de habitantes. O custo tural das famílias atingidas em suas co-
de implantação de Irapé está orçado em munidades de origem e estão preparando
Usina Hidrelétrica de Irapé, no R$ 740 milhões, com recursos da Cemig os Projetos de Desenvolvimento Susten-
Vale do Jequitinhonha, que e do Governo do Estado. tável do Reassentamento – PDR, que irão
está sendo construída pelas Na área que será inundada (134 km²), nortear as ações de transferência para as
Centrais Elétricas de Minas aproximadamente 750 famílias que vivem novas áreas. O PDR é uma experiência
Gerais (Cemig), será uma das maiores bar- em imóveis e propriedades rurais serão adaptada dos Programas de Desenvolvi-
ragens do Brasil, com 205m de altura. Nes- reassentadas em outras terras adquiridas mento de Assentamento de Reforma
ta empreitada, a Cemig tem a EMATER– pela Cemig, em 86 propriedades de 18 Agrária (PDA), do Incra. O levantamen-
MG como uma das parceiras, responsá- municípios. A EMATER–MG vai pres- to completo irá abordar questões como
vel pelos Projetos de Desenvolvimento tar assistência técnica às famílias que vão escolaridade, situação ocupacional, servi-
Sustentável do Reassentamento (PDR) da receber, cada uma, um módulo fiscal que ços sociais básicos, educação, habitação e
população atingida pelo reservatório. varia de 40 a 50 hectares. Para a execu- atividades agropecuárias.
Com eixo entre os municípios de Be- ção do trabalho, foram contratadas pela “Para preparar o projeto, levamos em
rilo (distrito de Lelivéldia) e Cristália, a EMATER-MG seis equipes técnicas com consideração as experiências dos atingidos
barragem vai inundar parte de seis muni- sede em Turmalina, Capelinha, Grão e suas expectativas para a nova situação”,
cípios (Turmalina, José Gonçalves de Mogol, Cristália e Janaúba, cada uma de- diz o engenheiro agrônomo Solano de

20 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


Barros, um dos técnicos da EMATER– sistência técnica da EMATER-MG. O longo dos tempos é a forma de atendi-
MG contratado através do convênio. “A engenheiro de empreendimentos da Ce- mento e a demanda. Em Nova Ponte, no
EMATER–MG está empenhada em tra- mig, Guilherme Comitti, coordenador de Triângulo Mineiro, eram produtores com
balhar para reduzir o impacto da mudan- Reassentamento de Irapé, faz uma pano- características diferentes às dos produto-
ça”, complementa o gerente do Convê- râmica da AHE–Irapé para a Revista da res do Vale do Jequitinhonha, e nós não
nio EMATER–MG/Cemig AHE–Irapé EMATER–MG. tínhamos a figura do reassentado. É um
(Aproveitamento Hidrelétrico de Irapé), Revista da EMATER-MG - Que di- processo que vem evoluindo. Passamos
Antônio Carlos Giovanini. “Nosso obje- reitos terão os assentados? por Nova Ponte, Miranda, Aimorés, Por-
tivo é que na nova terra o reassentado O reassentado vai ter infra-estrutura to Estrela, Funil e agora Irapé, que tem
tenha, no mínimo, uma situação igual ou, como: terra de qualidade, água, energia demandado mais ações das duas partes:
de preferência, melhor que a anterior. Para e o plantio da primeira safra e acesso são oito anos de convênio, com maior
isso a EMATER–MG preparou os téc- ao crédito garantido pela Cemig. A número de famílias atingidas, sendo o
nicos com treinamentos, estágios de cam- EMATER–MG nos ajudou facilitan- único a demandar PDR (Plano de De-
po e relatos de situações vividas e de pro- do o acesso ao PRONAF (Reforma senvolvimento Rural).
blemas encontrados para a busca de al- Agrária), para que os reassentados pudes- Revista da EMATER-MG - Quan-
ternativas”. sem receber todo o insumo necessário para do as comportas serão fechadas?
A previsão da Cemig é de que, até o continuar produzindo. Nesta parceria A expectativa de iniciar o enchimento
final de outubro deste ano, todas as famí- Cemig/EMATER–MG estão sendo ela- do reservatório é a partir de novembro
lias estejam reassentadas em suas novas borados os Planos de Desenvolvimento próximo, sendo que a conclusão da obra
áreas nos municípios de Capelinha, Leme Sustentável de cada reassentamento. Uma está prevista para até dezembro de 2006.
do Prado, José Gonçalves de Minas, Be- verba de R$ 2 milhões (valor de outu- A primeira mudança ocorreu no dia 19
rilo, Água Boa, Angelândia, Setubinha, bro/2002) será destinada pela Cemig para de julho, com a família de Odair Macha-
Turmalina, Itamarandiba, Diamantina, ser rateada entre as associações. . do Martins, líder do grupo de Araras, da
Cristália, Botumirim, Grão Mogol, Mon- Revista da EMATER-MG - A par- comunidade de Ouro Podre, em Cristá-
tes Claros, Janaúba, Francisco Dumont, ceria com a EMATER-MG está sa- lia, para a fazenda Araras em Francisco
Francisco Sá e Itacambira. tisfatória? Dumont. Com pouco mais de 20 anos,
Com o primeiro reassentamento rea- Em Minas Gerais, a EMATER–MG ele está aceitando a mudança com mais
lizado em julho, na primeira safra a ser é a parceira mais antiga da Cemig que facilidade Os mais velhos são mais arrai-
plantada o reassentado receberá a terra tem trabalhado no atendimento à popu- gados e têm menos facilidade para acei-
preparada com subsídios da Cemig e as- lação afetada. O que vem mudando ao tar mudanças.

