Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ae11 Craig Owens PDF
Ae11 Craig Owens PDF
pós-mo dernismo*
Craig Owens
o autor examino o que ocorre no interior dos trabalhos de arte quando o alegoria
descreve suo estruturo, evidenciando-se como modelo crítico, cujo objetivo é
colocor outro significado no formo de suo apresentação, sendo o imaginário
alegórico um imaginário apropriado , em que os imagens são confiscados .
Considerando o reemergência do alegoria no arte contemporônea, o despeito de
suo rejeição pelo crítico do arte moderno, Owens busco exemplos no história do
arte e no literatura, inclusive no modernismo, que lhe sugerem não serem o alegoria
e o modernismo antitéticos, pelo menos no prático, 00 constatar que apenas no
teoria o impulso alegórico tem sido reprimido. A alegoria é concebido tonto como
uma atitude quanto uma técnico, uma percepção quanto um procedimento.
----- - ---
Arte . alegoria. ap r opri o çáo.
I
ciência, ou arte imitando ciência" ; Borges certa
vez a chamou "estética do erro". Embora
certamente permaneça um dos mais alegóricos
escritores contemporâneos, Borges, contudo,
Essa anrmação é duplamente paradoxal, pois
não somente contradiz a natureza alegórica da
própria ncção de Borges, como também nega à
alegoria o que é sua maior característica: a
f vê a alegoria como um artifício fora de moda, capacidade para resgatar do esquecimento
I
exaurido, um tema do histórico, a despeito do histórico aquilo que ameaça desaparecer. A
interesse crítico. As alegorias, de fato, aparecem alegoria, primeiramente, emergiu em resposta a
a Borges para representar-lhe a distância entre o uma espécie de sentido de estranhamento da
presente e o passado irrecuperável: tradição; ao longo de sua história ela tem
funcionado na fenda entre um presente e um
passado que, sem uma reinterpretação
alegórica, poderia ter permanecido excluído. outro; o Velho Testamento, por exemplo, toma
Uma convicção a respeito da distância do se alegórico quando é lido como uma
passado e o desejo de redimi-Io ao presente são prefiguração do Novo. Essa descrição provisória
seus dois impulsos fundamentais. Eles - que não é uma definição - vale tanto para a
contribuem tanto para o papel que a alegoria origem da alegoria nos comentários e exegeses
tem na investigação psicanalítica quanto para seu quanto para sua permanente afinidade com eles:
significado em Walter Benjamin, o único crítico como Northrop Frye indica, o trabalho alegórico
do século 20 a tratar do tema sem preconceito, tende a prescrever a direção de seu próprio
filosoficamente 2 Eles ainda falham em explicar comentário. É esse aspecto metatextual que é
por que o potencial estético da alegoria parecia invocado sempre que a alegoria é atacada como
ter-se exaurido há algum tempo; nem são interpretação simplesmente anexada post facto a
capazes de localizar a brecha na qual a própria um trabalho, um ornamento retórico ou noreio.
alegoria retrocedeu nas profundezas da história. Ainda, como argumenta Frye, "a alegoria
genuína é um elemento estrutural na literatura;
Investigar as origens da atitude modema sobre a ela tem que estar lá, e não pode ser anexada
alegoria também poderia parecer "estúpido e pela interpretação crítica isolada". 4 Na estrutura
frívolo" se não fosse pelo fato de que um alegórica, portanto, um texto é lido através de
inconfundível impulso alegórico tenha começado outro, embora fragmentária, intermitente ou
a reafirmar-se em vários aspectos da cultura caótica possa ser sua relação; o paradigma para
contemporânea: no revival de Benjamin, por o trabalho alegórico é, então, o palimpsesto. (É
exemplo, ou no The Anxiety of Inpuence, de daqui que uma leitura da alegoria em Borges
Harold Bloom. A alegoria é também expressa deve ser iniciada, com "Pierre Menard, autor de
no revivalismo histórico que hoje caracteriza a Quixote" ou muitas das Crônicas de Bustos
prática arquitetural e a posição revisionista de Domecq, onde o texto é positivado por seu
grande parte do discurso histórico da arte próprio comentário.)
recente. Por exemplo, T. J. Clark ao tratar a
pintura da metade do século 19 como "alegoria" Concebida dessa maneira, a alegoria torna-se o
política. No que segue, quero focalizar essa modelo de todo comentário, de toda crítica, na
reemergência através do seu impacto tanto na medida em que estão envolvidos em reescrever
prática quanto na crítica das artes visuais. Há, um texto primário em termos de sua significação
como sempre, importantes precedentes a figurai . Estou interessado, entretanto, no que
serem contabilizados: Duchamp identifiCOU tanto ocorre quando essa relação acontece no interior
o "estado instantâneo do Resto" quanto a dos trabalhos de arte, quando ela descreve sua
"exposição extra-rápida" ["extra rapid exposure"] , estrutura. O imaginário alegórico é um
ou seja, os aspectos fotográflcos,3 do Grande imaginário apropriado; o alegorista não inventa
Vidro como "aparência alegórica"; Allegory é imagens, mas as confisca. Ele reivindica o
também o título de uma das mais ambiciosas significado culturalmente, coloca-a como sua
combine paintings de Robert Rauschenberg, da intérprete. E em suas mãos a imagem toma-se
década de 1950. Uma consideração sobre tais uma outra coisa (ollos = outro + ogoreuei =
trabalhos deve ser adiada, contudo, pois sua dizer). Ela não restaura um significado original
importância só se toma aparente depois que a que possa ter sidQ perdido ou obscurecido: a
supressão da alegoria pela teoria moderna foi alegoria não é hermenêutica. Mais do que isso,
completamente reconhecida. ela anexa outro significado à imagem. Ao anexar,
no entanto, faz somente uma recolocação: o
Para identificar a alegoria em suas manifestações significado alegórico suplanta seu antecedente;
contemporâneas, precisamos primeiramente ter ele é um suplemento. É por isso que a alegoria
uma idéia geral do que ela é, de fato, ou é condenada, mas é também a fonte de sua
melhor, o que ela representa , pois a alegoria é significação teó rica.
