Você está na página 1de 20

1

O Processo de luto no sistema familiar: uma compreensão sistêmica

Resumo:
O processo de luto é compreendido enquanto um tempo de elaboração frente a uma perda
significativa por morte. Neste estudo, refletimos sobre a importância de compreendermos esse
processo de luto por morte sob a compreensão sistêmica, considerando as implicações das perdas
no sistema familiar em que a pessoa está inserida Para tanto, foi realizado uma pesquisa
bibliográfica em que os resultados sugerem que o impacto da perda produz no sistema familiar
mudanças imediatas, significativas, á longo prazo, pois este sistema nunca mais será o mesmo. O
período de enlutamento, apesar de mobilizar sofrimento exigindo adaptações, configura-se como
uma oportunidade de lidar com questões significativas de um novo jeito, em deixar velhas crenças
para trás, abrir novas percepções que permitem novos investimentos no sistema, mantendo vivo,
sentimentos e lembranças boas em relação à perda significativa.
Palavras Chaves: Processo de luto; sistema familiar; compreensão sistêmica.

INTRODUÇÃO
Este estudo propõe discutir o processo de luto frente à elaboração da perda significativa

por morte no sistema familiar a partir de uma compreensão sistêmica, considerando de que as

manifestações de luto não ocorrem sozinhas, mas em todo o sistema em que está inserido. Assim

esta pesquisa se deu por meio de um levantamento de conhecimento existente na literatura sobre o

processo de luto e o sistema familiar na abordagem sistêmica caracterizando-se uma pesquisa

bibliográfica. A pesquisa bibliográfica, “procura explicar o problema a partir de referências

teóricas”, em que se possa “conhecer e analisar as contribuições sobre um determinado problema”

(MARCONI; LAKATOS, 1999.p.73).

Quando se pensa em luto, nos referimos a uma perda significativa o qual neste enfoque

será por morte, que deve ser acompanhado com tal importância, pois o luto gera um sofrimento

impar na pessoa, faz com que experimente um conjunto de emoções e reveja conceitos, crenças

tabus até então não dimensionados na vida frente a esta perda. Faz também que as relações sejam

vistas de uma nova maneira.

A partir desta perda significativa, compreendem-se outras perdas, suas relações e o

contexto que passará a ter um novo significado. Quando se pensa sistemicamente em luto, nos

deparamos com a possibilidade de olhar com “outra lente” para o luto e seu processo, em que

contribui para desenvolver novas estruturas quando possível, na busca da reconstrução de

significados no contexto de pertencimento e em novas emoções.

Maturana (2001) menciona que é na emoção que se sente no momento particular que se

pode ajudar a definir outras emoções no qual acontece em outros momentos e com isto o processo

de aprender e ver ajuda em quais ações são as melhores, diante das emoções.

Assim, mesmo que seja a primeira vez que ocorre o processo de luto no sistema familiar,

este sistema de alguma forma já vivenciou outras emoções que servirão de bases para esta nova

situação.
3

A palavra perda possui várias definições que chegam ao mesmo denominador que é ficar

sem algo ou alguém, pode significar que a perda é uma conseqüência da vida e da morte, para

qualquer tipo morte, material ou física.

Kubler-Ross (1998) menciona que abordar a perda é estar próxima da vida e de suas

consequências. O ser humano se recusa a aceitar a morte como algo natural, a noção de

imortalidade esta no inconsciente humano, por não admitir o fim.

Walsh e McGoldrick (1998) mencionam que em apenas uma morte, ocorrem várias perdas:

um perde a mãe, outro a esposa, outro a irmã, a filha e assim por diante. O papel exercido pela

pessoa falecida produz diferentes significados para cada um dos enlutados no sistema familiar.

O luto abrange fases e reações próprias, em que a pessoa necessita viver de maneira

saudável para poder ter disponibilidade de novos investimentos em sua vida, mantendo vivo,

sentimentos e lembranças boas em relação à perda significativa.

Porém quando o luto é vivenciado através de questões lineares, basicamente com foco

investigativo no “por quê?”, “quando”, “onde?”, “quem fez o que”, a postura passa a ser

reducionista, com foco na causa e efeito. Impede que se amplie o olhar, e acaba que não traz

embasamento e a pessoa se apresente na defensiva. Quando o pensamento esta na linearidade, o

foco de atenção se fecha as possibilidades de pergunta, impedindo que se pense naquilo que esta

acontecendo.

Mas quando o luto é vivenciado sistemicamente, a pessoa passa a experenciar um novo

modelo de pensar, viver e ver a realidade adiante, suas redes de conexões que se formam através

da história e se entrelaçam possibilitando outras oportunidades, e mantém o sistema familiar mais

próximo e atuante neste momento.