Brasil terá DNA do café em


Banco de Dados
O ministro da Agricultura Roberto Rodrigues anunciou ofi- O projeto, que cus-
cialmente, dia 10 de agosto, em solenidade na sede da Empre- tou R$ 6 milhões (R$ 1,9 milhão em
sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a finaliza- recursos diretos), não chegou a se-
ção do primeiro seqüenciamento genético mundial do cafeei- qüenciar por inteiro o DNA do
ro. Um trabalho que envolveu a Embrapa, a Fundação de café. Segundo Dias, a pesquisa
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e outras identificou 32 mil genes, de um
20 instituições. Além do genoma, foi anunciada a criação de total de 40 mil ou 50 mil “possibi-
um banco de dados com 200 mil seqüências, a partir dos 32 litando 200 mil combinações”, ex-
mil genes identificados. Rodrigues fez questão de participar plica Cabral Dias.
do anúncio e chegou a dizer que o avanço permitirá ao país O banco de dados, a partir
desenvolver um “supercafé”. do seqüenciamento, será geren-
“O café já foi o carro-chefe da nossa economia. Agora ciado pela Embrapa e pela Fa-
mostramos que o café brasileiro continua na vanguarda” disse pesp, que deverão regulamen-
o ministro. O seqüenciamento não traz apenas status científico tar o acesso de instituições na-
ao Brasil. A partir desse conhecimento as plantas poderão ser cionais e estrangeiras. O banco
modificadas e adaptadas a diferentes climas ou pragas, dando contém seqüências de plantas
mais qualidade e competitividade ao café. Será possível alte- das espécies Coffea arabica
rar o sabor, o aroma e até mesmo a quantidade de cafeina dos e Coffea robusta. Segundo o
grãos. Isso não significa modificar geneticamente a planta. “O ministro não se descartam
genoma traz inúmeras possibilidades de cruzamento, mesmo parcerias internacionais na
dentro da genética convencional” como informa o chefe da utilização dos dados, “desde
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Manuel que as patentes sejam
Cabral Dias. brasileiras”.

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 21


Suinocultura avança
com sustentabilidade
Ponte Nova >>

Fernanda Vasques passivo ambiental”, explica. em duas fases, por meio de uma peneira
Arquivo EMATER-MG (foto) Ocupada com esta questão, a EMA- rotativa. A partir daí são transportados
TER–MG está implantando um projeto num caminhão adaptado até as proprie-
piloto com um suinocultor em Ponte dades beneficiadas e depositados nas bi-
Nova. “O produtor se compromete a oesterqueiras. Estes dejetos ficam cur-
entregar os dejetos na forma de esterco tindo até que ocorra sua estabilização,
suinocultura é uma atividade
para 15 produtores familiares. Dessa for- quando então são levados até as lavou-
que tem crescido e ganhado es-
ma, os dejetos são tratados por meio de ras e utilizados em quantidades variáveis,
paço no mercado nacional e
bioesterqueiras, que ficam nas proprie- dependendo da qualidade do solo”.
internacional, conquistando
dades. O material bruto fica depositado Em parceria com a Prefeitura Muni-
cada vez mais consumidores. Em Minas
nessas bioesterqueiras entre 90 e 120 dias. cipal de Ponte Nova e com produtores
Gerais, as principais regiões responsáveis
Com isso, há uma redução considerável da região, a EMATER–MG já tem obti-
pela criação de suínos são o Triângulo
nos três principais impactos ambientais do bons resultados com a implantação
Mineiro e Alto Paranaíba, com uma con-
causados por dejetos suínos: malcheiro, do novo sistema. “Além de dar um desti-
centração maior em Patos de Minas, no
proliferação de mosquitos e aumento da no adequado aos dejetos suínos, houve
Sul de Minas, nas cidades de Lavras e
demanda biológica de O2 (DBO), quan- um aumento da produção e da produti-
Alfenas, e na Zona da Mata, em municí-
do lançados in natura nos corpos d’água”, vidade de culturas, como milho, feijão,
pios como Urucânia, Jequeri e Ponte
diz Manoel Simões. cana, capineira e pastagens”, afirma
Nova, na região do Vale do Piranga. Com
Ele explica como se dá o processo Manoel Simões. Segundo ele, o principal
o aumento da produtividade por animal
de bioesterqueiras: “Os dejetos são cole- papel da EMATER–MG é coordenar a
e por área, a quantidade de dejetos suí-
tados juntamente com a água utilizada logística de entrega e acompanhar tecni-
nos produzida também aumentou con-
na limpeza das instalações e separados camente a utilização dos dejetos. Além
sideravelmente.
Com a utilização contínua dos deje-
tos como fertilizante agrícola, surgiram
os problemas de contaminação dos ma-
nanciais com microorganismos e mine-
rais. De acordo com o extensionista da
EMATER–MG em Ponte Nova, Ma-
noel Simões Barros, “esse excesso de mi-
nerais contaminando as águas correntes,
por meio da acumulação no solo e pos-
terior lixiviação ou vazamentos de lago-
as de represamento e depuração, consti-
tui um poluente implacável, que afeta a
qualidade da água, além de causar mor-
talidade expressiva de peixes e a prolife-
ração de insetos”.
Nesse contexto, a EMATER–MG
desempenha um importante papel no que
diz respeito à preservação ambiental e
ao desenvolvimento sustentável. Segun-
do Manoel Simões, a região do Vale do
Piranga e Alto Rio Doce possui aproxi-
madamente 45 mil matrizes de suínos.
“Cada matriz instalada e seus descenden-
tes produzem aproximadamente 150 li-
tros de dejeto/dia (água de limpeza, de-
jeto sólido e urina), uma produção bas- A EMATER-MG participa dos trabalhos para resolver os
tante expressiva, que gera um grande impactos ambientais com a suinocultura