tanto urna atitude quanto urna técnica, urna
percepção quanto um procedimento. A primeira ligação entre a alegoria e a arte
Permitimo-nos dizer, por ora, que a alegoria contemporânea pode agora ser feita com a
ocorre sempre que um texto é dublado por apropriação de imagens que ocorre nos
114
trabalhos de Troy Brauntuch, Sherrie Levine , uma afinidade que encontra sua mais
Robert Longo - artistas que geram imagens por compreensível expressão na ruína, que
meio da reprodução de outras imagens. A Benjamin identificou como o emblema alegórico
imagem apropriada pode ser um ftlm stil/, uma por excelência. Aqui os trabalhos do homem
fotografia, um desenho: é com freqüência ela são reabsorvidos na paisagem; as ruínas,
própria uma reprodução. Contudo, as portanto, permanecem para a história como um
manipulações às quais esses artistas submetem processo irreversível de dissolução e
tais imagens trabalham para esvaziá-Ias de sua decadência, um progressivo distanciamento da
ressonância, seu significado, sua reivindicação origem:
autoritária para significar. Através das ampliações
de Brauntuch, por exemplo, os desenhos de Na alegoria, o observador é confrontado
Hitler ou aqueles das vítimas dos campos de com a facies hippocratica da história como
concentração, exibidos sem legendas, tomam-se uma paisagem primordial, petrificada. Tudo
resolutamente opacos: sobre a história que, desde o início, tem
sido inoportuno, pesaroso, fracassado é
Toda operação pela qual Brauntuch submete expresso na face, ou melhor, em uma
essas fotografias representa a duração de um cabeça da morte. E, embora a tal coisa falte
olhar fascinado e perplexo, cujo desejo é que toda liberdade de expressão 'simbólica',
elas revelem seus segredos; mas o resultado é toda proporção clássica, toda humanidade,
apenas fazer as fotografias o mais semelhante essa é, contudo, a forma na qual a
à pintura, para fixar para sempre em um submissão do homem à natureza é mais
objeto elegante nossa distância da história óbvia e, significativamente, amplia não
que produziu essas imagens. Aquela distância apenas a questão enigmática da natureza da
é tudo o que essas fotografias significam. 5 existência humana como tal, mas também a
historicidade biográfica do indivíduo. Este é
o olhar de Brauntuch é, então, aquele olhar o coração do modo alegórico de ver.. ,7
f melancólico que Benjamin identificou com o
j
temperamento alegórico: Com o culto alegórico da ruína, uma segunda
ligação entre a alegoria e a arte contemporânea
Se o objeto toma-se alegórico sob o olhar do emerge: no site-speciftcity [especificidade do
melancolia, se a melancolia causa o ffuir da lugar], o trabalho parece ter submergido
vida para fora dela e permanece além da fisicamente em seu ambiente, ser encaixado no
morte, mos etemamente segura, então ela lugar onde nós o encontramos. O trabalho de
estó exposta ao alegorista, estó site-speciftc [lugar específico] freqüentemente
incondicionalmente em seu poder. O que aspira a uma monumentalidade pré-histórica;
significa dizer que ela é agora completamente Stonehenge e as linhas de Nazsca são tidas
incapaz de emanar qualquer sentido ou como protótipos. Seu "conteúdo" é
significado de si própria; o significado que elo freqüentemente mítico, como aquele do Spiral
tiver o adquire do alegorista. Ele o coloco jetty, cuja forma é derivada de um mito local
dentro dela e permanece além dela - não em sobre um redemoinho no fundo do Great Salt
um sentido psicológico, mas ontológico. 6 Lake; por essa via Smithson exempliflca a
tendência a envolver-se em uma leitura do site
As imagens de Brauntuch simultaneamente [lugar], em termos não apenas de suas
proferem e deferem uma promessa de sentido; especificidades topográficas, mas também de
elas tanto solicitam quanto frustram nosso suas ressonâncias psicológicas. Trabalho e site ,
desejO de que a imagem seja diretamente assim, permanecem em uma relação dialética.
transparente à sua significação. Como resultado, (Quando o trabalho de site-speciftc é concebido
elas aparecem estranhamente incompletas em termos de recuperação da terra Uand
fragmentos ou runas que devem ser decifrados. reciamation] e instalado em uma mina ou
pedreira abandonada, então seu motivo
A alegoria é consistentemente atraída ao "defensivamente recuperativo" toma-se auto
fragmentário, ao imperfeito, ao incompleto evidente.)
