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Jesuítas Na Educação Brasileira
Jesuítas Na Educação Brasileira
Aqui se percebem algumas das ações missionárias com o intuito de destruir a cultura
dos povos indígenas e empregar a vida do branco europeu cristão, moldando segundo a
civilização ocidental cristã, mais especificadamente a cultura portuguesa. Entretanto, os
jesuítas eram contra a exploração dos índios, pois quando estes eram escravizados morriam de
fome e doenças. Os castigos violentos sofridos pelos índios também eram um dos motivos que
desagradavam aos jesuítas, que estavam tentando arrebanhar novos fiéis, pois a Igreja
Católica estava perdendo fiéis para os protestantes.
Para concretizar as questões que foram citadas até agora, os jesuítas, além de trazer
consigo os principias costumes religiosos e boas condutas de comportamento, trouxeram
também sua metodologia de ensino, sua proposta de trabalho pedagógico, que por sua vez era
influenciada pelas orientações filosóficas das teorias de Aristóteles e São Tomás de Aquino,
principalmente no que se refere à ideia de universalização do ensino. Sua metodologia era
embasada por um documento de código pedagógico, plano de estudo, conhecido como Ratio
Studiorum.
Os jesuítas empreenderam no Brasil uma significativa obra missionária e
evangelizadora, especialmente fazendo uso de novas metodologias, das quais a
educação escolar foi uma das mais poderosas e eficazes. Em matéria de
educação escolar, os jesuítas souberam construir a sua hegemonia. Não apenas
organizaram uma ampla „rede‟ de escolas elementares e colégios como o
fizeram de modo muito organizado e contando com um projeto pedagógico
uniforme e bem planejado, sendo o Ratio Studiorum a sua expressão máxima
(Sangenis, 2004, p. 93).
Nota-se, pela citação que esse manual pedagógico contemplava todos os sujeitos que
participavam efetivamente do processo educativo nas instituições escolares, que tinha ligação
com a Companhia de Jesus. Buscava indicar a responsabilidade, o desempenho e a
subordinação. Centrava-se num currículo de educação literária e humanística. Além disso, o
manual se preocupava com a organização não só das disciplinas curriculares que os alunos
deveriam aprender, cumprir, mas também com a organização da prova escrita. A preocupação
era tão constante que os jesuítas davam aos professores as devidas orientações e regras para
sua elaboração.
Portanto, o método pedagógico dos jesuítas implantado nas escolas brasileiras
possibilitava sólida formação clássica dos estudantes. Permitiu que os jesuítas iniciassem aqui
um modelo de formação ativa no constante exercício do pensar, tendo o professor como um
dos responsáveis pela formação daqueles que frequentavam os espaços escolares. Esse
professor teria condições plenas de avaliar e reavaliar a construção e a reconstrução da
aprendizagem apresentadas pelos alunos. Isso só seria feito mediante as diferentes
metodologias, exercícios que contemplavam leituras, escritas, declamações, apresentações
públicas, provas e exames. Destaque-se que para tanto não era requerido apenas o exercício
intelectual por meio do uso da memória, justamente porque o exercício de interpretações
também era uma exigência no decorrer do estudo (Sangenis, 2004).
Mesmo com todas as estruturas, organização e regras pedagógicas e administrativas, a
educação jesuítica não satisfazia o Marquês de Pombal, primeiro-ministro de Portugal de
1750 a 1777, porque as escolas da Companhia de Jesus atendiam aos interesses da fé,
enquanto Pombal se preocupava em atender os interesses do Estado. Essa discordância de
objetivos fez com que os jesuítas fossem expulsos das terras brasileiras em 1759. Dessa
forma, retirou a Igreja Católica do domínio da educação em Portugal e mandou fechar todas
as escolas que estavam sob domínio dos padres jesuítas, e as bibliotecas dos conventos foram
abandonadas ou destruídas.
Além disso, vários outros motivos fizeram com que os jesuítas fossem expulsos: eles
não obedeciam e/ou não respeitavam o Tratado dos Limites entre Portugal e Espanha e havia
divergências quanto a forma, posse e domínio com que os jesuítas tomavam e mantinham os
indígenas brasileiros. A forma com era feito o tratamento aos nativos colocava em dúvida se
mantinham as regras da coroa; “Pombal acusava a atuação dos jesuítas com os indígenas do
Brasil”, pois “segundo ele, os homens brancos eram apresentados aos índios como maus,
como mais interessados no ouro do que em qualquer coisa e, mais grave, prontos para
atrocidades” (Costa, 2011, p. 75). Para Pombal,
o afastamento dos jesuítas dessa região significava tão somente assegurar o
futuro da América Portuguesa pelo povoamento estratégico. O interesse de
Estado acabou entrando em choque com a política protecionista dos jesuítas para
com os índios e melindrando as relações com Pombal, tendo esse fato entrado
para a história como “uma grande rivalidade entre as ideias iluministas de
Pombal e a educação de base religiosa jesuítica” (Seco; Amaral, 2006, p. 5).
Com essa expulsão, a educação brasileira passou a vivenciar uma grande ruptura
histórica, num processo já implantado e consolidado como modelo educacional. A educação
passou a ser administrada pelo Estado; não mais atrelado à Igreja Católica, mas sim público e
laico, tendo suas disciplinas submetidas ao poder real, autônomas, sem vinculação com
sistemas específicos de ensino. O Estado começou a elaborar leis sobre o ensino, cobrar
impostos e fazer estatísticas. A regra era destruir e/ou abolir a influência da Companhia de
Jesus. Isso ocorreu porque Marquês de Pombal tinha interesses econômicos como objetivo.
Sua real pretensão era transformar Portugal numa metrópole capitalista para competir com os
demais países da Europa. Para isso ser concretizado, era preciso acabar com a escravidão dos
índios, permitindo que casassem com portugueses; Pombal desejou também ter uma nobreza e
uma burguesia mais intelectualizadas, para incentivar o desenvolvimento cultural, artístico e
científico, com profissionais capacitados para poder assumir os cargos públicos (Seco;
Amaral, 2006).
Referências
TOYSHIMA, Ana Maria da Silva; COSTA, Célio Juvenal. O Ratio Studiorum e seus
processos pedagógicos. São Paulo, maio 2012. Disponível em:
http://www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2012/trabalhos/co_05/104.pdf. Acesso
em 07 jul. 2016.
VILLALTA, Luiz Carlos. O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura. In: História
da Vida Privada No Brasil I: Cotidiano e Vida Privada na América Portuguesa. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002. p. 331-445.