22 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


disso, a Empresa se encarrega de reco-
mendar a quantidade e orientar como
deve ser feita a complementação com
adubação química.
Agricultura Familiar tem
O secretário de Desenvolvimento
Rural de Ponte Nova, Halaôr Xavier de R$ 7 bilhões no Plano
Carvalho explicou que, apesar das difi-
culdades enfrentadas, inclusive por fa-
tores climáticos, a Prefeitura procurou
Safra 2004/2005
atender às demandas dos produtores.
Com 12 bioesterqueiras instaladas nas
propriedades, o secretário afirma que O Governo Federal lançou, em ju- Grupo A/C - Crédito de custeio
espera, até o final de seu mandato, insta- nho passado, o Plano Safra para a Agri- - Esse é o primeiro crédito de cus-
lar mais 10 unidades. “Pretendemos cultura Familiar. São 7 bilhões de reais teio para as famílias assentadas da
montar uma unidade demonstrativa de para o setor. Veja as condições de fi- reforma agrária e para os que ad-
lavoura de milho adubada com dejeto e nanciamento: quiriram terra pelo Programa Nacio-
outra que não leva esse tipo de adubo, nal de Crédito Fundiário. Os benefi-
para termos parâmetros e fazer compa- Grupo A - Crédito de investimen- ciários do Grupo A/C já receberam
ração”. Ele revela ainda que a utilização to - valores de até R$ 13,5 mil, e até R$ financiamento de investimento do
de dejetos suínos em pastagens tem dado 1,5 mil para assistência técnica. No to- Grupo A. O valor mínimo é de R$
bons resultados. tal são até R$ 15 mil com juros de 500. O máximo passou de R$ 2,5
Para o supervisor de obras da Gran- 1,15% ao ano e bônus (desconto para mil para R$ 3 mil, com juros de 2%
ja Oriente, Lúcio Domingos Aguiar, a pagamento em dia dos financiamentos) ao ano e bônus de adimplência de
parceria firmada pelo projeto piloto foi de até 46% sobre o principal. O prazo R$ 200, independente do valor con-
boa para os parceiros: tanto para a gran- para pagamento é de até dez anos com tratado. O prazo para pagamento é
ja, que dá um destino aos dejetos, quanto até três ou até cinco de carência, anali- de até um ano, podendo chegar a
para os produtores familiares, que re- sado caso a caso. dois anos para culturas de ciclo lon-
cebem adubo gratuitamente. “Ao todo go (abacaxi e mandioca, por exem-
são doze bioesterqueiras que foram Grupo B - Crédito de investimen- plo).
construídas pela Prefeitura. A parceria to - valores de até R$ 1 mil, com juros
da EMATER–MG com a Prefeitura e de 1% ao ano e bônus de adimplência Grupo D - Investimento: até R$
os produtores rurais tem contribuído de 25% sobre o principal. Os agriculto- 18 mil, com juros de 4% ao ano e
para a filosofia da granja, que é a de res têm até um ano de carência e mais bônus de adimplência de 25% sobre
tratar os dejetos com sustentabilidade um ano para liquidar a operação. Do os juros. O prazo para pagamento é
para não contaminar o meio ambien- total do valor, até 35% podem ser para de até oito anos com carência de até
te”, explica Lúcio Aguiar. custeio associado e até 3% para o paga- cinco anos, analisado caso a caso.
O proprietário da Granja Oriente, mento da assistência técnica e extensão
José Ricardo Bretas Leite, define a ini- rural. Valores para custeio - até R$ 6
ciativa como uma boa alternativa de mil com juros de 4% ao ano. O prazo
destinação ambiental dos dejetos, geran- Grupo C - Investimento: o va- para pagamento é de até um ano, po-
do emprego e renda. “Para mim, foi lor mínimo é de R$ 1,5 mil e o máximo dendo chegar a dois anos para cultu-
uma ótima opção. A EMATER–MG passou de R$ 5 mil para R$ 6 mil. Os ras de ciclo longo (abacaxi e mandio-
tem papel importante nesse processo, juros são de 4% ao ano. Há bônus de ca, por exemplo).
foi a interlocutora e uniu produtores, 25% sobre os juros mais R$ 700 por
Prefeitura e empresas do setor”, acres- operação paga até o vencimento, inde- Grupo E - Investimento: valor
centa José Ricardo. pendente do valor contratado. O prazo máximo de R$ 36 mil, com juros de
Os produtores também estão oti- para pagamento é de até oito anos com 7,25% ao ano. O prazo para pagamen-
mistas com o projeto. O produtor João carência de até três anos. to é de até oito anos com carência de
Ascânio Ribeiro, por exemplo, aprova até cinco anos. Nesse caso não há bô-
o uso das bioesterqueiras: “Vejo com Grupo C - Valores para cus- nus de adimplência.
otimismo o aproveitamento sustentá- teio - o valor mínimo é de R$ 500 e o
vel dos dejetos suínos, segundo as re- máximo passou de R$ 2,5 mil para R$ Valores para custeio - valor
comendações técnicas. É perceptível 3 mil com juros de 4% ao ano, bônus máximo de R$ 28 mil, com juros de
um aumento de produtividade na mi- de adimplência de R$ 200, independen- 7,25% ao ano. O prazo para paga-
nha lavoura de cana-de-açúcar”. O te do valor contratado. O prazo para mento é de até um ano, podendo che-
produtor rural também destaca a im- pagamento é de até um ano, podendo gar a dois anos no caso das culturas
portância do trabalho da EMATER– chegar a dois anos para culturas de ci- de ciclo longo (abacaxi e mandioca,
MG: “Ela está interessada em benefi- clo longo (abacaxi e mandioca, por por exemplo). Também nesse caso não
ciar os produtores rurais e ao mesmo exemplo). há bônus de adimplência.
tempo colaborar com a preservação
ambiental”, ressalta.