116
r~---------------------------- ________________________________________ ~
Um matemático ao ver os números I, 3, 6, subjetivo expressionismo, ou o mais
I I, 20, teria como reconhecer que o determinado realismo num barroco ornamental
"significado" dessa progressão pode ser exageradamente surrealista" .'3 Esse ruid oso
redistribuído na linguagem algébrica da descuido pelas categorias estéticas não é em
fórmula X mais 2 elevado a x com certas parte alguma mais aparente do que na
restrições sobre X O que poderia ser uma reciprocidade que a alegoria propõe entre o
seqüência ao acaso para uma pessoa visual e o verbal : palavras são freqüentemente
inexperiente aparece ao matemático como tratadas como fe nômeno puramente visual ,
uma seqüência cheia de signiffcado. Observe enquanto as imagens visuais são oferecid as
que a progressão pode ir ao inffnito. Isso como texto a ser decifrado. Foi esse aspecto da
equivale à situação de quase todas as alegoria que Schopenhauer criticou quando
alegorias. Elas não têm nenhum limite escreveu:
"orgânico" inerente de magnitude. Muitas são
inacabadas, como O Castelo e O Processo, Se o desejo pela fama está enraizado ffrme e
de Kafka.12 permanentemente na mente do homem... e,
se ele agora permanece diante do Gênio da
A alegoria, ela própria, diz respeito. então. à Fama [de Annibale Caracci] corri suas coroas
projeção - tanto espacial quanto temporal, ou de louro, então toda sua mente está excitada,
ambas - da estrutura como seqüência; o e seus poderes são chamados à atividade.
resultado, todavia, não é dinâmico, mas estático. Mas a mesma coisa poderia também
ritualístico, repetitivo. Ela é, então, o epítome da acontecer se ele visse repentinamente a
contranarrativa , pois prende a narrativa no lugar, palavra 'fama" em letras grandes e c/aras na
substituindo um princípio de disjunção parede. 14
sintagmática por uma combinação diegética.
Desse modo, a alegoria supra-induz uma leitura Tanto quanto isso pode lembrar os con ceitos
vertical ou paradigmática de correspondências lingüísticos dos artistas conceituais Robert Barry
sobre uma cadeia de eventos horizontal ou e Lawrence Wein er, cujo trabalho é de fato
sintagmática. O trabalho de Andre, Brown, concebido como letras grandes e claras na
Le\Nrtt, Darboven e outros, envolvid o como parede, o que de fato revela é a natureza
está com a exteriorização do procedimento essencialmente pictogramática do trabalho
lógico, sua projeção como uma experiência alegórico. Na alegoria, a imagem é um
espaço-temporal, também solicita tratamento hieróglifo; uma alegoria é um rébus - texto
em termos de alegoria. composto de imagens concretas. 15 Assim ,
poderíamos t ambém procurar a alegoria nos
Essa projeção da estrutura como seqüência trabalhos contemporâneos que seguem
lembra o fato de que, na retórica, a alegoria é deliberadamente um modelo discursivo: o
tradicionalmente definida como uma simples Rebus, de Rauschenberg, ou a série de Twombly
metáfora introduzida em séries contínuas. Se a partir do poeta alegórico Spencer.
essa definição é recolocada em termos
estruturalistas , então a alegoria é reve lada como Essa confusão do verbal e do vi sual é apenas um
a projeção do eixo metafórico da linguagem aspecto da deses perada confusão de todos os
sobre sua dimensão metonímica. Roman meios estéticos e categorias estilísticas da
Jakobson definiu essa projeção da metáfora alegoria (desesperada, isto é, de acordo com
sobre a metonímia como a "função poética" e qualquer parcelamento do campo estético sobre
associou a metáfora à poesia e ao romantismo, bases essencialistas) . O trabalho alegórico é
e a metonímia à prosa e ao realismo. A alegoria, sintético; ele atravessa os limites estéticos. Essa
contudo, implica tonto a metáfora quanto a confusão de gênero, antecipada por Duchamp,
metonímia; por conseguinte, ela tende a "afetar reaparece hOJe na hibridização, em trabalhos
e subentender todas essas categorizações ecléticos que, ostensivamente, comb inam de
estilísticas, sendo igualmente possível no verso e antemão meios distintos da arte.