Podemos mencionar Capra (1996) que diz que os problemas atuais fazem parte de um

sistema e que não podem ser estudos isoladamente, significa que estão interligados e são

interdependentes.
Para Bertalanffy (1975), “o organismo é maior do que a soma das partes”. Isto quer dizer

que descobrimos que fazemos parte de uma rede de relacionamentos que podem interferir

profundamente na vida de todas as pessoas. Que estudar os fenômenos isoladamente não é

suficiente, pois o processo que os une e os organiza é fundamental para a compreensão e interação

das partes e do todo.

Desta maneira, pode-se destacar uma parte deste todo integrado e que foi afetado, pois para

toda a perda significativa é necessário considerar um tempo, para que o vazio possa voltar a ser

preenchido, para que haja uma nova adaptação ao novo contexto a ser inserido.

Cada cultura vivencia a morte de uma maneira particular, através de ritos e rituais com

relevância para si e para o outro. O luto pode ocorrer da mesma maneira, porém de forma

particular, dependendo do tipo de vínculo existente, do conceito de morte entre outras questões.

O luto passa a existir a partir do momento em que o vínculo é rompido. Bowlby (2006)

menciona que o vínculo é primordial para a manutenção dos seres e a morte significativa acarreta

nesta quebra de vínculo construído.

Na ausência de vínculo surge uma reação de sofrimento, que se inicia na pessoa do

enlutado por meio do processo de luto.

O pensamento sistêmico vem contribuir para o desenvolvimento e crescimento das pessoas

na interdisciplinaridade através de seus conceitos e formas de atuar, em que reconhece a

possibilidade de mudança e evolução.

Evolução esta que só será possível a partir do momento que a pessoa se reconhecer parte

integrante deste processo sistêmico que interage com situações, contextos e outros sistemas.

Do Pensamento Linear para o Pensamento Sistêmico

A Teoria Geral dos Sistemas – TGS - começou a ser estudada em 1937 pelo biólogo
alemão Ludvig Von Bertalanffy, o qual justifica sua teoria dizendo que um conjunto organizado de
5

leis pode se aplicar a todos os sistemas em geral. (Bertalanffy, 1968, p. 55). A ênfase dada a essa
teoria é a inter-relação e interdependência entre os componentes que formam um sistema.
Vasconcelos (2003) menciona que uma das características definidoras do sistema são as
relações que dão harmonia ao sistema todo atribuindo um caráter de totalidade ou globalidade,
sendo o sistema um todo integrado, em que as propriedades não podem ser reduzidas às partes.
O sistema pode apresentar-se de dois tipos: o sistema fechado se caracteriza pelo
isolamento face ao meio, não existem trocas.
O sistema aberto é aquele que tem suas características principais a interação ao meio. Esta
interação se dá através de entradas que são as forças de arranque de um sistema, o que permite a
operação do sistema e as saídas que são as finalidades para qual se reuniram elementos e relações
do sistema.
Para que o sistema seja aberto é necessária a retroalimentação que visa manter ou
aperfeiçoar o desempenho do processo e o ambiente que envolve externamente o sistema.
A relação entre o sistema aberto e o ambiente é constante, eles são inter-relacionados,
tendo em vista que as entradas de um sistema partem do ambiente e retornam através das saídas
geradas pelo processamento. O sistema recebe influencias do ambiente através de entrada e efetua
influencias através de saídas, porém, a viabilidade de um sistema depende da sua capacidade de
adaptar-se, mudar e responder as exigências e demandas do ambiente externo e a contextualização
da história.
O sistema aberto também descreve dois processos opostos, ambos imprescindíveis para sua
sobrevivência, que os são: Homeostase que é a tendência do sistema a permanecer estático ou em
equilíbrio, mantendo seu status quo interno e a Adaptabilidade que é a mudança na organização
do sistema para conseguir um novo e diferente estado de equilíbrio com o ambiente externo.
A partir dessas noções gerais sobre os sistemas, é possível pensar nas relações dentro de um grupo
ou de um grupo familiar, assim, numa família, o comportamento de cada um dos membros está
ligado ao comportamento de todos os outros.
O sistema familiar pode ser assimilado a um conjunto de funções como uma tonalidade e
no qual as particularidades dos membros não bastam para explicar o comportamento do conjunto
familiar. Nesse sentido a importância da complementaridade dos comportamentos no sistema
familiar.
Pois esta complementaridade é que fará que com a família possa se perceber como parte de
um contexto e assim reconhecer o “outro como legitimo outro” e legitimar a verdade do outro e
emergir uma realidade pela qual seremos ambos responsáveis. (Vasconcelos, 2005 p. 80).
O estado de um membro considerado doente, não pode destacar-se do contexto familiar.
Qualquer piora ou melhora no seu estado acarreta reações na saúde dos outros membros da
família, que podemos destacar como sendo o sintoma.
O sintoma é que desempenha um papel de equilíbrio na estrutura do grupo familiar. A
intervenção externa, isto é o meio, qualquer que seja nada mais pode fazer além de alimentar o
sintoma, pois o sistema familiar filtra as informações para confortar-se na doença e preservar a
homeostase, o qual há uma regulação homeostática, promovendo os princípios da Cibernética.
Wiener1 define a Cibernética como ciência que estuda a comunicação e os processos de
controle nos organismos vivos e nas máquinas. A Cibernética se ocupa em investigar
cientificamente processos sistêmicos de caráter muito variado. Entre eles os fenômenos de
regulação, processamento da informação, adaptação, auto-organização, auto reprodução, acúmulo
de informações e condutas estratégicas.
Bradford, (1997) em relação à cibernética que se apresenta como idéia básica a
retroalimentação que é um método para controlar um sistema reintroduzindo os resultados de seu
desempenho no passado. Resultados estes que pode ser uma retroalimentação simples como dados
numéricos para avaliar o sistema ou quando ocorre uma aprendizagem sendo que a informação
modifica seu processo atual.
Isto quer dizer que a retroalimentação proporcionará uma forma de manter a estabilidade
da organização familiar, porém a aprendizagem poderá iniciar uma opção para uma mudança.
Entretanto Bradford (1997) relata que:
“a cibernética estuda de que maneira os processos de
mudança determinam diversas ordens de estabilidade ou de
controle. Nesta perceptiva, o terapeuta deve ser capaz de
distinguir não somente a retroalimentação simples, que
mantém o problema apresentado por seu paciente, mas
também a retroalimentação de ordem superior, que mantém
esses processos de ordem inferior. O objetivo do terapeuta é
ativar a ordem do processo de retroalimentação que permita
a ecologia perturbada autocorrigir-se”. (Bradford, 1997).