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 23


Chegou a vez do
Gergelim no Triângulo
Campo Florido >>

aram uma associação e firmaram uma tação deve passar dos atuais 12 para 20
Edna de Souza
parceria com a empresa Sésamo Real Ali- hectares na safra de 2005. De olho nesse
Maurício Almeida (foto)
mentos, que garantiu a compra do pro- mercado e buscando atividades mais pro-
duto, viabilizando a produção. dutivas para a agricultura familiar, a
m Campo Florido, no Triângulo No Brasil, o consumo interno do ger- EMATER–MG está incentivando a ex-
Mineiro, a EMATER–MG e a gelim tem aumentado de forma significa- pansão da área cultivada na região.
Prefeitura Municipal trabalham tiva. Com isso, a cultura, que antes era A atividade pode ser considerada tipi-
em parceria na assistência às 12 considerada de fundo de quintal, está em camente familiar, segundo a extensionista
famílias de agricultores do assentamento expansão, com a maior parte produzida Eugênia Mara, já que sua colheita é basi-
Nova Santo Inácio Ranchinho. Neste tra- sendo exportada para o Japão. A cotação camente manual, e o grande produtor
balho se destaca uma cultura tipicamente varia entre U$ 500 e U$ 700 a tonelada. geralmente investe apenas em agricultu-
oriental: o gergelim, uma atividade que Se depender do mercado consumidor, os ras mecanizadas. “Com estas característi-
propicia, normalmente, de 8 a 10 empre- produtores podem ampliar, e muito, a área cas, o gergelim é uma cultura atrativa para
gos diretos e indiretos por hectare. O ger- plantada. A produção mundial é de 8 mi- a agricultura familiar”, explica a extensio-
gelim tem mercado garantido tanto no lhões de toneladas por ano, mas o produ- nista, uma das responsáveis pelo projeto.
Brasil quanto no exterior. Com plantio feito to tem uma demanda de 9 milhões de Mara acrescenta que as condições climá-
de forma coletiva em 12 hectares, a pro- toneladas para comercialização. Em me- ticas e o relevo suave e, principalmente, o
dução de cerca de 18 mil quilos por safra nos de dez anos o Brasil aumentou em grande contingente humano para assumir
(1,5 mil/ha) tem comercialização garanti- cerca de 75% sua área plantada, passan- este desafio fazem da região do Triângu-
da, segundo a extensionista da EMATER– do de 20 mil hectares em 1995 para 35 lo Mineiro um local de condições ade-
MG em Campo Florido, Eugênia Mara mil neste ano. O Triângulo Mineiro segue quadas para a exploração do gergelim.
Dias Gonçalves. As famílias assistidas cri- esta tendência. Em Campo Florido, a plan-
Origem e viabilidade
O gergelim é uma das espé-
cies vegetais mais antigas culti-
vadas pela humanidade, produ-
zido desde o tempo dos faraós
do Egito. O local de sua origem
é incerto, podendo situar-se en-
tre a Ásia e a África. Os princi-
pais centros de origem e difu-
são são Etiópia, Afeganistão,
Índia, Irã e China. O gergelim
chegou ao Brasil pelo Nordeste,
trazido pelos portugueses no sé-
culo XVI, e foi plantado, inicial-
mente, como cultura de fundo
de quintal. Neste período o pro-
duto era consumido na forma
de grãos.
A utilização do óleo de ger-
gelim na culinária asiática é tra-
dicional, sendo usado em vários
pratos já conhecidos dos brasi-

O gergelim tem
mercado garantido no
Brasil e no exterior

24 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


leiros, tais como: yaki-soba, frango xa- primeiro lugar e, na região Nordeste, des- do gergelim. Ele conta que até hoje não
drez e tepan. Sua utilização no mercado tacam-se os Estados da Paraíba, Ceará e tinha plantado nenhuma cultura como
de panificação está em expansão. Atual- Rio Grande do Norte. esta. “É uma planta que rende, que dá
mente as padarias já aplicam o produto Com relação aos aspectos econômi- lucro. O retorno que o gergelim deu este
na produção de pães, e algumas indús- cos, pode-se afirmar que toda a produ- ano foi maior do que estamos acostu-
trias já fabricam biscoitos com gerge- ção tem mercado demandante, e os pre- mados. Fazendo as contas, entre a im-
lim. No Brasil, não são muitos os luga- ços são atraentes. No mercado internacio- plantação da cultura e a colheita, até o
res onde esta atividade se desenvolve. nal, variam de 500 a 700 dólares por to- ensacamento, esse retorno chega a 60,
Hoje, começa a ser implantada essa nelada, com preços variando de 800 e mil 70%, livre.
cultura no semi-árido do Nordeste. dólares por tonelada de óleo extraído. O Na safra 2003/2004 Vidal plantou em
A área de gergelim plantada no mun- custo de produção oscila de R$ 500,00 a área de 1 1/2 ha, e obteve uma produção
do, atualmente, gira em torno de 6 mi- R$ 800,00, dependendo da tecnologia de 1.743 kg. Com o preço de comerciali-
lhões de hectares. África e Ásia detêm empregada, sendo que a colheita conso- zação estimado em R$ 2,20, o valor total
cerca de 90% da área cultivada, desta- me 50% do custo total. Em 2004 os pre- arrecadado foi de R$ 3.834,00. Deduzin-
cando-se a Índia (37%) e China (12%) ços podem se estabilizar, já que houve do as despesas o lucro foi de aproximada-
como os maiores plantadores. No Bra- grande quebra de safra na China, tam- mente 66,6%, cerca de R$ 2. 554,00 com
sil, mesmo tendo chegado ainda no sé- bém um grande consumidor mundial do a cultura. Trabalhando basicamente
culo XVI, somente no século XX se gergelim. com a produção de leite Vidal diz que
iniciam os cultivos comerciais do gerge- sem o dinheiro arrecadado com o ger-
lim. As principais regiões produtoras são
Perspectiva gelim ele talvez tivesse que vender al-
o Sudeste e Nordeste. Na região Sudes- O produtor Vidal Paula de Assunção gumas vacas para cobrir despesas na
te, destaca-se o Estado de São Paulo em teve uma boa experiência com o plantio propriedade.