na prosa, e completamente capaz de
transformar o mais objetivo naturalismo no mais
I
118
poderia desejar... fazê-los compreender que a Para Benjamin, Baudelaire foi motivado por um
alegoria é um dos mais nobres ramos da impulso idêntico, esclarecedor de sua atração
arte?" . 19 O endosso da alegoria pelo poeta é pelas gravuras alegóricas de Paris feitas por
apenas aparentemente paradoxal, pois foi a Charles Meyron, que "resgataram a face antiga
relação da Antigüidade com a Modemidade que da cidade sem abandonar nenhum
promoveu a base para sua teoria da arte paralelepípedo".23 Nas vistas de Meyron , o
modema, e a alegoria promoveu sua forma. antigo e o moderno foram superpostos , e,' do
Jules Lemaitre, escrevendo em 1895, descreveu desejo de preservar os traços de alguma coisa
o "especificamente baudelaireano" como a que Já morrera ou que estava para morrer,
"constante combinação de dois modos opostos emergiu a alegoria: em uma ilustração, a Pont
de reação ... um modo presente e um passado". Neuf reformada, por exemplo, foi transformada
Claudel observou que o poeta combinou o em um memento mori 24
estilo de Racine com aquele do jornalista do
Segundo Impéri0 20 É-nos oferecido um O primeiro insight de Benjamin - "O gênio de
vislumbre das bases teóricas desse amálgama do Baudelaire, que esboçou sua nutrição da
presente e do passado no capítulo "De le melancolia, era um gênio alegórico"25
héro'isme de la vie moderne" do Salão de 1846, efetivamente situa um impulso alegórico na
e ainda em "O pintor da vida moderna" em que origem do modernismo nas artes e assim sugere
a Modernidade é definida como "o transitório, o a possibilidade previamente excluída de urna
instantâneo, o contingente; é urna parte da arte, leitura alternada dos trabalhos modernistas, urna
a outra sendo o eterno, o imutável" 21 Se o leitura na qual sua dimensão alegórica poderia
artista moderno foi exortado a concentrar-se ser completamente entendida. A manipulação
sobre o efêmero, contudo, foi porque ele era de Manet das fontes históricas, por exemplo, é
efêmero, ou seja, ele ameaçava desaparecer inconcebível sem a alegoria; não foi um gesto
sem deixar rastro. Baudelaire concebeu a arte supremamente alegórico reproduzir em 1871 o
moderna, ao menos em parte, como o resgate Toureiro morto como um partidário da Comuna
da Modernidade para a eternidade. [Communard] ferido ou transpor o pelotão de
fogo de A execução de Maximiliano às barricadas
Em ''A Paris do Segundo Império" [em Charles de Paris? E não é a colagem, ou a manipulação e
Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo] a conseqüente transformação de fragmentos
Benjamin enfatiza esse aspecto do projeto de altamente significativos, também exploração da
Baudelaire, ligando-o ao monumental estudo de atomização, o princípio disjuntivo que repousa
Maxime Ou Camp, Paris, ses organes, ses no coração da alegom? Esses exemplos
fonctions et sa vie dans la seconde moitié du sugerem que, ao menos na prática, o
XIXe. Siêcle (significativamente, Ou Camp é mais modernismo e a alegoria nõo são antitéticos,
conhecido hoje por suas fotografias de ruínas): pois é na teoria apenas que o impulso alegórico
tem sido reprim ido. É à teoria, então, que
Subitamente, ocorreu ao homem que viajou precisamos voltar se quisermos apreender t odas
muito pelo Oriente, que se familiarizou com os as implicações de seu recente ret orno.
desertos cuja areia é a poeira da morte, que esta
cidade, cuja agitação o cercava, também teria 11
que morrer algum dia, do mesmo modo que
muitas capitais morreram. Ocorreu-lhe, como
Logo no início de ''As Origen s da Obra de Arte",
extraordinariamente interessante, uma acurada
Heidegger introduz dois termos que definem a
descrição de Atenas no tempo de Pérides,
Cartago no tempo de Barca, Alexandria no "moldura conceitual" dentro da qual o trabalho
tempo de Ptolomeu, Roma no tempo de Cesar, de arte é convencionalmente localizado pelo
que poderia corresponder à nosso atualidade... pensamento estético:
Num instonte de inspiração; do tipo que
ocasionalmente nos traz um tema extraordinório, O trabalho de arte é, com certeza, uma coisa
ele resolveu escrever o tipo de livro sobre Paris que é feita, mas ele diz alguma outra coisa
que os historiadores da Antigüidade falharam ao além da simples coisa que ele mesmo é, alio
escrever sobre suas cidades. 22 agoreuei. O trabalho toma páblica alguma
outra coisa além dele mesmo; ele manifesta interior, na qual os elementos do todo sejam,
alguma outra coisa: é uma alegoria. No então, não mais do que as formas de
trabalho de arte alguma outra coisa é expressão do fenômeno, o princfpio da
carregada junto com a coisa que é feita. essência interior estando presente em cada
Carregar junto é, em grego, sumballein. O ponto no todo, de tal modo que seja poss{vel a
trabalho é um s{mbolo. 26 cada momento escrever a equação adequada
imediatamente: tal e tal elemento... = a
Imputando uma dimensão alegórica a todo essência interior do todo. [Grifos
trabalho de arte, o filósofo parece repetir o acrescentados.] Aqui estava um modelo que
erro, freqüentemente lamentado pelos tomou possível pensar a efetividade do todo
comentadores, de generalizar o termo alegoria a em cada um de seus elementos, mas, se esta
tal ponto que ele se torna sem sentido. Aind a categoria - essência interior/ fenômeno
nessa passagem, Heidegger está apenas exterior - era para ser aplicada em todo lugar
recitando as litanias da estética filosófica 'de e em todo momento a cada surgimento do
modo a preparar sua dissolução. A questão é fenômeno na totalidade em questão, ela
irônica , e poderia ser lembrado que a própria pressupunha que o todo tinha uma certa
ironia é freqüentemente registrada como uma natureza, precisamente a natureza de um
variante do alegórico; porque o fato de as todo "esPiritual" no qual cada elemento era
palavras poderem ser usadas para sign ificar seus expressivo da totalidade inteira como uma
opostos é, em si mesmo, uma percepção "pars totalis".28
fundamentalmente alegórica.