1
Norbert Wiener, matemático americano viveu entre 1894-1963, sua produção maior foi entre 1943-47, onde
concomitantemente, criaram em 1974 a teoria dos jogos e 1949 a teoria matemática da informação e 1947 a teoria
geral dos sistemas.
7

Tendo assim como tentativa ampliar a compreensão da família a um novo modo de


reequilíbrio e autocorreção de sua própria conduta dentro do contexto familiar, utilizando-se de
um recurso através do feedback.
Segundo Littlejohn (1978) o conceito de feedback traduz o efeito de retroação ou ação em
regresso entre dois ou mais organismos vivos ou não vivos. Este feedback tende a ampliar o fluxo
vindo do meio ambiente, levando o sistema a um novo estado de equilíbrio, caracterizando a
capacidade de mudança e adaptação de um organismo sendo chamado de feedback positivo, já o
feedback negativo tende a anular as variações do meio ambiente, recusando qualquer informação
que ponha em jogo seu equilíbrio a fim de mantê-lo invariante. Este tipo de feedback produz uma
reação que recusa qualquer informação que ponha em jogo o equilíbrio do sistema familiar.
O sistema familiar funciona como um sistema aberto que já aceita trocas com o exterior
isto é, o meio, e com isto os papéis dentro deste sistema são diferenciados, admitindo uma
diversidade de respostas ao meio ambiente e proporcionando uma nova forma de comunicação.
Comunicação esta que é regida por propriedades dos sistemas gerais como a inter-relações dos
elementos do sistema, a finalidade do sistema, o equilíbrio e a organização, o feedback positivo ou
negativo, a diferenciação e a complexidade.
Para Watzlawick, (1993) todo comportamento se dá através de uma comunicação, que
influencia o outro e é por ele influenciado, o que significa que não se pode não comunicar, é
impossível não comunicar.
Podemos assim, definir comunicação como: o ato ou efeito de emitir, transmitir e receber
mensagens por meio de métodos e ou processos convencionais que através da linguagem falada ou
escrita, quer de outros sinais, signos ou símbolos, quer de aparelhamento técnico especializado,
sonoro e/ou visual. (Dicionário de língua portuguesa).
Littlejohn (1978) se refere à comunicação dizendo que:
“Um dos mais penetrantes, complexos e importantes
aglomerados presentes em nosso comportamento é a nossa
aptidão para comunicar em um nível superior que separa os
seres humanos dos animais. As nossas vidas cotidianas são
afetadas da maneira mais séria pelas nossas próprias
comunicações com os outros, assim como pelas
comunicações de pessoas distantes e desconhecidas. É um
fato da vida que estamos vinculados por nossas mensagens
e pelas mensagens de outros. Se existe a necessidade de
conhecimento acerca do nosso mundo, essa necessidade
estende-se a todos os aspectos do comportamento humano,
especialmente a comunicação”. (Littlejohn, 1978)
Deste modo, comunicar significa por em comum, o que pressupõe uma relação, significa
integrar-se neste contexto para se apresentar como forma ou maneira de ser dentro das relações
que vivem, guardando suas características e personalidades particulares.
A comunicação possui quatro comportamentos possíveis de respostas que muitas vezes
estão relacionadas com maneira da família funcionar, são elas: a rejeição significa que de uma
forma mais ou menos indelicada informamos ao outro da nossa intenção de não conversar; o
sintoma significa que a pessoa finge que tem um defeito ou uma incapacidade que justifica a
impossibilidade da comunicação e a desqualificação significa que se comunica de modo a
invalidar a comunicação do outro.
Esta desqualificação leva aquilo que Watzlawick (1993) denominou de comportamento de
resposta ou sintoma. Este comportamento pode assumir diversas formas como o abandono, o
desmaio, o homicídio, a loucura e o suicídio, entre outros. A desqualificação também pode
acontecer através da comunicação paradoxal que significa o emissor enviar duas mensagens em
simultâneo, em que uma é afirmativa e a outra é negativa. O contato frequente com esse tipo de
comunicação tenderá a levar a pessoa a perturbações, por não conseguir distinguir qual das
mensagens é a verdadeira, ou a correta.
Toda resposta implica em um conteúdo e uma relação, isto é, o conteúdo será a
informação, àquilo que se desejar transmitir, enquanto que a relação será como a informação deve
ser entendida. Esta é uma capacidade fundamental para uma comunicação bem sucedida.
Satir (1995) foi quem mais se deteve na interação da comunicação nas relações, enfatizando as
capacidades de autoestima e diferenciação como fatores importantes para entender a qualidade de
interação nas relações.
Para Satir (1995) “a comunicação pode significar interação ou transação, incluindo
também todos os símbolos e indícios utilizados pelos indivíduos quando estes recebem ou
transmitem comunicação”, isto é, as pessoas se comunicam de diversas maneiras tais como gestos,
expressão facial, postura, movimento, tom de voz, modo de se vestir, a forma que o receptor
recebe e interpreta a informação, a verificação do contexto social e a história de cada um.
É de grande relevância a colocação de Satir (1995) o qual podemos perceber que o papel
essencial da comunicação é exercer para a vida da pessoa uma interação ou transação em que ela
possa produzir a compreensão do que se deseja comunicar.
9