Exposição reúne raças e destaca


Minas no cenário nacional
Durante a abertura oficial da 1ª Ex-
posição Brasileira do Agronegócio do
Leite – Megaleite e a 15ª Exposição
Nacional de Girolando, no mês de ju-
nho, em Uberaba, o presidente da As-
sociação Brasileira dos Criadores de
Girolando, Marcos Amaral Teixeira,
salientou que é pretensão dos pecua-
ristas “transformar Uberaba, capital
mineira do zebu, em capital também
do leite, e ainda transformar o evento
na maior e mais expressiva exposição
do agronegócio leiteiro do País e do
mundo”.
A exposição reuniu oito raças ex-
pressivas na bovinocultura leiteira, além
de caprinos, ovinos, bubalinos e eqüi-
nos. Os eventos foram realizados pela
Associação Brasileira dos Criadores de
Girolando em parceria com as associa-
ções de criadores de raças, da ABCZ
(Associação Brasileira dos Criadores de mais dessas raças. O evento reuniu mais balho associativista e cooperativista
Zebu) e da FAZU (Faculdades Associ- de 150 expositores dos Estados de Minas com agricultores familiares, buscando
adas de Uberaba), com o apoio da Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, qualidade na gestão das propriedades
EMATER-MG e de entidades e lide- Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso do e nos produtos lácteos, agregando va-
ranças rurais. Sul e Paraná. lor à produção”. Na região são produ-
Além da Girolando, a Megaleite De acordo com o gerente da EMATER- zidos anualmente 634 milhões de li-
mostrou um plantel de alta qualidade e MG em Uberaba, Antônio Quaresma, “a tros de leite. Em Uberaba a produção
produtividade das raças Gir, Holandês, Empresa tem no Triângulo Mineiro um é de 50 milhões por ano. O município
Jersey, Pardo Suíço, Guzerá e Simen- importante papel no desenvolvimento do conta com um efetivo pecuário de 250
tal. Foram inscritos mais de 1,5 mil ani- agronegócio leite, desenvolvendo o tra- mil cabeças.

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 25


O sabor da culinária
que gera emprego e
SaboreeCompetitividade
Competitividade
Abre Campo >>

Sabor
Fernanda Vasques Pãodoce
Pão doce“lanche”
“lanche” R$ R$0,20
0,20
Arquivo EMATER-MG (fotos)
Pão sovado R$
Pão sovado R$ 1,50 1,50
Roscafatia
Rosca fatiadedeleite R$2,00
leite R$ 2,00
Roscaseca
Rosca R$ 1,20
seca R$ 1,20
ães, roscas, broas, bolos, caça- Usina do Funil,
rolas e o tradicional pão de quei- no Vale do Jequi- Broinha(quilo)
Broinha R$6,00
(quilo) R$ 6,00
jo mineiro. Essas são algumas tinhonha, com a Pãode
Pão dequeijo
queijo(quilo) R$ 6,00
(quilo) R$ 6,00
das especialidades das mulheres Usina de Irapé, e, Bolos R$
Bolos R$1,50
1,50
de Granada (distrito de Abre Campo), que em Mariana, com Broadedefubá R$ 1,00
fubá R$ 1,00
empreenderam e mudaram o rumo de suas a usina da Fumaça. Broa
Caçarola R$ R$3,50
3,50
vidas, após fundar a Associação das Mulhe- De acordo com a ex- Caçarola
res de Granada (ASMUGRA) e construir tensionista da EMATER– Ferradura R$ R$ 1,20
$ 1,20
Ferradura
uma padaria comunitária. A ASMUGRA MG em Raul Soares, Lucemar Rosquinhada
Rosquinha davovó
vovó(200
(200gr)
gr) R$
R$1,00
1,00
reúne 25 mulheres de comunidades atingi- Coura, o trabalho da Empresa tem sido Rosquinha de nata (200 gr) R$ 1,00
das pela Pequena Hidrelétrica de Granada efetivo para promover a reinserção das Rosquinha de nata (200 gr) R$ 1,00
(PHG). Com a assistência da EMATER– famílias e das mulheres da ASMUGRA.
MG, vontade e espírito de associativismo, “Tudo começou há seis anos, quando sur- levantamento das demandas do consumi-
o grupo conseguiu recuperar suas cultu- giu a associação fundada por pessoas da dor. “Foram as próprias mulheres que fi-
ras, melhorar as condições de trabalho e comunidade que têm interesses e caracte- zeram a pesquisa e obtiveram informa-
auto-estima. A usina foi construída em rísticas comuns e mantêm uma relação de ções sobre quais produtos os comercian-
Granada, a 20 quilômetros da cidade de amizade. Em seguida, a usina foi construí- tes compravam de outras cidades. Feito
Raul Soares. da em Granada, e, então, a comunidade isso, as mulheres receberam treinamen-
A EMATER–MG trabalha com es- começou a receber apoio e infra-estrutura tos em microbiologia de alimentos, higie-
sas famílias prestando assistência técnica da CAT-LEO (Força e Luz Cataguases- nização, processamento de farinhas e fa-
e dando suporte para que as pessoas atin- Leopoldina)”, informa. As mulheres se rináceos, fabricação de pães, bolos, ros-
gidas pela construção das barragens não organizaram e conseguiram construir uma cas e biscoitos. “Daí, então, resolveram
sofram ainda mais com as conseqüências padaria comunitária, um sonho antigo das empreender e colocar a padaria comuni-
da mudança. Como o caso das mulheres famílias da comunidade. tária para funcionar”, afirma a extensio-
de Granada, aconteceu também em La- Com orientação da EMATER–MG nista. De acordo com Lucemar, tudo o
vras, com as comunidades atingidas pela foi feita uma pesquisa de mercado e um que as mulheres de Granada consegui-
ram foi à custa de muito trabalho e dedi-
cação: “Recentemente elas conseguiram
pagar alguns equipamentos de que a pa-
daria precisava”.
Com o apoio da EMATER–MG, do
CMDRS (Conselho Municipal de De-
senvolvimento Rural Sustentável) e da
CAT-LEO, a padaria conta com uma in-
fra-estrutura de 96 m2 e equipamentos
adequados para produzir com qualidade
e sem aditivos químicos. Semanalmente,
elas utilizam 100 quilos de farinha de tri-