A teoria de Coleridge é, portanto, expressiva do
Alegoria e símbolo - como todos os pares de símbolo, a apresentação da união da "essência
conceitos - estão longe de ser imparcialmente interior" e da expressão exterior, que são de
confrontados. Na estética moderna, a alegoria é fato reve ladas como idênticas. Pois essência é
regularmente subordinada ao símbolo, que apenas aquele elemento do todo que tem sido
representa a unidade supostamente indissolúvel hipostasiado como sua essência. A teori a da
da forma e substância que caraderiza a obra de expressão, assim, procede em círculos: embora
arte como pura presença. Embora essa definição designada a explicar a efetividade do todo em
da obra de arte como tema manifesto seja, seus elementos constitutivos, são, contudo,
sabemos, tão velha quanto a própria estética, foi aqueles mesmos elementos que reagem sobre
revivida com um sentido de urgência renovada o todo, permitindo-nos conceber o último em
pela teoria da arte romântica, na qual promoveu termos de sua "essência". Em Coleridge ,
a base para a condenação filosófica da alegoria. portanto, o símbolo é precisamente aquela
De acordo com Coleridge , "O Simbólico não parte do todo à qual ele pode ser reduzido. O
pode , talvez, ser mais bem definido em uma símbolo não representa a essência; ele é a
comparação que o distinga do Alegórico, na essência.
medida em que ele é sempre em si mesmo
uma porte daquele, do todo do qual ele é Na base dessa identificação, o símbolo torna-se
representativo" 27 o verdadeiro emblema da intuição artística: "Da
máxima importâ[lcia para nosso presente tema é
O símbolo é uma sinédoque, uma parte esse ponto, porque o últimO (a alegoria) não
representando o todo. Essa definição é possível , pode ser outro a menos que expressado
contudo, se, e somente se, a relação do todo deliberadamente; enquanto no primeiro (o
com suas partes for concebida de uma maneira símbolo) é muito possível que a verdade geral
particular. Esta é a teoria da causalidade representada possa estar trabalhando
expressiva analisada por Althusser em Lire le inconscientemente na mente do escritor durante
Capital: a construção do símbolo" 29 O símbolo é então
um signo motivado; de fato, ele representa a
[O conceito de expressão de Leibniz] motivação lingüística como tal. Por essa razão,
pressupõe em princípio que o todo em Saussure substituiu o termo signo por símbolo,
questão seja reduzido a uma essência pois o último é "Jamais completamente
120
arbitrário; ele não é vazio, pois há o rudimento recairemos no erro dos inte/ectualistas: o
de um vínculo natural entre o significante e o assim-chamado s(mbolo é a exposição de um
significado" 30 Se o símbolo é um signo conceito abstrato, uma alegoria; é ciência, ou
motivado, então a alegoria, concebida como sua arte imitando ciência. Mas certamente nós,
antítese, será identificada como o domínio do também, apenas nos aproximamos do
arbitrário, do convencional, do imotivado. alegórico. Algumas vezes ele é completamente
inofensivo. Considerando a Genusalemme
Essa associação do símbolo com a intuição liberata, a alegoria foi imaginada mais tarde;
estética, bem como a da alegoria com a considerando o Adone de Marino, o poeta do
convenção, foi herdada sem julgamento pela lascivo insinuou mais tarde que ele foi escrito
estética moderna; assim, registra Croce em para mostrar como a "indulgência imoderada
Estético: termina em dor"; considerando uma estótua
de uma bela mulher, o escultor pode
Agora, se o s(mbolo for concebido como acrescentar uma legenda para a estótua
inseparável da intuição artística, ele é um dizendo que ela representa Clemência ou
sinônimo para a própria intuição, que tem Santidade. Essa alegoria que é anexada a um
sempre um caróter ideal. Não hó um fUndo trabalho terminado post festum não muda o
duplo para a arte, mas apenas um; na arte trabalho de arte. O que é ela entiío?·Ela é
tudo é simbólico porque tudo é ideal. Mas, se uma expressão extemamente anexada a
o símbolo for concebido como no outro lado outra expressão. 31
separável - se o s(mbolo puder estar em um
lado, e a coisa simbolizada no outro lado, nós
T E MA T I CA ' C RA I G OW E NS 121
a/e R E V 1ST A Do P Ro G R A M A DE PÓS - G R A D U A ç Ã o EM A R TE S V I SUA 1$ E BA • U F RJ • 2 oo4
122
p~--------------------------------------------------------------------------------------
A unidade do objeto material e transcendental ["não-lugar"]. Suas descrições de fendas e
que constitui o paradoxo do sfmbolo teológico buracos parecem no limiar de propostas de
é distorcida em uma relação entre aparência "earthwords" ["palavras de terra"]. As formas
e essência. A introdução dessa concepção das brechas elas mesmas tomam-se "rafzes
distorcida do sfmbolo na estética foi uma verbais" que esclarecem a diferença entre a
extravagância romântica e destrutiva que luz e a escuridão. 40
precedeu a desolação da critica da arte
modema. Como um constructo simb6/ico, ele Smithson refere-se às fendas alfabéticas descritas
é supostamente fundido com o divino em um na conclusão do romance de Poe: em uma
todo inquebrantável. A idéia de uma "Nota" acrescentada ao texto, o novelista
imanência ilimitada do mundo moral no deslinda sua significação alegórica, que "fora de
mundo da beleza é derivada da estética dúvida tem escapado à atenção de Mr. Poe".41
teosófica dos românticos. Mas os Formações geológicas são transformadas pelo
fundamentos dessa idéia foram lançados comentário em um texto articulado.