Dentro desta perspectiva podemos observar o processo terapêutico, em que o terapeuta


deve ter para si alguns recursos que os auxiliam. Para isto a comunicação, que é um deste recurso,
tem que ser para os membros da família e para o terapeuta uma comunicação clarificada, isto é,
tem que ser clara para que o outro saiba o que passa em seu íntimo. É importante dizer o que
realmente se quer, para que o outro possa devolver a informação que necessita.
Satir (1995) aborda que depois da comunicação clarificada, os códigos é que são
utilizados, pois são mensagens intencionalmente incompletas, quais os membros da família se
utilizam, para facilitar a comunicação e o entendimento entre eles.
Durante este processo terapêutico, a família pode apenas confirmar o tipo de código
utilizado entre eles ou pode vir a significar que os membros da família ainda não estão preparados
para algo novo, pelo contrário, alguns preferem permanecer assim, pois não saberiam funcionar de
um novo modo e com isto se perceber, perceber o outro, permitir a mudança e principalmente
deixar transparecer seus sentimentos.
Satir (1995) foi muito observadora ao colocar a comunicação como sentimento, algo que
precisa sair de dentro para fora, olhar para si e se reconhecer pertencente como membro da família
e que é possível a mudança no contexto familiar.
Para que essa comunicação como sentimento apareça no contexto familiar é importante
destacar a metacomunicação, que é uma mensagem sobre uma outra mensagem. Esta
metacomunicação informa a atitude da pessoa em transmitir seus sentimentos, suas intenções com
relação ao outro e a si mesma.
Enfim, ir além de Satir é pensar na família como partes individuais que se entrelaçam com
as suas histórias, com experiências individuais que trazem para dentro do contexto familiar o
significado das relações.
Vasconcelos (2003) menciona que poder :
“pensar sistemicamente é pensar a complexidade, a instabilidade
e a intersubjetividade; ou porque os pressupostos da
complexidade, da intersubjetividade constituem em conjunto uma
visão de mundo sistêmica”. (Vasconcelos, 2003)
Vasconcelos (2003) diz ainda que as nossas ações os quais são implicações de como vemos
e agimos no mundo e das novas formas de nos comportar em relação a este mundo é que
acarretará mudanças nas relações entre os elementos do sistema e também entre aquele que o
descreve e trabalha com ele.
Com isto o processo de luto só se iniciará a partir do momento que reconheço no

pensamento sistêmico a possibilidade de ressignificar o contexto familiar e abrir para um novo

modo de interagir no mundo.