A qualidade dos produtos é a


maior garantia de mercado para
as mulheres da ASMUGRA

26 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


mineira
renda
go. Maria das Graças Clemente Macha-
do tem quatro filhos e faz parte da AS-
MUGRA. Ela revela que já se sente me-
lhor pelo fato de não ter dívidas: “Agora
queremos investir na compra de um for-
no maior para atender à demanda. Espe-
ro melhorar a renda da minha família.
Hoje, com o trabalho na padaria, sou uma Uma nova realidade econômica e social em Granada
pessoa melhor, sinto-me mais importan-
te. Meu marido me valoriza ainda mais
pelo trabalho e se surpreendeu com a
conquista das mulheres de Granada”, re- EMATER-MG redesenha a metodologia
vela.
Roseli Consolação de Sousa é outra de extensão rural
mulher que se dedica à arte de fazer bolos,
roscas e pães. Com 35 anos e um filho, ela “A EMATER-MG, depois de uma ciclo de desenvolvimento rural experi-
já obtém R$ 100,00 por mês, com a pada- reestruturação interna, em função de mentado por microrregiões como Pon-
ria funcionando há apenas dois meses. mais agilidade no atendimento e quali- tal do Triângulo Mineiro e Sudoeste de
Roseli se sente orgulhosa por produzir algo dade na prestação de seus serviços, Minas. “No Pontal – informa o presi-
que as pessoas podem consumir: “Os alu- volta-se agora para uma renovação em dente –, a partir desta metodologia, che-
nos da noite compram nossos produtos, sua metodologia de extensão rural, for- gou-se à elaboração de planos munici-
valorizam o que é nosso”, comemora. talecendo o foco de sua atuação na pais e regional de desenvolvimento sus-
A embalagem dos produtos é feita na promoção do desenvolvimento rural tentável. São planos que vêm sendo exe-
própria padaria, que possui um setor es- sustentável dos municípios mineiros”. cutados com diversas parcerias, e com
pecífico para embalagem e expedição. Com Esta é a visão do presidente José Sil- uma gestão social que garante um bom
um rigoroso controle de higiene e quali- va sobre o processo de revisão e ade- andamento dos trabalhos. No Sudoes-
dade, as mulheres da ASMUGRA pre- quação da metodologia de extensão ru- te, mais especificamente no município
tendem ampliar os negócios e aumentar a ral que a Empresa está construindo. Se- de Cássia, metodologias com planeja-
competitividade. “Elas querem escoar a gundo o presidente, as balizas desta nova mento e diagnósticos participativos pos-
produção para supermercados. Para isso, metodologia são o planejamento e diag- sibilitaram uma forte organização de
vão ter de implantar o rótulo e o código nóstico participativos, a formação de produtores rurais, ancorada numa Cen-
de barras nos produtos”, explica Lucemar. parcerias para o desenvolvimento de pro- tral de Associações Rurais que vem se
“Nosso maior desejo é melhorar nossos gramas e projetos e a gestão social em constituindo numa base adequada para
produtos a cada dia. Nós achávamos que todas as fases de sua implantação. o desenvolvimento econômico e social
era um sonho. Realmente foi, só que ago- Uma equipe de extensionistas for- da microrregião”.
ra começamos a realizá-lo”, conta Erzi mou um grupo de estudos para rede- Participam da comissão do projeto de
da Silva Lopes, seis filhos, definindo a tra- senhar a metodologia a ser utilizada pela renovação metodológica da EMATER-
jetória do grupo de mulheres. Otimista, EMATER-MG para a Extensão Ru- MG os extensionistas Ronald Gava,
ela acredita que o trabalho “já deu certo”. ral. Formada por técnicos das áreas de Lázara Rezende, Isabel Brandão, Valdo
Os produtos da ASMUGRA guardam Planejamento, Desenvolvimento de Pes- Berbet, Eugênio Pacelli, Willy Gustavo
o sabor e a qualidade inigualáveis da culi- soas e do Departamento Técnico da de La Piedra, Luiz Antônio Borges e Maria
nária mineira. A equipe de reportagem foi EMATER-MG, a comissão trabalha a Auxiliadora Carvalho (Departamento
convidada a tomar um café e comprovou partir de exemplos concretos de proje- Técnico); Dario de Miranda Maia, Ma-
que os produtos são muito saborosos. Não tos executados com sucesso em comu- ria Helena Pinheiro, Feliciano Nogueira
é à toa que os vizinhos das mulheres da nidades e regiões onde a Empresa atua. (Assessoria de Planejamento); Elma Dias
Associação já aprovaram os produtos e se Ruas (Assessoria de Desenvolvimento
habituaram a tomar café na casa delas. Exemplos de Pessoas), Rodrigo Ferreira Matias
Obviamente que o cafezinho terá o acom- Esta nova medotologia da Exten- (Escritório Local em Limeira do Oes-
panhamento de um pão ou de uma rosca são Rural, informa José Silva, desem- te) e Antônio Carlos Quaresma (Uni-
da padaria, o que atrai ainda mais a vizi- penha ações importantes para o atual dade Regional de Uberaba).
nhança, que “de boba não tem nada”.

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 27


Com recuperação e
ambiental a água pode
tibá foi beneficiada, no município de Funi-
Funilândia >>