muito tempo antes. 38 Significativamente , Poe não dá indicação de
como esses códigos etíopes, arábicos e egípcios
Em sua afirmação, Benjamin estabelece o signo originais são pronunciados: eles são puramente
(gráfico), que representa a distância entre um fatos gráficos. Foi aqui, onde o texto de Poe
objeto e seu significado, a erosão progressiva do votta atrás sobre si mesmo para prover seu
significado, a ausência de transcendência interior. próprio comentário, que Smithson vislumbrou
Por meio dessa manobra crítica ele é capaz de sua própria aventura. E naquele ato de auto
penetrar o véu que obscureceu o reconhecimento está implícito um desafio tanto
empreendimento do barroco, para apreciar para a arte quanto para a crítica, um desafio que
completamente sua significação teórica. Mas ela pode agora ser enfrentado adequadamente. Mas
também lhe permite liberar o texto de sua isso é tema para outro ensaio.
tradicional dependência do discurso. Na
alegoria, então, "a linguagem escrita e a falada
confrontam-se em tensa polaridade ... A divisão
entre a linguagem escrita significante e a "The flJlegoricallmpulse: Toward a Theory of
linguagem falada intoxicante abre uma clareira na Postmodemism", October, primavera 1980, in:
massa sólida do significante verbal e força o Beyond Recognition. Representation, Power and
olhar às profundezas da linguagem".39 Cu/ture, Scott Bryson, Barbara Kruger, Lynne
Tillman e Jane Weinstock (orgs.), Berkeley, Los
Encontramos um eco dessa passagem no apelo Angeles, Oxford: University of California Press,
de Robert Smithson tanto para uma prática 1992.
quanto para uma crítica alegórica das artes
visuais em seu texto ':t\ Sedimentation of Mind:
Earth Projects":
Cr-a lg Owens ( 1950-! 990) lecionou História da Arte na Yale . Barnard.
The Unive ty af Rochester e na University of Virgi nia. Trabalhou como
Os nomes de minerais e os próprios minerais colaborador "1 diversas revistas. ~ntre as quais a Oc tober, e b editor da
não se diferem, porque no fundo tantD do ArL in Amenco. O livro Beyond RecognrLion. RepresenlOlion. Po'Ner and
Culture, (Berxeley, Los Angeles, Oxfcr'd; Unlversiry af Cali(ornia Press,
material quanto do sinal impresso está o 1992), reu nindo seus eS<nlos. foi orga nizado postumamente por Scott
começo de um número abissal de fissuras. Bryson. Barbara !<ruge!'. Lynne Tillman e Jane WeinSlock. amigos seus.
TEM A T I C A • C R A I G O W E N s 123
a/e REVISTA DO PROGRAMA DE POS · GRADUAÇAo EM A RTE S VISUAIS EB A U F RJ 2 00 4
Notas 15 Esse aspecto da alegoria pode ser reconheCida nos esforços dos
estudioSOs humanistas para decifrar hieróglifos: "Em suas tentativas,
eles adotaram o mctdo do COI"(JUS pseudo·epigráfico escrrto ao
·Este é o primeiro de dois ensaios devotados aos aspectos final do segundo, ou posslvelrr.enle. no quarto século D.C .. o
alegóricos da arte contemporânea. Depois de um Hiercg/rphica , de Horapollon. Seu terT1a consiste inteiramente nos
levantamento esquemático sobre o impacto da alegoria na assim cham ados hieróglifos simbólicos Ou enigmátiCOS, rr~eros
al1e recente. procedo aos debates teóricos que ela levanta. signos pictori;:âs, is ccmo foram apresen tados ao espeCialista ao
lado dos signos fC1"'éticos comuns, no contexto da instrução
Pretendo ampliar essas observações em um segundo ensaio
religiosa, como o úhimo está!;lo em uma ~Ioso(ia mística da
através de leituras de trabalhos específicos nos quais um natureza Os obeliSCOS foram relacionados às memónas dessa
impulso alegórico pareça soberano.(Observação do autor.) Interpretação em mente. e um equívc::o, então. tornou~se a base
da rica e Infinitamente difund ida forma ce expressão. Em
Ver "The Allegorical Impulse: Toward a Theory of consequên6a, os eruditos pro::ederam a partir da exegese dos
Postmodernism" , Pal1 2, October, n. I, verão 1980, e hieróglifos egípcios, nos qu ais os dados h slóricos e culturaiS foram