Processo de luto

O processo de luto é um momento singular na pessoa que teve uma perda significativa,

pois é este processo que auxiliará a elaborar a morte de uma maneira mais natural.

Parkes (1998) menciona que o luto é um processo e não um estado, que o enlutado

apresenta sintomas característicos, mas que gradativamente passa. Um sintoma sentido pelo

enlutado no início do processo costuma acometer o enlutado novamente, dependendo da situação

em que esteja vivendo naquele momento.

Para Moura (2006) o processo é mais adequado à experiência do enlutado, pois, a cada

momento significativo a fase que vivenciou pode retornar ao longo do luto, pode coexistir com

outra fase e em outros momentos deixar de vivenciar alguma fase, por se encontrar em outro

momento.

Por isto o processo de luto é imprescindível para os enlutados, pois permite resgatar

sentimentos e emoções vividas ou até mesmo aquelas não vividas até o momento da perda, mas

que passará a ter um novo significado.

O processo de luto leva o enlutado à oportunidade de deixar laços de vinculação existente

para trás e se desprender desta perda significativa e que em condições normais o enlutado elimina

estas vinculações e passa lidar melhor com esta ausência e a novas mudanças que viram ocorrer.

Isto vem confirmar que o processo de luto se inicia a partir de um vínculo rompido, e que é

um mecanismo extremamente valioso e protetor, sem se esquecer da dor e o aspecto emocional

que o caracteriza.
11

Assim, pode-se passar a considerar que o processo de luto é sistêmico porque não tem uma

previsão certa para acabar, pode durar um mês, um ano ou a vida toda, isto vai depender de cada

pessoa, do vínculo existente e do tipo de perda significativa ocorrida.

Vasconcelos (2003) explica que o que dá conexão ao sistema são as relações, pois o

sistema é visto como um todo e não em partes, isto é, são as relações que fazem com que o sistema

seja integrado e não visto isoladamente.

Portanto neste período de processo de luto, o enlutado vivencia fases ou etapas importantes

que o ajudaram a readaptação das relações sociais e familiares na tentativa de superar os desafios

existentes.

Estas fases ou etapas podem ajudar o enlutado a compreender a perda e ressignificar sua

vida de uma nova maneira, por isto este período de tempo se justifica, trazendo a oportunidade de

desenvolver-se emocionalmente, inclusive ao modo que irá vivenciar outros vínculos ou suas

novas relações.

Kubler-Ross (1998) menciona que as fases de negação e isolamento; raiva; barganha;

depressão e aceitação são importantes para o enlutado, por meio destas fases é que o enlutado

encontrará condições de reavaliar sua vida, tomar contato com a realidade existente.

Parkes (1998) menciona que o processo de luto gera no enlutado uma sequencia de

sintomas e quadro clínicos, mas que no decorrer do período vai desaparecendo de maneira singular

e ímpar.

Bromberg (2000) menciona que o enlutado não deve receber só sentimentos de pena ou

compaixão, mas sim como uma pessoa que pode dar um novo significado a sua existência.

Por isto o processo de luto pode ocorrer de maneira normal em que o enlutado vivencia

vários sintomas tanto emocionais quanto físicos, em que traz implicações importantes, pois o

processo é dinâmico e complexo que envolve a pessoa como um todo, e que este processo é

representado de maneira consciente e inconsciente pelas funções do ego, as atitudes, as defesas e


as suas relações com os demais. Uma maneira de mostrar que o sofrimento é finalizado é quando o

enlutado consegue pensar no falecido sem a dor e sofrimento, quando consegue investir em novas

emoções na vida.

Mas pode ocorrer como um processo de luto complicado, em que gera no enlutado muito

mais energia e fatores que levam a várias circunstancias, desde problemas de personalidade com

vinculação no falecido até doenças psicossomáticas e físicas como, por exemplo, a síndrome do

coração partido.

Isto faz com que o processo de luto seja severo e dure mais tempo, impedindo que a pessoa

vivencie sua dor, e consiga amenizar tal sofrimento.

Embora haja variações no processo de luto, não se podem afirmar quando o luto é

totalmente complicado, pois é difícil determinar critérios de pessoa para pessoa, sendo que quando

a perda significativa tiver uma maior relação afetiva, mais difícil será recuperar e experimentar

tais alterações devido à separação ocorrida.

É necessária muita atenção para classificar antecipadamente o processo de luto como

complicado, pois se devem observar suas fases por mais tempo, antes de nomear o que o enlutado

sente e desenvolve em seu processo.

Portanto, verifica-se que o processo de luto não progride de maneira linear, pois pode

surgir para que seja de novo trabalhado e até mesmo quando já se superou a fase e está na fase

seguinte, o enlutado pode regredir e iniciar novamente todo o processo.

O processo de luto não ocorre isoladamente para o enlutado, pois atingem seus familiares,

pessoas próximas e significativas, isto é as relações.