Edna de Souza lândia, com um outro convênio, assinado


IEF (fotos) entre o IBAMA e o IEF, que viabilizou a
aplicação de R$ 160.000,00 em materiais
para construção de cercas, compra de
mudas de espécies florestais nativas e de
m Funilândia, um programa pi- insumos agrícolas destinados à proteção e
loto de Manejo Integrado de Ba- recuperação de áreas de preservação per-
cias Hidrográficas, com enfoque manente e de nascentes.
na recuperação de nascentes, Os extensionistas Rogério Medeiros
está trazendo a água de volta para inúme- dos Reis e Marilene Martins Figueiredo,
ras propriedades. O programa, implanta- da EMATER; os técnicos Valdir Miran-
do por meio da convergência de proje- da, Rafael Macedo Chaves e Daniel Vas-
tos e das parcerias entre a EMATER– concelos, do IEF; e Elton Barcelos, da
MG, o Instituto Estadual de Florestas – Vigilância Sanitária Municipal e membro
IEF, a Prefeitura Municipal, a Associação do CODEMA, coordenam o programa
Comunitária de Saco da Vida – ASCO- no município.
SAV e os Produtores Rurais, está possibili-
tando reverter a situação de degradação
Degradação
das sub-bacias hidrográficas da região. Antigamente, segundo Rogério Medei-
Este é um dos 200 municípios con- ros, não havia legislação específica, nem
templados com o Projeto de Recupera- consciência da necessidade de se prote-
ção e Preservação de Sub-bacias Hidro- ger as áreas de preservação permanente,
Ações gráficas Formadoras dos Afluentes Mi- como é o caso das matas ciliares ao longo
implementadas neiros do Rio São Francisco – 1ª Etapa dos cursos d’água e em torno das nascen-
(convênio ANA/EMATER–MG), que tes. “Isso era tudo alagado, um verdadei-
29 Produtores Assistidos viabilizou a elaboração de 200 projetos ro Pantanal”, diz o produtor Orlando Al-
21 Nascentes Protegidas de caracterização e manejo integrado de tíssimo, mostrando o que, atualmente, é
42.000 mudas de Espécie Nativas sub-bacias hidrográficas, mobilizando os uma pastagem degradada, localizada numa
Plantadas habitantes para a recuperação de uma planície fluvial. De uma família de oito
18 km de Cerca Construída sub-bacia hidrográfica piloto inserida no irmãos, ele hoje lamenta o que o pai e os
território municipal. O projeto conta com irmãos fizeram. “Naquele tempo, desmate
83 hectares de Áreas Recuperadas a participação e o envolvimento de co- era sinônimo de benfeitoria”, arremata.
munidades rurais e urbanas, prefeituras, “Esse é um exemplo do que não pode
100% das nascentes da Bacia sociedade civil organizada e instituições acontecer: alguns agricultores só tomam
do Jequitibá, no município de parceiras. consciência do problema, quando o pro-
Funilândia, estão protegidas O ribeirão Jequitibá foi a sub-bacia cesso de degradação já está muito avança-
hidrográfica selecionada no município de do, e a água acaba”, diz Rogério, que vem
Recursos Aplicados: Funilândia por sua importância regional e desenvolvendo o Programa de recupera-
R$ 160.000,00 por desaguar no rio das Velhas, um dos ção junto aos agricultores de Funilândia.
mais importantes afluentes do rio São Um trabalho que começa com a mobiliza-
Francisco. As nascentes do ribeirão estão ção e a organização dos produtores.
localizadas em Sete Lagoas, Capim Bran- Na fazenda de Celso da Silva Ferrão,
co e Prudente de Moraes. Daí, ele segue o ribeirão Jequitibá corta boa parte da pro-
seu curso por 23 quilômetros dentro do priedade e está totalmente poluído. Pe-
município de Funilândia, até desaguar no cuarista de leite, ele tem um rebanho de
rio das Velhas, no município de Jequitibá. 22 vacas em lactação que produzem 250
Além do Projeto oriundo do convênio litros de leite/dia. Mas a água que abaste-
firmado entre a EMATER–MG e a ANA, ce a propriedade é bombeada de cisterna,
a sub-bacia hidrográfica do ribeirão Jequi- já que o ribeirão está totalmente poluído,

28 Revista da EMATER-MG Agosto 2004


preservação
voltar

Produtor rural Sérgio de


Paula, Vergílius Clemente e
Daniel Guimarães - técnicos do
IEF, Marilene Martins e
Rogério Medeiros -
extensionistas da EMATER-MG

com águas impróprias A extensionista da EMATER–MG,


para o consumo huma- Marilene Martins Figueiredo, disse que a
no e animal. Há 11 anos, organização da comunidade, ao longo dos
a bomba trabalha o dia anos, é o resultado do trabalho da exten-
inteiro para matar a sede são rural no município: as pessoas se orga-
dos animais, acarretando nizando em torno de um objetivo comum.
prejuízos financeiros. “A recuperação e preservação do ribeirão
“Eu não deixo meus ani- Jequitibá fazem com que, cada vez mais,
mais beberem da água aumente o poder de fogo da articulação”.
poluída, para não mandar leite contamina- Na propriedade, ele também empre- O prefeito José Inácio Pereira fala so-
do para a cidade”, diz o produtor. ga o sistema de barraginhas para controle bre o movimento da comunidade para a
Em outra fazenda, onde estão acam- da erosão e captação de enxurradas que, despoluição do ribeirão Jequitibá: “O im-
padas 23 famílias do Movimento Sem- além disso, serve para reter os detritos e portante é que essa integração vai ajudar a
Terra (MST), as melhores áreas para cul- restos de folhas que sujam as nascentes. despoluir o ribeirão, para que possamos ter
tivo estão às margens do ribeirão. Para o Como resultado, a água passou a brotar melhores condições de vida na cidade”.
coordenador das famílias, Altair Pinto, “a do solo com facilidade, mesmo fora do Em Funilândia, quase todas as nas-
grande dificuldade é que não se pode irri- período das chuvas. centes do ribeirão Jequitibá já estão pro-
gar a plantação com essas águas”. Rogério abona o entusiasmo de Sér- tegidas, graças ao Programa. Todos os pro-
gio e diz que ele hoje “é um produtor de dutores selecionados receberam material
Trabalhos Implantados águas”, que, além de beneficiar outros pro- de cercamento para as nascentes e mu-
O proprietário da Fazenda Luma, Sér- dutores, ajuda no abastecimento do ribei- das para o reflorestamento de matas cili-
gio de Paula, desenvolve a bovinocultura rão Jequitibá, do rio das Velhas e do São ares e de topo. Foram plantadas em torno
de corte na fazenda e se gaba do resulta- Francisco. de 42 mil mudas de espécies nativas, ao
do que alcançou, desenvolvendo projeto Na propriedade, além das barraginhas, longo de toda a bacia, além do cercamen-
de manejo integrado, visando a recupera- foram plantadas cerca de 10 mil árvores to das áreas de nascentes.
ção de nascentes. “Quando adquiri a fa- de espécies florestais nativas, doadas pelo Segundo os técnicos da EMATER, di-
zenda, ela estava acabada”. Hoje ele mos- IEF. O saldo do trabalho superou as ex- ante de todo trabalho desenvolvido no
tra o resultado das mudanças: depois da pectativas. São vários os pontos de água município, foi assegurada em lei a dispo-
adoção de práticas conservacionistas – brotando, resultado do trabalho realiza- nibilização de máquinas e equipamentos
construção de barraginhas, cercamento, do. Com a fartura de água, Sérgio passou para a construção de bacias de conten-
proteção e reflorestamento de áreas de pre- a usar irrigação e realizou outro sonho: a ção e captação de águas pluviais, priori-
servação permanente – trabalho feito com criação de peixes. “Ninguém achava que zando os produtores parceiros do Pro-
apoio da EMATER–MG, do IEF e da poderíamos conseguir esse resultado fi- grama de Revitalização da Bacia do Ri-
Prefeitura local, o açude voltou a encher. nal”, afirma. beirão Jequitibá.