reco!ccados pelos lugares -comuns da filosofia popular, moral e
"EaI1hwords" , October n. 10, outono 1979, ambos in : Beyond
mística, à propagaçJ.0 desse novo tipO de es<.nta. Os IMos de
Recogni(lon, op. ci(, (N RT) Icono/agla que foram prodUZidos não só desenvolveram as frases
dessa escnta e traduzIram por completo as senlenças 'palavra por
palavra pe los signos pictona,s especiais', lTIas também se
t Jorge Luis Borges, "From Allegones la Noveis", in Olher Inqwswo:ls. apropnaram da forma do léxico. 'Sob a liderança do estud "Oso de
Nova York: Simon e Schuster. ' 964: 155- 156. arte AJ·bert us. OS humanistas, então, c.orr.eçaram a escrever com
Imagens concretas (rébus) em vez de letras: a palavra "rébus ",
2 Sobre alegoria e psicanálise. ver Joel Fineman, "The Structure of
asSim originada na base dos hieróglifos enigrf'átlcos, e medalhões,
AllegoricaJ Desire ", Ocroter 12, primavera 1980. As observações
colunas, arcos ttfl1nfais e todos os objetos anísl icos conce bíveis
de Benjamn sobre a alegoria pejem ser enco ntradas na conclusão
produzidos pela Renascença, foram envolvidos com tais
do capitulo de Ongin ofGerman Trog7c Drama, Irad. logl. por John
enigmáticos anlfíoos.' Benjamin. Origm of Germon TroglC Droma:
O:;borne. Londres: NLB, 1977. Sobre Benjam in, ver páginas 84
1613- 169 , (As (nações de Benjamin foram retll-adas do
as. monumental estudo de Karl Gichlow, Dle Hlerogryphenkunde dês
3 Ver Rosahnd Krauss, "Notes on the Index: Seven tles M in America" , Humanismus in der Allegorie der Renoissonce,)
October 3, primavera 1977: 68· 8 1.
16 Roland Barthes, ~ D ide rol. Brech t, Eisensteln", tmage-lv1usic-Text, trad,
4 N orthrop Frye. Anoiomy af Cntiosr.l, Nova York: Atheneum, 1969: 54. ingl por Slepr.en Heath, Nova York: HiU e Wang. 1977: 73.
s Douglas Cnmp. Pla ures ", OcwbeJ 8, pn mavera 19 79: 85, itálicos 17 Walter BenjarT1in. ~ rncses on lhe Phllosophy of Hislory", In
anexados. lIIuminotions, trad. ingl. por Han y Zohn. Nova York: Scho::ken.
1969: 25 5.
f Benjamin, OflglO ofGerman TraglC Oramo: 183-84.
18 Apud George Boas, "Courbet and Hls Critics '·, In Courbe t. in
7 Idem ibidem : 666 . PerspeC11!1e, ed. Petra ten-Doesschate Chu, Englewood Cliffs , N. j. :
Prentlce -Hall. 1977: 48.
'Idem ibidem: 223.
I') Charles Baudelaire, ~S.a lor) of 1845", in Att In Pans 1845- /86 2, ed. e
9 "Nem Evans ou Alget presumem colocar-nos em contato com uma trad. Jonathan Mayne , Nova York: Phaidon, 1965: 14
realidade pura. uma coi53 em SI mesma : suas produções sem p~e
afirmam SUJ própria arbitrariedade e conl,ngêncl(I. E o mundo que 2(1 Apud Walter Benjamin, "The Pans of the Second Empire In
eles fotografam espeCialmente é um mundo já conStruído sobre um Baudelal reu , in Charles Boudelolre: A Lyric PeeI in the ElO of" Hlgh
significado que precede a fotografia: um significado insc rito pelo tra Cap<talism . trad por Har<y Zohn. Londres: NLB. 1973: 100.A
balho, pelo uso, como habitação, como anefato. Suas rotografias observação de Lemaiue aparece na p. 94 do mesIT'O teX1.O.
são signos represen1JJndo sIgnos. unidade5 em cadeias Im~lícitas de
significação que vão perTN.necer somente nos maiores sistemas de I I Charles Baud elaire. "The Painter cf Modern Llfe", in Selecred Wntings
signifICação s08al: cód igos de casas , ruas, espaços públicos. Alan
ft
on Art 000 ,A'!;:,ts, trad. P. E. Charven, BaJtimore: Penguin, 1972:
Trachtenberg, "Walker Evans's Mes.sage from the Interior: A 403.
Readlng",OCieoer 11. inverno 1979: 12, itálicos anexados pelo
27 Paul Bourget, "Discours académque du 13 juin 1895. SUCces c, lon à
autor.
Maxime Ou Camp", In L'antho/ogle de I'Académle rranç a j~c:. Apud
10 Benjamin. Gflgin ofGerman Tragic Drama: 178. Benjamin, Charles Boudela;re , op_ cir.: 86,
1I Angus Fletcher. AI/egof"'; : The Theory of o Symbohc Mede, Ithaca: Cornell 2J Be njamin, Charles Baudelaire. op. cit.: 137.
Unlvec;ity Press, 1964: 279· 303.