Assim, para a compreensão sistêmica, a família é vista com um sistema complexo, porém

social e flexível, pois se compõe por pessoas que trocam e compartilham significados.
13

Neste sentido, à importância da complementaridade dos comportamentos no sistema

familiar, é que fará que com a família possa se perceber como parte de um contexto e reconhecer o

outro e as novas formas de se comportar em relação a este outro.

Para pensar em família com um sistema, Satir (1995) contribui dizendo que a família se

forma com partes individuais que se entrelaçam com suas próprias histórias, e que com suas

experiências traz para dentro do contexto familiar o significado das relações, formando assim

através destas conexões um sistema familiar.

Pensar nesta nova forma de família é estar aberto para a entrada de um novo contexto,

ressignificando a história de cada membro familiar, permitindo um novo modo de se relacionar

com o luto e com a vida.

Andolfi (1980) menciona que a família é m sistema aberto organizado por várias unidades

ligadas em um conjunto de regras de comportamentos e por funções dinâmicas, em que estão em

constante interação entre si e o mundo externo.

E neste sentido pode ser encarado como uma nova construção de contexto, em que

proporciona a ressignificação às versões de histórias de vidas, em que no enlutado acontecerá

através de uma nova importância.

Por isto a família do enlutado passa a ter um papel fundamental neste processo de luto,

pois é a família que ressignifica as redes de conexões que se formam através da história de cada

membro e que se entrelaçam possibilitando novas oportunidades.

Neste sentido, a maneira de pensar desta família se modifica, bem como a própria

comunicação em que ativa um senso de realização para si e para o outro, mas principalmente para

uma nova forma de encarar o contexto interno e externo.

Portanto todos passam a serem coautores do processo de luto, em que possibilitam uma

organização no sistema, em que manterá coerente com a relação do outro e do próprio eu.
Pode-se observar que esta rede de conexão através da comunicação poderá expressar seus

sentimentos em relação a si e ao outro. Em que permite a oportunidade de expandir as relações,

viver e apresentar uma nova maneira de fazer parte deste novo contexto.

Freitas (2000) define que vivenciar o luto como um tempo vai depender de como ocorrer à

comunicação, isto é, abrir espaço à elaboração, de maneira que se destaque a saúde, a criatividade

e o prazer.

Watzlawick (1993) destaca a comunicação dizendo que todo comportamento se dá por

meio de uma comunicação, que influencia o outro e é influenciado, isto é não se pode não

comunicar, é impossível.

Comunicar-se significa por em comum, o que se pressupõe uma relação, significa integra-

se neste contexto para se apresentar como forma ou maneira que se vive, guardar suas

características e personalidades particulares.

Satir (1988) foi quem mais se deteve na interação da comunicação nas relações,

enfatizando as capacidades de autoestima e diferenciação como fatores importantes para entender

a qualidade de interação nas relações.

Para Satir (1988) a comunicação significa integrar e transmitir, incluindo símbolos o qual o

individuo recebe ou transmite algo.

No caso da comunicação sobre o diagnostico de uma doença fatal ou sobre o agravamento

do quadro, fica mais difícil tal informação, pois muitas das vezes as pessoas não conseguem lidar

com a situação, passando a ter outros tipos de comportamentos mais agravantes, como por

exemplo: idéias suicidas, depressão, entre outros.

Kovács (2008) relata sobre como se deve dar a noticia, “a questão não é dar a noticia, e sim

como fazê-lo”. O fato é que a escuta não esta conectada aos sentimentos e por isto muitas das

vezes não se ouve. A autora desta que “transmitir más notícias é uma arte, um compartilhamento

da dor e do sofrimento; requer tempo, sintonia, privacidade.”


15

As pessoas doentes sabem, ou intuem o que está acontecendo com elas, mesmo que não

sejam informadas diretamente. Não contar, ou pretender que nada esta acontecendo, favorece que

se crie uma situação que denomino de “teatro de má qualidade”. (KOVÁCS 2003)

Outro ponto que Kovács (2003) relata é a postura da família diante da perda e do luto, em

que menciona que a sociedade atual se cala no luto, dizendo que as pessoas devem ser fortes, ou

discretas, quando se trata da morte, não incomodar.

Kovács (2008) trabalha com a perspectiva da escuta como elemento fundamental do

processo de comunicação de más notícias e que “envolve ir além das palavras”, do conteúdo e

estar ciente do tom de voz, das reticências, do silêncio. As entrelinhas podem comunicar muito

mais do que as linhas.

Por isto é importante ressaltar que esta comunicação também se faz imprescindível diante

do processo de luto e que deve ser vivenciado no momento certo e conforme suas experiências,

assim o enlutado terá mais chance de superar tal dor e retornar sua vida com mais tranqüilidade.