Revista da EMATER-MG Agosto 2004 29


Mais de meio século de
representatividade
Ao comemorar 70 anos, ABCZ e ExpoZebu mostram que a zebuinocultura é o alicerce da pecuária nacional.

Colômbia, Venezuela, para divulgar pecuária nacional, a ExpoZebu, realizada


José Olavo Borges Mendes – Presidente da Associação o zebu. A ABCZ também marcou há décadas pela entidade.
Brasileira de Criadores de Gado Zebu – ABCZ Em 2004, o faturamento da ExpoZebu
grandes conquistas no campo técni-
co. O direito de executar o Registro chegou a R$ 123 milhões e foram realiza-
Genealógico (RG) de zebuínos em todo dos 51 leilões, faturando mais de R$ 83 mi-
o Brasil foi um dos fatos relevantes da lhões. O número de animais inscritos tam-
ascida em 1934, a Sociedade história da associação. Hoje, 600 mil ani- bém chegou a 2.646 animais.Ultrapassando
Rural do Triângulo Mineiro, mais são registrados anualmente. A esta- as expectativas, o Salão Internacional teve a
nome que em 1967 foi mu- tística ultrapassou os 10 milhões de RGs participação de 650 pessoas durante a Ex-
dado para Associação Brasi- expedidos desde a criação desse serviço pozebu deste ano, vindas de 39 países como
leira dos Criadores de Zebu, se estabele- que levou à busca pela pureza das raças Estados Unidos, China, Venezuela, Colôm-
ceu como a maior referência internacio- zebuínas. Em 1967, a associação criou as bia, África do Sul, México, entre outros.
nal em zebuinocultura. A entidade sem- Provas Zootécnicas coordenando e pro- Todo esse sucesso demonstra que a
pre teve uma participação marcante no movendo a seleção de zebuínos, garantindo obstinação do zebuinocultor em desbra-
cenário do agronegócio brasileiro e mun- a qualidade do rebanho brasileiro formado var os sertões e a vastidão do território
dial. Políticos que construíram a história por 85% de gado zebu. Foi quando surgi- brasileiro para plantar as raízes firmes do
do país estiveram presentes à maior mos- ram o Controle de Desenvolvimento Pon- zebu não foi em vão. Ao se despedir de
tra de gado zebuíno, a Expozebu. Quase deral, Provas de Ganho de Peso, Teste de sua gestão, a atual diretoria da ABCZ ele-
todos os presidentes da República presti- Progênie e Controle Leiteiro. Outro passo va a entidade ainda mais em seu status de
giaram a feira nesses 70 anos. importante foi a criação do Programa de representatividade e mostra que a união
Uma entidade com aproximadamen- Melhoramento Genético de Zebuínos e a persistência compõem o caminho para
te 15 mil associados e que não ficou res- (PMGZ) associando dados de genealogia o reconhecimento internacional da pecu-
trita aos limites do território nacional. A as informações relativas à performance de ária brasileira. O trabalho dos pecuaris-
participação da ABCZ também se reve- cada animal. tas, aliado à vontade política e empresari-
lou importante além das fronteiras brasi- Na era da informatização a ABCZ al daqueles que acreditaram no setor, fez
leiras. Já em 1935 a entidade atuava de criou o Procan: um software de apoio, para do Brasil o maior exportador de carne
forma inovadora, colaborando para a facilitar, organizar e direcionar o trabalho bovina in natura.
expansão do zebu em outras nações, quan- de seleção dos criadores das raças zebuí-
do exportou reprodutores para a Guiana nas. O programa contém procedimentos
Inglesa. Recentemente, passou a atuar rotineiros e obrigatórios do Serviço de
com o Ministério da Agricultura, Pecuá- Registro Genealógico das Raças Zebuínas
ria e Abastecimento (Mapa) no trabalho e facilita a tomada de decisão no dia-a-dia
de revisão dos protocolos sanitários exis- da empresa rural. Em mais uma de suas
tentes no comércio bilateral com nações realizações, a associação criou em 2004 a
latino-americanas, dos continentes africa- ABCZ Certificadora, uma empresa implan-
no e asiático, além da Austrália, para ala- tada pela parceria entre a Fundação Mu-
vancar a exportação de material genético seu do Zebu e a Fundação Educacional
zebuíno e de animais vivos. para Desenvolvimento das Ciências Agrá-
De olho nos avanços científicos e na rias (FUNDAGRI).
abertura de novos mercados, a ABCZ
começou a ampliar cada vez mais sua atu-
ExpoZebu
ação pelo mundo. A área internacional No calendário anual da ABCZ figu-
ganhou mais força em 2003, com a cria- ram exposições agropecuárias renomadas,
ção do Brazilian Cattle Genetics (BCG). como a Exposição Nacional de Girolan-
O consórcio formado entre a associação do, a Exposição Internacional de Nelore
e as principais empresas brasileiras dos (Expoinel), além da Megaleite (Exposição
segmentos de sêmen, embriões, animais Brasileira do Agronegócio do Leite), que
vivos e serviços já participou de impor- começou a ser realizada em 2004. É tam-
tantes exposições agropecuárias em paí- bém no Parque Fernando Costa que acon-
ses como Angola, África do Sul, China, tece o evento de maior importância da

30 Revista da EMATER-MG Agosto 2004

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