I ·\ Benjamin cita a legenda: na traduçáo lê-se: ~Aqui jaz a exata
12 Idem Ibidem. 174 semelhança da velha Pont Neur. toda vedada como nova de
acordo com UrT1a lei recente. Oh, doutos médicos e hábe iS
13 FlnerT1an, "Structure of AJlegorical Desire" , op.cit.: 5 1, ~si m. eXistem cirurgiões, por que não fazem COIlOSCO o que (oi (e,to com esta
alegorias que são pnmariamente perpendiculares. concernentes ponte de pedra" (Charles Bauooaire. op. cit.: 88).
mais à estrutura do que à extensão temporal... Por outro lado,
existe a alegoria que é prlmar:ame nte horizonta1... Finalmente, lS Walter Benjamin, "Pans lhe Capital cf lhe Nineteenth Cenrury", in
daro. existem alegorias que combinam ambos OS eixos em Chorles Baude!olfe, op. Clt.: 170.
conjunto. em proporções relativamente iguais.,. Q ualquer que seja
26 Martin Heidegger, "The Origin cf lhe Work of M", in fbeuy.
a orientação prevalente de qualquer alegoria em panicular,
Language. Thoughe trad Albert Hofstadter, Nova York: Harper e
contudo - acima e abaiXO através dos desvios da es trutura, ou
ROVl, 1971 : 19 ·20 .
late ralmente desenvolvidas através do tempo narrativo - ela será
bem-sucedida como alegoria somente para propagar que ela pede 17 Colendge's M,sceJ/aneous (riticism, ed, Thomas Middelton Raysor,
sugerir a autenticidade com que OS dois pólos coordenados se Cambridge, Mass.: Harvard Universlty Press. 1936: 99.
ajustam à estrutura. plausivelrn<.'.'nte desdobrada no tempo. e à
narrativa. persuasivamente sustentando as distinções e la Louis A1thusser e Etienne Balibar, Reeding Capital, tfad . ingl. Ben
equivalências de5critas pela estrutura" (50). Brewster, Londres: NLB. 1970: 186· 187.
14 Arthur Schopenbauer. The Wor/d as Will and Represenwt.ion, I: 50, 29 Co!cridge's MisceJ!aneous Críticism. op. Clt.: 99. Essa passagem poderia
opud Benjamin, Origin o(German Trogic Drama, 162 , ser comparada com a famosa condenação da alegoria por Goelhe '
"Faz uma grande diferença se o poeta começa com uma idéia
124
r----------------------------------~
umversal e então olha para certos particulares, ou vê o universal no também meu epílogo, ~ Detachme nt: (rom lhe parergon u : 42-49 .
particular. O primeiro método prOOU7.: a alegoria, onde o particular
tem status meramente como uma instância, um exemplo do )] Rosemond TLNe, Allegoricallmagety, Princeton: Pnnceton Unlversity
unlvers.al. O último, por contraste, é O que revela a poesia em sua Pres>o 1966· 26.
verdade ira natureza: fala além de um particular sem renexão sobre
ou referi ndo -se a um universal. independenteme nte, mas J4 Cllado por Borges, "From Allegories to Noveis"· 155.
apreendendo o particular em seu caráter de existência, ele
35 BenJamn, Ongm afGermon Tragrc Drama. ap cit.: 176.
implicitamente aPi"ecnde o universo/Jun to com e/e", Citado por
Philip Vv'hee:Wnght, The Burning Fa untain , Bloom ington: Indiana l& /bid.: 175.
University Press, 1968: 54, rtálicos anexados. Isso relembra a
perspect iva de Borges sobre a alegoria: f.\ alegoria é uma fábula 37 Anson Rab lnbach, "Crftlq ue and COI11Il"'.entary: Alchemy and
sobre abstrações, como o romance é ullla fábula sobre indivíduos. Chem;stry" . Ne-v'1 Gemwn (ril 'CJue 17. primavera 1979: 3.
As abstrações estão person ificadas: portanto, em cada alegona há
alguma coisa do romance. Os indivíduos propostos pelos 38 BenJamn, Origin af German Tragic Drama, op. ciL : 160.
romancistas aspiram a ser unNersais (Dupin ê a Razão, Dom
Segundo Sombra é o Gaúcho): um elemento alegórico é Inerente 19/bid.: 20 1.
aos romances" ("'From AI!egories lo Noveis": 157).
,0 Robert Smithson, "A Sedimentario;) of Mind: Earth PrOjeCls", in The
30 Ferdinand de Saussure, (curse in General Lingussucs. trad. Wade Vwnsng;'i of Robert Srnilhson, ed. N ancy Holt. Nova York: New York
Baskin. NOVã York: McGraw·Hill. 1966: 68. University Press, 1979: 87-88. Sobre a alegona de Smilhson, ver
ffilnha críl ica naOcwber 10, Outono 1979: 12 1- 130.
31 Benedetto Cro(e. Aesrheuc, trad. Douglas Ainslie, N ova York:
Noooday. 1966: 34·35 ~I Edgar Allan Pce, The Norrouve af Arlhur Gordon Pym, Nova York: Hdl e
Wang. 1960: 197.
32 (550 é o que a excl usão de Kant sancionou, na (riuca do jurza, da cor,
drapejamento, enquadramento... COl1tO ornamento rr.e l·amente
anexado ao trabalho de arte e não partes intl-ínsecas dele. Ver
jacques Demda, "The Parergon", Ocwber 9, v€rao 1979: 3-40, e
TEM ÁT I CA C RA I G O W EN S 125