Pois é necessária certa carga de energia nas pessoas para conseguir se desapegar a perda

significativa, ficando um registro de idealização e lembranças apenas aos melhores momentos.

Melo (2004) menciona que deste modo, como é importante perceber como o impacto da

perda significativa tem não só para a pessoa, mas para toda a família e suas interações.

Assim o comunicar-se ao outro tem um significado importante diante deste processo de

luto, pois poderá trazer a toma lembranças e recordações pertinentes ao momento, aliviando e

minimizando a dor e a saudade. Satir (1988) observa que colocar a comunicação como um

sentimento, que necessita sair de dentro para fora, que deve olhar para si e se reconhecer parte

integrante de uma família, isto fará com que seja possível a mudança neste contexto familiar.

E é neste olhar para a família como um sistema, que será permitido outro tipo de situação

em que o enlutado passa a proporcionar a si e ao outro um aliviamento oferecendo um sentido

existente e real.
A morte para qualquer família leva uma quebra no equilíbrio familiar, esta quebra afeta

vários fatores significativos tanto no âmbito pessoal, social como no próprio ambiente familiar.

Todos estes fatores influenciam diretamente o processo de luto da pessoa e ao se redor, por

isto quando há um membro familiar em processo de luto, não pode deixar de destaca-se todo o

contexto familiar. Qualquer situação que acarreta reações na saúde de um dos membros da família

passa a ser um sintoma, que neste caso o processo de luto e suas fases vivenciadas são

caracterizados.

O sintoma é que desempenha um papel de equilíbrio na estrutura do grupo familiar. A

intervenção externa, isto é, o meio, qualquer que seja nada mais pode fazer além de alimentá-lo. O

sistema familiar filtra as informações para conforta-se na doença e preservar a homeostase.

Quando um membro familiar encontra-se em processo de luto, a um desequilíbrio natural

deste sistema, impedindo novas realizações e oportunidades no contexto, quando esta família

permite a entrada de novos dados, como a melhora do processo de luto, o equilíbrio (homeostase),

o sistema vai retornando permitindo que a família volte a sua normalidade e aceite melhor o

contexto interno e externo que está inserido.

Para isto é necessário à retroalimentação, que será a regulamentação do novo dado, que

quando ocorre este retorno informa o que aconteceu anteriormente no sistema, e assim ocorre a

aprendizagem.

Neste sentido, a retroalimentação proporciona uma forma de manter a estabilidade da

organização familiar, porém é na aprendizagem que pode iniciar como uma opção para uma

mudança.

Considerações Finais

Portanto, podemos dizer que a abordagem sistêmica vem contribuir para o processo de luto

no sistema familiar com “uma nova lente”, em que permite abordar diretamente as questões
17

pertinentes a si e ao outro, em que implica diversas opções de desenvolvimento na prática a

caminho de uma nova possibilidade em relação aos contextos que ocorrem.

Quando esta elaboração ao processo de luto não ocorre e faz com que a pessoa negue tais

constatações, referente aos seus sentimentos, e impedindo assim de retomar sua vida com

tranquilidade e se integrar novamente em suas relações, pode vir a se instalar uma crise no sistema

familiar.

Crise esta que promove vários aspectos, como a difícil missão de renunciar e a de excluir e

incluir novos papéis e personagens na cena familiar.

Walsh e McGoldrick (1998) afirmam que a intensidade da crise se faz por meio de

desequilíbrio entre a quantidade de ajustamento e os recursos necessários à sua realização. Deste

modo a experiência se transpõe ao desafio da crise e supera-la fortalece a capacidade de resiliência

familiar para o que esta por vir em situações futuras.

Pois tanto a perda quanto o luto afetam a todos, causando sintomas emocionais, como

depressão e ansiedade, assim como sintomas físicos. A importância de se prevenir tais sintomas,

com o apoio e encorajamento dos seus familiares, para manifestar os sentimentos vividos são

imprescindíveis neste período.

Assim, o sistema familiar consegue gerar harmonia e reestruturação flexível para que

ocorra a reestabilidade e resiliência. Pois a resiliência familiar se apresenta como a capacidade

deste sistema familiar a suportar crises e adversidades reforçando o potencial de reparação e

superação.

Pois este sistema familiar consegue proporcionar estrutura, estabilidade e cuidados para si,

para o outro e para os contextos envolvidos neste momento.

Neste sentido, a abordagem sistêmica se fará como um novo recurso neste processo em que

se faz com que ocorra outro direcionamento ao objetivo de aliviar o sofrimento e ressignificar a

vida.
Portanto, as questões se ampliam, favorecendo uma nova pauta da família, (que será viver

com a perda significativa), se retroalimentem para se ter presente o modo de pensar e como pensar

em relação a possíveis transformações que ocorrerá nas partes atuantes.

Com isto facilitará uma postura diferente para si e para as novas questões, em que

permitirá outra escuta por parte dos membros familiares.

E este processo só se inicia a partir do momento que a família se reconhece no pensamento

sistêmico, com possibilidade de ressignificar o contexto e abrir para um novo modo de interagir no

mundo.

Compreender um novo modo de pensar o luto através da compreensão sistêmica é

reconhecer e contribuir ao enlutado e seu sistema uma nova interação e compreensão de cada parte

envolvida em que permite recordar a perda significativa com boas lembranças, em que resulta

ativamente no novo modo de olhar para a vida daqui em diante, em um novo contexto que será

construído ou restaurado.

Enfim o processo do luto sugere a cura de uma dor que se abre, os papéis sociais, a

reorganização da perda significativa, faz com que o enlutado e o sistema familiar possam

apresentar uma nova organização interna e externa de si em relação ao outro e ao meio em que

vive, trazendo de volta a homeostase do sistema, de forma construtiva e adaptativa.

Principalmente fortalecidos para novos obstáculos da vida.


19

Referências Bibliográficas

ANDOLFI, M.O. Casal em crise. São Paulo: Summus. 1995.

BERTALANFFY, L.V. Teoria geral dos sistemas. São Paulo: Editora: Vozes Petrópolis. 1975.

BOWLBY, J. Formação e rompimento de laços afetivos / John Bowlby; tradução Álvaro


Cabral; revisão da tradução Luís Lorenzo Rivera, 4 ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2006.

CALIL, V.L.L. Terapia Familiar e de Casal: introdução às abordagens sistêmica e Psicanalítica.


São Paulo: 2 edição, Ed Summus. 1987.

CAPRA, F. A Teia da Vida, São Paulo: Editora Cultura. 1996.

FREITAS, Neli; Klix. Luto Materno e Psicoterapia: São Paulo; Summus, 2000.

KOVÁCS, M. J. Desenvolvimento da Tanatologia: estudos sobre a morte e o morrer. 2008.


Disponível em http://www.scielo.br/scielophp?script=sci_arttext&pid=S0103-
863X2008000300004&lng=en&nrm=iso&tlng=PT. Acesso em 20 de maio de 2010

_______________Educação para a Morte: temas e reflexões. São Paulo: Casa do Psicólogo.


FAPESP. 2003.

KUBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

LIMEIRA ALMEIDA, N. A Família “Uma outra lente” do Pensamento Linear para o


Pensamento Sistêmico. Monografia apresentada ao programa de Especialização Pró Reitoria de
Pós Graduação Lato Sensu Universidade do Vale do Paraíba. 2005.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e


execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de
dados. 4ª edição. São Paulo: Atlas 1999.

MATURANA, H.. A cognição, ciência e vida cotidiana. 2001. Disponível em


http://livrosdamara.pbworks.com/f/Humberto%20Maturana%20-
%20Cogni%C3%A7%C3%A3o,%20Ci%C3%AAncia%20e%20Vida%20Cotidiana.pdf.
Acesso em 27 de abril de 2010.

MELO, R. Processo de Luto: o inevitável percurso face a inevitabilidade da morte. 2004.


Disponível em http://www.integra.pt/textos/luto.pdf. Acesso em 23 de abril de 2010
MOURA, C.M. Uma Avaliação da Vivencia do Luto conforme o modo de morrer. 2006.
Disponível em http://dominiopublico.qprocura.com.br/dp/111135/Uma-avaliacao-da-vivencia-do-
luto-conforme-o-modo-de-morte.html. Acesso em 5 de junho de 2010 de

PARKES, C.M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. Tradução: Maria Helena Pereira
Franco – São Paulo: Summus, 1998.
1Pincus, L. (1989). A Família e a Morte: como enfrentar o luto. Paz e Terra, Rio de Janeiro.

SATIR, V. A Terapia do grupo familiar. Rio de Janeiro: 43 edição, Francisco Alves. (p. 07 a 120;
p. 121 a 142). 1988

VASCONCELOS, M.J.E. Pensamento Sistêmico: o novo paradigma da ciência. Campinas, SP:


Papirus. 2002.
WALSH, F.; MCGOLDRICK, M. A perda e a família: uma perspectiva sistêmica. Porto Alegre:
Artmed, 1998.
___________________________. Morte na família: sobrevivendo as perdas. Porto Alegre:
Artmed, 1998.
WATZLAWICK, P.A. Pragmática da Comunicação humana. São Paulo: Editora Cultrix. 1993.

Nancy Limeira de Almeida – limeiraalmeida@yahoo.com.br

Simone dos Santos Abraão Pampolha - sap_psi@yahoo.com.br

Airle Miranda de Souza – airlemiranda@gmail.com

Revista Psicologia em Estudo

Você também pode gostar